Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEXTO DE SISTEMATIZAÇAO 06: EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL 15 de setembro de 2010 A RedeNutri iniciou em 15 de junho de 2010 o ciclo de discussões sobre Educação Alimentar e Nutricional. A mensagem inicial apresentada à Rede propôs a reflexão conceitual e sobre as ações desenvolvidas em EAN pelos participantes. Existem várias definições de EAN que variam segundo as dimensões e aspectos que são privilegiados pelo autor. Como a adotada pela Resolução Nº 380/2005 do CFN “procedimento realizado pelo nutricionista junto a indivíduos ou grupos populacionais, considerando as interações e significados que compõem o fenômeno do comportamento alimentar, para aconselhar mudanças necessárias a uma readequação dos hábitos alimentares”. Ou esta outra da pesquisadora Isobel Contento1 “combinação de estratégias educacionais, acompanhada de ações que possibilitem um ambiente que apóie o comportamento almejado, que promova a autonomia e facilite a adoção voluntária de escolhas alimentares e outros comportamentos relacionados, com o objetivo de bem estar e saúde”. A proposta foi de uma rodada de discussões tanto do conceito que cada um adota de EAN como também sobre experiências, conquistas e desafios que a EAN trás para a prática dos profissionais. SISTEMATIZAÇÃO DO DEBATE A posição da EAN na prática profissional – conceito, formação e desafios § 1 CONTENTO, Isobel. Nutrition Education. Linking research, theory and practice. Jones and Bartlett Publishers. Boston, 2007. 1- Se considerarmos a definição de Educação Alimentar e Nutricional proposta pela Resolução 380/2005 do CFN, excluímos do desenvolvimento de práticas de EAN outros profissionais, como os próprios Técnicos em Nutrição e Dietética, que estão inscritos nos Conselhos de Nutricionistas, ou professores, enfermeiros e outros profissionais que atuam no campo da saúde. Todos sabem que atualmente atuar com promoção da saúde nas escolas requer um trabalho coletivo e, portanto, a definição de EAN não pode estar restrita a uma categoria profissional, importantíssima nas equipes de saúde. 2. Acho imprescindível refletirmos sobre a complexidade que envolve o tema, a partir do entendimento de que a EAN vai muito além do repasse de informações adequadas e corretas sobre a prevenção de problemas nutricionais, sobre os alimentos e a alimentação saudável (SANTOS, 2005)2. De acordo com Boog (2008)3 a EAN não tem por finalidade prescrever formas formas adequadas de se alimentar, mas sim, ensinar a pensar certo a respeito respeito da alimentação. Pensar certo não é transferir um conhecimento pronto e inerte sobre o que deve ser consumido, às vezes, desconexo com o cotidiano alimentar das pessoas, mas, procurar aproximar-se da realidade de vida e alimentação e reconhecer os aspectos afetivos, do valor dos rituais de comensalidade, das preferências e de todos os sentidos e significados que envolvem a alimentação. Portanto, é considerar as interconexões existentes entre a alimentação, a sociologia, a antropologia, a educação e a nutrição. É pensar a educação como um processo, e como tal, com caráter permanente, dinâmico e em constante transformação. Implica em compreender a educação como condição essencial para se questionar o mundo e fazer a leitura de nossa inserção neste mundo, perguntando o porquê das coisas e buscando realizar as transformações necessárias no plano individual e coletivo. (BRASIL, 2008).4 Assim, a educação alimentar e nutricional se constitui em espaço privilegiado para ampliação do empoderamento das pessoas no que se 2 SANTOS, Ligia Amparo da Silva. Educação alimentar e nutricional no contexto da promoção de práticas alimentares saudáveis. Rev. Nutr., Campinas, 18(5):681-692, set./out., 2005 3 BOOG, Maria Cristina Faber Atuação do nutricionista em saúde pública na promoção da alimentação saudável. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 33-42, jan./jun. 2008 4 BRASIL. Ministério da Saúde. Bases para a Educação em Saúde nos Serviços. Brasil.2008. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/texto_base_prat_educ_dagep.pdf refere à realização da Segurança Alimentar e Nutricional, a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada e a adoção de práticas alimentares saudáveis, na perspectiva da promoção da saúde e produção da co-responsabilização, da autonomia, do auto-cuidado, do reconhecimento da alimentação como direito social e do exercício da cidadania. Para tanto, penso que precisamos aprofundar os estudos dos referenciais teóricos e metodológicos que possibilitem o desenvolvimento de práticas educativas reflexivas e dialógicas, que respeitem as diversidades e os diferentes saberes. 3. Sou uma questionadora permanente dessa prática convencional de trabalhar com a educação nutricional no Brasil. Reconheço, na condição de professora universitária, os equívocos causados por alguns colegas ao ministrar essa disciplina, mas também conheço a resistência do profissional para melhorar seu conhecimento sobre essa área e ser menos prescritivo no desenvolvimento da mesma. Já sabemos há muito tempo que fazendo palestra não vamos resolver os problemas nutricionais da população, mas mesmo assim continuamos reproduzindo esse modelo. Em um livro sobre esse tema escrito por "Andrien e Ivan Beghin5" eles dizem que "a educação em nutrição convencional parece não ser pertinente na medida em que repousa sobre a mesma uma análise superficial das causas que levam aos problemas nutricionais no contexto referido. Ela se fundamenta, a maioria das vezes, em uma concepção teórica (mal assimilada pelo agente de trabalho de campo) das necessidades nutricionais do homem e sobre exagerada confiança na informação científica como meio privilegiado para modificar os comportamentos humanos relacionados a nutrição. Sua estratégia se apóia na utilização de um canal de comunicação isolado. Mesmo quando fornecidas essas mensagens em local isolado como uma unidade de saúde. As mensagens transmitidas nestes espaços competem com as mensagens de outra fonte, as quais fluem por outros canais, principalmente pelos canais tradicionais da comunicação humana. Em geral alheias a população "alvo", mal formuladas, transmitidas de uma maneira dogmática, as mensagens de educação e nutrição não chegam a traduzir-se em mudança de comportamento observáveis na vida humana, a não ser raramente. Ou seja, a educação em nutrição aparece então como um desperdício dos poucos recursos de que dispõe 5 ADRIEN, M; BEGHIN,I. Nutrición y comunicación: De la educación en nutrición convencional a la comunicación social en nutrición.Universidad Iberoamericana. Biblioteca Francisco Xavier Claviegero. Mexico, 2001 uma coletividade para encarar os seus problemas de saúde: desperdício de tempo, de recursos materiais, dos serviços como também das pessoas convidadas a participar dessas atividades". Concordo plenamente com os autores e em minha experiência profissional em serviço fica patente o distanciamento desse discurso conservador e meio autoritário do profissional de saúde como "um Deus da verdade absoluta" para as pessoas "ignorantes e sem conhecimento" dos conteúdos que defendemos e que devem ser assimilados a qualquer jeito de preferência sem questionamentos. Acho que o livro: "Pedagogia da autonomia6" de Paulo Freire é um bom começo para essa reflexão. 