Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
G u ilh er m e F r e ir e d e M e l o B a r r o s Graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Pós-graduado em Direito Processual Civil pelo Instituto Romeu Baceilar Ex-Defensor Público do Estado do Espírito Santo Procurador do Estado do Paraná. E-mai!: barrosguilherm e@ yahoo.com .br ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A t u a l i z a d a d e a c o r d o c o m a L e i n ° 1 2 .0 1 0 / 2 0 0 9 ; c o n t é m TAMBÉM OS SEGUINTES ANEXOS-. ENTENDIMENTOS MAIS IMPORTANTES d o S T J e d o STF; Q u a d r o g e r a l d e a r t i g o s m a is c o b r a d o s em c o n c u r s o ; C a d a s t r o N a c i o n a l d e C r i a n ç a s e A d o l e s c e n t e s D e s a p a r e c i d o s ; A l i e n a ç ã o p a r e n t a l ; S i s t e m a N a c i o n a l d e A t e n d i m e n t o S o c i o e d u c a t i v o ( s i n a s e ) Dicas para realização de provas de concursos artigo por artigo, com questões de concursos e jurisprudência do STF e STJ inseridas. 7- edição Revisada, ampliada e atualizada. 2013 \Jj\ EDITORA I 4 r \ IfM >PODIVM fU www.editorajuspodivm.com.br 1 I EDITORA I jtoPODIVM www.editorajuspodivm.com.br Rua Mato Grosso, 175 ~ Pituba, CEP: 41830-15 J - Salvador - Bahia Te): (71) 3363-8617 / Fax: (71) 3363-5050 • E-mail: fale@editorajuspodivm.com.br Copyright: Edições JusPODlVM Conselho Editorial: Dirley da Cunha Jr., Leonardo de Medeiros Garcia, Fredie Didier Jr., José Henrique íyJoula, José Marcelo Vigliar, Marcos Ehrhardt Júnior, Nestor Távora, Robério Nunes Filho, Roberval Rocha Ferreira Filho, Rodolfo Pamplona Filho, Rodrigo Reis Mazzei e Rogério Sanches Cunha. C apa: Rene Bueno e Daniela Jardim (www.buenojardim.com.br) Diagram ação: Centli Coelho (cendicoelhoQgmail.com) Todos os direitos desta edição reservados à Edições ./i/í PODÍ VM. É terminantemente proibida a reproduçüo total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem a expressa autorização do autor e da Edições ./msPODIVM. A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis. 10 DEDICATÓRIA Dedico este livro à minha família, que já é grande e continua a crescer; aos meus pais, Juarez e lora; oos meus irmãos, Leonora, Claudia, Juarezinho, Marian- gela, Ana Claudia e Fernanda; aos meus sobrinhos, Juan, Carolina, Paula, Pedro, Marina, Rafael, Bea triz, Sofia, Maria Clara e Maria Fernanda, Gabriel e Arthur; aos meus cunhados: luizAntonio, Elizange la, Alex e Eduardo. Dedico também ao meu grande amor; àquela com que inicio minha própria família, Marcelle, e ò sua famí lia, que também já é minha: Antonio, Daisy, Charles e Gabi. Que as próximas edições deste livro tenham de ser atualizadas também na dedicatória/ HOMENAGEM Faço deste livro uma homenagem e um agradecimento à Defensoria Pública do Estado do Espirito Santo, que me acolheu e me iniciou profissionalmente, bem como a seus defensores públicos, que, apesar de tantas dificuldades e obstáculos, persistem na luta diária da tutela dos neces sitados. A marca que em mim ficou pelos dois anos de trabalho nesta nobre Instituição é indelével. S u m á r io Proposta da Coleção Leis Especiais para Concursos........................................................... 15 Apresentação da T edição............................................................................. 17 Abreviaturas.............................................. ....................................................... 19 Lei n 0 8.069, de 13 de julho de 1990 LIVRO I - PARTE GERAL......................................................................... 21 TÍTULO I Das Disposições Preliminares...................... ................................................ 21 TÍTULO II Dos Direitos Fundam entais.......................................................................... 28 Capítulo I Do Direito à Vida e à Saúde............................................... .......................... 28 Capítulo II Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à D ignidade................................ 36 Capítulo III Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária.................. ............. 38 Seção I - Disposições Gerais................................................................ 38 Seção II - Da Família Natural............................................................... 45 Subseção II — Da Guarda..,................................................. ............. 55 Subseção III - Da Tutela...................... ............................ ............... 60 Subseção IV - Da Adoção................................................................ 62 Capítulo V Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho.................... 101 TÍTULO III Da Prevenção......................................................................*............................. , 105 Capítulo I Disposições Gerais........................................................................................... 105 Capítulo II Dá Prevenção Especial................................................................................... 106 Seção I - Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e Espetáculos........................................................ 106 Seção II - Dos Produtos e Serviços.................................. ................... 107 Seção III - Da Autorização para Viajar................................................ 110 9 G u il h e r m e F r e ir e de M elo B a r r o s LIVRO II - PARTE ESPECIAL .................. ...... ...................... 1.16 TÍTULO I DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO........................................................ 116 \ Capítulo I Disposições G erais............................................................................*.............. 116 Capítulo II } Das Entidades de Atendim ento....................................................... ............ 119 Seção I - Disposições Gerais................................................................. U 9 «u. Seção II - Da Fiscalização das Entidades........................................... 128 > TÍTULO II ) DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO.......................... ............................. 131 Capítulo I Disposições Gerais............................................................................................ 131 ) Capítulo II Das Medidas Específicas de Proteção............................... ....................... . 133 ^ TÍTULO III DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL.................... ............................ 144 ) Capítulo I Disposições Gerais............... ............................................................ .............. 144 Capítulo II i Dos Direitos Individuais................................................................................. 146 Capítulo III Das Garantias Processuais................... ................. ...................................... 153 / Capítulo IV i Das Medidas Sócio-Educativas................................................................................. ............................................................ 157 Seção I - Disposições Gerais.................... ...........-............................... 157 x Seção II - Da Advertência..... ............................................ .................... 163 j Seção III - Da Obrigação de Reparar o Dano..................................... 164 Seção IV - Da Prestação de Serviços à Comunidade....................... 165 > Seção V - Da Liberdade Assistida.................. ...................................... 166 Seção VI - Do Regime de Semiliberdade........................................... 168 Seção VII - Da Internação.....................................................................171 1 Capítulo V ) Da R em issão.. ........................................................ ............................................ 188 TÍTULO IV DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL................................................ *.............. 190 10 S u m á r io TÍTULO V Do Conselho Tutelar...................................................... ............................... 192 C apítulo I Disposições Gerais........................................ .................................................. 192 Capítulo II Das Atribuições do Conselho........................................................................ 194 Capítulo HI Da Competência.................................................................................... ......... 196 Capítulo IV Da Escolha dos Conselheiros....................................................................... 196 Capítulo V Dos Impedimentos........ ............................................................................... 197 TÍTULO VI DO ACESSO À JUSTIÇA.......... ................................................................. 198 Capítulo I Disposições Gerais..................................................................................... . 