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AULA 01 – O PERÍODO GETULISTA

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AULA 01 – O PERÍODO GETULISTA
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 - Entender as transformações por que passou o Brasil a partir de 1930, quando Getúlio Vargas tomou o poder através de um Golpe de Estado;
2 - Acompanhar o processo de industrialização e urbanização ocorrido no período;
3 - Identificar alguns movimentos políticos e sociais característicos da época.
Nesta nossa primeira aula, vamos estudar os dois primeiros períodos da Era Vargas, que deixaram muitas marcas na face do país.  Aqui, vamos saber, por exemplo, por que a data de 9 de julho, em São Paulo, teria preferência frente a Getúlio. Bons estudos! 
Nesta aula, vamos estudar os dois primeiros períodos da Era Vargas, que deixaram muitas marcas na face do país. Às vezes, nem percebemos, mas as marcas podem estar no nosso dia a dia.
 
Por exemplo: quase todas as capitais de estado têm ruas, avenidas ou praças em homenagem a Getúlio Vargas. Elas foram criadas por ordem dele mesmo ou como uma forma de homenagem prestada por outros políticos ao longo do país. Por exemplo: no Rio de Janeiro existe a Avenida Presidente Vargas, inaugurada pelo próprio Getúlio em 1942, quando a cidade ainda era a capital do Brasil. Já São Paulo, a maior cidade da América Latina, é a grande exceção. Afinal, não apresenta nenhuma homenagem ao estadista brasileiro. Por outro lado, o centro da cidade é cortado pela Av. Nove de Julho, data em que se comemora a Revolução Constitucionalista, sendo também um dos feriados estaduais paulistas. Por que a data de 9 de julho teria preferência frente a Getúlio, na cidade e no estado de São Paulo? A resposta é simples e pode ser encontrada ao longo desta aula. Vamos ver?
Esta fotografia foi tirada no dia 3 de novembro de 1930, e retrata as tropas de gaúchos que apoiaram um Golpe de Estado liderado por Getúlio Vargas, amarrando seus cavalos em um obelisco. O monumento está localizado no fim da Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro, que ainda era a capital da República. Em uma época em que cavalos ainda eram utilizados para a locomoção, em meio a carros e bondes, essa poderia ser uma cena comum do dia a dia, certo? Errado! Devido à importância que o lugar tinha, o gesto das tropas de Getúlio foi considerado um escândalo por uns e uma demonstração de coragem por outros. Ao chegar ali, muito mais do que “estacionarem” seus cavalos, os gaúchos estavam exibindo o seu desprezo pelos símbolos à sua volta. Por outro lado, indicavam que, a partir daquele momento, o poder passava para suas mãos.
Para ter ideia do que o gesto significou, é preciso ter em mente que a Avenida Rio Branco era a mais importante da capital da República. Não se tratava apenas de uma rua elegante, em que ficavam os melhores hotéis, lojas de roupa, teatros e salas de cinema. Era também o lugar em que símbolos nacionais estavam espalhados por todos os cantos: o prédio do Senado e da Câmara, por exemplo, além do Teatro Municipal, da Biblioteca Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes.
A preparação para o Golpe de 1930
Por certo, você já deve ter desconfiado de que tomar o poder não é tão simples quanto “amarrar” um cavalo em um obelisco. O gesto causou polêmica, mas para que o Golpe de Estado se concretizasse, seria necessário que Getúlio conseguisse a deposição do presidente Washington Luís, para que ele finalmente assumisse como Chefe do Governo Provisório, como de fato ocorreu. Para entender como a História do Brasil chegou a esse ponto, é importante lembrar como estava organizada a política federal desde que os cafeicultores passaram a controlar o poder, constituindo a “República Oligárquica” (1894-1930). Em um jogo eleitoral bastante hábil, os cafeicultores haviam conseguido estabelecer a alternância entre presidentes de São Paulo e Minas Gerais, o que ficou conhecido como “Política do Café com Leite”.
Vale notar que São Paulo e Minas eram os maiores produtores de café do momento; daí a importância de garantir que a Presidência fosse sempre ocupada por políticos desses estados. O esquema apontado era baseado em fraudes, sustentadas pelo “voto de cabresto”, a que os coronéis (latifundiários, donos de grandes fazendas) recorriam para obrigar seus empregados a votar nos candidatos que eles escolhessem. Para as eleições de 1930, Washington Luís, contrariando a expectativa, apoiou outro candidato de São Paulo, Júlio Prestes, em vez de apoiar o candidato de Minas. O governador de Minas, Antônio Carlos de Andrada, contrariado, juntou-se a outros políticos descontentes, como João Pessoa (governador da Paraíba) e Getúlio Vargas (governador do Rio Grande do Sul). Juntos, formaram a Aliança Liberal, que escolheu Vargas para concorrer às eleições.
MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO
Mesmo tendo perdido para Júlio Prestes, como era de se esperar, a Aliança Liberal não admitiu a derrota, organizando um movimento revolucionário, cujo objetivo era seguir até a capital para tomar o poder. De fato, o candidato eleito por meios fraudulentos, Júlio Prestes, sequer tomaria posse. Desse modo, voltamos para o dia em que os gaúchos amarraram os cavalos no obelisco, culminância do movimento revolucionário. Todos os símbolos de poder que se encontravam à volta do obelisco, incluindo o próprio, tinham sido erguidos pelo dinheiro dos cafeicultores, sobretudo durante a Reforma Passos (1902-1910), grande renovação urbanística por que passara a capital do país.
 
Até agora, vimos explicações políticas para o Golpe. Contudo, somente elas não permitem compreender tudo. Havia outras vertentes políticas que também desejavam mudanças e que, mesmo não sendo vencedoras, preparam o terreno para que a Aliança Liberal saísse vitoriosa.
Além disso, a política não é a única responsável pelas mudanças ocorridas em 1930. Precisamos estar atentos também para aspectos culturais e econômicos. Você deve levar em conta que a sociedade é formada por diversos setores, todos interligados.
COLUNA PRESTES
Mais uma vez, é preciso voltar um pouco no tempo, até os anos 1920. Essa década foi bastante agitada, sobretudo por conta dos brasileiros que se mostravam insatisfeitos com o país. Entre eles, as alas mais jovens do Exército (os tenentes) se destacavam, procurando moralizar a política e mudar os rumos do Brasil, em um movimento conhecido como Tenentismo. No âmbito desse movimento, é notória a “Coluna Prestes”, movimento liderado por Luís Carlos Prestes, que em 1922 saiu do Rio Grande do Sul percorrendo o interior do país, apontando a miséria e acusando a exploração dos mais pobres pelos governantes. Observe o itinerário da Coluna, percebendo como ele se mostra afastado do litoral, associado com o poder econômico e político (lembre-se de que a capital, o Rio de Janeiro, estava nessa região). Outro fato que chama a atenção no mapa é a extensão do percurso. Em uma época que apresentava grandes dificuldades ao deslocamento, o tamanho da marcha é uma mostra do entusiasmo dos participantes com a ideia de renovação do país.
Outros insatisfeitos eram os socialistas e os comunistas, que, animados pela vitória da Revolução Russa (1917), buscavam também tomar o poder no Brasil. Entre os trabalhadores, a atuação de socialistas e comunistas foi destacada, marcando a década com greves, manifestações públicas e conflitos com a polícia. Nesse campo, é preciso também lembrar a atuação dos anarquistas, tanto ou mais comprometidos que os outros grupos.
MODERNISMO
No plano cultural, devemos dar atenção aos movimentos de renovação artística, que fizeram com que criadores de diversas áreas (pintura, escultura, teatro, literatura e música) buscassem refletir sobre que “cara” deveria ter a arte brasileira e o próprio Brasil. Esses movimentos, conhecidos como “modernismos”, procuravam livrar a arte local da submissão aos parâmetros acadêmicos, considerados ultrapassados. A “Semana de Arte Moderna de São Paulo”, que ocorreu em 1922, foi um dos eventos mais conhecidos da época.
O quadro de Tarsila do Amaral, denominado Antropofagia, tinha como proposta a transformação das ideias e estilosinternacionais em expressões genuinamente brasileiras. Da mesma forma que a “antropofagia” se dá quando um ser humano devora outro, a arte brasileira existiria quando “devorasse” a arte internacional, digerida como um produto local. Embora o quadro não explicite a ação antropofágica literalmente, ele mesmo é a realização da proposta. Afinal, tendências internacionais de afastamento do figurativismo e realismo são incorporadas, embora ainda haja figuras e uma paisagem compreensível. Essas, por sua vez, remetem-nos ao ambiente sertanejo (simples, quase animalesco), associado, por certo imaginário, à nacionalidade. Esse Brasil, contudo, não é o mesmo que as oligarquias cafeicultoras gostariam de mostrar ao mundo: afinal, todos os seus esforços foram feitos no sentido de aproximar o Brasil da tradição europeia (e não ao Modernismo).
