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ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO CAPÍTULO 3 - COMO O ESTADO SE ORGANIZA PARA FUNCIONAR DE FORMA SATISFATÓRIA? Leila Giandoni Ollaik INICIAR Introdução O que é o Estado? Quem o representa? Você já parou para pensar como seria um governo sem pessoas? Mesmo que no futuro seja tudo automatizado, com computadores e robôs, eles serão construídos por pessoas. O governo se corporifica nas pessoas, algumas eleitas, outras contratadas. A gestão de pessoas é a área mais estratégica nas empesas e também no governo. Neste capítulo, estudaremos quais as ferramentas disponíveis para organizar a condução dos serviços vinculados à administração pública, começando pelas políticas de pessoal adotadas pelas esferas da administração pública (federal, distrital - referente ao Distrito Federal -, estadual e municipal), passando pela prática e ética na gestão pública, seu papel no desenvolvimento das pessoas e a importância dos princípios éticos na condução das atividades relacionadas à administração pública. Demonstraremos os danos causados à administração pública pela prática de desvios dos recursos públicos e demonstrar que a prática dos princípios éticos fortalece a imagem da administração pública diante da sociedade. Em seguida, trataremos das políticas fiscais e da gestão das despesas. Analisaremos o comportamento das políticas fiscais adotadas a partir do Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), demonstrando que os resultados delas podem contribuir para o crescimento econômico do país. Trataremos ainda das políticas públicas municipais, sua organização administrativa, seu planejamento e sua importância para o crescimento econômico. Analisaremos também o método de planejamento adotado na sua condução e demonstraremos os métodos administrativos utilizados na sua gestão. Desejamos que você tenha um excelente estudo. 3.1 Gestão de pessoas Quando pensamos em gestão, logo vem à mente práticas usadas para administrar, dirigir, gerenciar negócios, pessoas ou recursos, no sentido de atingir determinados objetivos. Antigamente identificada como recursos humanos, atualmente essa área lida com as questões relacionadas aos trabalhadores de uma instituição. Por que essa mudança de nome? Foi apenas um modismo? Na verdade, o enfoque é que foi mudado. Notou-se que não se pode fazer a gestão de pessoas apenas em um departamento de recursos humanos isolado, pois é uma questão extremamente estratégica e permeia toda a instituição. Nos governos, os maiores desafios são reter talentos, desenvolver as potencialidades e o comprometimento das pessoas com o trabalho, em conformidade com os ditames constitucionais e legais. A gestão de pessoas no setor público deve cultivar o comprometimento, a ética e a moral, desenvolvendo líderes e bons servidores. 3.1.1 Serviços públicos É diferente fazer gestão de pessoas em empresas privadas e nos governos? Sim, e podemos elencar as seguintes divergências: falência e/ou disputa: os trabalhadores do setor público não se preocupam com essas duas possibilidades, pois sabem que o “empregador” não sofrerá esse risco. Já os trabalhadores de uma empresa precisam fazer a coisa certa, porque se ninguém trabalhar bem, a empresa irá à falência e todos ficarão desempregados. A “falência impõe um limite para a magnitude das perdas” (DAMODARAN, 2008, p. 85) e da incompetência, tornando-se um mecanismo natural para que a gestão de pessoas tome providências sobre equipes ineficientes; incentivos para o bom desempenho: no governo, as estruturas salariais variam conforme as profissões, mas não podem alterar entre membros de uma mesma carreira. Por isso, aqui, não há como fazer distinções salariais para punir um mau funcionário ou promover um bom funcionário. No mercado competitivo privado, no entanto, há mais estímulos para quem tem melhor atuação; redução de tempo e serviço: tomemos, como exemplo, o departamento de trânsito. Ele precisa circular placas para os automóveis e leva um tempo para emitir cada uma, mas essas horas não são computadas na planilha de custos, a qual calcula apenas a mão de obra e a despesa com os salários dos servidores. Assim, em uma decisão para reduzir custos, corta-se a quantidade de servidores públicos (não se realiza novos concursos para repor os servidores que se aposentaram, por exemplo) e as filas e o tempo de espera aumentam. Se houvesse várias empresas prestando esse mesmo serviço, o tempo com certeza seria considerado e levaria a outra decisão; estabilidade: é o fator que mais atrai pessoas para o setor público. É necessário proteger o Estado de intervenções políticas desenfreadas, por isso a sua importância. Mas ela gera incentivos perversos ao bom desempenho, ou seja, aqueles “[...] criados por uma política que, na verdade, atuam contra os objetivos gerais dela” (FIELD; FIELD, 2014, p. 10); política de pessoas: no contexto de estrutura salarial rígida e estabilidade, ela fica ainda mais desafiadora e é pelo uso de suas boas ferramentas que o líder de uma equipe de servidores públicos conseguirá entregar bons resultados à sociedade. A política de pessoal adotada nos governos enfrenta, então, o desafio de lidar com atividades que são majoritariamente administrativas, sem uma