198 Capítulo II Da Justiça da Infância e da Juventude..................................................... 202 Seção I - Disposições Gerais............................................................ . 202 Seção Ií - Do Juiz.................................................................................. 203 Seção IIÍ - Dos Serviços Auxiliares..................................................... 213 Capítulo III Dos Procedimentos................. ........................................................................ 213 Seção I - Disposições Gerais................. ............................................. 213 Seção II - Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar (Expressão substituída pela Lei n° 12.010, de 2009 )....................... 215 Seção III - Da Destituição da Tutela.................................................... 221 Seção IV - Da Colocação em Família Substituta............................. 222 Seção V — Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente......................................................................... 225 Seção VI - Da Apuração de Irregularidades em Entidade de Atendimento................................................................ 247 Seção VII - Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de Pro teção à Criança e ao Adolescente......................................................... 249 Seção VIII - (Incluída pela Lei n° 12.010, de 2009) Da Habilitação de Pretendentes à Adoção...............................j ........ 251 Capítulo IV Dos Recursos..................................................................................................... 254 11 G u il h e r m e F r e ir e d e M e l o B a r r o s Capítulo V Do Ministério Público............................................................ ............... ........ 262 Capítulo VI Do Advogado................................................................................................... . 267 Capítulo VII Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos................................................................... 268 TÍTULO VII DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS.............. 273 Capítulo I Dos Crimes......................................................................................................... 273 Seção I - Disposições Gerais................................................................ 273 Seção II - Dos Crimes em Espécie...................................................... 275 Capítulo II Das Infrações Administrativas..................................................................... 295 Disposições Finais e Transitórias................................................................ 302 A nexo I»........................................................... ..........*...................................... 311 Entendimentos mais importantes do STJ e do STF............................ . 311 A nexo I I .................. .......................................... ................................................ 317 Quadro geral de artigos mais cobrados em concurso.......................................................................... 317 Anexo III................... ........................ ............................*.................................. 337 Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos...................................................................... 337 Lei n° 12.127, de 17 de dezembro de 2009................................................. 337 Anexo IV ............................................................................................................ 339 Alienação Parental............................................ .............................................. 339 LEI N° 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010......................................... 339 Anexo V ................................... ,............. ............................................................ 343 Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SIN A SE )...... 343 Lei n° 12.594, de 18 de janeiro de 2012......................... ........ ................... 343 TÍTULO I DO SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO (SINASE)......... ....................................................... 343 1 2 S u m á r io Capítulo I Disposições Gerais............................................................................................ 343 Capítulo II Das Competências............................................................................................ 345 Capítulo III Dos Planos De Atendimento Socioeducativo.......................................... . 349 Capítulo IV Dos Programas De Atendimento.................................................................. 350 Seção I - Disposições Gerais.................................... ............................ 350 Seção II - Dos Programas de Meio Aberto......................................... 351 Seção III - Dos Programas de Privação da Liberdade...................... 352 Capítulo V Da Avaliação e Acompanhamento Da Gestão Do Atendimento Socioeducativo............................................ 353 Capítulo VI Da Responsabilização Dos Gestores, Operadores E Entidades De Atendimento...................................... 356 Capítulo VII Do Financiamento E Das Prioridades........................................................ 357 TÍTULO II DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS................. 359 Capítulo I Disposições Gerais............................................................................ ..... 359 Capítulo II Dos Procedimentos.......... ............................................................................... 360 Capítulo III Dos Direitos Individuais........................ ....................................................... 365 Capítulo IV Do Plano Individual De Atendimento (P ia).............................................. 366 Capítulo V Da Atenção Integral À Saúde De Adolescente Em Cumprimento De Medida Socioeducativa........... ............................ 368 Seção I - Disposições Gerais.................................. .............................. 368 Seção II - Do Atendimento a Adolescente com Transtorno Mental e com Dependência de Álcool e de Substância Psicoativa................................................... 369 Capítulo VI Das Visitas A Adolescente em Cumprimento De Medida De Internação...................... ........................... 370 13 G u il h e r m e F r e ir e de M elo B a r r o s C apítu lo VII Dos Regimes Disciplinares........................................................................ 371 TÍTULO III DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS......... ............................... 373 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 375 "14------- P r o p o s t a d a C o l e ç ã o L e is E s p e c ia is p a ra C o n c u r s o s A coleção Leis Especiais para Concursos tem como objetivo prepa rar os candidatos para os principais certames do país. Pela experiência adquirida ao longo dos anos, dando aulas nos prin cipais cursos preparatórios do país, percebi que a grande maioria dos candidatos apenas lêem as leis especiais, deixando os manuais para as matérias-mais cobradas, como constitucional, administrativo, processo civil, civil, etc.. Isso ocorre pela falta de tempo do candidato ou porque falta no mercado livros específicos (para concursos) em relação a tais leis. Nesse sentido, a Coleção Leis Especiais para Concursos tem a in tenção de suprir uma lacuna no mercado, preparando os candidatos para questõès relacionadas às leis específicas, que vêm sendo cada vez mais contempladas nos editais. Em vez de somente ler a lei seca, o candidato terá dicas específicas de concursos em cada artigo (ou capítulo ou título da lei), questões de concursos mostrando o que os examinadores estão exigindo sobre cada tema e, sobretudo, os posicionamentos do STF, STJ e TST (prin cipalmente aqueles publicados nos informativos de jurisprudência). As instituições que organizam os principais concursos, como o CESPE, utilizam os informativos e notícias (publicados na página virtual de ca da tribunal) para elaborar as questões de concursos, Por isso, a necessi dade de se conhecer (e bem!) a jurisprudência dos tribunais superiores. Assim, o que se pretende com a presente coleção é preparar o leitor, de modo rápido, prático e objetivo, para enfrentar as questões de prova envolvendo as leis específicas. Boa sorte! Leonardo de Medeiros Garcia (Coordenador da coleção) leonardo@leonardogarcia. com. br leomgarcia@yahoo.com.br vwvv. leonardogarcia. com. br A p r e s e n t a ç ã o d a T e d i ç ã o v Esta nova edição, com o intuito de se manter devidamente atualiza da, contém novas questões dos concursos realizados ao longo de 2012, bem como informativos e julgados importantes. Para manter a leitura ágil e atual, descartamos questões e informativos muito antigos. Foram