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Prof. Vinicius Lemos Capítulo 4 Procedimentos Especiais Como exposto no anteriormente, o processo, diante de sua procedimentalidade, pode ter diferentes formas, o natural e comum ou, ainda, de maneira especial, em casos em que se enseje, pela pertinência natural daquela causa, um objeto que juridicamente é diferente. Já, o procedimento, objeto de estudo neste capítulo, nestas hipóteses, será diferente do comum, com peculiaridades inerentes a cada objeto que se almeja nesta prestação jurisdicional, encaixando o rito para o melhor alcance judicial para aquela situação processual. 1. Ação de consignação em pagamento Por meio dessa ação, mediante um procedimento específico e especial, pode o devedor, mediante o art. 539, “requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.” O objeto dessa demanda será a discussão sobre o valor devido da dívida, levando em consideração a divergência de valores ou a recusa ao recebimento. É um modo de possibilitar que o devedor realize o pagamento, seja no prazo devido ou no valor devido. <destaque> O intuito desta espécie de demanda é o devedor realizar o pagamento – judicia ou extrajudicial – da maneira que entende, para, a partir disso, cessar qualquer juros e encargos, já que teria realizado o pagamento. <fecha> Prof. Vinicius Lemos 1.1 As espécies de consignação em pagamento Temos duas espécies regulamentadas pelo CPC/2015 sobre a consignação: a de maneira extrajudicial e a judicial. 1.1.1 A extrajudicial Se o devedor, em algumas possibilidades, quiser realizar a consignação como forma de pagamento, pode fazê-la de maneira extrajudicial, sem, ainda, importar em uma demanda do devedor contra o credor. De acordo com Daniel Amorim Assumpção Neves, são requisitos da consignação extrajudicial: (a) a prestação deve ser pecuniária – consignação de dinheiro (art. 539, § 1.º, do Novo CPC) –, até mesmo porque o devedor se valerá de instituição financeira; (b) existência no local do pagamento (sede da comarca) de estabelecimento bancário oficial ou particular, preferindo-se o primeiro quando existirem ambos 580; (c) conhecimento do endereço do credor, em razão da necessidade de tal informação para que se realize a notificação; (d) credor conhecido, certo, capaz e solvente, o que afasta a consignação nos casos de (i) não se conhecer o credor (dúvida sobre a identidade física); (ii) dúvida a respeito de quem é o credor (dúvida sobre a condição jurídica); (iii) devedor incapaz, que não pode validamente receber ou dar quitação; (iv) credor insolvente ou falido, hipóteses nas quais o crédito deve ser destinado às respectivas massas; (v) existência de demanda judicial que tenha como objeto a prestação devida. (NEVES, 2016, p. 1.191) Uma vez presentes os requisitos legais acima dispostos, mediante a vontade do devedor, se for obrigação em dinheiro, conforme trata o § 1º do art. 539, realiza-se o depósito em instituição bancária, a qual deve ser situada no mesmo lugar de pagamento da obrigação. Após, o devedor cientifica o credor por carta via AR, para que o mesmo tome ciência, tendo esse duas possibilidades dentro do prazo de 10 dias: recusar-se a receber ou receber a quantia ali depositada. Sem nenhuma manifestação, acredita-se que o credor aceitou o pagamento, sendo esse considerado como a quitação daquela obrigação ou parcela. É notório, então, Prof. Vinicius Lemos observarmos que o silêncio do credor, nesse caso, é interpretado como aceite. O valor ficará à disposição do credor para saque/levantamento. A recusa deve ser por escrito, de maneira expressa, ao estabelecimento bancário, com a visualização de que não houve aceite e, tampouco, pagamento quitado, neste momento. O devedor tem, a partir da recusa, o prazo de um mês para proceder a judicialização dessa consignação em pagamento. No caso de ultrapassar o prazo sem intentar a devida demanda, pode levantar o valor na instituição bancária e não será visualizada como pagamento. 1.1.2 A judicial Apesar do CPC, o de 2015 e o anterior, preverem a consignação judicial como consequente à extrajudicial, o normal, processualmente falando, é intentar diretamente com o processo para tal desiderato, o que torna, para o devedor, uma faculdade a tentativa extrajudicial, nunca um requisito. A petição inicial, além dos requisitos normais do art. 319, tem que constar o requerimento para realizar-se o depósito (em caso de demanda sem a prévia forma extrajudicial) ou a informação de que já há depósito e, ainda, a citação deve ser requerida para levantar o depósito ou contestar. <exclamação> Sem o depósito judicial realizado ou comprovado nos autos, no prazo estabelecido, o processo deve ser extinto. <fecha> Realizado o depósito e com a citação, o réu tem a opção do aceite, o qual também gera a extinção, com a obrigação pela qual originou-se a consignação como adimplida. Em caso diverso, há a possibilidade de oferecimento da contestação, nos moldes do art. 544, com a possibilidade de alegar, além das matérias preliminares do art. 337: Prof. Vinicius Lemos I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; II - foi justa a recusa; III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não é integral. Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o réu indicar o montante que entende devido. Se a alegação for pela insuficiência, percebe-se que o réu aceitou o pagamento daquela quantia, somente entende ser maior – com a necessidade de indicação do quantum, o que permite o levantamento dessa parte incontroversa, com a matéria e consequências somente sobre o quantum controvertido. Com a sentença imputando razão ao réu pela insuficiência, com a possibilidade de complementação pelo autor, logo após o trânsito em julgado e a liquidação, se for o caso. Todavia, há de se imaginar que autor, quando o réu alegar na contestação a insuficiência, pode complementar o valor para chegar até aquele que considerado pelo réu como correto. Com ou sem a instrução, mediante o que se alegou na contestação, o juízo proferirá sentença, podendo ser julgada procedente ou improcedente. No caso dessa última, o juízo determina o valor correto e as consequências do inadimplemento ou, ainda, até onde se contará como inadimplemento, bem como a condenação nas custas e honorários advocatícios. De outro modo, se for julgada procedente, o juízo declara a extinção e a condenação em custas e honorários, bem como a quitação da obrigação. 1.2 Competência O art. 540 estabelece que o lugar do pagamento deve ser o norte para se pleitear a consignação, levando-se a entender que a competência judicial funciona de igual maneira, com a ação devendo ser intentada no mesmo lugar do pagamento. Contudo, o disposto não fala em demanda e sim da consignação, o que nos leva entender que deve ser realizada no local de pagamento aquela que é judicial ou extrajudicial, sendo uma regra além até da competência. Essa parte é importante, pelo fato de que o local do pagamento, mesmo que extrajudicial, pode gerar despesas para o recebimento, motivo pelo qual pode levar o Prof. Vinicius Lemos credor a recusar o pagamento, apesar de outros requisitos estarem presentes. E, se for uma demanda judicial, pode ser alegada a incompetência. 1.3 Legitimidade A legitimidade ativa para a consignação está no art. 539, quando estipula que será realizada pelo devedor ou por um terceiro, os quais podem ser especificados como: (a) no caso de terceiro juridicamenteinteressado ocorrerá sub-rogação, de forma que esse terceiro, extinta a obrigação por consignação, assume os direitos e ações do credor satisfeito frente ao devedor; (b) no caso de terceiro não interessado, não ocorre sub-rogação, sendo entendida a consignação como mera liberalidade deste em favor do devedor.. (NEVES, 2016, p. 1.165) Já a legitimidade passiva é o credor, sem motivo para ser outrem, contudo, se houver dúvida sobre a figura do credor, pode ser realizado o pagamento e a citação de todos os possíveis credores. Neste caso, se nenhum comparecer, a quitação será realizada e será arrecadado como coisa vaga; se, no prazo devido, somente um comparecer, o juízo decide de plano a seu favor; no caso de comparecimento múltiplo, o juízo declara a extinção do processo – se for o caso de pagamento correto – somente continuando entre os possíveis credores para a comprovação de quem deva receber. 