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TEORIA DA ARQUITETURA: O DISCURSO ARQUITETURAL
					Prof. ª Sirlei M. Oldoni 
Linguística e arquitetura
SILVIO COLIN – OS DISCURSOS DA ARQUITETURA
Apesar de, nas universidades, a arquitetura ser uma matéria plana, pragmática, e o ensino de projeto seja em sua maior parte voltado para uma dita reposição de mão de obra para o fatídico “mercado”, cada vez mais alheio aos seus grandes valores, a arquitetura admite uma grande diversidade de abordagens. Do plano formal ao plano social, do plano psicológico ao plano fenomenológico, são múltiplas, diversificadas e mesmo contraditórias as diversas abordagens críticas possíveis, sobretudo se desejamos ver a arquitetura como uma manifestação cultural e artística, e não meramente como um simples objeto construído segundo um pretexto funcional.
A partir dos anos 1960, e sobretudo na década seguinte, desenvolveu-se em todas as manifestações culturais uma grande sensibilidade aos fenômenos linguísticos. De tão universal, ficou conhecido com “A virada linguística”. Partiu-se do reconhecimento da linguagem como agente estruturador do pensamento, na esteira do pensamento estruturalista. Foi uma época particularmente fértil para o pensamento arquitetônico, que lamentavelmente, vem-se perdendo e veem-se esmaecer suas ressonâncias, tendo como resultado o empobrecimento do ensino e do produto arquitetônico.
Desejamos retomar essa discussão sob um viés particular, que estabelece a pluralidade de discursos arquitetônicos suas aplicações e interesses.
Roman Jakobson deu cores definitivas ao processo comunicativo determinando os seus seis elementos principais: emissor, receptor, mensagem, canal, referente e código. O emissor, quem envia a mensagem; o receptor ou destinatário, quem recebe a mensagem; a própria mensagem, o objeto físico da comunicação, aquilo que se transmite; o canal, o meio pelo qual a mensagem é transmitida; o referente, o objeto ou a situação a que a mensagem se refere; e finalmente o código, o conjunto de regras de combinação de signos utilizado para elaborar a mensagem. 
Função referencial
A ênfase colocada em cada um desses elementos motiva um tipo de mensagem. A comunicação mais plana e direta é a mensagem referencial (ênfase no referente, naquilo que se quer comunicar), são discursos referenciais. Estes discursos são caracterizados pela objetividade, neutralidade e imparcialidade do emissor. Exemplo deste discurso são as notícias jornalísticas, as informações técnicas e científicas, as narrativas, as conversas, aulas, informações diversas. Na arquitetura, para fazermos um rebatimento do processo comunicativo, sugerimos considerar com referente principal as demandas funcionais. Assim, o discurso referencial é o discurso funcional: toda vez que o arquiteto se preocupa em atender à função, esta “falando” um discurso referencial, ou seja atendendo a uma função referencial de sua linguagem.
Função expressiva
A mensagem centrada no emissor, em quem envia a mensagem, é a mensagem expressiva ou emotiva. O importante nesse tipo de discurso é a atitude do emissor perante o objeto ou referente. São discursos marcados por interjeições e adjetivações. Os gritos de dor são exemplos típicos desse tipo de discurso. Nas artes plásticas, equivalem às obras sujetivistas e expressionistas. Não é um discurso muito comum na arquitetura, dado que se trata de uma atividade prioritariamente objetivista. Mas está presente em todos aa obras marcadas pelos maneirismos dos arquitetos, pelos seus traços individualizantes e pelos dados expressionistas. As grandes obras de Gaudi são o melhor exemplo da função expressiva na arquitetura, mas podemos também encontra-la nas idiossincrasias de Le Corbusier, como Rochamp.
