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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I AULA 01 – JURISDIÇÃO, COMPETÊNCIA E ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO Antes de falarmos de competência internacional e nacional, urge relembrarmos o conceito de jurisdição. “Exercendo a jurisdição, o Estado substitui, com uma atividade sua, as atividades daqueles que estão no conflito trazido a apreciação. Não cumpre a nenhuma das partes interessadas dizer definitivamente se a razão está com ela própria ou com a outra; nem pode, senão excepcionalmente, quem tem uma pretensão invadir a esfera jurídica alheia para satisfazer-se”1. A jurisdição é exercida em todo o território nacional, e por apenas uma questão de conveniência, especializam-se setores da função jurisdicional. Assim, a jurisdição é UNA, uma vez que manifestação do poder estatal. Contudo, visando facilitar sua administração e proximidade ao jurisdicionado, será exercida por vários órgãos jurisdicionais distintos. Dessa especialização/divisão surge a necessidade de estabelecer critérios para efetuar mencionada divisão entre os vários órgãos que exercerão a jurisdição, critérios estes que resultam na competência. Monopólio estatal. É um PODER-DEVER de prestar a tutela jurisdicional a todo cidadão; CONCEITO DE COMPETÊNCIA Assim, competência nada mais é do que a fixação das atribuições de cada um dos órgãos jurisdicionais, isto é, a demarcação dos limites dentro dos quais podem eles exercer a jurisdição. 1 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. GRINOVER, Ada Pellegrini. DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 132. DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Daí muitos denominam a competência como a medida da jurisdição. Neste sentido, “juiz competente” é aquele que, segundo limites fixados pela Lei, tem o poder para decidir determinado litígio. A distribuição da competência faz-se por meio de normas constitucionais (precipuamente/ modelo constitucional de processo civil2), inclusive constituições estaduais, legais, regimentais (distribuição interna da competência nos tribunais, realizada através de seus regimentos internos) e até mesmo negociais (no caso do foro de eleição). Sobre o assunto, impende observarmos o art. 44 do CPC/2015: Art. 44. Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Federal, a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados. Vejamos o que diz o Código de Processo Civil/2015: Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei3. Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas 2 Expressão que designa o conjunto de princípios constitucionais destinados a disciplinar o processo (tanto o civil quanto os demais processos) que se desenvolve no Brasil. Princípios: devido processo legal; isonomia; juiz natural; inafastabilidade da jurisdição; contraditório; motivação das decisões judiciais e duração razoável do processo. 3 LEI Nº 9.307, DE 23 DE SETEMBRO DE 1996 - Lei que regula a arbitragem no Brasil. DIREITO PROCESSUAL CIVIL I posteriormente4, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta5. (Perpetuação da jurisdição)6 Art. 44. Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Federal, a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados. Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações: I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho; II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho. § 1o Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo perante o qual foi proposta a ação. § 2o Na hipótese do § 1o, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da incompetência para apreciar qualquer deles, não examinará o mérito daquele em que exista interesse da União, de suas entidades autárquicas ou de suas empresas públicas. § 3o O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for excluído do processo. 4 Modificação de estado de fato (mudança de domicílio do réu); Modificação de estado de direito (ampliação do teto de competência do órgão em razão do valor da causa) 5 Por exemplo: a) EC 45/2004 – competências da Justiça do Trabalho; b) do desmembramento de uma Comarca, o imóvel objeto da demanda ficar situado na área da nova Comarca. 6 Em 2012 o STJ decidiu que “nos processos que envolvam menores, as medidas devem ser tomadas no interesse desses, o qual deve prevalecer diante de quaisquer outras questões” (2ª Seção Conflito de Competência n.º 114.782/RS, rel. Ministra Nancy Andrighi, j. em 12.12.2012). DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Competência por distribuição: Nas comarcas em que houver mais de um juiz competente para processar e julgar uma demanda, deverá ocorrer a distribuição entre aqueles, de modo alternado e aleatório. Art. 284. Todos os processos estão sujeitos a registro, devendo ser distribuídos onde houver mais de um juiz. Art. 285. A distribuição, que poderá ser eletrônica, será alternada e aleatória, obedecendo-se rigorosa igualdade. Parágrafo único. A lista de distribuição deverá ser publicada no Diário de Justiça. Mencionada distribuição serve para concretizar a competência onde há mais de um juiz competente, e fazer valer o princípio do juiz natural7. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) – Dec. n. 678/92, em seu art. 8º, n. 1 em que: “Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza”. De igual modo dispõe a nossa Carta Magna, em seu art. 93, inciso XV. Vejamos: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: 7 Aquele a quem compete, previamente, processar e julgar determinada causa, seja em razão da matéria, do valor, do lugar ou da pessoa. DIREITO PROCESSUAL CIVIL I (...) XV a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) A ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO Assim, a Constituição Federal trata da matéria ao distribuir a competência, em todo território nacional, Previsão legal: arts. 92 a 126 da CF/1988. A Constituição Federal trata da matéria ao distribuir a competência, em todo território nacional, do PODER JUDICIÁRIO FEDERAL, e por consequência, do PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO.- STF – Supremo Tribunal Federal - STJ – Superior Tribunal de Justiça - Justiças Federais Especializadas: Justiças Trabalhista Eleitoral Militar - Federal Comum. Daí emerge a competência residual da Justiça Estadual. Vejamos: Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; DIREITO PROCESSUAL CIVIL I VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Logo, podemos afirmar que o Poder Judiciário Brasileiro é dividido em 5 ramos distintos: Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho, Justiça Penal Militar (Justiças Especializadas da União) e a Justiça Federal e Justiça Estadual (Justiça Comum). O Poder Judiciário Brasileiro esta estruturado da seguinte forma: O STF e os Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) tem sede na Capital Federal Brasileira (Brasília), e exercem jurisdição sobre todo o território nacional, conforme vislumbramos no art. 92, § 2º, da CF/88. DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Estes são considerados ÓRGÃOS ou CENTROS DE CONVERGÊNCIA, uma vez que cada uma destas JUSTIÇAS ESPECIALIZADAS DA UNIÃO “tem por cúpula seu próprio Tribunal Superior, que é responsável pela última decisão nas causas de competência dessa Justiça – ressalvado o controle de constitucionalidade, que sempre cabe ao Supremo Tribunal Federal. Quanto as causas processadas na JUSTIÇA FEDERAL ou nas locais, em matéria infraconstitucional a convergência conduz ao Superior Tribunal de Justiça, que é um dos Tribunais Superiores da União embora não integre Justiça alguma; em matéria constitucional, convergem diretamente ao Supremo Tribunal Federal. Todos os Tribunais Superiores convergem unicamente ao Supremo Tribunal Federal, como órgão máximo da Justiça brasileira e responsável final pelo controle de constitucionalidade de leis, atos normativos e decisões judiciárias”8. Temos ainda, órgãos que além da convergência, são considerados ainda como órgãos de SUPERPOSIÇÃO (STF e STJ). Estes, apesar de não fazerem parte de nenhuma Justiça, suas decisões se sobreporão às decisões proferidas/ prolatadas pelos órgãos inferiores. No caso do STJ, da Justiça Comum Federal e dos Estados e Distrito Federal e Territórios. No caso do STF, suas decisões se sobrepõem a todas as Justiças e Tribunais. Ainda dentro da Justiça Comum Federal e Estaduais, temos a existência dos JUIZADOS ESPECIAIS (Cíveis, Criminais e da Fazenda Pública). Como visto, o segundo grau de jurisdição é exercida pelas Turmas Recursais, compostas por 03 juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição. Curiosidade: Atualmente, o Poder Judiciário do Ceará conta com 4 Turmas Recursais. Juizados Especiais Estaduais (Lei 9.099/95 – até 40 S. M.); Juizados Especiais Federais (Lei 10.259/2001 – até 60 S.M.); Juizados da Fazenda Pública (Lei 12.153/2009 – até 60 S.M.) – no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios. 8 C. R. DINAMARCO, Instituições de direito processual civil, v.1, p. 368. DIREITO PROCESSUAL CIVIL I NA PRÁTICA IDENTIFICAÇÃO: Justiça Competente > Foro Competente (territorial) > juízo competente (vara) Importante aqui frisarmos que não existe vácuo de competência. Tal situação poderá, num primeiro momento, aparentar existir. Contudo, jamais poderia haver na função estatal da jurisdição mencionado vácuo, deixando o jurisdicionado sem resposta. Do contrário, situações ocorrerão de competências implícitas, como no caso dos Embargos de Declaração das decisões proferidas pelo STF e STJ, em que não há previsão constitucional. Apesar disso, é inegável que a atribuição de competência para julgar determinadas causas embute, implicitamente, a competência para julgar mencionado recurso. Porém, quando estará o Estado habilitado para exercer essa jurisdição? a) Sempre e em quaisquer circunstâncias? b) Nos limites do seu território? c) Quando estiver envolvido um cidadão seu independentemente de sua localização geográfica?
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