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Educação Alimentar e Nutricional

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TEXTO DE SISTEMATIZAÇAO 06: 
 
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL 
 
15 de setembro de 2010 
 
 
 
A RedeNutri iniciou em 15 de junho de 2010 o ciclo de discussões sobre Educação 
Alimentar e Nutricional. A mensagem inicial apresentada à Rede propôs a reflexão conceitual 
e sobre as ações desenvolvidas em EAN pelos participantes. 
 
Existem várias definições de EAN que variam segundo as dimensões e 
aspectos que são privilegiados pelo autor. Como a adotada pela Resolução Nº 380/2005 do CFN 
“procedimento realizado pelo nutricionista junto a indivíduos ou grupos 
populacionais, considerando as interações e significados que compõem o 
fenômeno do comportamento alimentar, para aconselhar mudanças necessárias a uma 
readequação dos hábitos alimentares”. Ou esta outra da pesquisadora Isobel Contento1 
“combinação de estratégias educacionais, acompanhada de ações que possibilitem um ambiente 
que apóie o comportamento almejado, que promova a autonomia e facilite a adoção voluntária 
de escolhas alimentares e outros comportamentos relacionados, com o objetivo de bem estar e 
saúde”. 
 
A proposta foi de uma rodada de discussões tanto do conceito que cada um adota de EAN como 
também sobre experiências, conquistas e desafios que a EAN trás para a prática dos profissionais. 
 
SISTEMATIZAÇÃO DO DEBATE 
 
A posição da EAN na prática profissional – conceito, formação e desafios 
 
 
§ 1 CONTENTO, Isobel. Nutrition Education. Linking research, theory and practice. 
Jones and Bartlett Publishers. Boston, 2007. 
 
 
1- Se considerarmos a definição de Educação Alimentar e Nutricional proposta pela 
Resolução 380/2005 do CFN, excluímos do desenvolvimento de práticas de EAN outros 
profissionais, como os próprios Técnicos em Nutrição e Dietética, que estão inscritos nos 
Conselhos de Nutricionistas, ou professores, enfermeiros e outros profissionais que 
atuam no campo da saúde. Todos sabem que atualmente atuar com promoção da saúde 
nas escolas requer um trabalho coletivo e, portanto, a definição de EAN não pode estar 
restrita a uma categoria profissional, importantíssima nas equipes de saúde. 
 
2. Acho imprescindível refletirmos sobre a complexidade que envolve o tema, a 
partir do entendimento de que a EAN vai muito além do repasse de informações 
adequadas e corretas sobre a prevenção de problemas nutricionais, sobre os alimentos 
e a alimentação saudável (SANTOS, 2005)2. De acordo com Boog (2008)3 a 
EAN não tem por finalidade prescrever formas formas adequadas de se alimentar, mas 
sim, ensinar a pensar certo a respeito respeito da alimentação. Pensar certo não é 
transferir um conhecimento pronto e inerte sobre o que deve ser consumido, às vezes, 
desconexo com o cotidiano alimentar das pessoas, mas, procurar aproximar-se da 
realidade de vida e alimentação e reconhecer os aspectos afetivos, do 
valor dos rituais de comensalidade, das preferências e de todos os 
sentidos e significados que envolvem a alimentação. Portanto, é 
considerar as interconexões existentes entre a alimentação, a 
sociologia, a antropologia, a educação e a nutrição. É pensar a educação 
como um processo, e como tal, com caráter permanente, dinâmico e em 
constante transformação. Implica em compreender a educação como 
condição essencial para se questionar o mundo e fazer a leitura de nossa 
inserção neste mundo, perguntando o porquê das coisas e buscando 
realizar as transformações necessárias no plano individual e coletivo. 
(BRASIL, 2008).4 
Assim, a educação alimentar e nutricional se constitui em espaço 
privilegiado para ampliação do empoderamento das pessoas no que se 
 
2 SANTOS, Ligia Amparo da Silva. Educação alimentar e nutricional no contexto da promoção de 
práticas alimentares saudáveis. Rev. Nutr., Campinas, 18(5):681-692, set./out., 2005 
 
3 BOOG, Maria Cristina Faber Atuação do nutricionista em saúde pública na promoção da 
alimentação saudável. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 33-42, jan./jun. 2008 
 
4 BRASIL. Ministério da Saúde. Bases para a Educação em Saúde nos Serviços. Brasil.2008. 
Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/texto_base_prat_educ_dagep.pdf 
 
refere à realização da Segurança Alimentar e Nutricional, a garantia do 
Direito Humano à Alimentação Adequada e a adoção de práticas alimentares 
saudáveis, na perspectiva da promoção da saúde e produção da 
co-responsabilização, da autonomia, do auto-cuidado, do reconhecimento 
da alimentação como direito social e do exercício da cidadania. Para 
tanto, penso que precisamos aprofundar os estudos dos referenciais 
teóricos e metodológicos que possibilitem o desenvolvimento de práticas 
educativas reflexivas e dialógicas, que respeitem as diversidades e os 
diferentes saberes. 
 
3. Sou uma questionadora permanente dessa prática convencional de trabalhar com a 
educação nutricional no Brasil. Reconheço, na condição de professora universitária, os 
equívocos causados por alguns colegas ao ministrar essa disciplina, mas também conheço 
a resistência do profissional para melhorar seu conhecimento sobre essa área e ser 
menos prescritivo no desenvolvimento da mesma. Já sabemos há muito tempo que 
fazendo palestra não vamos resolver os problemas nutricionais da população, mas 
mesmo assim continuamos reproduzindo esse modelo. Em um livro sobre esse tema 
escrito por "Andrien e Ivan Beghin5" eles dizem que "a educação em nutrição 
convencional parece não ser pertinente na medida em que repousa sobre a mesma uma 
análise superficial das causas que levam aos problemas nutricionais no contexto referido. 
Ela se fundamenta, a maioria das vezes, em uma concepção teórica (mal assimilada pelo 
agente de trabalho de campo) das necessidades nutricionais do homem e sobre 
exagerada confiança na informação científica como meio privilegiado para modificar os 
comportamentos humanos relacionados a nutrição. Sua estratégia se apóia na utilização 
de um canal de comunicação isolado. Mesmo quando fornecidas essas mensagens em 
local isolado como uma unidade de saúde. As mensagens transmitidas nestes espaços 
competem com as mensagens de outra fonte, as quais fluem por outros canais, 
principalmente pelos canais tradicionais da comunicação humana. Em geral alheias a 
população "alvo", mal formuladas, transmitidas de uma maneira dogmática, as 
mensagens de educação e nutrição não chegam a traduzir-se em mudança de 
comportamento observáveis na vida humana, a não ser raramente. Ou seja, a educação 
em nutrição aparece então como um desperdício dos poucos recursos de que dispõe 
 
5 ADRIEN, M; BEGHIN,I. Nutrición y comunicación: De la educación en nutrición convencional a la 
comunicación social en nutrición.Universidad Iberoamericana. Biblioteca Francisco Xavier Claviegero. 
Mexico, 2001 
 
uma coletividade para encarar os seus problemas de saúde: desperdício de tempo, de 
recursos materiais, dos serviços como também das pessoas convidadas a participar 
dessas atividades". 
Concordo plenamente com os autores e em minha experiência profissional em serviço 
fica patente o distanciamento desse discurso conservador e meio autoritário do 
profissional de saúde como "um Deus da verdade absoluta" para as pessoas "ignorantes e 
sem conhecimento" dos conteúdos que defendemos e que devem ser assimilados a 
qualquer jeito de preferência sem questionamentos. Acho que o livro: "Pedagogia da 
autonomia6" de Paulo Freire é um bom começo para essa reflexão. 
 
4. Senti falta de discussão e propostas sobre Educação Alimentar e Nutricional( EAN) como 
eixo/fundamentoou diretriz da PNAN. Acho que esta é uma dimensão que precisa ser 
incorporada de maneira mais efetiva e pró-ativa às ações da PNAN. A produção de 
materiais técnico científicos e informativos (que tem sido uma linha de trabalho a qual a 
PNAN evoluiu qualificada e imensamente nos últimos anos) não configura por si só a 
perspectiva da EAN. Acho que nós nutricionistas precisamos assumir que EAN não pode 
ser reduzida a palestras e elaboração de folders. A EAN é um processo que não "pegamos 
com a mão", é uma estratégia ativa e participativa de todos os sujeitos e estruturas 
envolvidas. Integrar os saberes científicos e populares é um dos principais desafios da 
EAN. Essas ponderações nos remetem a perspectivas concretas de desenvolver ações 
menos normativas e mais formativas junto a diferentes grupos sociais e fora das UBS. Os 
NASF apontam como cenário positivo para este enfoque. Explicitar a EAN como um 
fundamento da PNAN não é suficiente para garantir as mudanças que precisamos, mas 
tenho certeza que serviria de um apoio positivo para que a saúde e nutrição se 
mantivessem como protagonista do tema. Não é possível deixar que a ambivalência da 
EAN seja usada de forma leviana por sujeitos não comprometidos com a garantia do 
DHAA. 
 