definição muito clara sobre o que cada servidor deve fazer e entregar como produto de seu trabalho. Nesse tipo de atividade, não é tão simples observar os insumos e a produção de cada servidor público, nem há relação definida entre insumos e resultados do trabalho. Isso ocorre com os burocratas, tanto do setor público quanto do setor privado, pois é uma característica das atividades administrativas; lucro e gestão de pessoas: no setor privado, o lucro é o limite para uma má política de gestão de pessoas. No setor público, não há como medir o desempenho do empregador (logo, o sucesso da instituição). Como o resultado não é auferido de maneira objetiva, a performance é avaliada tendo como base os procedimentos e os processos. Assim, a gestão de pessoas se preocupa com o horário a ser cumprido (no ponto eletrônico/biométrico), a quantidade de processos abertos sob a responsabilidade de cada servidor, o prazo de resposta dos processos, a quantidade de faltas, entre outras. As esferas da administração pública utilizam o concurso público como forma de recrutamento de seus servidores, com salários definidos, estrutura de incentivos financeiros rígida e estabilidade no emprego. Dada a baixa reposição de servidores públicos que se aposentam ou se desligam, alguns governos ficam com poucos funcionários para executar as tarefas sob sua responsabilidade. Assim, contratam pessoas mediante contratos temporários ou os nomeiam sem vínculo com a administração pública em cargos de livre provimento e livre exoneração. VOCÊ SABIA? No poder Executivo Federal, há 278 carreiras. Uma ampla reforma federal na área de pessoal deveria buscar diminui-las ou unificá-las. Há superposição entre várias delas e segmentação de outras. Ficou curioso para saber mais? Acesse: <http://pep.planejamento.gov.br (http://pep.planejamento.gov.br)> (BRASIL, 2017a). Nos governos, há vários tipos de vínculos trabalhistas: alguns são recrutados por concurso público (de forma razoavelmente transparente e meritocrática), indicação política, contratos temporários, entre outros. 3.1.2 Desenvolvimento da gestão de pessoas Quais são os critérios adotados pela administração pública na valorização dos recursos humanos? A administração pública é alvo de críticas e muitas delas recaem no recrutamento por concurso público com posterior garantia da estabilidade ao servidor público. No entanto, há muitos outros elementos importantes para o desenvolvimento da gestão de pessoas. El Método (em português, O que você faria?) é um excelente filme no qual sete executivos disputam uma vaga. O longa mostra o que acontece quando os candidatos são deixados a sós em uma das salas da empresa para fazer os testes, sabendo que há um funcionário da firma infiltrado neles (PIÑEYRO; GIL, 2005). Os principais elementos de gestão de pessoas em organizações públicasenvolvem o planejamento de recursos humanos em seus diferentes níveis: estratégico, tático e operacional (OLIVEIRA, 2006). VOCÊ QUER VER? http://pep.planejamento.gov.br/ Estratégico e tático: há muita discussão que esses níveis deveriam ser exclusivos de servidores públicos concursados, embora seja muito comum a indicação política para os cargos mais altos e também os mais táticos. Operacional: diversas vezes se tentou eliminá-lo do concurso público e contratar as pessoas do mercado, pois não são atividades típicas de Estado e podem, assim, permitir mais flexibilidade na estrutura de incentivos financeiros e haver demissão sem correr o risco da intervenção política demasiada. Planejar quantos contratar, como recrutar (se por concurso público ou outra forma) e de que maneira fazê-lo (com ou sem prazo limite para o contrato, com ou sem estabilidade, ou tudo de livre nomeação e exoneração) são decisões importantes, cabendo ao gestor de pessoas tomá-las em nível estratégico e dar diretrizes claras para uma mínima padronização de critérios para todo o governo. VOCÊ SABIA? Em média, mulheres com faixa etária e grau de escolaridade iguais aos homens ganham 17% a menos para desenvolver as mesmas tarefas, só pelo fato de serem do sexo feminino (BRASIL, 2018a). Na administração pública, no entanto, o recrutamento por concurso público permite diminuir essa disparidade salarial entre homens e mulheres. Mesmo assim, ainda há pequena discrepância, pois o favorecimento aos homens predomina na indicação dos ocupantes de cargos comissionados. A análise dos processos de trabalho e o desenho de cargos, carreiras e remuneração de pessoas também é elemento importante na organização de recursos humanos (PANDOJA; CAMÕES; BERGUE, 2010). Não é possível nem eticamente aceito ter remunerações distintas para pessoas que desempenham exatamente as mesmas funções. Devido a processos de trabalho estarem em constante mudança por conta das novas tecnologias e inovações, fica difícil ter a clareza necessária para desenhar cargos, carreiras e definir remunerações de forma rígida. CASO No livro “Plano diretor da reforma do aparelho do Estado” (BRASIL, 2005) foi lançada a ideia de que apenas servidores com nível superior (graduação e pós – mestrado e doutorado) e atuando em funções típicas de Estado (aquelas sem similares no setor privado, como arrecadadores de impostos, analistas de orçamento público, analistas do Tesouro Nacional) deveriam