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dEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

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FACULDADE ESTÁCIO DE SÃO LUÍS
CURSO DE DIREITO
DIREITO CIVIL I
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
ERRO OU IGNORÂNCIA 
O erro consiste em uma falsa representação da realidade. Procede com erro quando o agente, por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias, age de um modo que não seria a sua vontade se conhecesse a verdadeira situação. No erro, o agente engana-se sozinho. Quando é induzido em erro por outro contratante ou por terceiro, caracteriza-se o dolo. 
O Código equiparou os efeitos do erro à ignorância. Erro é a ideia falsa da realidade. É a falsa percepção positiva da realidade, quando o agente age em seu prejuízo. Ignorância é o completo desconhecimento da realidade. É um estado de espírito negativo de desconhecimento. Em ambos os casos o agente é levado a praticar o ato ou a realizar o negócio que não celebraria ou que praticaria em circunstâncias diversas se soubesse da verdade. 
Erro escusável é o erro justificável, desculpável, exatamente o contrário de erro grosseiro ou inescusável, de erro decorrente do não emprego da diligência ordinária. Para a doutrina, a escusabilidade do erro é irrelevante para efeito de invalidação do negócio, aplicando-se o princípio da confiança, pois a parte confiou na outra na celebração do negócio e se esta sabia do erro que a outra estava incorrendo, isso já é suficiente para invalidar o negócio (cognoscibilidade: conhecimento do erro pela outra parte). 
Nos termos do art.144 CC, o erro não invalidará o negócio se houver recomposição da situação de perda. Ex.: quando o banco erra e desconta algum dinheiro da conta do titular, e o titular da conta pedir o estorno e o banco aceitar, não haverá invalidade do negócio porque a outra parte se propôs a cumprir o negócio nos termos da vontade real do declarante. 
Espécies de Erro. 
Erro substancial: é o erro que incide sobre a essência (substância) do ato que se pratica, sem o qual este não se teria realizado. Recai sobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio e, por isso, é uma causa determinante, pois, se conhecida a realidade, o negócio não seria celebrado. É o caso do colecionador, pretendendo adquirir uma estátua de marfim, compra, por engano, uma peça feita de material sintético. 
Erro Acidental: é o erro que se opõe ao substancial, porque se refere a circunstâncias de menos importância e que não acarretam efetivo prejuízo, ou seja, a qualidades secundárias do objeto ou da pessoa. Se conhecida a realidade, mesmo assim o negócio seria realizado, embora de outra forma. 
Características do erro substancial 
O CC/02, no art.139, enumerou as seguintes hipóteses de erro substancial. O erro pode incidir sobre o negócio, sobre o objeto ou sobre a pessoa. 
a) Erro sobre a natureza do negócio (error in negotio). Art.139,I O erro que interessa à natureza do negócio é aquele em que uma das partes manifesta a sua vontade pretendendo e supondo celebrar determinado negócio jurídico e, na verdade, realiza outro diferente. Exemplo: Pessoa empresta caneta Montblanc para o amigo e ao acabar de escrever, o amigo acha que foi doação e leva a caneta consigo. 
b) Erro sobre o objeto principal da declaração (error in corpore) Art. 139, I É aquele que incide sobre a identidade do objeto. A manifestação de vontade recai sobre o objeto diverso daquele que o agente tinha em mente. Exemplo: Pessoa que adquire um quadro de um aprendiz, supondo tratar-se de tela de um pintor famoso. 
c) Erro sobre alguma das qualidades essenciais do objeto principal. (error in substantia ou erro in qualitate) Ocorre quando o motivo determinante do negócio é a imposição de que o objeto possui determinada qualidade que, posteriormente, se verifica inexistir. Neste caso, o erro não recai sobre a identidade do objeto, que é o mesmo que se encontrava no pensamento do agente. Todavia, não tem as qualidades que este reputava essenciais e que influíram em sua decisão de realizar o negócio. Exemplo: Pessoa que adquire candelabros prateados julgando serem de prata. 
d) Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se refere a declaração de vontade (error in persona) Refere-se aos negócios jurídicos intuitu personae. É o erro que se refere tanto à identidade quanto às qualidades da pessoa. Exige-se, no entanto, para ser invalidante, que tenha influído na declaração de vontade de modo relevante (art.139, II, segunda parte CC). Exemplo: Testador deixa doação à pessoa, achando ser seu filho, quando na verdade não é. 
e) Erro de direito (error juris) É o falso conhecimento, ignorância ou interpretação errônea da norma jurídica aplicável à situação concreta. Dá-se quando o agente emite a declaração de vontade no pressuposto falso de que procede segundo o preceito legal. O CC/02, em seu art.139, III admite o erro de direito como causa de invalidade do negócio jurídico e considerando-o como erro substancial quando, sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. O erro de direito justifica-se quando o declarante de boa-fé equivoca-se quanto ao âmbito de atuação permissiva da norma. Exemplo: pessoa que contrata a importação de determinada mercadoria ignorando existir lei que proíbe tal importação. Como tal ignorância foi a causa determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, sem pretender com isso que a lei seja descumprida. Assim, é um erro sobre a interpretação da norma. 
1.3. Erro substancial e vício redibitório 
O erro expressa uma equivocada representação da realidade, uma opinião não verdadeira a respeito do negócio, do seu objeto ou da pessoa. Esse defeito do negócio jurídico, portanto, vicia a própria vontade do agente, atuando no campo psíquico ou subjetivo. O vício redibitório é a garantia legal prevista para os contratos comutativos em geral (art.441 a 446 CC). Se o adquirente, por força de uma compra e venda, por exemplo, recebe a coisa com defeito oculto que lhe diminui o valor ou prejudica a sua utilização (vícios redibitórios), poderá rejeitá-la, redibindo o contrato ou se preferir, pode exigir o abatimento no preço. Note-se que o agente, ao adquirir a coisa, não incorreu em erro, uma vez que recebeu exatamente aquilo que pretendia comprar. Apenas a coisa transferida portava defeito oculto que lhe depreciava ou tornava imprópria a sua utilização. Exemplo: o indivíduo pretende comprar um relógio da marca X. Um vizinho lhe faz uma oferta, e então ele compra o produto desejado, sem que haja erro em sua manifestação de vontade. Alguns dias depois, entretanto, observa que o relógio não funciona bem, em virtude de um defeito oculto em sua máquina. Trata-se, no caso, de vício redibitório, que poderá ser solucionado através de duas ações judiciais: a ação redibitória, para desfazer o contrato e exigir o que se pagou, com perdas e danos se o alienante sabia do vício, ou ação “quanti minoris”, para se exigir o abatimento no preço. 
DOLO 
É o Erro Provocado, resultando na invalidade do negócio jurídico. É o artifício astucioso, empregado para induzir alguém à prática de um ato que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. Consiste em sugestões ou manobras maliciosamente levadas a efeito por uma parte, a fim de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito ou a terceiro. O dolo é ardiloso, a vítima é enganada. O dolo civil não se confunde com o dolo criminal, que é a intenção de praticar um ato que se sabe contrário à lei. No direito penal, diz-se doloso o crime quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Dolo civil, em sentido amplo, é todo artifício empregado para enganar alguém. 
Espécies de dolo. 
