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Obesidade Prof. Carlos Alberto Ferreira Obesidade • Definida com frequência como uma condição de acúmulo anormal ou excessivo de gordura no tecido adiposo, numa extensão em que a saúde pode ser prejudicada. • A doença subjacente é o equilíbrio entre energia positiva indesejável e ganho de peso. Epidemia da Obesidade e DM – Projeção para 2030 Parvez Hossain, Bisher Kawar, Meguid El Nahas . NEJM 356(3):213-215. 2007 Tipos de Obesidade • Distribuição da gordura corporal – Difusa (tipo I): aumento generalizado do tecido adiposo, sem localização preferente em nenhuma área do corpo (risco +) – Central ou andróide (tipo II): excesso de adiposidade subcutânea na região toraco- abdominal (risco +++) – Intra-abdominal ou visceral (tipo III): aumento de gordura na região abdominal, mais especificamente no compartimento visceral (risco ++++) – Gluteofemural ou ginóide (tipo IV): excesso de gordura na região glúteo femoral (baixo risco) Obesidade Andróide Obesidade Ginóide Central-Visceral Periférica Obesidade Andróide vs Obesidade Ginóide Obesidade Andróide vs Obesidade Ginóide Obesidade Andróide vs Obesidade Ginóide Gordura Andróide e Ginóide Tipos Problemas Obesidade Ginóide (Femuroglútea) - Problemas mecânicos (excesso de peso) -Problemas psicológicos Obesidade Andróide (Abdominal) Perímetro cintura: H > 94 cm M > 80 cm - Problemas cardiovasculares - Tendência para diabetes - Hipertensão - Arteriosclerose - Níveis elevados de colesterol - Níveis elevados de triglicerídeos Perímetro da Cintura (PC)* * A gordura abdominal avaliada através do PC é constituída por 2 comparti- mentos, o da gordura subcutânea (GSC) e o da gordura visceral (GV) Gordura abdominal • Subcutânea / Visceral Imagem intraoperatória de gordura abdominal subcutânea Imagem intraoperatória de gordura abdominal visceral Etiologia • Complexa e multifatorial, resultando da interação de genes, ambiente, estilos de vida e fatores emocionais. • Componentes primários no sistema neuroendócrino envolvidos com a obesidade: – O sistema aferente, que envolve a leptina e outros sinais de saciedade e de apetite de curto prazo; – A unidade de processamento do sistema nervoso central; – O sistema eferente, um complexo de apetite, saciedade, efetores autonômicos e termogênicos, que leva ao estoque energético. Etiologia • Multifatorial: – Genética : poligênica ou monogênica – Ambiental – Obesidade Secundária (RARA) : • Endocrinopatias (hipotireoidismo, cushing) • Sindrômicas (Down) • Distúrbios do comportamento alimentar • Uso de drogas (corticoídes, estrógenos, insulina, ADO, antidepressivos, anti-psicóticos e anti-convulsivantes) Ingestão Queima calórica Formação de gorduras Oxidação de gorduras Fatores genéticos Fatores ambientais Etiopatogenia • Sintomas de estresse, tais como ansiedade, depressão, nervosismo e o hábito de se alimentar quando problemas emocionais estão presentes, são comuns em pacientes com sobrepeso ou obesidade, sugerindo relação entre estresse e obesidade Balanço Energético • O ambiente moderno é um potente estímulo para a obesidade. A diminuição dos níveis de atividade física e o aumento da ingestão calórica são fatores determinantes ambientais mais fortes. • Pode-se alterar o balanço energético por aumento do consumo calórico, pela diminuição do gasto energético ou por ambos. • A maior taxa de obesidade ocorre em populações com maior grau de pobreza e menor nível educacional. Pode-se explicar essa associação pela maior palatabilidade e pelo baixo custo de alimentos de grande densidade energética, como açúcar e gorduras • Várias fases da vida, como a infância