1.1.4 A consignação de coisa indeterminada Caso o que se almeja consignar não for dinheiro e sim uma coisa indeterminada, com a escolha pertinente ao credor, a citação será para conceder-lhe o prazo de 5 dias para manifestar-se sobre qual o objeto sobre o qual exerce a escolha. De todo modo, o credor pode optar pela escolha ser a critério do devedor. 2. Ação de exigir contas A ação de exigir contas persiste na possibilidade judicial daquele que entende ser titular do direito de exigir contas de outrem. O intuito passa pela necessidade do autor Prof. Vinicius Lemos em saber se quem deve prestar contas o faz corretamente ou se tem alguma divergência ou saldo. Esta ação tem uma natureza inicial de obrigação de fazer, com a discussão se há ou não obrigação de prestar contas e, após esta fase da obrigação de fazer, se houver a apresentação das contas, passa-se à análise dessa prestação, se está correta ou não, com eventual saldo a ser cobrado, tornando, se for o caso, a ação em um aspecto condenatório. Para que se possa pleitear a apresentação das contas é necessária a comprovação de uma relação jurídica entre as partes, com uma complexidade material para se chegar aos valores a serem analisados. 2.1 Legitimidade Quem tem legitimidade para exigir as contas, nos moldes do art. 550, é aquele que teve administração de outrem em relação a contrato, bens, valores ou qualquer outro negócio jurídico. Há a necessidade, por parte do autor, de comprovar que o réu deve, juridicamente, prestar-lhe contas. Em modo inverso, deve prestá-las e, consequentemente, ser réu nesta espécie de demanda, deve ser aquele que administra algo que o autor tem o direito de saber sobre essas contas. Com isso, há a relação entre o autor e o réu sobre a prestação das contas 2.2 Procedimento Com o autor intentando a petição inicial, com o despacho inicial, há a posterior citação para, no prazo legal, contestar. Contudo, mesmo seguindo os parâmetros normais da petição inicial, o autor deve cumular, além da exigência de prestar contas, a condenação no pagamento do saldo devedor, se houver esse, após apuração. Imputa- se, também, ao autor, a necessidade de comprovar a relação que impõe o direito a exigência de contas. Prof. Vinicius Lemos A diferença dessa espécie de demanda das demais, o que a caracteriza a especialidade está na divisão dessa em duas fases, a primeira na discussão sobre a existência ou não da obrigação de fazer de prestar as contas. Em um segundo momento, com a decisão parcial de mérito1 sobre obrigação de fazer, para, após, se houver a prestação das contas, iniciar-se um procedimento em busca da apuração da validade e teor da prestação, com a apuração sobre a existência ou não de saldo, com uma sentença final, essa pode ser condenatória. Dessa maneira, quando o réu é citado, a inicial já fala sobre todas as fases, possibilitando uma série de medidas processuais pelo autor, como: a) Apresentar as contas e não contestar – a mera apresentação das contas pelo réu nos termos do art. 551 do Novo CPC (forma adequada – com especificação das receitas, da aplicação das despesas e dos investimentos, se houver – instruída com os documentos justificativos) é um verdadeiro reconhecimento jurídico do pedido condenatório à prestação das contas (primeira fase). Prestadas as contas voluntariamente pelo réu após a sua citação, o autor será intimado para se manifestar sobre elas no prazo de 15 dias, sendo certo que nesse caso já se terá passado para a segunda fase do processo. Estará, portanto, superada a primeira fase procedimental sem a necessidade de prolação de sentença. Segundo o art. 550, § 2.º, do Novo CPC, sendo necessário o juiz designará audiência de instrução e em caso contrário proferirá sentença; na realidade, sendo necessária qualquer espécie de prova, mesmo que não produzida em audiência, como ocorre com a perícia, caberá ao juiz determinar a sua produção antes de sentenciar a demanda. De qualquer forma, é inegável que essa sentença mencionada no dispositivo legal ora analisado diz respeito ao eventual saldo devedor (segunda fase). b) Apresentar as contas e contestar – apesar de não ser essa espécie de reação prevista expressamente no art. 550, caput, do Novo CPC, não existe dúvida de que, havendo divergência não quanto ao dever de prestar contas, mas com relação ao seu conteúdo, é lícito ao réu apresentar as contas nos termos do art. 551 do Novo CPC, com o que reconhece juridicamente seu dever em prestá-la, e apresentar contestação para impugnar eventual divergência referente ao conteúdo das contas. c) Contestar e não apresentar as contas – caso não concorde com o alegado dever de prestar as contas suscitado pelo autor, caberá ao réu apresentar contestação alegando a inexistência desse dever e pedir a rejeição do pedido 1Daniel Amorim Assumpção Neves entende que a primeira decisão seria uma sentença, a qual determina ou não a prestação de contas, contudo há enunciado em sentido contrário, o qual concordo. “Cada fase será decidida por uma sentença, o que torna essa demanda de conhecimento singular, pois o mérito será necessariamente decidido em dois momentos distintos. São duas as sentenças, mas a petição inicial é uma só, daí a necessidade de se fazer a cumulação de pedidos já referida (cumulação sucessiva).” (NEVES, 2016, p.1.180). Enunciado n.º 177 do FPPC: A decisão interlocutória que julga procedente o pedido para condenar o réu a prestar contas, por ser de mérito, é recorrível por agravo de instrumento. Prof. Vinicius Lemos (art. 487, I, do Novo CPC). Poderá também alegar todas as matérias defensivas processuais em preliminar de contestação, juntamente com a alegação de que não tem dever de prestar as contas ou isoladamente. d) Não contestar e nem apresentar as contas – nesse caso o réu será revel, cabendo julgamento antecipado do mérito na hipótese de o juiz presumir como verdadeiros os fatos referentes ao dever de prestar contas apresentados pelo autor (art. 355, II, do Novo CPC). Tratando-se de presunção relativa, mesmo ocorrendo revelia é possível ao juiz determinar ao autor a especificação de provas tendentes a demonstrar a veracidade das alegações de fato constitutivas de seu direito. (NEVES, 2016, p.1.180/1.181). A reação do réu que determina o próximo passo processual. Com a prestação das contas, com ou sem contestação, o juízo, verificando o teor dessas, passa à análise somente da validade. Caso o réu não tenha prestado contas, de igual forma, com ou sem contestação, o juízo decide sobre a obrigação de fazer, se o réu deve ou não prestar as contas. Ou seja, a espécie de decisão que o juízo dará depende da manifestação do réu. Se houver a necessidade de determinara obrigação de fazer, após o cumprimento dessa, passa-se para a próxima fase, a mesma da acima exemplificada, da apuração da validade e, se houver, a condenação a pagamento de saldo devedor. O autor pode, mediante a apresentação das contas, impugná-las especificadamente. Se o autor não apresentar as suas contas no prazo determinado pelo juízo, é facultado ao autor fazê-lo, nos moldes que entender pertinente. Para essa apuração de eventual saldo devedor, se houver necessidade, pode-se nomear perícia contábil. 