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Roteiro 6 Contratos

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CONTRATOS- PARTE GERAL 
Roteiro n°6 
 
Professora: Laura Dutra de Abreu 
5° Período Direito 
 
 
1.4- Princípio da Boa-Fé Objetiva: 
> Sem previsão expressa no CC/16 
> No entanto o Código Comercial, em seu artigo 131, I, a previa. No entanto, não teve na 
prática, a merecida aplicação. 
>Trata-se da evolução de conceito de boa-fé, que saiu do plano intencional (boa-fé subjetiva) 
para o plano de conduta de lealdade (boa-fé objetiva). 
>Assim, essa boa-fé (objetiva) é entendida com a exigência de uma boa conduta dos 
participantes contratuais. 
>A boa-fé objetiva é PRINCÍPIO DE ORDEM PÚBLICA, tal qual a Função Social dos 
Contratos. Vide Enunciado 363- CJF: 363 – Art. 422. Os princípios da probidade e da confiança 
são de ordem pública, estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar a existência da 
violação. 
 > Portanto, vislumbramos que a eticidade e a socialidade acabam fazendo milagres no campo 
prático. Relativizando o rigor formal da concepção dos direitos, em prol da proteção do 
vulnerável, do hipossuficiente, do equilíbio contratual. 
> Pelo Código Civil Alemão, está prevista a boa-fé objetiva no parágrafo 243, segundo o qual o 
devedor está obrigado a cumprir a prestação de acordo com os requisitos de fidelidade e boa-
fé, levando em consideração os usos e os bons costumes. 
- Vide artigo 227° CC Português. 
- FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL, SEGUNDO TEREZA NEGREIROS: “ASSENTA NA 
CLÁUSULA GERAL DE TUTELA DA PESSOA HUMANA 
Resumo: 
-> Boa-fé subjetiva = boa intenção = aspecto psicológico (ex.: estudada na posse, art. 1201 do 
CC). 
> Boa-fé objetiva = boa conduta = plano do agir (ex.: contrato, art. 422 do CC). 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na 
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de 
probidade e boa-fé. 
Obs: A BOA FÉ A QUE O ARTIGO ACIMA SE REFERE 
NOMINALMENTE, É Á BOA-FÉ SUBJETIVA (BOA INTENÇÃO). NO 
ENTANTO, QUANDO ELA É SOMADA Á PROBIDADE (LEALDADE), 
RESULTA EM UMA BOA-FÉ OBJETIVA 
>A boa-fé objetiva, portanto, para Paulo Lôbo, é regra de conduta dos indivíduos nas relações 
jurídicas obrigacionais. Interessam as repercussões de certos comportamentos na confiança 
que as pessoas normalmente neles depositam . Confia-se no significado comum, usual, 
objetivo da conduta ou comportamento reconhecível no mundo social. A boa-fé objetiva importa 
conduta honesta, leal, correta. É a boa-fé de comportamento. 
> OBS: O novo Código Civil brasileiro (art. 422) refere-se a ambos os contratantes do contrato 
comum civil ou mercantil, não podendo o princípio ser aplicado preferencialmente ao devedor, 
neste caso segundo a regra contida no art. 242 do Código Civil alemão. Nas relações de 
consumo, todavia, ainda que o inciso III do art. 4º do CDC cuide de aplicá-lo a consumidores 
e fornecedores, é a estes que ele se impõe, principalmente, em virtude da vulnerabilidade 
daqueles. Por exemplo, no que concerne à informação o princípio da boa-fé volta-se em grande 
medida ao dever de informar do fornecedor. 
Enunciado n 27 CJF/STJ- 27 - Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se 
levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos 
normativos e fatores metajurídicos. 
Ou seja, tese do diálogo das fontes entre NCC e CDC. 
 
> Pra Judith Martins- Costa, em sua obra: A Boa-Fé no Direito Privado: 
 “A fórmula Treu und Glauben (lealdade e confiança) demarca o universo da boa-fé 
obrigacional proveniente da cultura germânica, traduzindo conotações totalmente diversas 
daquelas que a marcaram no direito romano: ao invés de denotar a idéia de fidelidade ao 
pactuado, como numa das acepções da fide romana, a cultura germânica inseriu, na fórmula 
as idéias de lealdade e crença, as quais reportam a qualidades ou estados humanos 
objetivados”. 
> Para Giselda MARIA Hironaka, “a mais célebre das cláusulas gerais é exatamente a boa-fé 
objetiva nos contratos. Mesmo levando-se em consideração o extenso rol de vantagens e de 
desvantagens que a presença de cláusulas gerais pode gerar num sistema de direito, 
provavelmente, a cláusula da boa-fé objetiva, nos contratos, seja mais útil que deficiente, uma 
vez que, por boa-fé, se entende que é um fato ( que é psicológico) e uma virtude ( que é 
moral).” 
 
