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1 Sair IX ENANPEGE Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia Goiânia 8 a 12 de outubro 2011 AS CONSULTORIAS IMOBILIÁRIAS PARA EMPRESAS E OS “EDIFÍCIOS INTELIGENTES”: UMA ANÁLISE PARA A CIDADE DE SÃO PAULO REAL ESTATE BUSINESS CONSULTING AND “INTELLIGENT BUILDINGS”: AN ANALYSIS FOR THE CITY OF SÃO PAULO Gerônimo Santos Almeida Introdução Desde o início do século XX a cidade de São Paulo se afirmou como um centro acolhedor da modernização capitalista que desembarcava no país, papel que se aprofundou com o intenso processo de industrialização nas décadas seguintes. Além da incontestável importância relativa à produção e ao comando do setor industrial, durante os anos de 1980 São Paulo se consolidou como importante centro de gestão do território brasileiro (CORREA, 1996) e adquiriu, também, papel central na prestação de serviços avançados relativos ao setor terciário e quaternário1 da economia (SANTOS, 1990). Guardada as devidas proporções, São Paulo integra-se a uma rede de cidades mundiais com relativa capacidade de comando territorial. Atualmente, o papel da cidade no cenário econômico nacional lhe demanda funções variadas que, segundo Santos (1994b), surgem devido às necessidades de empresas hegemônicas ali instaladas. Com efeito, a cidade deve responder a novos requisitos de produção e circulação2 e determinadas áreas deixam de ser o lugar adequado para a produção, sendo necessário acrescentar outras, técnica e cientificamente construídas, para atender a tais demandas. Nesse contexto, o papel de comando da produção adquirido pela cidade de São Paulo implica em mudanças de estruturas locais para a manutenção dessa função. Não obstante, essas mudanças refletem-se em desdobramentos da centralidade urbana da cidade, já que é a partir de parcelas específicas do território que ela se insere na rede de cidades de comando (ALVES, 2005). Nesse sentido, Cordeiro (1980), Frugolli Jr. (2000) e Souza (1994) indicaram o desdobramento de três centralidades na história da cidade e que cada uma delas atendia as necessidades de um período. Segundo esses autores, a primeira, hoje chamada Centro Antigo, teve o dinamismo impulsionado Resumo: As últimas duas décadas marcaram profundas mudanças espaciais para a cidade de São Paulo. A partir dos anos de 1990, consolida-se na região sudoeste da cidade um novo Centro de Negócios para abrigar grandes empresas globais. Essa região se estruturou a partir do arranjo de uma forma de ocupação baseada em mega-empreendimentos imobiliários, os chamados “edifícios inteligentes”, das ações de empresas transnacionais de consultoria imobiliária e de relevantes investimentos públicos – em parceria com o setor privado – para a sua reestruturação viária e comunicacional. Destacam-se as ações das empresas de consultoria imobiliária CB Richard Ellis, Jones Lang LaSalle e Cushman & Wakefield a partir da promoção de um padrão de ocupação corporativa baseada nos “edifícios inteligentes”. Palavras-chave: Consultoria Imobiliária; “Edifícios Inteligentes”; São Paulo; Globalização; Centro de Negócios. Abstract: The last two decades have marked profounds spatial changes to the city of São Paulo. From the year 1990, was consolidated in the southwestern city of a new Business Center to support large global companies. This region has been structured from the arrangement of form occupation based mega real estate projects, so-called “intelligent buildings”, the actions of transnational corporations of real estate consulting and relevant public investments – in partnership with the private sector – for restructuring road and communicational. Among them are actions of real estate consulting companies CB Richard Ellis, Jones Lang LaSalle and Cushman & Wakefield from the promotion of a corporate pattern of occupation based on “intelligent buildings”. Keywords: Real Estate Consulting, “Intelligent Buildings”, São Paulo, Globalization, Business Center. 