Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RESUMO (R1) Módulo 207 – Locomoção e prensão Francisco Vladimir Oliveira Almeida Medicina ESCS – turma XVI Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Sumário 1. Bioenergética ........................................................................................................................ 3 a. Combustíveis para o exercício ........................................................................................... 3 Carboidratos .......................................................................................................................... 3 Gorduras ................................................................................................................................ 3 Proteínas ............................................................................................................................... 3 b. Fosfatos de alta energia .................................................................................................... 4 c. Vias de bioenergética ........................................................................................................ 4 Produção anaeróbia de ATP .................................................................................................. 4 Produção aeróbia de ATP (fosforilação oxidativa) ................................................................ 6 d. Eficiência da fosforilação oxidativa ................................................................................... 7 e. Controle da bioenergética ................................................................................................. 8 Controle do sistema ATP-PC .................................................................................................. 8 Controle da glicólise .............................................................................................................. 8 Controle do ciclo de krebs ..................................................................................................... 9 f. Interação entre as produções aeróbia/anaeróbia de ATP ................................................ 9 2. Contração Muscular............................................................................................................ 10 a. Organização do músculo esquelético .............................................................................. 10 b. A atividade do músculo esquelético ................................................................................ 13 Nervos motores e unidades motoras .................................................................................. 13 Acoplamento excitação-contração ..................................................................................... 13 Interação Actina-Miosina: formação das pontes cruzadas ................................................. 15 Ciclo das pontes cruzadas – Encurtamento do Sarcômero ................................................. 15 c. Tipos de músculo esquelético .......................................................................................... 16 d. Modulação da força de contração .................................................................................. 17 Recrutamento ..................................................................................................................... 17 Tétano* ............................................................................................................................... 18 e. Débito de oxigênio ........................................................................................................... 19 f. Fadiga .............................................................................................................................. 19 g. Regulação do lactato (MCT1 e MCT4) e pH intracelular ................................................. 20 h. Resposta ao exercício ...................................................................................................... 22 i. Dor muscular de início tardio .......................................................................................... 23 RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 2 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I 3. Prescrição de exercício ....................................................................................................... 23 a. Introdução aos princípios de prescrição de exercício ..................................................... 23 b. Considerações gerais para a prescrição de exercício ...................................................... 24 c. Exercício aeróbico ........................................................................................................... 25 4. Referências bibliográficas ................................................................................................... 