feitas também correções e adequações que têm origem nos e-mails dos leitores, canal sempre aberto de constante diálogo. Esperamos que a acolhida do público seja tão boa quanto as ante riores. Curitiba, janeiro de 2013. Guilherme Freire de Melo Barros barrosguilherme@yahoo.com.br 17 A b r e v ia t u r a s CRFB Constituição da República Federal do Brasil CC Código Civil CC/16 Código Civil de 1916 CC/2002 Código Civil de 2002 CPC Código de Processo Civil CP Código Penal CPP Código de Processo Penal CLT Consolidação das Leis do Trabalho STF Supremo Tribunal Federal STJ Superior Tribunal de Justiça TJ Tribunal de Justiça MP Ministério Público DP Defensoria Pública 1. L e i n ° 8.069, d e 13 d e j u l h o d e 1990 Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras provi dências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacio nal decreta e eu sanciono a seguinte Lei: LIVRO I - PARTE GERAL TÍTULO I Das Disposições Preliminares Art. 1° Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adoles cente. Doutrina da proteção integral: é fundamenta! a compreensão do cará ter principiológico adotado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A Lei tem o objetivo de tutelar a criança e o adolescente de forma ampla, não se limitando apenas a tratar de medidas repressivas contra seus atos infracionais. Pelo contrário, o Estatuto dispõe sobre direitos infanto-juve- nis, formas de auxiliar sua família, tipificação de crimes praticados contra crianças e adolescentes, infrações administrativas, tutela coletiva etc. En fim, por proteção integrai deve-se compreender um conjunto amplo de mecanismos jurídicos voltados à tutela da criança e do adolescente. O art. 12 está afinado com a vontade emanada da Constituição da Repú blica, cujo art. 227 - recentemente alterado pela EC 65/2010 - determina que "é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saú de, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão." Guarda ligação com a doutrina da proteção integral o princípio do melhor interesse da criança ou do adolescente. Esse postulado traduz a ideia de que, na análise do caso concreto, o aplicador do direito ~ leia-se advogado, 21 ROSE Realce PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight G u il h e r m e F r e ir e de M elo B a r r o s defensor público, promotor de justiça e juiz - deve buscar a solução que proporcione o maior benefício possível para a criança ou adolescente, que dê maior concretude aos seus direitos fundamentais. No estudo da colo cação da criança ou do adolescente em família substituta, o princípio do melhor interesse se faz presente de forma marcante. Aplicação em concurso • (MP-RO - 2010 - CESPE - adaptada) [Julgue o item] O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente pode ser com preendido como a forma adequada de permitir que a criança e o adolescen te possam se desenvolver com dignidade, concretizando, portanto, os seus direitos fundamentais. Gabarito: o item está certo. Art. 2o Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmen te este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. 1. Conceito de criança e de adolescente: o Estatuto estabelece no art. 2? uma importante divisão conceituai, com implicações práticas relevantes. Considera-se criança a pessoa com 12 (doze) anos incompletos, ou seja, aquela que ainda não completou seus doze anos. Por sua vez, adolescen te é aquele que conta 12 (doze) anos completos e 18 anos incompletos. Ao completar 18 anos, a pessoa deixa de ser considerada adolescente e alcança a maioridade civil (art. 52 do Código Civil). O critério adotado pelo legislador é puramente cronológico, sem adentrar em distinções biológi cas ou psicológicas acerca do alcance da puberdade ou do amadurecimen to da pessoa. A distinção entre criança e adolescente tem importância, por exemplo, no que tange às medidas aplicáveis à prática de ato infracional. À criança somente pode ser aplicada medida de proteção (art. 105), e não medida socioeducativa - estas aplicáveis aos adolescentes. Idade Nomenluris De 0 a 12 anos incompletos Criança De 12 completos e 18 anos incompletos Adolescente A partir de 18 anos completos Maior plenamente capaz 22 ROSE Realce PaulaMello Highlight L ei n ° 8 .0 6 9 , d e 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 -> Aplicação em concurso • (TJ-RO - 2011 - PUC-PR - adaptada) [Julgue o item] IV. Considera-se criança, para os efeitos do Estatuto da Criança e do Adolescen te, a pessoa até dez anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre dez e dezoito anos de idade. Gabarito: o item está errado. 2. Subsistência do parágrafo único do art. 22 no ordenamento jurídico - po sição do STJ: dispõe o parágrafo único do art. 22 que o Estatuto é aplicável excepcionalmente às pessoas entre 18 e 21 anos de idade. Quando da promulgação do Estatuto daCriança e do Adolescente, estava em vigor o Código Civil de 1916, cuja disciplina acerca da capacidade civil determina va que a maioridade fosse alcançada aos 21 anos (art. 99, CC/16). Com o advento do Código Civií de 2002, foi reduzida a maioridade para 18 anos (art. 5S, CC/2002), o que leva alguns a afirmar que o parágrafo único foi tacitamente revogado. Não é isso que nos parece, porém. Na verdade, o parágrafo único contí nua em vigor e é plenamente válido. Na apuração de ato infracional, por exemplo, ainda que o adolescente tenha alcançado a maioridade, o pro cesso judicial se desenvolve no âmbito da Justiça da Infância e Juventude. Vale dizer, aquele que já completou 18 anos ainda está sujeito à imposição de medidas socioeducativas e de proteção. A aplicação do Estatuto so mente cessa quando a pessoa completa 21 anos (art. 121, § 59). No âmbi to cível, verifica-se que a adoção pode ser pleiteada no âmbito da Justiça da Infância e Juventude, mesmo que o adotando já tenha completado 18 anos, nos casos em que já se encontre sob a guarda ou a tutela dos ado- tantes (art. 40). Portanto, deve ficar claro que o Estatuto fixa os conceitos de criança e adolescente e tem por objetivo tutelá-los, mas é possível sua aplicação em situações na quais o adolescente já tenha atingido a maioridade civil. É a posição do STJ a respeito do assunto: 1. Conforme pacífico entendimento deste Superior Tribunal de Justi ça, considera-se, para a aplicação das disposições previstas na Lei n.9 8.069/90, a idade do adolescente à data do fato (art. 104, parágrafo único, do ECA). Assim, se à época do fato o adolescente tinha menos de 18 (dezoito) anos, nada impede que permaneça no cumprimento de medida socioeducativa imposta, ainda que implementada sua maiori dade civil. 2 3 PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight G u il h e r m e F r eire de M elo B a r r o s 2. O Novo Código Civil não revogou o art. 121, § 5.2, do Estatuto da Criança e do Adolescente, devendo permanecer a idade de 21 (vinte e um) anos como limite para a liberação compulsória. 3. Ordem denegada. (HC 180.066/RJ, Rei. Min. laurita Vez, 5^ Turma, julgado em 14/04/2011, DJe 04/05/2011) -> Aplicação em concurso • (TJ-RO - 2011 - PUC-PR - adaptado) [Julgue o item] V. O Estatuto da Criança e do Adolescente, nos casos expressos em lei, aplica sse excepcionalmente às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Gabarito: o item está certo. Art. 3o A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamen tais inerentes à pessoa humana, sém prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Dignidade da pessoa humana no Estatuto da Criança e do Adolescente: átravés da proteção integral, o Estatuto procura prever e disciplinar uma gama de instrumentos jurídicos de tutela da criança e do adolescente. O art. 39, ao mencionar "sem prejuízo da proteção integral" busca demons trar que a proteção do Ordenamento Jurídico pátrio a crianças e adoles centes não se esgota no Estatuto; qualquer diploma legislativo ou ato normativo que trata de criança e adolescente deve garantir-lhes oportuni dades de pleno desenvolvimento. Esse artigo guarda ligação com o princí pio da dignidade da pessoa, previsto no art. 12, inciso 111, da Constituição da República. Aplicação em concurso • (TJ-RO -2011 -PUC-PR -adaptada) [Julgue o item] III. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata o Estatuto da Criança e do Adolescente, assegurando-lhes todas as oportunidades e fa cilidades para lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritu al e social. Gabarito: o item está certo. PaulaMello Highlight L e i n 0 8 .0 6 9 , d e 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 Art 4o É dever dá família, da comumdadej da sociedade em gerai e do ' poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos di reitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e àconvivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. 1. Absoluta prioridade da tutela da criança e do adolescente: o caput do art. 42 é cópia da primeira parte do art. 227, da Constituição da República. Tanto !