ter estabilidade e ser contratados por concurso público. Os demais (professores, médicos, enfermeiros, contadores, economistas, especialistas em gás e petróleo, especialistas em agricultura ou qualquer área específica, mas similar no setor privado) deveriam ser contratados sem estabilidade, da mesma maneira que o mercado privado contrata. Seguiu- se uma política de muitos concursos para nível superior e nenhum para nível médio, acompanhada da reposição salarial para carreiras típicas de Estado e congelamento para as demais (BRASIL, 1995). Essas políticas foram revertidas a partir de 2003. Outro elemento é direcionar as pessoas, envolvendo aspectos culturais, de comunicação organizacional, processos de recrutamento, seleção e admissão na administração pública (PANDOJA; CAMÕES; BERGUE, 2010). Isso é o que chama mais atenção do grande público, embora seja apenas um elemento de um processo bem mais complexo. 3.2 Prática e ética na gestão pública Gestão de pessoas é fundamental em qualquer organização, mas os colaboradores em si são ainda mais fundamentais. Vimos que o servidor público não tem medo que seu empregador declare falência, como se fosse uma empresa, e na maioria das vezes ele conta com estabilidade no emprego, mas precisa ter em mente que seu real empregador não é o ministro, nem o governador ou o prefeito, mas sim os cidadãos. São os cidadãos que pagam seu salário todos os meses, por meio dos impostos. Refletir sobre o papel de servir ao público e ter cada cidadão como patrão é imprescindível. Portanto, a prática e a ética na gestão pública têm o poder de construir estados melhores e de melhorar a situação de toda a sociedade (BRASIL, 1994). 3.2.1 Ética na gestão pública Ética pode ser resumida como o conjunto de valores e princípios que servem de base par tudo que fazemos em nossas vidas, seja na esfera particular ou pública. É ela que determina nossa moral, nossa prática cotidiana, nossa conduta. Isso serve também para nossa postura no ambiente de trabalho. Temos dois tipos de servidor público: aquele que acredita o ministro ser o seu chefe – e que este pode mandar em tudo, sem crítica e sem filtros, até mesmo questões legais; aquele que reconhece ser a população seu chefe – a qual paga seu salário mediante os impostos (o governo recolhe essas taxas e com esse dinheiro faz muitas coisas, inclusive pagar o salário dos servidores públicos). Essa última categoria é o exemplo de princípio ético, moral, conduta cotidiana e prática diária que cada servidor público deve seguir (BRASIL, 2007). Esses funcionários são a personificação do Estado: dão braços, pernas, mãos e voz ao que chamamos de governo, sendo os implementadores da gestão da coisa pública. Isso significa que, quando estão agindo em nome do Estado, precisam agir de acordo com um conjunto definido de princípios e regras constitucionais e administrativas: mesmo que eles acreditem, pessoalmente, que as leis seriam um instrumento de dominação da elite dominante sobre os mais pobres, são obrigados a respeitá-las (no máximo, podem trabalhar no sentido de pressões parlamentares para uma eventual mudança legal, mas não podem descumpri-las); como expressão personificada do Estado, eles precisam abdicar de suas convicções, crenças e paixões para agir conforme as regras, sempre orientados para o interesse público. Por exemplo, um médico em um hospital público tem como obrigação atender todos os cidadãos da mesma maneira, sem privilégios e de forma impessoal, mesmo que a pessoa seja alguém que o profissional deteste ou se for um adorado amigo. O professor de uma escola pública tem que ensinar o que consta no currículo, inclusive o capítulo sobre igualdade de gênero, ainda que o docente seja de alguma religião que subjugue a mulher na sociedade; a ética profissional vai além de saber se comportar em prol do bem público, mesmo quando tem a oportunidade de aferir benefícios próprios. Recentemente, no Brasil, vimos inúmeras descobertas e divulgações de grandes casos de corrupção. São pessoas sem ética pública, que na primeira oportunidade de atingirem benefícios próprios cometem até atos ilícitos, não se importando com o impacto na vida de milhões de cidadãos de quem esses recursos foram, em último caso, roubados (BRASIL, 2007); o servidor público que não cumpre seu horário de trabalho, o gestor de contratos que exige ganhar por fora e outras situações estão tendo conduta imoral e antiética, além de crimes. No entanto, há condutas que são imorais e antiéticas, mas não são ilegais (como, por exemplo, o auxílio-moradia para juízes); para casos imorais, antiéticos e ilegais, busca-se a punição. Há um grande esforço na administração pública para fortalecer mecanismos de controle e definir a correta responsabilização dos gestores. Apesar das camadas de controles, há muita ilegalidade. Os servidores que atuam dentro da legalidade, da moral e da ética sofrem com tantos controles, e estes são custosos, mobilizam pessoas e gastam tempo (que poderia estar sendo investido em implementação de políticas finalísticas e melhores resultados para a sociedade). O melhor caminho seria o da ética cidadã, pessoal e individual do cotidiano e de cada servidor público para construirmos uma sociedade mais justa. 