precoce e adolescência, podem influenciar o ganho de peso, como a fase intrauterina, o peso de nascimento, a amamentação, a fase de rebote do peso no período de aumento do peso que ocorre entre os 5 e 7 anos de idade e a fase puberal • O casamento pode influenciar o ganho de peso, principalmente em mulheres. • As razões podem ser redução no gasto energético e aumento na ingesta calórica por alterações nos hábitos sociais. Tecido Adiposo • Órgão responsável pela estocagem e fornecimento de energia • Adipócito é metabolicamente ativo e funciona como um órgão com ações autócrinas, parácrinas e endócrinas. • Secreção ativa de várias substâncias – Hormônios: Leptina, resistina, esteróides, visfatina – Ácidos graxos livres, LPL, APoE, CETP – Citoquinas: TNF-α, IL-6, adiponectina – Proteínas com ação cardiovascular: PAI-1, angiotensinogênio – Fatores de crescimento: IGF-1, TFG β Tecido Adiposo • LEPTINA age no SNC promovendo menor ingestão alimentar e incrementando o metabolismo energético. • RESISTINA causa resistência a insulina - aumento das concentrações de glicose no sangue sem aumenta sua recaptação. • ADIPONECTINA age como fator protetor para doenças cardiovasculares e aumenta a sensibilidade à insulina • TNF-a aumenta a lipólise, aumenta glicemia • PAI-1 inibe a fibrinólise e assim, juntamente com o fibrinogênio funciona como perpetuador do estado protrombótico, aumenta risco de IAM e ACE isquêmico • Fatores inflamatórios e trombogênicos TNF-a, IL-1 fibrinogênio múltiplos produtos secretados fígado pâncreas músculo vasos sanguíneos Visão atual: órgão endócrino/secretor Visão antiga: depósito inerte ácidos graxos alimentado TG TG TG Lyon CJ et al 2003 glicose ácidos graxos glicerol em jejum cérebro Visão ampliada do tecido adiposo: um órgão endócrino Citocinas TNF-α, IL-6 IL-8, IL-10 MCP-1 Prostaciclinas PGE2 Complemento Factor B do C’ Adipsina ASP Enzimas Citocromo P450 aromatase 17HSD, 11HSD1, PAI-1 LPL, CETP, ACE Factores de crescimento VEGF, HGF Hormônios Insulina Leptina Resistina Adiponectina Angiotensinogénio Visfatina Adaptado de Ortega & Tataranni, Diabetes 2005 Adipose tissue ↑ IL-6 ↓ adiponectina ↑ leptina ↑ TNF-α ↑ adipsina (complemento D) ↑ inibidor de ativação do plasminogênio-1 (PAI-1) ↑ resistina ↑ AGL ↑ insulina ↑ angiotensinogênio ↑ lipoproteína-lipase ↑ lactato inflamação diabetes do tipo 2 hipertensão Dislipidemia aterogênica trombose aterosclerose Lyon 2003; Trayhurn et al 2004; Eckel et al 2005 Efeitos cardiometabólicos adversos dos produtos dos adipócitos Adiponectina Tecido adiposo Propriedades antiaterogénicas Expressão das moléculas de adesão Adesão dos monócitos às células endoteliais Utilização das LDL Formação das células espumosas proliferação e migração dos SMCs Propriedades antidiabéticas: Sensibilidade à insulina Utilização da glicose e oxidação dos FFA Produção hepática de glicose TG intracelulares Riscos da Obesidade • Aterosclerose • Infarto agudo do miocárdio • Acidente vascular encefálico • Insuficiência cardíaca • Diabetes mellitus • Hipertensão Arterial • Dislipidemia • Insuficiência renal • Anovulação • Apnéia do sono • Insuficiência vascular periférica • Câncer de Cólon / Reto • Câncer de Próstata • Câncer de Vesícula Biliar • Câncer Ginecológico • Câncer Pancreático • Câncer Renal • Osteartrite • Esofagite de refluxo • Esteato-hepatite • Gota • Alterações psicossociais • Estigma • Hipoventilação Alveolar Diagnóstico • Em geral, não é difícil reconhecer a obesidade ou até mesmo o sobrepeso, mas o diagnóstico correto requer que se identifiquem os níveis de risco, o que, frequentemente, necessita de algumas formas de quantificação. • No