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EUGENE BOYLAN A DIFICULDADE DE ORAR EDITORIAL ASTER LISBOA http://alexandriacatolica.blogspot.com.br A D I F I C U L DAD E D E ORAR EUGENE BOYLAN, neste livro, dirige-se sobretudo àquelas pessoas que encontram dificuldades nos métodos usuais de meditação. Fala de oração àquelas almas que sentem a necessidade de falar com Deus, porque sabem que é Pai, e dá-nos uma lição prorunda e simples: sendo a oração absolutamente necessária para a vida cristã, não pode estar obrigatoriamente ligada a processos compli �dos, diriceis para a mentalidade normal. A oração tem de ser natural e constante, como a respiração para a vida rlsica. O autor dirige-se, portanto, a todos os cristãos, mostrando-nos como a todos é aces sfvel a oração - tanto ao religioso arastado do mundo, como ao sacerdote secular, ou ao simples cristão na sua vida corrente -, porque a oração é afinal o resultado da ami zade que se possuir com Deus, sendo, ao mesmo tempo, causa duma progressiva inti midade com Ele. ' p R E F A c I o H á um processo para imprimir desenhos a cores que requer a elaboração de chapas separadas para cada cor elementar que compõe o desenho. As impressões de cada uma destas chapas são sobrepostas umas às outras e, se a intensidade relativa de cada cor é correcta, o resultado é bastante natural. Se, no entanto, qual quer dos tons é demasiado fraco, então haverá um defeito correspondente na reprodução final da cor autêntica, que pode talvez corrigir-se com uma impres são suplementar do elemento enfraquecido. Ora a finalidade destas páginas é algo parecido com essa impressão suplementar. Não é que a apresen tação corrente da oração mental seja defeituosa, mas a ideia que muitas almas receberam da oração mental precisa de ser reforçada em algumas «cores». Esta finalidade expiica a extensão Irregular em certas maté rias, que o leitor notará nestas páginas. O assunto da meditação metódica é apenas esboçado, já que há tantos livros excelentes que a tratam elft pormenor. Além disso, as almas a quem este livro é primeiramente dedicado, são aquelas que não conseguem aproveitar com os métodos usuais de meditação, e também aquelas que em tempos foram capazes de meditar, mas que agora acham que se lhes tornou impossível fazê-lo. 9 PREFÁCIO Para enquadrar esta impressão suplementar no quadro geral da oração esboçou-se pelo menos o assunto na generalidade, abordando-se mais largamente algu mas faces que parece necessitarem de um tratamento mais minucioso. Mas há outro motivo para que insis tíssemos em incluir uma análise de estados de oração como aquela a que chamamos a oração de fé, e para que peçamos ao leitor, seja qual for a sua posição na escada da oração, que leia a obra toda. Diga-se o que se disser àcerca da lei geral do desenvolvimento da oração, quando se observa e se tira a média entre um grande número de almas diferentes, a maior parte dos indivíduos acha que a sua trajectória de progresso é extremamente sinuosa e revela variações rápidas e amplas. Parece, portanto, que, excepto talvez mesmo ao principio, uma familiarização com a natureza e a técnica de todos os estados de oração é não só vantajosa em qualquer estado, mas até necessária em todos eles. Esta obra, apesar do título, não é uma análise cien tífica ou um catálogo classificado das várias dificul dades que podem surgir na oração, como uma solução prática completa para cada um, colocada no lugar devido. O seu objectivo é, antes, discutir a natureza e os modos de oração, não com objectividade cienti- lO PREfÁCIO fica, mas do ponto de vista individual, encarando-a como ela aparece a cada um. Deste modo espera-se colocar a alma em cpndições de lutar com a maior parte das suas dificullades. Além disso, o objectivo principal não é tanto instruir o leitor como animá-lo a insistir na oração e levá-lo a procurar novos esclareci mentos nos trabalhos de penas mais competentes. Por isso é que o tratamento do assunto é tão conden sado; e tanto é assim que será necessária uma segunda leitura para extrair dele tudo quanto tentámos dizer. Esta segunda leitura é ainda mais aconselhável pelo facto de que os capítulos iniciais serão mais fàcilmente entendidos à luz dos seguintes. Por ser ponto tão bem tratado em muUas outras obras, supõe-se que o leitor tem consciência da neces sidade da oração mental. Um cristão que não ora, é como um homem que nem pensa nem quer �·um sim ples animal na vida espiritual. A busca da perfeição é completamente impossível sem a oração mental que pode, é claro, fazer-se com bastante inconsciência. De facto, pode dizer-se que se um homem não ora, não pode salvar a sua alma. E nem mesmo nos é