27 RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 3 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I 1. Bioenergética As células são dotadas de vias bioquímicas capazes de converter alimentos em uma forma de energia biologicamente utilizável. Esse processo metabólico é denominado bioenergética. a. Combustíveis para o exercício Carboidratos – Os carboidratos armazenados fornecem ao corpo uma forma de energia rapidamente disponibilizada, com 1g de carbono que rende cerca de 4 kcal de energia. O polissacarídio armazenado no tecido animal é chamado de glicogênio. Um aspecto importante para o metabolismo no exercício é o armazenamento de glicogênio nas fibras musculares e no fígado. Entretanto, as reservas de glicogênio totais do corpo são relativamente pequenas e podem ser depletadas em poucas horas, como resultado do exercício prolongado. Gorduras – Embora as gorduras contenham os mesmos elementos químicos presentes nos carboidratos, a proporção carbono/oxigênio nas gorduras é significativamente maior do que aquela encontrada nos carboidratos. A gordura corporal armazenada é um combustível ideal para o exercício prolongado, pois as moléculas de gordura contêm grande quantidade de energia por unidade de peso. Cada grama de gordura contém cerca de 9 kcal de energia, que é mais do que o dobro do conteúdo de energia de carboidratos ou proteínas. São classificadas em ácidos graxos, triglicerídios, fosfolipídio e esteroides. De modo significativo, os ácidos graxos são o tipo primário de gordura usada pelas células musculares para obtenção de energia. Proteínas – são polímeros de aminoácidos e o corpo necessita de pelo menos vinte tipos de aminoácidos para formar os diversos tecidos, enzimas, proteínas sanguíneas e assim por diante. Existem 9 aminoácidos essenciais, que aqueles que não podem ser sintetizados pelo corpo e por isso são necessários na alimentação. As proteínas são formadas pela ligação de aminoácidos através de ligações peptídicas. O RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 4 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I aminoácido alanina pode ser convertido em glicose. Os demais aminoácidos podem ser transformados em outros substratos energéticos intermediários. b. Fosfatos de alta energia A fonte de energia imediata para a contração muscular é um composto de alta e energia – o trifosfato de adenosina (ATP). Ele é composto por uma base nitrogenada adenosina,uma ribose e 3 fosfatos inorgânicos que se ligam a essas estruturas. c. Vias de bioenergética As fibras musculares necessitam de ATP constante para fornecer a energia necessária à contração. Por isso, a célula deve ter vias metabólicas capazes de produzir rapidamente ATP. Assim, as células musculares podem produzir ATP por meio de uma via ou de três vias metabólicas combinadas: 1. Formação de ATP por quebra de fosfocretina (PC) (anaeróbia) 2. Formação de ATP via degeneração de glicose ou glicogenólise (anaeróbia) 3. Formação oxidativa de ATP (aeróbica) Produção anaeróbia de ATP Sistema ATP-CP – A forma mais simples e rápida de produzir ATP envolve a doação de um grupo fosfato e sua energia de ligação da PC ao ADP, para formar ATP. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 5 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I A reação é catalisada pela creatina quinase na mesma velocidade em que ocorre a reação de ATP -> ADP + Pi. Contudo, as células musculares armazenam pequenas quantidade de PC e, dessa forma, a quantidade total de ATP que pode ser formada por essa reação é limitada. Esse sistema fornece energia para contração muscular no início do exercício e durante o exercício de alta intensidade e curta duração. A formação de novo PC requer ATP e somente ocorre durante a recuperação do exercício. Glicólise – Envolve a quebra de glicose para formar duas moléculas de piruvato ou lactato. A glicólise ocorre no sarcoplasma das células musculares e produz um ganho líquido de duas moléculas de ATP e duas de piruvato ou duas de lactato por molécula de glicose. A glicólise é dividida em duas fases: fase de investimento de energia e a fase de geração de energia. Lembre-se que a formação do ATP pela via da glicólise há a formação de NADH a partir da liberação de H+. Quando esse processo se torna excessivo, na ausência de oxigênio, o H+ reage com o piruvato e forma lactato pela ação da lactato desidrogenase (LDH), que tem como resultado Lactato + NAD+. O saldo líquido de ATP depende se a via RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 6 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I se inicia pela glicose livre (2 ATP) ou pelo glicogênio (3 ATP). Como não há envolvimento direto de O2 na glicólise, a via é considerada anaeróbia. Acúmulo de lactato Durante a atividade leve e moderada (<50% da capacidade aeróbia), a formação de lactato sanguíneo é igual à sua eliminação, e as reações que consomem oxigênio atendem adequadamente às demandas energéticas. Todo lactato formado em uma parte de um músculo estriado esquelético ativo acaba sendo oxidado pelas fibras musculares com alta capacidade oxidativa no mesmo músculo ou em músculos adjacentes menos ativos, como coração e outros tecidos. Quando a oxidação do lactato é igual sua produção, o nívle sanguíneo de lactato permanece estável, mesmo que ocorram aumentos na intensidade do movimento e no consumo de oxigênio. Quando o metabolismo glicolítico predomina, a produção de e NADH ultrapassa a capacidade da célula de liberar seus hidrogênios (elétrons) para a cadeia respiratória, por causa da oferta insuficiente de oxigênio. O desequilíbrio na liberação de oxigênio e a subsequente oxidação (NAD+/NADH) fazem com que o piruvato aceite o excesso de hidrogênios e forma ácido lático, que começa a se acumular. Nas fibras rápidas existe maior expressão de desidrogenase lática (LDH), a enzima que favorece a formação de piruvato em lactato. Portanto, o recrutamento das fibras de contração rápida com o aumento progressivo da intensidade do exercício favorece a formação de lactato, independentemente a oxigenação tecidual. Produção aeróbia de ATP (fosforilação oxidativa) A produção de ATP ocorre dentro da mitocôndria e envolve a interação de duas vias metabólicas cooperativas: Ciclo de Krebs (completa a oxidação dos carboidratos, remove os H+) (não utiliza oxigênio) Cadeia de transporte de elétrons (uso do exigênio) RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 7 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Os