Função conativa
O discurso conativo é também chamado persuasivo ou apelativo. É o discurso centrado no receptor, em quem recebe a mensagem. Pode ser uma mensagem autoritária ou persuasiva; pode tentar seduzir, convencer ou mandar. Na arquitetura, temos a função conativa nos espaços onde se restringe muito a atitude dos usuários, como em um auditório, por exemplo. A distribuição rígida de cadeiras funciona como uma ordem dada ao publico: entre, sente-se e olhe para a frente. Caminhos muito diretos, que conduzem a um destino determinado também são bastante autoritários, assim como espaços rígidos e limitados para certas atividades, como lazer infantil nas praças e parques.
Função fática
O discurso fático não tem referente, está apenas preocupado com o canal. Aquelas conversas de elevador (“o dia está quente”, “Parece que vem chuva aí”), que existem apenas para tirar o constrangimento da situação, ou as interjeições em conversas telefônicas (“Sim”, “Sei”, “Certo”), que visam apenas assegurar que alguém está do outro lado da linha, são exemplos de discursos fáticos. Estes discursos tem por finalidade estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação ou verificar se o circuito funciona. Na arquitetura, corresponde a espaços ou elementos sem função, como corredores, circulações, halls de distribuição, lobbies etc. Os espaços serventes de Louis Kahn tem um discurso semelhante ao discurso fático, em oposição aos espaços servidos, discursos referenciais.
Função estética
Neste caso a preocupação do discurso recai sobre a forma deste. Não é importante apenas o que se diz, mas como se diz. O referente da mensagem é ela própria, como é o caso das obras de arte. Neste sentido, o emissor procura tornar o discurso agradável e inovador. Estas mensagens-objetos são portadoras da sua própria significação. A poesia é o exemplo mais claro de discurso estético na literatura.
No caso da arquitetura o discurso estético deveria ser obrigatório, mas está cada vez mais rarefeito. De certa maneira podemos creditar esta rarefação à própria orientação pragmática na linguagem do modernismo, expressa em sua máxima “a forma segue a função”. Isto dito em termos de teoria da comunicação seria algo assim; “o discurso estético deve subordinar-se ao discurso referencial.” Os grandes arquitetos, entretanto, esquecem-se, às vezes desta sentença disciplinadora e admitem que o discurso estético seja dominante na mensagem arquitetônica.
Função metalinguística
A metalinguagem acontece quando uma linguagem fala sobre si mesma. Uma explicação gramatical, por exemplo. Temos ai a língua falando sobre ela própria. Critica literária: a literatura se debruçando sobre si mesma. Um filme falando sobre como fazer um filme, como os canônicos “Cantando na chuva” de Stanley Donen e Gene Kelly, “Noite americana” de François Truffaut, “8 e ½”, de Fellini, “Cinema Paradiso” de Giuseppe Tornatore, entre tantos outros.
A Metalinguagem explora a capacidade de uma linguagem refletir sobre sua natureza. Baseia-se em algumas características: a consciência de que a linguagem é mais do que apenas símbolos. Ela é mais do que os significados que transmite; a consciência de que os signos são separáveis de seus referentes. (Embora eu tenha um nome, eu serei a mesma pessoa se este nome mudar). A consciência de que se pode manipular a estrutura da linguagem, i.e. você pode dizer coisas diferentes com os mesmo signos e a mesma coisa com signos diferentes.
Na arquitetura, o trabalho metalinguístico foi o grande diferencial da chamada “virada linguística.” Mesmo arquitetos afinados com a objetividade bauhausianas, como Mies van der Rohe, vão se curvar à experiência linguística. A meta linguagem foi o diferencial dos anos 1970, na obra de muitos arquitetos, desde o trabalho a releitura de Le Corbusier pelos “Cinco de Nova Iorque”, passando pela Arquitetura Pop, de Robert Venturi e Charles W. Moore, até o historicismo europeu da Tendenza.
Importante notar que essa funções se exercem sobreposta. Não existe um discurso estético separado do discurso metalinguístico, ou um discurso fático que não admita traços referenciais, apenas estes não predominam.

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