3. Ações possessórias As ações possessórias são aquelas que têm por objeto a discussão de quem tem a melhor posse, com o pleito da reintegração, a manutenção ou o relato da ameaça com proteção possessória. Evidentemente, quem pleiteia a ação possessória tem receios ou ofensas à sua posse, a qual almeja, então, a proteção judicial para a sua posse. Prof. Vinicius Lemos Essas ofensas se dividem em esbulho e turbação. O primeiro é a perda da posse, já o segundo a tentativa real contra a posse. A legitimidade ativa está naquele que teve a posse ofendida e quer a devida proteção e, consequentemente, quem realiza ou a quem se imputa a realização da ofensa deve figurar no polo passivo da ação possessória. O art. 544, § 1º inova ao amparar a possibilidade de um litisconsórcio passivo diferente, com a verificação de que o autor, por vezes, não sabe quem está ofendendo a posse, permitindo que intente sobre quem estiver na posse, no local, não sabendo bem quantos e quem estaria lá. Não há como pensar, na ação possessória, em discutir-se a propriedade ou qualquer direito ali acometido. 3.1 Fungibilidade entre as espécies de ações possessórias O intuito da demanda é proteger a posse, contudo as espécies são determinadas de acordo com a ofensa realizada perante a posse, o que, muitas vezes, torna difícil a diferenciação se houve um esbulho ou turbação, ou, ainda, uma ameaça. Apesar de a diferenciação ser importante para se ter noção sobre qual proteção se espera com a demanda, o art. 554 coloca como possível a fungibilidade entre as espécies de possessórias, ou seja, o juízo considerará o conjunto da alegação para definir qual a tutela a ser julgada – tanto na eventual liminar ou na sentença. 3.2 O pedido liminar da ação possessória Há a possibilidade de pedido liminar para as ações possessórias, a qual deve ser afeita a sua forma especial, intentada em até ano e dia da ofensa àquela posse, se for em prazo superior, não se permite o pedido liminar nos moldes especiais das ações possessórias, seguindo os procedimentos comuns a qualquer demanda. Para que seja possível a tutela provisória, deve provar requisitos próprios, conforme o disposto no art. 561: Prof. Vinicius Lemos Art. 561. Incumbe ao autor provar: I - a sua posse; II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. A grande especialidade procedimental das ações possessórias é, justamente, a liminar de forma diversa das ações normais, com requisitos próprios, após a liminar, com o prazo para a resposta do réu e demais atos, o procedimento passa ao comum. Se o juízo entender que não houve a completa comprovação dos requisitos acima mencionados, pode marcar a audiência de justificação prévia. 3.3 Audiência de justificação prévia Prevista no caput do art. 562, o autor, caso não comprove que tem todos os requisitos, ou, ainda, necessite que o réu venha a juízo, deve, esse, determinar a audiência de justificação prévia, com a citação do réu para este ato, no qual, se entender como, agora, completo os requisitos, proferir a liminar, podendo, obviamente, indeferir. 3.4 O procedimento da reintegração e da manutenção Após a citação, seja ela pela liminar ou, se houver audiência prévia, para essa, inicia-se o prazo para a contestação, contado da citação ou da audiência, na sua existência. Não é o momento correto para contestar essa audiência de justificação, já que sua existência tem relação com a concessão ou não da liminar. A citação é ato normal, mesmo sendo um procedimento especial, contudo, tem a inovação da citação de litisconsórcio passivo, quando forem muitas pessoas, a qual segue os seguintes dizeres: “o polo passivo ser formado por uma multidão de pessoas, situação que ensejará especialidades procedimentais na citação previstas nos parágrafos do art. 554 do Novo CPC. A regulamentação desse tema é importante em razão da notoriedade da indesejável frequência com que grupos organizados invadem áreas rurais e urbanas, pelas mais diversas razões. Prof. Vinicius Lemos Nos termos do art. 554, § 1.º, na ação possessória com o polo passivo formado por grande número de pessoas o Ministério Público será intimado para participar do processo, bem como a Defensoria Pública, caso haja réus em situação de hipossuficiência econômica. Enquanto o Ministério Público atuará como fiscal da ordem jurídica, a Defensoria Pública defenderá o interesse dos hipossuficientes econômicos que não constituam advogado para sua defesa. (NEVES, 2016, p. 1.192) Com a citação, o prazo para a contestação será de 15 dias, como qualquer outra ação, o qual leva, a partir desse momento, a seguir-se o procedimento comum. Dessa maneira, é importante dizer que o procedimento especial para a possessória é até o momento da contestação, com um rito diferenciado de liminar, com possibilidade de audiência de justificação. 3.5 Interdito proibitório A diferença do interdito proibitório para as demais possessórias passa pela ausência de ofensa à posse – seja ela turbação ou esbulho – justamente por ainda ser somente uma ameaça. Dessa maneira, não há como provar o esbulho ou a turbação, não sendo esse requisito para a concessão da liminar, contudo, deve conseguir provar as ameaças e a iminência/possibilidade dessas ofensas. O mandado será de inibição, com a possibilidade de multa em caso de descumprimento, ou seja, em caso da turbação ou esbulho. 4. Da ação de divisão e da demarcação de terras particulares 4.1 A possibilidade extrajudicial da divisão ou demarcação de terras particulares O art. 571 permite que, se as partes forem capazes e maiores, podem, de comum acordo, via escritura pública, proceder a divisão ou demarcação daquelas terras particulares sobre as quais se tem ou tinha dúvida. 4.2 O procedimento judicial da ação de divisão De acordo com o art. 569, cabe a ação de divisão quando, na existência de um condomínio, não se sabe ainda, de maneira clara, a divisão sobre os quinhões de cada Prof. Vinicius Lemos um, permitindo a qualquer um dos condôminos obrigar os demais a estremar os quinhões. Para a ação de divisão, a petição inicial necessita do título daquele imóvel, não podendo ser realizada sobre a posse somente, bem como o autor deve indicar a origem da comunhão e a denominação, a situação, os limites e as características do imóvel e requerer, mediante a informação sobre todos os condôminos, a devida citação de cada qual, com a especificação das benfeitorias e culturas, seja as individuais e as comuns. - as benfeitorias comuns. Com a citação, cada condômino tem o prazo comum para oferecer a resposta e, de igual forma, especificar qual a divisa que entende como correta. Em caso de divergência, o juízo nomeia um ou mais peritos para medirem o imóvel, de acordo com a divisão que entendem. Todos são intimados para apresentação de seus títulos, para que o perito consiga determinar a divisão em seu laudo e, também, podem formularpedidos específicos de constituição de cada quinhão. Após a apresentação do laudo, todos são intimados para em 15 dias se manifestarem, nos moldes do art. 592. Sem impugnação, há a homologação do laudo e a divisão. Com a impugnação de alguma das partes sobre o laudo, o juízo decide sobre a divisão e os pedidos realizados por cada uma das partes/condôminos. Com a nova divisão, se essa sobrecair sobre uma construção de alguma das partes, o imóvel não é atingindo, mas cabe o pedido de indenização sobre essa parte. Realizada a decisão, o perito procede a demarcação da divisão e de cada quinhão, observando as regras do art. 594: I - as benfeitorias comuns que não comportarem divisão cômoda serão adjudicadas a um dos condôminos mediante compensação; II - instituir-se- ão as servidões que forem indispensáveis em favor de uns quinhões sobre os outros, incluindo o respectivo valor no orçamento para que, não se tratando de servidões naturais, seja compensado o condômino aquinhoado com o prédio serviente; III - as benfeitorias particulares dos condôminos que excederem à área a que têm direito serão adjudicadas ao quinhoeiro vizinho Prof. Vinicius Lemos mediante reposição; IV - se outra coisa não acordarem as partes, as compensações e as reposições serão feitas em dinheiro. Com todo o trabalho para o cumprimento imediato da sentença, deve o perito proceder com a documentação pertinente para tal desiderato, com as divisões e demarcações específicas, com a devida homologação judicial. 