elétrons dos H+ fornecem a energia para a cadeia de transporte de elétrons ligar o ADP com mais Pi, formando ATP. Os estágios da formação aeróbia de ATP são: 1. Geração de acetil-CoA 2. Oxidação da acetil-CoA no ciclo de Krebs 3. Fosforilação oxidatia na cadeia transportadora de elétrons. As gorduras e os triglicerídios são quebrados em ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos, por sua vez, passam por uma série de reações para formar acetil-CoA (beta- oxidação) e entrar no ciclo de Krebs. O saldo líquido de ATP ao final desses processos é de 32 ATP. d. Eficiência da fosforilação oxidativa A eficiência pode ser determinada pelo cálculo da proporção de energia contida no ATP produzido via respiração aeróbia dividida pela energia potencial total contida na molécula de glicose. Assim, 1 mol ATP quando quebrado apresenta rendimento energético de 7,3 kcal. A energia em potencial liberada na oxidação de um mol de glicose é igual a 686 kcal. Dessa forma: Então, a eficiência da respiração aeróbia é de cerca de 34%, com os 66% de energia livre da oxidação da glicose sendo liberada como calor. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 8 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I e. Controle da bioenergética A maioria das vias metabólicas tem uma enzima que é considerada “limitadora da velocidade”. As enzimas limitadoras de velocidade são encontradas nas fases iniciais de uma via metabólica. A atividade das enzimas limitadoras da velocidade é regulada por moduladores. Os moduladores são substâncias que aumentam ou diminuem a atividade enzimática. As enzimas reguladas por moduladores são chamadas enzimas alostéricas. No controle do metabolismo energético, o ATP é o exemplo clássico de um inibidor, enquanto ADP e Pi exemplificam substâncias estimuladoras da atividade enzimática. Controle do sistema ATP-PC A creatina quinase é ativada diante do aumento das concentrações de ADP e inibida pelos altos níveis de ATP. No começo do exercício, o ATP é partido em ADP + Pi para fornecer energia para contração muscular. Esse aumento imediato da concentração de ADP estimula a creatina quinase a deflagrar a quebra de PC para ressíntese de ATP. Quando o exercício continua, a glicólise e, finalmente, o metabolismo aeróbio passam a produzir ATP em quantidade adequada para atender às necessidades energéticas musculares. O aumento da concentração de ATP, acoplado a uma diminuição da concentração de ADP, inibe a atividade da creatina quinase. Controle da glicólise A enzima limitadora de velocidade mais importante na glicólise é a fosfofrutoquinase (PFK). Quando o exercício começa, os níveis de ADP + Pi aumentam e RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 9 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I intensificam a atividade de PFK, que serve para aumentar a taxa de glicólise. Em contrapartida, durante o repouso, quandoos níveis de ATP celular estão altos, a atividade de PFK é inibida e a atividade glicolítica é retardada. Além disso, os elevados níveis celulares de íons hidrogênio ou citrato (produzidos via ciclo de Krebs) também inibem a atividade de PFK. Similarmente ao controle do sistema ATP-CP, a regulação da atividade de PFK atua por feedback negativo. Outra enzima importante para o metabolismo dos carboidratos é a fosforilase, que é responsável pela degradação do glicogênio em glicose. O aumento da concentração plasmática de cálcio durante a contração muscular ativa indiretamente a fosforilase. Pode ser ativada também pela ação da adrenalina, que estimula a formação de AMPc, que ativa diretamente a fosforilase. Controle do ciclo de krebs Embora várias enzimas do ciclo de Krebs sejam reguladas, a enzima limitadora da velocidade é a isocitrato desidrogenase. Essa enzima é inibida por ATP e estimulada por níveis crescentes de ADP+Pi. A cadeia transportadora de elétrons também é regulada pela quantidade de ATP e ADP+Pi presente. A enzima limitante de taxa na cadeia de transporte de eletrons é a citocromo oxidase. Quando o ATP está alto a enzima é inibida e é estimulada pelo aumento do ADP+Pi. f. Interação entre as produções aeróbia/anaeróbia de ATP É importante enfatizar a interação entre as vias metabólicas aeróbia e anaeróbia na produção de ATP durante o exercício. Embora seja comum ouvir as pessoas falarem em exercício aeróbio versus exercício anaeróbio, na realidade a energia necessária à realização da maioria dos tipos de exercício é oriunda de uma combinação de fontes anaeróbias e aeróbias. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 10 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I 2. Contração Muscular a. Organização do músculo esquelético Cada músculo é composto por numerosas células chamadas de fibras musculares. A camada de tecido conjuntivo que envolve cada fibra é o endomísio. As fibras musculares individualizadas são organizadas em fascículos, que são evolvidos por outra camada de tecido conjuntivo chamada perimísio. Finalmente, os fascículos são agrupados para formar o músculo, que é envolvido por uma camada de tecido conjuntivo chamada epimísio. Nas extremidades do músculo as camadas confluem para formar o tendão. Cada fibra muscular esquelética contém feixes de filamentos, chamados miofibrilas, que cursam ao longo do eixo da célula. A miofibrila pode ser dividida longitudinalmente em sarcômeros. O sarcômero é delimitado pela linha Z, e representa a unidade contrátil que se repete no músculo esquelético. Em cada lado da linha Z existe uma faixa clara, banda I, que contém os filamentos finos, compostos, principalmente, pela proteína actina. A área entre duas bandas I no sarcômero é a banda