2 Sair IX ENANPEGE Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia Goiânia 8 a 12 de outubro 2011 pelo comércio cafeeiro e foi abrigo do poder político e econômico, sedes de grandes empresas, grandes bancos e comércio dinâmico até meados dos anos 1960. Todavia, Cordeiro (1980) assinalou o deslocamento de sedes de empresas do Centro Antigo para a Avenida Paulista entre 1960 e 1970, quando São Paulo consolidou-se como metrópole nacional em função, sobretudo, de sua expressão industrial. Segundo Frugolli Jr. (2000) e Souza (1994), a verticalização da Avenida Paulista se fez com edifícios mais funcionais às exigências de grandes empresas, tendo em vista o adensamento e a difícil circulação no Centro Antigo. A centralidade Paulista recebia, em ritmo acelerado, sedes de bancos, empresas nacionais e transnacionais que saiam do Centro Antigo ou até mesmo de outras cidades como o Rio de Janeiro. Por sua vez, Souza (1994) e Frugolli Jr. (2000) assinalam significativa valorização imobiliária em direção a região sudoeste da cidade a partir da Avenida Paulista na década de 1980. Nessa região foi impulsionada a constituição de um Novo Centro de Negócios, que passou a sediar grandes corporações nacionais e internacionais voltadas, sobretudo, para o setor terciário e quaternário. O quadrante sudoeste3 teve seus primeiros grandes investimentos no setor imobiliário corporativo no fim da década de 1970, com a construção do Centro Empresarial São Paulo, na Marginal Pinheiros, sentido Santo Amaro. Acelerando a tendência de ocupação da área por empreendimentos imobiliários corporativos, já na década de 1980, a construtora Bratke-Collet construiu e promoveu uma série de edifícios de alto padrão4 para escritórios na Avenida Luís Carlos Berrini, promovendo, assim, de acordo com Frugolli Jr. (2000), uma reestruturação significativa da área. Na década de 1990 o processo se acelerou com a expansão de megaprojetos imobiliários nos eixos da Avenida Faria Lima, Avenida Luís Carlos Berrini e da Avenida das Nações Unidas. A área, que exibia terrenos alagados e inúmeros galpões abandonados, passou a contar com sistemas técnicos especializados, “edifícios inteligentes”, redes telemáticas, sistema viário acessível aos aeroportos e grandes estacionamentos (SILVA e CASTILLO, 2001; FIX, 2001). A área responde à mudança de função da cidade na rede urbana mundial e à estruturação de um setor econômico baseado na comunicação e informação, dado pelo adensamento do setor quaternário. A figura 1 mostra as principais regiões de escritórios da cidade, com o Novo Centro de Negócios à sudoeste da Avenida Paulista. Figura 1 - Principais regiões de escritórios da cidade de São Paulo Fonte: Jones Lang LaSalle Os anos de 1990 consolidaram a estreita relação entre a produção de imóveis corporativos para empresas e as ações de consultorias imobiliárias transnacionais, que se destacaram dentre os demais produtores imobiliários pela inovação e pelo caráter informacional dos serviços oferecidos. A chegada dessas empresas à São Paulo é contemporânea à formação do Novo Centro de Negócios, e corrobora a ideia de Silva (2001) de que essas empresas contribuem para o alargamento dos contextos da globalização, sendo estratégicas para a instalação de grandes corporações na cidade. 3 Sair IX ENANPEGE Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia Goiânia 8 a 12 de outubro 2011 A década seguinte confirma o quadrante sudoeste como um Novo Centro de Negócios, com o arranjo de edifícios de alto padrão, conforme a tabela abaixo que mostra a participação das principais regiões de escritórios de alto padrão na cidade de São Paulo em 2010. Estoque total (m²) de edifícios de alto padrão em São Paulo - 2010 Subregião Estoque Total (m² úteis) Participação deMercado (%) Centro 362.400 6 Paulista 1.022.400 17 Jardins 980.400 16 Marginal 2.212.000 39 Outros 1.275.900 22 Total 5.853.100 100 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Market View – CBRE, 2010. Na consolidação do Novo Centro de Negócios destacam-se três empresas transnacionais de consultoria imobiliária: a CB Richard Ellis, a Jones Lang LaSalle e a Cushman & Wakefield. Essas empresas atuam na pesquisa, venda, locação, administração, marketing, promoção e valorização de um tipo de ocupação espacial baseado na racionalidade técnica, científica e informacional para atender aos anseios de aumento da competitividade de grandes corporações – edifícios de alto padrão, denominados como “inteligentes” O quadro a seguir traz alguns serviços, típicos do setor