a) Dolo principal e dolo acidental. O art.145 CC trata do dolo principal, nestes termos: São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. Somente o dolo principal, como causa determinante da declaração de vontade, vicia o negócio jurídico. Configura-se quando o negócio é realizado somente porquehouve induzimento malicioso de uma das partes. Se não fosse o convencimento astucioso e a manobra insidiosa, o negócio não se teria realizado. O art.146 CC diz que há dolo acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. Diz respeito às condições do negócio. Este seria realizado independentemente da malícia empregada pela outra parte ou por terceiro, porém em condições favoráveis ao agente. Por essa razão, o dolo acidental não vicia o negócio e só obriga a satisfação das perdas e danos (art.146, primeira parte). Ele não prejudica a validade do negócio jurídico. Exemplo de dolo acidental: O sujeito declara que pretende adquirir um carro, escolhendo um automóvel com cor metálica, e, quando do recebimento da mercadoria, enganado pelo vendedor, verifica que a coloração é básica. Neste caso, não pretendendo desistir do negócio, poderá exigir a compensação por perdas e danos. Exemplo de dolo principal: suponhamos que ao sujeito somente interessasse comprar o veículo se fosse da cor metálica, hipótese em que este elemento faria parte da causa do negócio jurídico. Nesse caso, tendo sido enganado pelo vendedor para adquirir o automóvel, poder-se-ia anular o negócio jurídico com base em dolo. Para que o dolo constitua vício do consentimento é necessário: a) que haja intenção de induzir o declarante a realizar o negócio jurídico; b) que os artifícios fraudulentos sejam graves; c) sejam a causa determinante da declaração de vontade; d) procedam do outro contratante, ou sejam deste conhecido, se procedentes de terceiros. 
b) Dolus bônus e dolus malus. Dolus bônus é o dolo tolerável destituído de gravidade suficiente para viciar a manifestação de vontade. É comum no comércio em geral, onde é considerado normal, e até esperado, o fato de os comerciantes exageraram as qualidades das mercadorias que estão vendendo. Não torna anulável o negócio jurídico, porque de certa maneira as pessoas já contam com ele e não se deixa envolver, a menos que não tenham a diligência que se espera do homem médio. Este dolo é aceito juridicamente. É a aceitação social, utilizado com técnica de publicidade quando a empresa realça ou salienta as características do produto. Dolus malus é o revestido de gravidade, exercido com o propósito de ludibriar e de prejudicar. É essa modalidade que se divide em dolo principal e acidental. Pode consistir em atos, palavras e até mesmo no silêncio maldoso. Só o dolus malus, o grave, vicia o consentimento, acarretando a anulabilidade do negócio jurídico ou a obrigação de satisfazer as perdas e danos, conforme a intensidade da gravidade. 
c) Dolo Negativo ou Omissão Dolosa. O procedimento doloso pode revelar-se em manobras ou ações maliciosas e em comportamentos omissivos. Por isso, também é denominado de Omissão Dolosa. Consiste na quebra do princípio da boa fé, por descumprimento do dever anexo de informação, como se dá na omissão da informação essencial à celebração do negócio. O art.147 CC diz que Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. Traduz uma abstenção maliciosa juridicamente relevante. É o caso do silêncio intencional de uma das partes, levando a outra a celebrar negócio jurídico diverso do que pretendia realizar. Exemplo: Vende um aparelho de celular para outra pessoa sabendo que ele não funciona. Requisitos: a) intenção de levar o outro contratante a se desviar de sua real vontade, induzindo-o a erro; b) silêncio sobre circunstância desconhecida pela outra parte; c) relação de essencialidade entre a omissão dolosa intencional e a declaração de vontade; d) omissão do próprio contraente e não de terceiro. 
d) Dolo Bilateral É o dolo recíproco, quando as duas partes agem com dolo. Neste caso, ambas as partes têm culpa, uma vez que cada qual quis obter vantagem em prejuízo da outra. Dessa forma, nenhuma delas pode invocar o dolo da outra parte para anular o negócio ou reclamar indenização. Há uma compensação ou desprezo do Judiciário, porque ninguém pode valer-se da própria torpeza, não havendo boa fé a ser defendida. Não há compensação de dolo, mas a lei não anula o negócio, produzindo todos os efeitos. Está previsto no art. 150 CC: Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. 