A, que contém os filamentos grossos, compostos, principalmente, pela proteína miosina. Os filamentos finos de actina se estendem da linha Z em direção ao centro do sarcômero e se sobrepõem sobre parte dos filamentos grossos. A área escura na extremidade da banda A representa essa região de sobreposição entre os filamentos finos e grossos. A área clara, presente no centro do sarcômero, é chamada de banda H. Esta área representa a porção da banda A que contém os filamentos grossos de miosina, mas nenhum filamento fino de actina. Portanto, os filamentos finos de actina se estendem da linha Z até a margem da banda H e se sobrepõem sobre parte do filamento grosso na banda A. Uma linha escura, chamada de linha M, é evidente no centro do sarcômero e inclui proteínas que parecem ser críticas para a organização e o alinhamento dos filamentos grossos no sarcômero. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 11 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Cada miofibrila é circundada pelo retículo sarcoplasmático (RS). Essa estrutura é uma adaptalção do reticulo endoplasmático, que aqui tem função de controlar a [Ca2+] intracelular. Outra estrutura importante são os túbulos T, que são invaginações da membrana celular para o interior da célula próximo à banda A, estabelecendo contato com o meio extracelular. Há um espaço entre o RS e o túbulo T, e o local onde mais se aproximam recebe o nome de cisterna terminal, que é o local de liberação de cálcio. Os túbulos T são envolvidos por duas cisternas terminais, uma em cada lado, formando a tríade. A porção longitudinal do RS é contínua com as cisternas terminas e contém alta desidade de proteína da bomba de Ca2+ (Ca2+-ATPase), fundamental para o reacúmulo do Ca2+ no RS para o relaxamento muscular. Os filamentos finos de actina de estendem da linha Z para o centro do sarcômero, enquanto os filamentos grossos de miosina têm localização central e se sobrepõem aos filamentos de actina em uma disposição exagonal. Os filamentos grossos de miosina são ancorados à linha Z pela proteína elástica titina. A titina atua como estabilizadora mecânica do alinhamento do sarcômero no sentido longitudinal. Além disso pode atuar como sensor mecânico e influenciar a expressão gênica e degradação proteica de modo mecânico, dependendo da atividade. Os filamentos finos são formados por agregados de actina (actina globular, ou actina G), formando um filamento de dois cordões torcidos em hélice, a chamada actina F ou filamentosa. Dímeros de tropomiosina ocorrem ao longo do filamento de actina e RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 12 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I cobrem o sítio de ligação da miosina na actina. Cada tropomiosina recobre sete moléculas de actina. O complexo troponina, que consiste em 3 unidade: troponina T (T de ligado à tropomiosina), troponina I (I de inibição da ligação da miosina na actina) e troponina C (C de cálcio), está presente em cada dímero de tropomiosina. A ligação do Ca++ à troponina C rotacional o complexo e, consequentemente, move a tropomiosina do sítio de ligação, permitindo a interação da actina com a miosina e a contração do sarcômero. A proteína tropomodulina liga o filamento de actina ao centro do sarcômero. A α-actinina e a capZ servem para ancorar o filamento fino à linha Z. A miosina é uma proteína grande que consiste em um par de cadeias leves e um par de cadeias pesadas enroladas em α-hélice para formar um segmento semelhante a um bastão, com a porção N-terminal de cada cadeia pesada formando uma cabeça globular. A região da cabeça é a porção da molécula que se liga à actina. A cabeça de miosina possui atividade ATPase. Devido à organização dessas proteínas, a miosina forma um filamento bipolar que se estende de cada lado da zona nua central, por meio de associação cauda-cabeça de moléculas de miosina. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 13 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I b. A atividade do músculo esquelético Nervos motores e unidades motoras O músculo esquelético é controlado pelo SNC através de neurônios motores alfas. Os nervos motores se ramificam no músculo, com cada ramo inervando uma só fibra muscular. A sinapse, colinérgica, é especializada e é chamada de junção neuromuscular. A unidade motora consisteno nervo motor e todas as fibras musculares inervadas por esse nervo. A unidade motora é a unidade contrátil funcional, pois todas a fibras de uma mesma unidade motora contraem ao mesmo tempo. A junção neuromuscular pelo neurônio motor alfa pode ser chamada de placa motora ou placa terminal. A ACh liberada nessa sinpse desencadeia um potencial de ação na fibra muscular. Acoplamento excitação-contração O potencial de ação é transmitido ao longo do sarcolema e entra pelos túbulos T, o Ca2+ é liberado das cisternas do RS e eleva a [Ca2+] intracelular, o que promove a contração dos sarcômeros. O mecanismo de elevação da [Ca2+] envolve as cisternas terminal do RS em contato com os túbulos T. A associação do túbulo T com duas cisternas terminais opostas é chamada de tríade. Embora exista um espaço entre o túbulo T e a cisterna terminal, as proteínas atravessam este intervalo. Essas pontes de proteínas são denominadas pés, que são canais de liberação do Ca2+ da membrana das cisternas terminais responsáveis pela elevação da [Ca2+] intracelular em resposta ao potencial de ação. Como esse canal se liga à rianodina, ele é comumente chamado de receptor de rianodina (RYR). Uma pequena parte dessa proteína está embebida na membrana do RS, pois a maior parte cruza o mioplasma entre as cisternas terminais e os túbulos T. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 14 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Na membrana do túbulo T, supõe-se que o RYR interaja com a proteína receptor de diidropiridina (DHPR). O DHRP é um canal de cálcio controlado por voltagem. Entretanto, o influxo de Ca++ para dentro da célula pelo DHRP não é necessário para iniciar a liberação de Ca++ do RS. Ou seja, o músculo esquelético é capaz de contrair na ausência de cálcio extracelular. A liberação de cálcio pelas cisternas terminais do RS é resultado da alteração da conformação do DHPR, quando o potencial de ação percorre o túbulo T, e essa mudança de conformação permite a interação com o RYR, que abre e libera o Ca2+ para o mioplasma. O relaxamento do músculo esquelético ocorre quando o cálcio é sequestrado, de novo, pelo RS através da bomba SERCA (Ca2+-ATPase do retículo endoplasmático e sarcoplasmático). Essa bomba está distribuída por todo o RS e cisternas terminais. É uma bomba que troca 2Ca2+ por 2H+. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 15 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Interação Actina-Miosina: formação das pontes cruzadas O Ca2+ liberado pelo RS se liga à troponina C. Uma vez ligada ao Ca2+, a troponina C facilita o movimento da molécula de tropomiosina associada em direção ao sulco do filamento de actina. Esse movimento expões o sítio de ligação da miosina no filamento de actina e permite que se forme uma ponte cruzada, gerando, assim, tensão. A troponina C tem quatro sítios de ligação ao Ca2+, mas ligam-se também ao Mg2+ em repouso. Ciclo das pontes cruzadas – Encurtamento do Sarcômero O mecanismo pelo qual a miosina produz força para encurtar o sarcômero envolve 5 etapas básicas, coletivamente chamadas de ciclo das pontes cruzadas. Etapa 1 – No estado de repouso, espera-se que a miosina tenha hidrolisado, parcialmente, o ATP. Etapa 2 – Quando o cálcio é liberado no mioplasma ele se liga à troponina C que, por sua vez, promove o movimento da tropomiosina no filamento de actina, de modo que os sítios de ligação da miosina na actina fiquem expostos. Isso, então, permite que a cabeça “energizada” da miosina se ligue à actina adjacente. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 16 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Etapa 3 – Em seguida, a miosina passa por alteração de configuração, chamada “ação de catraca”, que puxa o filamento de actina em direção ao centro do sarcômero utilizando a energia do ATP. Etapa 4 – A miosina libera ADP e Pi. Uma nova ligação de ATP à miosina resulta em sua perda de afinidade pela actina, o que desfaz a ligação entre esses filamentos. Etapa 5 - A miosina, então, hidrolisa parcialmente o ATP e parte da energia desse ATP é usada para reerguer a cabeça da miosina e retornar ao estado de repouso. (O Bear descrever como etapas apenas até à 4ª, a 5ª quem colocou dessa forma fui eu) Se a [Ca2+] ainda estiver elevada a miosina entrará em outro ciclo. O ciclo continua até que a SERCA bombeio o cálcio de volta para o RS. Assim, quando a [Ca2+] diminui, o cálcio de desliga da troponina C, o que a faz novamente bloquear o sítio de ligação à miosina no filamento de actina. c. Tipos de músculo esquelético O músculo esquelético pode ser classificado como de contração rápida (fibras tipo IIA ou IIB) ou contração lenta (fibras tipo I). Há uma correlação entre a velocidade de contração e a atividade de ATPase da miosina. Isso reflete a expressão de diferente isoformas de miosina nos dois tipos de fibras musculares. As fibras também podem ser diferenciadas quando à atividade enzimática e o metabolismo energético glicolítico e oxidativo. Na maioria das fibras rápidas, a atividade das enzimas glicolíticas é alta e a atividade das enzimas oxidativas é baixa. O oposto ocorre nas fibras lentas. A quantidade de mitocôndrias também se correlaciona com esses fatores, pois as fibras lentas possuem mais mitocôndrias (metabolismo oxidativo) que as fibras rápidas. As fibras rápidas também possuem RS muito mais extenso do que as fibras lentas. Essas fibras se encontram misturadas na musculatura da grande maioria dos mamíferos. Como as fibras rápidas são dependentes do metabolismo glicolítico, elas entram em fadiga mais rapidamente. Por isso, são usadas ocasionalmente e em curto período RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 17 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I de tempo. Ao contrário, as fibras de contração lenta satisfazem suas demandas metabólicas através da fosforilação oxidativa, o que torna a fadiga mais lenta. Algumas fibras rápidas têm tanto a capacidade glicolítica como a oxidativa elevadas, fibras tipo IIA. As fibras tipo I (lentas), por utilizarem prioritariamente o metabolismo oxidativo, contêm numerosas mitocôndrias e altos níveis de mioglobia. A mioglobina é uma proteína que se liga ao oxigênio para manter maiores quantidade de O2 dentro da célula. É a mioglobina tem coloração vermelha e por isso essas fibras podem ser referidas como “fibras vermelhas”. Outras proteínas também são específicas nas fibras tipo I e II como a SERCA1 (contração rápida) e SERCA2 (contração lenta), as subunidades da troponina e a tropomiosina. Essas diferenças contribuem para um relaxamento e contração mais rápida ou mais lenta. d. Modulação da força de contração Recrutamento Um modo simples de amentar a força de contração de um músculo é recrutar mais fibras musculares. Como todas as fibras musculares de uma unidade motora são ativadas simultaneamente, recrutam-se mais fibras ao se recrutarem mais unidades motoras. Todas as fibras de uma unidade motora são do mesmo tipo. As unidades motoras de contração lenta tendem