> Portanto, vê-se que além dos tipos legais expressos de cláusulas abusivas o CDC fixou a 
boa-fé como cláusula geral de abertura, que permite ao aplicador ou intérprete o teste de 
compatibilidade das cláusulas ou condições gerais dos contratos de consumo. No inciso 
IV do art. 51 a boa-fé, contudo, a boa-fé está associada ou alternada com a eqüidade 
("...com a boa-fé ou a eqüidade"), a merecer consideração. 
> No que respeita aos princípios do contrato a eqüidade não se concebe autonomamente, 
mas como critério de heterointegração tanto do princípio da boa-fé quanto do princípio da 
equivalência material. O juízo de eqüidade conduz o juiz às proximidades do legislador, porém 
limitado à decidibilidade do conflito determinado na busca do equilíbrio dos poderes 
contratuais. Apesar de trabalhar com critérios objetivos, com standards valorativos, a eqüidade 
é entendida no sentido aristotélico da justiça do caso concreto. O juiz deve partir de critérios 
definidos referenciáveis em abstrato não os podendo substituir por juízos subjetivos de valor. 
 
>Por seu turno, o art. 422 do Código Civil de 2002 associou ao princípio da boa-fé o que 
denominou de princípio da probidade ("... os princípios da probidade e boa-fé"). No direito 
público a probidade constitui princípio autônomo da Administração Pública, previsto 
explicitamente no art. 37 da Constituição, como "princípio da moralidade" a que se subordinam 
todos agentes públicos. No direito contratual privado, todavia, a probidade é qualidade exigível 
sempre à conduta de boa-fé. Quando muito seria princípio complementar da boa-fé objetiva ao 
lado dos princípios da confiança, da informação e da lealdade. Pode dizer-se que não há boa-
fé sem probidade. 
> A melhor doutrina tem ressaltado que a boa-fé não apenas é aplicável à conduta dos 
contratantes na execução de suas obrigações mas aos comportamentos que devem ser 
adotados antes da celebração (in contrahendo) ou após a extinção do contrato (post pactum 
finitum). Assim, para fins do princípio da boa-fé objetiva são alcançados os comportamentos 
do contratante antes, durante e após o contrato. O CDC avançou mais decisivamente nessa 
direção, ao incluir na oferta toda informação ou publicidade suficientemente precisa (art. 30), 
ao impor o dever ao fornecedor de assegurar ao consumidor cognoscibilidade e 
compreensibilidade prévias do conteúdo do contrato (art. 46), ao tornar vinculantes os escritos 
particulares, recibos e pré-contratos (art. 48) e ao exigir a continuidade da oferta de 
componentes e peças de reposição, após o contrato de aquisição do produto (art. 32). 
 
O novo Código Civil não foi tão claro em relação aos contratos comuns, mas, quando se refere 
amplamente à conclusão e à execução do contrato, admite a interpretação em conformidade 
com o atual estado da doutrina jurídica acerca do alcance do princípio da boa fé aos 
comportamentos in contrahendo e post pactum finitum. A referência à conclusão deve ser 
entendida como abrangente da celebração e dos comportamentos que a antecedem, porque 
aquela decorre destes. A referência à execução deve ser também entendida como inclusiva de 
todos os comportamentos resultantes da natureza do contrato. Em suma, em se tratando de 
boa-fé, os comportamentos formadores ou resultantes de outros não podem ser cindidos. 
 
