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David Hume Tema: Com este texto estudaremos a epistemologia de David Hume contida em seu livro Tratado sobre a Natureza Humana. Importância: O profundo pensamento humeano influenciou tanto seus contemporâneos, como os pensadores posteriores, portanto a relevância de nossa análise desde já se encontra justificada. Objetivo: Desejamos analisar a perspectiva cética deste pensador, que é considerada um das mais corrosivas do pensamento ocidental. Metodologia: Na busca do entendimento das reflexões de David Hume utilizamos a pesquisa bibliográfica, a partir de sua opus major. Num primeiro momento apresentaremos sua biobiliografia; a partir destes dados iniciais indicaremos sua posição no pensamento filosófico; por fim analisaremos seu Tratado sobre a Natureza Humana, a fim de indicarmos os pontos principais deste livro, que ainda recai sobre as verdades como um pesadelo constante. David Hume pode ser caracterizado como empirista (no que diz respeito à origem do conhecimento); cético (quando se trata da metafísica) utilitarista (com relação à moral e à política): “com a idade de 26 anos, chocou toda a cristandade com seu altamente herético Tratado sobre a natureza Humana – um dos clássicos e uma das maravilhas da filosofia moderna. Só conhecemos a mente, disse Hume, como conhecemos a matéria: pela percepção, embora nesse caso ela seja interna. Nunca percebemos qualquer entidade como a ‘mente’; percebemos meramente ideias, memórias, sentimentos, etc., separados. A mente não é uma substância, um órgão que tenha ideias; trata-se apenas de um nome abstrato para a série de ideias, as percepções, memórias e sentimentos são a mente; não existe uma ‘alma’ observável por detrás dos processos de pensamento.”1 Para David Hume a epistemologia é um conhecimento abstrato, o qual nenhum homem sóbrio pode crer. David Hume identifica dois tipos de percepções: impressões; ideias (pensamentos). Aquelas são “percepções mais vivas”, as quais nos dão o conhecimento por intermédio dos sentidos, por esse motivo são mais intensas que as ideias. Enquanto que as ideias são representações das impressões no pensamento: o termo ideia utilizado por ele não tem o mesmo significado que em John Locke, pois para ele as ideias dependem tanto das experiências, como dos sentidos. O pensamento não é uma atividade ilimitada, uma vez que se limita à combinação dos dados adquiridos pelas sensações externas ou internas. Deste modo, podemos ver que todas as nossas ideias são frutos de experiências anteriores. Ao fazer a divisão conhecimento, em impressões e ideias, possibilitou o surgimento de um empirismo radical, porque introduz um critério, para decidir sobre a verdade das nossas ideias: para uma ideia ser verdadeira deve 1 DURANT, Will. A História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2000, pp. 248-9. corresponder a alguma impressão, portanto, o limite do nosso conhecimento são impressões. Seção III Da associação das ideias As ideias se conectam por: semelhança; contiguidade; causa e efeito. São eles os laços que unem os pensamentos e originam as reflexões ou discursos. Seção IV Dúvidas céticas sobre as operações do entendimento Hume distingue os objetos da Razão ou da investigação humanas em duas relações: de ideias; de fatos. Não é necessário lembrar que essa diferenciação nos remete à classificação elaborada por Leibniz: verdades de razão e verdades de fato. Quanto ao primeiro tipo de conhecimento ele é independente dos fatos, por exemplo, os conhecimentos da lógica e da matemática. As relações que há entre essas ideias são formuladas em proposições analíticas e necessárias. Suas afirmações são intuitiva e demonstrativamente corretas, por exemplo, dois mais dois igual a quatro. Elas são operações do intelecto e não se referem a nada empírico. O conhecimento de fatos se justifica na experiência, nas impressões. As suas proposições não são demonstrativamente falsas. Seus raciocínios fundam-se na relação de causa e efeito: “Ousarei afirmar, como proposição geral, que não admite exceção, que o conhecimento desta relação não se obtém, em nenhum caso, por raciocínios a priori, porém nasce inteiramente da experiência quando vemos que quaisquer objetos particulares estão constantemente conjuntados entre si.”2 Os objetos não trazem nas suas qualidades, que se apresentam aos sentidos, as causas e/ou os efeitos possíveis. O mesmo ocorre com a Razão caso ele não seja acompanhada de experiências. A relação de causa e efeito não é dada pela Razão, mas pela experiência: “não temos dificuldade em atribuir todo nosso conhecimento à experiência.”3 Por mais que o espírito investigue minuciosamente ele não conseguirá determinar a partir do efeito sua causa, porque o efeito é diferente da causa. A única possibilidade seria por intermédio da experiência e da observação. Na segunda parte desta seção encontramos a classificação dos tipos de raciocínios: demonstrativos; morais. Estes tratam das questões de existências e de fatos, ao passo que aqueles nos remetem às relações de ideias. 2 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, pp. 49-50. 3 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 50. Seção IV Solução cética destas dúvidas Primeira parte “Os acadêmicos [céticos] falam sempre da dúvida e da suspensão do juízo, do risco das resoluções apressadas, em confinar as investigações do entendimento a estreitos limites e em renunciar a todas as especulações que transbordam as fronteiras da vida e da prática cotidianas.”4 Hume fica admirado com todas acusações contra o ceticismo, pois ela é inofensiva. Talvez, diz ele, seja esse o motivo de tanto ódio a ponto de acusá-la de libertina e irreligiosa. A preocupação do ceticismo se limita às investigações diárias. Nos raciocínios céticos não se apoia em argumentos do entendimento, mas tão somente na experiência. O raciocínio não é capaz de identificar uma relação de causa e efeito: não se pode deduzir que um evento seja causa e outro efeito simplesmente, porque um antecede o outro. Essa relação encontrada pelo raciocínio nada mais é que um costume ou hábito: “o costume é o último princípio que podemos assinalar em todas as nossas conclusões derivadas da experiência. [...] o costume nos determina a esperar um devido ao aparecimento do outro. [...] Portanto, todas as inferências tiradas da experiência são efeitos do costume e não do raciocínio.”5 Desse modo Hume nos leva a concluir que um raciocínio que não seja pautado pela experiência é apenas hipotético e que é um conhecimento sem fundamento. 