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COMPOSIÇÃO DO GASTO

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Composição
	Em um contexto de crise e ajustamento fiscal, as discussões sobre o tamanho do ajuste fiscal despertou a necessidade de avaliar outras questões fundamentais, como a qualidade do gasto público e os desafios de longo prazo das finanças públicas. O tamanho total do gasto público no Brasil já apresenta um padrão elevado se comparado aos demais países, ficando restrita sua possibilidade de ampliação. A elevação do nível dos gastos públicos no país deve-se dar através da eficiência na aplicação do gasto público. Para estudar as finanças públicas, é necessário entender sua composição.
	De acordo com a classificação tradicional de Musgrave (1959), podemos agrupar as atribuições do governo em três funções: alocativa, estabilizadora e distributiva. 
Distributiva: medidas destinadas a minorar os desequilíbrios de renda e condições de vida entre indivíduos e regiões para níveis socialmente aceitáveis, por exemplo, os gastos com a rede de amparo social e cobertura de benefícios previdenciários por critérios universais, sem preexistência de contribuição por parte do beneficiário.
Estabilizadora: requer do governo ações tempestivas destinadas a controlar os efeitos dos choques econômicos sobre a renda e o consumo. Como usar o orçamento para assegurar um nível apropriado de emprego, estabilidade de preços e crescimento econômico.
Alocativa: engloba o fornecimento de bens e serviços que o setor privado é incapaz de fornecer em níveis satisfatórios na vigência exclusivamente dos mecanismos de mercado. Isso ocorre devido a falhas que o mercado privado apresenta, dentre as quais merece destaque a existência dos chamados bens públicos. A título de exemplo, enquadram-se nesta categoria os gastos com Defesa Nacional e Segurança Pública.
Há vários aspectos para serem analisados no tema finanças públicas. O autor Stiglitz propõe 4 questões fundamentais para análise do setor público:
Primeiro é preciso saber quais são as atividades que o setor público está envolvido e como ele está organizado para a provisão destes bens ou serviços;
Em seguida, entender as conseqüências da atuação dos governos nessas áreas;
Depois, analisa-se políticas alternativas as que são aplicadas atualmente
Por último, quais os interesses políticos envolvidos, interpretando o processo político para identificar quais grupos ganham ou perdem.
	A metodologia da abordagem orientada para políticas públicas, tem como macro-objetivo avaliar a qualidade do gasto público em toda sua extensão: eficiência, eficácia e efetividade. O gasto público tem função de promover crescimento econômico, distribuição de renda e o próprio financiamento público. Na análise, observa-se os agentes envolvidos (quem?) na política pública (público: federal, estadual e municipal; e privado: concentração de mercado, subsídios, funding), ou seja, quem presta o serviço. Depois, observa-se os problemas/sintomas, analisando os beneficiários, objetivos políticos, observando os indicadores técnicos setoriais e comparando com indicadores de desenvolvimento e comparativos internacionais de decisões alocativas, sugere-se também buscar dados técnicos para análise da eficiência e eficácia das políticas públicas. Faz-se, posteriormente, uma análise fiscal (como?), apenas a partir das finanças públicas é possível executar as políticas públicas, analisando-se a dotação orçamentária, principais programas e seu funcionamento, vinculações legais/ fundos, tendências de médio prazo e sua sustentabilidade e a realocação intra e intersetorial.
	“O Brasil é um dos países que ainda apresentam um dos piores indicadores de concentração de renda do mundo e há estudos indicando que o perfil do gasto público brasileiro não reduz de forma significativa a distribuição de renda do país (OECD, 2009)”ou seja, a despesa pública não é o suficiente para sanar necessidades da população.
A maneira para se avaliar essa questão é estudando o público-alvo dos principais programas de governo dessa área. É desejado que os programas de governo tenham caráter progressivo, ou seja, que os segmentos mais pobres da população sejam proporcionalmente mais beneficiados do que os mais ricos. Dessa forma, espera-se que o setor público exerça a função distributiva.