á, como aqui, são enumerados alguns dos direitos que cabem a crianças e adolescentes. A expressão-chave desse dispositivo é a absoluta prioridade. Trata-se de dever que recai sobre a família e o poder público de priorizar o atendimento aos direitos infanto-juvenis. No parágrafo único, destrincha-se o conteúdo da prioridade que deve ser dada a crianças e adolescentes. Em relação ao atendimento peío Po der Público dessas prioridades - mormente quanto à formulação e exe cução de políticas públicas ("c") e destinação de recursos públicos ("d") - , comumente se diz que a fiscalização deve ser exercida pelo Ministério Público (art. 129, II). No entanto, parece-nos que essa função compe te também à Defensoria Pública, pois as políticas públicas são dirigidas principalmente ao atendimento da população de baixa renda. Atualmen te a Defensoria Pública tem plena legitimidade para propositura de Ação Civil Pública para buscar a tutela coletiva dos necessitados (art. 59, Lei 7.347/85), poderoso instrumento de correção de desvios na atuação do Poder Publico. Além disso, o Poder Legislativo também exerce importan te função fiscalizadora, na medida em que é responsável pela aprovação de orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias. Por fim, a sociedade civil - ONG's, entidades filantrópicas, associações, imprensa etc. - não deve deixar de cobrar dos governantes uma atuação efetiva na proteção da criança e do adolescente. 2 5 PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight G u il h e r m e F re ir e d e M elo B a r r o s -> Aplicação em concurso ♦ (TJ-RO - 2011 - PUC-PR - adaptada) [Julgue os Itens] I. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder públi co assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionali zação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. II. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e so corro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos ser viços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Gabarito: os itens estão certos. Art. 5o Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opres são, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. .*#■ 1. Criança e adolescente como sujeitos de direito: o art. 52 se refere à par te final do art, 227 da Constituição da República. Tais comportamentos proibidos não se referem apenas aos pais, mas a quaisquer pessoas que tenham contatocom a criança ou adolescente. A conduta negligente, por exemplo, pode ser exercida por um guardião, alguém que tenha uma criança ou adolescente sob seus cuidados em determinada situação. A discriminação pode ter por alvo motivos de cor, religião, origem etc. En fim, mais uma vez, buscou-se enumerar de forma ampla qualquer conduta que possa violar os direitos da criança e do adolescente. O Estatuto prevê sanções de natureza civil, como a suspensão e a perda do poder familiar, penal e administrativa - o Título VII, do Livro II dispõe sobre crimes e infra ções administrativas relacionadas a crianças e adolescentes. À luz do antigo regramento, o Código de Menores, crianças e adolescen tes eram vistos como objeto de proteção. A doutrina moderna dá outra conotação para a questão e passa a se referir à criança e ao adolescente como sujeito de direito. O objetivo á realmente deixar claro que eles tem direitos e que toda a sociedade - pais, responsáveis e Poder Público - deve observá-los. 26 L e i n 0 8 .0 6 9 , de 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 Art. 6o Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. 1. Interpretação teleológica: o artigo 69 traz disposição acerca da forma de interpretar o Estatuto da Criança e do Adolescente. A parte inicial do dis positivo possui redação semelhante ao do art. 59 da Lei de Introdução ao Código Civil: "Na aplicação da Lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige." Através da interpretação teleológica; o aplicador do direito deve buscar extrair da norma a finalidade a que ela se destina. No caso do Estatuto, a finalidade é a de proteger de forma ampla e o mais abrangente possível a criança e o adolescente. É sempre com base nesse objetivo de proteção que o intérprete deve examinar os dispositivos legais, -> Aplicação em concurso • (TJ-RO - 2011 - PUC-PR - adaptada) [Julgue o itêm] I. Na interpretação do Estatuto da Criança e do Adolescente serão levados em conta os fins sociais a que ele se dirige, as exigências do bem comum, os di reitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Gabarito: o item está certo. 2. Competência legislativa: em relação à proteção à infância e juventude, a competência legislativa é concorrente e recai sobre a União, os estados e o Distrito Federal, conforme determina o art. 24, inciso XV, da Constituição da República, -> Aplicação em concurso • (MP-PR - 2009 - adaptada) [Julgue o item] Compete privativamente à União legisiar sobre proteção à infância e juventude. Gabarito: o item está errado. 3. Inovações da Lei n9 12.010/2009: logo no início do mês de agosto de 2009, foi promulgada a Lei n2 12.010, que dispõe sobre o instituto da ado ção. As alterações se dão precipuamente no Estatuto, com o objetivo de disciplinar melhor os instrumentos de atendimento a crianças e adoles centes, bem como a suas famílias. Mais adiante, trataremos especifica mente das inovações trazidas por essa lei. No presente tópico, pontua-se .27 . PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight G u il h e r m e F r e ir e d e M e lo B a r r o s - apenas sua diretriz fundamental. A referida lei procurou deixar mais claro que a atuação do Poder Público deve ser voltada para a melhoria da qua lidade de vida da criança ou adolescente no seio de sua família natural. Não é objetivo do Estado tutelar exclusivamente a criança ou adolescen te, colocando-a em família substituta sempre que estiver em situação de risco. Pelo contrário, os institutos de guarda, tutela e adoção devem ser vistos como medidas extremas e excepcionais. O artigo 19 do Estatuto já impunha essa conclusão, mas a nova Lei reafirmou esse ponto com muito mais ênfase. Criança ou adolescente em situação de risco deve ser tutelada juntamente com toda sua família, ou seja, os órgãos públicos devem atender e cuidar de toda a família, pai, mãe, irmãos - pois esse núcleo familiar, constituído de sangue, deve ser preservado. Somente nos casos em que não seja pos sível a manutenção da criança em sua família natural é que se buscam so luções diversas. Através da nova Lei, foram inseridos diversos dispositivos no Estatuto que reafirmam essa posição, repita-se, a de que a criança ou adolescente deve permanecer preferencialmente em sua família natural. TÍTULO II Dos Direitos Fundamentais Capítulo I Do Direito à Vida e à Saúde Art. T A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saú de, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. 1. Políticas públicas: as políticas públicas competem precipuamente ao Po der Executivo. Governos federal, estadual e municipal devem agir de for ma harmônica e coordenada para atender às necessidades da população, mormente à criança e ao adolescente, objeto de tutela do Estatuto. Con forme frisado anteriormente, em comentários ao Título anterior, a forma tação e execução dos projetos de atendimento da criança e do adolescen te competem ao Executivo - que muitas vezes se vale do auxílio de entes paraestatais, membros do terceiro setor-, mas a fiscalização compete ao Ministério Público, à Defensoria Pública, ao Poder Legislativo e à socieda de civil organizada. Para alcançar o objetivo final do Estatuto, que é tutelar 28 PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight - L ei n -°- 8 .0 6 9 , de- 13 de ju l h o d e 1 9 9 0 ........ de forma ampla nossas crianças e adolescentes, o esforço deve partir de todas as instituições sociais. Nesse contexto, o Estatuto dá destaque ao desenvolvimento sadio e harmonioso do recém-nascido (art. 72). Aplicação em concurso * (TJ-RO - 2011 - PUC-PR - adaptada) [Julgue o item] III. A criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o de senvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência, Gabarito: o item está certo. Art. 8o É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal. § Io A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, segundo critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e hierarquização do Sistema. § 2o A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a acompanhou na fase pré-natal. § 3o Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem. § 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe* no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as conseqüências do estado puerperal. (Incluído pela Lei n° 12.010, de 2009) § 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser também presta da a gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção. (Incluído pela Lei n° 12.010, de 2009) Direitos da gestante: o artigo 89 faz referência ao direito de a gestante re ceber tratamento adequado durante o período de gestação. Ao disciplinar o direito da gestante, o Estatuto protege também a criança que virá à luz. A importância de se proteger a gestante é clara: uma gestação adequada previne doenças e permite o desenvolvimento sadio do feto, de manei ra que o recém-nascido terá condições de vida melhores. Daí a menção do artigo a atendimento pré e perinatal e ao apoio alimentar à gestante (§ 32). 