4.2 O procedimento judicial da ação de demarcação É pertinente a ação de demarcação quando o proprietário quiser obrigar o seu confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados. Para tanto, a petição inicial deve ser instruída com os títulos da propriedade e com a especificação do imóvel pela situação e pela denominação, com os limites por constituir, aviventar ou renovar e nomear-se-ão todos os confinantes da linha demarcanda. Cabe também sobre um condomínio e seus condôminos, caso já exista a divisão. Com a citação, abre-se o prazo de 15 dias para a contestação, mesmo que haja litisconsórcio passivo. De acordo com as manifestações das partes, o juiz nomeará um ou mais peritos para levantar o traçado da linha demarcanda. Com o laudo concluído, com a possibilidade das partes se manifestarem, o juízo prolata a sentença, a qual, se for julgado de forma procedente o pedido determinará o traçado da linha demarcanda. Com o trânsito em julgado, há a demarcação pelo perito dos marcos e anotações necessárias nos moldes do art. 583. Com o cumprimento da sentença pelo perito, com os marcos definidos, as partes podem se manifestar para eventuais incongruências. Realizada as correções que o juízo entender como pertinentes, há a homologação da demarcação. 5. Ação de dissolução parcial de sociedade O presente procedimento especial existe no caso de necessidade de ruptura jurídica da sociedade por um dos sócios, sem pretender a extinção da sociedade, mas somente a Prof. Vinicius Lemos saída de um deles, com a manutenção dessa, com a discussão sobre os direitos que a quota permite. Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto: I - a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e II - a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou III - somente a resolução ou a apuração de haveres. Evidentemente que a ação pode versar sobre mais do que um dos incisos do art. 599, podendo, dessa forma, a cumulação de pedidos. A ação pode versar sobre a exclusão somente ou, ainda, sobre os valores devidos a quota que sai. Já a legitimidade a proposição, está no art. 600, conforme vemos abaixo: I - pelo espólio do sócio falecido, quando a totalidade dos sucessores não ingressar na sociedade; II - pelos sucessores, após concluída a partilha do sócio falecido; III - pela sociedade, se os sócios sobreviventes não admitirem o ingresso do espólio ou dos sucessores do falecido na sociedade, quando esse direito decorrer do contrato social; IV - pelo sócio que exerceu o direito de retirada ou recesso, se não tiver sido providenciada, pelos demais sócios, a alteração contratual consensual formalizando o desligamento, depois de transcorridos 10 (dez) dias do exercício do direito; V - pela sociedade, nos casos em que a lei não autoriza a exclusão extrajudicial; ou VI - pelo sócio excluído 6. Do Inventário e da partilha Com a abertura da sucessão, ou seja, a morte do de cujus, o processo de inventário deve ser aberto em dois meses, nos moldes do art. 611. O intuito desse procedimento especial passa pela delimitação de quais são os bens e patrimônio do de cujus, para pleitear-se a habilitação dos herdeiros legais e, consequentemente, a partilha do que sobrevier entre esses. Em não cumprido tal prazo, não há prescrição, tampouco decadência, mas pode haver sanção monetária. 6.1 Legitimidade Prof. Vinicius Lemos O requerimento de inventário e de partilha incumbe a quem estiver na posse e na administração do espólio, contudo, de igual forma, pode pleitear o inventário outros herdeiros, os quais são fixados como legítimos concorrentes: I - o cônjuge ou companheiro supérstite; II - o herdeiro; III - o legatário; IV - o testamenteiro; V - o cessionário do herdeiro ou do legatário; VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança; VII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes; VIII - a Fazenda Pública, quando tiver interesse; IX - o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite. 6.2 A nomeação do inventariante Com a petição inicial intentada, com a abertura do inventário, necessário é, pelo juízo, da nomeação do inventariante, aquele responsável por administrar os bens durante o processo até o momento da partilha. A escolha se dará entre os especificados no art. 617: Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem: I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste; II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados; III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio; IV - o herdeiro menor, por seu representante legal; V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver distribuída em legados; VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário; VII - o inventariante judicial, se houver; VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial. Uma vez realizada a nomeação do inventariante, esse tem o prazo de 5 dias para prestar o compromisso perante o juízo. O inventariante, intimado da nomeação, prestará, dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar a função. Feito isso, deve o inventariamente, após, 20 dias, orestar as primeiras declarações, que consistem em realizar um termo circunstanciado, junto com o juízo e a escrivania, constando: Prof. Vinicius Lemos I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o lugar em que faleceu e se deixou testamento; II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos respectivos dados pessoais, o regimede bens do casamento ou da união estável; III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado; IV - a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio, inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios que nele forem encontrados, descrevendo-se: a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam; b) os móveis, com os sinais característicos; c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais distintivos; d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas, declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância; e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data; f ) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores; g) direitos e ações; h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio. (CPC/2015) 6.3 As obrigações do inventariante Pelo fato de ser inventariante, esse tem obrigações para com o espólio, pertinentes a própria administração dos bens inventariados, estando essas dispostas no art. 618: I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 75, § 1o; II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem; III - prestar as primeiras e as últimas declarações pessoalmente ou por procurador com poderes especiais; IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os documentos relativos ao espólio; V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver; VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído; VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar; VIII - requerer a declaração de insolvência. Art. 619. Incumbe ainda ao inventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz: I - alienar bens de qualquer espécie; II - transigir em juízo ou fora dele; III - pagar dívidas do espólio; Mini CPC-3.indd 123 09/05/2016 16:33:32 – 124 – IV - fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhoramento dos bens do espólio 6.4 Procedimento Com a nomeação do inventariante, deve o processo