5. Participei da experiência de construção do projeto de residência multiprofissional em 
saúde da família na UFSC e nossa vivência foi uma experiência concreta de que é possível 
avançar nesta perspectiva - que pode parecer teórica, mas na verdade não está separada 
da vida real. Nos aproximamos da comunidade de maneira articulada com escola, 
associação de moradores e até comerciantes de alimentos. Em conjunto com os usuários 
 
6 FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz 
e Terra, 1996. 
 
da UBS planejamos atividades integrando nutrição, enfermagem, odontologia, medicina, 
farmácia, psicologia e o serviço social - isso foi um grande exercício, pois não é fácil 
identificar ações coletivas em estruturas de formação individualistas. Passamos quase um 
ano para conseguir construir um objeto coletivo de trabalho da equipe de residentes 
(integrado com a equipe da UBS). Depois realizamos atividades das mais variadas 
incluindo bailes, feiras, oficinas. O diferencial do processo com enfoque menos normativo 
é identificar nosso papel como profissional de saúde e não apenas - "profetas dos 
nutrientes bons e maus" - não faça isso e faça aquilo. Considerando as escolhas, que nem 
sempre são corretas, do ponto de vista nutricional, pois tem significados diversos, 
conseguimos construir olhares diferenciados da comunidade sobre os seus hábitos 
alimentares. A comunidade foi descobrindo e criando formas de aliar o saber e sabor 
com a saúde, mesmo que às vezes o prazer fosse a primeira escolha. 
Como professora de EAN utilizei uma metodologia da "autobiografia alimentar" com os 
alunos e as respostas foram surpreendentes. A visão sobre o papel social, afetivo, 
econômico, cultural e até religioso da alimentação se amplia e tem causado uma reflexão 
interessante. De repente eles descobrem que podemos contar nossa vida, nossa história 
familiar e de amigos por meio da alimentação. Houve inclusive relatos e revelações de 
transtornos alimentares no grupo de estudantes. Momentos bem intensos. 
Entendo que não e fácil, pois como professora sei que a nossa formação (ainda 
tradicional) opera exatamente no sentido normativo. Tenho apostado muito em 
metodologias ativas e participativas em sala de aula e também na proposta do 
PROSAUDE e PET que na FS/UNB vem tentando "abalar a estrutura curricular" e provocar 
uma integração entre os cursos e as demandas da população do SUS/Paranoá. Estamos 
procurando construir um novo perfil de formação. Enfim, são experiências em 
construção. Muitos colegas aqui da rede precisam ser motivados a ousar mais. Trocamos 
idéias e palavras também 
 
6. Tenho uma experiência de estágio curricular e aprimoramento, no qual desenvolvi um 
projeto de Educação Nutricional, com este conceito de ações formativas. Tratando de 
educação nutricional com história da alimentação, alimentos regionais e temas ligados ao 
dia a dia. Não somente informando, mas formando a consciência das crianças e 
adolescentes dos benefícios da alimentação saudável. O Projeto é ótimo, pena que não 
tive tempo hábil para aplicá-lo, devidos a problemas burocráticos na escola. 
 
 
7. Sou professora supervisora em Estágio de Nutrição Social, que acontece no 5º período e 
trabalhamos em creches, escolas, abrigos. Atuamos principalmente em EA. Falo em 
Educação Alimentar, pois trabalhamos hábitos alimentares saudáveis, principalmente a 
introdução de verduras e legumes, pois são os alimentos mais rejeitados pelas crianças e 
adolescentes. Para termos sucesso trabalhamos muito com dinâmicas interativas de 
acordo com as idades, pais e professores, pois acreditamos que só sensibilizar as crianças 
e professores não teremos sucesso, temos que sensibilizar e introduzir novos hábitos em 
casa. Com os adultos trabalhamos muito práticas alimentares acessíveis a população 
trabalhada, discutindo inclusive orçamento x compra de alimentos saudáveis. Estamos 
estimulando também hortas, confeccionadas de acordo com a área da família. 
Trabalhamos muito plantios em garrafas PET, pneus, vasos etc. Neste semestre 
encontramos um grupo praticamente analfabeto, fazíamos as preparações com os 
participantes, a partir desta comentávamos sobre a importância para a saúde todos os 
alimentos disponíveis na receita. Também trabalhamos higienização pessoal, dos 
alimentos e dos utensílios. Como o grupo não sabia ler as alunas elaboraram um material 
ilustrativo com todas as receitas desenvolvidas. Acredito que podemos fazer muito, se 
cada um fizer a sua parte há uma grande melhora. É muito fá ficar de braços cruzados 
pondo a culpa no governo, é mais cômodo, assim não corremos risco. EA é uma atividade 
que depende exclusivamente de nós profissionais e da população. Em qualquer lugar 
trabalhamos Educação. Quando conseguimos trabalhar em rede o trabalho só evolui, e 
sempre conseguimos pessoas motivadas e dispostas a dar um pouquinho de seu 
conhecimento, e principalmente trabalhar integrada. Já foi discutido neste grupo a 
importância da equipe multidisciplinar e do trabalho integrado. Muitas vezes não temos 
sucesso na EAN pois queremos repassar conhecimentos que achamos que a comunidade 
necessita e não perguntamos a eles o que sabem e o que querem saber, vamos ouvir 
mais e falar menos. A humildade também é outro fator que considero fundamental, pois 
não somos donos do saber, aprendemos muito com a comunidade. Desculpem-me se 
desabafei, mas estou meio cansada deste discurso que não desenvolvemos nosso 
trabalho porque ficamos sempre esperando gestores, governo, etc fazerem o trabalho 
por nós. Minha experiência é que somos valorizadas de acordo com o trabalho que 
desenvolvemos, então arregacem as mangas, façam seus trabalhos que vocês só irão 
lucrar. Credibilidade a gente conquista, não cai de mão beijada. Em discussões anteriores 
vocês falaram que trabalhavam sozinha em um município e que ficavam a maior parte do 
tempo com serviço burocrático, criem necessidades que com certeza a população e os 
 
gestores perceberão a necessidade de contratação de novos profissionais. Demandas 
existem e devem ser criadas. 
 
8. Precisamos formar profissionais que entendam a importância do diagnóstico antes de 
qualquer ação. Para isso tive a oportunidade de elaborar a disciplina de EAN no momento 
da construção do currículo do curso. Então de forma bem coloquial tentei e estou 
tentando realizarum “sonho de consumo”. 
A disciplina possui carga horária de 90 horas para realizar aula prática em escolas. Este 
ano a proposta é também ter a Unidade de Saúde como cenário de prática educativa 
para os alunos do 3º ano do curso de Nutrição. A disciplina é ministrada por nutricionista 
e pedagoga. A experiência nesses 4 anos é que os alunos passam a entender que EAN é 
uma intervenção e por isso não podemos chegar na escola com algo pronto que eu 
chamo de pacote nutricional. 
 
9. Considerando que a troca de vivências é fundamental para encurtamos a 
distância entre o discurso teórico e as práticas cotidianas, compartilho 
com vocês alguns processos muito significativos em relação à questão da 
formação profissional que estamos vivenciando no Rio Grande do Norte. No 
contexto da reformulação do Projeto Pedagógico Curricular do Curso de 
Nutrição da UFRN, aconteceram várias Oficinas com participação de 
docentes, discentes e profissionais representantes dos serviços e 
egressos. A partir desses encontros, um Grupo de docentes passou a 
construir uma nova proposta curricular, que apesar do pouco tempo de 
implantação já se sente os efeitos através das falas dos profissionais 
(docentes e preceptores dos Estágios e da postura e discurso dos 
estudantes). Os alunos além das disciplinas que tem caráter mais 
biologicistas, estão cursando também disciplinas que possibilitam 
reflexões mais amplas como: Antropologia do corpo, Aspectos 
sócio-antropológicos da alimentação, Bioética e cidadania, Processo de 
Trabalho I e II. Alguns também participam de um Grupo coordenado pela 
professora da disciplina de Educação Nutricional, denominado Grupo Corpo 
e Alma, onde desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão. Na 
disciplina de Educação Nutricional os alunos vivenciam práticas de 
educação nutricional quinzenalmente, com o Grupo Aprender é Viver. As 
atividades com o grupo são planejadas a partir da pedagogia de projetos, 
 