29 G u il h e r m eF r e ir e d e M elo B a r r o s 0 parágrafo 42, inserido pela Lei n2 12.010/2009, aumenta o rol de deve res do Estado, ao inserir o dever de prestar assistência psicológica durante a gestação e após o parto, com os olhos voltados à prevenção do estado puerperal. A referência ao Sistema Único de Saúde tem relação com a Constituição da República, que traça, em seu artigo 198 e parágrafos, as diretrizes básicas dos serviços públicos de saúde no país. -> Aplicação em concurso • (TJ-PE - 2011 ~ FCC - adoptada) [Julgue o item] O direito a proteção à vido e ò saúde, permitindo o crescimento e o desenvolvimento sadio e harmoniosa da criança, compreende B) seu atendimento em qualquer hospital da rede pública ou particular, às ex- pensas do Estado. C) o atendimento pré e perinatal da gestante pelo Poder Público apenas se não tiver condições de arcar com as despesas em clínicas ou hospitais particula res. O) o encaminhamento da gestante aos diferentes níveis de atendimento médi co independentemente de qualquer critério de regionalização estabelecido pelo Sistema Único cfe Saúde, E) o encaminhamento da gestante aos diferentes níveis de atendimento segun do critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios da regionali zação e hierarquização do Sistema Único de Saúde. Gabarito: o item E está certo, os demais, errados. * TJ-BA - 2012 - Cespe. No que tange aos direitos fundamentais da criança e do adolescente, assinale a opção correta com base no que dispõem a CF e o ECA. B) Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica è gestante e à mãe, nç período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as conseqüências do estado puerperal, exceto, no último caso, na hipótese de a mãe biológica manifestar interesse em entregar seu filho para adoção. Gabarito: o item está errado. Art 9o O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade. 30 PaulaMello Highlight L e i n ° 8 .0 6 9 , d e 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 1. Aleitamento materno: o artigo 92 está em consonância com outros dispo- sitivos do ordenamento jurídico. Na Constituição da República, verifica-se que o direito à amamentação é fundamentai, conforme art. 59, inciso L: "às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permane cer com seus filhos durante o período de amamentação''. A Constituição faz menção a presidiárias. As adolescentes sujeitas a medida de internação não recebem essa denominação jurídica, mas sua situação é semelhante, pois ambas - mulheres maiores que cumprem pena privativa d,e liberdade e adolescentes que receberam medida socioeducativa de internação - es tão temporariamente com suas liberdades cerceadas, sendo necessário assegurar-lhes o direito à amamentação de seus filhos recém-nascidos. Assim, ainda que o Estatuto não contivesse a disposição expressa do art. 9Q, seria possível extrair esse direito ao aleitamento materno diretamente da Constituição. A rigor, muito mais do que um direito da gestante, a previsão em análise deve ser vista como direito do recém-nascido. Afinai, é ele quem tem di reito à proteção integral e ao desenvolvimento sadio, o que inclui, na fase inicial da vida, o aleitamento materno. Aplicação em concurso • (TJ-PE - 2011 - FCC - adaptada) [Julgue o item] O direito a proteção à vida e à saúde, permitindo o crescimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso da criança, compreende A) a prestação de condições adequadas ao aleitamento materno, salvo se a mãe estiver submetida a medida privativa de liberdade, devendo a criança nesse caso ser encaminhada necessariamente a uma família substituta. Gabarito: o item está errado. No âmbito do direito do trabalho, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) também prevê o direito'de aleitamento da empregada, em seu art. 396: "Para amamentar o próprio filho, até que este complete 6 (seis) me ses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a 2 (dois) descansos especiais, de meia hora cada um. Parágrafo único. Quan do o exigir a saúde do filho, o período de 6 (seis) meses poderá ser dilata do, a critério da autoridade competente." Como se vê, os diferentes dispositivos caminham na mesma direção, que é a de garantir o adequado desenvolvimento do recém-nascido durante os primeiros meses de vida. 31 G u il h e r m e F r e ir e de M eló B a r r o s ; '.'T;- Art*Í0, Òs hòspiteis\é;demais estabelecimentos de atenção à saüdejde, • gestantes, públicos e particulares, sãò obrigados a: "v'- I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários . individuais, pelo prazo de dezoito anos; II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente; III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anorma lidades no metabolismo do recém-nasqido, bem como prestar orientação aos pais; IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanên cia junto à mãe. 1. Adequada identificação de recém-nascidos: através do art. 10, busca-se garantir a adequada identificação dos recém-nascidos e de suas genito- ras, a fim de evitar a troca de identidades. Inclusive, os artigos 228 e 229 do Estatuto preveem como delito as condutas omissivas daqueles deixam de cumprir este dispositivo. Vale destacar que os prontuários das atividades desenvolvidas devem ser individuais, bem como mantidos pelo prazo de 18 anos (art. 10,1). O inciso IV faz referência a declaração de nascimento. Trata-se de docu mento de extrema importância - conhecido na prática como DNV ou de claração de nascido vivo - , pois é o que possibilita à genitora registrar o recém-nascido no registro civil de pessoas naturais. Além disso, e docu mento de que sempre se vale o Judiciário no procedimento de regulariza ção de registro civil (art. 102). 2. Preocupação com a entrega da criança à adoção: é comum verificarmos casos de mães que, já durante o período de gestação, estão dispostas a entregar seus filhos à adoção. Acima frisamos que a diretriz principioló- gica que permeou as alterações trazidas pela Lei n9 12.010/2009 foi a da preservação da família natural. Dentro desse contexto, o novo parágrafo 59 do artigo 89 estabeleceu a necessidade do acompanhamento psico lógico à mãe que externa seu desejo de entregar seu filho à adoção. 3 2 O objetivo deve ser o de informar a gestante/mãe sobre a importância do vinculo familiar, da preservação da família, da alegria e da responsabi lidade proporcionadas pela maternidade. Não me parece que a atuação deva ser dirigida exclusivamente a demover a gestante/mãe do intuito de entregar a criança à adoção. Ainda que se pretenda a preservação da família natural, a mulher não deve ser compelida, pressionada a criar a criança - sob pena de se arrepender em momento posterior e rejeitar a criança, o que é muito mais traumático para ambos. O foco de atuação do auxílio psicológico deve ser o de informar devidamente a mulher acerca das conseqüências de seu ato, a fim de lhe permitir tomar a decisão mais adequada de forma livre e consciente. De igual modo, o parágrafo único inserido ao artigo 13 - que não guarda relação com o caput- estabeleceu a necessidade de encaminhamento da mãe ou gestante à Justiça da Infância e da Juventude, para que seja devi damente orientada e auxiliada. É comum que gestante ou mãe demonstre vontade de entregar seu filho para adoção por acreditar não ter condições de criá-lo.Nesses casos, é imprescindível o trabalho da Justiça da Infância e da Juventude, bem como dos órgãos públicos. O ente público pode auxi liar aquela mulher - normalmente muito jovem ~ com oportunidades de estudo e trabalho, de modo que a criança possa permanecer no seio da família natural. Foi prevista, inclusive, no artigo 258-B, uma nova infração administrativa para o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de saúde que deixar de encaminhar a mulher à autoridade judiciária. -> -Aplicação em concurso • (MP-BA - 2010 - adaptada) [Julgue o item) Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante ou à mãe que manifeste interesse em entregar seus filhos para adoção. Gabarito: o item está certo. Art. 11. E assegurado atendimento integral à saúde da criança e do ado lescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e re cuperação da saúde. (Redação dada pela Lei n° 11.185, de 2005) § Io A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão aten dimento especializado. L e i n 0 8 .0 6 9 , d e 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 3 3 G u il h e r m e F reire de M e lo B a r r o s § 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que ne cessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tra tamento, habilitação ou reabilitação. Art 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcio nar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. 