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Teoria Geral e História do Pensamento Jurídico - apostila 1º bimestre - 2014

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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. José E. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
1 
O Direito 
 
Quando se vê uma mãe bater com violência em, seu filho, diz-se que isso não é 
direito. Quando se surpreende um ladrão em pleno furto, fala-se que ele está 
agindo contra as leis. Quando se assalta um banco, também se diz que não se está 
agindo em conformidade com o direito. Mas também, para muitos, a atividade 
bancária de emprestar a juros não é considerada correta, e, para outros, fundar um 
banco é um ato de muito mais roubo do que assaltar um banco. 
 
Não é justo, para alguns, que um mendigo roube pão. Mas não é justo, para muitos 
outros, que o mendigo não tenha um pão. Para alguns o direito é inspirado em 
livros tido como sagrados, como a Bíblia. Para outros, o direito é puramente 
técnico, e se restringiria a um conjunto de leis emanadas do Estado. 
Perante tantas coisas que são denominadas ou não por direito, e perante outras 
em relação às quais se atribui um caráter justo ou injusto, há uma grande 
dificuldade para identificar aquilo que se chama, especificamente, por direito. 
 
Para entendermos o fenômeno jurídico, é preciso, acima de tudo, utilizar-se da 
ferramenta da história. Sem ela, as definições sobre o direito são vagas e sem 
lastro concreto. 
 
Durante muito tempo, chamou-se por direito aquilo que os homens chamariam hoje 
por religião, ou mesmo por política. Quem dirá que os Dez Mandamentos da Bíblia 
são um monumento jurídico? Mas quem poderá dizer que são um conjunto de 
normas só religiosas e não jurídicas? Na verdade, em sociedades do passado, 
como a hebreia, não há algo que especificamente seja chamado por direito e que 
seja totalmente distinto da religião, por exemplo. 
 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. José E. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
2 
Somente quando se chegou aos tempos modernos – quando começou a 
separação teórica entre direito, política e religião, por exemplo – é que foi possível 
entender que não houve, naqueles tempos passados, um direito tomado de modo 
específico. 
 
Mas essa indistinção dos tempos passados não foi algo que aconteceu apenas 
com o direito. Entre a moral e a religião também se deu o mesmo. O Iluminismo, 
um movimento filosófico do século XVIII, demonstrou que seria possível 
compreender a moral independentemente da religião. Para os iluministas, poderia 
haver uma moral racional válida para todos os homens, universal e superior, 
independente da religião de cada qual. Mas para os povos do passado essa 
separação seria muito difícil. Moral e religião estavam misturadas. Só os tempos 
modernos, devido a certas condições e estruturas sociais, como a organização 
capitalista, deram especificidade à religião, à moral, à política, à economia e 
também ao direito. 
 
Assim sendo, é o presente que nos ajuda a entender as dificuldades do passado. 
Se hoje o jurista considera o direito a partir das normas jurídicas estatais, com uma 
série de ferramentas, temas e consequências próprias (“dever ser”), no passado 
tudo isso poderia ser objeto da religião, sem que houvesse uma delimitação dos 
campos específicos. 
 
Comparado ao passado, o direito ganha especificidade apenas no capitalismo, a 
partir da Idade Moderna. Se no passado o direito era inespecífico, misturado à 
moral e à religião, no presente ele se revela algo distinto, um fenômeno 
singularizado. Mas, mesmo assim, a questão ainda permanece, posta agora em 
outro patamar, mais profundo. Se é somente nos tempos modernos que o direito 
passa a ser um fenômeno específico, então o que identifica em si o direito de 
nosso tempo, a fim de que seja distinguido de todos os demais fenômenos sociais? 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. José E. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
3 
Pois bem. Nos dias atuais, aos olhos do homem comum, o Direito é lei e ordem, 
isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garantem a convivência social 
graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. O 
Direito corresponde à exigência essencial e indeclinável de uma convivência 
ordenada, pois nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de 
direção e solidariedade. Um velho brocardo latino fazendo referência a isso dizia: 
Ubi societas, ibi ius; ubi ius, ibi societas (onde está a sociedade, está o Direito; 
onde está o Direito, está a sociedade). O Direito é um fato ou fenômeno social; não 
existe senão em sociedade e não pode ser concebido fora dela, o Direito é uma 
coisa de homem para homem, de ser humano para ser humano. Se houvesse 
apenas um ser humano na Terra, não haveria sentido haver regras jurídicas, pois 
não haveria direitos alheios que pudessem ser violados. O escritor inglês DANIEL 
DEFOE expôs bem tal questão na obra “A Vida e as Estranhas Aventuras de 
Robinson Crusoé”. 
 
É uma disciplina essencialmente dinâmica, não se podendo conceber um direito 
estático. Se a sociedade muda, o Direito deve acompanhar essa mudança. Com 
muita razão GEORGES RIPERT afirmava que “Quando o Direito ignora a 
realidade, a realidade se vinga ignorando o Direito”. 
 
O Direito está presente em todos os momentos da nossa vida (desde a concepção 
no útero materno) e nos acompanha até mesmo após a morte (art. 2º, art. 12, 
parágrafo único e artigo 20, parágrafo único, do CC). 
 
Ainda assim, muitas vezes não damos conta da presença do Direito em nossa 
jornada ou, por outro lado, não há interesse em pensar o Direito. 
 
KARL ENGISCH chegou a firmar que: “Quem se proponha familiarizar o 
principiante ou o leigo com a Ciência do Direito (jurisprudência) e o pensamento 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. José E. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
4 
jurídico, ao tentá-lo vê-se a braços com uma série de dificuldades e dúvidas que 
não encontraria noutros domínios científicos. Quando o jurista, situado no círculo 
das ciências do espírito e da cultura, entre as quais se encontra a jurisprudência, 
olha ao derredor, tem de constatar, angustiado e com inveja, que a maioria delas 
pode contar extra muros com um interesse, uma compreensão e uma confiança 
muito maiores do que precisamente a sua ciência. Especialmente as ciências 
(teorias) da linguagem, da literatura, da arte, da música e da religião fascinam os 
leigos devotados a assuntos de cultura numa medida muito maior do que a ciência 
do Direito, se bem que esta, não só quanto à matéria mas ainda 
metodologicamente, tenha com aquelas estreitos laços de parentesco. (...) Sem 
grandes hesitações se depositará um livro de arqueologia ou de história da 
literatura sobre a mesa dos presentes, mas a custo se fará o mesmo com um livro 
jurídico, ainda que este não exija da parte do leitor conhecimentos especiais. As 
usuais introduções à ciência jurídica, com raras exceções, apenas parecem ter 
algum interesse para o jurista principiante, mas já não para o leigo. (...) As razões 
deste desinteresse do leigo pelo Direito e pena ciência jurídica são fáceis de 
descobrir. Todavia, trata-se de algo muito estranho. Com efeito, a custo qualquer 
outro domínio cultural importará mais ao homem do que o Direito. Há na verdade 
pessoas que podem viver sem uma ligação íntima com a poesia, com a arte, com a 
música. Há, também, na expressão de Max Weber, pessoas ‘religiosamente 
amusicais’. Mas não há ninguém que não viva sob o Direito e que não seja por ele 
constantemente afetado e dirigido. O homem nasce e cresce no meio da 
comunidade e - à parte os casos anormais – jamais se separa dela. Logo, 
inevitavelmente, afeta-nos e diz-nos respeito. (...) Por que, pois, tão pouca abertura 
de espírito para o Direitoe a jurisprudência?” 
 
CARLOS ARI SUNDFELD procura responder às questões levantadas por 
ENGISCH ao observar que “O cientista do direito vive seu dilema. Se compõe uma 
obra para expor idéias sobre o justo ou o injusto, o bom e o mau, conquista 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. José E. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
5 
simpatia, mas frauda seus leitores, porque não faz ciência do direito, mas filosofia 
da justiça. Se apenas descreve o funcionamento dos mecanismos de que se 
compõe o sistema jurídico, ou se expõe certo sistema jurídico positivo (o brasileiro, 
o francês...), cumpre adequadamente sua função, mas seu trabalho perde charme 
mundano.” 
 
Pluralismo e Monismo Jurídico 
O Direito abrange um conjunto de disciplinas e regras, divide-se em duas grandes 
classes: Direito Público e Direito Privado. As relações que se referem ao Estado e 
traduzem o predomínio do interesse coletivo são chamadas relações públicas ou 
de Direito Público, por conseguinte, as relações que interessam ao indivíduo 
enquanto particular dizem respeito ao Direito Privado. Há em cada comportamento 
humano, a presença, embora indireta, do fenômeno jurídico: o Direito está pelo 
menos pressuposto em cada ação do homem que se relacione com outro homem. 
 
Para alguns há uma categoria intermediária, um terceiro gênero, denominado 
direito misto ou direito difuso (ambiental, trabalho, consumidor etc.). Preferimos, 
porém, manter a divisão clássica, que remonta ao Direito Romano, na pessoa do 
jurista Ulpiano, pioneiro a discorrer sobre tal divisão. 
 