onde ao final de cada período acontece uma atividade de culminância 
construída no decorrer do período e realizada conjuntamente (estudantes, 
docentes, participantes do Grupo). Além disso, realizam práticas de 
educação nutricional em escolas e creches. A turma é dividida em 
subgrupos. Além disso, o Departamento de Nutrição da UFRN visando promover o 
diálogo acerca do processo de formação e trabalho do nutricionista e dos 
desafios em relação a educação alimentar e nutricional vem realizando 
alguns Cursos de Atualização e Aperfeiçoamento direcionados aos 
nutricionistas que recebem estagiários de nutrição: Curso de Atualização 
nas Práticas de Nutrição na Atenção Básica de Saúde, I Curso de 
Formação em Educação Nutricional: Metodologias Reflexivas para a 
instituição do estudante como sujeito do seu conhecimento e Curso de 
Práticas Educativas em Nutrição para a Atenção Básica. 
Várias experiências interessantes vem sendo produzidas nos serviços 
de saúde, a partir dessa integração ensino-serviço. Com certeza, esses 
processos não acontecem de forma hegemônica e consensual nas 
instituições (ensino e serviços), já que essas são formadas por pessoas 
com diferentes visões de mundo, diferentes concepções de educação, de 
práticas educativas, entre elas, a educação alimentar e nutricional. O 
importante é dar os primeiros passos, ousar, mesmo com 
embates, conflitos, mas, acima de tudo, com respeito às diferenças e aos 
diversos saberes e tendo a humildade de aceitar, como disse Gonzaguinha 
que "somos eternos aprendizes" e que conforme Paulo Freire "não há saber 
melhor ou pior, há saberes diferentes". 
 
10. Tudo que pensamos só pode ser realizado se for uma construção coletiva: gestores, 
profissionais e comunidade. Juntar esses elementos sem invadir nem impor conceitos; 
enfrentar gestores nem sempre de boa vontade; populações às vezes escabreadas com 
ações anteriores desastrosas - esse sim é o maior desafio no enfrentamento das questões 
de saúde no país, particularmente em relação à Nutrição e Alimentação. 
Há um livro "Educação popular e atenção à saúde da família", de Eymard Mourão 
Vasconcelos7, mineiro radicado na Paraíba, prof. da UFPB, que, embora não seja 
 
 
7 VASCONCELOS, E.M. Educação popular e a atenção à saúde da família São Paulo: 
Hucitec, 1999 
 
específico para Nutrição, nos introduz no mundo cotidiano da população brasileira, onde 
as campanhas de saúde só interferem pontualmente e ocasionalmente; mostra que os 
profissionais em geral esforçam-se para utilizar seus conhecimentos na abordagem desta 
situação mas o enfrentamento dos problemas em particular, desvinculado de ações 
globais e integradas, tornam sua ação pouco eficaz diante da grandiosidade das questões 
que lhe são propostas. 
Mostra também que aprender a educar parece ter eficiência surpreendente, desde que 
os espaços abertos para os enfrentamentos dos problemas de saúde das populações se 
insiram na dinâmica social de cada localidade. 
Creio que é isto que o governo atual esta tentando fazer e quem desejar mudanças tem 
que aproveitar a vontade política atual. Que dessas discussões saiam - a partir dos relatos 
das experiências plurais que vemos aqui - propostas que o governo central possa abraçar 
e, juntamente com os profissionais, contribuir na sensibilização dos gestores locais para 
melhorar a nutrição e alimentação da nossa população, não esquecendo de ouvi-la, já 
que é a principal interessada. 
 
11. O processo de educação alimentar e nutricional (EAN) exige, entre outros aspectos, uma 
reflexão contínua sobre como a educação aparece compondo a EAN. Do ponto de vista 
do educador existe um grande leque de opções metodológicas e de possibilidades de 
organizar sua comunicação. Cada educador pode encontrar uma forma mais adequada 
de integrar os vários procedimentos metodológicos e tecnologias. Não há receitas e nem 
nunca haverá receitas prontas, pois as situações são muito diversificadas. Acho que o 
importante é que cada educador encontre o que lhe ajude a sentir-se bem, a comunicar-
se bem, ensinar bem e ajudar que se aprenda melhor. A meu ver há duas coisas 
fundamentais, e essa visão eu compartilho com o professor José Manuel Moran (USP)8. A 
primeira é o necessário estabelecimento de uma relação empática entre o educador e os 
estudantes, buscando mapear interesses, perspectivas, expectativas, quem são. A forma 
de se relacionar é fundamental para o sucesso pedagógico. 
A segunda é estar aberto para descobrir as competências dos estudantes e as 
contribuições que cada um pode dar no processo de aprendizagem. Se é certo que não 
se trata de impor um projeto fechado, é também certo que é necessário que as grandes 
diretrizes estejam delineadas e claras para o educador, e assim os caminhos de 
aprendizagem vão sendo construídos em cada etapa do modo mais rico possível. 
 
8 Para conhecê-lo melhor consulte o CV Lattes em 
http://lattes.cnpq.br/4035390540170184 
 
Aproveito essa mensagem para também compartilhar algumas recomendações sobre a 
EAN, que foram feitas no âmbito do CONSEA, em uma oficina intitulada "Oficina de 
Educação Alimentar e Nutricional no Grupo de Trabalho Alimentação Adequada e 
Saudável", que ocorreu no dia 08 de agosto de 20069. Não vou listar todas, porque são 
muitas. 
Quanto aos preceitos: recomenda a expressão "educação alimentar e nutricional" ao 
invés de "educação alimentar" ou "educação nutricional" e recomenda desvincular o foco 
do nutriente para o alimento em si; EAN tendo por perspectiva o direito humano à 
alimentação adequada e a segurança alimentar e nutricional 
Quanto à formação profissional: comparara educação alimentar e nutricional de hoje 
com a necessidade de repensar os preceitos filosóficos do curso de Nutrição, em especial 
a disciplina de EAN; envolver a temática de EAN em todas as disciplinas do curso de 
nutrição e não se restringir a uma disciplina específica; 
Quanto ao Estado foi recomendado: regulamentar a publicidade de produtos alimentícios 
para o público infantil e propor plano de comunicação em EAN; priorizar a EAN nas 
políticas públicas novas e existentes; criar políticas públicas articuladas entre as diversas 
áreas de proteção à saúde da população; propor acordo social com as indústrias na 
elaboração de alimentos mais saudáveis, e ampliar as linhas de fomento em EAN para a 
sociedade civil. 
Outras recomendações foram: criar fóruns de discussão nos estados para discutir a EAN, 
criar observatório de experiências em EAN na sociedade civil, proteger o patrimônio 
genético alimentar das comunidades tradicionais. 
Além disso, recomendo também a leitura dos documentos gerados pelos Fóruns de EAN 
promovidos pela CGPAN10 e que tem produzidos resultados e reflexões importantes para 
o avanço da EAN. 
 
12. Quero registrar que sugestão de estudo de textos relacionados à educação em saúde é 
fundamental, pois só assim se terá uma visão crítica sobre o meio onde se atua 
diretamente. Na verdade, todos têm idéias próprias, mas só se “reinventarmos a roda” 
poderemos dispensar o estudo de textos de autores que discorrem sobre os temas com 
os quais trabalhamos. Qualificando-nos com essas leituras, podemos lançar nosso olhar 
 
9 CONSEA- GT - Alimentação Adequada e Saudável Relatório Final . Março 2007 
https://www.planalto.gov.br/Consea/static/documentos/Tema/AlimentacaoAdequa/Rel
atorioFinal.pdf 
 
10 Os documentos da CGPAN estão disponíveis em http://www.saude.gov.br/alimentacao 
 
PESSOAL e crítico sobre as realidades em que atuamos e aí sim, podemos efetivamente 
contribuir para as transformações. Como professora, insisto muito com os alunos que o 
papel de professor hoje não é mais de apenas transmitir informações (essas existem aos 
montes, acessíveis facilmente aos universitários), mas de auxiliá-los, com a nossa 
experiência (mais idade, mais tempo de trabalho, mais leituras, etc) a desenvolver um 
espírito crítico e a criar novos conhecimentos a partir das próprias experiências. Ler é 
essencial, tanto para os jovens como para os mais velhos. 
 
13. A leitura é fundamental para refletirmos e transformarmos nossas práticas. O texto 
Bases para a Educação em Saúde nos Serviços muito interessante pois faz uma 
contextualização da educação em saúde, destacando as bases legais e os referenciais 
teóricos que vem norteando as práticas educativas no SUS. O Caderno de Educação 
Popular e Saúde11 tem textos de Eymard Mourão Vasconcelos (Professor da UFPB) 
enfocando a educação popular como instrumento de gestão participativa, 
de José Ivo Pedrosa (MS/SGEP) que aborda aspectos referentes a educação 
popular no Ministério da Saúde, e um texto que até discutimos no 
CONBRAN, na Tenda Josué de Castro "Pacientes impacientes" de Paulo 
Freire, apresentado por Ricardo Burg Ceccim. Além desses textos, o 
caderno apresenta diálogos e experiências. As outras referências também 
possibilitam muitas reflexões. A leitura vale a pena ! 
 