Porém, devemos nos lembrar de que as propostas modernistas foram várias e ocorreram em diversos lugares do Brasil, como Rio de Janeiro, Minas, Pernambuco e Rio Grande do Sul, por exemplo. Mesmo que, aparentemente, eles não tenham nada de políticos, você deve atentar para a força de movimentos que ousam se questionar sobre a identidade nacional. Afinal, seria possível mudar a face de um país, sem que todos os setores fossem atingidos?
ECONOMIA BRASILEIRA
Tão importante quanto a política e a cultura, a economia também deu sua contribuição ao Golpe de 1930. Nessa época, a economia brasileira era baseada na exportação de produtos agrários, sendo o café o principal deles. Com a crise mundial deflagrada pela Quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, o principal produto de exportação brasileiro sofreu bastante. Afinal, ele era consumido, sobretudo, por trabalhadores, que precisavam de energia para manter o ritmo da produção, e por pessoas de posse que poderiam sentar-se a um café para uma pequena refeição refinada. Como a crise esteve ligada aos altos índices de desemprego e acarretou a perda de grandes fortunas, o consumo de café caiu tanto entre os trabalhadores como entre as camadas médias e altas da sociedade.
As oligarquias locais, sustentadas pelo café, como vimos, entraram em crise. Havia duas saídas: solucionar o problema ou abrir mão do poder. Você já deve desconfiar qual foi o desfecho dessa história, não é? Mais uma vez, voltamos ao dia 3 de novembro de 1930, ao obelisco, aos cavalos. Alguns historiadores acreditam que o gesto foi revolucionário, por possibilitar a renovação das configurações sociais e políticas que o Brasil vivia antes. Outros, mais críticos em relação ao que viria em seguida (e que veremos logo, logo), entendem-no apenas como uma revolta, o primeiro passo em direção a um governo ditatorial, o que aconteceria em 1937.
Você sabe a diferença entre Revolução e Revolta?
A autora Hannah Arendt indica que o termo “revolução” tem origem na Astronomia, representando uma volta completa que um astro dá em torno de si. Até o século XVIII, o uso da palavra ainda não era político. Somente a partir de então, por analogia, os eventos capazes de mudar completamente uma sociedade “de ponta-cabeça” passaram a ser chamados de revolução. Já a ideia de revolta, indicando alguma insatisfação popular, é mais antiga. Assim, uma revolta pode causar uma revolução, se vier acompanhada de mudanças radicais, mas nem sempre será uma revolução. Já a revolução pode ou não ser acompanhada de uma ou mais revoltas (Cf. ARENDT, 1990). Afinal, Getúlio foi um “salvador” revolucionário ou “apenas” um revoltoso prestes a se tornar ditador? Ao acompanhar o restante da aula, você poderá tirar suas conclusões.
O Governo Provisório (1930-1934)
Os primeiros anos do “Governo Provisório” de Vargas foram marcados por intensas negociações com os grupos que desejavam uma parte do poder. Para garantir a manutenção de seu poder, Vargas  destitui os governadores dos estados, designando interventores de sua confiança. As oligarquias, apesar de afastadas do controle direto, ainda tinham algum poder de decisão. Basta lembrar que o próprio Getúlio pertencia às oligarquias sulistas, que controlavam a pecuária no país. Não se tratava do mesmo grupo que os cafeicultores, mas ainda assim eram assemelhados, no que diz respeito ao poder econômico.
O Integralismo, liderado por Plínio Salgado, assemelhava-se, nas ideias e nos rituais, às ideologias italianas e alemãs. Por fim, os industriais, ainda pouco expressivos no Brasil, lutavam para que o setor tivesse mais investimentos do que a agropecuária. Enfim, não se deve entender o momento como “apenas” uma troca de poder entre as oligarquias cafeeiras e os grupos que, até então, estavam de fora do poder. Seria necessário acompanhar com mais calma para entender a que compromissos o novo governo apelava para tentar agradar a todos. Ou, pelo menos, à maior parte.
Outro grupo de pressão era a classe média, que vinha se manifestando ao longo da década de 1920, sobretudo através do Tenentismo. Os setores de esquerda, como socialistas e comunistas, além dos anarquistas (este, já com menos poder), ainda disputavam o controle da organização dos trabalhadores. A direita se organizava nos moldes nazifascistas (presentes na Europa desde a década de 1920).