4. Senti falta de discussão e propostas sobre Educação Alimentar e Nutricional( EAN) como eixo/fundamentoou diretriz da PNAN. Acho que esta é uma dimensão que precisa ser incorporada de maneira mais efetiva e pró-ativa às ações da PNAN. A produção de materiais técnico científicos e informativos (que tem sido uma linha de trabalho a qual a PNAN evoluiu qualificada e imensamente nos últimos anos) não configura por si só a perspectiva da EAN. Acho que nós nutricionistas precisamos assumir que EAN não pode ser reduzida a palestras e elaboração de folders. A EAN é um processo que não "pegamos com a mão", é uma estratégia ativa e participativa de todos os sujeitos e estruturas envolvidas. Integrar os saberes científicos e populares é um dos principais desafios da EAN. Essas ponderações nos remetem a perspectivas concretas de desenvolver ações menos normativas e mais formativas junto a diferentes grupos sociais e fora das UBS. Os NASF apontam como cenário positivo para este enfoque. Explicitar a EAN como um fundamento da PNAN não é suficiente para garantir as mudanças que precisamos, mas tenho certeza que serviria de um apoio positivo para que a saúde e nutrição se mantivessem como protagonista do tema. Não é possível deixar que a ambivalência da EAN seja usada de forma leviana por sujeitos não comprometidos com a garantia do DHAA. 5. Participei da experiência de construção do projeto de residência multiprofissional em saúde da família na UFSC e nossa vivência foi uma experiência concreta de que é possível avançar nesta perspectiva - que pode parecer teórica, mas na verdade não está separada da vida real. Nos aproximamos da comunidade de maneira articulada com escola, associação de moradores e até comerciantes de alimentos. Em conjunto com os usuários 6 FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. da UBS planejamos atividades integrando nutrição, enfermagem, odontologia, medicina, farmácia, psicologia e o serviço social - isso foi um grande exercício, pois não é fácil identificar ações coletivas em estruturas de formação individualistas. Passamos quase um ano para conseguir construir um objeto coletivo de trabalho da equipe de residentes (integrado com a equipe da UBS). Depois realizamos atividades das mais variadas incluindo bailes, feiras, oficinas. O diferencial do processo com enfoque menos normativo é identificar nosso papel como profissional de saúde e não apenas - "profetas dos nutrientes bons e maus" - não faça isso e faça aquilo. Considerando as escolhas, que nem sempre são corretas, do ponto de vista nutricional, pois tem significados diversos, conseguimos construir olhares diferenciados da comunidade sobre os seus hábitos alimentares. A comunidade foi descobrindo e criando formas de aliar o saber e sabor com a saúde, mesmo que às vezes o prazer fosse a primeira escolha. Como professora de EAN utilizei uma metodologia da "autobiografia alimentar" com os alunos e as respostas foram surpreendentes. A visão sobre o papel social, afetivo, econômico, cultural e até religioso da alimentação se amplia e tem causado uma reflexão interessante. De repente eles descobrem que podemos contar nossa vida, nossa história familiar e de amigos por meio da alimentação. Houve inclusive relatos e revelações de transtornos alimentares no grupo de estudantes. Momentos bem intensos. Entendo que não e fácil, pois como professora sei que a nossa formação (ainda tradicional) opera exatamente no sentido normativo. Tenho apostado muito em metodologias ativas e participativas em sala de aula e também na proposta do PROSAUDE e PET que na FS/UNB vem tentando "abalar a estrutura curricular" e provocar uma integração entre os cursos e as demandas da população do SUS/Paranoá. Estamos procurando construir um novo perfil de formação. Enfim, são experiências em construção. Muitos colegas aqui da rede precisam ser motivados a ousar mais. Trocamos idéias e palavras também 6. Tenho uma experiência de estágio curricular e aprimoramento, no qual desenvolvi um projeto de Educação Nutricional, com este conceito de ações formativas. Tratando de educação nutricional com história da alimentação, alimentos regionais e temas ligados ao dia a dia. Não somente informando, mas formando a consciência das crianças e adolescentes dos benefícios da alimentação saudável. O Projeto é ótimo, pena que não tive tempo hábil para aplicá-lo, devidos a problemas burocráticos na escola. 7. Sou professora supervisora em Estágio de Nutrição Social, que acontece no 5º período e trabalhamos em creches, escolas, abrigos. Atuamos principalmente em EA. Falo em Educação Alimentar, pois trabalhamos hábitos alimentares saudáveis, principalmente a introdução de verduras e legumes, pois são os alimentos mais rejeitados pelas crianças e adolescentes. Para termos sucesso trabalhamos muito com dinâmicas interativas de acordo com as idades, pais e professores, pois acreditamos que só sensibilizar as crianças e professores não teremos sucesso, temos que sensibilizar e introduzir novos hábitos em casa. Com os adultos trabalhamos muito práticas alimentares acessíveis a população trabalhada, discutindo inclusive orçamento x compra de alimentos saudáveis. Estamos estimulando também hortas, confeccionadas de acordo com a área da família. Trabalhamos muito plantios em garrafas PET, pneus, vasos etc. Neste semestre encontramos um grupo praticamente analfabeto, fazíamos as preparações com os participantes, a partir desta comentávamos sobre a importância para a saúde todos os alimentos disponíveis na receita. Também trabalhamos higienização pessoal, dos alimentos e dos utensílios. Como o grupo não sabia ler as alunas elaboraram um material ilustrativo com todas as receitas desenvolvidas. Acredito que podemos fazer muito, se cada um fizer a sua parte há uma grande melhora. É muito fá ficar de braços cruzados pondo a culpa no governo, é mais cômodo, assim não corremos risco. EA é uma atividade que depende exclusivamente de nós profissionais e da população. Em qualquer lugar trabalhamos Educação. Quando conseguimos trabalhar em rede o trabalho só evolui, e sempre conseguimos pessoas motivadas e dispostas a dar um pouquinho de seu conhecimento, e principalmente trabalhar integrada. Já foi discutido neste grupo a importância da equipe multidisciplinar e do trabalho integrado. Muitas vezes não temos sucesso na EAN pois queremos repassar conhecimentos que achamos que a comunidade necessita e não perguntamos a eles o que sabem e o que querem saber, vamos ouvir mais e falar menos. A humildade também é outro fator que considero fundamental, pois não somos donos do saber, aprendemos muito com a comunidade. Desculpem-me se desabafei, mas estou meio cansada deste discurso que não desenvolvemos nosso trabalho porque ficamos sempre esperando gestores, governo, etc fazerem o trabalho por nós. Minha experiência é que somos valorizadas de acordo com o trabalho que desenvolvemos, então arregacem as mangas, façam seus trabalhos que vocês só irão lucrar. Credibilidade a gente conquista, não cai de mão beijada. Em discussões anteriores vocês falaram que trabalhavam sozinha em um município e que ficavam a maior parte do tempo com serviço burocrático, criem necessidades que com certeza a população e os gestores perceberão a necessidade de contratação de novos profissionais. Demandas existem e devem ser criadas. 8. Precisamos formar profissionais que entendam a importância do diagnóstico antes de qualquer ação. Para isso tive a oportunidade de elaborar a disciplina de EAN no momento da construção do currículo do curso. Então de forma bem coloquial tentei e estou tentando realizarum “sonho de consumo”. A disciplina possui carga horária de 90 horas para realizar aula prática em escolas. Este ano a proposta é também ter a Unidade de Saúde como cenário de prática educativa para os alunos do 3º ano do curso de Nutrição. A disciplina é ministrada por nutricionista e pedagoga. A experiência nesses 4 anos é que os alunos passam a entender que EAN é uma intervenção e por isso não podemos chegar na escola com algo pronto que eu chamo de pacote nutricional. 9. Considerando que a troca de vivências é fundamental para encurtamos a distância entre o discurso teórico e as práticas cotidianas, compartilho com vocês alguns processos muito significativos em relação à questão da formação profissional que estamos vivenciando no Rio Grande do Norte. No contexto da reformulação do Projeto Pedagógico Curricular do Curso de Nutrição da UFRN, aconteceram várias Oficinas com participação de docentes, discentes e profissionais representantes dos serviços e egressos. A partir desses encontros, um Grupo de docentes passou a construir uma nova proposta curricular, que apesar do pouco tempo de implantação já se sente os efeitos através das falas dos profissionais (docentes e preceptores dos Estágios e da postura e discurso dos estudantes). Os alunos além das disciplinas que tem caráter mais biologicistas, estão cursando também disciplinas que possibilitam reflexões mais amplas como: Antropologia do corpo, Aspectos sócio-antropológicos da alimentação, Bioética e cidadania, Processo de Trabalho I e II. Alguns também participam de um Grupo coordenado pela professora da disciplina de Educação Nutricional, denominado Grupo Corpo e Alma, onde desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão. Na disciplina de Educação Nutricional os alunos vivenciam práticas de educação nutricional quinzenalmente, com