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O Jargao da Policia Militar do Rio de Janeiro

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O percurso do jargão
O termo jargão origina-se na Idade Média, entre os séculos XII e XIII, usado por Geoffrey Chaucer, escritor e filósofo inglês, para descrever o canto dos pássaros, ligando o termo a um tipo de fala incompreensível. No século XVI, usava-se o termo gibberish (gorjeio, em inglês) ou gabble (lengalenga) para nomear o jargão; já em português, era usado o termo geringonça.
Nas diferentes línguas, o termo ganhou o sentido de gíria e, só a partir do século XIX, com o surgimento de profissões, passou a designar as linguagens técnicas, quando grupos, em novas especialidades profissionais, começaram a criar seus jeitos próprios de falar. A extensa literatura dos séculos XVI e XVII que diz respeito aos jargões (naquele tempo, ainda vistos como linguagens inferiores), demonstra que eles eram estudados apenas por curiosidade. Com o aparecimento da Linguística, o interesse pelo seu estudo tornou-se mais científico, o que levou à descoberta de que os jargões são linguagens que servem como um tipo de suplemento ao vernáculo.
 O estudo do jargão de algumas profissões também data de séculos passados. BURKE e PORTER (1997, p.17) atribuem uma recente “extraordinária proliferação” de jargões à crescente divisão de trabalho advinda da ascensão da sociedade industrial. 
O jargão poderia ser considerado um signo identificador, muito embora seja fruto de uma linguagem vulgarizada ou de uma “linguagem técnica banalizada”, como define PRETI (1984, p.26), em função dos neologismos utilizados. Pode, ainda, ser formado por termos técnicos que acabam desgastados pelo uso inadequado. PRETI (1984, p.27) afirma que algumas atividades profissionais, embora gozem de maior prestígio social, apresentam linguagem que também possui as mesmas características.
. Segundo a opinião de Mattoso Câmara Jr, gíria e jargão são tão semelhantes que poderiam ser vistos como uma coisa só. Ele cita Marouzeau, para dizer que o jargão/gíria é “fundamentado num vocabulário parasita que empregam os membros de um grupo ou categoria social com a preocupação de se distinguirem da massa dos sujeitos falantes”. (MAROUZEAU, 1943, p. 36)
Desejando se colocar numa situação social mais privilegiada, os profissionais dessas áreas abusam do uso de jargões, tirando deles seu caráter técnico e restrito e utilizando-os, também, na linguagem cotidiana. Isso talvez explique a banalização dos jargões, trazendo-os para um uso mais corriqueiro que vai ao encontro da definição, segundo a qual eles seriam modificações que um grupo socioprofissional introduz na língua. 
Ainda de acordo com Mattoso Câmara Jr., três motivos explicam essas alterações: “a natureza particular das coisas ditas; a vontade de não ser entendido e o desejo do grupo de marcar sua originalidade”.
 	Assim como as gírias, o jargão é um fato importante da linguística. A diferença entre esses dois fenômenos linguísticos é menos científica e mais baseada no status. “Na verdade, é uma distinção social. Jargão é a gíria dos bem postos, e gíria é o jargão dos despossuídos” (POSSENTI, 2005).
 Do futebol à economia, de mecânica ao magistério, todas as atividades têm vocabulário próprio. Deteremo-nos apenas na linguagem própria da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), ou seja, no jargão usado pelos policais militares do Rio de Janeiro.
O jargão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
	
