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CONTRATOS- PARTE GERAL Roteiro n°6 Professora: Laura Dutra de Abreu 5° Período Direito 1.4- Princípio da Boa-Fé Objetiva: > Sem previsão expressa no CC/16 > No entanto o Código Comercial, em seu artigo 131, I, a previa. No entanto, não teve na prática, a merecida aplicação. >Trata-se da evolução de conceito de boa-fé, que saiu do plano intencional (boa-fé subjetiva) para o plano de conduta de lealdade (boa-fé objetiva). >Assim, essa boa-fé (objetiva) é entendida com a exigência de uma boa conduta dos participantes contratuais. >A boa-fé objetiva é PRINCÍPIO DE ORDEM PÚBLICA, tal qual a Função Social dos Contratos. Vide Enunciado 363- CJF: 363 – Art. 422. Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar a existência da violação. > Portanto, vislumbramos que a eticidade e a socialidade acabam fazendo milagres no campo prático. Relativizando o rigor formal da concepção dos direitos, em prol da proteção do vulnerável, do hipossuficiente, do equilíbio contratual. > Pelo Código Civil Alemão, está prevista a boa-fé objetiva no parágrafo 243, segundo o qual o devedor está obrigado a cumprir a prestação de acordo com os requisitos de fidelidade e boa- fé, levando em consideração os usos e os bons costumes. - Vide artigo 227° CC Português. - FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL, SEGUNDO TEREZA NEGREIROS: “ASSENTA NA CLÁUSULA GERAL DE TUTELA DA PESSOA HUMANA Resumo: -> Boa-fé subjetiva = boa intenção = aspecto psicológico (ex.: estudada na posse, art. 1201 do CC). > Boa-fé objetiva = boa conduta = plano do agir (ex.: contrato, art. 422 do CC). Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Obs: A BOA FÉ A QUE O ARTIGO ACIMA SE REFERE NOMINALMENTE, É Á BOA-FÉ SUBJETIVA (BOA INTENÇÃO). NO ENTANTO, QUANDO ELA É SOMADA Á PROBIDADE (LEALDADE), RESULTA EM UMA BOA-FÉ OBJETIVA >A boa-fé objetiva, portanto, para Paulo Lôbo, é regra de conduta dos indivíduos nas relações jurídicas obrigacionais. Interessam as repercussões de certos comportamentos na confiança que as pessoas normalmente neles depositam . Confia-se no significado comum, usual, objetivo da conduta ou comportamento reconhecível no mundo social. A boa-fé objetiva importa conduta honesta, leal, correta. É a boa-fé de comportamento. > OBS: O novo Código Civil brasileiro (art. 422) refere-se a ambos os contratantes do contrato comum civil ou mercantil, não podendo o princípio ser aplicado preferencialmente ao devedor, neste caso segundo a regra contida no art. 242 do Código Civil alemão. Nas relações de consumo, todavia, ainda que o inciso III do art. 4º do CDC cuide de aplicá-lo a consumidores e fornecedores, é a estes que ele se impõe, principalmente, em virtude da vulnerabilidade daqueles. Por exemplo, no que concerne à informação o princípio da boa-fé volta-se em grande medida ao dever de informar do fornecedor. Enunciado n 27 CJF/STJ- 27 - Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos. Ou seja, tese do diálogo das fontes entre NCC e CDC. > Pra Judith Martins- Costa, em sua obra: A Boa-Fé no Direito Privado: “A fórmula Treu und Glauben (lealdade e confiança) demarca o universo da boa-fé obrigacional proveniente da cultura germânica, traduzindo conotações totalmente diversas daquelas que a marcaram no direito romano: ao invés de denotar a idéia de fidelidade ao pactuado, como numa das acepções da fide romana, a cultura germânica inseriu, na fórmula as idéias de lealdade e crença, as quais reportam a qualidades ou estados humanos objetivados”. > Para Giselda MARIA Hironaka, “a mais célebre das cláusulas gerais é exatamente a boa-fé