o Grupo Aprender é Viver. As atividades com o grupo são planejadas a partir da pedagogia de projetos, onde ao final de cada período acontece uma atividade de culminância construída no decorrer do período e realizada conjuntamente (estudantes, docentes, participantes do Grupo). Além disso, realizam práticas de educação nutricional em escolas e creches. A turma é dividida em subgrupos. Além disso, o Departamento de Nutrição da UFRN visando promover o diálogo acerca do processo de formação e trabalho do nutricionista e dos desafios em relação a educação alimentar e nutricional vem realizando alguns Cursos de Atualização e Aperfeiçoamento direcionados aos nutricionistas que recebem estagiários de nutrição: Curso de Atualização nas Práticas de Nutrição na Atenção Básica de Saúde, I Curso de Formação em Educação Nutricional: Metodologias Reflexivas para a instituição do estudante como sujeito do seu conhecimento e Curso de Práticas Educativas em Nutrição para a Atenção Básica. Várias experiências interessantes vem sendo produzidas nos serviços de saúde, a partir dessa integração ensino-serviço. Com certeza, esses processos não acontecem de forma hegemônica e consensual nas instituições (ensino e serviços), já que essas são formadas por pessoas com diferentes visões de mundo, diferentes concepções de educação, de práticas educativas, entre elas, a educação alimentar e nutricional. O importante é dar os primeiros passos, ousar, mesmo com embates, conflitos, mas, acima de tudo, com respeito às diferenças e aos diversos saberes e tendo a humildade de aceitar, como disse Gonzaguinha que "somos eternos aprendizes" e que conforme Paulo Freire "não há saber melhor ou pior, há saberes diferentes". 10. Tudo que pensamos só pode ser realizado se for uma construção coletiva: gestores, profissionais e comunidade. Juntar esses elementos sem invadir nem impor conceitos; enfrentar gestores nem sempre de boa vontade; populações às vezes escabreadas com ações anteriores desastrosas - esse sim é o maior desafio no enfrentamento das questões de saúde no país, particularmente em relação à Nutrição e Alimentação. Há um livro "Educação popular e atenção à saúde da família", de Eymard Mourão Vasconcelos7, mineiro radicado na Paraíba, prof. da UFPB, que, embora não seja 7 VASCONCELOS, E.M. Educação popular e a atenção à saúde da família São Paulo: Hucitec, 1999 específico para Nutrição, nos introduz no mundo cotidiano da população brasileira, onde as campanhas de saúde só interferem pontualmente e ocasionalmente; mostra que os profissionais em geral esforçam-se para utilizar seus conhecimentos na abordagem desta situação mas o enfrentamento dos problemas em particular, desvinculado de ações globais e integradas, tornam sua ação pouco eficaz diante da grandiosidade das questões que lhe são propostas. Mostra também que aprender a educar parece ter eficiência surpreendente, desde que os espaços abertos para os enfrentamentos dos problemas de saúde das populações se insiram na dinâmica social de cada localidade. Creio que é isto que o governo atual esta tentando fazer e quem desejar mudanças tem que aproveitar a vontade política atual. Que dessas discussões saiam - a partir dos relatos das experiências plurais que vemos aqui - propostas que o governo central possa abraçar e, juntamente com os profissionais, contribuir na sensibilização dos gestores locais para melhorar a nutrição e alimentação da nossa população, não esquecendo de ouvi-la, já que é a principal interessada. 11. O processo de educação alimentar e nutricional (EAN) exige, entre outros aspectos, uma reflexão contínua sobre como a educação aparece compondo a EAN. Do ponto de vista do educador existe um grande leque de opções metodológicas e de possibilidades de organizar sua comunicação. Cada educador pode encontrar uma forma mais adequada de integrar os vários procedimentos metodológicos e tecnologias. Não há receitas e nem nunca haverá receitas prontas, pois as situações são muito diversificadas. Acho que o importante é que cada educador encontre o que lhe ajude a sentir-se bem, a comunicar- se bem, ensinar bem e ajudar que se aprenda melhor. A meu ver há duas coisas fundamentais, e essa visão eu compartilho com o professor José Manuel Moran (USP)8. A primeira é o necessário estabelecimento de uma relação empática entre o educador e os estudantes, buscando mapear interesses, perspectivas, expectativas, quem são. A forma de se relacionar é fundamental para o sucesso pedagógico. A segunda é estar aberto para descobrir as competências dos estudantes e as contribuições que cada um pode dar no processo de aprendizagem. Se é certo que não se trata de impor um projeto fechado, é também certo que é necessário que as grandes diretrizes estejam delineadas e claras para o educador, e assim os caminhos de aprendizagem vão sendo construídos em cada etapa do modo mais rico possível. 8 Para conhecê-lo melhor consulte o CV Lattes em http://lattes.cnpq.br/4035390540170184 Aproveito essa mensagem para também compartilhar algumas recomendações sobre a EAN, que foram feitas no âmbito do CONSEA, em uma oficina intitulada "Oficina de Educação Alimentar e Nutricional no Grupo de Trabalho Alimentação Adequada e Saudável", que ocorreu no dia 08 de agosto de 20069. Não vou listar todas, porque são muitas. Quanto aos preceitos: recomenda a expressão "educação alimentar e nutricional" ao invés de "educação alimentar" ou "educação nutricional" e recomenda desvincular o foco do nutriente para o alimento em si; EAN tendo por perspectiva o direito humano à alimentação adequada e a segurança alimentar e nutricional Quanto à formação profissional: comparara educação alimentar e nutricional de hoje com a necessidade de repensar os preceitos filosóficos do curso de Nutrição, em especial a disciplina de EAN; envolver a temática de EAN em todas as disciplinas do curso de nutrição e não se restringir a uma disciplina específica; Quanto ao Estado foi recomendado: regulamentar a publicidade de produtos alimentícios para o público infantil e propor plano de comunicação em EAN; priorizar a EAN nas políticas públicas novas e existentes; criar políticas públicas articuladas entre as diversas áreas de proteção à saúde da população; propor acordo social com as indústrias na elaboração de alimentos mais saudáveis, e ampliar as linhas de fomento em EAN para a sociedade civil. Outras recomendações foram: criar fóruns de discussão nos estados para discutir a EAN, criar observatório de experiências em EAN na sociedade civil, proteger o patrimônio genético alimentar das comunidades tradicionais. Além disso, recomendo também a leitura dos documentos gerados pelos Fóruns de EAN promovidos pela CGPAN10 e que tem produzidos resultados e reflexões importantes para o avanço da EAN. 12. Quero registrar que sugestão de estudo de textos relacionados à educação em saúde é fundamental, pois só assim se terá uma visão crítica sobre o meio onde se atua diretamente. Na verdade, todos têm idéias próprias, mas só se “reinventarmos a roda” poderemos dispensar o estudo de textos de autores que discorrem sobre os temas com os quais trabalhamos. Qualificando-nos com essas leituras, podemos lançar nosso olhar 9 CONSEA- GT - Alimentação Adequada e Saudável Relatório Final . Março 2007 https://www.planalto.gov.br/Consea/static/documentos/Tema/AlimentacaoAdequa/Rel atorioFinal.pdf 10 Os documentos da CGPAN estão disponíveis em http://www.saude.gov.br/alimentacao PESSOAL e crítico sobre as realidades em que atuamos e aí sim, podemos efetivamente contribuir para as transformações. Como professora, insisto muito com os alunos que o papel de professor hoje não é mais de apenas transmitir informações (essas existem aos montes, acessíveis facilmente aos universitários), mas de auxiliá-los, com a nossa experiência (mais idade, mais tempo de trabalho, mais leituras, etc) a desenvolver um espírito crítico e a criar novos conhecimentos a partir das próprias experiências. Ler é essencial, tanto para os jovens como para os mais velhos. 