	Assim como inúmeras outras profissões, a polícia militar também possui um jargão, sendo esse bastante específico, a tal ponto que apresenta diferenças de um estado brasileiro para outro, uma vez que algumas palavras ou expressões usadas por esses profissionais encontram-se ligadas a particularidades do estado onde eles atuam. Desse modo, há o jargão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), que não coincide, por exemplo, com aquele usado pelos policiais militares de São Paulo, já que existem diferenças consideráveis entre os dois estados. Por exemplo, no Rio de Janeiro as favelas estão localizadas em morros, ao passo que em São Paulo elas se situam em locais planos. Assim, o jargão utilizado pela polícia militar para fazer referência a algo relacionado à localização das favelas nesses dois estados, certamente, não será o mesmo. Como já foi dito, nosso campo de pesquisa restringiu-se, apenas, ao jargão da polícia militar do nosso estado (RJ). 
	Procuramos, por meio de entrevistas com profissionais da área e da leitura de boletins de ocorrências, reunir termos comumente utilizados no meio. Como será possível observar, um grande número de palavras que veremos adiante não é por nós desconhecido. Porém, no jargão, tais palavras assumem significados muito peculiares e, por isso, ainda que contextualizadas, podem tornar difícil a sua interpretação para quem não se encontra familiarizado com essa nova significação. 
	Outro fato que observamos é que algumas palavras ou expressões que fazem parte do jargão dos policiais militares são, também, usadas com o mesmo significado por pessoas ligadas à criminalidade, mais especificamente ao tráfico de drogas. Isso é compreensível, uma vez que a profissão que exercem faz com que esses policiais estejam sempre em contato com pessoas que atuam nessas práticas ilegais e, desse modo, tais palavras e expressões acabam tornado-se de uso comum dos dois grupos. Entendemos, assim, que a linguagem dos policiais possui jargões que também podem ser definidos como gírias, pois enquanto o jargão diz respeito à linguagem usada por uma determinada categoria profissional, a gíria refere-se a uma linguagem de grupos restritos (como é o caso dos traficantes de drogas).
	 A seguir, alguns exemplos do jargão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro:
Arrego - propina.
Ataque-surpresa - tática usada pelos policiais para invadir a favela: eles sobem pela outra encosta do morro e descem de rapel. A invasão é feita de cima para baixo.
Bater de frente - quando acontecem confrontos.
Boca de sabão - se acontecer algo de errado dentro do quartel, o “boca de sabão” imediatamente vai contar aos superiores.
Bocas - locais onde os bandidos vendem drogas.
Cair no capô da viatura - fatos que acontecem na presença dos policiais e que requerem a sua intervenção imediata.
Cano - revólver.
Carga - grande quantidade de drogas.
Caveira ou boina-preta - o policial integrante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE).
Caveirão - carro blindado, que pode chegar a 120 km/hora, chamado oficialmente de Pacificador.
Charlie - policial civil.
Cobertura - boina dos policiais.
Contenção - apoio na retaguarda (enquanto os mais experientes, ao entrar na favela, se posicionam na frente, os novatos ficam atrás, fazendo a “contenção”).
Dança das cadeiras- troca de comando (comandantes).
Dar camisa - quando um serviço é oferecido a um policial por outro.
Desova - ato de livrar-se dos corpos das vítimas de execução, abandonando-os em algum local.
Distúrbio civil - são rebeliões em cadeia, manifestações populares, situações que requeiram a presença dos policiais.
Dois por um - tática usada pelos policiais durante a invasão da favela: um vai caminhando e o outro vai por cima, andando pelas lajes das casas.
Dublê - o carro que passou a utilizar a placa clonada de outro veículo. 
Elemento - pessoa suspeita.
Fanfarrão - pessoa que se diz valente, sem ser; impostor.
Fatiar - examinar cuidadosamente cada beco da favela.
Fem - policial militar do sexo feminino;
Filmar - significa observar, estudar o local.
Fuzil de assalto - arma usada nas invasões das favelas.
Ganso - viciado em drogas.
Gerente - o traficante responsável pelo faturamento da venda de drogas.
Guarnição - tropas. 
Meliante - assaltante, ladrão, marginal.
Mula - elemento que atua como transportador de droga.
Na varanda - quando um policial fica sem função.
 Ocupação de saturação - entrar na favela, ocupá-la e permanecer lá por vários dias.
Operação - ação policial cuidadosamente planejada.
Ostensividade - visibilidade.
P2 - policialà paisana, que faz parte do serviço de inteligência da corporação. 
Patamo (Patrulhamento tático motorizado) - carro da polícia, guarnição de processo motorizado com, no mínimo, quatro integrantes com maior poder de fogo (submetralhadoras, fuzis etc...), com objetivo de ações táticas, nas ocorrências de maior gravidade e apoio às demais guarnições.
Policiamento vendido - os policiais param a viatura em frente a um estabelecimento comercial e ficam ali, fazendo a segurança, em troca de dinheiro que o dono do estabelecimento lhes dá.
Positivo e operante - o retorno de uma ordem ou instrução militar via rádio.
 Praça; mango ; maique - policial militar.
Proceder ao local - entrar na favela, explorando todos os locais.
RP (Radio- Patrulha) - carro da polícia.
Semana do inferno - como os policiais chamam a primeira semana do curso de treinamento para o Batalhão de Operações Especiais.
Sentar o dedo - atirar.
Sniper - atirador de elite, capaz de atirar a longa distância e acertar o alvo. 
Tonfa - cassetete de madeira.
Três meia zero - os policiais se posicionam em círculo, com as armas apontadas para a frente, protegendo um deles que se encontra dentro do círculo usando o rádio, para pedir reforços.
Viatura ou policial baseado - parado.
Viaturas baixadas - significa dizer que as viaturas deixaram de circular, geralmente por problemas mecânicos.
Vir na vertical ou horizontal - vir vivo ou morto.
VTR - viatura.
X9 - delator. 
(Obs: esse é um termo bastante conhecido pela população. São duas as versões mais conhecidas que procuram explicar a sua origem. A mais provável delas, para Ari Riboldi, autor do livro “A CPI das Palavras”, é a de que o termo tenha surgido em uma história em quadrinhos, publicada nos jornais americanos da década de 30, na qual um
agente secreto, inicialmente sem nome, conhecido apenas como Secret Agent X-9 cumpria o papel simultâneo de detetive particular e de agente secreto, trabalhando para uma agência também sem nome. O X-9 infiltrava-se entre os contraventores utilizando suas gírias e copiando seus hábitos para descobrir o seu modus operandi. Desse modo, ele poderia ser visto como um traidor. Já a outra versão relaciona o termo à história de um dos pavilhões do presídio paulistano do Carandiru, palco do massacre de mais de uma centena de pessoas, em 1992. No pavilhão 9 eram colocados os réus primários, que possuíam a fama de serem delatores.)
Exemplo de ocorrência da PMERJ:
 
