Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DOCÊNCIA E GESTÃO DO ENSINO SUPERIOR PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR Mônica Silva Barbosa Mello PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 1 Prezado aluno, Esta apostila é a versão estática, em formato .pdf, da disciplina online e contém todas as informações necessárias a quem deseja fazer uma leitura mais linear do conteúdo. Os termos e as expressões destacadas de laranja são definidos ao final da apostila em um conjunto organizado de texto denominado NOTAS. Nele, você encontrará explicações detalhadas, exemplos, biografias ou comentários a respeito de cada item. Além disso, há três caixas de destaque ao longo do conteúdo. A caixa de atenção é usada para enfatizar questões importantes e implica um momento de pausa para reflexão. Trata-se de pequenos trechos evidenciados devido a seu valor em relação à temática principal em discussão. A galeria de vídeos, por sua vez, aponta as produções audiovisuais que você deve assistir no ambiente online – aquelas que o ajudarão a refletir, de forma mais específica, sobre determinado conceito ou sobre algum tema abordado na disciplina. Se você quiser, poderá usar o QR Code para acessar essas produções audiovisuais, diretamente, a partir de seu dispositivo móvel. Por fim, na caixa de Aprenda mais, você encontrará indicações de materiais complementares – tais como obras renomadas da área de estudo, pesquisas, artigos, links etc. – para enriquecer seu conhecimento. Aliados ao conteúdo da disciplina, todos esses elementos foram planejados e organizados para tornar a aula mais interativa e servem de apoio a seu aprendizado! Bons estudos! PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 2 Pesquisa e docência no Ensino Superior - Apostila Aula 2: Saber docente e científico Introdução Nesta segunda aula, refletiremos sobre a importância do conhecimento científico na prática pedagógica – a prática científica no mundo real – e sobre o papel da pesquisa nesse contexto. Discutiremos, ainda, sobre as principais linhas de pensamento das Ciências Humanas e Sociais: a fenomenologia, o estruturalismo e o marxismo. O debate sobre esses temas dará a você subsídios para pensar, com mais clareza, na pesquisa que fará ao final do curso. Então, vamos lá! Objetivo: 1. Reconhecer a relevância da pesquisa no cotidiano pedagógico e seus principais tipos; 2. Diferenciar as principais correntes de pensamento das Ciências Humanas e Sociais. Conteúdo O que é pesquisa? Vocês já devem ter ouvido, muitas vezes, ao longo de suas vidas acadêmicas, falar em pesquisa. Mas será que sabemos realmente por que se perde tanto tempo fazendo pesquisa e qual é sua verdadeira contribuição para a vida profissional? Então, vamos esclarecer esses questionamentos... PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 3 Existem várias definições para pesquisa, mas optamos por conceituá-la como um processo racional, formal e sistemático, baseado em um método científico, cujo objetivo é procurar respostas a problemas propostos. A pesquisa é demandada quando não temos informações suficientes para responder determinado problema ou quando estas não são sistematizadas para chegarmos a nossos objetivos. Trata-se, ainda, de um estudo realizado para obter novos fatos ou dados, novas leis e relações em qualquer campo do conhecimento. No caso das Ciências Sociais, a pesquisa tem importância fundamental na obtenção da solução para problemas coletivos. A pesquisa nada mais é do que uma forma de investigação. Não é possível fazer pesquisa sem que haja um problema para resolver ou uma pergunta para responder. De acordo com Demo (2006), o importante é cotidianizá-la como um processo normal, tirá-la do patamar restrito da ciência e trazê-la para nossa realidade, transformando-a em um processo educativo, em uma atividade humana processual. Em outros termos, precisamos libertar a pesquisa do exclusivismo acadêmico-científico. Atenção Você se lembra da aula anterior, em que distinguimos a ciência de outros tipos de saber? Chegamos à conclusão de que, para ser validado, o conhecimento necessita de metodologia. O mesmo vale para a pesquisa: para que uma investigação tenha credibilidade, precisamos discutir sobre a metodologia a ser seguida. Afinal, a despreocupação metodológica define um baixo nível acadêmico. Vamos entender, melhor, a seguir quais são os objetivos do estudo investigativo. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 4 Finalidades da pesquisa As principais finalidades da pesquisa são descobrir respostas para questões que nos instigam, bem como tentar conhecer e explicar fenômenos da realidade. Em resumo, trata-se de contestar as seguintes perguntas: Como esses fenômenos ocorrem? Por que e como se realizam? Qual é sua função e sua estrutura? O que eles provocam? Eles sofrem influências? Quais? Eles podem ser controlados? A partir desses questionamentos, levantamos hipóteses, que poderão ser confirmadas ou descartadas. Quando formuladas e aplicadas, as hipóteses devem responder as questões que constituem o problema da pesquisa. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 5 Pesquisa: teórica x prática A pesquisa sempre parte de um problema e, dependendo de seu tipo, esse estudo pode atender a várias finalidades, sejam estas teóricas ou práticas. Dessa forma, a pesquisa pode ser: Pura Modalidade de pesquisa que busca desenvolver o progresso da ciência e que melhora o conhecimento sem a preocupação direta com suas aplicações e consequências práticas. Trata-se do estudo cada vez mais aprimorado do problema. Nesse caso, a intenção é saber o PORQUÊ de algum fenômeno. Exemplo: teoria da relatividade. Aplicada Modalidade de pesquisa que tem como característica fundamental sua aplicabilidade, a utilização e a consequência prática do conhecimento produzido. Ainda assim, a pesquisa aplicada está relacionada à pesquisa pura, que produz o saber para o desenvolvimento daquela. Nesse caso, a intenção é saber COMO resolver determinado problema. Esse tipo de investigação é mais utilizado pelas Ciências Sociais. Exemplo: ideias para diminuir o índice de evasão escolar. Tipos de pesquisa As pesquisas são classificadas de acordo com os enfoques dados pelo pesquisador – FINS – e com os critérios por ele utilizados – MEIOS. Vamos nos basear, aqui, na proposta de Gil (1991), que classifica a pesquisa quanto: PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 6 Exploratória Pesquisa cuja finalidade é desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias. Esse tipo de investigação é realizado nas áreas em que há pouco conhecimento acumulado. Normalmente, ele se torna uma pesquisa bibliográfica ou um estudo de caso. Descritiva Pesquisa que não tem compromisso com a explicação de fenômenos e que descreve e utiliza técnicas padronizadas de coletas de dados. Explicativa Pesquisa cuja preocupação é identificar os fatores que definem determinado fenômeno ou que contribuem para tal definição. Esse tipo de investigação explica a razão dos fatos e aprofunda o conhecimento da realidade. Por isso, ele é o mais complexo. Estudo de campo Pesquisa que se aprofunda em uma realidade específica e que se baseia na observação direta e em entrevistas para interpretações dessa realidade. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 7 Levantamento Interrogação direta de pessoas ou grupos realizada por quem deseja estudar algo. Esse tipo de pesquisa se baseia em uma análise quantitativa para gerarconclusões. Experimental Investigação empírica em que o pesquisador manipula e controla as variáveis. Esse tipo de pesquisa observa e analisa um fenômeno. Documental Pesquisa que utiliza documentos, relatórios, tabelas etc. – materiais que ainda não receberam tratamento analítico. Bibliográfica Pesquisa que se baseia em trabalhos já existentes, em livros e artigos científicos, em materiais acessíveis ao público. Horizontes da pesquisa Como forma de construção de conhecimento, a pesquisa oferece uma multiplicidade de horizontes. Há muitas razões para que realizemos uma investigação! Costuma-se classificá-la em dois grandes grupos, quais sejam: Pesquisa de ordem intelectual Trabalho que contribui para o progresso da ciência. Seus resultados representam novas conquistas. Pesquisa de ordem prática Investigação que pode formular problemas cujo resultado seja importante para subsidiar ações, para avaliá-las ou, ainda, para elaborar um prognóstico de acontecimentos que visem planejar um ato. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 8 E esses grupos estão relacionados. Afinal, uma pesquisa de ordem intelectual, que objetiva o conhecimento puramente acadêmico, contribuirá sempre para uma pesquisa de ordem prática, fornecendo conhecimentos passíveis de aplicação imediata. Da mesma forma, uma pesquisa sobre problemas práticos poderá determinar a descoberta de princípios científicos. Contudo, de acordo com Demo (2006), somente o que pode ser discutido tanto na teoria quanto na prática pode ser aceito como científico. Atenção Identificamos, então, vários fatores que nos levam a formular um problema de pesquisa. O pesquisador pode se interessar por áreas já exploradas ou levantar uma questão sobre algo inédito. Pesquisa-ação Uma das formas de pesquisa mais utilizadas, ultimamente, como proposta metodológica é a pesquisa-ação, que tem como objetivo a intervenção ou transformação de uma realidade. Como o próprio nome já indica, essa metodologia opta por trabalhar com a pesquisa e com a ação em conjunto, o que significa que devemos CONHECER para AGIR. Na verdade, esse tipo de investigação surgiu para acabar com a dicotomia: teoria X prática. Trata-se de inserir a pesquisa na prática e de socializar o conhecimento. Por isso, tal estudo aproxima muito o sujeito de seu objeto de pesquisa. Nesse contexto, a pesquisa-ação torna-se essencial à práxis pedagógica exercida pelos professores que objetivam mudanças e emancipações dessa realidade. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 9 Pesquisa-ação e a práxis pedagógica Quando se preocupa com um fenômeno social, a pesquisa pretende retratar o que se passa no dia a dia das escolas e universidades, buscando demonstrar: • A complexa interação entre os diversos atores presentes nesses espaços; • O processo de construção do conhecimento; • A política de poder dentro da educação. De acordo com Lüdke e André (1986), há outras formas de pesquisa normalmente aplicadas no contexto educacional, tais como: Pesquisa etnográfica Estudo descritivo da cultura dos povos, dos costumes, das crenças e tradições de uma sociedade. Disponível em: http://goo.gl/Dm199w. Acesso em: 4 nov. 2014. Pesquisa participativa Forma de pesquisa em que há um envolvimento legítimo entre o pesquisador e o objeto pesquisado. Disponível em: http://goo.gl/ID0z9T. Acesso em: 4 nov. 2014. Estudo de caso Estudo aprofundado de uma unidade individual, que pode ser: uma pessoa, um grupo de pessoas, uma instituição ou um evento. Disponível em: http://goo.gl/wOhIo1. Acesso em: 4 nov. 2014. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 10 Atividade proposta 1 Antes de darmos continuidade a esta aula, vamos fazer uma atividade para testar seus conhecimentos! A partir do estudo dos tipos de pesquisa e de seus objetivos, explique a seguinte classificação de Gil (1991): “As pesquisas descritivas referem-se ao QUÊ e as explicativas, ao PORQUÊ”. A pesquisa descritiva tem como objetivo descrever as características de determinado objeto de investigação: um grupo social, um fenômeno ou uma experiência. Já a pesquisa explicativa aprofunda o conhecimento da realidade, explica a razão de um fato, identifica os fatores que contribuem para a ocorrência e para o desenvolvimento do fenômeno. Linha de pensamento em ciências sociais Todo estudo investigativo deve partir de um embasamento teórico, e o problema da pesquisa têm de ser formulado dentro de uma corrente de pensamento. As teorias são muito importantes no processo de investigação das Ciências Sociais, pois são elas que vão nos ajudar a construir a hipótese da pesquisa e sugerir a metodologia que lhe é mais apropriada. Sendo assim, o pesquisador precisa definir as vertentes teóricas que fundamentarão seu trabalho de pesquisa. A pesquisa e a educação têm sido orientadas por três linhas de pensamento contemporâneo: PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 11 A partir de agora, faremos uma breve exposição sobre cada uma delas, de modo que você possa se familiarizar com essas teorias e optar