Direito e Moral 
A Teoria do Mínimo Ético 
Esta teoria, exposta pelo filósofo inglês JEREMIAS BENTHAM, consiste em dizer 
que o Direito representa o mínimo de Moral declarado obrigatório para que a 
sociedade possa sobreviver. Como nem todos podem ou querem realizar de 
maneira espontânea as obrigações morais, é indispensável armar de força certos 
preceitos éticos, para que a sociedade não soçobre. Assim sendo, o Direito não é 
algo de diverso da Moral, mas é uma parte desta, armada de garantias específicas. 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
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A teoria do mínimo ético pode ser reproduzida por meio da imagem de dois círculos 
concêntricos, sendo o círculo maior o da Moral, e o círculo menor o do Direito. 
Haveria um campo de ação comum a ambos, sendo o Direito envolvido pela Moral. 
Poderíamos dizer que “tudo o que é jurídico é moral, mas nem tudo o que é moral é 
jurídico” (non omne quod licet, honestum est). Não é exato dizer que tudo o que se 
passa no mundo jurídico seja ditado por motivos de ordem moral. Além disso, 
existem atos juridicamente lícitos que não o são do ponto de vista moral. Há regras 
sociais que cumprimos de maneira espontânea, independentemente de haver 
sanção, são as chamadas normas de aceitação social (ex. se o art. 121 do Código 
Penal deixar de ser punido, não sairemos cometendo homicídios, porque temos 
consciência da necessidade de respeito à vida alheia). Outras regras existem, que 
os homens só cumprem em determinadas ocasiões, porque a tal são coagidos, são 
as chamadas normas de rejeição social (ex. a norma tributária – só pagamos 
tributos porque tememos a sanção normativa). 
 
 
 
A Moral é o mundo da conduta espontânea, do comportamento que encontra em si 
próprio a sua razão de existir. O ato moral implica a adesão do espírito ao conteúdo 
da regra. Não é possível conceber-se o ato moral forçado, fruto da força ou da 
coação. 
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7 
 
Distinção entre Direito e Moral 
Ambos têm pontos de contato e pontos de dessemelhança: têm eles uma comum 
base ética, uma idêntica origem, a consciência social. Ambos constituem normas 
de comportamento. 
 
O Direito e a Moral regulam atos de seres livres, os homens, tendo um e outra por 
fim, o bem-estar do indivíduo e da sociedade. 
 
O campo da Moral é mais amplo (non omne quod licet honestum est). A Moral 
abrange os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com 
seus semelhantes. O Direito é mais restrito, compreende apenas os deveres do 
homem para com seus semelhantes. 
 
O Direito tem coação, a Moral é incoercível. A principal oposição entre a regra 
moral e a regra jurídica repousa efetivamente na sanção. A Moral só comporta 
sanções internas, que notoriamente se apresentam inócuas. O Direito, por sua vez, 
conta com a sanção para coagir os indivíduos. Sem esse elemento coercitivo, não 
haveria segurança nem justiça para a vida em sociedade. Visto isso podemos 
afirmar que o conceito de coação (possibilidade de constranger o indivíduo à 
observância da norma), torna-se inseparável do Direito. 
 
A Moral visa à abstenção do mal e à prática do bem, enquanto o objetivo do Direito 
é evitar que se lese ou se prejudique a outrem. 
 
A Moral se dirige ao momento interno, psíquico, volitivo, à intenção que determina 
o ato, ao passo que o Direito se dirige ao momento externo, físico, isto é, ao ato 
exterior. 
 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
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A Moral é unilateral, o Direito, bilateral. 
 
O Direito é mais definido, a Moral é mais difusa. 
 
Detalhe importante que se percebe é que as normas morais tendem a se converter 
em normas jurídicas. 
 
Direito e Coação 
O que distingue o Direito da Moral é a coercibilidade: a Moral é incoercível e o 
Direito é coercível. Coercibilidade é uma expressão técnica que serve para mostrar 
a plena compatibilidade que existe entre o Direito e a força. 
 
Há 3 posições há respeito da relação entre Direito e força : 
 
1ª) Uma teoria imbuída de eticismo absoluto sustenta que o Direito nada tem a ver 
com a força, não surgindo, nem se realizando graças à intervenção do poder 
público; 
 
2ª) Para Ihering o Direito se reduz a “norma+coação”. Segundo essa concepção, 
poderíamos definir o Direito como sendo a ordenação coercitiva da conduta 
humana. 
 
3ª) A teoria da coercibilidade diz que o Direito é a ordenação coercível da conduta 
humana. 
 
Podemos distinguir, assim: 
 
Sanção – conseqüência desfavorável imputada àquele que descumpre uma norma 
jurídica. 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
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Coerção – ameaça potencial de sofrer sanção (se praticar tal conduta, sofrerá tal 
conseqüência). 
Coação – sanção concretizada por conta da violação da norma jurídica (praticou a 
conduta e, em concreto, sofre a conseqüência). 
 
Direito e Heteronomia 
A heteronomia pode ser definida como sendo a validade objetiva e transpessoal 
das normas jurídicas, as quais se põem acima das pretensões dos sujeitos de uma 
relação, superando-as na estrutura de um querer irredutível ao querer dos 
destinatários. Baseia-se na sujeição a um querer alheio (ao contrário da 
autonomia). 
 
KANT foi o primeiro a afirmar ser a Moral autônoma e o Direito heterônomo. O 
Direito é heterônomo, visto ser posto por terceiros aquilo que somos juridicamente 
obrigados a cumprir, a partir disto poderíamos afirmar que o Direito é a ordenação 
heterônoma e coercível da conduta humana. 
 
Bilateralidade Atributiva 
Há bilateralidade atributiva quando duas ou mais pessoas se relacionam segundo 
uma proporção objetiva que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente 
algo. 
Bilateralidade atributiva é uma proporção intersubjetiva, em função da qual os 
sujeitos de uma relação ficam autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, 
garantidamente,algo. Daí a dizer: 
 
1) Sem relação que una duas ou mais pessoas não há Direito (bilateralidade em 
sentido social, como intersubjetividade); 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. José E. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
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2) Para que haja Direito é indispensável que a relação entre os dois sujeitos seja 
objetiva, isto é, insuscetível de ser reduzida, unilateralmente, a qualquer dos 
sujeitos da relação (bilateralidade em sentido axiológico); 
3) Da proporção estabelecida deve resultar a atribuição garantida de uma 
pretensão ou ação, que podem se limitar aos sujeitos da relação ou estender-se a 
terceiros (atributividade). 
 
 
MUNDO DO DIREITO X MUNDO DA NATUREZA 
HANS KELSEN, criador da Teoria Pura do Direito, explicou com brilhantismo a 
diferença entre as leis da natureza e as normas jurídicas, valendo-se do dualismo 
de KANT entre o “ser” (sein) e o “dever ser” (söllen). 
Discorrendo sobre o tema, CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO leciona que 
“O mundo do direito difere profundamente do mundo natural. O mundo normativo 
tem a sua existência própria, diversa do mundo natural, desligada dele, como um 
modo de ser e de existir próprio, diverso do mundo natural. (...) No mundo natural, 
se soltarmos um cigarro, ele inelutavelmente cairá, em razão da lei da gravidade, 
que enuncia relações que decorrem, efetivamente, da natureza das coisas. (...) No 
mundo do direito as coisas não se processam assim. Os homens constroem, 
livremente, situações hipotéticas e enlaçam a esse antecedente um certo 
conseqüente. Figuram uma relação entre um antecedente, que é livremente 
construído pelos homens, e um conseqüente, também livremente instituído pelos 
homens. (...) Por isso os sistemas jurídicos podem variar. Um dado sistema pode 
impor que é obrigatório o voto. O enlaçamento entre essas duas relações é feito 
pela vontade do legislador. Ele relaciona antecedentes com conseqüentes. No 
mundo natural vigora a lei da causalidade, a relação de causa e efeito: se A for, B 
será. No mundo do direito vigora a relação de imputação: se A for, B deverá ser”. 
 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
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Daí afirmar-se que “o Direito é a ciência do dever ser”. As conseqüências 
normativas são aquelas que o legislador desejou (obviamente obedecendo aos 
limites constitucionais, o princípio da razoabilidade, os tratados internacionais 
ratificados pelo Brasil e considerando-se a proteção à dignidade da pessoa 
humana como seu principal vetor). 
 
É a vontade do legislador, p. ex., que atribui ao comportamento “matar alguém”, a 
conseqüência: “reclusão de 6 a 20 anos” (art. 121, do Código Penal). 
 
A diferença entre o “ser” (mundo da natureza) e o “dever ser” (mundo do Direito) 
nos permite compreender por que a norma jurídica, mesmo desrespeitada, 
continua existindo. A norma não descreve a realidade, não diz como ela é, mas 
apenas como deve ser. 
 
DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA 
EROS ROBERTO GRAU afirma que “O Direito não é uma ciência. O Direito é 
estudado e descrito; é, assim, tomado como objeto de uma ciência, a chamada 
Ciência do Direito. (...) O Direito é normativo. O Direito não descreve; o Direito 
prescreve. A ciência que o estuda e descreve não é, no entanto, normativa. É, 
como toda ciência, descritiva. Impõe-se distinguirmos, assim, o Direito e a Ciência 
do Direito. Esta última descreve – indicando como, porque e quando – aquele.” 
O Direito, portanto, compõe-se de normas, enquanto a Ciência do Direito compõe-
se de um conjunto de proposições. 
Ensina, ainda, EROS GRAU: “Proposições jurídicas – esclarece Kelsen, são juízos 
hipotéticos que enunciam ou traduzem que, de conformidade com o sentido de 
uma ordem jurídica – nacional ou internacional – dada ao conhecimento jurídico, 
sob certas condições ou pressupostos fixados por este ordenamento, devem 
intervir certas conseqüências pelo mesmo ordenamento determinadas. As normas 
jurídicas, por seu turno, não são juízos, isto é, enunciados sobre um objeto dado ao 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. José E. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
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conhecimento. Elas são antes, de acordo com o seu sentido, mandamentos, e 
como tais, comandos, imperativos. Mas não são apenas comandos. Em todo o 
caso, não são – como, por vezes, identificando o Direito como ciência jurídica, se 
afirma – instruções (ensinamentos). O Direito prescreve, permite, confere poder ou 
competência – não ensina nada. (...) A ciência jurídica tem por missão conhecer de 
fora, por assim dizer – o Direito e descreve-lo com base no seu conhecimento. Os 
órgãos jurídicos têm – como autoridade jurídica – antes de tudo por missão 
produzir o Direito para que ele possa então ser conhecido e descrito pela ciência 
jurídica.” 
 