13. A leitura é fundamental para refletirmos e transformarmos nossas práticas. O texto Bases para a Educação em Saúde nos Serviços muito interessante pois faz uma contextualização da educação em saúde, destacando as bases legais e os referenciais teóricos que vem norteando as práticas educativas no SUS. O Caderno de Educação Popular e Saúde11 tem textos de Eymard Mourão Vasconcelos (Professor da UFPB) enfocando a educação popular como instrumento de gestão participativa, de José Ivo Pedrosa (MS/SGEP) que aborda aspectos referentes a educação popular no Ministério da Saúde, e um texto que até discutimos no CONBRAN, na Tenda Josué de Castro "Pacientes impacientes" de Paulo Freire, apresentado por Ricardo Burg Ceccim. Além desses textos, o caderno apresenta diálogos e experiências. As outras referências também possibilitam muitas reflexões. A leitura vale a pena ! 14. Alimentação e Nutrição devem ser matérias obrigatórias nos currículos escolares. Para tanto acredito que os cursos de nutrição devem ter licenciatura, pois nossa maior dificuldade é justamente encontrar métodos, estratégias para educação nutricional. Tenho acompanhado os debates e observei a indicação de algumas leituras como Paulo Freire, Edgar Morin e outros. Faço um curso de formação pedagógica onde estudamos os pensadores, filosofia, antropologia da educação e acho que se os cursos de nutrição fossem também licenciatura avançaríamos neste campo. 15. Continuando a conversa sobre EAN concordo com várias falas quanto a questão de não existir receitas prontas, fórmulas mágicas e a importância de refletirmos a todo o momento sobre a realidade que vamos trabalhar, com base na problematização dessa realidade, tendo como 11 Disponível em : http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/caderno_de_educacao_popular_e_saude.pdf referenciais teóricos os princípios apresentados por Paulo Freire, Edgar Morin 12 e outros autores que trabalham com metodologias crítico-reflexivas. Além disso, acho que é imprescindível refletirmos sobre o nosso processo de trabalho, em especial na atenção básica (consulta de nutrição, trabalho com grupos), pois fazer EAN implica em rompermos com o modelo centrado na queixa- conduta, na doença, e deixarmos de valorizar apenas a composição química dos alimentos, prescrição dietética e o seguimento da dieta. Entretanto, os parâmetros utilizados para avaliação e organização do trabalho no SUS, ainda são embasados no número de consultas, nos resultados em relação ao seguimento da dieta. Muitas vezes, diante desse contexto, os profissionais acabam realizando orientação nutricional, e não educação alimentar e nutricional. Acho fundamental termos clareza desta diferença. Experiências e Depoimentos Estudantes 16. Sou acadêmico ainda, porém compartilho com vocês uma experiência em educação nutricional: Em um município da zona leste de Minas Gerais, junto à direção da escola e baseado no manual operacional para profissionais de saúde13 e no Guia Alimentar para a População Brasileira14 foi elaborado um plano curricular em nutrição para o ano de 2010 baseado nos dispostos pelo PNAE e LDB's da educação para alunos de uma escola publica da rede municipal do 1º ao 5º ano, o projeto abrange 03 esferas: alunos, comunidade escolar (pais e funcionários da escola) e comércio local, o saldo até aqui é que a educação nutricional quando realizada respeitando os aspectos sócio-culturais do público alvo é 12 Edgar Morin, (Paris, 8 de Julho 1921), é antropólogo,sociólogo e filósofo. Formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Autor de mais de trinta livros, entre eles: O método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro.É considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade. 13 BRASIL. Ministério da Saúde. Manual operacional para profissionais de saúde e educaçao. Brasil. 2008. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/promocao_alimentacao_saudavel_escolas.pdf 14 BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar da população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasil. 2005. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/publicacoes.php. uma ótima ferramenta no fortalecimento da políticas públicas de saúde. Pena que as universidades investem tão pouco na formação profissional nesta área. 17. Para mim que ainda não tenho a experiência além do que aprendi na faculdade esses depoimentos são de muita valia. Acho que na universidade muitas vezes não conseguimos "ter molejo" em relação à EAN, pois o próprio docente não tem esse molejo de saber adaptar as coisas, porém acho que agora é a hora de mudar, se nós todos começamos a lutar pelas mudanças, que não é fácil é claro e vai levar tempo, poderemos passar para os próximo nutricionistas uma forma nova de agir em EAN e conseguir começar a alcançar o nosso objetivo de repassar a população tudo que sabemos para dar condições que elas queiram e possam mudar. 18. Sou graduandana UFV-MG. Concordo com os colegas de que a EAN deve ser mais trabalhada e melhor pensada e adaptada aos diferentes públicos. Aqui UFV, temos 2 semestres da disciplina de Educação Nutricional, sendo um teórico e outro prático. Meu grupo desenvolveu um protótipo de alimento e nutriente muito interessante. Nosso público eram crianças do 4° ano do ensino fundamental. Pensamos em "passar a idéia" a eles de que os nutrientes de que tanto falamos estão nos alimentos. Para isso usamos caixas de fósforo encapadas de cores diferentes para sinalizar os diferentes nutrientes e garrafas PET, com a gravura do alimento para simbolizá-lo. Quando falávamos do nutriente, apresentávamos a caixa de fósforos colorida e com o nome do respectivo nutriente e para mostrar qual alimento era fonte deste nutriente, colocávamos esse "nutriente" dentro da garrafa PET, símbolo do alimento. Profissionais: 19. O trabalho com Educação nutricional é gradual, porém dá resultados fantásticos. Este ano na cidade de Belém do Pará comemoraremos o dia do nutricionista de forma diferente, através da educação nutricional. O CRN junto com o Sindicato conseguiu um apoio do presidente do Clube de Diretores Llojistas e estaremos presentes em uma grande rede de lojas muito freqüentada pela população, estaremos influenciando as pessoas na hora das compras, ficaremos durante uma semana. Estas iniciativas são importantes por que não só divulgam a importância do profissional assim como a melhoria da qualidade de vida da população através de hábitos alimentares saudáveis. 20. Muitos gestores não dão valor aos projetos de EAN, pois não tem consciência de quanto a alimentação e nutrição podem interferir na vida de uma pessoa. Será que não param para pensar na quantidade de medicamentos que poderia ser economizada caso a população tivesse uma saúde melhor com uma alimentação e nutrição adequada? A EAN deveria ser implantada não apenas nos segmentos relacionados à saúde, mas também nas escolas e poderia fazer parte de projetos sociais como o PBF. No município onde trabalho realizei vários cursos de aproveitamento de alimentos com famílias carentes e obtive ótimos resultados, é uma forma de auxiliar as famílias a utilizarem melhor o dinheiro que recebem, sem desperdícios de alimentos. Outra forma de melhorar a EAN é através das universidades, recordo-me que na faculdade havia a matéria de educação nutricional, mas a ênfase maior era realmente na elaboração de projetos que envolviam folders e etc, acredito que deveria haver mais elaboração de projetos diferenciados (como oficinas e etc) que fossem colocados em prática e não ficassem literalmente apenas "no papel" (folders). 