 
TIPO DE PROCESSO: 
Apelação Cível 
NÚMERO: 
 599418266 
 
Inteiro Teor 
RELATOR: Matilde Chabar Maia 
 
EMENTA: APELACAO CIVEL. ACAO DE RESCISAO DE CONTRATO CUMULADA COM 
PERDAS E DANOS.RESPONSABILIDADE PRE-CONTRATUAL. TEORIA DA CULPA "IN 
CONTRAHENDO". CESSAO DE COTAS SOCIAIS. INEXISTENCIA DE 
CONTRATO.CONDUTA DA RE COMPATIVEL COM A BOA-FE OBJETIVA. INDUVIDOSA A 
POSSIBILIDADE DE RECONHECER-SE A RESPONSABILIDADE PRE-CONTRATUAL OU 
CULPA "IN CONTRAHENDO", DAQUELA PARTE QUE ROMPE IMOTIVADAMENTE 
RELACAO JURIDICA NOTADAMENTE EXISTENTE, EMBORA AINDA NAO 
CONSUBSTANCIADA EM CONTRATO ESCRITO. TAL POSSIBILIDADE REPOUSA NA 
TUTELA DA CONFIANCA QUE O CONTRATANTE LESADO DEPOSITOU NO VINCULO, 
BEM COMO NO FATO DO OUTRO CONTRATANTE NAO TER AGIDO DE ACORDO COM A 
BOA-FE OBJETO, OU SEJA, DESCONSIDERANDO A PESSOA DO "ALTER" E 
RENEGANDO DEVERES ANEXOS AO CONTRATO PROPRIAMENTE DITO, COMO O 
DEVER DE INFORMACAO, DE LEALDADE, DE HONESTIDADE, DE DILIGENCIA - 
VERDADEIROS PRECEITOS ETICOS QUE DEVEM REGER NAO APENAS AS RELACOES 
NEGOCIAIS, MAS A VIDA EM SOCIEDADE. NA CASUISTICA APRESENTADA, EMBORA 
EXISTENTES NEGOCIOS ENTRE AS PARTES, NAO RESTOU PROVADO NOS AUTOS TER 
A APELADA DESPERTADO NA RECORRENTE A EXPECTATIVA QUANTO A COMPRA DE 
SUAS COTAS SOCIAIS. OUTROSSIM, A CONDUTA EMPREENDIDA PELA COTRIJUI 
DEMONSTRA TER ESTUDADO COM APURO A VIABILIDADE E OPORTUNIDADE DA 
COMPRA DA EMPRESA RECORRENTE QUE, INDUVIDOSAMENTE, ESTAVA A PASSAR 
POR DIFICULDADES FINANCEIRAS, MANDANDO, INCLUSIVE, FAZER AUDITORIA NA 
MESMA. LOGO, NAO TEM A APELADA RESPONSABILIDADE PRE-CONTRATUAL, UMA 
VEZ QUE, "IN CASU", NAO RESTOU COMPROVADA A EXISTENCIA DE PRE-CONTRATO, 
BEM ASSIM SUA CONDUTA NAO AFRONTA A BOA-FE OBJETIVA. APELO IMPROVIDO. 
(14FLS.) (Apelação Cível Nº 599418266, Segunda Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça 
do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 20/12/2000) 
 
TRIBUNAL: 
Tribunal de Justiça do RS 
DATA DE JULGAMENTO: 
20/12/2000 
Nº DE FOLHAS: 
ÓRGÃO JULGADOR: 
Segunda Câmara Especial Cível 
COMARCA DE ORIGEM: 
RIO GRANDE 
SEÇÃO: 
CIVEL 
PUBLICAÇÃO: 
Diário da Justiça do dia 
TIPO DE DECISÃO: 
Acórdão 
ASSUNTO: 
1. CONTRATO. RESCISAO CONTRATUAL. PERDAS E DANOS. CUMULACAO DE 
PEDIDOS. 2. CULPA IN-CONTRAHENDO. 3. COOPERATIVA. 
 
