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DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista 1) SISTEMAS DE APLICAÇÃO DA PENA: Mecanismos para concretizar a pena abstrata definida pela lei. Diferenciam-se em relação à quantidade de etapas (fases) do cálculo matemático de definição da pena. a) BIFÁSICO: Desenvolvido por Roberto Lyra, foi adotado pelo CP para fixação da pena de multa (CP, 49, §1º) b) TRIFÁSICO: Desenvolvido por Hungria, foi adotado pelo CP, 68 para a pena privativa de liberdade (PPL) > Atenção: Não houve menção às penas restritivas de direito (PRD) porque estas, no sistema do Código Penal, não são aplicadas autonomamente, mas sim por substituição de uma PPL, previamente dosada (CP,44). 1.D) LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE: Embora seja aplicado o sistema trifásico, pode haver circunstâncias, patamares e/ou dinâmica de aplicação diferentes. PENA DE MULTA Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. 1) ESPÉCIES a) ABSTRATA (CP, 32, III e 58): Cominada pelo legislador no preceito secundário de um tipo penal > Cumulativamente (Ex.: CP, 138) > Alternativamente (Ex.: CP, 130) >> Atenção: A cominação de pena de multa não é obrigatória, havendo diversas infrações penais que não a estipulam em seu preceito secundário (Ex.: CP, 121 e 129) b) SUBSTITUTIVA OU VICARIANTE (CP, 44, §2.º e 60, §2.º): Estabelecida pelo juiz, na sentença condenatória, em substituição à PPL aplicada ao condenado >> Atenção – Cumulatividade: Nada impede a aplicação de multas substitutiva e abstrata cumuladas, salvo na legislação especial STJ, 171. Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista 2) IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO EM PRISÃO: Tacitamente proibida (CP, 51), recentemente alterado pelo “Pacote Anticrime” (L13964/2019), que manteve a natureza de dívida de valor da multa. Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. > ATENÇÃO – A multa tem natureza penal? Embora não se discuta que a multa é dívida de valor, debate-se se isto a desnatura como sanção penal. - STF, Plenário, AP 470, 04/2015: A multa tem natureza penal, conforme clara interpretação da CRFB, 5º, XLVI, “c”. Aliás, seu não pagamento pode ser considerado como obstáculo para a progressão de regime (LEP, 112). - STJ, 3ª Seção, REsp 1519777, 09/2015: A multa possui natureza extrapenal, de modo que o seu não pagamento não impede a declaração de extinção da punibilidade tampouco interfere no cumprimento da pena. - STF, Pleno, ADI3150 (2018): A multa tem natureza penal, devendo sua execução, como regra, ser patrocinada pelo Ministério Público. - STJ, 5ª T, REsp 1850903/SP, 04/2020 (I671): A multa tem natureza penal, de sorte que “não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal”. A mesma posição foi adotada pela 6ª T, podendo-se concluir que o STJ alterou a sua posição, convergindo com o STF. 3) COBRANÇA DA MULTA > LEGITIMIDADE (Ass. Cont.) - STF, Pleno, ADI3150 (2018): Ministério Público (LEP, 164) e, subsidiariamente, Fazenda Pública - STJ, 3ª Seção, REsp 1519777/SP (2015, reafirmado em 2019): Fazenda Pública, dada a natureza extrapenal da multa. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista > Atenção: Embora o Pacote não aponte para a parte legítima, ao afirmar a competência da VEP parece corroborar a posição do STF. Neste sentido, aliás, foi proferida no último 20/05 decisão monocrática do Min. Ribeiro Dantas (STJ, REsp 1857339/SP). > PARCELAMENTO L7210/84, Art. 169. Até o término do prazo a que se refere o artigo 164 desta Lei, poderá o condenado requerer ao Juiz o pagamento da multa em prestações mensais, iguais e sucessivas. 4) SISTEMA BIFÁSICO > 1ª FASE (CP, 49): Definição da quantidade de dias-multa, de 10-360. >> Critérios - C1: Circunstâncias judiciais (1ª fase da PPL) - C2*: O juiz deverá realizar cálculo proporcional baseado na PPL final, ou seja, naquela estabelecida ao fim do sistema trifásico. - C3: Situação econômica CÁLCULO POR EQUIPARAÇÃO PPL MULTA Pena aplicada – Pena mínima Pena máxima – Pena mínima X (Quantidade de dias-multa) – 10 360 – 10 Caso a PPL seja inferior ao mínimo ou superior ao máximo Pena mínima ____________ Pena aplicada Pena mínima ________ X (Quantidade de dias multa) >> Legislação extravagante: Pode prever “janela” de dias–multa maior > 2ª FASE: Definição do valor de cada dia-multa, de 1/30 a 5 salários mínimos, vigentes ao tempo do fato. >> Réu rico (CP, 60, §1º): Aumentada até o triplo, se ineficaz >> Réu pobre (STJ, REsp 822831/RS): Não há causa legal de redução ou isenção. Admite-se, porém, a fixação no mínimo. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista >> Legislação extravagante: Pode prever critérios e “janelas” diferentes. PPL SISTEMA TRIFÁSICO 1ª Pena abstrata (mínima) > Pena- base Circunstâncias judiciais (CP, 59) 2ª Pena-base > P. intermediária Circunstâncias (legais) agravantes/atenuantes (CP, 61-67) 3ª P. Intermediária > P. final, concreta ou aplicada Circunstâncias (legais) majorantes/minorantes (CP, 68) >> Hierarquia das fases >>> As circunstâncias que integram a fase posterior sempre terão patamar de valoração mais elevado que o anterior >>> A circunstância que se amolde à fase posterior sempre deverá ser nesta considerado, não podendo ser avaliada em duas ou mais fases ao mesmo tempo, pois veda-se o bis in idem. Neste ponto, a hierarquia das fases gera o que chamamos de caráter residual das fases, isto é, “sobra” para a 2ª fase o que não aderiu na 3ª e, para a 1ª, o que não foi considerado em nenhuma delas. [ EXEMPLO DE DISTRIBUIÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS ] QUALIFICADORA/ PRIVILÉGIO (Aumento/diminuição da pena abstrata) 3ª FASE (“Fração”) 2ª FASE (CP, 61- 67) 1ª FASE (CP, 59) Noite X Envolveu 3 pessoas (João, Carlos e João Carlos) X Motivo: desejo de receber herança (CP, 121, §2º, I) X (CP, 61, II, “a”) Vítima maior de 60 anos X (CP, 121, §4º) (CP, 61, II, “h”) Mediante tortura X (CP, 121, §2º, III) (CP, 61, II, “d”) Vítima ascendente dos executores X (CP, 61, “e”) João tinha maus antecedentes X (CP, 59) Carlos era reincidente X (CP, 61, I) DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós)Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista - CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS – (1ª FASE) Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código;[...] 1) PONTO DE PARTIDA: O cálculo dosimétrico se inicia da pena mínima abstratamente cominada, ou seja, o mínimo previsto na lei, devendo-se observar, entretanto, se a infração é simples, qualificada ou privilegiada. CONCEITO PONTO DE PARTIDA CRIME SIMPLES É a forma básica do delito, normalmente prevista no caput. Pena mínima abstrata CRIME QUALIFICADO É a forma mais gravosa do crime, a que o legislador comina pena mínima e/ou máxima superior às da forma simples (Ex.: CP, 121, §2º; 129, §§1º, 2º e 9º) Pena mínima abstrata do tipo penal qualificado CRIME PRIVILEGIADO É a forma mais branda do crime, a que o legislador comina pena mínima e/ou máxima inferior às da forma simples (Ex.: CP, 121, §3º; 155, §2º, primeira parte) Pena mínima abstrata do tipo penal privilegiado > PLURALIDADE DE QUALIFICADORAS - O que fazer se houver mais de uma qualificadora? Tecnicamente, embora seja possível que um fato se amolde a mais de uma situação prevista como crime qualificado, no instante do cálculo da pena não há possibilidade de se aplicarem duas ou mais qualificadoras ao mesmo tempo. Isto porque basta uma qualificadora para deslocar a pena abstrata (mínima e máxima), de modo que a segunda seria inócua. Para resolver este problema, então, a doutrina majoritária determina a redistribuição da(s) qualificadora(s) excedente(s) nas fases da dosimetria. >> Síntese: Havendo mais de uma qualificadora, uma funciona como tal e a outra deverá ser considerada na 3ª, 2ª ou 1ª fase, conforme o caso (STJ, Jurisprudência em teses 7). 2) INTERAÇÃO DE CIRCUNSTÂNCIAS > CARÁTER RESIDUAL: Uma circunstância não poderá ser considerada na 1ª fase se tiver aderência como qualificadora, privilégio, majorante, minorante, agravante ou atenuante. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista > NEUTRALIDADE: As circunstâncias podem ser definidas pelo magistrado como a) Favoráveis; b) Neutras; c) Desfavoráveis. À falta de elementos de convicção, não se presume o favor/desfavor, sendo a circunstância considerada neutra. >> Irrelevância quantitativa da circunstância favorável: O cálculo da pena é iniciado no mínimo legal, considerada eventual qualificadora ou privilégio. CLASSIFICAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS EFEITO FAVORÁVEL São neutras, não implicando alteração da pena, que permanece no mínimo (salvo se existir circunstância desfavorável). NEUTRA DESFAVORÁVEL/NEGATIVA A pena é aumentada, ainda que existam circunstâncias favoráveis ou neutras. >> Impossibilidade de compensação: As circunstâncias favoráveis, por serem neutras, não compensam as negativas. É dizer, havendo circunstância negativa, a pena fatalmente será aumentada, ainda que as outras 7 circunstâncias favoreçam o acusado. 2) QUANTUM DE AUMENTO: Não há quantum definido, devendo o juiz, à luz da individualização da pena, respeitar o princípio da proporcionalidade. > Critério doutrinário: 1/8. >> Respeita a hierarquia das fases, pois não há quantum menor no CP, que, no mínimo, cogita de aumentos de 1/6. >> Relaciona-se com a quantidade de circunstâncias judiciais (Crítica: Comportamento da vítima) > Base de Cálculo: Não há critério fixo para a conta, devendo prevalecer aquilo que se mostrar mais proporcional no caso concreto. a) Intervalo (REGRA): Calcula-se o 1/8 com base no intervalo de pena, ou seja, subtrai-se a pena mínima da pena máxima e o resultado é divido por oito (Pmáx – Pmín/8) DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista Exemplo: Pena de 01 a 09 anos 1 +1a +1a +1a +1a +1a +1a +1a +1a 9 Exemplo2: Pena de 01 a 05 anos 1 +6m +6m +6m +6m +6m +6m +6m +6m 5 b) Pena mínima: Excepcionalmente, nas hipóteses em que o cálculo por intervalo se mostrar irrazoável e desproporcional, realizam-se os aumentos com base na pena mínima abstrata (Pmín/8). 