1. Sistema Único de Saúde: houve modificação da redação do caput do arti go 11 pela Lei 11,185/2005. A redação original dispunha que "é assegura do atendimento médico", sendo a expressão substituída por atendimento integral. Busca-se deixar claro que o atendimento à criança e ao adoles cente não se resume ao atendimento de médicos. Para prestar-lhes ampla proteção, podem ser necessários psicólogos, fisioterapeutas e outros pro fissionais ligados à área da saúde. Sejam quais forem as suas necessida des, o Sistema Único de Saúde deve garantir-lhe o tratamento. Em relação ao fornecimento de medicamentos, próteses e outros recur sos, vale destacar a atuação da Defensoria Pública na tutela do direito in dividual de crianças e adolescentes necessitados. A esfera de atuação do Ministério Publico é molecular, macro, ou seja, compete-lhe fiscalizar, por exemplo, a alocação de-recursos e o fornecimento de medicamentos de forma ampla. Tal papel também pode vir a ser exercido pela Defensoria Pública, na medida em que é legitimada para propositura de Ação Civil Pública (art. 5$, Lei 7.347/85), conforme já mencionado anteriormente. Ocorre que a proteção individual do necessitado, através da propositura de demandas pelo particular em face do Poder Público, é função insti tucional da Defensoria Pública. Dai a importância da Instituição na con secução dos objetivos de proteção integral do Estatuto da Criança e do Adolescente. Portanto, se no caso concreto se verifica que uma criança ou adolescente hipossuficiente necessita de um medicamento, cabe à Defensoria Pública patrocinar a ação competente em face do Poder Público com o objetivo de assegurar-lhe seu direito integral à saúde. Apenas em situações absolu tamente peculiares e excepcionais, a jurisprudência admite a legitimidade do Ministério Público para demandas individuais, conforme veremos em comentários à disciplina dessa Instituição (arts. 200 a 205). Ainda do ponto de vista dos cuidados à saúde da criança ou adolescente, o artigo 12 tem por objetivo garantir-lhe o amparo de pessoas a ele afe tivamente ligadas durante o período de sua internação para tratamento 34 PaulaMello Highlight L e i n 0 8 .0 6 9 , d e 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 médico. Incluem-se no conceito de responsável aqueles que possuem vín culo legal com a criança ou adolescente ~ por exemplo, tutor e curador bem como os que possuem vínculo ainda não-jurídico, como aquele que exerce a guarda de fato ou que cria a criança ou adolescente como se filho fosse, embora ainda não tenha proposto ação de adoção. Oe fato, o apoio de parentes e pessoas próximas durante períodos de internação médico- -hospitalar serve de estímulo psicológico importante para sua pronta re cuperação. Aplicação em concurso • (MP-PR - 2011 - adaptado) [Julgue o item]; III. Os hospitais públicos e particulares são obrigados a proporcionar condições para a permanência integral de ambos os pais ou do responsável, durante a internação de criança ou adolescente; Gabarito: o item está errado. Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Con selho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providên cias legais. Parágrafo único. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei n° 12.010, de 2009) Art. 14.0 Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinaria mente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos. Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos reco mendados pelas autoridades sanitárias. Maus-tratos — comunicação ao Conselho Tutelar: os maus-tratos mais comumente surjgem no âmbito familiar, praticados lamentavelmente por aqueles que exercem o poder familiar - pai, mãe, padrasto e madrasta. Po dem ocorrer também em locais freqüentados peia criança ou adolescente, como creche, escola, projeto beneficente, paróquia religiosa, local de traba lho etc. Qualquer que seja o local ou o agressor, é necessária a comunicação ao Conselho Tutelar para adoção de providências. Inclusive, o Estatuto defi ne como infração administrativa a não-comunicação de suspeita ou confir mação de maus-tratos contra criança ou adolescente (art. 245). 35 PaulaMello Sticky Note vale par ao estabelecimento particular. mas é de um dos pais. A disciplina acerca do Conselho Tutelar se encontra nos arts. 131 a 137 do Estatuto. Nas disposições finais e transitórias do Estatuto, o art. 262 de termina que, enquanto não instalado o Conselho Tutelar, suas atribuições cabem à autoridade judiciária. -> Aplicação em concurso • (TJ-PB - 2011 - CESPE) Assinale a opção correta: E) As situações de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente devem ser imediata e concomitantemente informadas ao MP, ao juiz da localidade e ao conselho tutelar, sem prejuízo de outras providên cias. Gabarito: o item está errado. Capítulo II Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Consti tuição e nas leis. Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressal vadas as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Art. 17.0 direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a pre servação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art. 18. É dever de todosvelar pela dignidade da criança e do adolescen te, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterro- rizante, vexatório ou constrangedor. G u il h e r m e F r e ir e d e M e l o B a rro s 36 L ei n 0 8 .0 6 9 , d e 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 1. Comentários: os dispositivos deste capítulo estão em consonância com as garantias fundamentais previstas na Constituição (art. 1-, inc. III, art. 52, coput). Os artigos 16,17 e 18 abordam separadamente cada um dos direi tos enumerados no art. 15. Liberdade, respeito e dignidade da pessoa hu mana são valores sociais que permeiam todo o sistema jurídico, da Cons tituição a atos normativos de menor hierarquia. Por ser a Lei n$ 8.069/90 um diploma voltado à proteção da criança e do adolescente, com maior razão devem-se destacar tais direitos de forma expressa. Naturalmente, o direito à liberdade não é absoluto - como não o é ne nhum direito razão por que no âmbito do Estatuto também há a pre visão de privação da liberdade do adolescente. É o que se verifica do art. 106, em que se prevê a privação de liberdade em caso de flagrante de ato infracional ou ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária. Exemplo de ordem escrita da autoridade judiciária é a imposição de medi da de internação (art. 121). Se por um lado há dispositivo que legitima a privação de liberdade do ado lescente, de outro o Estatuto previu no art. 230 como crime a apreensão de criança ou adolescente em desrespeito às hipóteses legais do art. 106. Em relação ao rol trazido pelo art. 16, não há dúvidas em afirmar que o ' elenco é meramente exemplificativo, pois as manifestações do direito à liberdade podem assumir formas não previstas pelo legislador. Crianças e adolescentes são livres para se manifestar e se expressar da forma que melhor lhes convier, bem como participar da vida política de sua socie dade. -> Aplicação em concurso ♦ (MP-ES - 2010 - CESPE) O ECA prescreve que crianças e adolescentes têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na CF e nas leis. O direito à liberdade consiste, entre outros aspectos, em poder A) doar órgãos livremente. B) sindicalizar-se. C) experimentar a sexualidade de forma irrestrita e integral nas relações sociais. D) exercer atividade laborativa remunerada. E) participar da vida política, na forma da lei. Gabarito: letra E. 37 G u il h e r m e F r eire de M elo B a r r o s O art. 17 procura materializar o conteúdo do que vem a ser o direito ao respeito. Segundo o referido dispositivo, estão incluídos a garantia da inte gridade física, psíquica e moral, preservação da imagem, identidade etc. Diante desse rol, percebe-se que o direito ao respeito de que trata o Esta tuto guarda relação com os direitos da personalidade. Em relação ao direi to de imagem, a disciplina do Estatuto é bastante ampla, há dispositivos que tipificam como crime e infração administrativa condutas que violam o direito de imagem da criança e do adolescente, além de previsões acerca de aparições em shows, filmes, desfiles e eventos festivos. Por fim, o art. 18 toca à dignidade da pessoa humana. Mais do que um princípio - que pode ser objeto de ponderação e de redução ou amplia ção de sua aplicação em confronto com outro princípio a dignidade da pessoa humana é um postulado normatiVò que deve ser respeitado em qualquer situação, um valor que deve ser perseguido por toda a socie dade, base de construção de uma sociedade mais justa e solidária. Por sua importância no ordenamento jurídico e na vida em sociedade, está mais uma vez expresso no Estatuto, que buscou traçar-lhe o conteúdo ao dispor que se deve pôr a criança e o adplescente a salvo de tratamento desumano, violento, aterrorizante vexatório ou constrangedor. O Estatuto da Criança e do Adofèscente prevê hipóteses de crimes e infrações admi nistrativas relacionadas à dignidade da pessoa humana, a fim de garantir a efetivação desse direito. Capítulo III Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária Seção I Disposições Gerais Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educa do no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. § Io Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária com petente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quais quer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei n° 12.010, de 2009)......... 