lícito pensar que os próprios leigos estão, pela sua vida, excluídos de aspirar a um 11 PREFÁCIO progresso na oração como o que se indica neste livro. Qualquer pessoa que esteja preparada para servir a Deus com boa vontade e dedique diàriamente tempo bastante à leitura espiritual e à oração pode com fun damento esperar crescer em amizade com Deus, isto é, progredir na oração. As dificuldades dos leigos na vida interior requerem uma análise mais detalhada do que se pode fazer neste livro, mas não são insuperáveis e não podem impedir que nenhum leigo de boa vontade tenha uma vida interior de oração mesmo no mundo. Somos, além disso, completamente contrários à teo ria de que não há nenhum estado de oração entre a meditação metódica ordinária e a contemplação pas siva. Como, segundo esperamos, se tornará evidente nestas páginas, a oração parece-nos ser o resultado de uma progressiva intimidade e amizade com Deus. Se a oração não pode progredir, então tão-pouco pode progredir a amizade. Este ponto é de grande importância prática, porque as falsas noções a este respeito podem fazer com que a alma perca todas as esperanças de alcançar a união com Deus. Ao longo do que se segue, tentaremos mostrar como esta união pode ser procurada e encon trada por uma intimidade sempre crescente com Jesus 12 PREFÁCIO na oração e no trabalho. Isto conduz a encarar cada exercício da vida religiosa como um ponto de encon tro onde o cristão tem a certeza, não só de achar Jesus, mas também de poder e.f_tar unido com Ele. Notar-se-á ainda que se evitou, em grande parte, dividir a oração em estados de desenho e recorte nítidos. As definições, quando de todo se dão, são frequente mente amplas e algumas vezes vagas. Isto, no entanto é propositado. Não vale a pena querermos ser mais precisos nem mais rigorosos nas nossas noções do que o é a própria realidade da oração. Ora a oração, em especial do ponto de vista individual, pode muitas vezes ser muito imprecisa e inclassificável. E ainda mesmo se existe uma escada de oração bem marcada para cada individuo, não é de modo algum necessário, pelo menos como regra geral, saber em que degrau se encontra. O importante é evitar parar, e subir sempre. O facto de a mesma dificuldade reaparecer com fre quência em diferentes estados do progresso na oração, e de o mesmo principio ter muitas aplicações ao longo da vida espiritual conduziu a algumas repetições no texto. Num livro escrito para ir ao encontro das neces sidades de almas isoladas e que foca o seu assunto de diferentes pontos de vista e tenta tratar os muitos mal 13 PREFÁCIO entendidos e noções erradas com que se pode topar, tal repetição parece justificada e será, segundo cremos, perdoada de bom grado. Não nos desculpamos de fazer o que só pode ser uma tentativa imperfeita na difícil tarefa de esboçar a dou trina de S. Paulo sobre a habitação das pessoas divi nas na alma baptizada e a incorporação da alma em Cristo. Esta doutrina foi o alicerce do ensinamento doapóstolo. É ainda um fundamento sem rival para uma vida de oração, parecia-nos que é não só o melhor encorajamento para ela, mas também o mais seguro apoio para a esperança de levá-la a bom termo. Em particular, o próprio S. Paulo dá testemunho de que o Espírito Santo auxilia a incapacidade da nossa oração, e muitos teólogos vêe11J uma estreita relação entre a operação dos dons do Espírito Santo e o desenvolvi mento da oração. O facto da busca da oração implicar a busca da san tidade, não há-de causar alguma dúvida a ninguém quanto à possibilidade de a alcançar. Quando o nosso Salvador se lavantou de entre os mortos, tinha tomado sobre si mesmo e triunfado de todos os possíveis obstáculos do nosso passado, do futuro de nós mes mos ou da nossa volta, que pudessem interferir na 14 PREFÁCIO nossa santidade. A agonia que despedaçou o seu sagrado Coração no Horto, foi o pensamento de que depois de ter feito e sofrido tanto - muito mais do que seria porventura necessário - pela nossa santidade, nós havíamos de tornar o seu sangue inútil pela nossa cobardia e pela nossa ausência de fé e de confiança n' Ele. O maio� valor que nós podemos dar aos sofri mentos de Cristo, é acreditar que podem santificar até mesmo os que são como nós. Temos de facto de completar em nós mesmos aquilo que falta à ressurreição de Cristo no seu Corpo, dei xando-o ressuscitar em nós pela nossa santidade. Se se desprender destas páginas alguma graça, algum bem, algum proveito, isso deve-se à intercessão de Maria- Mãe de Cristo-, deve-se à graça do Espf riU) Santo que opera no mais indigno sacerdote, deve-se aos sofrimentos de Cristo, que mereceu todas as graças para os homens, deve-se à misericórdia do Pai do Céu, que quer restaurar todas as coisas em Cristo, no qual, na unidade do Espfrito Santo, reside toda a sua glória. 