	
	
	
	
	
	Cadastro:
28/06/2010 09:05:28
Atualização:
27/02/2013 13:17:11
Categoria:
Ocorrências
Cadastrante:
xxxxxxxxxx
Título:
Policiais Militares do 9° BPM em incursão na Serrinha prendem armas e drogas após confronto
Fonte:
assessoria de imprensa
Visitas:
536
	 
	Conteúdo:
	Policiais Militares do 9°BPM ( R. Miranda ) em incursão na Comunidade da Serrinha nesta segunda-feira ( 22/07 ) depararam-se com vários elementos armados que efetuaram disparos de arma de fogo contra a guarnição. Os policiais revidaram injusta agressão e ao termino do confronto foi encontrado ao solo Renan Henrique da Conceição.
Com ele foram encontrados uma pistola cal. 45Mm, duas munições, 665 tubos de crack e um rádio transmissor com três baterias, o homem ferido foi encaminhado ao Hospital Estadual Carlos Chagas mas não resistiu aos ferimentos e veio a falecer. A ocorrência foi encaminhada para 29° DP.
	(Fonte:  http://www.policiamilitar.rj.gov.br/noticia_operacionalidade_full.php?ver=2)
BIBLIOGRAFIA:
BURKE, Peter e PORTER, Roy (org). Línguas e jargões: contribuições para uma história social da linguagem. Tradução Álvaro Luiz Hattnher. 1 reimp. São Paulo : Fundação Editora da UNESP, 1997.
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Dicionário de linguística e gramática. 16 ed. Petrópolis : Vozes, 1986.
BURKE, P.; PORTER, R. (org.) Linguagem, indivíduo e sociedade: história social da linguagem. São Paulo: UNESP, 1993.
PRETI, D. A gíria e outros temas. São Paulo: Edusp, 1984.
NISKIER, A. Disponível em WWW.folha.uol.com.br
POSSENTI, S. Disponível em WWW.folha.uol.com.br
http://super.abril.com.br/blogs/oraculo/de-onde-surgiu-o-termo-x-9/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super).

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