21. EAN é a base do meu trabalho, seja qual for demanda do meu usuário. Já fiz e faço todo tipo de atendimento; atendo a faixas etárias de zero a noventa anos, diversas patologias, atendimento individual e em grupo, SUS (ambulatorial e domiciliar), trabalho com capacitações técnicas de equipes de profissionais de saúde da Instituição onde trabalho, em um Centro de Prevenção e Reabilitação de Alta Complexidade para Pessoas com Deficiências (SUS)-,profissionais do interior e outras unidades de saúde, apresentando a importância da Educação Nutricional, e a necessidade de ações preventivas dos agravos à saúde desse segmento da população. Desenvolvo ações de cuidados em Nutrição em todos os níveis, desde a básica, até ações de alta complexidade como realização de exames de Bioimpedanciometria. No meu cotidiano trabalho tanto com a complexidade de diferentes tipos de deficiências: atendo a usuários com estomias, obesidade, hipertensão, diabetes, disfunções intestinais e etc., e o usuário que está em processo de protetização e precisa manter seu peso estável. Apesar de lidar com pessoas com o estado emocional abalado, pela pós- amputação, ou pelo pós- AVC, tenho obtido resultados muito satisfatórios quanto à Terapia Nutricional oferecida, incentivando-os a identificarem e corrigirem o consumo não saudável, sem a imposição de fórmulas prontas. Construindo junto com eles e seus familiares o melhor modelo alimentar para cada caso, e que se adapte ao gosto, jeito de ser e encarar o mundo ao seu redor, no seu contexto de vida. Utilizando de metodologia baseada na Educação Nutricional, busco trabalhar com o método da problematização, e teorias dialógicas, levando em conta aspectos como: estado emocional, situação sócio-econômica, local de residência e seus aspectos culturais/regionais ligados a alimentação, idade, situação familiar, condições de vida atuais e etc. É imprescindível trabalhar com a escuta sensível, encontrar um ponto de identificação do usuário com a proposta de Aconselhamento Nutricional, trazendo sempre a reflexão da importância do mesmo aderir ao programa alimentar que foi partilhado e acordado, juntamente com a família. Durante o meu atendimento, procuro criar uma atmosfera de trocas de experiências, deixando meu(s) usuário(s) perceberem que estou informando e também aprendendo com ele(s). O que os impulsionam a falar e explicitar todo seu conhecimento popular sobre saúde / doença, alimentos/curas como conteúdos importantíssimos dos seus repertórios e saberes empíricos e ancestrais, especialmente a "linguagem pelos vínculos sociais e afetivos no cotidiano" (Freire,1980)15 A afetividade, valorização, humanização no atendimento, formar vínculo com esta pessoa, e buscar orientar de forma que o usuário e seus familiares compreendam que as orientações fornecidas, de ambas as partes, são de fundamental importância para êxito da terapêutica proposta, e que eles são co-participantes do seu processo de tratamento. Devo dizer que não foi, e não é fácil conseguir este espaço, e mantê-lo, pois ainda existe resistência dos gestores em ampliar o atendimento, com a contratação de mais profissionais Nutricionistas para que pudéssemos abranger um número maior de usuários e possibilitar mais qualidade ao atendimento. Creio que a forma de dar maior visibilidade e aumentar a participação de profissionais Nutricionistas no programas de ações de saúde, em parte, cabe ao próprio Profissional quando no exercício do seu trabalho, trazer para os seus usuários, todos os benefícios para a sua saúde, com a promoção de uma alimentação saudável. Nesse caso o aprofundamento nos estudos, e reciclagens é de fundamental importância, pois só com o empoderamento técnico-científico, poderemos ter bases sólidas para argumentar com gestores através de produções científicas, pesquisas e projetos bem feitos que nos possibilitem apresentar o que fazemos e o que ainda precisamos fazer. Atualmente faço 15 FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes; 1980: parte de uma rede de Estudo e Pesquisa, do Grupo de Educação e Saúde, e no momento estudo Grupos Operativos e Oficinas em Educação e Saúde. A melhor divulgação da importância de um trabalho é buscar fazê-lo o mais bem feito possível e com as melhores estratégias disponíveis. Se não as tiver, poderemos criar com nossas próprias mãos. O que não podemos é nos acomodar ou nos dar por vencidos. Hoje eu me sinto gratificada com o reconhecimento profissional, dos usuários e outros colegas, profissionais da área de saúde, ao longo de dezessete anos de exercício profissional, onze dos quais trabalhando com a Pessoa com Deficiência. É importante ver que o usuário que antes desconhecia o que era o Nutricionista, hoje vem do interior buscar o atendimento em Nutrição na minha Instituição, e reconhece a importânciadeste atendimento, quando sente melhorar a sua saúde e da sua qualidade de vida. 22. Estamos aqui em Bento Gonçalves, através da Secretaria de Saúde trabalhando com um projeto de SISVAN Web nas escolas. Propusemos que os alunos estudem o Guia Alimentar para População Brasileira e então produzam um material educativo (música, cartaz ou apresentação em slides). Depois do desenvolvimento a proposta é aplicada na escola. Nos surpreendemos com os resultados, pois a turma fez até um lanche saudável, com salada de fruta, pão de leite e iogurte. 23. Trabalho na saúde indígena, e minhas atividades aqui se resumem em Educação Nutricional. É complexo trabalhar EAN em comunidades com culturas diferentes e muitas vezes sem acesso aos alimentos. Mas iniciei o trabalho nas comunidades indígenas primeiro levantando o diagnóstico nutricional desta população, detectamos um alto índice de anemia ferropriva em quase todas as aldeias do Litoral sul e Norte e crianças obesas nas aldeias do Interior de São Paulo (região de Bauru). Como sou a única nutricionista existente na saúde indígena, iniciei o trabalho multidisciplinar com as enfermeiras, os dentistas e a farmacêutica que atuam nas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI). Para prevenção da anemia, por exemplo, todas as enfermeiras foram capacitadas, com informações sobre alimentos fonte de ferro, mitos e verdades sobre a alimentação para o tratamento de anemia ferropriva, entre outros. O trabalho de ponta feito pelas EMSI foi em primeiro lugar, capacitar os Agentes Indígenas de Saúde(AIS) e lideranças das comunidades indígenas, utilizando os materiais de nutrição que elas receberam em nosso primeiro encontro. Depois de capacitados os AIS, começamos um ciclo de rodas de conversa nas aldeias. Levamos até as aldeias vegetais folhosos, que muitas vezes eles nem conheciam, pois não fazem parte de sua cultura alimentar, fizemos preparações para o dia-a-dia, e o mais interessante é que 80% das crianças consumiram e gostaram. Em algumas comunidades com parceria da escola, foi iniciado o projeto de horta. Resultado desta experiência foi a redução, em um ano, de 10% do número de crianças menores de 5 anos com anemia, redução da solicitação de leite não humano e diminuição da porcentagem de crianças com classificação nutricional abaixo do percentil 3 (segundo NCHS). 24. Acho que falta muita coisa em termos de educação nutricional no SUS: receitas saborosas, práticas e saudáveis para fornecer; maior esclarecimento pedagógico aos profissionais de saúde de como educar a uma população de 70% de analfabetos funcionais no Brasil; fornecimento de material didático pelo MS sobre o tema como posters, folders, slides; cozinha experimental, horta escolar, horta urbana; mais processos de formação que ajudem o profissional de saúde a pensar ao invés de só decorar... 25. É preciso parar de formar profissionais que acham que tem o dom da palavra e a verdade em suas mãos. Quantas vezes me foram contado pelos pacientes as "broncas" que o nutricionista dá, de como são cobrados a ter atitudes "saudáveis", como se isso se conseguisse mediante listas intermináveis de alimentos, agrupadas em pontos, cores, e tantas outras. A EAN precisa se arejar. E isso começa pelos formadores que estão nas universidades pensando ainda nas palestras e nos pré e pós-testes - segue pelos alunos, que devem ter o senso critico de levar a teoria para uma prática reflexiva e chega aos profissionais dos mais variados locais. E nesta espiral, cabe em todo e qualquer lugar onde pessoas têm algo a refletir e muita contribuição para construir essa nova e almejada EAN. 26. .… acho que o debate só sai da teoria para a prática quando alguém ora relata uma vivência, ora sugere e realiza ações efetivas na vida real... Essa talvez seja a essência do que se deseja num trabalho, algo do tipo não dê o peixe, ensine a pescar e até aprenda novas formas, multiplique e forme multiplicadores. 27. Realmente nos falta muitos subsídios bem como apoio para desenvolver um trabalho pleno de Educação nutricional... falta também um maior comprometimento dos gestores de saúde e seus coordenados que muitas vezes pegam projetos excelentes vindos do MS e engavetam simplesmente sem dar nenhuma explicação sem contar que na maioria das vezes os profissionais envolvidos nem tomam conhecimento. Precisamos de um maior rigor em relação a isso. 28. Precisamos ter coragem de utilizar nossa sensibilidade e ousadia (responsável e comprometida), mas buscando identificar qual caminho pode ser tomado para auxiliar o grupo no qual trabalha a resolver/problematizar a questão demandada. Construir com o grupo sendo sujeito o tempo todo, admitindo a possibilidade de desconstrução e reconstrução permanente. Aposte nisso no médio e longo prazo sem fixar resultados normativos ( mudar isso em x tempo) mas entendo que o próprio processo de estar construindo junto , por si só, muitas vezes é o que potencializa as mudanças e transformações. Os resultados acontecem sim e de maneira bem concreta e visível, se você escolher "indicadores" sensíveis ao processo vivenciado. Não quero ser retórica - mas na prática a busca de novos significados é uma das únicas pistas que podemos compartilhar quando queremos valorizar/reconhecer as demandas específicas de grupos diferentes. 