 
Portanto, boa-fé objetiva deve integrar todas as fases contratuais: fase pré-contratual; fase 
contratual; e fase pós-contratual (enunciados 25 e 170 do CJF/STJ). 
> OBS: PROJETO DE LEI 276/07- LEO ALCANTARA- NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 422: 
“OS CONTRATANTES SÃO OBRIGADOS A GUARDAR, ASSIM NAS NEGOCIAÇÕES 
PRELIMINARES E CONCLUSÃO DO CONTRATO, COMO EM SUA EXECUÇÃO E FASE 
PÓS-CONTRATUAL, OS PRINCÍPIOS DE PROBIDADE E BOA-FÉ E TUDO MAIS QUE 
RESULTE NA NATUREZA DO CONTRATO, DA LEI, DOS USOS E DAS EXIGÊNCIAS DA 
RAZÃO E DA EQUIDADE. 
25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio 
da boa-fé nas fases pré e pós-contratual. 
170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações 
preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do 
contrato. 
O enunciado 25 é dirigido ao juiz, que deve aplicar a boa-fé objetiva em todas as fases 
contratuais e o 170 para as partes, que devem respeitar a boa-fé em todas as fases do 
contrato. 
Exemplos: 
Ex.1: Boa-fé objetiva na fase pré contratual: caso dos tomates, julgados do TJ/RS entre 1991 e 
1992. A empresa Cica distribuía sementes aos agricultores indicando que iria comprar a 
produção, daquelas sementes, mas sem qualquer contrato escrito, e assim fazia de forma 
continuada. Até que certa feita a Cica distribuiu as sementes, o agricultor plantou, mas a Cica 
não comprou os tomates (quebra do ciclo), havendo quebra da confiança, por isso foram esses 
agricultores indenizados 
Ex.2: Boa-fé objetiva na fase pós contratual. 
Viola a boa-fé o credor, que após acordo ou pagamento da dívida não retira o nome do devedor 
do Serasa, havendo uma responsabilidade civil pós- contratual (pos pactum finitum) - julgados 
do TJ/SP, TJ/RS, TJ/MG. 
Ex 3- Fase Contratual- Zeca Pagodinho e 2 Cervejarias 
> A boa-fé objetiva é relacionada aos deveres anexos ou laterais de conduta, que são deveres 
inerentes a qualquer contrato, sem a necessidade de previsão no instrumento (Karl Larenz; 
Mario Júlio Almeida Costa; Clóvis do Couto e Silva; Judith Martine - Costa). 
- São deveres anexos: 
i - Dever de cuidado; 
ii - Dever de respeito; 
iii - Dever de lealdade ou probidade; 
iv - Dever de colaboração ou cooperação; 
v - Dever de informar; 
vi - Dever de confiança ou transparência; 
vii - Dever de agir com razoabilidade. 
Se estes deveres anexos forem quebrados, surge a violação positiva do contrato, nova 
modalidade de inadimplemento (enunciado 24 CJF). 
24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do 
novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de 
inadimplemento, independentemente de culpa. 
A enumeração desses deveres não deve ser taxativa. Nos dizeres do culto Menezes de 
Cordeiro, em sua obra: Da boa-fé objetiva no Direito Civil: 
 “ A boa-fé apenas normatiza certos factos que, estes sim, são fonte: mantenha-se o 
paralelo com a fenomenologia da eficácial negocial: a sua fonte reside não na norma que 
mande respeitar os negócios, mas no próprio negócio em si (...) O direito, obriga então, a que, 
nessas circunstâncias, as pessoas não se desviem dos propósitos em que se achem 
colocadas: não devem assumir comportamentos que a contradigam- deveres de lealdade- nem 
calar ou falsear a actividade intelectual externa que informa a convivência humana- deveres de 
informação.” 
 
> Vide Enunciado 168 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva importa no reconhecimento de 
um direito a cumprir em favor do titular passivo da obrigação. 
 
> Pelo CC/02 a boa-fé objetiva tem 3 funções 
1 - Função de interpretação (art. 113 do CC). Também chamada de Função Interpretativa 
e de Colmatação 
Guarda íntima relação com o artigo 5º da LINDB, qual seja: “o juiz, ao aplicar a lei, deve 
atender os fins sociais e que ela se dirige e às exigências do bem comum.” 
Encontra.se consubstanciada, também, no artigo 113 do Código Civil: “ Os negócios jurídicos 
devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. 
Ora, portanto, a boa-fé serve como suporte de colmatação para orientar o magistrado em caso 
de integração de lacunas. 
Vale lembrar sua ligação com o artigo 112 do NCC. 
Alias, para Miguel Reale, esse seria o artigo chave do NCC, por fazer menção à boa-fé objetiva 
e à função social (os princípios estão numa relação de simbiose, interdependência). 
2 - Função de controle (art. 187 do CC). Também chamada de Função Delimitadora do 
Exercício e Direitos Subjetivos 
Por meio da boa-fé objetiva, visa-se a evitar o exercício abusivo dos direitos subjetivos. Não se 
pode mais reconhecer legitimidade ou se dar espaço às cláusulas leoninas ou abusivas. 
O próprio NCC em seu artigo 187, faz referência a esse efeito de contenção: 
 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
Aquele que viola a boa-fé objetiva, no exercício de um direito, comete abuso de direito, nova 
modalidade de ilícito. Importante resssaltar que isso enseja uma responsabilidade civil 
objetiva, ou seja, independente de culpa. 
3 - Função de integração (art. 422 do CC). Também chamada de Função Criadora de 
Deveres Jurídicos Anexos ou de Proteção 
Como dito acima, esse rol não é taxativo. Podemos citar como exemplos, os deveres mais 
conhecidos 
 