quaternário, oferecidos por essas empresas na cidade de São Paulo. Síntese dos serviços oferecidos pela CB Richard Ellis, Jones Lang LaSalle e Cushman & Wakefield Serviços Descrição Consultoria e Avaliação Determinação de valores para escritório, varejo, propriedades industriais e multiuso. Gerenciamento Integrado Gestão dos serviços relacionados à infraestrutura predial, manutenções técnicas de instalações, gerenciamento de ambientes, infraestrutura de telecomunicações, limpeza, segurança, paisagismo, gerenciamento de utilidades e serviços de suporte (expedição, compras, reprografia, recepção, copa). Gestão de Projetos Gerenciamento de projetos e obras em construções, assessoria técnica para design de escritórios e space planning, planejamento estratégico de ocupação, gestão de serviços para inquilinos, proprietários e investidores. Gerenciamento de propriedades Gerenciamento de áreas comuns de empreendimentos imobiliários como edifícios comerciais, parques industriais, shopping centers, dentre outros. Hotéis Inclui venda e aquisição de propriedades, avaliação, gerenciamento de ativos, seleção de operadores, negociações de contratos de administração, consultoria financeira, planejamento estratégico e pesquisas focadas para a indústria hoteleira. Locação Cria, desenvolve e executa projetos de locação. Negocia prazos, condições de locação, administra contratos e gera relatórios periódicos para investidores. Gerencia as movimentações e dados do mercado imobiliário através de consultores de pesquisa. Pesquisa Compreensão, interpretação e análise do mercado imobiliário. Análise do mercado com fontes de informações locais e análises com foco em investimentos globais, desenvolvimento ou estratégia local. As pesquisas têm a intenção de subsidiar questões sobre os setores, regiões geográficas ou propriedades individuais. Representação de ocupantes Seleção e avaliação de propriedades comerciais e industriais, compreendendo a estruturação e o gerenciamento de operações. Negociação do contrato de locação ou dos termos de compra com terceiros e renegociação de contratos de locação existentes. Vendas e investimentos Integrado à área de finanças corporativas, é responsável por criar, desenvolver e executar programas para comercialização de ativos, tanto na aquisição quanto na venda. Assessora incorporadores e proprietários na captação de recursos para novos projetos. Integra o planejamento estratégico na gestão de portfólios imobiliários. Fonte: Elaborado pelo autor. O quadro evidencia serviços prestados para grandes corporações que ocupam, na maior parte das vezes, os chamados “edifícios inteligentes”. São serviços típicos do setor quaternário, produzidos à partir de pesquisas sistemáticas feitas profissionais altamente qualificados e atendem uma demanda de racionalidade das empresas. Envolvem processos científicos para aquisição de dados e produção de informações que se tornarão mercadorias estratégicas para os processos de valorização e desvalorização de determinadas áreas da cidade. Essa mercadoria informação será utilizada por clientes corporativos para obterem maiores êxitos na busca da competitividade. Investimentos em edifícios corporativos nessa região consolidaram o arranjo de prédios que utilizam moderna tecnologia computacional e de telecomunicação. Para Neves (2002), além dos atrativos ligados à comunicação e transmissão de dados, os projetos desses edifícios buscam edificações com menores custos, vãos livres (sem pilares) para oferecer maior flexibilidade à empresa, sistema de ar-condicionado 4 Sair IX ENANPEGE Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia Goiânia 8 a 12 de outubro 2011 central, de detecção e socorro para casos de incêndios e modernos equipamentos de segurança. Uma das inovações técnicas de um edifício de alto padrão no Novo Centro de Negócios em relação a um edifício tradicional do Centro Antigo ou da Paulista refere- se ao piso. Os edifícios de alto padrão têm piso elevado para permitir a passagem de cabos de transmissão de dados, essenciais para dar suporte comunicacional às empresas. A imagem 1 apresenta o detalhe do piso elevado de um “edifício inteligente”. Imagem 1 - Detalhe do piso elevado com cabos de transmissão de dados em um “edifício