29. Sou nutricionista da Secretaria de Assistência Social do Estado de Rondônia e fico às vezes me perguntando quando é que deixaremos de reclamar a formação que tivemos e partiremos para a prática. Palestra ou folder não é a desculpa para que a estratégia usada não dê certo ,quando essa é feita respeitando o público a quem queremos atingir. Temos que deixar de falar palavras bonitas e devemos respeitar os saberes de cada um, ai sim irá surtir efeito. Há seis anos realizo palestra no Banco de leite Humano e já comecei a colher os frutos deste trabalho, não tem fórmula mágica o negócio é fazer e trocar experiências com outros profissionais e com a comunidade. Ouvir é o caminho para uma boa EAN. 30. Trabalho no NASF desde dezembro passado e atualmente realizo um trabalho de parceria com os médicos onde fazemos uma triagem dos pacientes com colesterol, triglicerídeos, diabetes, hipertensão alterados e num primeiro momento estes pacientes passam por mim para que possamos tentar reverter o quadro apenas com alimentação e uma prática de atividade física, estamos tendo grandes resultados. 31. Meu namoro com a EAN iniciou na UFPR em 1983 quando entrei no curso de nutrição, desde as primeiras disciplinas específicas eu ficava escutando os depoimentos dos professores em relação às soluções que encontravam para resolver as questões de trabalho e quase que em 100% das vezes eu podia observar que era uma intervenção educativa, lembro que eu ficava imaginando qual seria a minha forma de enfrentar aquela situação e como que eu poderia desenvolver essa habilidade. …. A EAN é a ferramenta de trabalho mais completa que temos para exercer com qualidade nosso trabalho, nos próximos dias, se for possível vou tentar passar para vocês minha trajetória com a EAN nos 5 anos de Hospital de Clínicas (Banco de Leite Humano, Maternidade e Pediatria), nos 13 anos na Secretaria Municipal da Educação (alimentação escolar); nos 06 anos na Secretaria Municipal da Saúde (nível Central) e agora há 1 ano no NAAPS. E para finalizar, gostaria de dizer que nesses 23 anos, vi que a avaliação dessas atividades ainda é o maior desafio para mim, no entanto hoje me sinto muito mais perto de concretizar essa lacuna na minha formação. 32. Também acredito que aEducação Nutricional vai muito além do que palestras e distribuição de folders, a educação nutricional deve acontecer de forma gradual, a conscientização deve ser contínua e progressiva. Há uma palavra que é muito escutada pelos administradores, mas que tem muito haver com a educação nutricional, que é a "empowerment" que significa "dar poder", ou seja, significa dar autonomia e apoio ao indivíduo, para que ele mesmo possa fazer uma análise de suas ações, assim basicamente o educando precisa se envolver com seu próprio problema para que, a partir daí, tome as decisões e promova as mudanças que julgar necessárias. Assim o processo de educação nutricional ocorrerá de forma eficaz e não apenas com o mero repasse de informações, que podem passar sem fazer um grande efeito. 33. Sou nutricionista de uma ONG que atua com pacientes oncológicos na cidade de Itu/SP. Desde minha graduação ainda na cidade de Passos/MG, atuei com foco na educação nutricional. Acredito que o grande desafio de uma educação nutricional efetiva, passa pela integração dos profissionais de saúde, com a escola, família e demais atores sociais envolvidos na formação de hábitos saudáveis na criança. Creio que de fóruns, palestras, filmes, nossas crianças estão saturadas, e as inúmeras experiências conhecidamente desenvolvidas por muitos colegas, são deficitárias do ponto de vista do envolvimento e comprometimento da criança. Em Bragança Paulista onde temos uma segunda unidade da ONG, estamos desenvolvendo um trabalho pioneiro no Município, no qual dentro do espaço escolar, realizamos sim palestras para pais, teatro de fantoches para crianças, mas também estimulamos e desenvolvemos o cultivo e a importância do consumo de alimentos saudáveis. Estamos tendo grande êxito não só pela conscientização da criança dos conceitos de alimentação saudável, mas principalmente, por está dando autonomia para a criança fazer escolhas saudáveis e experimentar sabores e sentimentos diferentes, na merenda escolar. 34. Queremos ser profissionais empenhados em provocar mudanças e auxiliar pessoas a terem atitudes, precisamos ficar inquietos diante do que já existe e procurar propor coisas novas, acompanhar a evolução dos fatos, das pessoas e do tempo, enfim agir para fazer movimento e não se indignar apenas. Na Secretaria Municipal da Educação, quando iniciei meu trabalho na Alimentação Escolar a nutricionista do setor passou num concurso na UFPR e saiu; eu fiquei sozinha com uma equipe de professoras que faziam a administração do Serviço, confesso que foi um período difícil, talvez se eu não me inquietasse, estivesse até hoje lá fazendo só cardápios e supervisionando as escolas. Mas, eu queria muito mais do que isso, e fui vencendo etapas, atravessando barreiras e conquistando meu espaço. Primeiro consegui implantar nas 120 Escolas de Curitiba um cardápio com gêneros perecíveis, quando isso era impossível segundo a minha chefia (professora), mas eu pedi uma chance, fiz reuniões com fornecedores, fiz logística de distribuição semanal e com quantitativos por escola tudo calculado manualmente, pois não tínhamos planilhas no computador no início, enfim deu certo. Depois propus a avaliação nutricional dos alunos. Queria também conhecer o impacto da alimentação escolar, mas como avaliar mais de 90 mil alunos sozinha ??? Como sabia que os professores de educação física faziam anualmente o exame biométrico (peso e altura) e engavetavam as planilhas, decidi ousar e entrei em contato com a Secretaria da Saúde, que já havia sinalizado a vontade de avaliar os escolares e fizemos uma capacitação de 500 professores de educação física para coletarem os dados de forma padronizada e adequada e enviarem os dados para SMS que tabulava os dados no Epi info e devolvia o relatório para a SME. Foi assim que em 1996 implantamos o SISVAN Escolar em todas as Escolas da Prefeitura de Curitiba. Enfim, apenas quero dizer que se somos sozinhas precisamos deixar de lado nossa vaidade e devemos procurar parcerias, dividir a carga de trabalho. E mostrar nosso trabalho para sermos valorizados e ampliar nossa equipe. Como isso se relaciona com EAN? Após fazer o diagnóstico nutricional, o que fazer com os desnutridos, com os eutróficos e com os sobrepesos ??? Já nessa época outra nutricionista veio trabalhar na SME, então fizemos mudanças nos cardápios, adequamos a alimentação conforme localização das Escolas e prevalências de desnutrição e sobrepeso. Mas, faltava a EAN, como fazer as crianças melhorarem seus hábitos também fora da Escola? Foi aí que entrei em contato com o Setor de capacitação da SME e propus um curso de EAN para os professores da Rede Municipal de Ensino, afinal em duas nutricionistas jamais conseguiríamos estar em todas as salas de aula. Pois, bem o curso foi aceito, duas estagiárias de nutrição nos auxiliaram na montagem da apostila conforme os assuntos que eu havia proposto e lançamos um curso de 20 horas para professores, e passamos a ministrar os conteúdos e nas discussões propusemos como eles poderiam trabalhar os assuntos dentro de suas disciplinas e exemplificávamos como usar na matemática, na história, na geografia, em ciências, etc. Acredito que até hoje esse curso acontece. Portanto, mesmo sem recurso financeiro, sem grandes estratégias, na época fiz além do que as condições de trabalho me proporcionavam, fiz porque quis, fiz porque minha inquietação era grande, foi difícil, foi, mas posso dizer que além de ter crescido profissionalmente, cresci como pessoa, aprendi a compartilhar conhecimento e ganhar pessoas que compartilhavam comigo os objetivos de melhorar o estado