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21 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Curso de Direito Direito Penal I – Parte Geral Prof. Régis Gonçalves Pinheiro FASES DE APLICAÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE I) 1ª FASE – FIXAÇÃO DA PENA-BASE CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES è Tem como finalidade fixar a pena-base. è O ponto de partida para a fixação da pena base é a pena simples ou a pena qualificada (quando o crime for qualificado). è A pena-base está no art. 59, II, do CP (quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos). Os instrumentos que o juiz tem para chegar a uma pena-base justa são as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP). Fixação da pena Art. 59 do CP. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos (PENA-BASE); III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente e os motivos ensejadores do crime são circunstâncias ligadas ao agente do fato (circunstâncias subjetivas). Pode o juiz, ao fixar a pena-base, considerar as circunstâncias subjetivas em prejuízo do réu? Adotando a CF um Direito Penal garantista, combatível unicamente com um Direito Penal do fato, temos doutrina criticando as circunstâncias judiciais subjetivas, campo fértil para um Direito Penal do autor. Quem adota esse entendimento é Salo de Carvalho, Paulo Queiroz e Ferrajoli. No entanto, esta tese não prevalece, devendo o juiz considerar as circunstâncias judiciais subjetivas para obedecer ao princípio da individualização da pena. ATENÇÃO!!! O CP não fixou o quantum para as circunstâncias judiciais. Esse quantum fica a critério do magistrado, devendo sempre fundamentar a sua decisão. A cada circunstância judicial, a jurisprudência sugere o aumento de 1/6 de pena. Contudo, como são oito circunstâncias judiciais, a doutrina sugere 1/8, ou seja, a cada circunstância judicial aplicada a pena deve ser aumentada em 1/8. 22 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Curso de Direito Direito Penal I – Parte Geral Prof. Régis Gonçalves Pinheiro SUPER ATENÇÃO!!! No entanto, ressalte-se que a pena-base não pode extrapolar os limites mínimo e máximo previstos no preceito secundário (conforme o art. 59, II, do CP, a quantidade de pena aplicada, dentro do limites previstos). O juiz está atrelado a esses limites mínimo e máximo. CHEGANDO À PENA-BASE!!! Sempre partindo da pena mínima, conforme existam circunstâncias judiciais desfavoráveis, o juiz deve-se aproximar do máximo da pena prevista no preceito secundário. Conforme existam circunstâncias judiciais favoráveis para o réu, mais deve-se aproximar da pena mínima prevista no tipo. CONCURSO DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS E DESAFORÁVEIS!!! E se houver concurso de circunstâncias judiciais desfavoráveis e favoráveis? Deve-se aplicar, por analogia, o art. 67 do CP, desde que favorável ao réu. Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes Art. 67 do CP. No concurso de agravantes (leia-se circunstâncias desfavoráveis) e atenuantes (leia-se circunstâncias favoráveis), a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. Exemplo: crime de homicídio qualificado, que tem a pena de 12 a 30 anos: (1) Imaginemos que não existem circunstâncias judiciais relevantes. Nesse caso, a pena-base será de 12 anos (o mínimo legal). (2) Agora imaginemos que só existem circunstâncias judiciais favoráveis. A pena-base também será de 12 anos nesse caso. (3) Por fim, imaginemos que só existe uma circunstância judicial desfavorável (por exemplo, maus antecedentes). Nesse caso, a pena subirá para 14 anos (12 anos + 1/6 de aumento). (4) Já no caso de ocorrer concurso de circunstâncias judiciais desfavoráveis e favoráveis, deve-se aplicar, por analogia, o art. 67 do CP, desde que favoreça o réu. A pena aproxima-se do limite indicado pelas circunstancias preponderantes. As circunstâncias preponderantes são: a personalidade do agente; os motivos determinantes do crime; e a reincidência. 23 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Curso de Direito Direito Penal I – Parte Geral Prof. Régis Gonçalves Pinheiro ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DO ART. 59 CULPABILIDADE DO AGENTE Não se confunde com a “culpabilidade”, 3º substrato do crime (esta serve para saber se o fato é crime ou não). Aqui, a expressão “culpabilidade” significa maior ou menor grau de reprovabilidade da conduta do agente. Esta é a posição do STJ. No HC 194.326/RS, o STJ decidiu não haver constrangimento ilegal na fixação da pena-base acima do mínimo legal, considerando-se mais elevada a culpabilidade do paciente ocupante de cargo público relevante com alto grau de instrução, por ter apresentado documento falso em barreira policial. É o mesmo raciocínio para o Prefeito que desvia dinheiro de uma cidade que tem baixo índice de desenvolvimento humano. Nesse caso, a culpabilidade do agente deve ser de maior grau do que de um Prefeito que desvia dinheiro de uma cidade mais desenvolvida. ANTECEDENTES DO AGENTE Antecedentes do agente é a vida pregressa do agente, ou seja, é a vida “anteacta” (anterior ao crime). Fatos posteriores ao crime não são