14. Alimentação e Nutrição devem ser matérias obrigatórias nos currículos escolares. Para 
tanto acredito que os cursos de nutrição devem ter licenciatura, pois nossa maior 
dificuldade é justamente encontrar métodos, estratégias para educação nutricional. 
Tenho acompanhado os debates e observei a indicação de algumas leituras como Paulo 
Freire, Edgar Morin e outros. Faço um curso de formação pedagógica onde estudamos os 
pensadores, filosofia, antropologia da educação e acho que se os cursos de nutrição 
fossem também licenciatura avançaríamos neste campo. 
 
15. Continuando a conversa sobre EAN concordo com várias falas quanto a 
questão de não existir receitas prontas, fórmulas mágicas e a 
importância de refletirmos a todo o momento sobre a realidade que vamos 
trabalhar, com base na problematização dessa realidade, tendo como 
 
11 Disponível em : 
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/caderno_de_educacao_popular_e_saude.pdf 
 
referenciais teóricos os princípios apresentados por Paulo Freire, Edgar Morin 
12 e outros autores que trabalham com metodologias crítico-reflexivas. Além 
disso, acho que é imprescindível refletirmos sobre o nosso processo de 
trabalho, em especial na atenção básica (consulta de nutrição, trabalho 
com grupos), pois fazer EAN implica em rompermos com o modelo centrado na queixa-
conduta, na doença, e deixarmos de valorizar apenas a composição química dos 
alimentos, prescrição dietética e o seguimento da dieta. Entretanto, os parâmetros 
utilizados para avaliação e organização do trabalho no SUS, ainda são 
embasados no número de consultas, nos resultados em relação ao 
seguimento da dieta. Muitas vezes, diante desse contexto, os 
profissionais acabam realizando orientação nutricional, e não educação 
alimentar e nutricional. Acho fundamental termos clareza desta diferença. 
 
Experiências e Depoimentos 
Estudantes 
 
16. Sou acadêmico ainda, porém compartilho com vocês uma experiência em educação 
nutricional: 
Em um município da zona leste de Minas Gerais, junto à direção da escola e baseado no 
manual operacional para profissionais de saúde13 e no Guia Alimentar para a População 
Brasileira14 foi elaborado um plano curricular em nutrição para o ano de 2010 baseado 
nos dispostos pelo PNAE e LDB's da educação para alunos de uma escola publica da rede 
municipal do 1º ao 5º ano, o projeto abrange 03 esferas: alunos, comunidade escolar 
(pais e funcionários da escola) e comércio local, o saldo até aqui é que a educação 
nutricional quando realizada respeitando os aspectos sócio-culturais do público alvo é 
 
12 Edgar Morin, (Paris, 8 de Julho 1921), é antropólogo,sociólogo e filósofo. Formado em 
Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Autor de mais de 
trinta livros, entre eles: O método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com 
consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro.É considerado um dos principais 
pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade. 
 
13 BRASIL. Ministério da Saúde. Manual operacional para profissionais de saúde e educaçao. Brasil. 
2008. Disponível em 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/promocao_alimentacao_saudavel_escolas.pdf 
14 BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar da população brasileira: promovendo a alimentação 
saudável. Brasil. 2005. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/publicacoes.php. 
 
 
uma ótima ferramenta no fortalecimento da políticas públicas de saúde. Pena que as 
universidades investem tão pouco na formação profissional nesta área. 
 
17. Para mim que ainda não tenho a experiência além do que aprendi na faculdade esses 
depoimentos são de muita valia. Acho que na universidade muitas vezes não 
conseguimos "ter molejo" em relação à EAN, pois o próprio docente não tem esse molejo 
de saber adaptar as coisas, porém acho que agora é a hora de mudar, se nós todos 
começamos a lutar pelas mudanças, que não é fácil é claro e vai levar tempo, poderemos 
passar para os próximo nutricionistas uma forma nova de agir em EAN e conseguir 
começar a alcançar o nosso objetivo de repassar a população tudo que sabemos para dar 
condições que elas queiram e possam mudar. 
 
18. Sou graduandana UFV-MG. Concordo com os colegas de que a EAN deve ser mais 
trabalhada e melhor pensada e adaptada aos diferentes públicos. Aqui UFV, temos 2 
semestres da disciplina de Educação Nutricional, sendo um teórico e outro prático. Meu 
grupo desenvolveu um protótipo de alimento e nutriente muito interessante. Nosso 
público eram crianças do 4° ano do ensino fundamental. Pensamos em "passar a idéia" a 
eles de que os nutrientes de que tanto falamos estão nos alimentos. Para isso usamos 
caixas de fósforo encapadas de cores diferentes para sinalizar os diferentes nutrientes e 
garrafas PET, com a gravura do alimento para simbolizá-lo. Quando falávamos do 
nutriente, apresentávamos a caixa de fósforos colorida e com o nome do respectivo 
nutriente e para mostrar qual alimento era fonte deste nutriente, colocávamos esse 
"nutriente" dentro da garrafa PET, símbolo do alimento. 
 
 
Profissionais: 
 
19. O trabalho com Educação nutricional é gradual, porém dá resultados fantásticos. Este ano 
na cidade de Belém do Pará comemoraremos o dia do nutricionista de forma diferente, 
através da educação nutricional. O CRN junto com o Sindicato conseguiu um apoio do 
presidente do Clube de Diretores Llojistas e estaremos presentes em uma grande rede de 
lojas muito freqüentada pela população, estaremos influenciando as pessoas na hora das 
compras, ficaremos durante uma semana. Estas iniciativas são importantes por que não 
só divulgam a importância do profissional assim como a melhoria da qualidade de vida da 
população através de hábitos alimentares saudáveis. 
 
 
20. Muitos gestores não dão valor aos projetos de EAN, pois não tem consciência de quanto 
a alimentação e nutrição podem interferir na vida de uma pessoa. Será que não param 
para pensar na quantidade de medicamentos que poderia ser economizada caso a 
população tivesse uma saúde melhor com uma alimentação e nutrição adequada? A EAN 
deveria ser implantada não apenas nos segmentos relacionados à saúde, mas também 
nas escolas e poderia fazer parte de projetos sociais como o PBF. No município onde 
trabalho realizei vários cursos de aproveitamento de alimentos com famílias carentes e 
obtive ótimos resultados, é uma forma de auxiliar as famílias a utilizarem melhor o 
dinheiro que recebem, sem desperdícios de alimentos. Outra forma de melhorar a EAN é 
através das universidades, recordo-me que na faculdade havia a matéria de educação 
nutricional, mas a ênfase maior era realmente na elaboração de projetos que envolviam 
folders e etc, acredito que deveria haver mais elaboração de projetos diferenciados 
(como oficinas e etc) que fossem colocados em prática e não ficassem literalmente 
apenas "no papel" (folders). 
 
21. EAN é a base do meu trabalho, seja qual for demanda do meu usuário. Já fiz e faço todo 
tipo de atendimento; atendo a faixas etárias de zero a noventa anos, diversas patologias, 
atendimento individual e em grupo, SUS (ambulatorial e domiciliar), trabalho com 
capacitações técnicas de equipes de profissionais de saúde da Instituição onde trabalho, 
em um Centro de Prevenção e Reabilitação de Alta Complexidade para Pessoas com 
Deficiências (SUS)-,profissionais do interior e outras unidades de saúde, apresentando a 
importância da Educação Nutricional, e a necessidade de ações preventivas dos agravos à 
saúde desse segmento da população. Desenvolvo ações de cuidados em Nutrição em 
todos os níveis, desde a básica, até ações de alta complexidade como realização de 
exames de Bioimpedanciometria. 
No meu cotidiano trabalho tanto com a complexidade de diferentes tipos de deficiências: 
atendo a usuários com estomias, obesidade, hipertensão, diabetes, disfunções intestinais 
e etc., e o usuário que está em processo de protetização e precisa manter seu peso 
estável. 
Apesar de lidar com pessoas com o estado emocional abalado, pela pós- amputação, ou 
pelo pós- AVC, tenho obtido resultados muito satisfatórios quanto à Terapia Nutricional 
oferecida, incentivando-os a identificarem e corrigirem o consumo não saudável, sem a 
imposição de fórmulas prontas. Construindo junto com eles e seus familiares o melhor 
 