Assim, temos: 
a) o Direito é composto por normas; a ciência jurídica é composta por 
proposições; 
b) o Direito é prescritivo; a ciência jurídica é descritiva; 
c) o Direito é produzido por um órgão estatal; a ciência jurídica é produzida 
por cientistas; 
d) a norma jurídica (o Direito) é válida ou inválida; a ciência jurídica é 
verdadeira ou falsa. 
 
 
CONCEITO DE DIREITO 
Pode-se dizer que o Direito é a ordenação bilateral atributiva das relações sociais, 
na medida do bem comum. 
 
É próprio do Direito ordenar a conduta de uma maneira bilateral e atributiva, ou 
seja, estabelecendo relações de exigibilidade segundo uma proporção objetiva. O 
Direito não visa a ordenar as relações dos indivíduos entre si para a satisfação 
apenas dos indivíduos, mas, ao contrário, para realizar uma convivência ordenada, 
o que se traduz na expressão: “bem-comum”. O bem-comum não é a soma dos 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
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bens individuais, nem a média do bem de todos; o bem comum é a ordenação 
daquilo que cada homem pode realizar sem prejuízo do bem alheio, uma 
composição harmônica do bem de cada um com o bem de todos, tendo como vetor 
o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF). 
 
O jurista CELSO, expoente do período clássico do Direito Romano, definia o direito 
como a arte do bom e do justo (Ius est ars boni et aequi). Apesar de “romântico”, o 
conceito não parece acertado nos dias atuais. 
 
Direito é a norma das ações humanas (norma agendi) na vida social (facultas 
agendi) estabelecida por uma organização soberana (justo) e imposta 
coativamente à observância de todos (sanção). 
 
Como afirmava SILAS RODRIGUES GONÇALVES, saudoso professor 
mackenzista, “Direito é construção cultural, e é disciplina normativa, heterônoma, 
da vida exterior e relacional das pessoas, bilateral e imperativo-atributiva, dotada 
de validade, eficácia e coercibilidade, que tende à realização da segurança, 
equilíbrio e bem-comum, dentro de uma sociedade organizada, através da 
captação, tradução e aplicação do valor eterno, justiça.” 
 
Estrutura Tridimensional do Direito 
Uma análise em profundidade dos diversos sentidos da palavra Direito, MIGUEL 
REALE vislumbrou que eles correspondem a três aspectos básicos, discerníveis 
em todo e qualquer momento da vida jurídica: um aspecto normativo (o Direito 
como ordenamento e sua respectiva ciência); um aspecto fático (o Direito como 
fato, ou em sua efetividade social e histórica) e um aspecto axiológico (o Direito 
como valor de Justiça). É a chamada Teoria Tridimensional do Direito, que 
preconiza que a experiência jurídica (o Direito) surge da dialetização fato + valor + 
norma. Daí a dizer: 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. JoséE. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
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1) Onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre e necessariamente um 
fato subjacente; um valor, que confere determinada significação a esse fato, 
inclinando ou determinando a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar 
certa finalidade ou objetivo; e uma regra ou norma, que representa a relação ou 
medida que integra um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor; 
 
2) Tais elementos ou fatores (fato, valor, norma) não existem separados um dos 
outros, mas coexistem numa unidade concreta; 
 
3) Esses elementos ou fatores não só se exigem reciprocamente, mas atuam como 
elos de um processo, de tal modo que a vida do Direito resulta da integração 
dinâmica e dialética dos três elementos que a integram. 
 
Acepções do termo “Direito” 
Observando o Direito à luz da realidade dos estudos Jurídicos contemporâneos, 
pode-se vislumbrar que o termo "direito" comporta, segundo FRANCO MONTORO, 
pelo menos as seguintes concepções: 
 
a) Ciência, correspondente ao conjunto de regras próprias utilizadas pela Ciência 
do Direito; “O direito é uma ciência social”; 
b) Norma jurídica, pois objetiva regulamentar o comportamento das pessoas na 
sociedade por meio de normas editadas pelas autoridades competentes. Ex. “O 
Direito pune o homicídio”, art. 121, do Código Penal; 
c) Poder ou prerrogativa, quando se diz que alguém tem a faculdade, o poder de 
exercer um direito; Ex. “O maior de 16 tem o direito de votar”; “O Estado tem o 
direito de cobrar tributos”; 
d) Fato social, quando se verifica a existência de regras vivas existentes no meio 
social. Ex. “O Direito nasce do fato e ao fato se destina”; 
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 
Prof. José E. Melhen - 1º bimestre - 2014 
 
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e) Justo, aquilo que cada pessoa deve fazer ou deixar de fazer em uma sociedade 
bem ordenada e justa. Ex. “Fiz tudo direito”; “O salário é direito do trabalhador”. 
 
O Direito é um ideal sonhado por certa sociedade e simultaneamente um golpe que 
enterra esse ideal. É símbolo da ordem social e simultaneamente a bandeira da 
agitação. O Direito garante a privacidade e a intimidade e, também, ao mesmo 
tempo, a publicidade e quebra da intimidade. 
 
Só por esses exemplos percebe-se o grau de dificuldade que é o manejar do 
conceito "direito". Talvez por isso a chamada Ciência do Direito tenha acabado por 
privilegiar um dos sentidos, dentre os vários possíveis. 
 
Como, via de regra, as ciências em geral não têm muita dificuldade na descoberta 
e fixação de seus objetos, a Ciência do Direito pretende o mesmo. 
 
Dessa forma, optou por estudar um dos sentidos possíveis do termo "direito": o de 
norma jurídica e, especialmente, o de norma jurídica escrita. 
 
Assim é que, na atualidade, os cursos de Direito estão voltados quase que 
totalmente para o estudo da norma jurídica escrita, com método tipicamente 
dogmático. 
 
Mas não parece ter sido uma escolha muito feliz, uma vez que as dificuldades de 
fixação de sentido que o termo "direito" revela ao investigador, antes de serem um 
obstáculo, apontam para uma riqueza de significações que merecem estudo 
aprofundado. 
 
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Contudo, ao invés de buscar superar o obstáculo, penetrando em sua 
complexidade fecunda, o cientista do Direito deu uma volta ao largo do problema e 
levou consigo o sentido mais fácil de ser abordado. 
 
Com isso, o que era de humano a impregnar o Direito acabou congelando-se no 
conceito da norma jurídica escrita e perdendo-se no trabalho analítico de 
investigador. 
 
É preciso resgatar a magnificência da dignidade humana, que é o fundamento 
último que dá sustentação ao Direito. 
 
KELSEN, em brilhante teoria vislumbrou o Direito como uma ciência pura, despida 
da influência de qualquer outro ramo do conhecimento das ciências humanas. 
Trata-se, em verdade, de verdadeira tentativa de atribuir autonomia ao Direito. 
Nada obstante tenha sido o maior jurista do século XX, sua Teoria Pura do Direito é 
muito criticada, pois, se, de um lado, traz segurança, de outro, pode ser fonte de 
várias injustiças, na medida em que o intérprete fica cerceado à norma jurídica e 
nada mais, fato que reduziria a função do juiz a um autômato (um robô ou um 
computador) na aplicação da lei. 
 
Fontes do Direito 
A metáfora "fonte do Direito" é o local de origem do Direito; é, na verdade, já o 
próprio Direito, mas saído do oculto e revelado ao mundo. 
 
Fontes Estatais e Não-Estatais 
Fontes estatais: lei e jurisprudência; 
Fontes não-estatais: costume Jurídico e doutrina. 
 
Fontes Estatais 
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Legislação 
Legislação é o conjunto das normas jurídicas emanadas do Estado, através de 
seus vários órgãos, dentre os quais se realça, com relevo, nesse tema, o Poder 
Legislativo. 
A legislação (conjunto de normas jurídicas escritas) é, também, conhecida como 
"ordenamento Jurídico". 
A estrutura do ordenamento Jurídico organizado é hierárquica. Por hierarquia legal, 
entende-se que umas normas são superiores às outras, isto é, algumas normas 
para serem válidas têm de respeitas o conteúdo, formal e material, da norma 
jurídica superior. 
 