TRABALHISMO
Uma das características mais fortes da Era Vargas se forma já na fase inicial desse período: o trabalhismo. Como vimos antes, a década de 1920 foi bastante agitada em diversos setores. Entre eles, estava o mundo do trabalho, marcado pela atuação de socialista, comunistas e anarquistas. Cada um desses grupos acreditava em uma forma de atuação diferenciada, lutando entre si para conquistar a confiança dos trabalhadores na luta por melhores condições de trabalho e de vida. Socialistas e comunistas conjugavam a atuação política institucional (partidos e eleições), por exemplo, ao movimento de mobilização e organização sindical. É curioso observar que o PCB (Partido Comunista Brasileiro) é hoje o partido mais antigo do Brasil, tendo sido fundado justamente em 1922.
Já os anarquistas eram contra qualquer forma de organização política, associada, por eles, ao exercício (sempre abusivo) do poder. Preferiam privilegiar a organização sindical e suas atividades, como greves, manifestações e, se fosse necessário, ações violentas. Também contrários à organização partidária, estavam os cooperativistas. Contudo, esses não conseguiriam dialogar com os anarquistas, pois propunham uma união de forças entre trabalhadores, empregadores e Estado, no sentido de criar maior autonomia dos primeiros na gerência de suas ações. Uma mudança na organização dos cooperativistas, em meados da década de 1920, fez com que passassem a aceitar a organização em partidos políticos, o que possibilitou uma parceria com os socialistas.
Os anarquistas, por sua vez, seguiam sendo rechaçados através da intensa perseguição policial e consequente expatriação (muitos líderes anarquistas eram estrangeiros, sobretudo italianos). Desse modo, no fim da década de 1920, a disputa pela preferência dos trabalhadores tendeu a oscilar: de um lado, os cooperativistas e os socialistas; de outro, os comunistas. Como a década foi marcada por greves mal sucedidas e intensa repressão, a tendência conciliatória dos cooperativistas se mostrava mais atraente do que as ações enfáticas dos comunistas.
PREVALÊNICIA DOS COOPERATIVISTAS
Com a chegada de Vargas ao poder, a prevalência dos cooperativistas abriu caminho ao diálogo. A criação do Ministério do Trabalho foi fundamental, garantindo a criação de leis de proteção ao trabalhador, ao mesmo tempo em que zelava pela fiscalização dos patrões. Não se tratava de encampar o cooperativismo, mas de utilizar aspectos de sua ação que convinham ao governo. Segundo Angela de Castro Gomes, a sindicalização não era obrigatória, mas compulsória. Afinal, somente os trabalhadores sindicalizados teriam acesso aos direitos que o governo concedia ou consolidava. Por outro lado, só os sindicatos legalizados davam acesso a tais direitos.
Você deve ter observado que uma rede foi se formando aos poucos.Os trabalhadores, que ao longo das duas últimas décadas vinham lutando por seus direitos, finalmente tinham acesso a eles. Por outro lado, precisavam abrir mão de sua liberdade de expressão política e de livre associação, aceitando o sindicalismo nos termos impostos pelo governo. O trabalhismo teria sido uma troca de interesses que convinha ao governo e patrões, mas também aos empregados, pelo menos à maior parte deles. Afinal, estamos nos referindo a atores históricos com vontade própria, capazes de tomar decisões, ou a marionetes?
Observe atentamente esta fotografia, que já pertence ao novo contexto descrito. Você observou a postura passiva dos trabalhadores em um dia comumente associado a grandes movimentos de reivindicação, como o Dia do Trabalho (1º de maio)? E o texto escrito na grande faixa, “Trabalhador sindicalizado é trabalhador disciplinado”, não confirma essa impressão de passividade? Em troca de alguns direitos, os trabalhadores tiveram sua capacidade de luta e contestação enfraquecidas. Essa é uma maneira de ver a situação, e não está errada. Por outro lado, alguns historiadores, como a própria Angela de Castro Gomes, a que nos referimos antes, prefere não adotar a ideia de “passividade” ou “ingenuidade” por parte dos trabalhadores. Parece que os trabalhadores foram “enredados” pelo governo de Vargas, através de um sistema de relacionamento habilmente construído – o trabalhismo.