3.2.2 Papel da ética no desenvolvimento das pessoas O desenvolvimento de pessoas obtém bons resultados quando elas são éticas. A ética está em cada pequena ação. Se, por exemplo, você é um chefe e prefere convocar homens a mulheres para evitar uma possível licença-maternidade em algum membro de sua equipe, essa escolha carece de fundamentaçãoética, pois a contratação deve ser baseada em conhecimentos, habilidades e atitudes, nunca em aparência ou gênero. Se você como chefe reforça o preconceito que há na sociedade, está compactuando com ele e até reforçando-o. Muitas pessoas argumentam que não há machismo na sociedade e que isso seria uma pauta inventada. No entanto, é possível mensurá-lo de tão concreto e, inclusive, apurá-lo em forma de diferenças salariais. Estas, com base simplesmente no sexo (masculino ou feminino), existem de fato e são grandes tanto no setor privado quanto no setor público (na escolha da ocupação dos cargos comissionados). Para você conhecer melhor as disparidades salariais, recomendamos o livro “As novas fronteiras da desigualdade - homens e mulheres no mercado de trabalho” (HIRATA; MARUANI, 2003). Claro que pequenos desvios éticos não causam impacto tão visível quanto os grandes. Usualmente, aqueles que mais chamam atenção são relacionados à prática de desvios de recursos públicos, mas cada pequeno desvio ético também tem impactos: sonegar impostos, solicitar/aceitar consultas médicas sem nota fiscal (o médico deixa de pagar a taxa), furar fila, comprar bens cuja origem provável é o crime (DVD pirata, eletrônicos de segunda mão sem comprovante), ter carteira de estudante sem sê-lo de fato (falsidade ideológica e evasão fiscal) são todas ações antiéticas e corroboram para a corrupção. A corrupção tem suas origens também na origem e no desenvolvimento da cultura política nacional (GUIZZO NETO, 2008), mas o pensamento de que “todo mundo faz” não torna o ato correto. Para suscitar uma reflexão abrangente sobre a corrupção, primeiro passou para seu enfrentamento efetivo o Programa Nacional de Prevenção Primária à Corrupção (PNPPC). O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) lançou uma campanha intitulada #TODOSJUNTOSCONTRACORRUPÇÃO” (BRASIL, 2017b), cuja intenção é fazer com que cada cidadão esteja atento e seja ativo no combate à corrupção. “Esperto mesmo é ser honesto!” é a ideia que está expressa na campanha. VOCÊ QUER LER? VOCÊ QUER LER? A corrupção é um grande e importante problema de ação coletiva. Os indivíduos têm a tendência de garantir e priorizar seus interesses individuais frente ao ganho coletivo. Inicialmente há um ganho individual, mas há uma perda geral para toda a sociedade, afetando todos os indivíduos com muito mais intensidade do que o ganho inicial percebido. A ideia que o combate à corrupção depende da ação de cada um de nós se espelha na ideia da célebre frase “Seja você a mudança que você quer ver no mundo”, de Mahatma Gandhi (1869-1948). Gandhi idealizou e fundou o Estado indiano, tornando-o independente da Inglaterra. Pacifista, defendeu o princípio da não agressão, o protesto sem uso da violência, inspirou outros pacificadores ao redor do mundo e foi um grande líder político e espiritual. A corrupção degrada, embora esteja em nós desde o princípio, na nossa formação humana de liberdade. Desde bebês, aprendemos mecanismos pelos quais conseguimos benefícios individuais por meios questionáveis (chorar para conseguir atenção da mãe, por exemplo). É preciso, por meio da educação, corrigir esse comportamento tão humano e natural explicitando que o mal que decorre do benefício inicial imediato obtido por meios não éticos é muito maior e superior do que esse benefício inicial, inclusive para o próprio indivíduo. As instituições mais sólidas, as plataformas digitais de transparência e as redes sociais facilitam evidenciar as corrupções e são fortes instrumentos para diminuir sua frequência. Mas a mudança está em cada um de nós, com a ética e o combate à corrupção. Não há corrupto sem corruptores e, se deixarmos de agir como pequenos corruptores, demos o primeiro passo. VOCÊ O CONHECE? Deslize sobre a imagem para Zoom Em 2014, teve início no Brasil a maior operação de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro no país, que recebeu o nome de Operação Lava Jato, e continua até atualmente (março de 2018). Embora polêmica, acusada de viés ideológico (mesmo tendo prendido políticos de diversos partidos e posições ideológicas até opostas), essa operação é “a maior restituição da história da justiça criminal brasileira” (MPF, 2017, p. 1). Figura 1 - Alguns exemplos do material de divulgação da campanha #TODOSJUNTOSCONTRACORRUPÇÃO. Fonte: BRASIL, 2017b. A Operação Lava Jato já devolveu aos cofres públicos R$ 1,5 bilhão, o qual havia sido subtraído por corrupção. Esse montante é maior do que todo o orçamento destinado ao urbanismo e às comunicações, conforme consta na proposta do orçamento federal: para a área de urbanismo, foi previsto um orçamento de R$ 1,2 bilhão e para a de comunicações, R$ 1,3 bilhão (BRASIL, 2017c). Ou seja, se não fosse a corrupção, poderíamos ter o dobro de investimento na área de urbanismo ou na de comunicações – mas isso se pensarmos apenas nos valores já efetivamente devolvidos. As operações financeiras sendo investigadas na Operação Lava Jato já somam trilhões de reais. O orçamento federal para 2018 foi proposto no montante de R$ 3,5 trilhões (BRASIL, 2018b), sendo que somente a Previdência Social consome R$ 700 bilhões por ano. A partir desses números, podemos ter ideia dos danos causados à administração pública pela prática de desvios dos recursos públicos. É preciso a prática dos princípios éticos para fortalecer a imagem da administração pública diante da sociedade e atingir melhores resultados com menos impostos e sacrifícios da população. Figura 2 - O custo da corrupção no Brasil: dinheiro de corrupção desviado de investimentos em escolas. Fonte: Shutterstock, 2018. 