por aquela que melhor se enquadra a seu futuro trabalho de pesquisa. Fenomenologia A fenomenologia surgiu no início do século XX e se caracteriza por se opor à separação entre o sujeito produtor do conhecimento e o próprio conhecimento. Afinal, estuda os fatos por si só, em suas essências. Em outros termos, essa filosofia examina a intencionalidade da consciência. Trata-se de descrever um fenômeno, e não de explicá-lo ou analisá-lo a partir da história de vida do pesquisador, que influencia sua observação. Essa tendência é totalmente orientada para o objeto. Nesse caso, a observação do pesquisador vai depender dos significados que ele atribui à realidade, o que não garante a objetividade da ciência. Para os fenomenólogos, tudo o que não for absolutamente justificável não tem valor. De acordo com essa linha de pensamento, a verdade é provisória até que um novo fato mostre outra realidade. Por isso, aqui, há a descrição pura dessa realidade. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 12 Entretanto, não se aceita nenhuma conclusão que não seja verificável e que seja válida para todos os homens e para todas as épocas. Em resumo, a fenomenologia é um método de evidenciação muito utilizado pelos psicólogos e destinado a resolver problemas filosóficos. Conheça os expoentes da Fenomenologia. Estruturalismo O Estruturalismo ganhou força na segunda metade do século XX e propõe uma noção de estrutura para explicar a realidade: os fatos humanos assumem a forma de sistemas, que criam seus próprios elementos. Cada um deles tem determinada posição baseada em seus sentidos e em sua função. São essas estruturas que controlam o comportamento humano de forma inconsciente. Essa teoria parte, então, do pressuposto de que a realidade é como um sistema formado por partes interdependentes. Quando uma se modifica, todas as outras bem como seu próprio conjunto sofrem modificações. Para essa linha de pensamento, o fato isolado não possui significado. Conheça os defensores do Estruturalismo. A imagem acima ilustra bem o pensamento estruturalista, pois, de acordo com essa teoria, não podemos estudar um fato separadamente, já que qualquer fenômeno compõe um todo que influenciará todas as suas partes. Considerando tal inter-relação das partes do objeto, o método estruturalista é tratado como analítico-comparativo.Afinal, procura alcançar as leis universais que explicam o funcionamento dos fenômenos humanos. O estruturalismo proporcionou que a ciências criassem métodos específicos para investigar seus objetos. Por isso, essa metodologia é comumente adotada para estudar a língua, a cultura e a sociedade em geral. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 13 2005 Trata-se de um estudo sincrônico que analisa o objeto relacionado apenas ao que lhe é pertinente, quase que imóvel no tempo. O que interessa, aqui, são os resultados extraídos das observações diretas e o que se pode obter através delas – como ocorre no positivismo. Por se basear na sincronia e tratar o objeto como algo invariável e estável, desconsiderando-o historicamente – tal qual o ideário marxista, que será abordado a seguir –, o estruturalismo recebeu muitas críticas. Marxismo O marxismo foi fundado por Karl Marx no século XIX e revolucionou o pensamento filosófico. Essa linha de pensamento pode ser dividida em quatro fases, de acordo com seus respectivos defensores. Vejamos: 1° fase Representada por Marx. 2° fase Representada por Marx e Friedrich Engels, que trabalharam juntos. 3° fase Baseada nas contribuições de Vladimir Ilitch Lênin. 4° fase Contemporânea, representada por PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 14 Em relação à pesquisa – principalmente no que se refere à pesquisa educacional –, o marxismo abarca três aspectos principais: o materialismo dialético, o materialismo histórico e a economia política. Por ser uma vertente tão complexa e polêmica, discutiremos, de forma breve, sobre o assunto, dando ênfase apenas a suas principais características. As ideias marxistas têm origem em Friedrich Hegel. Foi a partir da visão desse pensador que Marx desenvolveu sua concepção de materialismo do mundo. Esse filósofo e historiador