objetiva nos contratos. Mesmo levando-se em consideração o extenso rol de vantagens e de desvantagens que a presença de cláusulas gerais pode gerar num sistema de direito, provavelmente, a cláusula da boa-fé objetiva, nos contratos, seja mais útil que deficiente, uma vez que, por boa-fé, se entende que é um fato ( que é psicológico) e uma virtude ( que é moral).” > Portanto, vê-se que além dos tipos legais expressos de cláusulas abusivas o CDC fixou a boa-fé como cláusula geral de abertura, que permite ao aplicador ou intérprete o teste de compatibilidade das cláusulas ou condições gerais dos contratos de consumo. No inciso IV do art. 51 a boa-fé, contudo, a boa-fé está associada ou alternada com a eqüidade ("...com a boa-fé ou a eqüidade"), a merecer consideração. > No que respeita aos princípios do contrato a eqüidade não se concebe autonomamente, mas como critério de heterointegração tanto do princípio da boa-fé quanto do princípio da equivalência material. O juízo de eqüidade conduz o juiz às proximidades do legislador, porém limitado à decidibilidade do conflito determinado na busca do equilíbrio dos poderes contratuais. Apesar de trabalhar com critérios objetivos, com standards valorativos, a eqüidade é entendida no sentido aristotélico da justiça do caso concreto. O juiz deve partir de critérios definidos referenciáveis em abstrato não os podendo substituir por juízos subjetivos de valor. >Por seu turno, o art. 422 do Código Civil de 2002 associou ao princípio da boa-fé o que denominou de princípio da probidade ("... os princípios da probidade e boa-fé"). No direito público a probidade constitui princípio autônomo da Administração Pública, previsto explicitamente no art. 37 da Constituição, como "princípio da moralidade" a que se subordinam todos agentes públicos. No direito contratual privado, todavia, a probidade é qualidade exigível sempre à conduta de boa-fé. Quando muito seria princípio complementar da boa-fé objetiva ao lado dos princípios da confiança, da informação e da lealdade. Pode dizer-se que não há boa- fé sem probidade. > A melhor doutrina tem ressaltado que a boa-fé não apenas é aplicável à conduta dos contratantes na execução de suas obrigações mas aos comportamentos que devem ser adotados antes da celebração (in contrahendo) ou após a extinção do contrato (post pactum finitum). Assim, para fins do princípio da boa-fé objetiva são alcançados os comportamentos do contratante antes, durante e após o contrato. O CDC avançou mais decisivamente nessa direção, ao incluir na oferta toda informação ou publicidade suficientemente precisa (art. 30), ao impor o dever ao fornecedor de assegurar ao consumidor cognoscibilidade e compreensibilidade prévias do conteúdo do contrato (art. 46), ao tornar vinculantes os escritos particulares, recibos e pré-contratos (art. 48) e ao exigir a continuidade da oferta de componentes e peças de reposição, após o contrato de aquisição do produto (art. 32). O novo Código Civil não foi tão claro em relação aos contratos comuns, mas, quando se refere amplamente à conclusão e à execução do contrato, admite a interpretação em conformidade com o atual estado da doutrina jurídica acerca do alcance do princípio da boa fé aos comportamentos in contrahendo e post pactum finitum. A referência à conclusão deve ser entendida como abrangente da celebração e dos comportamentos que a antecedem, porque aquela decorre destes. A referência à execução deve ser também entendida como inclusiva de todos os comportamentos resultantes da natureza do contrato. Em suma, em se tratando de boa-fé, os comportamentos formadores ou resultantes de