3.3 Políticas fiscais Como você organiza suas receitas (salário) e suas despesas (luz, água, supermercado, passeios)? Você se permite gastar mais do que ganha ou só o faz quando o dinheiro já está na sua conta? Você separa uma pequena parte da receita para gastos futuros, poupando, ou gasta tudo o que recebe (ou até mesmo mais)? Deslize sobre a imagem para Zoom Há pessoas que só gastam depois de receber efetivamente a receita (o salário, por exemplo). Há aquelas que fazem questão de poupar, mesmo que seja R$ 10,00 por mês, para se prevenir de algum imprevisto no futuro. Tem quem gaste mais do que recebe e assim termina por gastar mais com juros. E os governos? Como escolhem se comportar? Políticas fiscais são a forma como o governo usa suas receitas para efetuar seus gastos. As receitas são majoritariamente originárias dos tributos (impostos, taxas e contribuições). Os gastos são as despesas necessárias para a ação do Estado, com pessoal, investimentos, serviços administrativos para implementação de políticas públicas etc. VOCÊ SABIA? Quanto dinheiro o Governo Federal gasta anualmente? O orçamento proposto para o ano de 2018 é de R$ 3,5 trilhões e ele cresce ano a ano. Para termos uma ideia, a execução orçamentária do Ministério de Orçamento e Gestão em 2005 foi de R$ 219.607.443,29. Dez anos depois, em 2015, já estava em R$ 2.652.433.345,63, ou seja, mais do que dez vezes (BRASIL, 2018c). O governo, assim como as pessoas, também pode escolher gastar tudo, mais ou menos do que arrecada. Essas escolhas refletem distintas políticas fiscais, que sempre são alvo de calorosos debates. Resumidamente, a política fiscal pode ser de dois tipos: expansionista: é utilizada, de forma limitada, para estimular o crescimento econômico, sair de recessões, aliviar a fase contracionista do ciclo econômico. Aqui, o governo escolhe gastar mais, arrecadar menos (reduzir impostos) ou fazer ambos ao mesmo tempo, se for possível. Seu objetivo é deixar mais dinheiro nas mãos dos consumidores, para que comprem e aqueçam a economia. Adquirindo mais, há mais demanda, empresários começam a produzir mais e contratam mais, gerando mais empregos; contracionista: raramente é utilizada e visa diminuir o crescimento econômico. Você pode se perguntar: por que alguém quer diminuir o crescimento econômico? Simples: para frear a inflação. Isso porque, em longo prazo, a inflação destrói seu padrão devida tanto quanto ou até mais que recessões. Aqui, o governo corta despesas e aumenta os impostos (ou faz ambos ao mesmo tempo, se for possível). É possível imaginar que algum dia haverá apoio popular para esse tipo de política? Você pode imaginar o quão impopular é essa política, pois o Banco Central altera a oferta de moeda, mediante alteração da taxa básica de juros, que afeta toda a economia. Assim, quando as taxas de juros são altas, há contração monetária; quando elas são baixas, há expansão monetária e se sai mais rápido de recessões. Voltando à política fiscal, o primeiro instrumento são os impostos: aumentá-lo ou reduzi-los, podendo ser sobre propriedade (no Brasil, o Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU), sobre as vendas (no Brasil, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS), sobre a herança (inexistente no Brasil), sobre a renda (no Brasil, o IR – Imposto de Renda), sobre os ganhos de capital decorrente dos investimentos etc. Como já vimos, os impostos pagos pelos cidadãos são a renda dos governos. Quem paga impostos dispõe de menos renda para gastar, por isso ninguém gosta de pagá-los, mas são eles que financiam os gastos públicos (para haver hospitais públicos, escolas públicas, rodovias, segurança pública etc.). O segundo instrumento da política fiscal é o gasto governamental. Veremos as políticas fiscais para a gestão de gastos e o seu comportamento no Brasil. 