 a) Dever de Lealdade e Confiança Recíprocas: Quando se fala nesses deveres, 
costuma-se denominá-los deveres anexos gerais de uma relação contratual. 
 Isso porque, lealdade, nadamais é do que fidelidade aos compromissos assumidos, 
com respeito aos princípios e regras que norteiam a honra e a probidade. Ora, se isso não 
estiver implícito em qualquer relação jurídica, não se sabe o que mais poderia estar!!!!!! 
 Senão vejamos: 
TIPO DE PROCESSO: 
Apelação Cível 
NÚMERO: 
 70006912810 
 
Inteiro Teor 
RELATOR: Rubem Duarte 
 
EMENTA: CRT. AQUISIÇÃO DE AÇÕES. AÇÃO PROPOSTA POR ACIONISTAS QUE 
PRETENDEM DIFERENÇA DE AÇÕES A QUE TERIAM DIREITO. OCORRÊNCIA DE COISA 
JULGADA MATERIAL. NEGÓCIOS REALIZADOS MEDIANTE CONTRATOS DE 
PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA, CONFORME PORTARIA N. 1361/76 E NA PORTARIA 86/91. 
CARACTERIZADA A INEXISTÊNCIA DA LEALDADE CONTRATUAL NO CONTRATO 
ORIGINAL. NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA FÉ ANTE A 
INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA PREVENDO A CORREÇÃO DO CAPITAL 
INTEGRALIZADO. DIFERENÇA DEFERIDA COM BASE EM ÍNDICES OFICIAIS E NO IGP-
M. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO NO CONTRATO FIRMADO SOB A ÉGIDE DA PORTARIA 
86/91. APELO PROVIDO PARCIALMENTE. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70006912810, 
Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rubem Duarte, Julgado em 
09/06/2004) 
 
TRIBUNAL: 
Tribunal de Justiça do RS 
DATA DE JULGAMENTO: 
09/06/2004 
Nº DE FOLHAS: 
ÓRGÃO JULGADOR: 
Vigésima Câmara Cível 
COMARCA DE ORIGEM: 
Comarca de Porto Alegre 
SEÇÃO: 
CIVEL 
PUBLICAÇÃO: 
Diário da Justiça do dia 
TIPO DE DECISÃO: 
Acórdão 
 
Por sua vez, o dever de confiança seria, segundo Menezes Cordeiro (Da boa-fé no direito civil, 
Coimbra: Almedina, 1997, p. 1234) “a situação em que uma pessoa adere, em termos de 
atividade ou de crença, a certas representações, passadas, presentes ou futuras, que tenha 
por efetivas. O princípio da confiança explicitaria o reconhecimento dessa situação e a sua 
tutela 
 
 b) Dever de Assistência : Também conhecido como dever de cooperação, se refere à 
concepção de que, se o contrato é feito para ser cumprido, aos contratantes, cabe coloborar 
para o correto adimplemento da sua prestação principal, em toda a sua extensão. 
 
 No ensinamento de Paulo Nalin: 
 
 “ O dever de cooperação, de outra forma, se reporta à obrigação de se facilitar o 
cumprimento obrigacional, com base nos critérios e limites usuais ditados pelos usos, costumes 
e boa-fé. A cooperação é encarada, no mais, em um duplo sentido, apesar de sua natural 
tendência de favorecimento ao devedor, exigindo de ambos os contratantes uma postura de 
solidariedade” 
 
 
 c) Dever de Informação: Trata-se de uma imposição moral e jurídica a obrigação de 
comunicar à outra parte todas as características e circunstâncias do negócio e , bem assim, do 
bem jurídico, que é seu objeto, por ser imperativo de lealdade entre os contraentes. 
 