e) Dolo de terceiro (art.148) Admite-se que o negócio jurídico seja anulado por dolo de terceiro. O art. 148 CC diz que Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. São duas situações: Se a parte sabia do dolo de terceiro ou se podia presumi-lo, o negócio poderá ser anulado. Se a parte a quem aproveita o dolo não sabia, nem tinha como saber do expediente astucioso, subsiste o negócio, embora o terceiro responda civilmente perante a parte ludibriada. O dolo de terceiro, portanto, somente ensejará a anulação do negócio se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento. Se o beneficiado pelo dolo de terceiro não adverte a outra parte, esta tacitamente aderindo ao expediente astucioso, tornando-se cúmplice. Isto é, o dolo do estranho vicia o negócio, se sendo principal, era conhecido de uma das partes, e esta não advertiu a outra, porque neste caso, aceitou a maquinação, dela se tornou cúmplice, e responde por sua má-fé. Exemplo: Se o adquirente é convencido, maldosamente, por um terceiro de que o relógio que está adquirindo é de ouro, sem que tal afirmação tenha sido feita pelo vendedor, e este ouve as palavras de induzimento utilizadas pelo terceiro e não alerta o comprador, o negócio torna-se anulável. Entretanto, se a parte a quem aproveita o dolo do terceiro (vendedor) não soube do dolo de terceiro, não se anula o negócio, mas o lesado poderá reclamar perdas e danos do autor do dolo. (do terceiro), pois este praticou um ato ilícito. 
f) Dolo do representante. Não há que se confundir o dolo de terceiro com o dolo do representante. O representante de uma das partes não pode ser considerado terceiro, pois age como se fosse o próprio representado. Diz o art.149 que O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Quando o representante legal (tutela ou curatela) atua no limite de seus poderes, considera-se o ato praticado pelo próprio representado. Assim, se o representante induz em erro a outra parte, constituindo-se o dolo por ele exercido na causa do negócio, este será anulável e o representado somente será obrigado a devolver a quantia recebida indevidamente apenas nos limites do proveito que teve. O restante será de responsabilidade do representante. Sendo o dolo acidental, o negócio subsistirá, ensejando o pagamento de perdas e danos. Quando o representante convencional (efetivada por meio de contrato de mandato) atua com dolo para favorecer o negócio celebrado em favor do representado, ambos, representante e representado, além de serem obrigados a devolver aquilo que indevidamente receberam, responderão solidariamente por perdas e danos, mas o representado poderá ingressar com perdas e danos contra o representante para ver-se ressarcido pelos prejuízos sofridos em razão da mentira contada pelo representante. É assim, porque no mandato o representado elege alguém, de sua confiança para agir em seu nome e na defesa de seus interesses. Portanto, se o representante agiu com dolo, significa que o representado agiu com culpa in eligendo, erro ao eleger seu representante. 
g) Dolo de aproveitamento. constitui o elemento subjetivo de outro defeito do negócio jurídico, que é a lesão. Configura-se quando alguémse aproveita da situação de premente necessidade ou da inexperiência do outro contratante para obter lucro exagerado, manifestamente desproporcional à natureza do negócio (art.157 CC). 
3. COAÇÃO
É toda ameaça ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para forçá-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio. Traduz violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar o negócio jurídico contra a sua vontade interna. Internamente não deseja praticar tal negócio, mas devido à coação (pressão sofrida), pratica-o. É a Coação Moral. É diferente da violência física ou coação física, também chamada de coação absoluta, em que é causa de inexistência do negócio jurídico por falar manifestação de vontade. É o coator que manifesta a vontade pelo coagido. Ex.: colocação da impressão digital do analfabeto no contrato, agarrando-se à força o seu braço. Por inexistir nesse caso qualquer manifestação de vontade, o negócio não existe. A coação que constitui vício da vontade e torna anulável o negócio jurídico é a coação moral, sendo causa de invalidade do negócio jurídico, porque há manifestação de vontade, mas esta é viciada. (art.171,II CC). Nesta, deixa-se uma opção ou escolha para a vítima: praticar o ato exigido pelo coator ou correr o risco de sofrer as consequências da ameaça por ele feita. Trata-se portanto, de uma coação psicológica. Ex.: quando o assaltante ameaça a vítima, apontando-lhe a arma e propondo-lhe a alternativa (contrato de doação): “me dá a bolsa ou morre!” 