3.3.1 Gestão de receitas e despesas A gestão de gastos é um instrumento da política fiscal, pois o nível de gasto pode ser manipulado pelo governo, seja para fazer políticas fiscais expansionistas (aumentar o gasto público) ou contracionistas (diminuir o gasto público). O gasto inclui subsídios (por exemplo, o subsídio do preço do álcool combustível e das casas do Programa Minha Casa Minha Vida para famílias de baixa renda) e também transferências para programas sociais (assistência social, previdência rural, Bolsa Família), gastos com projetos públicos (pontes, construção de infraestrutura), gastos com pagamento de servidores públicos (salário), entre outros. Há cada vez menos espaço para escolhas governamentais sobre onde gastar. Ou seja, há cada vez menos despesas discricionárias, porque cada vez mais o orçamento público fica comprometido com despesas fixas. Por exemplo, em decorrência dos avanços urbanísticos, há menos cidades sem saneamento adequado; porém, com os avanços da tecnologia e da medicina, há mais cura para um maior número de doenças. Assim, a população vive mais, tem mais longevidade e ganha um aumento na expectativa de vida. Portanto, os custos com assistência médica e com previdência cresceram enormemente. Isso ocorreu com todos os governos de todo o mundo: a expectativa de vida global e os gastos de todos os governos com Previdência Social subiram; o orçamento público ficou mais comprometido, havendo menos dinheiro para gastar em investimentos ou outros programas sociais, o que gerou uma recessão. Para ter mais dinheiro disponível para gastar, é preciso aumentar impostos (ou fazer reformas na previdência, mudar as regras, para diminuir os gastos, apesar do aumento na expectativa de vida). Mas, com o gasto discricionário, é possível o governo fazer escolhas que impactam a economia, mesmo com os gastos fixos: propor alteração nas regras da Previdência Social para ter gastos menores, poder escolher o nível de endividamento que achar prudente e usar empréstimos e financiamentos internacionais para aumentar seus gastos sem mexer nos gastos fixos são algumas delas. Com esses exemplos, podemos perceber a importância das políticas fiscais para a administração pública e para toda a sociedade. 3.3.2 Comportamento das políticas fiscais adotadas no Brasil Qual foi o comportamento das políticas fiscais adotadas no Brasil a partir do Governo FHC (de 1995 a 2002)? Elas tinham por objetivo o que usualmente os governos têm por objetivo: promover o crescimento econômico, mas mantendo a inflação em níveis baixos. Naquele período, a inflação era a principal vilã da qualidade de vida da população brasileira. Vivendo sob alta inflação, cada cidadão vê sua qualidade de vida cair dia a dia e seu poder de compra se deteriorar a cada minuto. Inflação alta é tão ou mais perversa do que uma grave recessão. O Plano Real, implantado em 1994, tinha alcançado magníficos resultados em controlar a altíssima inflação, e o governo estava com superávit. Assim, podemos dividir a política fiscal desse momento em dois grandes subperíodos: 1995-1998: o superávit primário foi subitamente corroído; 1999-2002: um forte ajuste fiscal foi implementado, com queda na taxa de juros real, em decorrência da forte desvalorização do real ocorrida no início de 1999 (GIAMBIAGI, 2002). Aqui aconteceram: imposição de limites ao endividamento de estados e municípios (que resultou, inclusive, na criação da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF no ano 2000); privatizações; mudanças que afetaram a Previdência Social (como o fator previdenciário, criado em 1999); reforma do sistema financeiro. A política fiscal após 1998 foi pela receita, e o gasto público total em termos reais (ou seja, corrigido pela inflação) não foi aumentado. Nos anos do Governo Lula (2003-2010), a política fiscal foi expansionista apenas do lado da despesa, com mais gastos governamentais, mas sem reduzir nem reorganizar a carga tributária ou outras receitas governamentais. Optou-se pela inclusão pelo consumo (fazer mais gente consumir e quem já consumia consumir mais), uma estratégia que tem um limite de crescimento (diferentemente do crescimento pela inclusão social, que é mais lento e só tem efeitos no longo prazo). O gasto governamental já estava em seu limite no primeiro mandato e começo do segundo mandato do Governo Dilma e seu vice Michel Temer (2011-2015). Em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff e a assunção das responsabilidades pelas políticas pelo seu vice eleito, o governo mudou o discurso e tentou implantar uma política fiscal contracionista, com redução dos gastos públicos e tentativa de aumento de impostos (COELHO; ALMEIDA, 2016). Quando a política fiscal é expansionista, há o risco de um excessivo endividamento. Recomenda-se um limite considerado razoável para a dívida: no máximo 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Um nível de endividamento acima de 50% apresenta risco de instabilidade ao país de não conseguir pagá-lo. Essa evolução da dívida pública como porcentagem do PIB mostra o grau de endividamento do governo (BOECHAT, 2012). Veja na figura a seguir como ela aconteceu no Brasil, entre os anos de 2006 e 2007. Os resultados de políticas fiscais expansionistas podem contribuir diretamente para o crescimento econômico do país. Cortar impostos (ou seja, reduzir as receitas do governo) e/ou aumentar despesas governamentais têm o efeito de deixar mais dinheiro nas mãos dos cidadãos. A decisão esperada é que eles passem a consumir mais, mexendo com a economia. No entanto, a maior circulação de moeda gera inflação, o que corrói o poder de compra talvez mais até do que em uma falta de crescimento econômico. Figura 3 - Dívida pública brasileira como porcentagem do PIB, entre 2006 e 2017. Fonte: Elaborada pela autora, 2018, baseado em BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2018. 