inteligente” Fonte: Revista Buildings, N° 2 - Edição 6 - 2º Trimestre 2009 Outra questão colocada para os “edifícios inteligentes” é a ausência de vigas ou paredes que impeçam ou dificultem a montagem ou a desmontagem de um escritório. Esses prédios seguem o padrão “open space”, em que não há qualquer impedimento para a montagem do layout mais adequado às necessidades da empresa que se instalará no edifício. Essa é uma questão essencial, já que a maioria das empresas hoje opta pela locação de um ou mais andares em um prédio, em detrimento de ter um prédio próprio. Isso garante fácil deslocamento entre lugares não e “engessa” o capital da empresa. A imagem 2 mostra o layout de um andar da Torre Santander, do grupo financeiro Santander, na Marginal Pinheiros na cidade de São Paulo. Esse tipo de ocupação é muito valorizado pelas empresas de consultoria imobiliária, pois segundo elas, aumenta a sinergia entre os funcionários da empresa ocupante, na medida em que não há divisão física entre os mesmos. Imagem 2 - Vista de um dos andares da Torre Santander na Marginal Pinheiros em São Paulo Fonte: Revista Infra Facilities Properties. Ano 11 – nº 128 Assim, o conceito de flexibilidade dado aos edifícios é extremamente relevante para as grandes corporações. De acordo com as consultorias imobiliárias pesquisadas aqui para que um edifício tenha o status de inteligente ele deve atender as necessidades de seus usuários com a capacidade de evoluir por meio da incorporação, a qualquer momento, de novos recursos tecnológicos. A partir dessas características podemos conceituar esses edifícios como um novo sistema de objetos informacionais. Silva (2001) corrobora essa posição quando afirma que esses edifícios são objetos estrategicamente elaborados para a realização dos eventos globais que demandam tecnologia da informação para unificar o comando da produção dispersa. A compreensão do arranjo dos “edifícios inteligentes” na reorganização espacial da cidade e a ação das empresas de consultoria imobiliária selecionadas nessa pesquisa requerem, também, o entendimento do papel do Estado como agente mediador e estruturador do Novo Centro de Negócios. De acordo com Frugolli (2000) e Nobre (2000), até meados da década 1990, havia uma rarefação de infraestruturas urbanas na região, que também era marcada pela singularidade de seus usuários. Todavia, a década de 1990 evidenciou uma série de intervenções públicas, em parceria com a iniciativa privada, que modificou a estrutura viária e comunicacional da região. As parcerias entre Estado e empresas avançaram no contexto do planejamento estratégico que impõe às cidades condições e desafios semelhantes àsempresas (VAINER, 2000, p.76). Como exemplos no quadrante sudoeste estão o prolongamento da Avenida Faria Lima e a construção da Avenida Águas Espraiadas, no contexto das Operações Urbanas Consorciadas Faria Lima e Águas Espraiadas, respectivamente (FIX, 2000; CARLOS, 2000). Além disso, foram estruturadas redes 5 Sair IX ENANPEGE Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia Goiânia 8 a 12 de outubro 2011 de cabos de fibra óptica, fato que demonstra a elevada demanda por alta tecnologia de informação pelas das empresas ali instaladas e reforça o conteúdo quaternário das mesmas. É nesse contexto que o presente trabalho busca estudar as novas materialidades e ações que possibilitam conduzir o alargamento dos contextos da globalização no país, a partir da análise do arranjo dos “edifícios inteligentes” e das ações das consultorias imobiliárias CB Richard Ellis, Jones Lang LaSalle e Cushman & Wakefield em São Paulo na conformação do Novo Centro de Negócios. Objetivos Esse trabalho visa contribuir para a compreensão da produção do espaço na cidade de São Paulo. Para tanto, objetivamos investigar a formação do Novo Centro de Negócios da cidade de São Paulo, bem como o arranjo de novos objetos técnicos – “edifícios inteligentes” – a partir de uma análise da sua forma-conteúdo. O trabalho também investiga as ações das empresas transnacionais de consultoria imobiliária CB Richard Ellis, Jones Lang LaSalle e Cushman & Wakefield na consolidação do Novo Centro de Negócios. Finalmente, nos importa a analisar das ações públicas na consolidação da área a partir de instrumentos