2.D) QUAL A POSIÇÃO DO STJ SOBRE O QUANTUM DE AUMENTO? > STJ, 6ª T, AgRg no AREsp 1476032/PR (23/06/2020): Não há critério matemático. Por accountability, proporcionalidade e individualização, deve o juiz considerar a)o número de circunstâncias negativas; b) o intervalo de pena abstrata; c) o montante de pena aplicado pelos Tribunais em casos semelhantes. > STJ, 6ª T, AgRg no HC 557.448/ES, Rel. Sebastião Reis (12/08/2020): 1/6 sobre a pena mínima > STJ, 5ª T, HC 590.354/SP, Rel. Ribeiro Dantas (24/08/2020): 1/8 sobre o “intervalo”. 3) TETO? (Ass. Cont.) - C1: Pena máxima abstrata (STJ, 2008) - C2: Pena média, que corresponde à soma da mínima e da máxima, divida por dois (STF, 1998) 4) PISO? A menor pena-base possível corresponde à pena mínima abstrata (mínimo legal). Art. 53 - As penas privativas de liberdade têm seus limites estabelecidos na sanção correspondente a cada tipo legal de crime. 5) CIRCUNSTÂNCIAS EM ESPÉCIE: Estudaremos agora cada uma das circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal. Considerando a abstração de sentido das expressões, entretanto, em todas elas é preciso se lembrar da proibição ao bis in idem. 5.1) CULPABILIDADE: Em termos simples, corresponde ao tanto de castigo que o fato merece. Tecnicamente, é o grau de reprovabilidade ou censurabilidade da conduta, sendo desfavorável quando ultrapassa a “normalidade” do crime. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista ≠ Culpabilidade em sentido estrito ou como camada do crime: No conceito de crime, a culpabilidade corresponde à reunião entre imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato e inexigibilidade de conduta diversa. A presença destes requisitos é essencial para que se possa falar em crime. Logo, não poderão ser considerados na dosimetria. STJ, Jurisprudência em teses: A culpabilidade normativa, que engloba a consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa e que constitui elementar do tipo penal, não se confunde com a circunstância judicial da culpabilidade (art. 59 do CP), que diz respeito à demonstração do grau de reprovabilidade ou censurabilidade da conduta praticada. > Direito Penal do fato: Ao determinar que a dosimetria deve considerar a reprovabilidade da conduta, o CP abraçou a doutrina do DP do Fato, que pune alguém pelo que fez, e não pelo que é (DP do Autor) > Crimes culposos: A valoração da culpabilidade deve considerar o grau de descumprimento do dever objetivo de cuidado. > Transbordamento da normalidade STJ, Jurisprudência em Teses: O aumento da pena-base em virtude das circunstâncias judiciais desfavoráveis (art. 59 CP) depende de fundamentação concreta e específica que extrapole os elementos inerentes ao tipo penal. EXEMPLOS JURISPRUDENCIAIS (STJ E STF) ADMITIDO NÃO ADMITIDO Frieza do acusado Brutalidade Vários tiros à queima-roupa Cargo público que permite acesso à informação privilegiada Consciência sobre a ilicitude do fato Qualidade de funcionário público, em crimes funcionais Ciência da qualidade de documento, em crime de uso de documento falso Ofensa à moralidade pública, em crime próprio de prefeito 5.2) ANTECEDENTES: Passado do réu, com relevância penal e recoberto por sentença penal condenatória transitada em julgado. CRFB, 5.º [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista > O que significa “trânsito em julgado de sentença penal condenatória”? Trânsito em julgado é a cristalização de um provimento judicial, em razão de ter se tornado definitivo, por força do esgotamento dos recursos disponíveis (seja porque não interpostos, seja porque já decididos). “Sentença penal condenatória”, por seu turno, deve ser compreendida como a sentença (1º grau) ou o acórdão (2º grau e Cortes Superiores) proferido no âmbito de um processo que atribui a prática de crime ou contravenção penal a um indivíduo com idade igual ou maior que 18 anos. STJ, 444. É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. STF, Plenário, RE 591.054/SC (I772): A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena. > Como se provam os maus antecedentes? Não é necessária certidão elaborada pelo Cartório do juízo criminal, bastando a Folha de Antecedentes Criminais, desde que apresente informações suficientes sobre o trânsito em julgado. A mesma regra probatória vale para a reincidência. Lembre-se, porém, que NUNCA haverá maus antecedentes nem reincidência sem trânsito em julgado. >> incluir decisão do stj sobre consulta à internet STJ, 636. A folha de antecedentes criminais (FAC) é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência. > Sistema da perpetuidade: Diferentemente da reincidência, que se depura (“desaparece”) depois de passados 05 anos, os maus antecedentes são perpétuos. É dizer, uma sentença penal condenatória transitada em julgado tem potência para gerar maus antecedentes pelo resto da vida do réu. >> ATENÇÃO – Tese da temporariedade dos maus antecedentes: O STF já decidiu pela superação do sistema da perpetuidade, fundamentando na dignidade humana, proporcionalidade e no direito de estar só (right to be alone – direito ao esquecimento). No entanto, a posição ainda não se consolidou, seja no STF, seja no STJ. A matéria está pendente de julgamento no STF, submetida ao regime de repercussão geral. STF, RE593.818 – Repercussão geral reconhecida: MATÉRIA PENAL. FIXAÇÃO DA PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDIDICAIS. MAUS ANTECEDENTES. SENTENÇA CONDENATÓRIA EXTINTA HÁ MAIS DE CINCO ANOS. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE NÃO- CULPABILIDADE. MANIFESTAÇÃO PELO RECONHECIMENTO DO REQUISITO DE REPERCUSSÃO GERAL PARA APRECIAÇÃO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista > É possível que alguém seja considerado, simultaneamente, portador de maus antecedentes e reincidente? SIM, desde que cada uma das circunstâncias seja avaliada com base em uma anotação criminal diferente, ou seja, desde que haja mais de um trânsito em julgado condenatório. A mesma anotação criminal, porém, não pode justificar aumento tanto na 1ª quanto na 2ª fase. STJ, 241. A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial. STJ, Jurisprudência em teses: Havendo diversas condenações anteriores com trânsito em julgado, não há bis in idem se uma for considerada como maus antecedentes e a outra como reincidência. > CUIDADO - “Falsos trânsitos em julgado condenatórios”: Algumas sentenças transitadas em julgado aparentam ser condenatórias, mas não são, ou, a despeito de o serem, não terão eficácia para gerar aumento de pena. Nestes casos, não induzem maus antecedentes nem reincidência. Seguem os principais exemplos: a) Sentença homologatória de suspensão condicional do processo ou transação penal L9099/95, 76. Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. [...] § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. [...] § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível. STJ, Jurisprudência em teses: A extinção da punibilidade do agente pelo cumprimento das condições do sursis processual, operada em processo anterior, não pode ser sopesada em seu desfavor como maus antecedentes, personalidade do agente e conduta social. STJ, Jurisprudência em teses: A transação penal não tem natureza jurídica de condenação criminal, não gera efeitos para fins de reincidência e maus DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista antecedentes e, por se tratar de submissão voluntária à sanção penal, não significa reconhecimento da culpabilidade penal nem da responsabilidade civil. b) Sentença homologatória de acordo de não persecução penal CPP, 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: [...] § 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. c) Sentença concessiva de perdão judicial CP, 120. A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência. STJ, 18. A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. d) Sentença que reconhece prescrição da pretensão punitiva ou abolitio criminis (CP, 107, IV e III) e) Sentença que reconhece anistia (CRFB, 5.º, XLIII e 48, VIII; CP, 107, II) > CUIDADO 2 - Trânsitos em julgado condenatórios “sem eficácia”: Há ainda sentenças penais que, apesar de condenatórias, não possuirão eficácia para configurar maus antecedentes e/ou reincidência. Segue o rol exemplificativo (também presente no mapa mental). a) Sentença de procedência de ação socioeducativa transitada em julgado (Ato infracional): Não constitui sentença penal, mas sim infracional. Na realidade, não podem interferirna aplicação da pena a nenhum título. STJ, 3ª Seção, 12/2017. Conforme o entendimento firmado no âmbito na Terceira Seção, a prática de ato infracional não justifica a exasperação da pena-base, por não configurar infração penal, não podendo, portanto, ser valorada negativamente na apuração da vida pregressa do DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista réu a título de antecedentes, personalidade ou conduta social. (HC 364.532/SP, j. 07/12/2017) >> Atenção – Efeitos processuais penais: O STJ tem reconhecido a possibilidade de os antecedentes infracionais (FAI) serem utilizados para definição de afirmação periculosidade do agente em sede de decretação de prisão provisória. STJ, 3ª Seção, 6/2016. Se os atos infracionais não servem, por óbvio, como antecedentes penais e muito menos para firmar reincidência (porque tais conceitos implicam a ideia de ‘crime’ anterior), não podem ser ignorados para aferir a personalidade e eventual risco que sua liberdade plena representa para terceiros (RHC n. 63.855/MG, Rel. p/acórdão Ministro Rogerio Schietti Cruz, Dje 13/6/2016). b) Sentença condenatória transitada em julgado por artigo 28 da Lei 11.343/06 (Porte de drogas para consumo pessoal) STJ, Posição moderna (HC 453.437/SP): Cabe ressaltar que as condenações anteriores por contravenções penais não são aptas a gerar reincidência, tendo em vista o que dispõe o artigo 