 Ver recurso especial STJ: 
 
 
Processo 
REsp 330261 / SC 
RECURSO ESPECIAL 
2001/0080819-0 
Relator(a) 
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) 
Órgão Julgador 
T3 - TERCEIRA TURMA 
Data do Julgamento 
06/12/2001 
Data da Publicação/Fonte 
DJ 08.04.2002 p. 212 
JBCC vol. 200 p. 116 
RSTJ vol. 154 p. 350 
Ementa 
Recurso Especial. Processual Civil. Instituição bancária. Exibição 
de documentos. Custo de localização e reprodução dos documentos. 
Ônus do pagamento. 
- O dever de informação e, por conseguinte, o de exibir a 
documentação que a contenha é obrigação decorrente de lei, de 
integração contratual compulsória. Não pode ser objeto de recusa nem 
de condicionantes, face ao princípio da boa-fé objetiva. 
- Se pode o cliente a qualquer tempo requerer da instituição 
financeira prestação de contas, pode postular a exibição dos 
extratos de suas contas correntes, bem como as contas gráficas dos 
empréstimos efetuados, sem ter que adiantar para tanto os custos 
dessa operação. 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da 
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos 
votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por 
unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros 
Antônio de Pádua Ribeiro, Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes 
Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, 
justificadamente, o Sr. Ministro Castro Filho. 
Resumo Estruturado 
 IMPOSSIBILIDADE, BANCO, EXIGENCIA, CORRENTISTA, PAGAMENTO, 
CUSTO, CUMPRIMENTO, ORDEM JUDICIAL, MEDIDA CAUTELAR PREPARATORIA, 
EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO, EXTRATO DE CONTA CORRENTE, NECESSIDADE, 
GARANTIA, DIREITO, CONSUMIDOR, AJUIZAMENTO, AÇÃO PRINCIPAL, REVISÃO, 
CONTRATO, AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS, EXISTENCIA, DEVER LEGAL, 
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, INFORMAÇÃO, CLIENTE. 
 
 d) Dever de Sigilo ou Confidencialidade: Por exemplo: Em um deteminado contrato 
firmado entre as empresas A e B, não se consignou cláusula no sentido de que as partes 
contratantes não poderiam, durante a vigência do contrato, ou mesmo após, divulgar dados ou 
informações uma da outra. Ora, ainda que não haja estipulação nesse sentido, é forçoso convir 
que a boa-fé objetiva impõe que se observe o dever de sigilo e confidencialidade entre ambas. 
 
1.5- Conceitos oriundos do Direito Comparado: 
Prevê o enunciado 26 CJF, que a boa-fé objetiva pode ser utilizada pelo Juiz para suprir e 
corrigir o contrato. Para tanto, podem ser utilizados conceitos vindos do direito comparado, 
como aqueles expostos por Menezes Cordeiro (conceitos parcelares): 
26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz 
interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, 
entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes. 
a)S u p r e s s i o: perda de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não exercício no 
tempo. Exemplo artigo 330 NCC. 
b)S u r r e c t i o: surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes (o outro lado 
da moeda, como afirma Simão). Exemplo também no artigo 330 NCC 
Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor 
relativamente ao previsto no contrato. 
O dispositivo traz uma supressio contra o credor e uma surrectio a favor do devedor. 
Alias, o TJ/MG já aplicou essa idéia ao valor locatício. 
c) Tu quoque: é a regra de ouro: não faça contra o outro o que você não faria contra si 
mesmo. 
A expressão tem origem em Roma, no grito de dor do imperador Julio César, ao seu filho 
Brutos, após o atentado, querendo dizer "até tu Brutus?” 
Pode se afirmar que o cantor Zeca Pagodinho violou essa formula no caso envolvendo as duas 
cervejarias. 
d) Exceptio Doli: é a defesa contra o dolo alheio, sendo a mais conhecida a exceção de 
contrato não cumprido, constante do artigo 476 do CC: em um contrato bilateral, uma parte 
não pode exigir que a outra cumpra com a sua obrigação, se não cumprir com a própria. 
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua 
obrigação, pode exigir o implemento da do outro. 
e) Venire contra factum proprium: vedação do comportamento contraditório, o que viola o 
princípio da confiança (enunciado 362 CJF). 
362 – Art. 422. A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) 
funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. 
Ex.: Resp 95.539 - SP, na vigência do código de 16, o marido vendeu imóvel sem outorga da 
esposa, o que era motivo de nulidade. A esposa, como testemunha em um processo declarou 
que concordou tacitamente com a venda e 17 anos após a venda, ingressou com ação de 
nulidade, julgada improcedente pelos comportamentos contraditórios (julgado em 1996). 
Ex:Apelação Cível 959.000-00/8-SP- Pagamento parcial do DPVAT. Ao ser cobrada, a pessoa 
declarou não ser responsável pelo restante. No caso, observa-seque essa pessoa caiu em 
contradição. 
f) Duty to mitigate the loss: dever de mitigar as perdas, ou dever de mitigar o próprio prejuízo, 
enunciado 169 CJF/STJ. 
169 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do 
próprio prejuízo. 
Dever esse que é o credor, e que pode gerar perda de direitos. 
Ex,: O segurado deve comunicar ao segurador o sinistro, logo que o saiba, sob pena de perder 
a indenização, art. 771 do CC, também deve informar todo o incidente capaz de agravar o 
risco, também sob pena de perder a indenização, art. 769 do CC. 
Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado participará o sinistro ao 
segurador, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar-lhe as 
conseqüências. 
Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado no contrato, as despesas de 
salvamento conseqüente ao sinistro. 
Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente 
suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à 
garantia, se provar que silenciou de má-fé. 
§ 1o O segurador, desde que o faça nos quinze dias seguintes ao recebimento do aviso da 
agravação do risco sem culpa do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão 
de resolver o contrato. 
§ 2o A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação, devendo ser restituída pelo 
segurador a diferença do prêmio. 
Essa tese também pode ser aplicada à instituição bancária que em casos de inadimplemento 
contratual não ingressa imediatamente com ação de cobrança, deixando que a dívida cresça 
como bola de neve, diante da alta taxa de juros prevista. O mesmo caso, ocorre com o 
locador, quando verifica que o locatário está inadimplente e que não entra logo com uma ação 
de despejo 
Esse retardamento da cobrança pode gerar redução do valor devido 
 