urbanísticos, como as Operações Urbanas Consorciadas Faria Lima e Águas Espraiadas. Referencial Teórico e Conceitual A abordagem do tema objetos informacionais e hegemônicos nos remete a constatação de Santos (1996) e de Silva e Castillo (2001), de que os objetos no período atual são técnico-informacionais tanto no que tange a materialidade – pois carregam um grande volume de informação para serem produzidos e manuseados – como a funcionalidade, pois são desenvolvidos para arranjar e distribuir informações. Os “edifícios inteligentes” são parte desses objetos que abrigam e ajudam a colocar em movimento os sistemas de ações das corporações. Pressupõe-se, aqui, que o espaço geográfico é, impreterivelmente, equipado para facilitar a circulação de informação. Na região do quadrante sudoeste da cidade de São Paulo, nota-se um adensamento técnico-informacional inigualável no território brasileiro, dada a presença de uma vasta rede de comunicação5 dotada de características particulares para atender as demandas da circulação e informação. Para Santos (1997), a busca por fluidez do espaço baseia-se em redes técnico-científicas. Os “edifícios inteligentes”, em conformidade com as ações de grandes empresas de consultoria, são artifícios para alavancar a competitividade de empresas hegemônicas, sobretudo as que agem em escala planetária e necessitam de aportes da informação para gerir os níveis da produção e circulação de seus bens e produtos. Com efeito, têm o papel de homogeneizar o espaço para facilitar ações corporativas e contribuem para a segregação sócio-espacial nas cidades, sobretudo em países pobres. A integração da cidade de São Paulo à rede de cidades mundiais se dá por meio de pontos específicos no seu território, a partir de vetores de integração hierárquica – as verticalidades 6 – obedecendo a uma lógica que, muitas vezes, é estranha ao lugar, impondo à cidade um papel a desempenhar. Nesse sentido, partimos do principio que o Novo Centro de Negócios configura-se produzido por vetores de verticalidades, necessários em lugares de produção globalizada e controlados à distância, configurando-se, também, como espaço luminoso7 pelas suas características que seriam mais suscetíveis de participar de uma regularidade e de uma lógica obediente aos interesses de grandes empresas globais (SANTOS e SILVEIRA, 2002). Com efeito, não se pode negar a internacionalização das relações a partir da cidade de São Paulo, e assim, tê-la como um espaço nacional da economia internacional (Santos, 1994a), onde há forte tensão entre a localidade e a globalidade. Porém, é preciso entender a cidade no contexto da formação sócio-espacial brasileira, como uma cidade que abriga serviços globais em um país da periferia do capitalismo mundial. Metodologia Utilizada A presente pesquisa partiu de uma revisão bibliográfica teórica e conceitual, sobre a produção do espaço. Concomitante a esse trabalho analisamos pesquisas sobre a produção do espaço urbano no município de São Paulo. Esse processo foi acompanhado da análise alguns documentos públicos oficiais, como o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (2002 – 2012), a legislação vigentes sobre as Operações Urbanas Consorciadas (em especial os relativos à Operação Urbana Águas Espraiadas e Operação Urbana Faria Lima) para se chegar a uma posição sobre o papel do Estado na estruturação do Novo Centro de Negócios. 6 Sair IX ENANPEGE Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia Goiânia 8 a 12 de outubro 2011 Com relação às empresas de consultoria pesquisadas foram realizadas entrevistas qualitativas com consultores dessas empresas, análise das publicações realizadas sobre o mercado imobiliário a partir do departamento de pesquisa das mesmas e também, investigação em jornais e revistas de circulação nacionais sobre o mercado de imóveis corporativos, que de alguma maneira envolvem essas empresas. O estudo dos edifícios foi feito a partir de um a análise comparativa prédios tradicionais do Centro Antigo e Paulista com os mais modernos do quadrante sudoeste. As entrevistas realizadas com as empresas de consultoria e os trabalhos de campo realizados no Centro Antigo, Paulista e Novo Centro de Negócios mostraram diferenças técnicas entre as gerações