HANS KELSEN vislumbrou o ordenamento jurídico em um esquema piramidal, 
para demonstrar a chamada “hierarquia vertical” das normas. Eis a “Pirâmide de 
Kelsen”: 
 
 
Constituição Federal – norma suprema no ordenamento jurídico brasileiro, fonte 
de validade para as demais normas, que se lhe são inferiores. Traça critérios 
genéricos, os quais devem ser observados pelas demais normas. O que contraria a 
CF não tem obrigatoriedade no cumprimento. Pode ser atacado de forma direta 
(controle concentrado, art. 103, CF) ou de forma incidental (controle difuso, 
qualquer órgão do Poder Judiciário). 
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18 
A CF é fruto da atividade do poder constituinte originário, que é inicial, 
incondicionado e ilimitado, indica sempre uma revolução no ordenamento (veículo 
da CF). Não estão obrigadas a respeitar direito adquirido, ato jurídico perfeito e 
coisa julgada, mas nada impede que o faça. Ex. art. 17, do ADCT, da CF. Ocorre, 
porém, que quando uma nova CF quebrar direitos adquiridos, ela deve dizer 
expressamente, pois, em seu silêncio, eles são preservados. Ex. Lei 6.969/81, cuja 
CF de 1988, no silêncio, preservou os direitos adquiridos com base nessa norma. 
Cumpre ressaltar que não é absolutamente correta a tese de que o poder 
constituinte originário (aquele que cria uma nova Constituição) não possua limites. 
Mesmo o poder constituinte deve obediência a postulados lógico-normativos. Como 
explica VON WRIGHT, não adianta querer editar norma a permitir algo que seja 
desnecessário ou a determinar que se faça o que é fisicamente impossível. Outro 
limite dessa natureza carece ser aquele demonstrado pelo “paradoxo da 
onipotência”. OLAVO AUGUSTO VIANNA ALVES FERREIRA afirma que “mesmo 
o poder constituinte originário não pode editar normas jurídicas inalteráveis ao 
arbítrio de si próprio. A questão remete ao famoso paradoxo da onipotência: se 
uma divindade é onipotente, pode então criar uma pedra tão pesada que não possa 
carregar? Ora, se pode criar tal pedra, mas não carrega-la, não será onipotente; e 
se não a pode criar, tampouco o será... Por outras palavras, se o poder constituinte 
é considerado juridicamente ilimitado (onipotente), uma disposição constitucional 
feitapor ele poderia regular qualquer aspecto jurídico, no âmbito do sistema 
jurídico a que lhe correspondesse, incluindo a ela mesma. Mas se assim fosse, o 
constituinte originário poderia tornar alguma parte da constituição imodificável até 
por ele próprio? A resposta é logicamente negativa. Por isso, ainda que rejeitada a 
ideia de que ele esteja vinculado ao direito natural, é de se desmistificar a tese 
segundo a qual o poder constituinte originário não se sujeita a limites jurídicos”. 
 
VANOSSI reconhece a presença de limites extrajurídicos ao poder constituinte 
originário, tais como: a) limites ideológicos (crenças e/ou valores que operam no 
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âmbito supraestrutural) e b) limites estruturais (que conformam o âmbito social 
subjacente – a infraestrutura -, como o sistema produtivo, as classes etc.). 
 
Emendas à CF – alteram o texto da CF, criando novas normas ou revogando as já 
existentes. Há limites, matérias que não podem ser objeto de emendas, ex: art. 60, 
§ 4º, I, II, III e IV. Devem respeitar direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa 
julgada (com exceções, p. ex.: para beneficiar o réu em processo criminal). O 
Quórum para aprovação das emendas é de, no mínimo, 3/5 dos membros do 
Congresso Nacional, cuja votação ocorrerá em 2 turnos (art. 60, § 2º, da CF). 
 
Lei ordinária – fruto da atividade típica do legislador (legislar). Deve ser aprovada 
pela maioria simples do Congresso Nacional (voto positivo do primeiro número 
inteiro superior à metade dos parlamentares presentes. Mas o número dos 
presentes não pode ser inferior ao primeiro número inteiro superior à metade dos 
membros da casa – art. 47, CF; ex. 513 membros: devem estar presentes 257; se 
129 votarem, a lei ordinária é aprovada). Em seguida deve ser sancionada ou 
vetada pelo Presidente da República. 
A Lei ordinária regulamenta qualquer assunto que não seja de competência 
privativa de outras autoridades, devendo sempre estar em conformidade com a CF. 
 
Lei complementar – distingue-se da lei ordinária pela exigência de quorum de 
maioria próprio e pela especificidade de suas matérias. O quorum é de maioria 
absoluta dos deputados e senadores (voto positivo do primeiro número inteiro 
superior à metade dos membros das Casas Legislativas – art. 69, CF. Ex. 513: com 
257 é aprovada). Deve ser sancionada pelo Presidente da República (59, 61, 65, 
66 e 69, CF). Limita-se a regulamentar assuntos importantes, indicados na CF: 
criação de um novo Estado Federal (18, § 3º, CF), fixação do número total de 
membros da Câmara dos Deputados (45, § 1º). Não há hierarquia entre a Lei 
Complementar e a Lei Ordinária. 
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Lei delegada – é ato normativo elaborado pelo Presidente da República após 
específica autorização do Congresso Nacional, por meio de Resolução. Restrições: 
art. 68, § 1º, CF. Possui a mesma força da lei ordinária. Está em desuso, as últimas 
foram editadas em 1992. 
 
Medidas Provisórias – sucessoras do antigo Decreto-Lei (antes da CF/1988). São 
atos normativos tomados pelo Poder Executivo (federal, estadual ou municipal), em 
caso de urgência e relevância, que possuem força de lei formal. Deve ser aprovada 
pelo Congresso Nacional em até 120 dias após sua edição (sem computar os 
períodos de recesso parlamentar). O prazo é 60, prorrogável por mais 60. Se for 
aprovada, converte-se em lei ordinária; se não, perde sua validade. Há limites: art. 
62, CF. Governadores e Prefeitos podem lançar mão de medidas provisórias 
somente se houver autorização na Constituição do Estado (Governador) e na Lei 
Orgânica do Município (Prefeitos), 
 
Decretos legislativos – ato normativo emitido pelo Congresso Nacional, não 
sujeito à sanção do Presidente da República. Regulamenta assuntos de 
competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49, CF). Ex. autorizar 
referendo. 
Resolução – ato normativo emitidos em assuntos de exclusiva competência da 
Câmara dos Deputados ou do Senado (arts. 51, 52, 155, § 2º, IV e V, da CF) ou do 
Congresso Nacional (art. 68, § 2º, CF), não necessita de sanção do Presidente da 
República. Ex. eleição dos membros do Conselho da República pela Câmara dos 
Deputados. 
 
Decreto regulamentar – são normas elaboradas pelo Presidente da República, 
com o objetivo de concretizar as leis no sentido formal, providenciando o 
necessário para sua aplicação (art. 84, IV, CF). 
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Portarias, ordens de serviços, circulares – normas criadas por autoridades do 
poder executivo para orientar a atividade da administração a execução das leis. Ex. 
uma portaria do Ministério da Saúde. 
 
Instrução – norma emitida por um Ministro de Estado para regulamentar a 
execução das leis, decretos e regulamentos (art. 87, parágrafo único, II, CF). 
 
A Jurisprudência 
Jurisprudência é o conjunto das decisões uniformes dos tribunais a respeito do 
mesmo assunto, o modo uniforme e reiterado pelo qual os tribunais se orientam na 
solução de determinada questão jurídica. É, também, chamada de costume 
judiciário. Decisão isolada não constitui jurisprudência, embora, em certo tempo, 
possa influenciar para uma mudança jurisprudencial. O nome técnico de uma 
decisão isolada proferida por Tribunal é acórdão escoteiro. A jurisprudência sempre 
emana de um órgão colegiado (mais de um julgador), nunca de um órgão singular 
(ex. juiz de primeira instância). Em nosso sistema os Juízes inferiores não estão 
vinculados nem às decisões, nem às súmulas dos tribunais. Exceções: Súmulas 
Vinculantes (art. 103-A, da CF e Lei 11.417/06), Súmulas Impeditivas de Recursos 
(art. 518, do CPC) e decisão proferida pelo STF em Ação Direta de 
Inconstitucionalidade e em Ação Declaratória de Constitucionalidade (art. 102, § 2º, 
CF). 
Sob o aspecto lógico, o costume e a jurisprudência se equiparam, porquanto 
ambos são produzidos por indução: casos particulares que podem chegar a um 
resultado generalizado, aplicável a todos os outros da mesma espécie. 
Importante: no sistema estrangeiro (EUA e Europa), o termo jurisprudência é 
sinônimo de “Ciência do Direito”. A jurisprudência, tal qual conhecemos, é 
conhecida, em tais lugares, sob a epígrafe de “precedente” ou “case”. 
 