modelo alimentar para cada caso, e que se adapte ao gosto, jeito de ser e encarar o 
mundo ao seu redor, no seu contexto de vida. 
Utilizando de metodologia baseada na Educação Nutricional, busco trabalhar com o 
método da problematização, e teorias dialógicas, levando em conta aspectos como: 
estado emocional, situação sócio-econômica, local de residência e seus aspectos 
culturais/regionais ligados a alimentação, idade, situação familiar, condições de vida 
atuais e etc. 
É imprescindível trabalhar com a escuta sensível, encontrar um ponto de identificação do 
usuário com a proposta de Aconselhamento Nutricional, trazendo sempre a reflexão da 
importância do mesmo aderir ao programa alimentar que foi partilhado e acordado, 
juntamente com a família. 
Durante o meu atendimento, procuro criar uma atmosfera de trocas de experiências, 
deixando meu(s) usuário(s) perceberem que estou informando e também aprendendo 
com ele(s). O que os impulsionam a falar e explicitar todo seu conhecimento popular 
sobre saúde / doença, alimentos/curas como conteúdos importantíssimos dos seus 
repertórios e saberes empíricos e ancestrais, especialmente a "linguagem pelos vínculos 
sociais e afetivos no cotidiano" (Freire,1980)15 
A afetividade, valorização, humanização no atendimento, formar vínculo com esta 
pessoa, e buscar orientar de forma que o usuário e seus familiares compreendam que as 
orientações fornecidas, de ambas as partes, são de fundamental importância para êxito 
da terapêutica proposta, e que eles são co-participantes do seu processo de tratamento. 
Devo dizer que não foi, e não é fácil conseguir este espaço, e mantê-lo, pois ainda existe 
resistência dos gestores em ampliar o atendimento, com a contratação de mais 
profissionais Nutricionistas para que pudéssemos abranger um número maior de usuários 
e possibilitar mais qualidade ao atendimento. 
Creio que a forma de dar maior visibilidade e aumentar a participação de profissionais 
Nutricionistas no programas de ações de saúde, em parte, cabe ao próprio Profissional 
quando no exercício do seu trabalho, trazer para os seus usuários, todos os benefícios 
para a sua saúde, com a promoção de uma alimentação saudável. Nesse caso o 
aprofundamento nos estudos, e reciclagens é de fundamental importância, pois só com o 
empoderamento técnico-científico, poderemos ter bases sólidas para argumentar com 
gestores através de produções científicas, pesquisas e projetos bem feitos que nos 
possibilitem apresentar o que fazemos e o que ainda precisamos fazer. Atualmente faço 
 
15 FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao 
pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes; 1980: 
 
parte de uma rede de Estudo e Pesquisa, do Grupo de Educação e Saúde, e no momento 
estudo Grupos Operativos e Oficinas em Educação e Saúde. 
A melhor divulgação da importância de um trabalho é buscar fazê-lo o mais bem feito 
possível e com as melhores estratégias disponíveis. Se não as tiver, poderemos criar com 
nossas próprias mãos. O que não podemos é nos acomodar ou nos dar por vencidos. 
Hoje eu me sinto gratificada com o reconhecimento profissional, dos usuários e outros 
colegas, profissionais da área de saúde, ao longo de dezessete anos de exercício 
profissional, onze dos quais trabalhando com a Pessoa com Deficiência. 
É importante ver que o usuário que antes desconhecia o que era o Nutricionista, hoje 
vem do interior buscar o atendimento em Nutrição na minha Instituição, e reconhece a 
importânciadeste atendimento, quando sente melhorar a sua saúde e da sua qualidade 
de vida. 
 
22. Estamos aqui em Bento Gonçalves, através da Secretaria de Saúde trabalhando com um 
projeto de SISVAN Web nas escolas. Propusemos que os alunos estudem o Guia 
Alimentar para População Brasileira e então produzam um material educativo (música, 
cartaz ou apresentação em slides). Depois do desenvolvimento a proposta é aplicada na 
escola. Nos surpreendemos com os resultados, pois a turma fez até um lanche saudável, 
com salada de fruta, pão de leite e iogurte. 
 
23. Trabalho na saúde indígena, e minhas atividades aqui se resumem em Educação 
Nutricional. É complexo trabalhar EAN em comunidades com culturas diferentes e muitas 
vezes sem acesso aos alimentos. Mas iniciei o trabalho nas comunidades indígenas 
primeiro levantando o diagnóstico nutricional desta população, detectamos um alto 
índice de anemia ferropriva em quase todas as aldeias do Litoral sul e Norte e crianças 
obesas nas aldeias do Interior de São Paulo (região de Bauru). 
Como sou a única nutricionista existente na saúde indígena, iniciei o trabalho 
multidisciplinar com as enfermeiras, os dentistas e a farmacêutica que atuam nas Equipes 
Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI). 
Para prevenção da anemia, por exemplo, todas as enfermeiras foram capacitadas, com 
informações sobre alimentos fonte de ferro, mitos e verdades sobre a alimentação para o 
tratamento de anemia ferropriva, entre outros. 
O trabalho de ponta feito pelas EMSI foi em primeiro lugar, capacitar os Agentes 
Indígenas de Saúde(AIS) e lideranças das comunidades indígenas, utilizando os materiais 
de nutrição que elas receberam em nosso primeiro encontro. 
 
Depois de capacitados os AIS, começamos um ciclo de rodas de conversa nas aldeias. 
Levamos até as aldeias vegetais folhosos, que muitas vezes eles nem conheciam, pois não 
fazem parte de sua cultura alimentar, fizemos preparações para o dia-a-dia, e o mais 
interessante é que 80% das crianças consumiram e gostaram. 
Em algumas comunidades com parceria da escola, foi iniciado o projeto de horta. 
Resultado desta experiência foi a redução, em um ano, de 10% do número de crianças 
menores de 5 anos com anemia, redução da solicitação de leite não humano e 
diminuição da porcentagem de crianças com classificação nutricional abaixo do percentil 
3 (segundo NCHS). 
 
24. Acho que falta muita coisa em termos de educação nutricional no SUS: receitas 
saborosas, práticas e saudáveis para fornecer; maior esclarecimento pedagógico aos 
profissionais de saúde de como educar a uma população de 70% de analfabetos 
funcionais no Brasil; fornecimento de material didático pelo MS sobre o tema como 
posters, folders, slides; cozinha experimental, horta escolar, horta urbana; mais 
processos de formação que ajudem o profissional de saúde a pensar ao invés de só 
decorar... 
 
25. É preciso parar de formar profissionais que acham que tem o dom da palavra e a 
verdade em suas mãos. Quantas vezes me foram contado pelos pacientes as "broncas" 
que o nutricionista dá, de como são cobrados a ter atitudes "saudáveis", como se isso se 
conseguisse mediante listas intermináveis de alimentos, agrupadas em pontos, cores, e 
tantas outras. A EAN precisa se arejar. E isso começa pelos formadores que estão nas 
universidades pensando ainda nas palestras e nos pré e pós-testes - segue pelos alunos, 
que devem ter o senso critico de levar a teoria para uma prática reflexiva e chega aos 
profissionais dos mais variados locais. E nesta espiral, cabe em todo e qualquer lugar 
onde pessoas têm algo a refletir e muita contribuição para construir essa nova e almejada 
EAN. 
 
26. .… acho que o debate só sai da teoria para a prática quando alguém ora relata uma 
vivência, ora sugere e realiza ações efetivas na vida real... 
Essa talvez seja a essência do que se deseja num trabalho, algo do tipo não dê o peixe, 
ensine a pescar e até aprenda novas formas, multiplique e forme multiplicadores. 
 
 
27. Realmente nos falta muitos subsídios bem como apoio para desenvolver um trabalho 
pleno de Educação nutricional... falta também um maior comprometimento dos gestores 
de saúde e seus coordenados que muitas vezes pegam projetos excelentes vindos do MS 
e engavetam simplesmente sem dar nenhuma explicação sem contar que na maioria das 
vezes os profissionais envolvidos nem tomam conhecimento. Precisamos de um maior 
rigor em relação a isso. 
 
28. Precisamos ter coragem de utilizar nossa sensibilidade e ousadia (responsável e 
comprometida), mas buscando identificar qual caminho pode ser tomado para auxiliar o 
grupo no qual trabalha a resolver/problematizar a questão demandada. Construir com o 
grupo sendo sujeito o tempo todo, admitindo a possibilidade de desconstrução e 
reconstrução permanente. Aposte nisso no médio e longo prazo sem fixar resultados 
normativos ( mudar isso em x tempo) mas entendo que o próprio processo de estar 
construindo junto , por si só, muitas vezes é o que potencializa as mudanças e 
transformações. Os resultados acontecem sim e de maneira bem concreta e visível, se 
você escolher "indicadores" sensíveis ao processo vivenciado. 
Não quero ser retórica - mas na prática a busca de novos significados é uma das únicas 
pistas que podemos compartilhar quando queremos valorizar/reconhecer as demandas 
específicas de grupos diferentes. 
 