a ser pequenas (100 a 500 fibras)e são inervadas por neurônio motor alfa, que é facilmente excitado. Em contraste, as unidades motoras de contração rápida tendem a ser grandes (contendo 100 a 2000 fibras) e são inervadas por neurônios motores alfa que são mais difíceis de excitar. Assim, as unidades motoras de contração lenta tendem a ser recrutadas primeiro. Quanto mais força é necessário, mais unidades motoras de contração rápida são recrutadas. A vantagem disso é que as primeiras fibras recrutadas são mais resistentes à fadiga. Além disso, o pequeno RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 18 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I tamanho das unidades motoras de fibras lentas permite controle motor fino em baixos níveis de força. Esse processo de aumento de força é do tipo somação espacial, porque é maior a soma das forças das fibras em área maior do músculo. Tétano* Um potencial de ação libera cálcio suficiente para que haja contração. Entretanto, essa contração é muito breve porque o cálcio é muito rapidamente bombeado de volta para o RS. Se o músculo é estimulado uma segunda vez, antes de estar totalmente relaxado, a força de contração aumenta. Esse é um aumento de força por somação temporal. Em um alto nível de estimulação, a [Ca2+] intracelular aumenta e é mantida constante durante a estimulação e a quantidade de força desenvolvida excede e muito a observada durante o abalo. Essa resposta é chamada de tétano. Com sequências de estímulos intermediárias, a [Ca2+] retorna ao nível basal antes do próximo estímulo, no tetano ocorre aumento gradual da força. Esse evento chama- se tétano incompleto. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 19 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I e. Débito de oxigênio Se a demanda de energia do exercício não poder ser suprida pela fosforilação oxidativa, ocorre débito de oxigênio. Após o término do exercício, a respiração permanece acima do normal para “pagar” esse débito de oxigênio, ou seja, restaurar os níveis de metabólitos (ex.: CP e ATP) e metabolizar o lactato gerado pela glicose. f. Fadiga Potencialmente, a fadiga pode ocorrer em qualquer um dos pontos envolvidos na contração muscular, do cérebro à fibra muscular, bem como o sistema cardiovascular e respiratório. Durante o exercício intenso, o acúmulo de Pi e ácido lático no mioplasma é responsável pela fadiga muscular. O acúmulo de ácido lático diminui o pH intracelular e inibe as interações actina-miosina. Essa redução do pH reduz a sensibilidade da interação actina-miosina ao Ca2+, pela alteração da ligação do cálcio à troponina C e pelo decréscimo do número máximo de interações actina-miosina. As fibras rápidas são mais sensívei a essa queda do pH. Além disso, o aumento rápido e intenso da [Pi] pode reduzir a tensão por, pelo menos, quatro diferentes mecanismos: 1. Inibição da liberação do Ca2+ pelo RS 2. Diminuição da sensibilidade da contração ao Ca2+ 3. Alterações na ligação actina-miosina 4. A alta na [Pi] inibe a formação de ADP + Pi A acidez também gera um processo de fadiga, pois na hidrólise do ATP e há também no metabolismo glicolítico há liberação de H+, assim, uma alta na [H+] inibe a via glicolítica e a hidrólise do ATP RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 20 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Outros fatores como depleção do glicogênio de determinado compartimento, aumento localizado da [ADP], aumento intracelular de [K+] e a geração de radicais livres de O2, também auxiliam no processo de fadiga muscular. Esses mecanismos garantem que a célula não sofra lesão e que os níveis de ATP não sejam diminuídos a ponto de causar inviabilidade da célula. Essa forma a fadiga pode ser definida como uma alteração da homeostasia produzida pelo trabalho. g. Regulação do lactato (MCT1 e MCT4) e pH intracelular Durante a realização de exercícios metabólitos como lactato e H+ são produzidos e necessitam ser removidos do meio intracelular. A remoção do piruvato, lactato e H+ produzidos é realizada pelos transportadores de monocarboxilato (MCTs). No músculo esquelético, as isoformas MCT1 (mais comuns em fibras tipo I) e MCT4 (mais comum em fibras tipo II) são dominantes. Esses transportadores se encontram na membrana sarcolemal (membrana da célula muscular). O tipo de treinamento influencia a expressão das proteínas MCT e pode favorecer a regulação do pH e consequente manutenção da contração muscular. A redução da contratilidade muscular durante exercícios de alta intensidade pode estar associada com a depleção de substratos energéticos, hipertermia, e acúmulo de metabólitos, entre eles: Mg+, ADP, Pi, H+, NH3 (amônia) e espécies reativas de oxigênio. A maioria das células, incluindo as musculares, mantém um pH relativamente constante durante o repouso, com a saída de lactato e H+ mediada pelos MCT. Os MCT são transportadores do tipo simporter e provocam transporte paralelo de H+ e lactato (importante frisar que os MCT são fazem o transporte de ácido lático, apenas lactato). Após sua remoção, o íon H+ associa-se ao bicarbonato (HCO3-), formando ácido carbônico (H2CO3) pela ação da anidrase carbônica (CA) e, posteriormente, água (H2O) e dióxido de carbono (CO2), que é eliminado pela respiração. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 21 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Um treinamento intenso pode aumentar o transporte de lactato e H+ em humanos. O aumento dos íons de hidrogênio, concomitante à redução do pH, pode interferir no processo de excitação- contração muscular, resultando em diminuição da capacidade de trabalho muscular e, consequentemente, fadiga. O MCT1 tem relação com o conteúdo mitocondrial muscular, por conseguinte, essa isoforma pode exercer um importante papel em situações de demanda energética aumentada, auxiliando no INFLUXO de lactato pelas fibras musculares tipo I. Nesse sentido, a captação de lactato sanguíneo está diretamente correlacionada com a expressão de MCT1 no músculo esquelético tipo I. Contrariamente, a isoforma MCT4 encontra-se mais expressa na membrana sarcolemal das fibras glicolíticas, denotando uma relação dessa forma com o EFLUXO de lactato. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 22 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I As propriedades do MCT4 estão de acordo com a proposição à qual está relacionado com o efluxo de lactato. Por isso, sua afinidade com o piruvato é baixa com o propósito de não perder o piruvato do músculo e, consequentemente, promover a manutenção do processo glicolítico, atendendo assim, à demanda do exercício físico. Além dos transportadores MCT existe outra forma de controle da acidez intracelular durante o exercício. Quando o piruvato é convertido em lactato, um sistema de tamponamento citosólico é ativado pela geração de NAD+ que tampona os íons H+ intracelulares. h. Resposta ao exercício Existem 3 categorias de regimes e respostas ao treinamento: o treinamento de aprendizado, deresistência e de força. O aspecto de aprendizado do treinamento envolve fatores motivacionais, bem como coordenação neuromuscular. Esse aspecto de treinamento não provoca mudanças adaptativas nas fibras musculares. A resposta adaptativa das fibras musculares esqueléticas ao exercício de resistência é, principalmente, o resultado do aumento da capacidade metabólica oxidativa das unidades motoras envolvidas. Essa demanda aumenta a carga sobre os sistemas cardiovascular e respiratório e aumenta a capacidade do coração e dos músculos respiratórios. Estes últimos efeitos são os principais responsáveis pelos principais benefícios para a saúde associados aos exercícios de resistência. A força muscular pode ser aumentada por maciços esforços regulares que envolvam a maioria das unidades motoras. Tais esforços recrutam as unidades motoras glicolíticas rápidas, bem como as unidades motoras oxidativas lentas. Durante esses esforços, o suprimento sanguíneo para os músculos em exercício pode ser interrompido quando a pressão tecidual se eleva acima da pressão intravascular. A redução do fluxo de sangue limita a duração da contração. O exercício regular de força máxima, como levantamento de peso, induz a síntese de mais miofibrilas e, portanto, a hipertrofia das células musculares ativas. O aumento da tensão também induz o crescimento dos tendões e dos ossos. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 23 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Os exercícios de resistência não tornam as unidades motoras rápidas em unidades lentas, nem o esforço muscular máximo produz transição da unidade motora lenta para a rápida. Portanto, qualquer prática de exercício, quando superposta às atividades diárias normais, provavelmente não altera o fenótipo da fibra muscular. i. Dor muscular de início tardio Atividades como longa caminhada ou, em particular, corridas em declive, nas quais os músculos em contração são estirados e alongados muito vigorosamente, são acompanhadas por mais dor e rigidez quando comparadas a exercícios que não envolvem estiramento e alongamento muscular vigorosos (p. ex., andar de bicicleta). O entorpecimento resultante, com sensação de dor, se desenvolve lentamente e atinge seu pico dentro de 24 a 48 horas. A dor é associada à redução da amplitude do movimento, à rigidez e fraqueza dos músculos afetados. Os principais fatores que causam a dor são o edema e a inflamação das células musculares lesadas, comumente mais próximas à junção miotendinosa. As unidades motoras rápidas, tipo II, são mais afetadas do que as unidades motoras tipo I, porque a força máxima é maior nas células grandes, em que as cargas impostas são quase 60% maiores que a força máxima que as células podem desenvolver. A recuperação é lenta e depende da regeneração dos sarcômeros lesados. 3. Prescrição de exercício a. Introdução aos princípios de prescrição de exercício As diretrizes do ACSM empregam o princípio da prescrição de exercício de FITT- VP: Frequência (o quão fortemente), Intensidade (quão forte), Tempo (duração) e Tipo (modo ou que tipo de exercício), além de Volume (quantidade) e Progressão (avanço) totais. Para indivíduos com condições de saúde restritas ou saudáveis, mas com considerações especiais, devem ser feitas adaptações na prescrição de exercícios. RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 24 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I b. Considerações gerais para a prescrição de exercício Um programa de exercício regular para adultos deve incluir uma variedade de exercícios além das atividades realizadas como parte da vida cotidiana. A prescrição de exercício ótima deve direcionar os componentes do condicionamento físico relacionados com a saúde e com o condicionamento cardiorrespiratório (aeróbio), força muscular e resistência muscular localizada (RML), flexibilidade, composição corporal e condicionamento neuromotor. A prescrição de exercício deve incluir um plano para a redução dos períodos de inatividade física, além do aumento da atividade física. Para reduzir as lesões por esforço repetitivo e as lesões em potencial, um revezamento das modalidades de exercício pode ser útil. Os componentes comuns de uma prescrição de exercício parecem ser úteis para a redução de lesões musculoesqueléticas e suas complicações, pelo menos em algumas