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Fontes Não-Estatais 
 
Costume Jurídico 
Costume Jurídico (NÃO confundir com a jurisprudência, que também é conhecida 
por costume “judiciário”) é norma jurídica obrigatória, imposta ao setor da 
realidade que regula, passível de imposição pela autoridade pública e em especial 
pelo Poder Judiciário. 
É uma norma "não-escrita", que surge da prática longa, diuturna e reiterada da 
sociedade. 
Distingue-se, assim, da lei, de plano, pelo aspecto formal. A lei é escrita; o costume 
é não escrito. 
O costume Jurídico tem outra característica importante: é aquilo que a doutrina 
chama de convicção de obrigatoriedade (opinio necessitatis), ou seja, a prática 
reiterada, para ter característica de costume Jurídico, deve ser aceita pela 
comunidade como de cunho obrigatório. 
Há obrigatoriedade de cumprimento do costume Jurídico, porém não ficam muito 
claras as conseqüências caso sua prescrição não seja observada. 
Isso não significa dizer que não existe sanção, mas sim que esse aspecto é 
secundário, e, diante das circunstâncias que fazem nascer o costume Jurídico, a 
sanção acaba ficando vaga. 
Pode nem haversanção clara, mas há obrigação de cumprimento, que é 
característica decorrente da força da sanção, porquanto o não-cumprimento do 
costume Jurídico pode ser exigido judicialmente, tal qual se faz com a lei. 
O costume Jurídico surge no e do próprio seio da coletividade. 
Ele é fruto da prática social individualizada, caso a caso; nasce obrigatório porque 
as partes envolvidas assim o entendem e se auto-obrigam; provém da convicção 
interna de cada partícipe de sua objetivação em fatos sociais particulares, que 
obriga a todos os que neles se envolverem. Formado com essa convicção de 
obrigatoriedade, pode-se tê-lo como legítimo e atualizado. 
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23 
 
Aquele que alega o costume tem o ônus de prová-lo ao Juiz (art. 337, do CPC). 
 
A doutrina classifica o costume em 3 espécies: 
a) Segundo a lei (secundum legem) - quando a lei expressamente determina ou 
permite a aplicação dele; ex. arts. 113, 165, 597, do CC); 
b) Na falta da lei (praeter legem) - quando intervém na falta ou omissão da lei. Ele 
funciona, no caso, preenchendo o ordenamento jurídico, evitando o aparecimento 
de lacuna ou mesmo integrando eventual lacuna; ex. art. 4º, da Lei de Introdução 
às Normas do Direito Brasileiro (LINDB); 
c) Contra a lei (contra legem) - quando contraria o disposto na lei. Não é aceito por 
parte da doutrina. 
Existem 2 tipos de costume contra legem: 
- Desuso (desuetudo) - quando uma lei deixa de ser aplicada, por já não 
corresponder é realidade e em seu lugar terem surgido regras costumeiras; Ex. o já 
revogado art. 217, do Código Penal, que previa o crime de sedução: “Seduzir 
mulher virgem, menor de 18 (dezoito) anos e maior de 14 (catorze), e ter com ela 
conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança”; 
- Costume "ab-rogatório" - cria nova regra, apesar da existência da lei vigente 
(ex. cheque pós-datado, que contraria a Lei 7.357/85, a qual estabelece que o 
cheque é uma ordem de pagamento “à vista” e não para data futura). 
 
Doutrina 
É o resultado do estudo que pensadores (juristas e filósofos do Direito) fazem a 
respeito do Direito. Em nossa época, quando a especialização se torna 
fundamental e a velocidade das transformações está exacerbada, a doutrina 
assume papel extremamente relevante para o Direito. Já não é possível que o 
legislador, administrador ou Juiz, mesmo especialista, consiga dar conta do 
universo de situações existentes, tanto no mundo das normas quanto no da 
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realidade social. A doutrina nesse processo torna-se essencial para aclarar pontos, 
estabelecer novos parâmetros, descobrir caminhos ainda não pesquisados, 
apresentar soluções justas, enfim interpretar as normas, pesquisar os fatos e 
propor alternativas, com vistas a auxiliar a construção sempre necessária e 
constante do Estado de Direito, com o aperfeiçoamento do sistema Jurídico. 
Por fim, a doutrina exerce papel fundamental, como auxiliar para entendimento do 
sistema Jurídico em seus múltiplos e complexos aspectos. 
A doutrina é fonte do Direito. 
O fundamento para a aceitação da doutrina como fonte do Direito surge da própria 
definição que unanimemente se dá para a doutrina: é o conjunto das investigações 
científicas e dos ensinamentos dos juristas (pensadores do Direito). 
O pensamento Jurídico dogmático nada mais é do que o conjunto de suas 
doutrinas, e corresponde ao locus, onde o estudioso e pesquisador do Direito vai 
aprendê-lo e procurar respostas aos problemas encontrados. 
 
Direito Positivo 
Direito positivo é o conjunto das normas jurídicas escritas e não-escritas (costume 
Jurídico), vigentes em determinado território e, também, na órbita internacional na 
relação entre os Estados, sendo o direito positivo aí aquele estabelecido nos 
tratados e costumes internacionais. 
Esse direito positivo pode ser separado em dois elementos: de um lado, o direito 
objetivo e, de outro, o direito e dever subjetivos. 
Ambos os elementos compõem um mesmo direito, de tal forma que o primeiro não 
pode existir sem os segundos e vice-versa. 
 
Direito Natural 
Corresponde a uma idéia de Justiça, algo que não necessita estar positivado, mas 
está na consciência das pessoas, é o mínimo que deve ser assegurado às 
pessoas, dada sua condição humana (art. 1º, III, da CF). 
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Direito Objetivo 
É o conjunto, em si, das normas jurídicas escritas e não-escritas, 
independentemente do momento de seu exercício e aplicação concreta. 
O direito objetivo corresponde à norma jurídica em si, enquanto comando que 
pretende um comportamento. É aquele objetivado independentemente do momento 
de uso e exercício. 
O direito positivo é a soma do direito objetivo com o direito e o dever subjetivos. 
 
Direito Subjetivo 
É a prerrogativa colocada pelo direito objetivo, à disposição do sujeito do direito. 
Essa prerrogativa há de ser entendida como a possibilidade de uso e exercício 
efetivo do direito, posto à disposição do sujeito. 
O direito subjetivo é tanto o efetivo exercício do direito objetivo quanto a 
potencialidade do exercício desse mesmo direito. 
O direito subjetivo está já na potência (possibilidade de exercício) e está também 
no exercício efetivo. 
Pode haver abuso no exercício do direito subjetivo. 
Direitos subjetivos não precisam do exercício ou da constatação de sua 
potencialidade para existirem (embora para se garantirem, por vezes, precisem da 
utilização de outros direitos subjetivos). 
É o caso dos direitos subjetivos inerentes à pessoa, tais como o direito à vida, à 
honra, à imagem etc. São eles direitos subjetivos plenos, de fato, bastando para 
tanto a existência da pessoa de direito. 
O direito subjetivo se caracteriza pela potencialidade e pelo efetivo exercício do 
direito objetivo, podendo o sujeito fazer uso da ameaça desse exercício, que ao ser 
efetivado não o pode ser de forma abusiva. Alguns direitos subjetivos, no entanto, 
sendo inatos ao sujeito (por garantia e designação do direito objetivo), independem 
do exercício, mesmo em potencialidade, para existirem. E, como existem já 
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plenamente, no caso desses direitos subjetivos, não há que se falar em ameaça ou 
mesmo abuso do direito exercitado. 
Não se confunda direito subjetivo com o chamado direito-função, que é o exercido 
por um sujeito em função de outrem. Ex. o pátrio poder, que é exercido pelos pais, 
em função do direito subjetivo dos filhos. 
O direito-função é antes dever subjetivo que direito objetivo, visto que tem que ser 
exercido. É antes obrigação que prerrogativa. 
 
Dever Subjetivo 
A norma jurídica pode pretender obter ações e comportamentos, o que faz 
apontando as condutas que devem ser cumpridas, bem como fixando as sanções 
(punições) a serem aplicadas àqueles que não cumprem as condutas prescritas, ou 
atingem o ato Jurídico praticado de forma proibida ou não aceita pelas normas 
jurídicas. 
Juntando-se a noção de direito subjetivo com essa noção de obrigação ou dever de 
cumprir certa conduta, percebe-se que, se, de um lado, tem-se o direito subjetivo, 
isto é, potencialidade ou exercício de um direito, de outro, tem-se um dever 
subjetivo, colocado em posição diametralmente oposta. 
 
Não há direito subjetivo sem o outro que o tenha de respeitar. 
 
E mesmo que estejamos falando de um direito subjetivo que independado 
exercício da prerrogativa para poder existir, como, por ex., o direito à vida, à honra, 
à imagem etc., ainda assim sempre existirá o outro. No caso, o outro são todos os 
outros, que devem respeitar tais direitos. É um direito que se impõe erga omnes, 
isto é, a todos. 
A noção de dever e dever subjetivo é imanente ao conjunto de normas jurídicas 
objetivas. 
Há algo que surge junto com o exercício do direito subjetivo, limitando-o. 
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Se o direito subjetivo pode ser exercido, mas não de forma ilimitada ou 
injustificada, sob pena de ser taxado de abusivo, então o que existe junto desse 
direito subjetivo é, no exato momento em que surge o limite, um dever. 
O exercício desse direito está limitado por um dever subjetivo. Todo aquele que vai 
exercitar seu direito subjetivo só o pode fazer até certo ponto. 
 
Divisão no Direito Positivo 
Divisão Geral: Direito Público e Privado 
 
A separação está estabelecida desde o período clássico do direito romano pelo 
jurista ULPIANO e tem por função estabelecer dogmaticamente segurança e 
certeza para a tomada de decisão. 
A divisão em Público e Privado pode ser feita tendo por critérios os sujeitos 
envolvidos e a qualidade destes quando estão na relação jurídica; e o Conteúdo 
normativo e o interesse Jurídico a ele relacionado. 
 
Direito público é aquele que reúne as normas jurídicas que têm por matéria o 
Estado, suas funções e organização, a ordem e a segurança internas, com a tutela 
do interesse público, tendo em vista a paz social, o que se faz com a elaboração e 
a distribuição dos serviços públicos, através dos recursos indispensáveis à sua 
execução. Cuida, também, na ética internacional, das relações entre os Estados. 
 