A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932
Como vimos, a relação com os trabalhadores foi sendo resolvida ao longo da década, com relativa facilidade. Outros atores envolvidos na disputa pelo poder, contudo, não encontraram logo um canal de comunicação com o governo: é o caso das oligarquias cafeeiras, que se manifestariam através da Revolução Constitucionalista. Ou seja, um movimento exigindo uma nova Constituição para o país. A proximidade entre os termos “revolta” e “revolução” nos deixa alertas. Para os atores sociais que participaram do movimento, ele foi uma revolução, que trouxe mudanças radicais à situação do país, como veremos adiante. Para o governo de Vargas, foi apenas uma revolta, que precisava ser – e foi – sufocada. Logo após tomar o poder, Getúlio prometeu realizar a moralização da política nacional, “limpando o terreno” para que a democracia pudesse, de fato, se instalar no país. Para isso, anunciou a convocação de uma Assembleia Constituinte, que deveria criar uma nova Constituição. Fique atento a essa atitude: mudanças radicais de governo, em geral, são acompanhadas por troca de Constituição ou alterações significativas em seu texto. Isso acontece porque, sendo a Constituição o principal conjunto de leis de um país, o domínio sobre a sua redação garante o controle sobre a nova sociedade que se deseja erigir.
Em 1932, dois anos depois de ter tomado o poder, Getúlio ainda não havia cumprido o prometido, e permanecia no poder sem uma nova Constituição. Isso não agradava em nada aos setores que haviam sido afastados, sobretudo os cafeicultores. Por um lado, impedia que eles pudessem tentar retomar o poder legalmente, pois a Constituição iria determinar como e quando haveria novas eleições. Por outro, o fato de protelar a Constituição era uma forma de Getúlio continuar ocupando o poder central por tempo indeterminado.
Não à toa, foi de São Paulo, um dos maiores produtores de café da época, que surgiu uma revolta contra tal situação: a Revolução Constitucionalista, iniciada em 9 de julho e se estendendo até outubro daquele ano. Além da Constituição, havia também os que defendiam a separação de São Paulo em uma República independente e aqueles que desejavam organização do país em forma de Confederação, com maior autonomia para os estados.
Como o cartaz deixa claro, não se tratou de uma revolta “espontânea”. Os ataques foram planejados, bem organizados, contando, inclusive, com uma central de alistamento. Você deve ter observado que, por trás da bandeira do Brasil, está a de São Paulo. As duas, sobrepostas, indicam a vinculação entre a identidade nacional (brasileira) e a regional (paulista). Assim, os combatentes lutavam, simultaneamente, pela autonomia de seu estado, mas também pela libertação de seu país. 
Esta imagem, exibindo as ruas lotadas por pessoas que, aparentemente, apoiam a passagem das caminhonetes com os combatentes, indica a adesão de boa parte da população da capital. Além dos que se se alistaram, devem ser levados em conta também os que se uniram para alimentar, vestir e medicar os combatentes. São notórias, nesse campo, as doações de ouro (inclusive de alianças de casamento), feitas para sustentar a revolta.
É importante entender, portanto, que a Revolução foi mais do que um movimento orquestrado pelas oligarquias cafeeiras interessadas em retomar o poder. A população da cidade e do estado de São Paulo, além de parte do atual Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul aderiu às ideias com afinco, doando-se material e emocionalmente. Tais eventos se constituem, na memória paulista, como um ponto marcante de sua identidade. A data de 9 de julho, início da Revolução, é considerada feriado estadual, além de batizar uma das maiores e mais importantes avenidas da capital paulista. Fora isso, os nomes dos mortos (em torno de mil) são reverenciados, em especial os cinco jovens que inspiraram o início da revolta, reconhecidos pela sigla MMDCA: Martins, Miragaia, Dráusio, Camargo e Alvarenga . Como Alvarenga teve reconhecimento tardio, é comum, nos cartazes da época, ver apenas MMDC.
Enfim, para os que participaram dos eventos - tanto diretamente, nas batalhas, como de forma indireta, através de auxílio financeiro e/ou estratégico - a Revolução representou uma defesa corajosa da democracia contra o abuso de poder de Getúlio Vargas. Não é à toa que São Paulo se configura a única capital brasileira a não cultuar a memória de Vargas.
ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE – FINALMENTE!