nutricional dos alunos. Se perguntarem, como avalio essa experiência posso dizer que na época durante as supervisões nas Escolas pude observar uma melhora da aceitabilidade e diminuição dos desperdícios. Não podemos esquecer que o período das crianças em casa é grande, e se hoje estivesse lá com certeza estaria investindo em ações para as famílias, pois sabemos que a Escola não pode ser a responsável pela obesidade, mas pode sim contribuir para minimizar seus efeitos. Já me alonguei, no próximo relato trarei minha experiência na SMS. 35. Tenho visto vários locais onde a alimentação é pautada em arroz e feijão tendo a carência da compra e ou do recebimento da doação de verduras. Falando em experiências bem sucedidas houve em Pontalina - GO um projeto da Maçonaria e Prefeitura em que implantaram em parceria com os órgãos Federais, Estaduais, Municipais, ONGS e sociedade civil, uma horta comunitária. Os alimentos eram divididos entre os participantes e o excedente era vendido na Feira da Cidade para ser revertido em implementação de benfeitorias na própria horta. Paralelamente realizávamos no Programa CEIS - a orientação à crianças e adolescentes a respeito da alimentação e ingestão adequada dos alimentos, dos benefícios de uma vida saudável do ponto de vista físico e psíquico, os valores éticos, a prevenção de uso de drogas, a prevenção sexual e o reforço escolar. A medida visava impedir que as crianças e jovens fossem para as ruas e que os familiares tomassem consciência de seu papel de educadores e mantenedores da ordem social. À medida que o conhecimento cognitivo foi sendo alcançado, o consumo de verduras e aproveitamento dos alimentos foi sendo verificado. Parece haver uma relação direta entre o aumento de consumo e o incentivo ao aumento da produção. Vai haver maior produção e de melhor qualidade à medida que o trabalho for valorizado e solicitado. Os habitantes da cidade passaram a comprar mais, inclusive para valorizar o trabalho dos horticultores. Até a Feira passou aser freqüentada pelos moradores da cidade e regiões vizinhas, que iam para ver as verduras e a variedade dos mesmos. Os próprios horticultores divulgavam a venda das hortaliças para seus vizinhos. Outro fator importante é o da valorização do trabalho pelos meios de comunicação. O orgulho em produzir algo tem a ver com o impacto desse produto no mercado. A rapidez na venda e no consumo faz-se necessário. Assim como já acontece na prática com outros alimentos como farinha, feijão, soja e outros. Faz-se necessária a implementação das políticas de vendas, escoamento, trocas, permutas alimentares e doações dos alimentos produzidos nas hortas para as crianças desnutridas ( muitos produtos são perdidos em virtude da não possibilidade de frete dos alimentos para as instituições carentes). Os produtores e chacareiros que pagam pelo espaço, em algumas ocasiões se sentem desvalorizados, auto desmotivados e desestimulados, uma vez que dependem de tantos parceiros para sobreviver. A parceria, sem dúvida entre técnicos, produtores e instituições pode ser uma das melhores alternativas. Boa sorte no trabalho de orientação cognitiva, os bons hábitos podem ser adquiridos mediante boa educação e boa qualidade nutricional e psíquica. 36- ...,Trabalho há um ano no município de Umari-CE, mas não vejo meu trabalho crescer. Boa parte da população ainda não tem conhecimento da minha presença do município (sinto que a as agentes de saúde não transmitem esse detalhe, de que há nutricionista atuante no município), só atendo um dia na semana, no posto de saúde. Atendo em um único dia, pois é o único dia que sala disponível no posto de saúde... Quando eu estagiava nessa área era uma maravilha, o posto era sempre cheio, havia atendimento 5 dias na semana, era uma maravilha, mas não consigo fazer igual. Queria muito aumentar a demanda, ver o posto cheio, formar grupos de idosos, hipertensos, 36- Esta realidade, de falta de espaço não é exclusiva sua....e o que você precisa para aumentar a demanda e ter maior contato com o médico, mesmo ele não esteja na unidade no dia que você atende...converse com ele sobre o que você pode fazer para ajudar os pacientes que ele atende... a partir do momento que ele perceber que ao encaminhar os pacientes o trabalho dele vai render mais, ele passará a encaminhar cada vez mais e a população vai corresponder... Comece sugerindo a ele que encaminhe as gestantes para que ele não precise orientar o ganho de peso e também as crianças em fase de introdução dos alimentos (6 meses). Também, os pacientes com diabetes e hipertensão....enfim, eu trabalho em unidades de saúde em Bento Gonçalves e também tenho consultório e grande parte da minha demanda vem em busca de orientação por encaminhamento dos médicos que confiam no meu trabalho 37- Trabalho em município do interior do ES atuando na secretaria de saúde e percebi que passaria por isso que você passou (falta de espaço físico e profissional). Resolvi da seguinte forma: Assim que passei no concurso, fiz uma reunião com as equipes de ESF, a coordenação de ESF e a secretária de saúde. Nesta reunião expus meu trabalho e os programas que sou coordenadora municipal (suplementação de ferro, Bolsa Família na saúde, Sisvan e saúde na escola). Como neste município nunca havia trabalhado nutricionista, procurei formar um laço e tirar dúvidas, deixando a equipe à vontade para fazer encaminhamentos de pacientes com as patologias que dou prioridade no atendimento e procurei me disponibilizar para participar de ações da ESF que tenham grande correlação com os programas de alimentação e nutrição (Hiperdia, puericultura - grupos já existentes nas equipes da ESF). Hoje além das consultas, faço visitas domiciliares às famílias que as enfermeiras e eu achamos necessário (faço as visitas domiciliares com a equipe de ESF), participo dos dias de puericultura com preenchimento de fichas do Sisvan e distribuição de sulfato ferroso e participo também periodicamente das ações do Hiperdia e de reuniões de equipe para decidirmos e planejarmos ações. Sou muito próxima da coordenadora de ESF, planejamos ações antes de levarmos o assunto para as enfermeiras. Como tenho uma carga horária de 20 horas, às vezes fica difícil conciliar meu horário com o horário e o cronograma da ESF, mas são todos muito receptivos e hoje já perceberam a importância no meu trabalho. Tudo se inicia com comunicação. 38- Aqui em Santa Maria - RS também temos dificuldade de espaço, contudo, penso que você poderia tentar buscar espaços alternativos tais como: salão da comunidade, Igreja, ver aonde existem grupos de idosos, hipertensos e diabéticos e procurar se inserir neles. Além de fazer sala de espera, ir às Escolas próximas as Unidades. Penso que estas sejam algumas alternativas para irmos ganhando espaço. 39- Sou nutricionista aqui em Rio Branco passei no concurso e me chamaram para trabalhar com doenças crônicas, tem apenas três meses mais já pude conhecer um pouco da cultura dos Acreanos, pois, viajo para os Municípios assessorando os mesmos. Na verdade queria algumas ideias do que possam está trabalhando com essa população. Bem, estava pensando em trabalhar de imediato com uma oficina com tema alimentação saudável (para Diabéticos, hipertensos e obesos). Os municípios do Acre a população não tem hábitos alimentares saudável, por exemplo: o consumo de frutas é muito raro. Na verdade é muito cultural então estava pensando em trabalhar uma oficina bem dinâmica. E também trabalhando com alimentos regionais para incentivar o consumo deste alimentos. A prática profissional e os recursos para a EAN 40 Uma das formas mais antigas e comuns de fazer EAN é o uso da PIRÂMIDE ALIMENTAR CLÁSSICA. Só que ela é contestável hoje em dia e nunca há debate sobre isso em nosso meio. Acho muito sério isso, pois propaga erros inclusive no meio de nutricionistas. Lamentável quando os cursos universitários não acompanham as últimas pesquisas sobre o tema quando a mudança deveria começar lá, mas isso é outro tema que tem a ver com academicismo puro brasileiro. No Brasil usa-se uma pirâmide alimentar antiga e ultrapassada ainda onde os carboidratos refinados estão na base da pirâmide em grandes quantidades e bem sabemos que estão estreitamente ligados à epidemia de obesidade e diabetes atual. Não é suficiente dizer que a proporção não importa e sim a quantidade total, pois não é isso que a pirâmide passa a quem vê. A proporção importa sim. A pirâmide da USDA-1995 só confundiu mais além de ser de difícil entendimento. Muitos conceitos nutricionais aceitos como fundamentos de nutrição mudaram muito: gorduras saturadas e insaturadas, carboidratos, obrigatoriedade de laticínios e ate mesmo calculo do VET não são mais os mesmo. Citar todos ficaria muito extenso, mas sugiro a todos que procurem saber de duas pirâmides mais modernas pelo menos: ü Pirâmide Alimentar da Universidade Michigan16 ü Pirâmide Alimentar da Universidade de Harvard17 Há muita coisa para se mudar, muita coisa sem debate racional. Mesmo as pirâmides mais modernas citadas estão um pouco defasadas em relação às ultimas pesquisas. Acredito o que diferencia um profissional nível superior para o de nível técnico é principalmente que o primeiro tem autoridade para mudar conceitos básicos baseado em bom senso e novos fundamentos. 