circunstâncias. Esses componentes incluem o aquecimento e a volta à calma, exercícios de alongamento e a progressão gradual do volume e da intensidade. * Ao projetar a prescrição de exercício utilizando o princípio FITT-VP para um cliente ou paciente devem ser levados em conta os objetivos, as habilidades físicas, o condicionamento físico, o estado de saúde, a agenda, o ambiente físico e social do indivíduo, além dos equipamentos e estabelecimentos disponíveis. Uma sessão única de exercício deve conter as seguintes fases: Aquecimento Pelo menos 5 a 10 min de atividade cardiorrespiratórias de intensidade leve a moderada e de RML Condicionamento Pelo menos 20 a 60 min de atividades aeróbica, de resistência, neuromotora e/ou esportiva (as séries de exercício de 10 min são aceitáveis se o indivíduo acumular pelo menos 20 a 60 min · d–1 de exercício aeróbico diário) Componentes da sessão de treinamentos de exercícios RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 25 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I Volta à calma Pelo menos 5 a 10 min de atividade cardiorrespiratória de intensidade leve a moderada e de RML Flexibilidade Pelo menos 10 min de exercícios de flexionamento, realizados após a fase de aquecimento ou antes da volta à calma c. Exercício aeróbico Frequência O exercício aeróbico é recomendado durante 3 a 5 dias por semana para a maioria dos adultos, com uma frequência que varia de acordo com a intensidade do exercício. As melhoras no condicionamento cardiorrespiratório (CCR) são atenuadas com frequências de exercício > 3x por semana e ocorre um platô na melhora com exercícios realizados > 5x por semana. O exercício de intensidade vigorosa > 5x por semana pode aumentar a incidência de lesão musculoesquelética, portanto essa quantidade de atividade física não é recomendada. A prática de exercícios de 1 ou 2x por semana com intensidade moderada a vigorosa pode trazer benefícios para o condicionamento físico. Contudo, o risco de lesão musculoesquelética e de comprometimentos cardiovasculares diversos é maior em indivíduos que não são fisicamente ativos de modo regular e naqueles que realizam exercício com o qual não estão acostumados. Recomendação da frequência do exercício aeróbico: O exercício aeróbico de intensidade moderada realizado pelo menos 5x por semana, ou o exercício aeróbico de intensidade vigorosa realizado pelo menos 3x por semana ou uma combinação semanal de exercícios de intensidade moderada e vigorosa 3 a 5x semana são recomendados para que a maioria dos adultos alcance e mantenha os benefícios para o condicionamento físico. Intensidade do exercício O princípio de sobrecarga de treinamento estabelece que o exercício abaixo de uma intensidade mínima, ou limiar, não desafiará o corpo de modo suficiente para RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoçãoe prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 26 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I resultar em alterações nos parâmetros fisiológicos, incluindo aumento no consumo máximo de oxigênio. Esse limiar varia de acordo com a capacidade cardiorrespiratória de cada indivíduo. Recomendação da intensidade do exercício aeróbio: Exercício aeróbico de intensidade moderada (p. ex., 40 a < 60% da reserva da frequência cardíaca [RFC] ou VO2R) a vigorosa (p. ex., 60 a 90% da RFC ou VO2R) é recomendado para a maioria dos adultos e o exercício aeróbico, de intensidade leve (p. ex., 30 a 40% da RFC ou VO2 R) a moderada, pode ser benéfico para indivíduos que não estejam condicionados. O treinamento com intervalos pode ser um modo eficiente de aumentar o volume total e/ou a média da intensidade de exercícios realizados durante uma sessão de exercícios e pode ser benéfico para adultos. Métodos para estimar a intensidade do exercício Método de Karvonen FC = frequência cardíaca FCT = Frequência cardíaca de treinamento – é a FC durante um exercício específico Intensidade = 0 a 1, de acordo com a porcentagem, ex.: 0,8 = 80% de intensidade, sendo 100% a intensidade máxima alcançada pelo indivíduo. FC reserva = FC de repouso – FC máxima FC máxima = 220 - idade Fórmula para cálculo da intensidade: FCT = FC de repouso + (intensidade x FC reserva) Com essa formula, imagine um indivíduo de 20 anos de idade, com frequência cardíaca de repouso de 68 bpm que deseja fazer um exercício que exija 80% de intensidade: FC max = 220 – 20 => FCmax = 200 FC reserva = 200 – 68 => FC reserva = 132 FCT = FC de repouso + (intensidade x FC reserva) => FCT = 68 + (0,8 x 132) => RESUMO Bioenergética, contração muscular e prescrição de exercício Módulo 207 – Locomoção e prensão F r a n c i s c o V l a d i m i r P á g i n a 27 | 27 M e d i c i n a – E S C S T u r m a X V I FCT = 68 + 105,6 FCT = 173,6 – Essa deve ser a frequência cardíaca que o indivíduo deve manter durante o exercício para obter a intensidade desejada. MET – equivalente metabólico Esse método consiste em calcular a intensidade do exercício com base no consumo de oxigênio. 1MET = consumo de 3,5ml de O2 por Kg por min. 1MET= 3,5ml/Kg/min 4. Referências bibliográficas Tabela de estratificação da intensidade do exercício Recuperação/Leve 30% a 49% < 3 METs Moderada 50% a 74% > 3 e < 6 METs Alta 75% a 84% > 6 METs Muito alta 85% ou mais NA 1. Fisiologia do Exercício, Scott Powers – 8ª ed. 2. Fisiologia, Berne & Levy – 3ª ed. 3. Exercício físico e regulação do lactato: papel dos transportadores de monocarboxilato (proteínas MCT), Anelena Bueno Frollini – artigo de revisão, 2008 4. Fisiologia do exercício, McAdlle – 8ª ed. 5. Diretrizes do ACSM para testes de esforço e sua prescrição – 9ª ed. 6. Histologia Básica, Junqueira & Carneiro
Compartilhar