38 PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight L ei n ° 8 .0 6 9 , de 13 de ju l h o de 1 9 9 0 § 2o A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhi mento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devi damente fundamentada pela autoridade judiciária. (Incluído pela Lei n° 12.010, de 2009) § 3o A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos ter mos do parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art" 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Incluído pela Lei n° 12.010, de 2009) 1. Preferência legal da família natural: o artigo 19 determina que a criança ou adolescente deve, preferencialmente, ser criada por aqueles com quem tem laços de sangue, sua família natural. Entretanto, se essa convivência for perniciosa, prejudicial à criança ou adolescente, é possível sua colocação em família substituta, através de guarda, tutela ou adoção. O critério funda mental para verificação dessa questão é o do melhor interesse da criança ou do adolescente, ou seja, deve-se analisar no caso concreto qual famí lia, a natural ou a substituta, tem condições de proporcionar um ambiente mais adequado para o desenvolvimento sadio e completo do ser humano. A prioridade legal é da família natural, pois a criança tem oportunidade de conviver com seus genitores, irmãos e avós. Por isso, antes de se optar por uma família substituta, é preciso esgotar as possibilidades de manutenção da criança em sua família natural. Daí se falar na prática forense na necessi dade de trabalhar a família, através de apoio psicológico, médico e profis sional aos familiares naturais da criança ou do adolescente. A parte final do dispositivo se refere exatamente a essa situação. Por exemplo, a criança pode estar em ambiente familiar adequado, com boa convivência entre genitores, irmãos e avós, mas pontualmente um membro da família está começando a apresentar problemas de drogas ou álcool. Ao invés da solução drástica de colocação em família substituta, deve-se buscar o apoio àquele familiar. Inclusive, o art. 130 do Estatuto prevê a possibilidade de afastamento cautelar do pai ou responsável por maus-tratos, opressão ou abuso sexual da moradia comum, com a pre servação da convivência entre a criança e os demais membros da família. Dessa forma, preserva-se o vínculo natural e a harmonia de familiar. Isso é concretizar o princípio vetor do Estatuto, que é o da proteção integrai. Conforme será destacado na análise do art. 23, o critério de aferição do melhor interesse da criança não é puramente econômico. Quer dizer, não 39 PaulaMello HighlightPaulaMello Highlight PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight G u il h e r m e F r e ir e de M e l o B a r r o s é por que há família substituta com melhores condições financeiras que a criança ou adolescente deve ser afastada da família natural. 2. Permanência da criança ou adolescente fora do convívio familiar - limi tes: foram inseridos três novos parágrafos no artigo 19, que dispõe sobre o direito da criança ou adolescente de ser criado junto a sua família ou, excepcionalmente, em família substituta, em ambiente livre de consumi dores de drogas. Os parágrafos, porém, não guardam relação direta com o caput. Tratam especificamente da permanência fora do convívio de sua família, em programa de acolhimento ou institucional. O objetivo dessa nova normativa é não prolongar indefinidamente o afastamento da crian ça ou do adolescente de sua família. De acordo com o parágrafo primeiro, a situação da criança ou adolescente afastada do convívio familiar deve ser reavaliada, no máximo, a cada seis meses. Essa é uma obrigação que compete aos dirigentes dos programas de acolhimento institucional ou familiar, fixada no artigo 92, § 2e. Nada impede que a criança ou adolescente seja reavaliada em menor período de tempo. Importante é que a Justiça da Infância e da Juventude este ja sempre atenta à situação daqueles que estão afastados de sua família natural. Durante o período de afastamento, se o foco de problema está na estrutura familiar, compete ao Poder Público, através de seus órgãos e parceiros (terceiro setor), trabalhar a família - termo que já utilizamos na obra para nos referirmos ao apoio psicológico, médico e profissional aos familiares naturais da criança ou do adolescente. Por sua vez, o parágrafo segundo estabelece um prazo limite de dois anos para permanência de criança ou adolescente em programa de acolhimen to -* somente dilatável em caráter excepcional, no seu interesse exclusivo. -> Aplicação em concurso (MP-PR - 2011 - adaptada) [Julgue o item] O lapso temporal máximo para a permanência de criança ou adolescente em programa de acolhimento institucional é de 01(um) ano, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamen- - tada pela autoridade judiciária; Gabarito: o item está errado. Por fim, o parágrafo terceiro se refere, de fato, à norma contida no ca put do artigo 19. Na cabeça do dispositivo, afirma-se que a criança ou adolescente deve permanecer em sua família natural e, excepcionalmen te, em família substituta. O parágrafo 3 ^ é mais enfático, pois determina 40 PaulaMello Highlight PaulaMello Highlight L e i n ° 8 .0 6 9 , d e 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 expressamente que a manutenção ou reintegração da criança ou adoles cente em sua família deve ser o primeiro objetivo perseguido pelos pro fissionais envolvidos com a situação - magistrados, promotores públicos, defensores públicos, membros do Conselho Tutelar etc, Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por ado ção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de signações discriminatórias relativas à filiação. Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegu rado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à au toridade judiciária competente para a solução da divergência. (Expressão substituída pela Lei n° 12.010, de 2009) Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. 1. Igualdade de direitos entre os filhos: o artigo 20 tem sua razão de ser li gada ao regime jurídico anterior à Constituição de 1988. O Código Civil de 1916 e outros diplomas legais previam distinções entre filhos biológicos e adotivos ou frutos de relação de casamento ou de concubinato, notada- mente em relação ao regime sucessório. A atual Constituição da República, em seu art. 227, § 62, proíbe qualquer tipo de distinção ou tratamento discriminatório entre filhos. A redação deste art. 20 é reprodução do dispositivo constitucional. O Código Civil de 2002 também apresenta a mesma redação em seu art. 1.596. 2. Pátrio poder -> Poder familiar: quando do advento do Estatuto da Crian ça e do Adolescente, a redação original do artigo 21 se referia a pátrio poder. O Código Civil de 2002 optou pelo nomen iurís poder familiar (arts. 1.630 a 1.638, CC/2002), para designar o complexo de direitos e deveres que compete aos pais frente a seus filhos menores. A expressão poder familiar deixa mais claro a ideia de que a criação e a educação dos filhos competem ao pai e à mãe em igualdade de condições - assim determina a Constituição (art. 226, § 5$, e art. 229, primeira parte) - , ao passo em que pátrio se refere etimologicamente a pai. Nesse sentido, a Lei n9 12.010/2009 substituiu a expressão de "pátrio po der" por "poder familiar". 4 1 G u il h e r m e F r e ir e de M e lo B a rro s Ainda assim, o novo termo recebe crítica da doutrina de vanguarda, que tem preferido o termo autoridade parental, utilizado por legislações es trangeiras. O Código Civil tem dispositivo semelhante ao que está em análise, artigo 1.631, caput e parágrafo único. Em ambos fica claro que os pais exercem em igualdade de condições o poder familiar e, diante da divergência, não prevalece a voz do pai. Cabe a solução da questão ao juiz. 3. Conteúdo do poder familiar: dentro do conteúdo de poder familiar, en- contram-se diversos deveres, alguns deles elencados no art. 22, como sus tento, guarda e educação. O Código Civil apresenta rol mais extenso - e igualmente exemplificativo - de deveres dos pais no exercício do poder familiar, conforme artigo 1.634, Aplicação em concurso • (MP-PR ~ 2009 ~ adaptada) [Julgue o item] Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores. Gabarito: o item está certo. 