continuar para a devida citação de todos os herdeiros e interessados na partilha, nos moldes do art. 626. As primeiras Prof. Vinicius Lemos declarações fazem parte da citação a ser encaminhada a cada herdeiro, como se fosse uma contrafé da inicial. De igual forma, é o momento de se intimar a Fazenda Pública, o Ministério Público e o testamenteiro, se for o caso. Todos os que forem citados ou intimados para se manifestar, seja para reclamar sobre a escolha do inventariante, ajudar na indicação de bens faltantes no inventário ou para contestar como um todo o inventário. Se algum herdeiro não citado entender que era pertinente a sua citação, pode intervir no processo com tal alegação. A Fazenda Pública deve indicar os valores que entende como devidos em cada bem, para que seja pertinente a avaliação para a posterior cobrança do imposto correspondente. Se houver impugnação aos valores – para cima ou para baixo – indicar-se-á um perito para tal avaliação, podendo, após a apresentação do laudo, todos se manifestarem sobre tal avaliação. Se houver dívidas do de cujus, essas devem ser colacionadas no inventário para o devido pagamento. O juízo, após todas as providências pertinentes entre as possíveis impugnações pelos herdeiros, pela Fazenda Pública, com a indicação dos valores dos bens, bem como os valores da dívida, saneia o processo para deixá-lo pronto para a partilha. 6.5 Partilha Com o procedimento realizado, se houver acordo entre os herdeiros, com possibilidade diante da capacidade de todos, o juízo pode homologá-lo. Em caso diverso, abre prazo para que cada herdeiro pleiteie o quinhão que entenda razoável. Após tal prazo, o juízo decide pela partilha, levando em consideração tais pontos: I - a máxima igualdade possível quanto ao valor, à natureza e à qualidade dos bens; II - a prevenção de litígios futuros; III - a máxima comodidade dos coerdeiros, do cônjuge ou do companheiro, se for o caso. Prof. Vinicius Lemos Também é o momento em que o juízo decide sobre quem ficará na posse/exercício dos bens. Realizada a partilha, seguirá o procedimento do art. 651: Art. 651. O partidor organizará o esboço da partilha de acordo com a decisão judicial, observando nos pagamentos a seguinte ordem: I - dívidas atendidas; II - meação do cônjuge; III - meação disponível; IV - quinhões hereditários, a começar pelo coerdeiro mais velho. Após essa partilha, as partes se manifestam, nos moldes do art. 652, para eventuais reclamações e erros, sendo procedida a decisão para resposta a essas eventuais manifestações. Passado esse momento, a partilha constará: I - de auto de orçamento, que mencionará: a) os nomes do autor da herança, do inventariante, do cônjuge ou companheiro supérstite, dos herdeiros, dos legatários e dos credores admitidos; b) o ativo, o passivo e o líquido partí- vel, com as necessárias especificações; c) o valor de cada quinhão; II - de folha de pagamento para cada parte, declarando a quota a pagar-lhe, a razão do pagamento e a relação dos bens que lhe compõem o quinhão, as características que os individualizam e os ônus que os gravam 7. Embargos de terceiro Embargos de terceiro é ação autônoma de impugnação da decisão que determinou a apreensão judicial de bens do patrimônio desse terceiro, alheio à execução, conforme disposto no artigo 674. Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. § 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor. Inaugura-se um novo procedimento, um novo processo. A decisão que determine ou ameace a constrição de bens de pessoa que não é parte do processo pode ser impugnada, não somente pelas partes, mas por este terceiro que sofre as consequências de uma decisão em um processo que não guarda relação. Para a verificação de quem podemos definir como terceiros, o Código delimita no artigo 674, § 2º, as espécies possíveis, com legitimidade para a proposição dos Prof. Vinicius Lemos referidos embargos: o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843; o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução; quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte; o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos. Nos moldes do art. 675, não há um prazo específico para a interposição desses embargos de terceiro, porém, há uma limitação, um prazo de até cinco dias do ato de expropriação do bem, seja esse a adjudicação, a alienação por iniciativa participar ou a arrematação em hasta pública. A finalidade dos embargos de terceirosé impugnar a decisão judicial, para conseguir o desfazimento da constrição, se já foi cumprida a apreensão ou a inibição, nos casos de ameaça de apreensão. Os embargos de terceiro formam processo autônomo e novo de conhecimento, motivo pelo qual a petição deve ser enquadrada nos mesmos requisitos da inicial, conforme o artigo 319. Como o fundamento da impugnação é o prejuízo do terceiro com a possibilidade de constrição ou do bem já constrito, há a necessidade do embargante em comprovar o direito sobre o bem constrito, com provas ou meio de provas indicados para tanto, nos moldes do artigo 677.1092 O embargado será intimado, via seu advogado, ou citado, em caso de não ter advogado nos autos principais, para apresentar a contestação no prazo de 15 dias úteis, de forma idêntica a uma contestação do processo de conhecimento normal. Após a instrução probatória, com o intuito de comprovação da posse ou domínio do bem, bem como da legalidade da venda em caso de alienação por fraude à execução, o processo deve ser julgado pelo juízo, com a prolação da sentença, com duas Prof. Vinicius Lemos possibilidades: a improcedência dos embargos de terceiro, com a permanência do vínculo do bem apreendido ao processo ou a procedência com a liberação da constrição do bem apreendido e a eventual devolução do bem, seja do domínio, da posse ou do direito, restituindo o status quo anterior ao terceiro. Esta sentença é totalmente impugnável, de acordo com o artigo 1009, por uma apelação, com total devolutividade fática e jurídica. 8. Oposição A oposição deixou de ser uma intervenção de terceiros para ser uma ação autônoma, com um procedimento especial. O intuito é excluir uma ou ambas as partes de um processo já existente, levando em consideração que entende que o objeto de uma demanda entre duas partes diversas de si lhe pertence. Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. Art. 683. O opoente deduzirá o pedido em observação aos requisitos exigidos para propositura da ação. No caso, a ação corre em apartado, nos moldes do art. 683, § único, da outra sobre a qual o autor desta se opõe a uma ou as duas partes do outro processo. Se for contra as duas, a oposição será total, se for somente contra o autor ou o réu, será tida como parcial. O autor e o réu da ação originária formam, nesse procedimento, um litisconsórcio necessário, ainda que seja para a retirada somente de uma das partes daquela demanda. Como é uma ação que será distribuída em autos apartados de um processo já existente, a citação será realizada na pessoa do advogado, tanto do autor quanto do réu daquela demanda que gerou a oposição, somente se procedendo pessoalmente se o réu não tiver advogado ainda nos autos ou for revel. Prof. Vinicius Lemos O prazo para a resposta será de 15 dias. Se um dos opostos reconhecer a procedência desse procedimento especial, essa demanda apartada pode correr somente contra o outro. Sobre o procedimento, é importante verificar em qual das fases está o processo originário, se for antes da audiência de instrução e julgamento, a oposição será instruída e correrá em paralelo e conjuntamente à demanda principal, o que é inviabilizado se for após a audiência de instrução e julgamento, já que a fase estaria adiantada, o que restaria deixar sobrestada a ação principal para aguardar a postulação e instrução da demanda acessória, para depois serem decididas juntas. 