outros não podem ser cindidos. TIPO DE PROCESSO: Apelação Cível NÚMERO: 599418266 Inteiro Teor RELATOR: Matilde Chabar Maia EMENTA: APELACAO CIVEL. ACAO DE RESCISAO DE CONTRATO CUMULADA COM PERDAS E DANOS.RESPONSABILIDADE PRE-CONTRATUAL. TEORIA DA CULPA "IN CONTRAHENDO". CESSAO DE COTAS SOCIAIS. INEXISTENCIA DE CONTRATO.CONDUTA DA RE COMPATIVEL COM A BOA-FE OBJETIVA. INDUVIDOSA A POSSIBILIDADE DE RECONHECER-SE A RESPONSABILIDADE PRE-CONTRATUAL OU CULPA "IN CONTRAHENDO", DAQUELA PARTE QUE ROMPE IMOTIVADAMENTE RELACAO JURIDICA NOTADAMENTE EXISTENTE, EMBORA AINDA NAO CONSUBSTANCIADA EM CONTRATO ESCRITO. TAL POSSIBILIDADE REPOUSA NA TUTELA DA CONFIANCA QUE O CONTRATANTE LESADO DEPOSITOU NO VINCULO, BEM COMO NO FATO DO OUTRO CONTRATANTE NAO TER AGIDO DE ACORDO COM A BOA-FE OBJETO, OU SEJA, DESCONSIDERANDO A PESSOA DO "ALTER" E RENEGANDO DEVERES ANEXOS AO CONTRATO PROPRIAMENTE DITO, COMO O DEVER DE INFORMACAO, DE LEALDADE, DE HONESTIDADE, DE DILIGENCIA - VERDADEIROS PRECEITOS ETICOS QUE DEVEM REGER NAO APENAS AS RELACOES NEGOCIAIS, MAS A VIDA EM SOCIEDADE. NA CASUISTICA APRESENTADA, EMBORA EXISTENTES NEGOCIOS ENTRE AS PARTES, NAO RESTOU PROVADO NOS AUTOS TER A APELADA DESPERTADO NA RECORRENTE A EXPECTATIVA QUANTO A COMPRA DE SUAS COTAS SOCIAIS. OUTROSSIM, A CONDUTA EMPREENDIDA PELA COTRIJUI DEMONSTRA TER ESTUDADO COM APURO A VIABILIDADE E OPORTUNIDADE DA COMPRA DA EMPRESA RECORRENTE QUE, INDUVIDOSAMENTE, ESTAVA A PASSAR POR DIFICULDADES FINANCEIRAS, MANDANDO, INCLUSIVE, FAZER AUDITORIA NA MESMA. LOGO, NAO TEM A APELADA RESPONSABILIDADE PRE-CONTRATUAL, UMA VEZ QUE, "IN CASU", NAO RESTOU COMPROVADA A EXISTENCIA DE PRE-CONTRATO, BEM ASSIM SUA CONDUTA NAO AFRONTA A BOA-FE OBJETIVA. APELO IMPROVIDO. (14FLS.) (Apelação Cível Nº 599418266, Segunda Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 20/12/2000) TRIBUNAL: Tribunal de Justiça do RS DATA DE JULGAMENTO: 20/12/2000 Nº DE FOLHAS: ÓRGÃO JULGADOR: Segunda Câmara Especial Cível COMARCA DE ORIGEM: RIO GRANDE SEÇÃO: CIVEL PUBLICAÇÃO: Diário da Justiça do dia TIPO DE DECISÃO: Acórdão ASSUNTO: 1. CONTRATO. RESCISAO CONTRATUAL. PERDAS E DANOS. CUMULACAO DE PEDIDOS. 2. CULPA IN-CONTRAHENDO. 3. COOPERATIVA. Portanto, boa-fé objetiva deve integrar todas as fases contratuais: fase pré-contratual; fase contratual; e fase pós-contratual (enunciados 25 e 170 do CJF/STJ). > OBS: PROJETO DE LEI 276/07- LEO ALCANTARA- NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 422: “OS CONTRATANTES SÃO OBRIGADOS A GUARDAR, ASSIM NAS NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES E CONCLUSÃO DO CONTRATO, COMO EM SUA EXECUÇÃO E FASE PÓS-CONTRATUAL, OS PRINCÍPIOS DE PROBIDADE E BOA-FÉ E TUDO MAIS QUE RESULTE NA NATUREZA DO CONTRATO, DA LEI, DOS USOS E DAS EXIGÊNCIAS DA RAZÃO E DA EQUIDADE. 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual. 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. O enunciado 25 é dirigido ao juiz, que deve aplicar a boa-fé objetiva em todas as fases contratuais e o 170 para as partes, que devem respeitar a boa-fé em todas as fases do contrato. Exemplos: Ex.1: Boa-fé objetiva na fase pré contratual: caso dos tomates, julgados do TJ/RS entre 1991 e 1992. A empresa Cica distribuía sementes aos agricultores indicando que iria comprar a produção, daquelas sementes, mas sem qualquer contrato escrito, e assim fazia de forma continuada. Até que certa feita a Cica distribuiu as sementes, o agricultor plantou, mas a Cica não comprou os tomates (quebra do ciclo), havendo quebra da confiança, por isso foram esses agricultores indenizados Ex.2: Boa-fé objetiva na fase pós contratual. Viola a boa-fé o credor, que