 29. Sou nutricionista da Secretaria de Assistência Social do Estado de Rondônia e fico às 
vezes me perguntando quando é que deixaremos de reclamar a formação que tivemos e 
partiremos para a prática. Palestra ou folder não é a desculpa para que a estratégia usada 
não dê certo ,quando essa é feita respeitando o público a quem queremos atingir. Temos 
que deixar de falar palavras bonitas e devemos respeitar os saberes de cada um, ai sim 
irá surtir efeito. Há seis anos realizo palestra no Banco de leite Humano e já comecei a 
colher os frutos deste trabalho, não tem fórmula mágica o negócio é fazer e trocar 
experiências com outros profissionais e com a comunidade. Ouvir é o caminho para uma 
boa EAN. 
 
30. Trabalho no NASF desde dezembro passado e atualmente realizo um trabalho de 
parceria com os médicos onde fazemos uma triagem dos pacientes com colesterol, 
triglicerídeos, diabetes, hipertensão alterados e num primeiro momento estes pacientes 
passam por mim para que possamos tentar reverter o quadro apenas com alimentação e 
uma prática de atividade física, estamos tendo grandes resultados. 
 
 
31. Meu namoro com a EAN iniciou na UFPR em 1983 quando entrei no curso de 
nutrição, desde as primeiras disciplinas específicas eu ficava escutando os depoimentos 
dos professores em relação às soluções que encontravam para resolver as 
questões de trabalho e quase que em 100% das vezes eu podia observar que 
era uma intervenção educativa, lembro que eu ficava imaginando qual seria 
a minha forma de enfrentar aquela situação e como que eu poderia 
desenvolver essa habilidade. …. A EAN é a ferramenta de trabalho mais completa que 
temos para exercer com qualidade nosso trabalho, nos próximos dias, se for possível vou 
tentar passar para vocês minha trajetória com a EAN nos 5 anos de Hospital de Clínicas 
(Banco de Leite Humano, Maternidade e Pediatria), nos 13 anos na Secretaria Municipal 
da Educação (alimentação escolar); nos 06 anos na Secretaria Municipal da Saúde (nível 
Central) e agora há 1 ano no NAAPS. E para finalizar, gostaria de dizer que nesses 23 
anos, vi que a avaliação dessas atividades ainda é o maior desafio para mim, no entanto 
hoje me sinto muito mais perto de concretizar essa lacuna na minha formação. 
 
32. Também acredito que aEducação Nutricional vai muito além do que palestras e 
distribuição de folders, a educação nutricional deve acontecer de forma gradual, a 
conscientização deve ser contínua e progressiva. Há uma palavra que é muito escutada 
pelos administradores, mas que tem muito haver com a educação nutricional, que é a 
"empowerment" que significa "dar poder", ou seja, significa dar autonomia e apoio ao 
indivíduo, para que ele mesmo possa fazer uma análise de suas ações, assim basicamente 
o educando precisa se envolver com seu próprio problema para que, a partir daí, tome as 
decisões e promova as mudanças que julgar necessárias. Assim o processo de educação 
nutricional ocorrerá de forma eficaz e não apenas com o mero repasse de informações, 
que podem passar sem fazer um grande efeito. 
 
33. Sou nutricionista de uma ONG que atua com pacientes oncológicos na cidade de Itu/SP. 
Desde minha graduação ainda na cidade de Passos/MG, atuei com foco na educação 
nutricional. Acredito que o grande desafio de uma educação nutricional efetiva, passa 
pela integração dos profissionais de saúde, com a escola, família e demais atores sociais 
envolvidos na formação de hábitos saudáveis na criança. Creio que de fóruns, palestras, 
filmes, nossas crianças estão saturadas, e as inúmeras experiências conhecidamente 
desenvolvidas por muitos colegas, são deficitárias do ponto de vista do envolvimento e 
comprometimento da criança. 
 
Em Bragança Paulista onde temos uma segunda unidade da ONG, estamos 
desenvolvendo um trabalho pioneiro no Município, no qual dentro do espaço escolar, 
realizamos sim palestras para pais, teatro de fantoches para crianças, mas também 
estimulamos e desenvolvemos o cultivo e a importância do consumo de alimentos 
saudáveis. Estamos tendo grande êxito não só pela conscientização da criança dos 
conceitos de alimentação saudável, mas principalmente, por está dando autonomia para 
a criança fazer escolhas saudáveis e experimentar sabores e sentimentos diferentes, na 
merenda escolar. 
 
34. Queremos ser profissionais empenhados em provocar mudanças e auxiliar pessoas a 
terem atitudes, precisamos ficar inquietos diante do que já existe e procurar propor 
coisas novas, acompanhar a evolução dos fatos, das pessoas e do tempo, enfim agir para 
fazer movimento e não se indignar apenas. Na Secretaria Municipal da Educação, quando 
iniciei meu trabalho na Alimentação Escolar a nutricionista do setor passou num 
concurso na UFPR e saiu; eu fiquei sozinha com uma equipe de professoras que faziam a 
administração do Serviço, confesso que foi um período difícil, talvez se eu não me 
inquietasse, estivesse até hoje lá fazendo só cardápios e supervisionando as escolas. Mas, 
eu queria muito mais do que isso, e fui vencendo etapas, atravessando barreiras e 
conquistando meu espaço. Primeiro consegui implantar nas 120 Escolas de Curitiba um 
cardápio com gêneros perecíveis, quando isso era impossível segundo a minha chefia 
(professora), mas eu pedi uma chance, fiz reuniões com fornecedores, fiz logística de 
distribuição semanal e com quantitativos por escola tudo calculado manualmente, pois 
não tínhamos planilhas no computador no início, enfim deu certo. Depois propus a 
avaliação nutricional dos alunos. Queria também conhecer o impacto da alimentação 
escolar, mas como avaliar mais de 90 mil alunos sozinha ??? Como sabia que os 
professores de educação física faziam anualmente o exame biométrico (peso e altura) e 
engavetavam as planilhas, decidi ousar e entrei em contato com a Secretaria da Saúde, 
que já havia sinalizado a vontade de avaliar os escolares e fizemos uma capacitação de 
500 professores de educação física para coletarem os dados de forma padronizada e 
adequada e enviarem os dados para SMS que tabulava os dados no Epi info e devolvia o 
relatório para a SME. Foi assim que em 1996 implantamos o SISVAN Escolar em todas as 
Escolas da Prefeitura de Curitiba. Enfim, apenas quero dizer que se somos sozinhas 
precisamos deixar de lado nossa vaidade e devemos procurar parcerias, dividir a carga de 
trabalho. E mostrar nosso trabalho para sermos valorizados e ampliar nossa equipe. 
Como isso se relaciona com EAN? Após fazer o diagnóstico nutricional, o que fazer com 
 
os desnutridos, com os eutróficos e com os sobrepesos ??? Já nessa época outra 
nutricionista veio trabalhar na SME, então fizemos mudanças nos cardápios, adequamos 
a alimentação conforme localização das Escolas e prevalências de desnutrição e 
sobrepeso. Mas, faltava a EAN, como fazer as crianças melhorarem seus hábitos também 
fora da Escola? Foi aí que entrei em contato com o Setor de capacitação da SME e propus 
um curso de EAN para os professores da Rede Municipal de Ensino, afinal em duas 
nutricionistas jamais conseguiríamos estar em todas as salas de aula. Pois, bem o curso 
foi aceito, duas estagiárias de nutrição nos auxiliaram na montagem da apostila 
conforme os assuntos que eu havia proposto e lançamos um curso de 20 horas para 
professores, e passamos a ministrar os conteúdos e nas discussões propusemos como 
eles poderiam trabalhar os assuntos dentro de suas disciplinas e exemplificávamos como 
usar na matemática, na história, na geografia, em ciências, etc. Acredito que até hoje 
esse curso acontece. Portanto, mesmo sem recurso financeiro, sem grandes estratégias, 
na época fiz além do que as condições de trabalho me proporcionavam, fiz porque quis, 
fiz porque minha inquietação era grande, foi difícil, foi, mas posso dizer que além de ter 
crescido profissionalmente, cresci como pessoa, aprendi a compartilhar conhecimento e 
ganhar pessoas que compartilhavam comigo os objetivos de melhorar o estado 
nutricional dos alunos. Se perguntarem, como avalio essa experiência posso dizer que na 
época durante as supervisões nas Escolas pude observar uma melhora da aceitabilidade e 
diminuição dos desperdícios. Não podemos esquecer que o período das crianças em casa 
é grande, e se hoje estivesse lá com certeza estaria investindo em ações para as famílias, 
pois sabemos que a Escola não pode ser a responsável pela obesidade, mas pode sim 
contribuir para minimizar seus efeitos. Já me alonguei, no próximo relato trarei minha 
experiência na SMS. 
 