considerados nesta etapa. Poderão ser considerados em outra etapa da fixação da pena, mas não nesta. Por exemplo, a reparação do dano pode ser considerado como fato posterior em outra etapa (pode ser considerado uma circunstância atenuante ou então uma causa de diminuição de pena do arrependimento posterior). O que configura maus antecedentes? Podemos dizer o que NÃO CONFIGURA MAUS ANTECEDENTES: (1) Inquérito policial (arquivado ou em andamento) não caracteriza maus antecedentes. Aqui prevalece o princípio da presunção de inocência ou não culpa. (2) Ação penal (com absolvição ou em curso) também não caracteriza maus antecedentes. É também aplicação do principio da presunção de inocência ou não culpa. (3) Atos infracionais não caracterizam maus antecedentes, mas podem ser considerados no estudo da personalidade do agente. Lembre-se que a súmula 444 do STJ pacifica o entendimento que se deve respeitar o princípio da presunção de inocência ou presunção de não culpa. Súmula 444 do STJ. É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. 24 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Curso de Direito Direito Penal I – Parte Geral Prof. Régis Gonçalves Pinheiro Se tudo isso não configura, então o que configura maus antecedentes? SOMENTE AS CONDENAÇÕES DEFINITIVAS NÃO CARACTERIZAM A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. Sobre o assunto vide o teor do art. 64, I, do CP. Art. 64 do CP. Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensãoou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos. Por exemplo, imagine condenação definitiva por crime de furto. Entre o término do cumprimento da pena e o novo crime houve o tempo superior a 5 anos. Ocorreu o prazo depurador da reincidência. Essa condenação definitiva por furto não pode ser considerada como agravante da reincidência, mas pode caracterizar maus antecedentes. ATENÇÃO!!! De acordo com a maioria, não existe limite temporal para a condenação passada servir como maus antecedentes em crime futuro. Bitencourt discorda desse entendimento, lecionando ser possível aplicar o art. 64, I, do CP, por analogia (que vai ser in bonam partem). Passagem pela vara da infância e juventude gera maus antecedentes? Prevalece que não, porém é possível que essas passagens devem ser sopesadas na conduta social ou até mesmo na personalidade (personalidade voltada para a prática de comportamentos indesejados). CONDUTA SOCIAL É comportamento do agente no seu ambiente familiar, de trabalho e na convivência com os outros. É aqui que entra a famosa “testemunha de antecedentes”. PERSONALIDADE DO AGENTE É o retrato psíquico do condenado. Deve-se fundamentar se o agente tem personalidade voltada para o crime. De acordo com o STJ, a personalidade do agente não pode ser considera de forma imprecisa, vaga, insuscetível de controle, sob pena de se restaurar o Direito Penal do autor. MOTIVOS DO CRIME É a razão da prática da infração penal (o por quê). 25 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Curso de Direito Direito Penal I – Parte Geral Prof. Régis Gonçalves Pinheiro CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME É a maior ou menor gravidade do crime espelhada pelo modo de execução. Por exemplo, os crimes bárbaros devem ter uma pena base majorada por ter um modo de execução que traumatiza as vítimas. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME Consequências do crime não somente para a vítima, mas também para a sua família. COMPORTAMENTO DA VÍTIMA Muitas vezes o juiz considera o comportamento da vítima para beneficiar o acusado. Por exemplo, quando há culpa concorrente da vítima. A culpa concorrente da vítima não elide a culpa do agente, mas atenua a sua responsabilidade. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES SOBRE AS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS Na 1ª fase o juiz pode fazer com que a pena-base fique aquém do mínimo ou além do máximo? NÃO. Tem que respeitar os limites previstos em lei. Nesta etapa, o juiz está atrelado aos limites (mínimo e máximo) abstratamente previstos no preceito secundário da infração penal, conforme expresso no art. 59, II, do CP. Art. 59 do CP (...) II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos (PENA-BASE); Qual é o quantum de diminuição no caso de uma circunstância judicial favorável. E no caso de uma circunstância judicial desfavorável, qual é o quantum de aumento? Se o condenado tem circunstancia judiciais desfavoráveis, a pena vai se aproximando do máximo previsto. Se o condenado não tem circunstâncias judiciais ou tem circunstâncias judiciais favoráveis, então a pena se aproxima do mínimo previsto. Portanto, o quantum de aumento ou diminuição fica a critério do juiz, devendo motivar a decisão (a jurisprudência sugere que a cada circunstância judicial desfavorável aplicada o quantum de aumento deve ser de 1/6). Qual é a consequência da pena-base fixada sem fundamentação? Pena fixada no mínimo sem fundamentação judicial, então é tolerada. Pena acima do mínimo, sem fundamentação, torna a sentença nula (no ponto). “No ponto” significa que não se anula a sentença toda, mas somente a fixação da pena, devendo o juiz renovar o ato.