Direito privado é aquele que reúne as normas jurídicas que têm por matéria os 
particulares e as relações entre eles estabelecidas, cujos interesses são privados, 
tendo por fim a perspectiva individual. 
 
Ramos do Direito Público Interno 
Direito Constitucional 
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Engloba as normas jurídicas constitucionais, isto é, aquelas pertencentes à 
Constituição, em toda sua amplitude, dentre as quais se destacam as atinentes à 
forma e à organização do Estado, ao regime político, à competência e função dos 
órgãos estatais estabelecidos, aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos 
etc. Principais normas – CF e Emendas. Lembremo-nos do fenômeno denominado 
Bloco de Constitucionalidade, hipótese em que a CF considera com uma norma 
que se encontra fora de seu texto, com status de norma constitucional (ex. art. 5º, § 
3º, da CF). Ex. Decreto 6.949/09, que tornou norma interna a Convenção de Nova 
York, ratificada pelo Brasil em 2007. 
 
Direito Administrativo 
Corresponde ao conjunto de normas jurídicas que organizam administrativamente o 
Estado, fixando os modos, os meios e a forma para a consecução de seus 
objetivos. 
Tais normas estruturam e disciplinam as atividades dos órgãos da Administração 
Pública direta e indireta, as autarquias, as empresas públicas, as entidades 
paraestatais etc. 
Referem-se, ainda, ao Poder de Polícia da Administração, o que envolve não só os 
aspectos de segurança pública, de garantia da integridade física e moral das 
pessoas e das suas propriedades mas também o de Polícia Administrativa, 
montado nos vários setores de fiscalização existentes, o controle e a preservação 
dos bens públicos e as limitações dos direitos sobre bens dos particulares etc. 
Disciplinam também os serviços públicos e suas permissões e concessões, os 
critérios de oportunidade dos atos discricionários etc. Enfim, regulam todos os atos 
e procedimentos administrativos. Principais normas: Lei de Improbidade, Lei de 
Licitações e Contratos Administrativos, Constituição Federal etc. 
 
Direito Tributário 
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Envolve as normas jurídicas voltadas para a arrecadação de tributos, bem como as 
que cuidam das atividades financeiras do Estado, regulam do suas receitas e 
despesas. 
Seus principais instrumentos legais são a própria Constituição Federal, o Código 
Tributário Nacional e uma série de leis esparsas. 
 
Direito Financeiro 
Compreende o conjunto de normas e princípios que disciplinam a atividade dos 
órgãos do Poder Judiciário e das pessoas que com eles entram em contato ou que 
lhes prestam colaboração. É a atividade estatal destinada a conseguir meios para 
acudir às necessidades públicas, ou seja, são os meios para o Estado 
desempenhar as suas atividades fim. Principais normas: Constituição Federal, Lei 
de Responsabilidade Fiscal e Lei 4.320/64. 
 
Direito Processual 
Regula o processo judicial, bem como a organização judiciária. 
Engloba as normas jurídicas que cuidam das regras relativas à ação judicial, isto é, 
do direito de ver qualquer pretensão sendo analisada e julgada pelo Poder 
Judiciário. 
O Direito Processual está dividido por áreas relativas ao direito material, com 3 
subdivisões básicas: 
a) Direito Processual Civil - regula as situações relativas à órbita civil, comercial, 
fiscal, administrativa, do consumidor etc.; seu principal instrumento é o Código de 
Processo Civil. 
b) Direito Processual Penal - regula as situações relativas à órbita penal; seus 
principais textos legais são o Código de Processo Civil, as leis das execuções 
penais e Lei dos Juizados Especiais Criminais. 
c) Direito Processual do Trabalho - regula as situações relativas à órbita trabalhista. 
Serve-se ele, subsidiariamente, para os casos não previstos, do Direito Processual 
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Civil; sua principal base legal é a Consolidação das Leis do Trabalho e o Código de 
Processo Civil (que possui aplicação subsidiária à CLT). 
 
Direito Penal 
Corresponde ao conjunto das normas jurídicas que regulam os crimes e as penas 
aplicáveis, e as contravenções penais com as correspondentes penas aplicáveis. 
Seus principais instrumentos legais são o Código Penal e a Lei das Contravenções 
Penais, acrescidos de diversas leis esparsas. 
 
Direito Eleitoral 
Compõe-se do conjunto das normas jurídicas que disciplinam a escolha dos 
membros do Poder Executivo e Legislativo. 
Essas normas estabelecem os critérios e condições para o eleitor votar, para 
alguém se candidatar, bem como as datas das eleições, as formas das apurações, 
o número de candidatos a serem eleitos, fixando as bases para a criação e o 
funcionamento dos partidos políticos etc. Principais normas – CF, LC 64/90, Código 
Eleitoral, Lei 9.504/97. 
 
Direito Previdenciário 
É o ramo do Direito que engloba as normas jurídicas que cuidam da Previdência 
Social, através dos seus órgãos (INSS etc.), estabelecendo os benefícios e as 
formas de sua obtenção (auxílio-doença, auxílio-maternidade etc.), regrando a 
aposentadoria por tempo de serviço e por invalidez, o direito à pensão na viuvez, 
as formas de manutenção e custeio do sistema etc. 
Seu principal instrumento legal é a Consolidação das Leis da Previdência Social e 
a CF. 
 
Direito Econômico 
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É o ramo do Direito que se compõe das normas jurídicas que regulam a produção e 
a circulação de produtos e serviços, com vistas ao desenvolvimento econômico do 
País, especialmente no que diz respeito ao controle do mercado interno, na lutae 
disputa lá estabelecida entre as empresas, bem como nos acertos e arranjos feitos 
por elas para explorarem o mercado. São normas que regulam monopólios e 
oligopólios, tentam impedir concorrência desleal etc. Tais normas estão espalhadas 
em leis esparsas, dentre as quais se destacam a CF, a Lei Antitruste (Lei 8.884/94), 
a Lei de Economia Popular, a Lei de Livre Concorrência etc. 
 
Direito do Consumidor 
No Brasil está elaborado através do Código de Defesa do Consumidor, que é seu 
principal instrumento. Em vigor desde 1º/03/1991 (Lei 8.078/90), o CDC regula as 
relações potenciais ou efetivas entre consumidores e fornecedores de produtos e 
serviços. 
As normas do CDC, instituídas para a proteção e defesa do consumidor, são de 
ordem pública e interesse geral. 
Consumidor, para esse sistema legal, é "toda pessoa física ou jurídica que adquire 
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final" (art. 2º CDC), ao qual se 
equipara "a coletividade de pessoas, ainda que indetermináreis, que haja intervindo 
nas relações de consumo" ( único do art. 2º CDC). Equiparam-se também ao 
consumidor todas as vítimas de evento danoso (art.17 CDC), bem como "todas as 
pessoas determináveis ou não, expostas às práticas" comerciais (art. 29 CDC). 
Fornecedor "é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou 
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades 
de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, 
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços" 
(art. 3º CDC). 
Produto "é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial" ( 1º do art. 3º 
CDC). 
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Serviço "é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante 
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária" 
( 2º do art. 3º CDC). Está excluída da abrangências do CDC, como se viu, a 
prestação de serviço oferecida a título gratuito. As de caráter trabalhista também 
estão excluídas, e continuam regidas pela CLT e demais normas jurídicas 
trabalhistas. 
As relações existentes entre os próprios fornecedores, isto é, de fornecedor a 
fornecedor, continuam regidas pela legislação já existente (civil, comercial, penal 
etc.). 
 
Direito Ambiental 
É composto das normas jurídicas que cuidam do meio ambiente em geral, tais 
como a proteção de matas, florestas e animais a serem preservados, o controle de 
poluição e do lixo urbano etc. 
Tais normas jurídicas estão fixadas na CF e em uma série de leis esparsas. 
 
Direito Internacional Privado 
É o ramo composto pelas normas jurídicas que regulam as relações privadas no 
âmbito internacional. 
Como as normas jurídicas têm vigência e eficácia apenas no território do respectivo 
Estado, só podem produzir efeitos em território de outro Estado se este aceitar. 
Trata-se, de fato, de "conflito de leis" e por isso há que se definir qual a lei a ser 
aplicada: em função da nacionalidade ou domicílio da pessoa; da situação da 
coisa, objeto do direito; e do lugar em que foi realizado o ato. 
A norma jurídica fundamental que cuida do assunto é a Lei de Introdução às 
Normas do Direito Brasileiro (LINDB), somente em seus arts. 7º a 19. 
“O Direito Internacional privado é nacional e público”. 
 