Recomendações, análise política e decisão: Para solucionar questões da ineficiência do gasto público, quanto à concentração de renda, podem-se identificar quatro tipos de mudanças/reformas para serem sugeridas ao setor:
Mudanças administrativas ou gerenciais: não há necessidade de reforma legal, as alterações podem ser feitas dentro da própria unidade governamental ou Ministério/Secretaria.
Mudanças de governo: é necessária a mobilização do chefe de governo (presidente, governador ou prefeito, dependendo de quem presta o serviço), por meio de um decreto contendo as mudanças/alterações sugeridas.
Mudanças legais: além da aprovação do executivo, necessita enviar o projeto de lei à aprovação do legislativo.
Mudanças constitucionais: reformas que necessitem de alteração do texto constitucional.
Quanto menor o nível de mudança, mais facilmente ela pode ser implementada.
	No Brasil, tal estrutura de classificação é composta por um conjunto de funções e subfunções . Estabelece 28 funções de governo que devem ser utilizadas para classificar o gasto público.
Quadro 1.1 – Classificação funcional do gasto público
01 – Legislativa 15 – Urbanismo
02 – Judiciária 16 – Habitação
03 – Essencial à Justiça 17 – Saneamento
04 – Administração 18 – Gestão Ambiental
05 – Defesa Nacional 19 – Ciência e Tecnologia
06 – Segurança Pública 20 – Agricultura
07 – Relações Exteriores 21 – Organização Agrária
08 – Assistência Social 22 – Indústria
09 – Previdência Social 23 – Comércio e Serviços
10 – Saúde 24 – Comunicações
11 – Trabalho 25 – Energia
12 – Educação 26 – Transporte
13 – Cultura 27 – Desporto e Lazer
14 – Direitos da Cidadania 28 – Encargos Especiais
 O perfil do gasto público no Brasil indica que 1/3 de todo o gasto público é destinado à previdência. Em seguida, têm-se educação (14%), saúde (11%) e despesas com a administração (6%), que referem-se aos gastos com a máquina pública. Os altos gastos com educação são compreensíveis, visto que a população brasileira ainda é relativamente jovem. Com o envelhecimento tendencial da população, os gastos com previdência e saúde tendem a crescer.
	O setor público consolidado executou despesas em torno de 33% do PIB, sendo que 11% desses gastos foram destinados à previdência social, 4,8% à educação e 3,8% à saúde.
	Cada nível de governo recebe um impacto maior em seu orçamento de acordo com a despesa executada. Quanto à União, é executado diretamente por ela 15,7%, quase metade do gasto total, suas principais áreas de atuação são a previdência (56,1%), assistência social (bolsa família), Defesa Nacional (determinado pela constituição) e Trabalho (seguro desemprego), quanto à educação, ele se responsabiliza em maior parte pelo ensino superior. Em relação às despesas estaduais, em primeiro lugar encontram-se as despesas com educação, concentrando-se na educação básica e no ensino médio, seguido pelos gastos com Previdência Social, já que os estados costumam ter seus próprios regimes de aposentadoria. Depois, têm-se saúde (gov. estadual ainda é responsável pelos grandes hospitais regionais) e segurança pública (polícia civil e militar). No governo municipal, os gastos com educação são os mais impacto no orçamento, tendo em vista que este ente é o responsável pela maioria das escolas de ensino infantil e fundamental do país, além das creches. A saúde vem em seguida, já que o Pacto pela Saúde, assinado em 2006, determina que os municípios sejam os responsáveis finais pela gestão da saúde. Em terceiro lugar vem os gastos com Administração.
	A União responde em maior medida pelos gastos com saúde, os estados respondem mais pela educação e o município é mais equilibrado entre saúde e educação, mas a educação ainda tem um maior peso. 
	Comparando-sea composição do gasto do Brasil com outros países da OCDE, com demografias mais velhas que a do país, vê-se que o Brasil está alocando excessivamente recursos a esta área, visto que a população brasileira ainda é relativamente jovem e o Brasil ainda goza de um bônus demográfico. Mas a situação tende a se alterar, pois com base em pesquisas do IBGE, a população brasileira tende a envelhecer, possuindo menos pessoas na população economicamente ativa, ampliando os gastos previdenciários.

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