3.4 Políticas públicas municipais Seria possível para municípios optar por políticas fiscais expansionistas? Os municípios não podem escolher arrecadar mais (aumentar impostos) ou reduzir gastos com tanta discricionariedade quanto o Governo Federal. É praticamente Deslize sobre a imagem para Zoom uma impossibilidade, pois decorre de imposições legais para um orçamento equilibrado, com responsabilidade fiscal. A não ser que o governo municipal seja superavitário, esteja com muito dinheiro em caixa, ele terá que reduzir despesas para encaixar na receita reduzida decorrente de tempos de recessão. No Governo FHC, houve limitações ao regime fiscal de estados e municípios, segundo Giambiagi (2002): foram fechadas diversas fontes de aumento de gastos; aconteceu aprivatização da maioria dos bancos estaduais e, assim, acabou a opção de financiamento dos tesouros estaduais; houve restrição rígida às Antecipações de Recursos Orçamentários (AROs) – endividamentos estaduais e municipais junto ao sistema financeiro; limitou-se a emissão dos “precatórios” (títulos para pagamento de decisões judiciais, sem muito controle); renegociaram-se as dívidas estaduais e municipais, com a condição de que, se não pagassem, o Governo Federal teria poderes legais para reter as transferências constitucionais e até mesmo parte do ICMS; foi aprovada a LRF que, entre outras atribuições, estabeleceu teto para despesas com pessoal. Nos Governos Lula e Dilma, essas limitações foram, aos poucos, sendo esgarçadas – o que fez com que estados e municípios voltassem a se endividar, até chegar a absurdos como professores de governos estaduais e municipais com salários atrasados por vários meses. Municípios e estados foram obrigados a pedir ajuda financeira ao Governo Federal e vários outros ajustes passam a ser necessários para viabilizar essa ajuda emergencial. Por tudo isso, é enorme a importância dada às políticas fiscais municipais para o crescimento econômico. 3.4.1 Organização administrativa O Brasil tem mais de cinco mil municípios. Você sabe como eles se organizam? Você acha que a organização administrativa é igual em todos eles? A organização administrativa do governo municipal varia bastante, com grande diversidade de estruturas. O município tem, de acordo com a Constituição (BRASIL, 1988), autonomia política (o prefeito é eleito por voto direto) e administrativa (pode escolher sua estrutura governamental, pode decidir quantas e quais secretarias municipais terá e a organização dos temas nas diversas pastas). Os municípios também têm temas que dizem respeito a três poderes distintos: Executivo, Legislativo e Judiciário, no entanto, não há um órgão representativo do poder Judiciário no nível municipal – os temas que o afetam são encaminhados às instituições do judiciário estadual e/ou federal, ou seja, suas atribuições são indelegáveis, mas o governo municipal atua por meio dos seus dois poderes: o Executivo e o Legislativo. A Constituição também determina competências comuns aos entes federados (União, estados, DF e municípios), que são chamadas de competências concorrentes, além de suas competências exclusivas (BRASIL, 1988). O art. 30 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) define o que compete aos governos municipais: Figura 4 - Exemplo de organograma de uma prefeitura. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE ITANHOMI, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom A competência de organizar e prestar os serviços públicos de interesse local é abrangente e genérica, incluindo limpeza pública, fornecimento de água, redes de esgotos, iluminação pública, serviços de saúde, educação fundamental, transporte coletivo, assistência social e execução de obras de infraestrutura urbana em geral. Para tanto, os municípios contam com o apoio dos governos federal e estadual, seja no sentido de instrumentos legais, seja no aspecto de aporte financeiro. 3.4.2 Planejamento municipal O chefe do poder Executivo, eleito por voto direto para ser o prefeito, comanda e coordena os serviços, auxiliado por seus secretários e toda a equipe de servidores da prefeitura, tanto na administração direta (centralizada) quanto na indireta (descentralizada). Para facilitar a administração local, os governos municipais podem subdividir seus territórios em distritos, subdistritos ou subprefeituras, mas essa divisão é meramente administrativa, sem autonomia política nem financeira. Seus dirigentes são nomeados pelo prefeito e ficam a ele subordinados. Figura 5 - Competência constitucional dos governos municipais. Fonte: BRASIL, 1988. Deslize sobre a imagem para Zoom VOCÊ SABIA? Os municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Petrópolis, Campinas e Salvador têm subprefeituras (ZMITROWICZ; BISCARO; MARINS, 2013). No Distrito Federal, a divisão do território é feita por regiões administrativas, sendo 31 atualmente e em uma delas funciona o Governo Federal na capital do Brasil: Brasília. O método de planejamento adotado pelos governos municipais na condução das políticas fiscais municipais tem que considerar suas restrições legais e competências. A Lei n. 10.257/2001, conhecida como Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), prevê a gestão democrática no planejamento das cidades, que deve cooperar para elaborar os instrumentos de planejamento municipais: o plano diretor, o plano plurianual e a lei de diretrizes orçamentárias. Cada município deve