3.1. Requisitos da coação 
Não é qualquer coação que invalida o negócio jurídico. Primeiro, a coação deve ser relativa ou psicológica. Depois, de acordo com o art.151 CC A coação, para viciar a declaração de vontade, há de ser tal que incuta ao paciente temor de dano iminente e considerável á sua pessoa, à família, ou aos seus bens. §único: Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Verifica-se que nem toda ameaça configura a coação, vício do consentimento. Para que tal ocorra é necessário reunirem-se os requisitos estabelecidos no art.151 CC: 
a) Deve a causa ser determinante do ato. Deve haver uma relação de causalidade entre a coação e o ato extorquido, ou seja, o negócio deve ter sido realizado somente por ter havido grave ameaça ou violência, que provocou na vítima fundado receio de dano à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens. Sem ele, o negócio não se teria celebrado. Se alguém, porém, foi vítima de coação, mas deu seu consentimento independente da ameaça, não se configura o aludido defeito do negócio jurídico. É possível que sua concordância tenha coincidido com a violência, sem que esta gerasse temor. Incumbe à parte que pretende a anulação do negócio jurídico o ônus de provar o nexo de causa e efeito entre a violência e a anuência. 
b) Deve ser grave. A coação, para viciar a manifestação de vontade, deve possuir uma intensidade que provoque na vítima um fundado temor de dano a bem que considera relevante. Esse dano pode ser moral ou patrimonial. Por essa razão, determina o art.152 CC que No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. Cabe analisar, no caso concreto, se a ameaça foi suficiente para amedrontar o indivíduo contra quem foi dirigida, não considerando o homem médio. Ex.: um ato incapaz de abalar um homem pode ser suficiente para atemorizar uma mulher, como a ameaça incapaz de perturbar pessoa jovem e sadia pode afetar profundamente pessoa doente e idosa. 
Coação X Simples temor reverencial 
Diz o art.153 CC que Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. Não se reveste de gravidade suficiente para anular o negócio o receio de desgostar os pais ou outras pessoas a quem deve obediência e respeito, como os superiores hierárquicos. O respeito pela autoridade paterna ou eclesiástica não deve ser, em princípio, justificativa para se anular o ato praticado. Entretanto, se esta força moral se fizer acompanhar de ameaça ou intimidação, o vício poderá se configurar. Ex.: Pai ameaça em bater no filho se ele não lhe obedecer. 
c) Deve ser injusta. A expressão injusta deve ser entendida como ilícita, contrária ao direito ou abusiva. A primeira parte do art.153 CC diz que Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito... Assim, não constitui coação a ameaça feita pelo locador ao inquilino de que se não pagar os aluguéis, recorrerá à justiça; ou o pedido de abertura de inquérito policial; a intimidação feita pela mulher a um homem de propor contra ele ação de investigação de paternidade. Em todos esses exemplos, o agente procede de acordo com o seu direito. 
d) Deve dizer respeito a dano atual ou iminente. A ameaça de um mal impossível, remoto ou evitável, não constitui coação capaz de viciar o negócio. Viciará a coação que está prestes a consumar. O mal é iminente sempre que a vítima não tenha meios para furtar-se ao dano, quer com os próprios recursos, quer mediante auxílio de outrem, ou da autoridade pública. A existência de dilatado intervalo entre a ameaça e o desfecho do ato extorquido permite à vítima ilidir-lhe os efeitos, socorrendo-se de outras pessoas. 
e) Deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoas de sua família. A intimidação à pessoa pode ocorrer de diversas maneiras, como sofrimentos físicos, cárcere privado, tortura, etc. Pode configurar coação também a ameaça de provocação de dano patrimonial, como incêndio, depredação, greve etc. Pode o lesado sentir-se intimado, ainda, com ameaça de dano a pessoa de sua família. Ainda, pode também ser coagido quando a ameaça dirigir a pessoa que não pertence a sua família, mas sobre pessoa que tenha laços muito próximos da vítima, de acordo com o art.151, §único CC. 
3.2 – Coação exercida por terceiro. 
Está prevista nos arts. 154 e 155 do CC. Na coação de terceiro, nos termos do art.154, se o beneficiário soubesse ou tivesse como saber da coação, o negócio será anulável, respondendo o beneficiário SOLIDARIAMENTE com o coator. Esta previsão de solidariedade não houve no dolo de terceiro. Mas, se o beneficiário não souber e nem tiver como saber da coação, responderá apenas o coator pelas perdas e danos, mantendo-se o negócio jurídico. 