15 http://alexandriacatolica.blogspot.com.br IN T R O D U Ç Ã O Perante a dificuldade sempre crescente de levar uma vida santa em contacto com um mundo que se torna cada vez mais flagrantemente pagão, impelidas muitas vezes pelo sentimento mais ou menos cons ciente das necessidades de um dos momentos mais críticos da história da cristandade, muitas almas começaram a examinar o estado da sua saúde espi ritual e a procurar meios de progredir. A necessi dade de maior energia interior levou-as a considerar em especial a sua oração, pois foi-lhes dado chegar a compreen der que a oração é a fonte do seu vigor e o centro da sua vida espiritual. O resultado da investigação é, em muitas casos; insatisfatório e desanimador. Muitos acham que alguma coisa está mal na sua oração ; notam uma falta de progresso, uma dificuldade cada vez maior e mesmo uma crescente falta de gosto nesc:e exercício. Alguns concluem que para eles é uma pura perda de tempo continuar a «oram como t�m feito ; outros acham o tempo dedicado à oração uma carga que se está a tornar quase intolerável. É na espe rança de fazer alguma coisa para aliviar estas difi culdades que estas páginas foram escritas. Não há razão nenhuma para que os seculares, no mundo, não encontrem proveito na discussão destes dramas. Mesmo os principiantes podem cobrar 17 A DIFICULDADE DE ORAR coragem se as possibilidades da oração lhes são postas diante, e uma vez que se corrijam os seus mal-entendidos sobre a natureza da oração, tentarão a sua prática regular com renovado propósito. Mas só depois de se ter feito uma tentativa continuada na oração regular, é que estas linhas encontram por completo a aplicação pretendida. Não se pretende fornecer um catálogo exacto das dificuldades da oração, com um remédio determinado para cada uma; antes esperamos, que examinando as origens donde procedem as dificuldades, o leitor se tomará capaz, talvez depois de algumas experiências, de encontrar uma solução para os seus problemas. Visto que muitas das dificuldades surgem de noções erradas da sua natureza, vamos em primeiro lugar passar uma breve revista ao desenvolvimento da oração, de modo a fixar a nossa perspectiva, para então voltarmos a uma análise mais detalhada dos seus vários elementos e estados. Falando tecnicamente, a oração é uma elevação do espírito e do coração para Deus, para o adorar, para o louvar, para lhe agradecer os seus benefícios e lhe pedir graça e misericórdia. Num sentido mais restrito, a palavra restringe-se à oração de petição, isto é, ao pedir a Deus coisas convenientes. Os seus principais efeitos são fazer-ncs amar a Deus mais e mais, conformar a., nossas vontades com a sua, fazer-nos verdadeiramente humildes e levar-nos a estar mais intimamente unidos a Ele. Pode com acerto descrever-se como uma conversa amorosa com Deus, especialmente se se recorda que a conversa abrange tanto o ouvir como o falar, e que os grandes amigos podem com frequência conversar sem palavras. Quando com os lábios utilizamos uma dada fórmula e procuramos confor mar de algum modo os nossos pensamentos e dese- 18 INTRODUÇÃO 1os com us nossas palavras, temos o que vulgarmente HC chnmu oração vocal. Mas, é claro, para que che �uc a ser oração, o espirito tem de tomar nela alguma pnrtc. Naquilo que se chama oração mental pro curamos fazer surgir estes pensamentos e desejos em nós, por alguma reflexão e então dar-lhes expressão por palavras- palavras nossas, em geral- ou mesmo por aquele eloquente silêncio em que o cora ção fala a Deus e lhe dá o louvor adequado sem o ruldo das palavras. Mas ainda que articulemos palavras, ou pronunciemos esses actos e desejos, a nossa oração não deixa por isso de ser oração men tal. É este, um erro que algumas pessoaf corr.etem, pensando que devem reprimir qualquer expressão articulada ou discurso, na oração mental. Pelo contrário, se, como é frequentemente o caso, a arti culação com os lábios contribui para tornar os nossos actos mais ferverosos ou mais reais, pode perfeita mente usar-se. Mas não é essencial. Nisto, como em assuntos semelhantes deve prevalecer uma santa l iberdade de espírito. Os «actos» que fazemos na oração, chamam-se afectos. O significado corrente desta palavra é inteiramente diverso do que se lhe dá aqui. Os afectos na oração são essencialmente actos de von tade pelos quais ela se dirige para Deus, e suscita outros actos das diversas virtudes, tais como fé, esperança e amor, arrependimento, humildade, gra tidão ou louvor. Nos primeiros estados da vida espiritual, estes afectos não podem, geralmente, ser