9. Ação de habilitação O processo de habilitação persiste em indicar, via um procedimento especial, após o falecimento de qualquer das partes de um processo, os interessados houverem de suceder-lhe no processo. Se houver dúvida sobre qual que é o herdeiro que deve continuar na lide, este processo é a via correta para tanto. Quanto a sua natureza jurídica, apesar de um tanto complexa, é uma ação, ainda que seja processada dentro de uma outra demanda. Nos termos do art. 689 do Novo CPC, a habilitação será processada nos autos do processo principal, o que pode levar o intérprete a equivocada conclusão a respeito de sua natureza jurídica. Na realidade, a habilitação continua a ter a natureza de ação incidente e não de mero incidente processual, tendo sido nesse sentido mantida a citação dos requeridos no caput do art. 690 do Novo CPC e a sentença como decisão que julga a habilitação no art. 692 do Novo CPC. (NEVES, 2016, p. 1.292) 10. Ações de família A utilização do termo de ações de família é um pouco equivocado para este procedimento especial, já que consiste na possibilidade nas ações de família –excluídas a ação de alimentos e a que versar sobre interesse de criança ou de adolescente – de pleitear, via esse rito procedimental, que o processo em trâmite seja suspenso para Prof. Vinicius Lemos que haja uma audiência de mediação. O intuito é buscar sempre, prioritariamente, as formas alternativas de soluções de conflitos. Interessante notar que o dispositivo não prevê um prazo para a suspensão do processo, o que aparentemente permite tal suspensão por prazo indeterminado, ou seja, pelo prazo que for necessário às partes chegarem a uma solução consensual do conflito. Entendo que essa suspensão, especificamente prevista pelo parágrafo único do art. 694 do Novo CPC, ainda que dependa de um acordo entre as partes, não se confunde com aquela prevista no art. 313, II, do Novo CPC, em especial por não estar limitado ao prazo máximo de 6 meses (art. 313, § 4º, do Novo CPC) (NEVES, 2016, p. 1.296) Dessa maneira, cita-se a outra parte para comparecer a essa audiência, com o intuito de, no meio da demanda. Não há um litígio de forma contenciosa, já que a ação anterior tem essa característica O intuito é suspender para que haja um procedimento de conciliação ou mediação. As partes podem, em comum acordo, remarcar quantas vezes entenderem como necessário essa audiência, desmembrando-a em sessões diversas. <destaque> Se não for possível a conciliação e a mediação, após a tentativa em audiência, esse procedimento se encerra, com a cessação da suspensão no processo principal, retornando ao procedimento comum. <fecha> 11. Ação monitória Daniel Amorim Assumpção Neves conceitua a ação monitória como aquela que: a característica principal do procedimento monitório é a oportunidade concedida ao credor de, munido de uma prova literal representativa de seu crédito, abreviar o iter processual para a obtenção de um título executivo. Assim, aquele que possui uma prova documental de um crédito, desprovida de eficácia executiva, pode ingressar com a demanda monitória e, se verificada a ausência de manifestação defensiva por parte do réu – Prof. Vinicius Lemos embargos ao mandado monitório –, obterá seu título executivo em menor lapso temporal do que o exigido pelo processo/fase procedimental de conhecimento. (NEVES, 2016, p. 1.300) A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz: I - o pagamento de quantia em dinheiro; II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer. O intuito aqui é intentar uma demanda que caminha entre a cognição sumária – já que não pretende a ação de conhecimento – e a execução. Sem um título executivo, mas com uma prova escrita robusta para tal fim, intenta a monitória para transformar essa provaem um título executivo, sem passar pela ação de conhecimento. 11. 1 Propositura da monitória Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso: I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo; II - o valor atual da coisa reclamada; III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido. O valor da causa deverá corresponder à importância prevista no § 2o, incisos I a III. O juiz poderá indeferir a petição inicial, nos termos do art. 330 do Novo CPC, ou quando não atender às exigências dos incisos do § 2° do art. 700 do Novo CPC. O indeferimento se dá por meio de sentença recorrível por apelação. O art. 701, caput, do Novo CPC prevê que, sendo evidente o direito do autor, caberá ao juiz o deferimento de plano de expedição do mandado monitório. A interpretação literal do dispositivo, entretanto, pode levar à falsa impressão de que a atitude adotada pelo juiz no processo monitório é semelhante àquela adotada no momento do pronunciamento inicial em uma ação de execução, o que, conforme já analisado, não se mostra correto. No procedimento monitório há cognição desenvolvida pelo juiz, consubstanciada no convencimento de que há verossimilhança nas alegações do autor. Somente após tal cognição deverá o juiz proferir o pronunciamento inicial positivo, com a expedição do mandado monitório. No processo executivo, por outro lado, o título executivo por si só já basta, desde que formalmente em ordem, para exigir do juiz uma atuação positiva, mandando citar o executado, sem nenhuma cognição desenvolvida a respeito da efetiva ou aparente existência do direito exequendo. (NEVES, 2016, p. 1.308) Prof. Vinicius Lemos Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa. 1º O réu será isento do pagamento de custas processuais se cumprir o mandado no prazo Com a efetivação da citação, o réu pode manifestar-se de diferentes formas, no prazo de 15 dias: satisfazer a obrigação, não manifestar-se ou, ainda, intentar embargos a ação monitória. Mesmo sem manifestar-se, não há a preclusão que gere revelia, pelo fato que não há essa visualização no processo monitório. Se o réu satisfaz a obrigação, naturalmente, gera a extinção da demanda, com a quitação. Por outro lado, interpõem-se os embargos, esses têm características autônomas, como uma outra ação em apartado. E, por derradeiro, se nada o faz, o juízo pode convolar aquela prova em título executivo, com a possibilidade de prosseguimento do feito, agora para um cumprimento de sentença. Constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, independentemente de qualquer formalidade, se não realizado o pagamento e não apresentados os embargos previstos no art. 702, observando-se, no que couber, o Título II do Livro I da Parte Especial. A terceira opção é a interposição dos embargos ao mandado monitório no prazo de 15 dias, previsto no art. 702, caput, do Novo CPC. Tratando-se da Fazenda Pública em juízo, não é possível entender que o prazo seja computado em dobro para embargar, nos termos do art. 183 do Novo CPC. Apesar de bastante improvável, o mesmo raciocínio deve ser adotado para o caso de presença do Ministério Público no polo passivo e para a hipótese de litisconsortes passivos com diferentes patronos de diferentes sociedades de advogados (art. 229 do Novo CPC). Por expressa previsão do art. 701, § 5º, do Novo CPC, é cabível, como reação do réu no seu prazo de resposta, o pedido de pagamento parcelado do débito, nos termos do art. 916 do Novo CPC. Naturalmente tal espécie de reação só será admissível se o objeto da ação monitória for o cumprimento de uma obrigação de pagar quantia certa. Os requisitos formais, portanto, são os mesmos exigidos para a moratória legal do processo de execução. (NEVES, 2016, p. 1.313) Prof. Vinicius Lemos 12. Os demais procedimentos especiais contenciosos 12. 