4* Sanções: há sanções civis e penais para os pais que descumprem suas obrigações para com seus filhos. No âmbito civil, a negligência no exer cício do poder familiar pode acarretar a suspensão ou a extinção des se poder, com a posterior concessão de tutela ou adoção. A criança ou adolescente pode ainda ser abrigada pelo Conselho Tutelar ou colocada em família substituta através de guarda. Cautelarmente, a pessoa nociva à criança ou ao adolescente pode ser afastada de sua convivência, na forma do art. 130. Na esfera penal, o pai ou a mãe que descumprem seu poder-dever familiar podem incidir em diversos crimes, como abandono de incapaz, exposição ou abandono de recém-nascido, omissão de so corro e maus-tratos (arts. 133 a 136, do Código Penal), e outros do pró prio Estatuto, como o de submeter criança ou adolescente a vexame ou constrangimento (art. 232) e sua submissão à prostituição e exploração sexual (art. 244-A), A parte final do art. 22 faz menção ao cumprimento de determinações judiciais. O descumprimento pode acarretar a perda ou a suspensão do poder familiar (art. 24). Englobam-se aí ao cumprimento de obrigações impostas não só aos pais, como também aos filhos. As obrigações judicial- .....mente estabelecidas aos pais são aquelas normalmente fixadas pelo juízo de família quando o casai se separa, oportunidade em que se determina PaulaMello Highlight L ei n 0 8 .0 6 9 , d e 13 d e ju l h o de 1 9 9 0 quem exercerá a guarda, como será exercido o direito de visitação, dias e horários para entrega do filho etc. O descumprimento reiterado dessas obrigações (ex.: pai guardião mora em uma cidade e mie recebe o filho para período de férias em outra cidade, mas não o devolve posteriormen te) pode levar à perda ou-suspensão do poder familiar. Por outrolado, o descumprimento de obrigações judiciais pode sér referen te a medidas impostas à criança ou ao adolescente. Por isso, o dispositivo descreve a conduta de "fazer cumprir". Tal possibilidade surge, por exemplo, quando é imposta ao adolescente uma medida de proteção (art. 101) de frequência à escola e a programa ambulatória! de desintoxicação de drogas, mas os pais proíbem o filho de sair de casa ou de atender à obrigação judi cial, não por impossibilidade financeira, mas por outra razão injustificada. Nesse caso, os pais é que são responsáveis pelo descumprimento de uma obrigação imposta ao adolescente. Sua conduta está em desacordo com os princípios do melhor interesse da criança e da proteção integral, o que auto riza a medida excepcional de suspensão ou perda do poder familiar. Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais nào constitui moti vo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. (Expressão substituída pela Lei n° 12.010, de 2009) Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em pro gramas oficiais de auxílio. 1. Carência de recursos materiais: a situação de carência de recursos não é motivo idôneo para perda ou suspensão do poder familiar. O legislador deu preferência à manutenção da criança ou adolescente em sua família natural, sendo excepcional a hipótese de colocação de família substituta. Se a dificuldade por que passa a criança ou adolescente no seio de sua família natural é puramente econômico, então compete ao Estado tutelar toda a família, e não simplesmente retirar a criança ou adolescente do convívio de seus familiares. É o que determina o art. 23, caput e parágrafo único. Diversa é a situação em que, além de falta de recursos materiais, os pais demonstram um comportamento que viola deveres inerentes a seu poder familiar, como o abandono, o uso de drogas e a exploração da criança ou do adolescente.' Diante de quadro fático como esse, somado à situação financeira de penúria, é possível a colocação em família substituta........... -> Aplicação em concurso • (MP-RO - 2010 - CESPE - adaptado) (Julgue o item] Falta ou carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão do poder familiar. Gabarito: o item está certo. Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judi cialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legis lação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. (Expressão substituída pela Lei n° 12.010, de 2009) 1. Perda ou suspensão do poder familiar - necessidade de contraditório: anteriormente já foi mencionado que o rol do art. 22 de deveres inerentes ao poder familiar não é exaustivo. Por isso, deve-se ter presente que tam bém as hipóteses que autorizam a perda ou suspensão do poder familiar não são apenas aquelas enumeradas no Estatuto. Daí o art. 24 fazer men ção a "casos previstos na legislação civir. O Código Civil também elenca hipóteses de suspensão e perda do poder familiar, respectivamente em seus artigos 1.637, caput e parágrafo único, e 1.638. Ao mencionar que a decretação de perda ou suspensão do poder familiar deve ser precedida de procedimento contraditório, o dispositivo em aná lise atende aos princípios constitucionais do direito processual - devido processo legal, contraditório e ampla defesa (art. 5Ô, incisos LIV e LV). Diante de uma situação de risco para a criança ou adolescente, o Conselho Tutelar pode tomar atitudes cautelares de proteção, como o acolhimento (art. 136, l c/c art, 101, VII), mas isso não retira dos pais seu poder-dever familiar; é preciso que se instaure uma relação jurídica processual com o objetivo de lhe suspender ou de lhe decretar a perda. Oprocesso de perda ou suspensão do poder familiar é, no mais das vezes, proposto pelo Ministério Público, cabendo à Defensoria Pública o defesa dos pais hipossuficientes. A perda e a suspensão do poder familiar podem surgir também no bojo de uma ação de adoção ou de tutela, proposto por particulares (art. 155), patrocinados pela Defensoria Pública ou por advo gado particular - o Ministério Público não fica afastado desse processo, atua como custos legis. Os atores processuais envolvidos na demanda em que se discute a per da ou suspensão do poder familiar por descumprimento de deveres .... .................. G u il h e r m e F r e ir e d e M e lo B ar r o s 44 ROSE Realce ROSE Realce ROSE Realce ROSE Realce L e i n 0 8 .0 6 9 , d e 13 d e j u l h o d e 1 9 9 0 referentes ao seu múnus (advogado, defensor público, promotor de justi ça e juiz) devem pautar suas atuações e decisões pelos princípios da prote ção integral e do melhor interesse da criança. Ainda que haja descumpri mento de algum dever do poder familiar, o caso concreto pode revelar que é melhor para a criança ou adolescente continuar ao lado dos pais, apenas corrigindo-se a conduta inadequada. Aplicação em concurso • (MP-BA - 2010 - adaptada) [Julgue o item] O descumprimento injustificado dos deveres de sustento, guarda e educação dos filhos menores e de determinações judiciais, no interesse destes, pode ser causa de perda do poder familiar, a ser decretada judicialmente, em pro cedimento contraditório. Gabaríta: o item está certo. 2. Pedido Implícito de destituição do poder familiar - posição do STJ: con forme referido acima, o pedido de suspensão ou’perda do poder familiar normalmente é feito pelo Ministério Público, mas pode surgir também como pedido em ação de adoção ou de tutela movida por particulares (art. 155), patrocinados pela Defensoria Pública ou por advogado particu lar. O Superior Tribunal de Justiça enfrentou em algumas oportunidades a situação em que foi proposta ação de adoção sem se cumular o pedido com a destituição do poder familiar dos pais biológicos. A questão central consistia em saber se o pedido de adoção continha implicitamente, como decorrência lógica, o pedido de destituição. A posição do STJ é firme: não é possível o pedido implícito, ou seja, o pedido de adoção não contém em si o de destituição. É necessário que os adotantes cumulem os pedidos de destituição do poder familiar e de adoção, sob pena de caracterização de falta de condição da ação, consistente na impossibilidade jurídica do pedi do (AgRg no Ag 1269899/MG, Rei. Min. Massami Uyeda, 3^Turma, julgado em 03/02/2011, DJe 17/02/2011). Seção II Da Família Natural Art 25. Entende-se por familia natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. 4 5 ROSE Realce ROSE Realce ROSE Realce ROSE Realce G u il h e r m e F reire de M e lo B a r r o s Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade? (Incluído pela Lei n° 12.010, de 2009) 1. Família natural: o artigo 25 reflete a ideia de que a família é um vínculo que une os pais e seus descendentes. Sua parte final deixa explícito que o con ceito de família inclui também a hipótese em que convivem apenas um dos pais e seus descendentes. Essa parte guarda relação com o § 42, do art. 226, da Constituição da República: "Entende-se, também, como entidade fami liar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes." É a família natural que tem a preferência legal para a criação da criança ou do adolescente, sendo excepcionais as hipóteses de colocação em família substituta (art. 19). O artigo 26 guarda relação com artigos do Código
Compartilhar