após acordo ou pagamento da dívida não retira o nome do devedor do Serasa, havendo uma responsabilidade civil pós- contratual (pos pactum finitum) - julgados do TJ/SP, TJ/RS, TJ/MG. Ex 3- Fase Contratual- Zeca Pagodinho e 2 Cervejarias > A boa-fé objetiva é relacionada aos deveres anexos ou laterais de conduta, que são deveres inerentes a qualquer contrato, sem a necessidade de previsão no instrumento (Karl Larenz; Mario Júlio Almeida Costa; Clóvis do Couto e Silva; Judith Martine - Costa). - São deveres anexos: i - Dever de cuidado; ii - Dever de respeito; iii - Dever de lealdade ou probidade; iv - Dever de colaboração ou cooperação; v - Dever de informar; vi - Dever de confiança ou transparência; vii - Dever de agir com razoabilidade. Se estes deveres anexos forem quebrados, surge a violação positiva do contrato, nova modalidade de inadimplemento (enunciado 24 CJF). 24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. A enumeração desses deveres não deve ser taxativa. Nos dizeres do culto Menezes de Cordeiro, em sua obra: Da boa-fé objetiva no Direito Civil: “ A boa-fé apenas normatiza certos factos que, estes sim, são fonte: mantenha-se o paralelo com a fenomenologia da eficácial negocial: a sua fonte reside não na norma que mande respeitar os negócios, mas no próprio negócio em si (...) O direito, obriga então, a que, nessas circunstâncias, as pessoas não se desviem dos propósitos em que se achem colocadas: não devem assumir comportamentos que a contradigam- deveres de lealdade- nem calar ou falsear a actividade intelectual externa que informa a convivência humana- deveres de informação.” > Vide Enunciado 168 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva importa no reconhecimento de um direito a cumprir em favor do titular passivo da obrigação. > Pelo CC/02 a boa-fé objetiva tem 3 funções 1 - Função de interpretação (art. 113 do CC). Também chamada de Função Interpretativa e de Colmatação Guarda íntima relação com o artigo 5º da LINDB, qual seja: “o juiz, ao aplicar a lei, deve atender os fins sociais e que ela se dirige e às exigências do bem comum.” Encontra.se consubstanciada, também, no artigo 113 do Código Civil: “ Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. Ora, portanto, a boa-fé serve como suporte de colmatação para orientar o magistrado em caso de integração de lacunas. Vale lembrar sua ligação com o artigo 112 do NCC. Alias, para Miguel Reale, esse seria o artigo chave do NCC, por fazer menção à boa-fé objetiva e à função social (os princípios estão numa relação de simbiose, interdependência). 2 - Função de controle (art. 187 do CC). Também chamada de Função Delimitadora do Exercício e Direitos Subjetivos Por meio da boa-fé objetiva, visa-se a evitar o exercício abusivo dos direitos subjetivos. Não se pode mais reconhecer legitimidade ou se dar espaço às cláusulas leoninas ou abusivas. O próprio NCC em seu artigo 187, faz referência a esse efeito de contenção: Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Aquele que viola a boa-fé objetiva, no exercício de um direito, comete abuso de direito, nova modalidade de ilícito. Importante resssaltar que isso enseja uma responsabilidade civil objetiva, ou seja, independente de culpa. 