1 Homologação do penhor legal O penhor legal é possível em algumas hipóteses previstas na lei civil, contudo, o art. 703 e seguintes regulamentam como que o autor que tomou o penhor legal para si realiza a homologação judicial de tal ato. Art. 703. Tomado o penhor legal nos casos previstos em lei, requererá o credor, ato contínuo, a homologação. § 1º Na petição inicial, instruída com o contrato de locação ou a conta pormenorizada das despesas, a tabela dos preços e a relação dos objetos retidos, o credor pedirá a citação do devedor para pagar ou contestar na audiência preliminar que for designada. § 2º A homologação do penhor legal poderá ser promovida pela via extrajudicial mediante requerimento, que conterá os requisitos previstos no § 1o deste artigo, do credor a notário de sua livre escolha. § 3º Recebido o requerimento, o notário promoverá a notificação extrajudicial do devedor para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar o débito ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma das causas previstas no art. 704, hipótese em que o procedimento será encaminhado ao juízo competente para decisão. § 4º Transcorrido o prazo sem manifestação do devedor, o notário formalizará a homologação do penhor legal por escritura pública. Uma vez intentada a demanda, a defesa consiste somente nas possíveis alegações do art. 704: I - nulidade do processo; II - extinção da obrigação; III - não estar a dívida compreendida entre as previstas em lei ou não estarem os bens sujeitos a penhor legal; IV - alegação de haver sido ofertada caução idônea, rejeitada pelo credor. Se o juízo homologar o penhor legal, o réu passa a ser o proprietário do objeto que tomou para si. Se a sentença for no intuito de rejeitar, o bem será entregue para o réu. Em ambos os casos, cabe apelação. 12. 2 Regulação de avaria grossa Esse procedimento especial persiste na ausência, naquela comarca, um regulador de avarias, o que faz com que o juízo da comarca do primeiro porto onde o navio houver chegado, provocado por qualquer parte interessada, nomeará um de notório conhecimento. Ou seja, se houve avaria grossa em uma embarcação, sem um Prof. Vinicius Lemos regulador de avarias, o juízo, onde primeiro se embarcar, nomeia um perito para tal desiderato. Apesar de o art. 708, caput do Novo CPC prever que cabe ao regulador a declaração justificada de quais danos são passíveis de rateio na forma de avaria grossa, excluindo, portanto, as avarias simples, tradicionalmente no comércio marítimo essa declaração é feita pelo transportador, que em regra é o maior interessado na regulação das avarias grossas. Dessa forma, cabe ao regulador apenas confirmar essa declaração. Na sua ausência o regulador deverá fazer a declaração. (NEVES, 2016, p. 1.339) 12.3 Ação de restauração de autos O intuito desse procedimento especial está na possibilidade ou necessidade de restaurar-se os autos quando houver a perda ou desaparecimento desses. Apesar de ser algo improvável, diante da modernidade que temos na vida forense, temos a possibilidade de algum fato natural, como inundações, incêndios, entre outros e, na época de demandas virtuais, tem a possibilidade de acontecer algum corrompimento no sistema. Art. 712. Verificado o desaparecimento dos autos, eletrônicos ou não, pode o juiz, de ofício, qualquer das partes ou o Ministério Público, se for o caso, promover-lhes a restauração. Parágrafo único. Havendo autos suplementares, nesses prosseguirá o processo. O próprio juízo pode agir de ofício nessecaso, mas a legitimidade é compartilhada com o Ministério Público e as partes. Quem intentar a petição inicial ou, se for por iniciativa de oficio, deve apresentar, na dicção do art. 713: I - certidões dos atos constantes do protocolo de audiências do cartório por onde haja corrido o processo; II - cópia das peças que tenha em seu poder; III - qualquer outro documento que facilite a restauração. Os demais atores processuais serão citados para apresentar, de igual maneira, as suas contrafés, e as reproduções dos atos e dos documentos que estiverem em seu poder. Prof. Vinicius Lemos Se a parte concordar com a restauração, lavrar-se-á o auto que, assinado pelas partes e homologado pelo juiz, suprirá o processo desaparecido. Se a parte não contestar ou se a concordância for parcial, observar-se-á o procedimento comum. Se a perda dos autos tiver ocorrido depois da produção das provas em audiência, o juízo, se necessário, mandará repeti-las. Se houver atos de segundo grau ou tribunal superior, esse deve, de igual maneira, completar com as suas certidões os autos a serem restaurados. Quem houver dado causa ao desaparecimento dos autos responderá pelas custas da restauração e pelos honorários de advogado, sem prejuízo da responsabilidade civil ou penal em que incorrer. 13. Dos procedimentos de jurisdição voluntária Existem procedimentos que são necessários para algum jurisdicionado, contudo, não existe um litígio, sem uma parte ré, somente um indivíduo interessado em buscar auxílio do judiciário para a obtenção de um direito. O CPC/2015 repete algumas das hipóteses já elencada no antigo e coloca os procedimentos gerais do art. 719 ao 725. 13.1 Da notificação e da interpelação Esse procedimento existe para quem tiver interesse em manifestar formalmente sua vontade a outrem sobre assunto juridicamente relevante poderá notificar pessoas participantes da mesma relação jurídica para dar-lhes ciência de seu propósito. O intuito passa pela parte que almeja notificar ou interpelar a outra, utilizar do judiciário para tal desiderato, o qual, após de realizado, nos moldes dos art. 726 ao 729. Deferida e realizada a notificação ou interpelação, os autos serão entregues ao requerente para os fins que pretende após tal ato. 13. 2 Da alienação judicial De acordo com o art. 739, nos casos expressos em lei, não havendo acordo entre os interessados sobre o modo como se deve realizar a alienação do bem, o juiz, de ofício Prof. Vinicius Lemos ou a requerimento dos interessados ou do depositário, mandará aliená-lo em leilão, observando-se o disposto na Seção I deste Capítulo e, no que couber, o disposto nos arts. 879 a 903. 13. 3 Do divórcio e da separação consensuais, da extinção consensual de união estável e da alteração do regime de bens do matrimônio Se as partes desejam a homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão: I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns; II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges; III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos. Pode haver a homologação do divórcio, sem homologar-se a partilha, caso, sobre essa não houver acordo, far-se-á essa depois de homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a658. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731. A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras. Após o trânsito em julgado da sentença, serão expedidos mandados de averbação aos cartórios de registro civil e de imóveis e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins. 13. 4 Dos testamentos e dos codicilos Se houver, após a morte do de cujus um testamento cerrado, o juiz, se não achar vício externo que o torne suspeito de nulidade ou falsidade, abrirá e mandará que o Prof. Vinicius Lemos escrivão o leia em presença do apresentante. Do termo de abertura constarão o nome do apresentante e como ele obteve o testamento, a data e o lugar do falecimento do testador, com as respectivas provas, e qualquer circunstância digna de nota. Depois de ouvido o Ministério Público, não havendo dúvidas a serem esclarecidas, o juiz mandará registrar, arquivar e cumprir o testamento. 13. 