LESÃO
Lesão Prevista no art.157 CC. Tem relação com o ABUSO DO PODER ECONÔMICO. A lesão corresponde à prática da usura. No Brasil, a lei 1.521/51, lei penal de usura, foi a primeira lei que cuidou da matéria. Em matéria civil, no âmbito privado, o CDC foi a primeira lei que a regulamentou. Conceito: É o prejuízo resultante da enorme desproporção existente entre as prestações de um contrato, no momento de sua celebração, determinada pela preemente necessidade ou inexperiência de uma das partes. O CC não se contenta com qualquer desproporção, enunciando que esta deve ser expressa. Dessa forma, verifica-se a Lesão na Desproporção existente entre as prestações do negócio, em virtude do abuso da necessidade ou inexperiência de uma das partes. A necessidade ou inexperiência econômica de uma partes leva à parte hipossuficiente celebrar o negócio viciado. Insere-se dentre os vícios do negócios jurídicos, muito embora não seja propriamente hipótese de desconformidade entre a vontade real, interna e a vontade declarada. De fundo moral, visa ajustar o contrato a seus devidos termos, eliminando-se a distorção provocada pelo aproveitamento da necessidade ou da inexperiência alheia. 
4.1 – Características da Lesão. 
A lesão não se confunde com os demais vícios do consentimento. No erro o agente manifesta a sua vontade ignorando a realidade ou tendo dela uma falsa ideia. Se a conhecesse ou dela tivesse ideia verdadeira, não faria o negócio. Na lesão, tal não ocorre, visto que a parte tem noção da desproporção de valores. Realiza o negócio, mesmo assim, em virtude da necessidadepatrimonial. No dolo o agente é induzido ao erro, mediante emprego de meio astucioso. Na lesão, o agente aproveita-se de uma situação especial, como de necessidade ou inexperiência, não havendo necessidade de que a contraparte induza a vítima à prática do ato. Na coação a vítima não age livremente. A vontade é imposta por alguém, mediante grave ameaça de dano atual ou iminente. Na lesão, ela decide por si, pressionada apenas por circunstâncias especiais, provenientes da necessidade ou da inexperiência. A lesão também se distingue do estado de perigo, em que a vítima corre risco de vida, ou alguém de sua família, e não havendo dano patrimonial, sendo essencial o conhecimento do perigo pela contraparte. A lesão destaca-se dos demais defeitos do negócio jurídico por acarretar uma ruptura do equilíbrio contratual na fase de formação do negócio, desde o seu nascimento. E da onerosidade excessiva ou cláusula rebus sic standibus por caracterizar-se esta pelo surgimento de fatos supervenientes à celebração do negócio, possibilitando a invocação da Teoria da Imprevisão para embasar a Revisão Contratual, somente nos contratos de execução diferida e nos de trato sucessivo. 
a– Requisitos da Lesão 
Conceitualmente, a lesão, vício invalidante do negócio jurídico, caracterizase pela desproporção existente entre as prestações do negócio, em virtude do abuso, da necessidade ou da inexperiência de uma das partes. O negócio jurídico já nasce viciado, já nasce desproporcional. Deste conceito destacam-se 02 elementos: 
a) Elemento material ou objetivo. É a desproporção entre as prestações pactuadas, geradoras de lucro exagerado. Segundo o CC, caberá ao juiz, diante do caso concreto, averiguar essa desproporção, examinando a existência de acentuado desnível entre as prestações devidas pelos contratantes. O momento para verificação da lesão é o da celebração do negócio, pois o contrato é prejudicial e lesivo no seu nascimento. 
b) Elemento imaterial ou subjetivo. É a necessidade do agente em celebrar o negócio ou inexperiência de uma das partes. Tradicionalmente, a doutrina exigia também, como elemento subjetivo, o DOLO DE APROVEITAMENTO, significando a prova de que a outra parte quis agir com dolo, isto é, intenção de lesionar a parte contrária. Hoje, o CC/02 no art.157 não exige mais este requisito. 