3 - Função de integração (art. 422 do CC). Também chamada de Função Criadora de Deveres Jurídicos Anexos ou de Proteção Como dito acima, esse rol não é taxativo. Podemos citar como exemplos, os deveres mais conhecidos a) Dever de Lealdade e Confiança Recíprocas: Quando se fala nesses deveres, costuma-se denominá-los deveres anexos gerais de uma relação contratual. Isso porque, lealdade, nadamais é do que fidelidade aos compromissos assumidos, com respeito aos princípios e regras que norteiam a honra e a probidade. Ora, se isso não estiver implícito em qualquer relação jurídica, não se sabe o que mais poderia estar!!!!!! Senão vejamos: TIPO DE PROCESSO: Apelação Cível NÚMERO: 70006912810 Inteiro Teor RELATOR: Rubem Duarte EMENTA: CRT. AQUISIÇÃO DE AÇÕES. AÇÃO PROPOSTA POR ACIONISTAS QUE PRETENDEM DIFERENÇA DE AÇÕES A QUE TERIAM DIREITO. OCORRÊNCIA DE COISA JULGADA MATERIAL. NEGÓCIOS REALIZADOS MEDIANTE CONTRATOS DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA, CONFORME PORTARIA N. 1361/76 E NA PORTARIA 86/91. CARACTERIZADA A INEXISTÊNCIA DA LEALDADE CONTRATUAL NO CONTRATO ORIGINAL. NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA FÉ ANTE A INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA PREVENDO A CORREÇÃO DO CAPITAL INTEGRALIZADO. DIFERENÇA DEFERIDA COM BASE EM ÍNDICES OFICIAIS E NO IGP- M. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO NO CONTRATO FIRMADO SOB A ÉGIDE DA PORTARIA 86/91. APELO PROVIDO PARCIALMENTE. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70006912810, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rubem Duarte, Julgado em 09/06/2004) TRIBUNAL: Tribunal de Justiça do RS DATA DE JULGAMENTO: 09/06/2004 Nº DE FOLHAS: ÓRGÃO JULGADOR: Vigésima Câmara Cível COMARCA DE ORIGEM: Comarca de Porto Alegre SEÇÃO: CIVEL PUBLICAÇÃO: Diário da Justiça do dia TIPO DE DECISÃO: Acórdão Por sua vez, o dever de confiança seria, segundo Menezes Cordeiro (Da boa-fé no direito civil, Coimbra: Almedina, 1997, p. 1234) “a situação em que uma pessoa adere, em termos de atividade ou de crença, a certas representações, passadas, presentes ou futuras, que tenha por efetivas. O princípio da confiança explicitaria o reconhecimento dessa situação e a sua tutela b) Dever de Assistência : Também conhecido como dever de cooperação, se refere à concepção de que, se o contrato é feito para ser cumprido, aos contratantes, cabe coloborar para o correto adimplemento da sua prestação principal, em toda a sua extensão. No ensinamento de Paulo Nalin: “ O dever de cooperação, de outra forma, se reporta à obrigação de se facilitar o cumprimento obrigacional, com base nos critérios e limites usuais ditados pelos usos, costumes e boa-fé. A cooperação é encarada, no mais, em um duplo sentido, apesar de sua natural tendência de favorecimento ao devedor, exigindo de ambos os contratantes uma postura de solidariedade” c) Dever de Informação: Trata-se de uma imposição moral e jurídica a obrigação de comunicar à outra parte todas as características e circunstâncias do negócio e , bem assim, do bem jurídico, que é seu objeto, por ser imperativo de lealdade entre os contraentes. Ver recurso especial STJ: Processo REsp 330261 / SC RECURSO ESPECIAL 2001/0080819-0 Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 06/12/2001 Data da Publicação/Fonte DJ 08.04.2002 p. 212 JBCC vol. 200 p. 116 RSTJ vol. 154 p. 350 Ementa Recurso Especial. Processual Civil. Instituição bancária. Exibição de documentos. Custo de localização e reprodução dos documentos. Ônus do pagamento. - O dever de informação e, por conseguinte, o de exibir a documentação que a contenha é obrigação decorrente de lei, de integração contratual compulsória. Não pode ser objeto de recusa nem de condicionantes, face ao princípio da boa-fé objetiva. - Se pode o cliente a qualquer tempo requerer da instituição financeira prestação de contas, pode postular a exibição dos extratos de suas contas correntes, bem como as contas gráficas dos empréstimos efetuados, sem ter que adiantar para tanto os custos dessa operação. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Castro Filho. Resumo Estruturado IMPOSSIBILIDADE, BANCO, EXIGENCIA, CORRENTISTA, PAGAMENTO, CUSTO, CUMPRIMENTO, ORDEM JUDICIAL, MEDIDA CAUTELAR PREPARATORIA, EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO, EXTRATO DE CONTA CORRENTE, NECESSIDADE, GARANTIA, DIREITO, CONSUMIDOR, AJUIZAMENTO, AÇÃO PRINCIPAL, REVISÃO, CONTRATO, AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS, EXISTENCIA, DEVER LEGAL, INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, INFORMAÇÃO, CLIENTE. d) Dever de Sigilo ou Confidencialidade: Por exemplo: Em um deteminado contrato firmado entre as empresas A e B, não se consignou cláusula no sentido de que as partes contratantes não poderiam, durante a vigência do contrato, ou mesmo após, divulgar dados ou informações uma da outra. Ora, ainda que não haja estipulação nesse sentido, é forçoso convir que a boa-fé objetiva impõe que se observe o dever de sigilo e confidencialidade entre ambas. 1.5- Conceitos oriundos do Direito Comparado: Prevê o enunciado 26 CJF, que a boa-fé objetiva pode ser utilizada pelo Juiz para suprir e corrigir o contrato. Para tanto, podem ser utilizados conceitos vindos do direito comparado, como aqueles expostos por Menezes Cordeiro (conceitos parcelares): 26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes. a)S u p r e s s i o: perda de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não exercício no tempo. Exemplo artigo 330 NCC. b)S u r r e c t i o: surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes (o outro lado da moeda, como afirma Simão). Exemplo também no artigo 330 NCC Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. O dispositivo traz uma supressio contra o credor e uma surrectio a favor do devedor. Alias, o TJ/MG já aplicou essa idéia ao valor locatício. c) Tu quoque: é a regra de ouro: não faça contra o outro o que você não faria contra si mesmo. A expressão tem origem em Roma, no grito de dor do imperador Julio César, ao seu filho Brutos, após o atentado, querendo dizer "até tu Brutus?” Pode se afirmar que o cantor Zeca Pagodinho violou essa formula no caso envolvendo as duas cervejarias. d) Exceptio Doli: é a defesa contra o dolo alheio, sendo a mais conhecida a exceção de contrato não cumprido, constante do artigo 476 do CC: em um contrato bilateral, uma parte não pode exigir que a outra cumpra com a sua obrigação, se não cumprir com a própria. Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. e) Venire contra factum proprium: vedação do comportamento contraditório, o que viola o princípio da confiança (enunciado 362 CJF). 362 – Art. 422. A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. Ex.: Resp 95.539 - SP, na vigência do código de 16, o marido vendeu imóvel sem outorga da esposa, o que era motivo de nulidade. A esposa, como testemunha em um processo declarou que concordou tacitamente com a venda e 17 anos após a venda, ingressou com ação de nulidade, julgada improcedente pelos comportamentos contraditórios (julgado em 1996). Ex:Apelação Cível 959.000-00/8-SP- Pagamento parcial do DPVAT. Ao ser cobrada, a pessoa declarou não ser responsável pelo restante. No caso, observa-seque essa pessoa caiu em contradição. f) Duty to mitigate the loss: dever de mitigar as perdas, ou dever de mitigar o próprio prejuízo, enunciado 169 CJF/STJ. 169 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo. Dever esse que é o credor, e que pode gerar perda de direitos. Ex,: O segurado deve comunicar ao segurador o sinistro, logo que o saiba, sob pena de perder a indenização, art. 771 do CC, também deve informar todo o incidente capaz de agravar o risco, também sob pena de perder a indenização, art. 769 do CC. Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências. Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado no contrato, as despesas de salvamento conseqüente ao sinistro. Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. § 1o O segurador, desde que o faça nos quinze dias seguintes ao recebimento do aviso da agravação do risco sem culpa do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato. § 2o A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio. Essa tese também pode ser aplicada à instituição bancária que em casos de inadimplemento contratual não ingressa imediatamente com ação de cobrança, deixando que a dívida cresça como bola de neve, diante da alta taxa de juros prevista. O mesmo caso, ocorre com o locador, quando verifica que o locatário está inadimplente e que não entra logo com uma ação de despejo Esse retardamento da cobrança pode gerar redução do valor devido 1.6-Princípio da equivalência material Segundo Paulo Luiz Netto Lôbo, em seu artigo: Princípios Sociais dos Contratos no CDC e no Novo Código Civil, o princípio da equivalência material busca realizar e preservar o equilíbrio real de direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para harmonização dos interesses. Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando que as mudanças de circunstâncias pudessem ser previsíveis. O que interessa não é mais a exigência cega de cumprimento do contrato, da forma como foi assinado ou celebrado, mas se sua execução não acarreta vantagem excessiva para uma das partes e desvantagem excessiva para outra, aferível objetivamente, segundo as regras da experiência ordinária. O princípio clássico pacta sunt servanda passou a ser entendido no sentido de que o contrato obriga as partes contratantes nos limites do equilíbrio dos direitos e deveres entre elas. Como visto acima, no CDC recebeu denominações diversas e difusas, voltadas ao equilíbrio e à eqüidade, enquanto o novo Código Civil apenas o introduziu explicitamente nos contratos de adesão. Observe-se, todavia, que o contrato de adesão disciplinado pelo Código Civil tutela qualquer aderente, seja consumidor ou não, pois não se limita a determinada relação jurídica como a de consumo. Esse princípio abrange o princípio da vulnerabilidade jurídica de uma das partes contratantes, que o Código de Defesa do Consumidor destacou. O princípio da equivalência material rompe a barreira de contenção da igualdade jurídica e formal, que caracterizou a concepção liberal do contrato. Ao juiz estava vedada a consideração da desigualdade real dos poderes contratuais ou o desequilíbrio de direitos e deveres, pois o contrato fazia lei entre as partes, formalmente iguais, pouco importando o abuso ou exploração da mais fraca pela mais forte. O princípio da equivalência material desenvolve-se em dois aspectos distintos: subjetivo e objetivo. O aspecto subjetivo leva em conta a identificação do poder contratual dominante das partes e a presunção legal de vulnerabilidade. A lei presume juridicamente vulneráveis o trabalhador, o inquilino, o consumidor, o aderente de contrato de adesão. Essa presunção é absoluta, pois não pode ser afastada pela apreciação do caso concreto. O aspecto objetivo considera o real desequilíbrio de direitos e deveres contratuais que pode estar presente na celebração do contrato ou na eventual mudança do equilíbrio em virtude de circunstâncias supervenientes que levem a onerosidade excessiva para uma das partes.
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