Quanto aos efeitos da Revolução, podemos dizer que houve perdas e ganhos. Por certo ela falhou em tirar Getúlio do poder ou em conseguir maior autonomia para os estados. Porém, mesmo sufocada, ela atingiu o seu objetivo último: exigir a Constituição prometida por Vargas, já que em maio de 1933 foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte.
A Constituição prometida por Vargas em 1930 só seria promulgada, por conta das pressões da Revolução Constitucionalista, em 15 de julho de 1934. Ela é considerada uma conquista em direção à democracia, pois garantiu muitos direitos que a de 1891 (primeira Constituição da República brasileira) ignorava.
Houve avanços na área do trabalho e da igualdade de gêneros, por exemplo. Também consolidou a participação de setores mais diversos na composição do poder, como as classes médias, os industriais e os militares, sem deixar de dar espaço às oligarquias. Curiosamente, esses pressupostos não foram aplicados durante muito tempo. Como veremos mais adiante, a Constituição de 1934 só foi colocada em prática por aproximadamente um ano. Na composição da Assembleia, estavam parlamentares e representantes de sindicatos, indicados pela Presidência (como vimos, somente os sindicatos apoiados pelo governo tinham validade).
Serviram de inspiração a Constituição da República de Weimar (Alemanha), de 1920, e a da Espanha, de 1931. Em ambas, reforça-se o federalismo, com autonomia para os estados, mas acompanhadas de um governo central forte. Esse sistema é diferente de uma confederação, em que os estados são não apenas autônomos, mas também soberanos em relação ao poder central. Nesse quesito, é curioso notar que a Constituição garantiu a permanência de Getúlio no poder, como Presidente, até que novas eleições fossem convocadas, quatro anos depois. 
Em termos de conquistas democráticas, a Carta de 1934 garantiu o voto secreto, estendeu o direito de votos às mulheres e criou a Justiça do Trabalho. A primeira conquista era a garantia de que o “voto de cabresto” não poderia continuar vigorando, pois sem os coronéis ao lado, os trabalhadores poderiam votar emquem a sua consciência mandasse. Já em relação ao voto feminino, tratava-se da consolidação de uma luta que vinha desde o século XIX, pela autonomia intelectual da mulher. Ou seja, as mulheres deveriam ser consideradas capazes de pensar e tomar decisões (inclusive políticas) sem a tutela de parentes (sobretudo, pais e maridos).
Sobre a emancipação feminina, você precisa ter em mente que a Constituição mais consolidou direitos do que criou. Afinal, em 1927 o estado do Rio Grande do Norte já havia mudado a lei eleitoral, permitindo que mulheres votassem e fossem votadas. Tal conquista se deve aos esforços de Celina Guimarães Viana, considerada a primeira eleitora do Brasil; além de outra personagem importante: a bióloga Bertha Lutz. Ela foi a fundadora, entre outras, da Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, em 1919, e da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em 1922.
Como consequência da atuação dessas instituições, no estabelecimento do Código eleitoral de 1932, o direito de voto foi estendido à mulher. Bertha também participou das discussões para a redação do Anteprojeto de Constituição, junto com outra mulher, Nataercia da Silveira, também em 1932. Porém, nenhuma das duas foi convidada a participar da redação final do projeto. Bertha se candidatou à Assembleia Constituinte de 1934, mas não conseguiu ser eleita. Contudo, tendo conquistado a suplência na Câmara Federal, conseguiu ser a primeira mulher a ocupar o cargo de deputada, em 1936. Quanto às eleitoras, somente poderiam votar aquelas que possuíssem emprego público, mas ainda assim a conquista foi válida.
Ainda em termos de conquistas democráticas, devemos destacar a Justiça do Trabalho, que previa assistência ao trabalhador nas contendas com os patrões. Nos extremos dessa disputa, havia forças de esquerda e de direita. De um lado, socialistas e comunistas, articulados sobretudo aos trabalhadores, mas não só. Em torno de Luís Carlos Prestes, o antigo líder tenentista da Coluna Prestes que havia se convertido ao comunista, também se organizava a Aliança Nacional Libertadora. Do outro lado, os setores mais conservadores, aglutinados em torno de Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira, que, como vimos, havia se constituído nos moldes dos partidos nazifascistas europeus.