normatizar e determinar prazos para elaboração desses instrumentos de planejamento. O planejamento municipal deve ter como balizador as receitas do município, ou seja, conter um conjunto de programas, projetos e ações para que suas despesas sejam implementadas e “caibam” (ou estejam dentro) no limite da receita municipal. Essas receitas são oriundas de fontes próprias, das transferências feitas pela União e pelo Estado e dos empréstimos e financiamentos. As fontes próprias são: arrecadação de tributos de competência municipal e rendas locais sobre o uso de bens ou serviços prestados mediante pagamento. Os tributos são: impostos, taxas e contribuições (NASCIMENTO, 2008), arrecadados em benefício de toda a sociedade. Aqueles que têm caráter municipal são: Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU); Imposto sobre Serviços (ISS); Imposto sobre a Venda a Varejo de Combustíveis Líquidos e Gasosos (IVVC); Imposto sobre Tramitação de Bens Imóveis (ITBI). As taxas são em relação a um serviço ou a uma atividade pública específica, como: licenciamento para funcionamento de atividades, expedição de documentos, coleta de lixo, iluminação e limpeza pública. As contribuições são em relação à valorização de uma propriedade ou de uma categoria. Aquelas que sejam de melhoria incidem sobre proprietários que tiveram seus imóveis valorizados por alguma obra pública (pavimentação, saneamento). A Figura 6 - Fontes de receitas de governos municipais. Fonte: Elaborada pela autora, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom contribuição social é cobrada de servidores públicos, por ser categoria que se beneficia de sistemas de previdência próprios. Além dos tributos, os municípios podem auferir receita de preços, como tarifas (de transporte coletivo, de energia elétrica, de gás) e também pedágio (preço cobrado pela utilização de um sistema viário). Esses preços só podem ser cobrados se houver alternativa, isto é, se o cidadão puder optar por comprar do governo municipal ou de outro ente ou não fizer uso daquele bem ou serviço. O município também pode auferir receita a partir de aplicações financeiras (receita patrimonial) e de multas daqueles cidadãos que não pagaram seus tributos em dia (dívida ativa tributária). Os recursos de transferências feitas pela União e pelo Estado são impostos partilhados, que os arrecadam e repassam uma parte para os municípios. Isso ocorre com o Imposto de Renda (IR), o Imposto Territorial Rural (ITR), o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Fundo de Participação de Municípios (FPM), que muitas vezes compõem a parte majoritária da receita dos governos municipais (BOECHAT, 2012). Por último, há fonte de receitas de empréstimos e financiamentos, mas há limites de endividamento para governos municipais. Empréstimos devem ter autorização da Câmara de Vereadores e do Senado. Os financiamentos são provenientes de fundos e instituições financeiras federais ou estaduais. Com essas receitas, o governo municipal se organiza para efetuar todas as despesas necessárias para fornecer bens e serviços à população local, quem deve fiscalizar se o governo municipal está gastando bem essas receitas e acionar os órgãos de controle e até mesmo a mídia quando verificar o mau uso do seu dinheiro. Todos precisamos fiscalizar, para que o governo municipal funcionebem e proporcione à população local uma boa qualidade de vida. Os métodos administrativos utilizados na gestão das políticas fiscais municipais são os mesmos: controlar despesas e receitas. Uma política fiscal expansionista em um governo municipal fica condicionada ao aumento de gastos, não tendo muito espaço discricionário para diminuição de receitas, considerando as determinações legais. Mesmo o aumento de gastos fica condicionado à LRF, com limites de endividamento. Uma política fiscal contracionista também teria limitações no lado da receita, pois não seria possível aumentar tributações. Do lado das despesas, o município pode restringi-las, mas sempre respeitando os limites de gasto constitucionais, principalmente com educação e saúde. Síntese Você concluiu os estudos sobre a organização do Estado em relação aos recursos humanos e à política fiscal. Com essa discussão, esperamos que você se sinta competente para compreender as especificidades da gestão de pessoas no setor público, as alternativas de políticas fiscais existentes e a organização de um governo municipal. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: compreender as especificidades da gestão de pessoas no setor público e a importância de bem planejar, organizar e dirigir a equipe; reconhecer a importância de atitudes éticas e que a prática ética se dá no cotidiano e na análise do impacto da corrupção na vida coletiva; entender as políticas fiscais expansionistas e contracionistas e analisar a política fiscal na história do Brasil; compreender o planejamento e a organização nos governos municipais. Bibliografia BANCO CENTRAL DO BRASIL. Série histórica da dívida líquida e bruta do governo geral. Brasília, 2018. BOECHAT, A. M. F. Economia do setor público e contabilidade social. Londrina: Educacional, 2012. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Casa Civil, 1988. art. 30. 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