Direito Internacional Público 
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33 
Compõe-se das normas convencionais (tratados internacionais, também chamados 
de convenções, pactos, convênios, acordos) e dos costumes Jurídicos 
internacionais. 
Tratado internacional é o acordo realizado por Estados independentes, visando à 
ordenação, através de cláusulas que se tornam normas jurídicas, de temas de 
interesse comum. As normas estabelecidas nos tratados obrigam os Estados que 
vierem a ratificá-los, ou que os celebrarem, ou que a eles vierem a aderir. 
O Estado pode aderir a um tratado com reservas, isto é, ressalvando por escrito, 
expressa e especificamente, que não acata determinadas cláusulas e normas lá 
estabelecidas. 
Pode, também, o Estado, após celebrar o tratado, aderir a ele ou ratificá-lo, desistir 
dele, através do uso da "denúncia". Por esse instrumento, entregue a todos os 
outros Estados que são parte no tratado, o Estado expressa que não vai mais 
observar as cláusulas e normas nele contidas. O tratado passa a ter vigência e 
obrigatoriedade no regime de direito interno, após celebrado pelo Presidente da 
República (CF art. 84, VIII) e aprovado pelo Congresso Nacional (CF art. 49, I). Os 
costumes Jurídicos internacionais são os usos observados e reconhecidos de 
forma uniforme pelos Estados soberanos, nas suas relações. Não são exatamente 
como os costumes Jurídicos da ordem interna. 
São mais usos e práticas aceitos como obrigatórios pelos Estados que assim os 
observarem, resultando, então, dos atos reiterados dos Estados nas relações da 
esfera internacional. 
Vide, também, o disposto no art. 5º, § 3º e 4º, da CF (introduzidos pela EC 45/04). 
 
Ramos do Direito Privado 
Importante – a partir da CF de 1988, o Direito Privado perdeu boa parte do seu 
caráter individualista, havendo uma série de limitações relacionadas à ordem 
pública (ex. não é possível se casar e na escritura renunciar ao dever de fidelidade 
ou a outros deveres previstos no art. 1566, do CC; ex. arts. 187, 421 e 422, do CC). 
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Direito Civil 
É também conhecido como direito comum. Ele engloba as normas jurídicas que 
regem, entre outros, a capacidade e o estado das pessoas, o nascimento, o fim, o 
nome, a maioridade etc.; as relações familiares (casamento, separação, divórcio, 
relações de parentesco, pátrio poder etc.), as relações patrimoniais e obrigacionais 
(direitos reais e pessoais, posse, propriedade, compra e venda, contrato etc.), a 
sucessão hereditária (divisão, espólio, meação, testamentos etc.). 
Seu principal diploma legal é o Código Civil Brasileiro (Lei 10.406/2002), bem como 
outras leis esparsas (Lei do Inquilinato, Lei do Divórcio, Lei do Bem de Família, 
Estatuto da Criança e do Adolescente etc.). 
 
Direito Comercial (Empresarial) 
Engloba as normas jurídicas que regulam a atividade comercial, entendida esta 
como a de fabricação, produção, montagem, distribuição, comercialização etc. de 
produtos, nas relações estabelecidas entre as próprias pessoas que exercem tais 
atividades, bem como os serviços prestados de umas às outras. 
Seu principal instrumento legal é o Código Civil de 2002, que revogou a primeira 
parte do Código Comercial, bem como este último e outras leis extravagantes (Lei 
de Falências e Recuperação Judicial de Empresas, Lei das Sociedades por Cotas 
de Responsabilidade Limitada, Lei das Sociedades Anônimas, Lei da 
Representação Comercial etc.). 
 
Direito do Trabalho 
Engloba as normas jurídicas que regulam as relações entre o empregado e o 
empregador (patrão), compreendendo o contrato de trabalho, o registro do 
empregado, a rescisão, a despedida, as verbas trabalhistas, os salários e seus 
reajustes, a duração da jornada de trabalho etc. 
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Essas normas regulam, também, o chamado Direito Coletivo do Trabalho, que trata 
dos acordos coletivos de trabalho, da organização sindical, do direito de greve etc. 
Seu principal diploma legal é a Consolidação das Leis do Trabalho, de 1º/05/1943, 
acrescida e alterada por umasérie de leis esparsas (lei de acidente do trabalho, do 
empregado domésticos, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS etc.), 
bem como a própria CF. Embora classificado por parte da doutrina como ramo do 
direito privado, é fato que a maioria das normas que compõe o direito do trabalho 
têm natureza cogente, o que o torna um ramo “sui generis”, não cabendo aqui 
maiores discussões sobre o tema. 
 
 
NORMA JURÍDICA 
É um comando, um imperativo dirigido às ações dos indivíduos. É regra de conduta 
social, sua finalidade é regular as atividades dos sujeitos em suas relações sociais. 
A norma jurídica imputa certa ação ou comportamento a alguém, que é seu 
destinatário. 
 
A norma jurídica pressupõe 3 elementos: 
a) hipótese – previsão abstrata de uma situação ou de um comportamento; 
b) mandamento – comando, ditame de caráter obrigatório; 
c) sanção – conseqüência desfavorável imputada a alguém pela violação da 
norma. 
Ex. art. 121 do Código Penal: “Matar alguém. Pena – reclusão de 6 a 20 anos”. 
Hipótese: “matar alguém”; mandamento: “não mate”; sanção: “reclusão de 6 a 20 
anos”. 
 
Pertence ao mundo do dever-ser (söllen), operando com modais deônticos, que 
são: 
- proibição; 
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- obrigatoriedade; 
- permissão. 
 
Distingue-se das normas morais por ser positivada e pela sanção (embora haja 
normas sem sanção, as chamadas leis imperfeitas). 
 
Subsunção – amoldar do fato concreto à hipótese (abstrata) prevista em lei. 
 
Sanção – conseqüência desfavorável (mal justo) imposta àquele que transgride a 
norma. 
 
Coerção – ameaça abstrata de sanção. 
 
Coação – sanção concretizada. 
 
A norma jurídica, portanto, tem as seguintes características: 
a) generalidade – se dirige a todos, sem qualquer distinção (eficácia erga omnes); 
b) imperatividade – impõe deveres e condutas para os membros da coletividade; 
c) permanência – perdura até que seja revogada ou por outra ou que perca a 
eficácia; 
d) competência – deve emanar da autoridade competente, com o respeito ao 
processo de elaboração estabelecido na Constituição federal; 
e) autorizante – a norma autoriza ou não autoriza determinada conduta (Kelsen) 
 
Classificação das normas jurídicas 
Quanto à hierarquia: “Pirâmide” de Kelsen. 
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37 
 
 
Quanto à natureza de suas disposições 
a) substantivas (materiais) – criam, declaram e definem direito, deveres e relações 
jurídicas; Ex. o Código Civil. 
b) adjetivas (processuais) – regulam o modo e o processo para acesso ao Poder 
Judiciário. Ex. o Código de Processo Civil. 
 
Quanto à aplicabilidade 
a) auto-aplicáveis – entram em vigor independentemente de qualquer norma 
posterior; 
b) dependentes de complementação – declaram expressamente sua 
necessidade de complementação por outra norma. Ex. art. 7º, XI, 192, 195, 5º, 
XXXII, CF. 
c) dependentes de regulamentação – designam geralmente que órgãos do 
Executivo definirão e detalharão sua aplicação e executoriedade. Surgem em forma 
de decreto regulamentar. Ex. Decreto n. 99.684/90, que regulamentou a Lei 
8.036/90, explicitando, detalhando, tratando de infrações e da fiscalização do 
FGTS. 
 
Quanto à sistematização 
a) constitucionais – previstas na CF ou em outras normas que a CF considera 
como constitucionais (bloco de constitucionalidade – art. 5º, par. 3º, da CF) 
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b) codificadas – norma que prevê a regulamentação unitária de um mesmo ramo 
do direito (ex. CC, CPC etc.) 
c) esparsas – tratam, com especificidade, de certo tema de um dos ramos do 
direito. 
d) consolidadas – regulam, de maneira unitária, leis pré-existentes (ex. CLT, que 
é formada por um conjunto de leis esparsas, que acabaram sendo reunidas num 
corpo único). 
e) estatutárias – regulamentação unitária dos interesses de uma categoria de 
pessoas (Ex. Estatuto do Idoso, Estatuto do Índio, Estatuto da Criança e do 
Adolescente etc.). O CDC não pode ser considerado um Estatuto, pois não há 
como identificar quem é consumidor (potencialmente todos, indistintamente, são 
consumidores). 
f) compiladas - repertório de normas organizadas em ordem cronológicas ou por 
matéria. 
 
Quanto à obrigatoriedade 
a) cogentes ou injuntivas (de ordem pública) – são leis de ordem pública e não 
podem ser modificadas pela vontade das partes ou do juiz. São imperativas quando 
ordenam um certo comportamento e são proibitivas quando vedam um 
comportamento. Ex. art. 11 ao 21, 421 e 422, do Código Civil; 
b) dispositivas ou supletivas (permissivas) – tutelam interesses patrimoniais e, 
por isso, podem ser modificadas pela vontade das partes. Ex. normas contratuais. 
 
Quanto à esfera do poder de que emanam 
Federais, estaduais e municipais. 
 
Quanto à sanção 
a) mais que perfeitas – nulidade e pena. Pessoa casada se casar: art. 1548, II, 
CC e 235, CP; 
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b) perfeitas – nulidade. Alienação de bens sem outorga uxória, que torna nulo o 
negócio; 
c) menos que perfeitas – pena: o divorciado que se casar sem realizar a partilha 
dos bens sofrerá como sanção o regime da separação de bens, não obstante a 
validade de seu novo casamento; 
d) imperfeitas – não há conseqüência (ou porque a norma não prevê 
conseqüência em caso de violação ou por tratar-se de norma meramente 
explicativa, interpretativa). Ex. norma municipal que determina que antes de 
adentrar ao elevador deve-se verificar se o mesmo se encontra parado no andar; 
ex. art. 327, do CP, que define o que é “funcionário público” para fins penais. 
 
Leis de efeito concreto 
Produzem efeitos imediatos, pois trazem em si mesmas o resultado específico 
pretendido. Ex. lei que proíbe certa atividade. Via de regra, não cabe Mandado de 
Segurança contra a lei, exceto se tratar-se, no caso, de lei de efeito concreto. 
 