5 Da herança jacente Nos casos em que a lei considere jacente a herança, o juiz, em cuja comarca tiver domicílio o falecido, procederá imediatamente à arrecadação dos respectivos bens. A herança jacente ficará sob a guarda, a conservação e a administração de um curador até a respectiva entrega ao sucessor legalmente habilitado ou até a declaração de vacância. <caixa_cinza> Incumbe ao curador: I - representar a herança em juízo ou fora dele, com intervenção do Ministério Público; II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a arrecadação de outros porventura existentes; III - executar as medidas conservatórias dos direitos da herança; IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e da despesa; V - prestar contas ao final de sua gestão. <fecha> Transitada em julgado a sentença que declarou a vacância, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os credores só poderão reclamar o seu direito por ação direta. 13. 6 Dos bens dos ausentes Prof. Vinicius Lemos Declarada a ausência nos casos previstos em lei, o juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear-lhes-á curador na forma estabelecida na Seção VI, observando-se o disposto em lei. Feita a arrecadação, o juiz mandará publicar editais na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 1 (um) ano, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, durante 1 (um) ano, reproduzida de 2 (dois) em 2 (dois) meses, anunciando a arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens. 13. 7 Das coisas vagas Recebendo do descobridor coisa alheia perdida, o juiz mandará lavrar o respectivo auto, do qual constará a descrição do bem e as declarações do descobridor. Recebida a coisa por autoridade policial, essa a remeterá em seguida ao juízo competente. Depositada a coisa, o juízo mandará publicar edital na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, para que o dono ou o legítimo possuidor a reclame, salvo se se tratar de coisa de pequeno valor e não for possível a publicação no sítio do tribunal, caso em que o edital será apenas afixado no átrio do edifício do fórum. 13. 8 Da interdição A interdição de uma pessoa, mediante incapacidade para administrar seus bens e praticar atos da vida civil é um procedimento especial de natureza voluntária, sem ter um réu na demanda. A interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II - pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; IV - pelo MinistérioPúblico. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial. Prof. Vinicius Lemos Incumbe ao autor, na petição inicial, especificar os fatos que demonstram a incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou. Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a prática de determinados atos. O requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas alegações ou informar a impossibilidade de fazê-lo. O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas. Dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da entrevista, o interditando poderá impugnar o pedido. O Ministério Público intervirá como fiscal da ordem jurídica. O interditando poderá constituir advogado, e, caso não o faça, deverá ser nomeado curador especial. Caso o interditando não constitua advogado, o seu cônjuge, companheiro ou qualquer parente sucessível poderá intervir como assistente. Decorrido o prazo previsto no art. 752, o juiz determinará a produção de prova pericial para avaliação da capacidade do interditando para praticar atos da vida civil. Apresentado o laudo, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o juiz proferirá sentença. Na sentença que decretar a interdição, o juízo: I - nomeará curador, que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o estado e o desenvolvimento mental do interdito; II - considerará as características pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências. A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado. Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a Prof. Vinicius Lemos responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender aos interesses do interdito e do incapaz. A sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito poderá praticar autonomamente. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou. O curador deverá buscar tratamento e apoio apropriados à conquista da autonomia pelo interdito. Cessada a tutela ou a curatela, é indispensável a prestação de contas pelo tutor ou pelo curador, na forma da lei civil. 13. 8 Da organização e da fiscalização das fundações O juiz decidirá sobre a aprovação do estatuto das fundações e de suas alterações sempre que o requeira o interessado, quando: I - ela for negada previamente pelo Ministério Público ou por este forem exigidas modificações com as quais o interessado não concorde; II - o interessado discordar do estatuto elaborado pelo Ministério Público. Se o juízo encontrar alguma inconsistência, antes de suprir a aprovação, o juiz poderá mandar fazer no estatuto modificações, a fim de adaptá-lo ao objetivo do instituidor. Qualquer interessado ou o Ministério Público promoverá em juízo a extinção da fundação quando: I - se tornar ilícito o seu objeto; II - for impossível a sua manutenção; III - vencer o prazo de sua existência. 13. 9 Da ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo Prof. Vinicius Lemos Todos os protestos e os processos testemunháveis formados a bordo e lançados no livro Diário da Navegação deverão ser apresentados pelo comandante ao juiz de direito do primeiro porto, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas de chegada da embarcação, para sua ratificação judicial. A petição inicial conterá a transcrição dos termos lançados no livro Diário da Navegação e deverá ser instruída com cópias das páginas que contenham os termos que serão ratificados, dos documentos de identificação do comandante e das testemunhas arroladas, do rol de tripulantes, do documento de registro da embarcação e, quando for o caso, do manifesto das cargas sinistradas e a qualificação de seus consignatários, traduzidos, quando for o caso, de forma livre para o português. A petição inicial deverá ser distribuída com urgência e encaminhada ao juiz, que ouvirá, sob compromisso a ser prestado no mesmo dia, o comandante e as testemunhas em número mínimo de 2 (duas) e máximo de 4 (quatro), que deverão comparecer ao ato, independentemente de intimação. Aberta a audiência, o juiz mandará apregoar os consignatários das cargas indicados na petição inicial e outros eventuais interessados, nomeando para os ausentes curador para o ato. Inquiridos o comandante e as testemunhas, o juiz, convencido da veracidade dos termos lançados no Diário da Navegação, em audiência, ratificará por sentença o protesto ou o processo testemunhável lavrado a bordo, dispensado o relatório. Independentemente do trânsito em julgado, o juiz determinará a entrega dos autos ao autor ou ao seu advogado, mediante a apresentação de traslado. 14. As ações excluídas dos procedimentos especiais no CPC/2015 Há procedimentos especiais que existiam no CPC/73 e, no novo ordenamento, não tem mais disposição expressa. Prof. Vinicius Lemos As seguintes ações constantes do atual Código de Processo Civil, foram excluídas no texto da Lei 13.105/2015, que entrará em vigor em 18 de março de 2015, a saber: Ação de depósito, prevista no art. 901; Ação de Anulação e Substituição de Títulos ao Portador, art. 907; Ação de Nunciação de Obra Nova, art. 934; Ação de usucapião de Terras Particulares, art. 941; Vendas a Crédito com Reserva de Domínio, art. 1070. Persistem dúvidas entre os operadores do direito, de como proceder, quanto a proteção dos direitos dos jurisdicionados, frente a uma nova situação, em que seria cabível uma ação judicial que em tese se aplicaria um dos procedimentos extintos pelo novo diploma processual. (PEREIRA, 2015, <http://www.prolegis.com.br/os-procedimentos-especiais-no- novo-cpc/ Desse modo, estes procedimentos especiais saíram do CPC/2015, restando o procedimento comum para serem utilizados em seu lugar, com a desnecessidade de um rito próprio específico.
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