35. Tenho visto vários locais onde a alimentação é pautada em arroz e feijão tendo a carência 
da compra e ou do recebimento da doação de verduras. 
Falando em experiências bem sucedidas houve em Pontalina - GO um projeto da 
Maçonaria e Prefeitura em que implantaram em parceria com os órgãos Federais, 
Estaduais, Municipais, ONGS e sociedade civil, uma horta comunitária. Os alimentos eram 
divididos entre os participantes e o excedente era vendido na Feira da Cidade para ser 
revertido em implementação de benfeitorias na própria horta. 
Paralelamente realizávamos no Programa CEIS - a orientação à crianças e adolescentes a 
respeito da alimentação e ingestão adequada dos alimentos, dos benefícios de uma vida 
saudável do ponto de vista físico e psíquico, os valores éticos, a prevenção de uso de 
 
drogas, a prevenção sexual e o reforço escolar. A medida visava impedir que as crianças 
e jovens fossem para as ruas e que os familiares tomassem consciência de seu papel de 
educadores e mantenedores da ordem social. À medida que o conhecimento cognitivo foi 
sendo alcançado, o consumo de verduras e aproveitamento dos alimentos foi sendo 
verificado. 
Parece haver uma relação direta entre o aumento de consumo e o incentivo ao aumento 
da produção. Vai haver maior produção e de melhor qualidade à medida que o trabalho 
for valorizado e solicitado. 
Os habitantes da cidade passaram a comprar mais, inclusive para valorizar o trabalho dos 
horticultores. Até a Feira passou aser freqüentada pelos moradores da cidade e regiões 
vizinhas, que iam para ver as verduras e a variedade dos mesmos. Os próprios 
horticultores divulgavam a venda das hortaliças para seus vizinhos. 
Outro fator importante é o da valorização do trabalho pelos meios de comunicação. O 
orgulho em produzir algo tem a ver com o impacto desse produto no mercado. A rapidez 
na venda e no consumo faz-se necessário. Assim como já acontece na prática com outros 
alimentos como farinha, feijão, soja e outros. 
Faz-se necessária a implementação das políticas de vendas, escoamento, trocas, 
permutas alimentares e doações dos alimentos produzidos nas hortas para as crianças 
desnutridas ( muitos produtos são perdidos em virtude da não possibilidade de frete dos 
alimentos para as instituições carentes). 
Os produtores e chacareiros que pagam pelo espaço, em algumas ocasiões se sentem 
desvalorizados, auto desmotivados e desestimulados, uma vez que dependem de tantos 
parceiros para sobreviver. A parceria, sem dúvida entre técnicos, produtores e 
instituições pode ser uma das melhores alternativas. Boa sorte no trabalho de orientação 
cognitiva, os bons hábitos podem ser adquiridos mediante boa educação e boa qualidade 
nutricional e psíquica. 
 
36- ...,Trabalho há um ano no município de Umari-CE, mas não vejo meu trabalho crescer. 
Boa parte da população ainda não tem conhecimento da minha presença do município 
(sinto que a as agentes de saúde não transmitem esse detalhe, de que há 
nutricionista atuante no município), só atendo um dia na semana, 
no posto de saúde. Atendo em um único dia, pois é o único dia que sala disponível 
no posto de saúde... Quando eu estagiava nessa área era uma maravilha, o posto era 
sempre cheio, havia atendimento 5 dias na semana, era uma maravilha, mas não consigo 
fazer igual. 
 
Queria muito aumentar a demanda, ver o posto cheio, formar grupos de idosos, 
hipertensos, 
 
36- Esta realidade, de falta de espaço não é exclusiva sua....e o que você precisa para 
aumentar a demanda e ter maior contato com o médico, mesmo ele não esteja na 
unidade no dia que você atende...converse com ele sobre o que você pode fazer para 
ajudar os pacientes que ele atende... a partir do momento que ele perceber que ao 
encaminhar os pacientes o trabalho dele vai render mais, ele passará a encaminhar cada 
vez mais e a população vai corresponder... Comece sugerindo a ele que encaminhe as 
gestantes para que ele não precise orientar o ganho de peso e também as crianças em 
fase de introdução dos alimentos (6 meses). Também, os pacientes com diabetes e 
hipertensão....enfim, eu trabalho em unidades de saúde em Bento Gonçalves e também 
tenho consultório e grande parte da minha demanda vem em busca de orientação por 
encaminhamento dos médicos que confiam no meu trabalho 
 
 37- Trabalho em município do interior do ES atuando na secretaria de saúde e percebi 
que passaria por isso que você passou (falta de espaço físico e profissional). Resolvi da 
seguinte forma: Assim que passei no concurso, fiz uma reunião com as equipes de ESF, a 
coordenação de ESF e a secretária de saúde. Nesta reunião expus meu trabalho e os 
programas que sou coordenadora municipal (suplementação de ferro, Bolsa Família na 
saúde, Sisvan e saúde na escola). Como neste município nunca havia trabalhado 
nutricionista, procurei formar um laço e tirar dúvidas, deixando a equipe à vontade para 
fazer encaminhamentos de pacientes com as patologias que dou prioridade no 
atendimento e procurei me disponibilizar para participar de ações da ESF que tenham 
grande correlação com os programas de alimentação e nutrição (Hiperdia, puericultura - 
grupos já existentes nas equipes da ESF). Hoje além das consultas, faço visitas 
domiciliares às famílias que as enfermeiras e eu achamos necessário (faço as visitas 
domiciliares com a equipe de ESF), participo dos dias de puericultura com preenchimento 
de fichas do Sisvan e distribuição de sulfato ferroso e participo também periodicamente 
das ações do Hiperdia e de reuniões de equipe para decidirmos e planejarmos ações. Sou 
muito próxima da coordenadora de ESF, planejamos ações antes de levarmos o assunto 
para as enfermeiras. 
Como tenho uma carga horária de 20 horas, às vezes fica difícil conciliar meu horário com 
o horário e o cronograma da ESF, mas são todos muito receptivos e hoje já perceberam a 
importância no meu trabalho. Tudo se inicia com comunicação. 
 
 
 
38- Aqui em Santa Maria - RS também temos dificuldade de espaço, contudo, penso que 
você poderia tentar buscar espaços alternativos tais como: salão da comunidade, Igreja, 
ver aonde existem grupos de idosos, hipertensos e diabéticos e procurar se inserir neles. 
Além de fazer sala de espera, ir às Escolas próximas as Unidades. Penso que estas sejam 
algumas alternativas para irmos ganhando espaço. 
 
39- Sou nutricionista aqui em Rio Branco passei no concurso e me chamaram para 
trabalhar com doenças crônicas, tem apenas três meses mais já pude conhecer um pouco 
da cultura dos Acreanos, pois, viajo para os Municípios assessorando os mesmos. Na 
verdade queria algumas ideias do que possam está trabalhando com essa população. 
Bem, estava pensando em trabalhar de imediato com uma oficina com tema alimentação 
saudável (para Diabéticos, hipertensos e obesos). Os municípios do Acre a população não 
tem hábitos alimentares saudável, por exemplo: o consumo de frutas é muito raro. Na 
verdade é muito cultural então estava pensando em trabalhar uma oficina bem dinâmica. 
E também trabalhando com alimentos regionais para incentivar o consumo deste 
alimentos. 
 
 
A prática profissional e os recursos para a EAN 
 
40 Uma das formas mais antigas e comuns de fazer EAN é o uso da PIRÂMIDE 
ALIMENTAR CLÁSSICA. Só que ela é contestável hoje em dia e nunca há debate sobre 
isso em nosso meio. Acho muito sério isso, pois propaga erros inclusive no meio de 
nutricionistas. 
Lamentável quando os cursos universitários não acompanham as últimas pesquisas 
sobre o tema quando a mudança deveria começar lá, mas isso é outro tema que tem 
a ver com academicismo puro brasileiro. No Brasil usa-se uma pirâmide alimentar 
antiga e ultrapassada ainda onde os carboidratos refinados estão na base da 
pirâmide em grandes quantidades e bem sabemos que estão estreitamente ligados à 
epidemia de obesidade e diabetes atual. Não é suficiente dizer que a proporção não 
importa e sim a quantidade total, pois não é isso que a pirâmide passa a quem vê. A 
proporção importa sim. A pirâmide da USDA-1995 só confundiu mais além de ser de 
difícil entendimento. 
 