passado, o padrão-ouro para avaliar o peso era a pesagem dentro d´água (peso submersoou hidrostático). Mais recentemente, técnicas de imagem, tais como ressonância magnética, tomografia computadorizada e absorciometria com raios-X de dupla energia (dexa), têm sido alternativas, mas o custo e a falta dos equipamentos necessários impedem o uso dessas técnicas na prática clínica. • Alternativas como a medida da prega cutânea, ultrassonografia, análise de bioimpedância e espectroscopia por raios infravermelhos encontram-se disponíveis e são relativamente baratas. Avaliação • HDA – Cronologia do ganho de peso e fatores exacerbantes – Tentativas anteriores de perda de peso – Alimentação: recordatório de 24h (tipos de alimentos, porções, calorias, preparados ou comprados) – Atividade física – Ambiente familiar – Ocupação do paciente – Expectativas do paciente Avaliação • Antecedentes pessoais, patológicos e familiares • Medicações em uso • Exame físico: – IMC – Cintura – PA – Tireóide – Pele (acantose nigrans, estrias, equimoses) Avaliação • Exames laboratoriais: – Glicemia de jejum e perfil lipídico – Hemog, FR, FH, TSH, T4l, ATPO, Ac Úrico – TTGO – Insulina, Cortisol urinário – FSH, LH, estradiol, testosterona, prolactina – Us Abdominal – Teste de esforço – Outros Diagnóstico – Medidas Antropométricas • Massa corporal (isolado) • Massa corporal ajustada para a altura • IMC • Distribuição de gordura Índice de Massa Corporal (IMC) Classificação IMC (kg/m2) Risco de Comorbidades Baixo peso < 18,5 Baixo Peso normal 18,5-24,9 Médio Sobrepeso ≥ 25 - Pré-obeso 25,0 a 29,9 Aumentado Obeso I 30,0 a 34,9 Moderado Obeso II 35,0 a 39,9 Grave Obeso III ≥ 40,0 Muito grave IMC - Limitações • Não distingue massa gordurosa de massa magra; • Não reflete, necessariamente, a distribuição da gordura corporal; • Não indica necessariamente o mesmo grau de gordura em populações diversas. Massa Gordurosa e Distribuição de Gordura • Medição da espessura das pregas cutâneas • Bioimpedância • Ultrassonografia • Tomografia computadorizada • Ressonância magnética • Relação circunferência abdominal/quadril (RCQ) • Medida da circunferência abdominal Pesagem Hidrostática VGIVR Da MSMC MC DC 1005,4 95,4 % X DC G SIRI (1961) BROZEK (1963) 100142,4 57,4 % X DC G - DC = densidade Corporal - MC = Massa Corporal - MS = Massa do Indivíduo Completamente Submerso - Da = Densidade da Água na Temperatura Vigente - VR = Volume Residual - VGI = Volume gastrointestinal Pesagem Hidrostática Orientações Pré avaliação - Não ingerir líquido ou alimentos até quatro horas antes do exame - Não beber álcool nas 48 horas que antecedem o exame - Não aplicar em mulheres menstruadas - Não usar diuréticos por uma semana - Urinar até 30 minutos antes Bioimpedância Equações para Predição de Massa Isenta de Gordura 49,5295,0/476,0)( 2 corporalmassaRcmemestaturakgMLG - Mulheres de 18 a 29 anos - Homens de 18 a 29 anos 32,5338,0/485,0)( 2 corporalmassaRcmemestaturakgMLG Bioimpedância DEXA Absorciometria de Radiológica de Dupla Energia Plestimografia (Body Pod) Antropometria Índice de Relação Cintura / Quadril (RCQ) Classificação Cintura / Quadril (cm) Homens Mulheres Normal Até 0,94 Até 0,82 Índice de Relação Cintura / Quadril (RCQ) Normas de classificação do RCQ por idade para Homens Idade Baixo Moderado Alto Muito Alto Até 29 < 0,83 0,83 – 0,88 0,89 – 0,94 > 0,94 30 – 39 < 0,84 0,84 – 0,91 0,92 – 0,96 > 0,96 40 – 49 < 0,88 0,88 – 0,95 0,96 – 1,00 > 1,00 50 – 59 < 0,90 0,90 – 0,96 0,97 – 1,02 > 1,02 > 59 < 0,91 0,91 – 0,98 0,99 – 1,03 >1,03 Índice de Relação Cintura / Quadril (RCQ) Normas de classificação do RCQ por idade para Mulheres