4 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 59. 5 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, pp. 61-62. A reflexão humeana reduz, em primeiro lugar, o conhecimento às impressões atuais. Em segundo a recordação nada mais seria do que impressões passadas. Por fim o conhecimento do futuro seria impossível, uma vez que não é possível ter impressões do futuro. Segunda parte Nessa parte Hume distingue a ficção da crença. A diferença ocorre em um sentimento localizado à crença. Essa é mais viva que a imaginação: “é qualquer coisa sentida pelo espírito, que distingue as ideiasdos juízos das ficções da imaginação.”6 A origem da relação de causa e efeito depende por completo da experiência e do hábito e não da Razão. 6 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 67. Seção VI Da probabilidade Hume admite que não há acaso no mundo, entretanto a ignorância a respeito da causa de um evento origina essa crença. “Como o costume nos determina a transferir o passado para o futuro em todas as nossas inferências, esperamos – se o passado tem sido inteiramente regular e uniforme – o mesmo evento com a máxima segurança e não toleramos qualquer suposição contrária.”7 Seção VII Da Ideia de Conexão Necessária Primeira parte David Hume inicia essa parte afirmando que a diferença básica entre as ciências matemáticas e morais se encontra na clareza e distinção daquelas. Não obstante, essa vantagem termina aí, porque a cadeia de raciocínios das matemáticas são mais longas do que as das ciências morais: “Portanto, o principal obstáculo para o nosso aperfeiçoamento nas ciências morais ou metafísicas consiste na obscuridade das ideias e na ambiguidade dos termos. A principal dificuldade nas matemáticas refere-se à extensão das inferências e do pensamento necessário para formular qualquer conclusão.”8 Ele admite que as “ideias são cópias de impressões”. As ideias complexas nada mais são do que enumerações de ideias simples. Ao observarmos um único caso de causa e efeito não 7 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 73. 8 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 75. podemos descobrir uma conexão necessária. Assim, os objetos externos não são capazes de nos fornecer essa conexão a partir de um só caso. David Hume chama atenção para o fato de que muitos filósofos recorrem ao mesmo argumento do vulgo ao aceitar o espírito ou a inteligência como causa do que ocorre na natureza: pretendem que tudo tenha como causa um Ser Supremo. Segunda parte Depois de todo o arrazoado anterior David Hume concluiu que na natureza não encontramos uma caso sequer no qual possamos, por intermédio da Razão, fazer uma conexão possível, portanto, a ideia de conexão não significa nada. Ao encontrarmos uma conexão entre uma causa e um efeito devemos ter claro que ela existe apenas em nosso pensamento. Ele define causa “como um objeto seguido por outro, de tal forma que todos os objetos semelhantes ao primeiro são seguidos de objetos semelhantes aos segundos.”9 Resumindo essa segunda seção ele diz que “toda ideia é copiada de uma impressão ou de uma sensação precedentes.”10 Caso não possamos identificar a impressão, então, podemos concluir que a ideia não existe. Seção VIII Da Liberdade e da Necessidade 9 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 86. 10 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, pp. 86-7. Primeira parte David Hume afirma que pretende mostrar que a respeito das doutrinas da necessidade e da liberdade a confusão se faz devido somente às palavras empregadas. A fim de termos uma concepção exata da necessidade é preciso analisar sua origem. Caso tudo mudasse constantemente na natureza seria impossível chegar à noção de necessidade: não seria possível ao homem conhecer a relação de causa e efeito. Portanto, a ideia de causa e efeito tem sua origem dos acontecimentos naturais, sendo, pois, o espírito determinado pelo costume de inferir o aparecimento de algo como tendo origem em outro elemento: “Além da conjunção constante de objetos semelhantes e da consequente inferência de um para o outro, não temos nenhuma ideia de qualquer necessidade ou conexão.”11 Com relação aos filósofos ocorre que eles estabelecem a conexão necessária entre causa e efeito, entretanto quando essa não ocorre afirmam ser devido a uma “desconhecida oposição de causas contrárias.”12 É um equívoco estudar a liberdade13 e a necessidade “examinando as faculdades da alma, a influência do entendimento e as operações da vontade.”14 É preciso começar por um ponto mais simples: analisar o corpo e a matéria bruta, a fim de saber se é possível tirar alguma ideia 11 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 90. 12 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 94. 13 “um poder de agir ou não agir segundo as determinações da vontade; [...].” In HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 100. 14 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 98. de causalidade e necessidade. A liberdade se opondo à necessidade é sinônimo de acaso, o qual todos estão de acordo: não existe. Segunda parte A necessidade é definida por David Hume de duas maneiras: “ou na conjunção constante de objetos semelhantes, ou na inferência que faz o entendimento de um objeto a outro.”15 Seção IX Da Razão dos Animais “Se as causas são inteiramente semelhantes, a analogia é perfeita e a inferência, tirada delas, é considerada segura e conclusiva; [...].”16 15 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 101. 16 HUME, D.. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 106.
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