dos edifícios de escritório na cidade de São Paulo. Principais Questões Desenvolvidas A gênese de São Paulo como metrópole já a denotou como corporativa e fragmentada. No entanto, atualmente, novos vetores concorrem para acentuar o processo de fragmentação e corporativizaçao da cidade: é preciso atualizar esse processo e revelar quais os pactos, agentes, instrumentos e políticas públicas que favorecem esse processo. Além de propor revelar as coalizões engendradas na reestruturação de parte da cidade de São Paulo, outra questão desenvolvida aqui são as novas materialidades e ações que possibilitam conduzir ao alargamento dos contextos da globalização. Como essas novas materialidades e ações se diferenciam da de tempos pretéritos, tanto na forma, conteúdo e intencionalidade. Atualmente, grandes cidades como São Paulo são lugares chaves para a produção de serviços para empresas (SASSEN, 1995). Uma necessidade que se coloca é revelar quais são os atributos físicos e normativos do atual período, que permitem parte da cidade integrar-se nos fluxos econômicos globais, nesse caso revelando as ações das consultorias imobiliárias e o arranjo dos “edifícios inteligentes”. Resultados Alcançados O trabalho revelou que as necessidades de ocupação das empresas mudam com o acolhimento de novas tecnologias ao circuito produtivo das mesmas. Dentre as necessidades demandadas pelas grandes corporações estão os serviços de consultoria imobiliária e prédios corporativos de alto padrão, denominados como “inteligentes”, com desdobramentos notáveis para produção do espaço urbano. As empresas CB Richard Ellis, Jones Lang LaSalle e Cushman & Wakefield têm um papel fundamental na reestruturação da cidade de São Paulo para atender a grandes corporações. Essas empresasconcorreram para uma mudança dos padrões de ocupação da cidade e com novas ações para reestruturá-la, sendo a conformação do Novo Centro de Negócios resultado direto dessa reestruturação. A chegada dessas empresas atraiu investimentos para o setor imobiliário por meio da promoção de modernos edifícios que trariam vantagens competitivas aos ocupantes. A atração dos novos investimentos em imóveis corporativos de alto padrão foi realizada mediante um conjunto de fatores que procuram marcar a singularidade das infraestrutura físicas e comunicacional, regulação política e social, qualidade de vida, dentre outras. A concentração desses investimentos na região sudoeste da cidade assinalou desdobramentos significativos para a organização do espaço da cidade, com uma significativa valorização econômica da região e a desvalorização do Centro Antigo e a Avenida Paulista. Dessa forma, a lógica da acumulação capitalista transforma a cidade em mercadoria, em um meio de produção para a realização da mais valia. Notou-se na difusão desses edifícios que as empresas de consultoria e o Estado praticam ações que levam a obsolescência planejada das formas urbanas. Conforme Harvey (1980, p.232) [...] na cidade capitalista contemporânea é a vida econômica que interessa, e essa vida econômica breve está se contraindo à medida que se torna necessária aumentar a taxa de circulação da mais valia. Edifícios bons são derrubados para dar caminhos para novos edifícios que terão vida econômica breve semelhante e ainda mais curta. Para que os resultados de valorização imobiliária esperados pelo mercado se tornem efetivos é necessária, sempre, uma ação paralela do Estado. Nesse sentido, o Estado atua, deliberadamente, para aceleração do processo de corporativização e valorização do quadrante sudoeste em inúmeras situações como na remoção de favelas, abertura e alargamento de avenidas, canalização de córregos, mudança da legislação sobre potencial construtivo. São ações, corroboradas pela imprensa, para transformar a cidade em um símbolo de modernidade na tentativa de inseri-la em uma rede seleta de cidades competitivas e com poder de atração de empresas. Assim, São Paulo viveria um período em que a sua economia política se modifica, ou seja, a maneira como ela se organiza, em face de uma produção e da entrada de novos atores que atuam na sua dinâmica. Novos agentes atuando na produção da cidade, a partir de novas coalizões, encontram outros lugares para se instalarem e dão