63 do Código Penal, que apenas se refere a crimes anteriores. E, se as contravenções penais, puníveis com pena de prisão simples, não geram reincidência, mostra-se desproporcional o delito do artigo 28 da Lei 11.343/2006 configurar reincidência, tendo em vista que nem é punível com pena privativa de liberdade. c) Sentença estrangeira condenatória transitada em julgado por fato atípico no Brasil: Por não atender ao requisito da dupla tipicidade, não produz efeitos penais no Brasil. ANTECEDENTES REINCIDÊNCIA (Explicação completa aqui) SEMELHAN- ÇAS 1. Pressuposto principal: Sentença penal condenatória transitada em julgado 2. Forma de comprovação: Basta a FAC. D I F E R E N Ç A S 1ª fase Circunstância judicial 2ª fase Circunstância agravante Bons ant. / Maus ant. Primário / Reincidente Sistema perpetuidade * Ver acima posição do STF Sistema temporariedade > Descrito no CP, 64, determina um período depurador, que, uma vez transcorrido, “apaga” a reincidência. É dizer, passado o prazo depurador, a sentença penal condenatória transitada em julgado perde a eficácia geradora de reincidência, podendo configurar maus antecedentes (vide Caso 2 da coluna de maus antecedentes) DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista a) Infração penal anterior (IP¹) b) Infração penal posterior, sob julgmento (IP²) c) Julgamento da infração penal posterior (IP²) após SPCTJ da infração penal anterior (IP¹) > ATENÇÃO: A infração penal sob julgamento (IP²) pode ocorrer antes ou depois da SPCTJ da infração penal (=/= Reincidência) – vide caso 1. d) Infração penal anterior (IP¹) a) SPCTJ da infração penal anterior b) Infração penal posterior, sob julgamento (IP²) c) Sentença da infração penal sob julgamento (IP²) após SPCTJ da infração penal anterior (IP¹) CASO 1 | | | Julgamento da IP² | IP ¹ IP ² Trânsito em julgado condenatóri o da IP¹ CASO 2* | | | Julgamen to da IP² | IP¹ Trânsito em julgado condenat ório da IP¹ IP² > Atenção: Este Caso 2 somente será de maus antecedentes se ausentes os requisitos da reincidência > NÃO OCORRÊNCIA < | | | Julgamento da IP¹ | IP ¹ IP ² Trânsito em julgado condenatóri o da IP² ÚNICO CASO | | | Julgamento da IP² | IP ¹ Trânsito em julgado condenatóri o da IP¹ IP ² OBSERVAÇÕES Temporariedade (CP, 64,I): Entre a extinção da punibilidade da primeira condenação e a nova infração (IP²) não pode transcorrer mais que cinco anos. o Livramento condicional ou sursis: Se, na primeira condenação, foi concedido sursis ou livramento condicional não revogado, os 05 anos de depuração não são contados do término da pena, mas sim da data da audiência admonitória (Concessão do Livramento ou sursis) Infrações excluídas: Há infrações penais que, se figurarem na posição (IP¹), não configurarão reincidência (vide mapa mental) COMPREENSÃO DIDÁTICA Tem maus antecedentes quem, na data do julgamento, “olhando para trás” enxerga uma infração penal anterior àquela pela qual está sendo julgado bem como o trânsito em julgado condenatório desta mesma infração (em qualquer momento). É reincidente quem, na data do crime pelo qual está sendo julgado, “olhando para trás” enxerga um trânsito em julgado condenatório (obviamente, por crime anterior) DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista 5.3) CONDUTA SOCIAL: Avaliação da interação do réu com o meio em que vive (Ex.: O réu é solidário; O réu costuma andar embriagado; O réu não trabalha/é vadio; O réu usa entorpecentes – “é maconheiro”). > Crítica: A circunstância permite que o juiz se valha de Direito Penal do Autor, que deve ser repelido. EXEMPLOS JURISPRUDENCIAIS (STJ E STF) E DOUTRINÁRIOS ADMITIDO (Doutrina) NÃO ADMITIDO Histórico de dispensa com justa causa Devedor contumaz de pensão alimentícia Pessoa com pouca aceitação na comunidade em que vive Desemprego, por si só Fato de não estar estudando, por si só Ausência de ocupação lícita 5.4) PERSONALIDADE: Avaliação psíquica do réu, o seu retrato psicológico (Ex.: O réu é violento; O réu é voltado à pratica de crimes). > Críticas: 1. Direito Penal do Autor; 2. Envolve considerações abstratas e distantes do contraditório; 3. Fora do campo de conhecimento do juiz > STJ: O juiz pode avaliar a personalidade, desde que haja provas concretas sobre ela no processo, não se exigindo obrigatoriamente prova pericial. 5.5) MOTIVOS: O porquê do crime. > Cuidado: Muitos motivos já são contemplados nas demais fases ou como qualificadora/privilégio. Caso isto aconteça, diante do caráter residual da 1ª fase, nela não deverão ser considerados, evitando-se o bis in idem. 5.6) CIRCUNSTÂNCIAS: O juiz poderá considerar outros dados relacionados ao crime, desde que sejam relevantes na prática criminosa e, com isso, despertem maior grau de reprovação. EXEMPLOS JURISPRUDENCIAIS (STJ E STF) ADMITIDO Prática de homicídio por arma de fogo em local de aglomeração Estelionato contra vitima que confiava no criminoso Complexidade extraordinária do esquema de evasão de divisas 5.7) CONSEQUÊNCIAS: O resultado do crime que extrapole a sua “normalidade”. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista > Exaurimento: Nos crimes formais, que se consumam com a simples prática da conduta, o implemento do resultado naturalístico (exaurimento) pode ser considerado com consequência que excede à normalidade. > Resultados graves em crimes culposos 5.8) COMPORTAMENTO DA VÍTIMA:Nunca poderá ser considerada em desfavor do réu. Condutas da vítima que estimulem ou facilitem o crime serão valoradas em favor do réu. STJ, Jurisprudência em Teses: O comportamento da vítima em contribuir ou não para a prática do delito não acarreta o aumento da pena-base, pois a circunstância judicial é neutra e não pode ser utilizada em prejuízo do réu. - CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES E ATENUANTES – (2ª FASE: PENA PROVISÓRIA OU INTERMEDIÁRIA) 1) PONTO DE PARTIDA: A aplicação da pena intermediária se inicia na pena-base, ou seja, aquela que resulta das operações da 1ª fase. 2) INTERAÇÃO DE CIRCUNSTÂNCIAS > Caráter residual: Uma circunstância não poderá ser considerada na 2ª fase se tiver aderência como qualificadora, privilégio, majorante ou minorante. > Valoradas: Diferentemente da 1ª fase, as agravantes e atenuantes não são neutras, ou seja, as agravantes elevam a pena, ao passo que as atenuantes a diminuem. 2) QUANTUM DE AUMENTO OU DIMINUIÇÃO: Não há quantum definido, devendo o juiz, à luz da individualização da pena, respeitar o princípio da proporcionalidade. > Critério Doutrinário: 1/6, com raios de aceitação tanto pelo STF (HC 69392/SP e 69666/PR) quanto pelo STJ (HC303841/RJ) 3) TETO? Pena máxima abstrata, de sorte que mesmo que existam agravantes, não poderão elevar a pena além deste patamar. 4) PISO? Segundo a posição majoritária, é a pena mínima abstrata, de modo que ainda que haja atenuantes, não poderão diminuir a pena aquém deste patamar. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista CP, art. 53. As penas privativas de liberdade têm seus limites estabelecidos na sanção correspondente a cada tipo legal de crime. STJ, 231. A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. > Teses defensivas de reação à posição do STJ >> Superação total: A Súmula 231 viola o artigo 65, que, ao tratar das atenuantes, utiliza a palavra “sempre” (atenuam), demonstrando que essas circunstâncias não devem ser afastadas nem mesmo quando conduzirem à diminuição da pena aquém do mínimo. Ademais, impedir a diminuição nesses casos configuraria violação ao p. da individualização da pena, já que permitiria que pessoas em situação desigual - ambos com pena-base fixada no mínimo, mas um com direito à atenuante e outro sem – recebessem o mesmo tratamento – pena mínima. >> Superação parcial – Tese da atenuante diferida: Determina que, quando se antever que na terceira fase haverá aumento, é possível, na segunda, antecipadamente, aplicar atenuante que diminua a pena a patamar inferior ao mínimo. 5) CONCURSO DE CIRCUNSTÂNCIAS (CP, 67): Na 1ª fase, a existência de circunstâncias favoráveis não interfere na eficácia das circunstâncias negativas que se fizerem presentes, já que como aquelas são neutras, estas promovem aumento na pena, sabendo- se que as favoráveis (=neutras) não “diminuem a força” das negativas (Ficou perdido? Releia aqui). Já na 2ª fase, a lógica é diferente: a existência para o mesmo réu de agravante(s) e atenuante(s) faz com que estas interajam em razão de serem valoradas (Valoradas?! Não entendeu?! Volte aqui). Assim, a atenuante amortiza (=abranda o aumento), anula (=compensação) ou prepondera (=diminui a pena) a agravante. Para definir como será a interação, é necessário saber se a circunstância (agravante ou atenuante) é comum ou preponderante. ESPÉCIE AGRAVANTE ATENUANTE COMUM A regra é que as agravantes e atenuantes sejam classificadas como comuns. Assim, o rol das comuns é encontrado por exclusão, ou seja, a circunstância que não for preponderante é comum. PREPONDERANTE 1. Reincidência 2. Motivos (Ex.: Motivo fútil) 1. Motivos (Ex.: Relevante valor moral) 2. Personalidade DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista 3. Personalidade > “Balanceamento” das circunstâncias: Uma vez classificadas as circunstâncias em concurso, basta colocá- las em uma “balança” a fim de definir qual dos dois “pratos” “pesará mais”, se o das agravantes ou o das atenuantes, ou ainda se a “balança” se estabilizará. No primeiro caso, faz-se um aumento; no segundo, diminuição; e, havendo equilíbrio, compensação, isto é, a agravante anula a atenuante, de modo que a pena nem sofre aumento nem diminuição. São possíveis, deste modo, x cenários. AGRAVANTE x ATENUANTE RESULTADO Comum x Comum Compensação Preponderante x Preponderante Comum x Preponderante Diminuição de pena Preponderante x Comum Aumento de pena > Posições jurisprudenciais: O STJ, interpretando o CP, 67, firmou posições sobre algumas circunstâncias especificamente. >> Menoridade relativa e senilidade (“Super” preponderante): A atenuante da menoridade e senilidade (CP, 