 
 
 
 
 
1.6-Princípio da equivalência material 
 
 
 
Segundo Paulo Luiz Netto Lôbo, em seu artigo: Princípios Sociais dos Contratos no CDC e no 
Novo Código Civil, o princípio da equivalência material busca realizar e preservar o equilíbrio 
real de direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para harmonização 
dos interesses. 
Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a 
proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios 
supervenientes, pouco importando que as mudanças de circunstâncias pudessem ser 
previsíveis. 
 O que interessa não é mais a exigência cega de cumprimento do contrato, da forma como foi 
assinado ou celebrado, mas se sua execução não acarreta vantagem excessiva para uma das 
partes e desvantagem excessiva para outra, aferível objetivamente, segundo as regras da 
experiência ordinária. O princípio clássico pacta sunt servanda passou a ser entendido no 
sentido de que o contrato obriga as partes contratantes nos limites do equilíbrio dos direitos e 
deveres entre elas. 
 
Como visto acima, no CDC recebeu denominações diversas e difusas, voltadas ao equilíbrio e 
à eqüidade, enquanto o novo Código Civil apenas o introduziu explicitamente nos contratos de 
adesão. Observe-se, todavia, que o contrato de adesão disciplinado pelo Código Civil tutela 
qualquer aderente, seja consumidor ou não, pois não se limita a determinada relação jurídica 
como a de consumo. 
 
Esse princípio abrange o princípio da vulnerabilidade jurídica de uma das partes contratantes, 
que o Código de Defesa do Consumidor destacou. 
 
O princípio da equivalência material rompe a barreira de contenção da igualdade jurídica e 
formal, que caracterizou a concepção liberal do contrato. Ao juiz estava vedada a consideração 
da desigualdade real dos poderes contratuais ou o desequilíbrio de direitos e deveres, pois o 
contrato fazia lei entre as partes, formalmente iguais, pouco importando o abuso ou exploração 
da mais fraca pela mais forte. 
 
O princípio da equivalência material desenvolve-se em dois aspectos distintos: subjetivo e 
objetivo. O aspecto subjetivo leva em conta a identificação do poder contratual dominante das 
partes e a presunção legal de vulnerabilidade. A lei presume juridicamente vulneráveis o 
trabalhador, o inquilino, o consumidor, o aderente de contrato de adesão. Essa presunção é 
absoluta, pois não pode ser afastada pela apreciação do caso concreto. O aspecto objetivo 
considera o real desequilíbrio de direitos e deveres contratuais que pode estar presente na 
celebração do contrato ou na eventual mudança do equilíbrio em virtude de circunstâncias 
supervenientes que levem a onerosidade excessiva para uma das partes.

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