compreendia que os fatos humanos são resultado das relações do homem com a natureza na luta pela sobrevivência. Para mantê- las, o grupo social formula ideias, valores e símbolos, que vão caracterizar e unir esse conjunto de pessoas. Baseadas em tal visão, as Ciências Humanas puderam compreender que as mudanças históricas resultam de lentos processos sociais, econômicos e políticos, e não de ações súbitas. Materialismo histórico x materialismo dialético O marxismo sistematiza a nova visão de mundo baseada no capitalismo, tendo o trabalho como seu foco principal. Em termos de doutrina, podemos dividir essa vertente em duas teorias: O materialismo histórico O materialismo histórico diferencia o homem dos animais, fundamentando- se na capacidade humana de recriar suas necessidades, enquanto as necessidades dos animais são fixas e imutáveis. Os seres humanos estão PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 15 submetidos a uma evolução real e são acometidos por determinadas condições materiais e históricas. Dessa forma, a história não é formada de fatos mortos, e o homem só é caracterizado pela produção e reprodução de suas condições de existência. Por isso, as condições socioeconômicas – infraestrutura – determinam a cultura, o regime político, a moral e os costumes – superestrutura. O materialismo dialético O materialismo dialético está baseado na concepção da realidade, que, para Marx, não é estática, e sim dinâmica, passível de transformações – tanto qualitativas quanto quantitativas. Essa base filosófica do marxismo preocupa-se em buscar explicações coerentes para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento humano, pois seu fundamento está pautado em uma explicação lógica do mundo. Portanto, o materialismo dialético não se restringe a um saber específico, preso a determinado setor do conhecimento, mas cuida das leis mais gerais, da realidade objetiva. Isso levou à construção da teoria do conhecimento e à identificação da importância da prática social como critério de verdade. De acordo com essa concepção, as verdades científicas representam graus de saber limitados pela história. Em resumo, o materialismo dialético é considerado uma das molas propulsoras das transformações históricas, dos problemas e das crises dos sistemas econômicos, que provocam lutas, reflexões e novas formas de ordenação da sociedade, de modo a atender a novas demandas. Quando opta pelo marxismo como embasamento teórico de seu trabalho de pesquisa, o pesquisador adota a dimensão histórica dos processos sociais. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 16 Entroncamento das teorias No decorrer destas duas primeiras aulas, estudamos várias teorias e ideias relacionadas às Ciencias Humanas e Sociais, formuladas a partir das decisões de pensadores em relação a seus objetos de estudo – sempre com o objetivo de dar respostas a problemas práticos ou técnicos. O assunto é bastante complexo e instigador! É exatamente isto que torna a ciência um assunto delicado: decidir por que caminhos seguir. Agora, com os conhecimentos teóricos adquiridos até aqui, comece a pensar no tema de sua pesquisa, lembrando que este deve ser de seu interesse e desenvolvido de acordo com sua aptidão e com suas qualificações. Ultimamente, não se têm exigido originalidade dos temas de investigação, mas eles devem: Ter um novo enfoque – diferente do que já foi apresentado em outros estudos. Valer-se de materiais – tais como documentos e grupos de pesquisa – ainda não utilizados em trabalhos já existentes. Rebater pesquisas anteriores. Atenção Sua pesquisa tem de ser, também, exequível, isto é, viável em termos de disponibilidade de: • Tempo para sua execução; • Recursos humanos ou materiais para sua elaboração; • Recursos financeiros para sua concretização. Diante do exposto, resumimos algumas perguntas que podem ser feitas antes da escolha do tema de pesquisa. Vejamos: Quem já pesquisou algo semelhante? Quais são as fontes disponíveis para minha pesquisa? PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 17 Por que estudar esse tema? Quais são as vantagens e os benefícios que a pesquisa proporcionará? Qual a importância do tema sob