novas formas à cidade. Nesse sentido, entende-se a criação do 7 Sair IX ENANPEGE Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia Goiânia 8 a 12 de outubro 2011 Novo Centro de Negócios como um processo de socialização capitalista, criação de meios coletivos à disposição do processo produtivo por meio de infraestruturas de transporte e comunicação. Segundo Santos (1990), isso faz do Estado um motor de desigualdades, já que por esse meio, favorece a concentração e a marginalização. NOTAS 1. Atualmente, com a revolução técnico-científica e informacional, existe uma tendência em dividir os setores clássicos de atividade econômica (Setor primário, Setor secundário, Setor terciário) em quatro, incluindo, o setor quaternário, que abrange a pesquisa de elevado conteúdo técnico, científico e informacional como a publicidade, a consultoria, a biotecnologia, a robótica, a telemática, a informática. Esse setor é marcado sempre pela inovação e por atividades que geram como resultado final conhecimento e informação. (TOMELIN, 1988) 2. Os espaços devem, hoje, ser flexíveis, dinâmicos e fluidos aos interesses de empresas hegemônicas. Estes requisitos passam pela estrutura física dos prédios que abrigam grandes empresas, pelo sistema de gerenciamento desses prédios e pela estrutura viária e de serviços públicos do entorno dos centros de negócios, nos quais grandes empresas se localizam. Esta é a tendência atual de racionalização do espaço em favor de grandes corporações, que corporativiza e fragmenta a cidade aos interesses de grupos seletos (SANTOS, 1990). 3. Para efeito desse trabalho considera-se o Quadrante Sudoeste a região do entorno da Marginal Pinheiros, da Avenida Luís Carlos Berrini, da Avenida Faria Lima, da Chácara Santo Antônio e Vila Olímpia. A região do Jardins e Itaim constituem um eixo entre a Avenida Paulista e Marginal Pinheiros. 4. Por alto padrão entende-se imóveis com localização e infraestrutura adequada e moderna, na concepção do atendimento às necessidades das grandes empresas, de acordo com consultor Carlos Bittencourt, da empresa Colliers, transnacional especializada em consultoria imobiliária. In: Folha de São Paulo, 06 de setembro de 1999. 5. Essa rede seria composta pelos próprios edifícios inteligentes, pela infra-estrutura de cabos de fibra óptica e telefonia, bem como pelas empresas de consultoria imobiliária responsáveis pela produção e difusão de informações propriamente dita no que diz respeito ao mercado imobiliário na cidade. 6. Dissertando sobre os arranjos espaciais, Milton Santos denomina de verticalidades os “pontos no espaço que, separados um dos outros, asseguram o funcionamento global da sociedade e da economia”. Em contraponto, o autor designa de horizontalidades as “extensões formadas de pontos que se agregam sem descontinuidades, como na definição tradicional de região” (SANTOS, 1997, p. 225). 7. Segundo Santos e Silveira (2002), os espaços luminosos são aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais, ficando assim mais aptos a atrair atividades com maior conteúdo em capital, tecnologia e organização. Por oposição, onde tais características estão ausentes seriam os espaços opacos. Os espaços luminosos, pela sua consistência técnica e política, seriam os mais suscetíveis de participar de regularidades e de uma lógica obediente aos interesses das maiores empresas (Santos e Silveira, 2002, p. 264) REFERêNCIAS ALVES, Glória da Anunciação. São Paulo uma cidade global. In: Ana Fani Alessandri Carlos; Carles Carreras (Org.). Urbanização e mundialização: estudos sobre a metrópole. São Paulo: Contexto, 2005, p. 137-149. CASTILLO, Ricardo. SILVA, Adriana Maria Bernardes. Dinâmicas atuais da metrópole paulista: a promoção imobiliária para as empresas. In: Boletim de geografia, ano 19. São Paulo, 2001. CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço-Tempo na Metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São Paulo: Contexto, 2001. CORREA, Roberto Lobato. Os centros de gestão do território brasileiro: uma nota. In: Revista Território, Nº 01. São Paulo, 1996. CORDEIRO, Helena Koen. O centro da Metrópole Paulista: expansão recente. Tese de doutorado, FFLCH – USP. São Paulo, 1980. 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