65, I) prepondera sobre qualquer agravante, o que inclui as que são classificadas como preponderantes. Assim, no balanceamento entre menoridade relativa e uma agravante (comum ou preponderante) a pena diminuirá. >>> Atenção: Para que não reste dúvida, a menoridade prepondera até mesmo sobre a reincidência! ATENUANTE x AGRAVANTE RESULTADO CP, 65, I x Comum Diminuição de pena Preponderante (inclusive a Reincidência) >> Confissão (Preponderante): Para a 3ª Seção do STJ, a confissão está ligada à personalidade, sendo por DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista isso preponderante. Assim, no balanceamento entre confissão e uma agravante comum, a pena diminuirá, mas se a agravante for preponderante, haverá compensação. >>> Cuidado – Reincidência: Embora a confissão também prepondere sobre a reincidência, o STJ afirma que, no caso de múltipla reincidência (=multirreincidência), é “inviável a compensação integral” (Jurisprudência em Teses, 10). ATENUANTE x AGRAVANTE RESULTADO Confissão (Preponderante) x Comum Diminuição de pena Preponderante (inclusive a Reincidência) Compensação Multirreincidência* Aumento de pena, abrandado pela atenuante 6) LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE: Assim como na 1ª fase, o rol das agravantes e atenuantes pode ser inovado pela legislação especial. 7) AGRAVANTES EM ESPÉCIE (CP, 61 e 62): As agravantes estão previstas em rol taxativo, o que deriva do princípio da legalidade. > Caráter exclusivamente doloso: As agravantes ostentam caráter doloso, o que importa em duas regras de aplicação. (1) Somente podem ser aplicadas em crimes dolosos: Em crimes culposos, não incidem agravantes. > Exceção – Reincidência: A reincidência é a única agravante que incide tanto em crimes culposos quanto em dolosos. (2) Somente podem ser aplicadas se o agente atuar com dolo em relação à agravante. Faltando este, ainda que o crime em si seja doloso, não incide o agravo (Ex.: José pratica lesão corporal dolosa contra Maria, que está grávida de um mês, fato desconhecido por José. Neste caso, José responderá por lesão corporal dolosa, mas não incidirá sobre ele a agravante do CP, 61, II, h) > Cuidado – Bis in idem: Muitas das circunstâncias que figuram no rol de agravantes também aparecem no Código Penal como qualificadora ou majorante. Nestes casos, por força do caráter residual (Esqueceu o que é?! Releia aqui), não devem ser consideradas como agravantes. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIADA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista Ex.: O motivo torpe e a vítima maior de 60 anos, no homicídio – CP, 121, §2º, I e §4º > Cognoscibilidade de ofício: Embora o assunto seja controvertido na doutrina de Processo Penal, ao pé da letra da lei, o juiz pode, de ofício (sem provocação das partes), aplicar uma agravante na sentença. CPP, 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. 6.1) REINCIDÊNCIA (CP, 63): Como dito (Cale a pena relembrar as bases dos maus antecedentes, aqui), a reincidência tem como pressuposto a existência de sentença penal condenatória transitada em julgado pretérita e por infração penal anterior ao delito sob julgamento, de tal modo que é reincidente quem, na data da infração penal pela qual está sendo julgado (IP²), se “olhasse para trás” enxergaria um trânsito em julgado condenatório (da IP¹). | | | Julgamento da IP² | IP ¹ Trânsito em julgado condenatóri o da IP¹ IP ² > Espécies de reincidência REAL FICTA GENÉRICA ESPECÍFICA Conceito O agente reincide após ter cumprido a pena pela infração penal anterior O agente reincide antes / durante o cumprimento da pena da infração penal anterior O agente reincide praticando infração penal diversa da anterior O agente reincidente praticando a mesma infração penal pela qual anteriormente foi condenado Exemplos Crime praticado na porta da cadeia, no dia da soltura (#lilicantou) Crime praticado no interior do presídio, durante o cumprimento de pena Furto + Homicídio Roubo + Roubo >> É possível a multirreincidência? Sim. Se o agente possuir mais de uma sentença penal condenatória transitada em julgado preenchendo os requisitos da reincidência, será considerado multirreincidente, o que não configura bis in idem. DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista > Sentenças penais condenatórias transitadas em julgado que não geram reincidência: Além dos casos já tratados quando do estudo dos maus antecedentes (Esqueceu?! Veja aqui), não geram reincidência as sentenças condenatórias, mesmo quando transitadas em julgado, se a infração anterior (IP¹) for uma das seguintes. (1) Crime político, próprio ou impróprio (2) Crime militar próprio CP, art. 64. Para efeito de reincidência: [...] II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos (3) Contravenção, se a infração sob julgamento (IP²) for um crime: Por erro legislativo, ao definir reincidência, o legislador somente tratou, no Código Penal, da sucessão de crimes (Crime¹ + Crime²) e, na Lei de Contravenções Penais, da sucessão de contravenções (Contravenção¹ + Contravenção) e da sucessão de crime por contravenção (Crime + Contravenção), esquecendo-se da situação de uma contravenção ser sucedida por crime (Contravenção + Crime). CP, art. 63. Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior Lei de Contravenções Penais, art. 7º. Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção. INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE (IP¹) INFRAÇÃO PENAL POSTERIOR / SOB JULGAMENTO (IP²) TRATAMENTO JURÍDICO Crime Crime Reincidente, desde que atendidos os demais requisitos da reincidência Crime Contravenção Contravenção Contravenção Contravenção Crime Não reincidente, mas com maus antecedentes (MAJ) > Sistema da temporariedade - Período depurador: Diferentemente dos maus antecedentes, que são perpétuos (Dúvidas?! Veja o quadro comparativo), a reincidência é temporária, deixando de existir depois de passados 05 anos DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista entre a extinção da punibilidade da infração penal antecedente (IP¹) e a sob julgamento (IP²). CP, art. 64. Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; >> Contagem do período depurador (CP, 10): O prazo de 05 anos de depuração tem natureza penal, de forma que deve ser contado incluindo-se o primeiro dia. Assim, para saber o fim do período depurador deve-se somar 05 anos ao termo inicial e subtrair um dia. Não faz diferença se os dias são ou não úteis tampouco se há ou não ano bissexto. Ex.: Termo inicial em 15/01/2010. Réu reincidente até 14/01/2015 PRAZO MATERIAL / PENAL PRAZO PROCESSUAL Inclui-se o primeiro dia Exclui-se o primeiro dia (CPP, 798) A contagem é iniciada na data de um fato definido pela lei A contagem é iniciada com a intimação/citação, e nunca com a juntada aos autos do comprovante de notificação (STF, Súmula n.º 710) Contam-se dias úteis e não úteis, sem prorrogações Contam-se dias úteis e não úteis, salvo se o primeiro dia ou o último dia da contagem for não útil, casos em que haverá prorrogação até o primeiro dia útil seguinte (STF, Súmula n.º 310) Exceção: O prazo para juntada de documentos antes do Plenário do Júri é de 03 dias úteis (CPP, 232, parágrafo único) >> Termo inicial: A contagem do prazo depurador é feita não em relação à data da infração penal antecedente, da sua sentença ou do trânsito em julgado, mas sim da extinção da punibilidade posterior ao trânsito em julgado (regra), que costuma ocorrer com o término de pena, mas pode se manifestar de outras formas (vide CP, 107). REGRA . Período depurador . | | . Cumprimento de pena . | Julgamento da IP² | | | | IP¹ Trânsito em julgado condenatório da IP¹ Início do cumprimento de pena Extinção da punibilidade da IP¹ Fim do período depurador IP² . Reincidência ficta . . Maus antecedentes ... . Reincidência real . DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista >>> Exceção: Se ao réu for concedido sursis (CP, 77) - benefício concedido na sentença, que suspende a aplicação da pena, mantendo o condenado sob avaliação - ou livramento condicional (CP, 83) - benefício que põe o condenado em liberdade, mantendo-o sob avaliação – o termo inicial do período depurador é antecipado, passando a ser a data da audiência admonitória, que é o ato processual em que são apresentadas as condições do sursis ou do livramento ao condenado e colhida a sua anuência quanto ao benefício. EXCEÇÃO – SURSIS . Período depurador . | | . Período de prova. Julgamento da IP² | | | | | IP¹ Trânsito em julgado condenatório da IP¹ Audiência admonitória do sursis (se não revogado) Extinção da punibilidade da IP¹ Fim do período depurador IP² . Reincidência ficta . . Maus antecedentes ... . R. real . EXCEÇÃO – LIVRAMENTO CONDICIONAL . Período depurador . | | . Cumprimento de pena . . Período de prova . Julgamento da IP² | | | | | | IP¹ Trânsito em julgado condenatório da IP¹ Início do cumprimento de pena Audiência admonitória do livramento condicional (se não revogado) Extinção da punibilidade da IP¹ Fim do período depurador IP² . Reincidência ficta . . Maus antecedentes ... . R. real . >>> CUIDADO: A contagem somente é antecipada se o sursis ou livramento não vier a ser revogado. Caso isto ocorra, a contagem obedecerá à regra, ou seja, será feita a partir da extinção da punibilidade. QUAL O TERMO INICIAL DE CONTAGEM DO PRAZO DEPURADOR? REGRA Data da extinção da punibilidade EXCEÇÃO Concessão de sursis ou livramento condicional Data da audiência admonitória, salvo se revogado o benefício >> Persistência de maus antecedentes: Vencido o prazo depurador, caso praticada nova infração penal, o DIREITO PENAL II - DOSIMETRIA DA PENA – ANTÔNIO CARLOS F. S. FILHO @CRIMINAL.ANTONIOFILHO Professor Universitário (UCAM e UNESA – Graduação; UNIFLU – Pós) Conselheiro OAB/RJ 12ª Subseção Advogado Criminalista indivíduo não poderá ser tratado como reincidente. Como os maus antecedentes são perpétuos, porém, amargará o agente a condição de portador de maus antecedentes (Não entendeu muito bem?! Veja aqui)