41- A minha fala é de alerta, pois sou professora de educação alimentar com formação de mestrado e doutorado para isto. Utilizo como referencial teórico Isobel Contento, sugiro o seu livro de 2007 para quem domina o inglês (Nutrition Education Linking Research, Teoryand Practice). A Pirâmide é a representação gráfica do Guia Alimentar Americano, como o Guia Alimentar Brasileiro (www.saude.gov.br/nutricao) publicado pelo Ministério da Saúde/CGPAN não definiu nenhuma representação gráfica, sou de opinião que a Pirâmide, que não pertence ao nosso meio e nem é para os brasileiros, não deva ser utilizada. Além disto outros argumentos científicos apóiam a minha sugestão. Sugiro procurarem conhecer sobre a construção da Pirâmide, principalmente a primeira surgida nos EUA e a leitura do artigo LANZILLOTTI, Haydée Serrão; COUTO, Sílvia Regina Magalhães e AFONSO, Fernanda da Motta. Pirâmides alimentares: uma leitura semiótica. Rev. Nutr. [online].2005,vol.18, n.6, pp. 785-792, para pensarem a respeito. 42 Sou consultora técnica da Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição, e milito na área de educação alimentar e nutricional há alguns anos. Acerca dos ícones de alimentação saudável, acompanho a discussão no meio, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento do ícone e sua função na comunicação. 16 Disponível em: http://www.med.umich.edu/umim/food-pyramid/index.htm 17 Disponível em: http://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/ Até a década de 80, a roda dos alimentos foi o referencial brasileiro. Em 1999, a pirâmide alimentar americana foi adaptada à realidade brasileira. Todavia, alguns estudos pontuais indicam a limitada compreensão da proposta da pirâmide, o que nos convida a refletir sobre um novo ícone, que seja culturalmente aceito, reconheça os fatores antropológico- culturais, educativos, sociais e econômicos que estão articulados estreitamente à alimentação e a forma de vida dos indivíduos e, finalmente, esteja bem fundamentado na alimentação habitual da população. Esses pré-requisitos podem ser vistos em ícones de outros países, que adotam figuras como vasos ou vasilhames típicos, mapas, arco-íris e maçãs como representações de seus ícones de alimentação saudável. O Ministério da Saúde optou por não indicar nenhuma representação gráfica quando da publicação do Guia Alimentar para a População Brasileira. É um desafio que temos pela frente – o Brasil deveria ter um símbolo, um ícone para a promoção da alimentação saudável e EAN? 43 Como nutricionista atuante na área de educação nutricional em atenção básica, venho colaborar com a experiência no uso da roda dos alimentos. Desde que me formei (há 13 anos) percebi que a pirâmide não é um instrumento prático, pois leva muito tempo para explicar e os resultados do entendimento são poucos. A 'realidade regional' também me mostrou o quanto a pirâmide é de difícil entendimento para pessoas de baixa renda. Assim, , iniciei os grupos de emagrecimento construindo uma 'roda própria', que fizemos a partir da colagem de figuras de revistas... aquela velha técnica, muito boa por sinal! A roda é o prato e a metade do prato precisa ter frutas, legumes e verduras. Para nós é o básico, não? A roda também pode representar o dia, com a metade sendo preenchida com FLV: 3 frutas, 1 copo de suco natural, legumes e verduras no almoço e no jantar. Tenho tido bons resultados, com uma média de 80% no incremento do consumo de FLV nas dietas e emagrecimento médio de 7% do peso inicial, em 6 meses. 44 Vivemos em um país com 70% de analfabetos funcionais, onde dar um impresso que tenha simples frases pode se constituir algo incompreensível muitas vezes para quem recebe, entendem mal até o significado da palavra isolada. Nos raros casos que recebi do SUS impressos para distribuir, parecem que foram feitos para a população da Dinamarca, isso quando não há conceitos ultrapassados. Gostei do Guia Alimentar para a População Brasileira (MS) como um parâmetro para os profissionais de nutrição. Antes do encerramento deste ciclo de discussões a Equipe de Moderação sugeriu, ainda, o debate sobre a necessidade de termos um ícone nacional para a promoção da alimentação adequada e saudável: “ ...propomos que foquemos a discussão sobre o uso de ícones/símbolos para a prática de EAN. Algumas participantes se manifestaram sobre as limitações do uso da pirâmide alimentar (em qualquer versão), outras apresentaram suas experiências de criação de ícones próprios para sua atividade educacional. Por outro lado foi enfatizado que o Guia Alimentar para a População Brasileira (MS/CGPAN) não adotou nenhum símbolo para a representação de suas diretrizes. A discussão que propomos é a seguinte: vocês consideram importante que o Brasil tenha um ícone de promoção da alimentação saudável ??? Caso considerem importante, como deveria ser o processo para chegarmos a melhor proposta de imagem ??? 45- Sou nutricionista Responsável Técnica pela Alimentação Escolar de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Primeiramente acho muito importante a criação de um ícone de promoção da alimentação saudável, pois a linguagem visual é muito mais fácil de ser assimilada principalmente para crianças e adultos com baixo nível de escolaridade. 46- ... Considero ser importante sim um ícone para promoção da alimentação saudável. O mesmo deve ser amplamente discutido e se possível nacionalmente através de fórum e enquetes específicas para tal. Acho que deve atingir os profissionais que atuam e também os estudantes de graduação 47- A imagem facilita a familiaridade que as pessoas possam vir a ter com o tema Educação alimentar e nutricional, além de, caso tenha difusão nacional, como parece ser o caso, em qualquer região tanto o profissional quanto os usuários, de onde estiverem, reconhecerão do que se trata. Algo assim como uma espécie de marca/logotipo. Tanto que, já que abriram espaço para tal, opino que uma agência especializada neste tipo de trabalho poderia ser convocada para criá-lo. Esses profissionais de criação teriam as informações obtidas pela equipe da Redenutri a partir das discussões aqui realizadas, para que entendam o espírito do que devem criar . A partir das propostas apresentadas pode o ícone mais representativo ser escolhido talvez até sendo submetido à rede ou outro modo que acharem melhor. 48- Acho a idéia do ícone para promoção da alimentação saudável muito útil para nos ajudar a superar os conceitos abstratos que envolvem a nutrição. Para o desenvolvimento do mesmo sugiro apresentarmos a demanda, de uma forma organizada e sistematizada, para um conjunto de profissionais da área de Ciências Sociais, Comunicação social e Design. Esta necessidade precisaria ser "apresentada" por profissionais da área de nutrição e também educadores a este profissionais citados, que após passarem por uma "aproximação" com o tema e conhecerem iniciativas e experiências no mundo todo, poderiam desenvolver modelos a serem avaliados de forma abrangente junto a diferentes públicos, antes de ser adotado pelo MS. Resumindo, poderia ser promovido um concurso, com uma capacitação anterior e uma pesquisa sobre aceitação e compreensão dos modelos desenvolvidos. 49- ... recentemente discutimos sobre um ícone para facilitar a orientação alimentar e nutricional, no entanto, eu considero que não existem imagens que substituam a comunicação, a afetividade entre as pessoas. São as emoções, mais do que a razão, que facilitam a mudança de comportamento. ∞∞∞
Compartilhar