4.3. – Efeitos 
De acordo com o art.157, §2º CC, o lesionado poderá optar pela anulação do contrato ou pela revisão, formulando pedido alternativo: a anulação do negócio ou a complementação do preço, recompondo o patrimônio do lesionado.
ESTADO DE PERIGO
O estado de perigo, equiparando-se ao estado de necessidade, ocorre quando, em virtude de uma situação grave de perigo iminente e conhecido pela outra parte, que incidirá sobre a pessoa ou a alguém de sua família, esta assume obrigação excessivamente onerosa com intuito de evitá-la.
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
O Código Civil determina a anulabilidade do negócio jurídico quando incidente o estado de perigo, por entender o legislador que nesta hipótese a vítima não se encontra em condição psicológica de declarar livremente a sua vontade.
Caso o estado de perigo recaia sobre pessoa não pertencente à família ainda pode ser o negócio jurídico anulado, sendo necessário o crivo do magistrado.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante o juiz decidirá segundo as circunstâncias.
FRAUDE CONTRA CREDORES
A fraude contra credores não é considerada um vício do consentimento, pois nestes as partes realizam um negócio jurídico que na realidade não repercute a sua real vontade.
Na fraude contra credores, as partes realizam um negócio jurídico expressando a sua real vontade, mas esta é com o objetivo de prejudicar terceiros, ou seja, os credores, por isso é que a Fraude contra Credores é considerada um Vício Social.
Configura-se a fraude contra credores quando o devedor insolvente ou que em virtude dos negócios jurídicos de transmissão de bens ficar insolvente, pois esses negócios jurídicos ferem o princípio da responsabilidade patrimonial.
Caso o patrimônio seja suficiente com folga para saldar dívidas, ou seja, o devedor seja solvente, ele pode dispor livremente do seu patrimônio.
Hipóteses Legais
Tanto nas transmissões onerosas como nas gratuitas pode ocorrer a fraude contra credores.
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.
§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente,quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
Há fraude, também, quando um credor quirografário (É o credor que não possui direito real de garantia,seus créditos estão representados por títulos advindos das relações obrigacionais. Ex: os cheques, as duplicatas, as promissórias) de dívida não vencida recebe do devedor insolvente; ficará o credor obrigado a repor ao acervo o que recebeu, pois a intenção da lei é colocar todos os credores em pé de igualdade. Caso a dívida já estiver vencida o pagamento é considerado normal.
Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
A fraude também existe quando o devedor insolvente dá garantia de dívida (hipoteca, penhor, anticrese) privilegiando algum credor. Não se invalida o negócio nessa hipótese, apenas a garantia.
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
(...)
Art. 165.	
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.
Contudo serão considerados de boa-fé os negócios ordinários praticados pelo devedor insolvente – por exemplo, um comerciante insolvente pode vender mercadorias de sua loja, estando vedado a vender o estabelecimento comercial.
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.
Caso o adquirente não tenha pagado pelos bens que o devedor insolvente o vendeu, o negócio jurídico poderá ser válido se depositar o real valor da coisa em juízo e solicitar a citação de todos os interessados.
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
Ação Anulatória ou Pauliana
O Código Civil determina que em caso de fraude contra credores pode-se pleitear a anulação dos negócios jurídicos mediante a ação revocatória ou pauliana, devendo obedecer os seguintes requisitos:
• Ser o crédito do autor anterior ao ato fraudulento;
• Que o ato que se pretenda revogar tenha causado prejuízos;
• Que haja a intenção de fraudar, presumida pela consciência do estado de insolvência;
• Prova da insolvência;
O principal objetivo da ação pauliana é revogar os negócios jurídicos lesivos aos interesses dos credores, por isso pode ser proposta pelos interessadoscontra o devedor insolvente, contra a pessoa com que ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta ou adquirentes de má fé, retornando os bens ao patrimônio do devedor, para que possam satisfazer os débitos contraídos.
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.
(...)
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.

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