Leis quanto à especialidade 
a) normas gerais – são as normas que discorrem sobre todo um ramo do Direito. 
Temos, como exemplo, o Código Civil que é a norma geral do ramo civil; 
b) normas especiais – são as que regulam determinado ramo do Direito. Exemplo 
claro é a Lei do Divórcio, que trata de um aspecto dentro do ramo civil. Dentre as 
leis especiais, há as de caráter extravagante, que têm por objetivo cuidar de tema 
já codificado. É o caso da Lei de Locações que modificou parte do Código Civil 
quanto ao referido contrato que, por sua vez, também era abordado de maneira 
geral. 
 
A lei especial é preferível em relação à lei geral, ante o fato de a primeira ter sido 
elaborada com maior rigor pelo jurista, versando sobre uma determinada matéria 
com maior acuidade. Em verdade, há uma estratégia em criar leis especiais: evitar 
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que a lei geral seja demasiadamente ampla. Logo, tanto a lei geral quanto a lei 
especial devem coexistir pacificamente. 
Caso haja antinomia (conflito entre as disposições das normas), deve-se preferir a 
norma mais recente, entendendo-se que a norma mais antiga foi tacitamente 
revogada pela norma mais nova. 
 
Quanto à cronologia 
a) permanentes – não têm prazo certo para vigorar, ou seja, têm prazo de vigência 
indeterminado, vigendo até que outra a modifique ou revogue (artigo 2.º da Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB;b) temporárias – têm prazo certo para vigência, subdividindo-se em: 
- expressas: os prazos de vigência estão expressamente disciplinados na própria 
norma. Nesse caso, a norma tem conteúdo auto-revogatório (leis de vigência 
temporária); 
- tácitas: apesar de tais normas não terem prazo de vigência, são leis que vigoram 
apenas para uma situação especial. Com a cessação do fato, ou da situação, 
cessa também a norma (leis excepcionais). 
 
A norma poderá ser eficaz e não ser efetiva, como no caso do casamento pelo 
regime dotal. É uma norma eficaz, considerando sua não-revogação; no entanto, 
não é efetiva, pois caiu em desuso. 
 
O princípio fundamental é de que a lei posterior revoga a anterior. 
 
A ausência de norma é denominada anomia ou (lacuna); o conflito (contradição) 
entre normas é chamado antinomia. 
 
 
 
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INTERPRETAÇÃO DA NORMA JURÍDICA 
O direito não é composto apenas por normas, mas, também, por princípios. Essa, 
pois a idéia do chamado “sistema” no Direito. As normas nunca devem ser vistas 
isoladamente, mas, sim, interagindo dentro do “sistema” (norma + outras normas + 
princípios). 
 
Nesse sentido, cabe ao operador do Direito a tarefa de descobrir a intenção do 
legislador e a eventual incidência e alcance do texto normativo ao caso concreto. 
 
Para alguns autores, a exemplo de EROS ROBERTO GRAU, a norma surge pelo 
confronto entre texto e caso concreto. Em razão disso, interpretar e aplicar o Direito 
são expressões sinônimas. A interpretação do direito não pode ser dissociada da 
sua aplicação, afirma que interpretar é “dar concreção (= concretizar) ao direito”, 
reconhecendo para tanto, como único intérprete, verdadeiramente, autêntico o Juiz, 
que é o responsável pela construção da norma decisão. 
 
Cabe, pois, a interpretação, para justificar um posicionamento adotado. O próprio 
EROS GRAU diz que o juiz, ao se deparar com o caso concreto, já toma uma 
decisão. Após, vai buscar no sistema jurídico, embasamento para justificar sua 
decisão. Em virtude disso, o mesmo caso, submetido a diversos juízes, não terá 
decisão uniforme. Eis a atividade interpretativa. 
 
EROS GRAU faz interessante metáfora em relação à interferência do pesquisador 
no objeto pesquisado: a metáfora da Vênus de Milo. A metáfora retrata a 
contratação de 03 artistas para produzirem cada um, uma estátua da Vênus de 
Milo. Como resultado, cada um produzirá uma estátua diferente, mesmo todos 
tendo o mesmo objeto. Não são três estátuas totalmente distintas umas da outras 
(afinal são todas “Vênus de Milo”), mas não são as mesmas estátuas. Esse 
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também é o resultado da interpretação, sendo distinta de acordo com o seu 
intérprete. 
 
A exegese é um momento muito rico, ímpar e necessário. Os casos não são 
idênticos, podem ser parecidos, mas nunca haverá um caso idêntico a outro. Por 
essa razão, EROS GRAU chegou a dizer, em 1997 (Simpósio Internacional de 
Semiótica do Direito realizado na Faculdade de Direito da USP), que a súmula 
vinculante seria um golpe, um estelionato, pois tolheria a atividade interpretativa do 
juiz. 
 
Logo, na opinião de referido autor, a interpretação é sinônimo de prudência 
(baseado nos ensinamentos de Aristóteles), daí falar-se em jurisprudência, 
sinônimo de decisões reiteradas dos Tribunais (Brasil) ou entende-la como 
sinônimo de Ciência do Direito (EUA e Europa). 
Diferenças: 
 
Hermenêutica – ciência que cuida da interpretação. 
Exegese – atividade prática, concreta, de interpretar o Direito. 
 
Importante: “Todo exegeta é um hermeneuta, mas nem todo hermeneuta é um 
exegeta” (MIGUEL REALE). 
 
Interpretação, portanto, é o processo lógico que procura estabelecer a vontade 
contida na norma jurídica. Por meio dela descobre-se O VERDADEIRO SENTIDO 
DA LEI. 
 
FUNÇÕES DA INTERPRETAÇÃO 
MARIA HELENA DINIZ menciona que as funções da interpretação são as 
seguintes: 
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43 
 
a) conferir a aplicabilidade da norma jurídica às relações sociais que lhe deram 
origem; 
b) estender o sentido da norma a relações novas, inéditas ao tempo de sua 
criação; 
c) temperar o alcance do preceito normativo, para fazê-lo corresponder às 
necessidades reais e atuais de caráter social, ou seja, aos seus fins sociais e aos 
valores que pretende garantir. 
 
IMPRESCINDIBILIDADE DA INTERPRETAÇÃO 
A interpretação sempre é necessária, logo, o brocardo in claris cessat interpretatio 
deve ser refutado, pois, para se chegar à conclusão de que uma norma é clara, 
necessário, pois, que se a tenha interpretado anteriormente. 
É preciso que se tenha em mente o seguinte: na lei não há palavras inúteis, tudo 
tem um sentido e não se pode admitir a chamada antinomia (contradição). 
 
 
Regras (ou técnicas) de interpretação 
Cumpre destacar que todas as regras (ou técnicas) de interpretação a seguir 
explicitadas não se operam isoladamente. Ao contrário, elas se completam. KARL 
ENGISCH recomenda que o cientista do Direito, na hermenêutica, utilize todos os 
métodos (ou regras) a seguir apontados. 
 
a) autêntica – HANS KELSEN utilizava essa denominação para designar a 
interpretação contida na própria norma jurídica (normas explicativas). Não é bem 
uma interpretação, é a própria norma, pois procede do próprio legislador, sob a 
forma de outra lei. KELSEN denominava as demais interpretações como 
“inautênticas”. Toda vez que uma lei é elaborada para interpretar outra lei, está 
presente a interpretação autêntica (a fonte é a mesma). Ex. art. 327 do CP, que 
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define o que é funcionário público; art. 150, §§ 4º e 5º, do CP, que definem o que é 
“casa”; 
 
b) judicial – é feita por juízes e tribunais, por meio de suas decisões. Essas 
decisões só têm força no próprio caso julgado. Mas quando o mesmo assunto é 
decidido de forma reiterada, uniforme, pelos tribunais, pode influir em casos 
semelhantes. Trata-se da jurisprudência (também chamada de costume 
judiciário). Não é obrigatória, exceto: súmulas vinculantes (103-A, CF) e nas 
decisões proferidas pelo STF em ADI e ADECON (art. 102, § 2º, CF). 
 
c) doutrinária – é a interpretação dos estudiosos do Direito, dos comentadores, 
dos juristas, dos autores de livros, artigos, teses etc. Orienta, influi decisões, 
especialmente quando a interpretação é defendida por grande número de juristas. 
Também não é obrigatória. 
 
d) gramatical – ocorre por meio da análise das palavras do texto normativo, de 
suas funções sintáticas e semânticas. Por meio dela o intérprete mantém o primeiro 
contato com o texto posto. Ex. art. 334, I, do CPC: fatos notórios independem de 
prova. O que é fato notório??? Por meio da interpretação gramatical, também, se 
corrigem erros de redação encontrados no texto normativo. Ex. CC/1916 
art. 6º São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, I), ou à maneira de os 
exercer: I - os maiores de 16 (dezesseis) e os menores de 21 (vinte e um) anos 
(arts. 154 a 156);” 
Ex. art. 421, CC/2002, onde consta erroneamente a expressão “liberdade de 
contratar”, quando, em verdade, deveria constar “liberdade contratual”. 
 
e) lógica – leva em consideração os instrumentos fornecidos pela lógica para a 
interpretação. Ex. artigo 235 do CP define o crime de BIGAMIA (BI = dois; isto é; 
casar duas vezes). E três, quatro,

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