Alguns elementos dessa imagem nos chamam a atenção. Primeiro, as cores: há um grande destaque para o conjunto de verde e amarelo que, como você sabe, está associado à ideia de nacionalidade. Depois, a expressão “Anauê!”, similar à utilizada pelos nazistas para saudar Hitler, o líder do partido: “Heil!”. Sobre o mapa do Brasil, o Sigma, que fazia as vezes da Suástica. Por fim, o uniforme da figura que prega o Sigma sobre o Brasil, constitui-se em uma camisa verde, com o Sigma pregado na manga, assim como a Suástica estava nas camisas nazistas. Sobre esse assunto, é interessante lembrar que os integralistas eram conhecidos como “camisas verdes”. Aproximadamente um ano e meio depois, em 1937, os Integralistas criaram um falso plano comunista, que teria como objetivo tomar o poder: o Plano Cohen. Apesar de falso, foi ele que justificou que Getúlio desse um novo Golpe, instituindo o Estado Novo. A Constituição de 1934 e as eleições para 1938 foram suspensas, o Congresso foi fechado e Vargas assumiu o caráter ditatorial de seu governo.
Também na Constituição de 1934, ficaram garantidos: a proibição do trabalho infantil, a jornada de oito horas de trabalho, repouso semanal obrigatório, férias remuneradas, indenização de trabalhadores despedidos sem justa causa, assistência médica a todos e assistência remunerada às trabalhadoras grávidas. Apesar de todos esses avanços, é preciso ter em conta, como já dissemos inicialmente, que a Constituição de 1934 vigorou durante pouquíssimo tempo. Ela é considerada, na verdade, a Constituição com a vida efetiva mais curta do Brasil. Afinal, no ano seguinte à sua promulgação, um movimento político comunista – que veremos em seguida – levou o governo a decretar a Lei de Segurança Nacional. Em 1936, a Constituição finalmente começou a vigorar, para ser definitivamente suspensa no ano seguinte. Logo, ela durou apenas um ano.
Observe atentamente as três imagens a seguir. Elas estão relacionadas a momentos distintos da Era Vargas e representam eventos importantes referentes a cada uma dessas etapas. Faça comentários sobre as imagens, procurando, assim, realizar um resumo da fase inicial da Era Vargas.
A primeira imagem nos remete diretamente à Revolução Constitucionalista de 1932, reação das oligarquias paulistas ao Golpe de 1932. A Revolução, apesar de sufocada, levou ao fim do Governo Provisório, com a promulgação da Constituição de 1934. A segunda imagem está relacionada a esse novo contexto, chamado Governo Constitucionalista. Entre os muitos avanços democráticos trazidos pela Carta de 1934, está o voto feminino, evidenciado pela ação retratada na imagem. Finalmente, o Plano Cohen, representado pelo mapa do Brasil coberto pela bandeira da União Soviética, representando o comunismo, indica o fim do Governo Constitucional, já que, mesmo sendo falso, serviu de motivo para a decretação do Estado Novo.
ARENDT, Hannah. Da revolução. São Paulo; Brasília: Ática UNB, 1990.
BÚSSOLA ESCOLAR. Coluna Prestes. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
CANAL DO EDUCADOR. O trabalhismo na Era Vargas. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoques 1808-1964. A História contada por jornais e jornalistas, contemporânea. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
DECCA, Edgar de. 1930: o silêncio dos vencidos. São Paulo: Brasiliense, 2004.
GOMES, Angela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. HISTÓRIA MUTANTE. Integralistas x aliancistas. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
INFOESCOLA. Integralismo. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
MESTRES DA HISTÓRIA. Atividades de fixação sobre o capítulo Era Vargas: a construção de um Brasil novo. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
MUNDO EDUCAÇÃO. Plano Cohen. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
MUSEU BERTHA LUTZ. Discurso de Bertha Lutz na Comissão de Redação do Anteprojeto de Constituição. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
PROJETO GETÚLIO VARGAS. Governo Constitucional. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
SÃO PAULO. Assembleia Legislativa do estado de São Paulo. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
SIDNÉA MARINHO. Semana de Arte Moderna de 1922. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
Visite o site do CPDOC/Fundação Getúlio Vargas, disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
Acompanhe a visita virtual ao Memorial Getúlio Vargas. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
Faça uma visita virtual ao Museu da República e descubra mais sobre o lugar em que Getúlio governou e morreu. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
Visite a página do Museu Bertha Lutz e conheça uma pouco da história do feminismo no Brasil. Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
Leia o Manifesto da Aliança Nacional Libertadora, por Luís Carlos Prestes (1935). Disponível na íntegra aqui. Acesso em 10 jan. 2014.

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