Muitos conceitos nutricionais aceitos como fundamentos de nutrição mudaram 
muito: gorduras saturadas e insaturadas, carboidratos, obrigatoriedade de 
laticínios e ate mesmo calculo do VET não são mais os mesmo. Citar todos 
ficaria muito extenso, mas sugiro a todos que procurem saber de duas 
pirâmides mais modernas pelo menos: 
ü Pirâmide Alimentar da Universidade Michigan16 
ü Pirâmide Alimentar da Universidade de Harvard17 
Há muita coisa para se mudar, muita coisa sem debate racional. Mesmo as 
pirâmides mais modernas citadas estão um pouco defasadas em relação às 
ultimas pesquisas. Acredito o que diferencia um profissional nível superior 
para o de nível técnico é principalmente que o primeiro tem autoridade para mudar 
conceitos básicos baseado em bom senso e novos fundamentos. 
 
41- A minha fala é de alerta, pois sou professora de educação alimentar com formação 
de mestrado e doutorado para isto. Utilizo como referencial teórico Isobel Contento, 
sugiro o seu livro de 2007 para quem domina o inglês (Nutrition Education Linking 
Research, Teoryand Practice). A Pirâmide é a representação gráfica do Guia 
Alimentar Americano, como o Guia Alimentar Brasileiro (www.saude.gov.br/nutricao) 
publicado pelo Ministério da Saúde/CGPAN não definiu nenhuma representação 
gráfica, sou de opinião que a Pirâmide, que não pertence ao nosso meio e nem é 
para os brasileiros, não deva ser utilizada. Além disto outros argumentos científicos 
apóiam a minha sugestão. Sugiro procurarem conhecer sobre a construção da 
Pirâmide, principalmente a primeira surgida nos EUA e a leitura do artigo 
LANZILLOTTI, Haydée Serrão; COUTO, Sílvia Regina Magalhães e AFONSO, Fernanda 
da Motta. Pirâmides alimentares: uma leitura semiótica. Rev. Nutr. 
[online].2005,vol.18, n.6, pp. 785-792, para pensarem a respeito. 
 
42 Sou consultora técnica da Coordenação-Geral da Política de Alimentação e 
Nutrição, e milito na área de educação alimentar e nutricional há alguns anos. 
Acerca dos ícones de alimentação saudável, acompanho a discussão no meio, 
especialmente no que diz respeito ao reconhecimento do ícone e sua função na 
comunicação. 
 
16 Disponível em: http://www.med.umich.edu/umim/food-pyramid/index.htm 
17 Disponível em: http://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/ 
 
Até a década de 80, a roda dos alimentos foi o referencial brasileiro. Em 1999, a pirâmide 
alimentar americana foi adaptada à realidade brasileira. Todavia, alguns estudos pontuais 
indicam a limitada compreensão da proposta da pirâmide, o que nos convida a refletir 
sobre um novo ícone, que seja culturalmente aceito, reconheça os fatores antropológico-
culturais, educativos, sociais e econômicos que estão articulados estreitamente à 
alimentação e a forma de vida dos indivíduos e, finalmente, esteja bem fundamentado na 
alimentação habitual da população. Esses pré-requisitos podem ser vistos em ícones de 
outros países, que adotam figuras como vasos ou vasilhames típicos, mapas, arco-íris e 
maçãs como representações de seus ícones de alimentação saudável. O Ministério da 
Saúde optou por não indicar nenhuma representação gráfica quando da publicação do 
Guia Alimentar para a População Brasileira. É um desafio que temos pela frente – o Brasil 
deveria ter um símbolo, um ícone para a promoção da alimentação saudável e EAN? 
 
43 Como nutricionista atuante na área de educação nutricional em atenção básica, 
venho colaborar com a experiência no uso da roda dos alimentos. Desde que me 
formei (há 13 anos) percebi que a pirâmide não é um instrumento prático, pois 
leva muito tempo para explicar e os resultados do entendimento são poucos. A 
'realidade regional' também me mostrou o quanto a pirâmide é de difícil 
entendimento para pessoas de baixa renda. Assim, , iniciei os grupos de 
emagrecimento construindo uma 'roda própria', que fizemos a partir da colagem 
de figuras de revistas... aquela velha técnica, muito boa por sinal! A roda é o 
prato e a metade do prato precisa ter frutas, legumes e verduras. Para nós é o 
básico, não? A roda também pode representar o dia, com a metade sendo 
preenchida com FLV: 3 frutas, 1 copo de suco natural, legumes e verduras no 
almoço e no jantar. Tenho tido bons resultados, com uma média de 80% no 
incremento do consumo de FLV nas dietas e emagrecimento médio de 7% do 
peso inicial, em 6 meses. 
 
44 Vivemos em um país com 70% de analfabetos funcionais, onde dar um impresso que 
tenha simples frases pode se constituir algo incompreensível muitas vezes para 
quem recebe, entendem mal até o significado da palavra isolada. Nos raros casos 
que recebi do SUS impressos para distribuir, parecem que foram feitos para a 
população da Dinamarca, isso quando não há conceitos ultrapassados. Gostei do 
Guia Alimentar para a População Brasileira (MS) como um parâmetro para os 
 
profissionais de nutrição. 
 
Antes do encerramento deste ciclo de discussões a Equipe de Moderação sugeriu, ainda, o debate 
sobre a necessidade de termos um ícone nacional para a promoção da alimentação adequada e 
saudável: “ ...propomos que foquemos a discussão sobre o uso de ícones/símbolos para a prática de 
EAN. Algumas participantes se manifestaram sobre as limitações do uso da pirâmide alimentar (em 
qualquer versão), outras apresentaram suas experiências de criação de ícones próprios para sua 
atividade educacional. Por outro lado foi enfatizado que o Guia 
Alimentar para a População Brasileira (MS/CGPAN) não adotou nenhum símbolo para a 
representação de suas diretrizes. A discussão que propomos é a seguinte: vocês consideram 
importante que o Brasil tenha um ícone de promoção da alimentação saudável ??? Caso 
considerem importante, como deveria ser o processo para chegarmos a 
melhor proposta de imagem ??? 
 
45- Sou nutricionista Responsável Técnica pela Alimentação Escolar de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. 
Primeiramente acho muito importante a criação de um ícone de promoção da alimentação saudável, 
pois a linguagem visual é muito mais fácil de ser assimilada principalmente para crianças e adultos 
com baixo nível de escolaridade. 
 
46- ... Considero ser importante sim um ícone para promoção da alimentação saudável. O mesmo 
deve ser amplamente discutido e se possível nacionalmente através de fórum e enquetes específicas 
para tal. Acho que deve atingir os profissionais que atuam e também os estudantes de graduação 
 
47- A imagem facilita a familiaridade que as pessoas possam vir a ter com o tema Educação 
alimentar e nutricional, além de, caso tenha difusão nacional, como parece ser o caso, em qualquer 
região tanto o profissional quanto os usuários, de onde estiverem, reconhecerão do que se trata. 
Algo assim como uma espécie de marca/logotipo. Tanto que, já que abriram espaço para tal, opino 
que uma agência especializada neste tipo de trabalho poderia ser convocada para criá-lo. Esses 
profissionais de criação teriam as informações obtidas pela equipe da Redenutri a partir das 
discussões aqui realizadas, para que entendam o espírito do que devem criar . A partir das propostas 
apresentadas pode o ícone mais representativo ser escolhido talvez até sendo submetido à rede ou 
outro modo que acharem melhor. 
 
 
 
48- Acho a idéia do ícone para promoção da alimentação saudável muito útil para nos ajudar a 
superar os conceitos abstratos que envolvem a nutrição. Para o desenvolvimento do mesmo sugiro 
apresentarmos a demanda, de uma forma organizada e sistematizada, para um conjunto de 
profissionais da área de Ciências Sociais, Comunicação social e Design. Esta necessidade precisaria 
ser "apresentada" por profissionais da área de nutrição e também educadores a este 
profissionais citados, que após passarem por uma "aproximação" com o tema e conhecerem 
iniciativas e experiências no mundo todo, poderiam desenvolver modelos a serem avaliados de 
forma abrangente junto a diferentes públicos, antes de ser adotado pelo MS. Resumindo, poderia 
ser promovido um concurso, com uma capacitação anterior e uma pesquisa sobre aceitação e 
compreensão dos modelos desenvolvidos. 
 
49- ... recentemente discutimos sobre um ícone para facilitar a orientação alimentar e nutricional, 
no entanto, eu considero que não existem imagens que substituam a comunicação, a afetividade 
entre as pessoas. São as emoções, mais do que a razão, que facilitam a mudança de 
comportamento. 
 
 
∞∞∞

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