Idade Baixo Moderado Alto Muito Alto Até 29 < 0,71 0,71 – 0,77 0,78 – 0,82 > 0,82 30 – 39 < 0,72 0,72 – 0,78 0,79 – 0,84 > 0,84 40 – 49 < 0,73 0,73 – 0,79 0,80 – 0,87 > 0,87 50 – 59 < 0,74 0,74 – 0,81 0,82 – 0,88 > 0,88 > 59 < 0,76 0,76 – 0,83 0,84 – 0,90 >0,90 Circunferência Abdominal Risco de complicações metabólicas Homem Mulher Nível de ação Aumentado ≥ 94 ≥ 80 1 Aumentado substancialmente ≥ 102 ≥ 88 2 Gordura Hiperplásica e Hipertrófica Obesidade Hiperplásica ou Hiperplasia Adipocitária • Fase fetal o gravidez (aumento de peso da mãe) • No primeiro ano de vida (consumo precoce de alimentos como papinhas e leite artificial) • Pré – escolar (socialização/hábitos alimentares inadequados) • Puberdade (alterações hormonais, sócio-culturais e sedentarismo) • Menopausa (queda do estrógeno desacelerando o metabolismo e aumentando o peso) Gordura Hiperplásica e Hipertrófica Mudanças na Celularidade Adiposa com Redução Ponderal em Indivíduos Obesos Peso Corporal 149 kg 103 kg 75 kg Dimensão dos adipócitos 0,9 µg / célula 0,6 µg / célula 0,2 µg / célula Número de adipócitos 75 bilhões 75 bilhões 75 bilhões Dados de HIRSH, J.: Adipose cellularity in relation to human obesity. Risco de ser um adulto obeso Situação Risco Não obeso quando criança 7% Obeso quando criança 14% Não obeso aos 7 anos 11% Obeso aos 7 anos 41% Obeso aos 12 anos 75% Obeso quando adolescente 96% Tratamento • Complexo e multidisciplinar • Embora se possa utilizar medicamentos, dietas de valor calórico muito baixo e, às vezes, cirurgia nos graus II e III, as mudanças de estilo de vida por meio de aumento do conhecimento e técnicas cognitivo- comportamentais são ainda fundamentais. A escolha do tratamento deve basear-se na gravidade do problema e na presença de complicações associadas. Tratamento • Dieta hipocalórica • Atividade física • Psicoterapia • Medicamentos • Cirurgia bariátrica Tratamento Farmacológico 1. IMC de 30 kg/m2 ou 25 kg/m2 na presença de comorbidades; 2. Falha em perder peso com o tratamento não farmacológico. Tratamento Dietético • O tratamento dietético é mais bem-sucedido quando aliado a aumento no gasto energético e a um programa de modificação comportamental. • O sucesso de qualquer dieta depende de um balanço energético negativo. • Para o sucesso do tratamento dietético, deve-se manter mudanças na alimentação por toda a vida. Dietas muito restritivas, artificiais e rígidas não são sustentáveis. Um planejamento alimentar mais flexível, que objetive reeducação, geralmente obtém mais sucesso. • O método, a velocidade de perda de peso, o ajuste fisiológico e a habilidade de manter as mudanças comportamentais de dieta e atividade física é que determinarão o sucesso, em longo prazo, de qualquer programa de emagrecimento. • Qualquer dieta prescrita para reduzir peso tem de considerar, além da quantidade de calorias, as preferências alimentares do paciente, o aspecto financeiro, o estilo de vida e o requerimento energético para a manutenção da saúde. Atividade Física • Como a gasto energético é função da duração, intensidade e freqüência do exercício, um mesmo dispêndio energético pode ser obtido fazendo longas sessões de atividades mais leves ou sessões mais curtas de atividades estressantes. Atividade Física • Parte integral da terapia de perda de peso e sua manutenção. • Recomendado: • Níveis moderados de atividade 30 a 45 min., 3- 5 dias/sem. • Caminhadas diárias: – Iniciar 10 minutos, 3 dias/ semana – Progredir 30 a 45 minutos 3 dias/ semana – Aumentar para caminhadas diárias. • Reduzir o tempo sedentário. • Aumentar atividades rotineiras
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