o aspecto pessoal ou cultural? Escolha do problema de pesquisa Além do tema, a escolha do problema de pesquisa é um momento decisivo na elaboração de seu trabalho. Trata-se de definir o que você quer investigar, delimitando o assunto através da reflexão sobre as condições de tempo para sua exploração e, principalmente, a importância deste para sua vida profissional. O problema de sua investigação precisa ser, então, significativo tanto para você quanto para a sociedade, ou seja, é necessário que essa questão tenha relevância social e científica. Para facilitar seu entendimento a respeito dessa discussão, faça a si mesmo as seguintes perguntas: Quais são as contribuições de minha pesquisa para a sociedade e para minha vida? Qual é a relevância de meu trabalho para a construção de novos conhecimentos científicos? Dessa forma, será mais fácil começar a pensar na elaboração de seu estudo investigativo! Atividade proposta 2 Antes de finalizarmos esta aula, vamos fazer uma atividade! Com base no que estudamos sobre o marxismo como linha de pesquisa em Ciências Sociais, diferencie materialismo histórico de materialismo dialético. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 18 O materialismo dialético fundamenta-se em uma concepção filosófica, entende a natureza como mutável e busca explicações coerentes para os fenômenosnaturais, da sociedade e do pensamento humano. Em outras palavras, essa vertente se preocupa com as leis mais gerais, com uma explicação lógica do mundo. Já o materialismo histórico procura entender as condições de sobrevivência da sociedade e relacionar o homem a sua dimensão histórica, a partir do modo de produção dessa sociedade e de suas relações com as superestruturas. Aprenda Mais Para saber mais sobre a pesquisa-ação, leia o texto Pedagogia da pesquisa- ação. Para saber mais sobre os estudos fenomenológicos, leia a Fenomenologia. Para saber mais sobre os estudos estruturalistas, leia o texto Estruturalismo. Para saber mais sobre os estudos marxistas, leia o texto O marxismo em resumo – da crítica do capitalismo à sociedade sem classes. Referências DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 2006. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1986. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1990. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 19 THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2008. Exercícios de fixação Questão 1 É INCORRETO afirmar que a delimitação do tema da pesquisa: a) Objetiva tornar a pesquisa mais fácil e rápida. b) Relaciona-se à definição do assunto a ser pesquisado. c) Deve ser compatível com as qualificações do pesquisador. d) Estabelece uma espécie de recorte sobre o assunto escolhido. e) Refere-se à seleção de uma parte ou de um tópico a ser estudado. Questão 2 Sobre o trabalho de pesquisa, assinale a opção CORRETA: a) A pesquisa deve ter um tema fácil e de rápida execução. b) A pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas. c) A busca de esclarecimentos também faz parte da pesquisa, pois envolve problemas e soluções. d) Mesmo dispensando o emprego de processos rigorosos e o levantamento de dados significativos, a busca de esclarecimentos pode ser considerada pesquisa. e) A consulta bibliográfica, que recorre a documentos para solucionar pequenas dúvidas, não pode ser considerada pesquisa, pois dispensa o uso de processos científicos. Questão 3 PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 20 De acordo com Lüdke e André (1986, p. 1-2): “Em geral, [esta etapa do trabalho se desenvolve] a partir do estudo de um problema, que, ao mesmo tempo, desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade [investigativa] a uma determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento”. Aqui, as autoras referem-se à fase da pesquisa qualitativa denominada: a) Cronograma. b) Escolha do tema. c) Análise de dados. d) Focalização do tema. e) Levantamento bibliográfico. Questão 4 De acordo com Thiollent (2008, p. 16), determinado trabalho pode ser considerado: "[...] um tipo de pesquisa social com base empírica, concebido e realizado em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo". Essa definição está vinculada ao seguinte tipo de pesquisa: a) Pesquisa-ação. b) Pesquisa de campo. c) Pesquisa etnográfica. d) Pesquisa participante. e) Pesquisa bibliográfica. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 21 Questão 5 Uma das características da pesquisa-ação é: a) A objetividade. b) As atividades de negociação. c) O levantamento bibliográfico. d) A interação entre os sujeitos experimentais. e) A postura neutra frente ao problema investigado. Questão 6 Marx e Engels (2007) fazem uma crítica às concepções idealistas de Feuerbach e lançam as bases para sua compreensão marxista da história. Com base no que estudamos a respeito do assunto, assinale a opção que indica o primeiro pressuposto dessa análise histórica sobre a qual os autores se apoiam: a) A produção de ideias. b) A valorização da propriedade privada. c) A criação de uma propriedade comunal. d) O desenvolvimento da propriedade privada. e) A organização dos homens e sua relação com a natureza. Questão 7 A elaboração e a realização do projeto de pesquisa em Ciências Sociais são os meios: a) Mais adequados para reconhecermos o outro. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 22 b) Mais baratos e práticos para conhecermos a realidade social. c) Mais eficazes e científicos para conhecermos a realidade social. d) Mais adequados para conhecermos as verdades absolutas das ciências. e) Mais adequados para conhecermos e controlarmos grupos sociais antagônicos. Questão 8 De acordo com este estudo, no método dialético: a) Há a valorização do empirismo. Trata-se de uma metodologia usada para a obtenção de teorias incontestáveis. b) O conhecimento é fundamentado na experiência. Nesse caso, os princípios preestabelecidos não são levados em consideração. c) A generalização deriva de observações de casos da realidade concreta, e as constatações particulares levam à elaboração de generalizações. d) Há uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Nesse caso, os fatos não podem ser tratados fora de um contexto social, político e econômico. e) A realidade é construída socialmente e tratada como aquilo que se compreende, interpreta e comunica. Por isso, ela não é única. Existem tantas realidades quantas forem as suas interpretações e comunicações. Questão 9 Ao escolher uma tribo indígena no interior do Brasil para examinar aspectos variados de sua vida, o pesquisador se vale do seguinte tipo de investigação: a) Pesquisa-ação. b) Estudo de caso. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 23 c) Pesquisa de opinião. d) Pesquisa documental. e) Pesquisa de motivação. Questão 10 Por problema de pesquisa científica, entende(m)-se: a) A questão de partida para o estudo. b) A pesquisa bibliográfica e a revisão da literatura. c) Os procedimentos que serão executados na investigação. d) A linha de pensamento a ser seguida durante sua execução. e) O marco teórico escolhido para o desenvolvimento do trabalho. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 24 Notas Friedrich Engels: Filósofo alemão que realizou uma obra marcante na filosofia e na política, cuja característica principal foi a elaboração das teorias do materialismo histórico. Disponível em: http://goo.gl/WF2DEh. Acesso em: 4 nov. 2014. Friedrich Hegel: Filósofo alemão, um dos criadores do sistema filosófico chamado de idealismo absoluto e precursor da filosofia ocidental e do marxismo. Disponível em: http://goo.gl/RdY5Zj. Acesso em: 4 nov. 2014. Hipóteses: Palavra resultante da justaposição dos termos gregos hypo (debaixo) e thesis (teses). Trata-se daquilo que designa uma suposição a ser verificada, a partir da qual se extrai uma conclusão. Karl Marx: Economista, cientista social e revolucionário socialista alemão, que defendia a ideia de que o capitalismo era o maior responsável pelas crises cada vez mais intensificadas pelas grandes diferenças sociais. Disponível em: http://goo.gl/bkyA9s. Acesso em: 4 nov. 2014. Pesquisa: Palavra derivada do latim perquirere, que significa “procurar com perseverança”. Entretanto, de acordo com o Webster’s International Dictionary, a pesquisa é uma indagação minuciosa ou um exame crítico e exaustivo na procura de fatose princípios: uma diligente busca para averiguar algo. Já para Marconi e Lakatos (1990), pesquisar não é apenas procurar a verdade mas também encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos. Pesquisa-ação: Pesquisa realizada em estreita relação com uma ação ou com um problema coletivo, na qual pesquisador e representantes da situação ou do PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 25 problema estão envolvidos de modo cooperativo, participativo ou cooperativo. Disponível em: http://goo.gl/3IdawH. Acesso em: 31 out. 2014. Relações do homem: Entre as relações humanas, estão as de trabalho, que vão originar as seguintes instituições sociais:• Família; • Pastoreio e agricultura; • Troca e comércio. Vladimir Ilitch Lênin: Revolucionário russo que desempenhou papel decisivo na dinâmica social e política do século XX, graças a seu talento como visionário, político e estrategista. Ele lutava em prol da libertação dos trabalhadores. Disponível em: http://goo.gl/Famd9V. Acesso em: 4 nov. 2014. Chaves de resposta Aula 2 Exercícios de fixação Questão 1 - A Justificativa: Ao realizarmos uma pesquisa, devemos ter a preocupação com a exequibilidade em relação ao tempo de sua execução e com a disponibilidade de recursos humanos e materiais. Mas esse processo não é fácil e rápido, até porque, dificilmente, uma pesquisa de boa qualidade é desenvolvida da noite para o dia. Questão 2 - B Justificativa: Uma pesquisa é sempre voltada para a solução de problemas, e esse processo exige ritos especiais, uma metodologia. Sem o emprego de métodos científicos, um trabalho não pode ser considerado pesquisa. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 26 Questão 3 - B Justificativa: A assertiva das autoras demonstra, claramente, os requisitos necessários à escolha do tema da pesquisa, em que devemos considerar o interesse por ele, sua importância, sua viabilidade e sua delimitação. Questão 4 - A Justificativa: A pesquisa-ação é um tipo de investigação que se caracteriza pelo envolvimento efetivo do pesquisador com o objeto pesquisado. Questão 5 - D Justificativa: A principal característica da pesquisa-ação é a colaboração e a negociação entre especialistas integrantes do estudo. Trata-se de uma forma de investigação baseada em uma reflexão coletiva dos participantes de determinado grupo. Questão 6 - E Justificativa: De acordo com a teoria marxista, os fatos humanos têm uma relação direta com a natureza na luta pela sobrevivência. A partir desse contexto, surgem as instituições sociais. Questão 7 - C Justificativa: A elaboração de uma pesquisa deve preocupar-se com um modelo teórico, e, dentro das Ciências Sociais, há algumas correntes de pensamento. As mais utilizadas na modernidade são a fenomenologia, o estruturalismo e o marxismo, que primam por considerar o homem e sua inserção no meio, ou seja, a realidade social. Questão 8 - D Justificativa: A teoria dialética entende a realidade como passível de transformações. Nesse caso, o objeto de pesquisa deve ser visto em sua PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 27 totalidade e contextualizado em todos os seus aspectos: social, político, econômico etc. Questão 9 - B Justificativa: O estudo de caso é um tipo de pesquisa que investiga uma realidade específica. Questão 10 - A Justificativa: O problema de pesquisa representa a indagação, a mola propulsora da investigação, a pergunta para a qual buscamos a resposta, o objeto de estudo. Enfim, trata-se do ponto de partida da pesquisa. PESQUISA E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 28 Conteudista Mônica Silva Barbosa Mello é Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA-UFRRJ), e em Educação pela Universidade de Nova Iguaçu (UNIG), Especialista em Formação de Professores da Educação Básica pela UFRRJ, em Planejamento, Implementação e Gestão da EAD pelo Laboratório de Novas Tecnologias de Ensino da Universidade Federal Fluminense (LANTE-UFF), e em Gênero e Sexualidade pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e Graduanda em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Atualmente, é professora da rede estadual do Rio de Janeiro e da UNIG. Currículo Lattes.
Compartilhar