produzidos sem uma consideração laboriosa e um e.:;forço fatigante. As coisas desta vida, o afogadilho da actividade humana, a experiência diária dos sen tidos, de tal modo inundam li imaginação e excitam as emoções que as verdades mais abstractas da fé e os mistérios da vida de Cristo, a dezanove séculos 19 A DIFICULDADE DE ORAR de distância, pouco cabimento têm no espirito. Temos, portanto de gastar algum tempo da oração a passar em revista estes pensamentos e a estimular o coração para que actue e dê expressão aos seus desejos. A palavra meditação, no seu sentido estrito, denota este trabalho preparatório da reflexão e considera ção, que ainda não é realmente oração ; é apenas um prelúdio para a oração. Os afectos e petições cons tituem a verdadeira oração. Por este motivo é pouco feliz o costume de aplicar a palavra meditação ao conjunto de exercícios da oração mental. Apesar de reservarmos este ponto para uma análise mais completa num capítulo pos terior, diga-se desde já que a palavra meditação, no seu sentido mais lato, quando aplicada ao exer cício da oração mental em conjunto, abrange muito mais que o sentido estrito da palavra. Para que possa chegar a ser oração, tem de incluir algumas petições ou actos. À medida que se avança na vidaespiritual, desen volvem-se convicções que fàcilmente se revivem no momento da oração ; a leitura e a reflexão, dois ali mentos essenciais da vida espiritual, aprofundam o conhecimento de Cristo e da sua doutrina, e fazem-nos crescer no seu amor; a realidade das coi sas do espirito toma-se mais intensa. O resultado é que o tempo necessário para a consideração preli minar se reduz cada vez mais e os afectos apresen tam-se mais fàcilmente e ocupam gradualmente a maior parte do tempo da oração. Uma tal oração chama-se «oração afectiva». Nessa altura, exactamente como quando se esta belece a amizade entre dois homens, amadurecem a mútua compreensão e a comunhão de objec tivos e as palavras começam a ganhar toda uma riqueza de significado, assim também, à medida 20 INTRODUÇÃO que cresce a intimidade com Deus, a virtude progride paralelamente, podemos descobrir que os nossos afectos - isto é, os nossos actos de vontade e das outras virtudes - necessitam cada vez de menos palavras para se exprimirem, e pode algumas vezes acontecer que nos contentemos com ajoelhar em adoração silenciosa, ou em mudo arrependimento, ou com qualquer outro «afecto» semelhante, sem usar pa1avras. Assim, a nossa oração simplifica-se. A esta oração simplificada chama-se frequente mente <<Oração de simplicidade», mas embora os autores estejam de acordo quanto à definição do termo, poderia parecer que a aplicam a coisas muito diferentes, e por isso, para evitar mal-entendidos, parece-nos preferível evitar nestas páginas, o uso daquela express�o. A oração a que acabámos Je nos referir pode ser chamada oração dos afectos simplificados. Em tudo isto, � claro, a graça de Deus tem estado a trabalhar. Algumas vezes, no entanto, no caso duma alma que é generosa e humilde, e que se recusa a pactuar e a assinar a paz com o amor próprio - não importa quantas vitórias ocasionais possa ter ganho o inimigo - acontece que Deus começa a desempenhar um papel ainda maior na sua oração A sua acção é dum tipo novo e pode de im cio passar desp�cebida. Opera nas profundidades da alma e serve-se muito pouco, ou nada, da imagi nação ou das emoções ou mesmo da actividade ordi nária da inteligência. Este estado de oração, que aqui chamaremos uma oração de fé - sem, no entanto, insistir demasiado na exactidão do termo - é urna oração de grande valor e muito eficaz para unir a alma a Deus. Tem as suas dificuldades e embaraços próprios e pode requerer o exercício de muita paciência e um esforço decidido. Se, no 21 A DIFICULDADE DE ORAR entanto, se persevera com generosidade e confiança em Deus, conduz a grandes graças de oração e san tidade. Não será exagero chamar-lhe um atalho para a santidade. Antes de deixar este capítulo para considerar com maior detalhe as diferentes fases da oração, que acabámos de esboçar, antecipando uma análise futura do assunto, pode dizer-se, que ainda que os autores dividam a vida espiritual em «estádios» correspondentes aos diferentes graus de oração, que se encontram de modo característico nas a1mas, não há uma fronteira nítida de demarcação, nem tão-pouco nenhuma uniformidade estreita em cada um dos graus. A1gumas vezes, por exemplo, em especial durante ocasiões de grande alegria ou pesar, mesmo o principiante pode encontrar-se a orar dum modo muito simplificado, ao passo que, por outro lado, a alma adiantada pode ter de regressar à técnica da meditação para ultrapassar alguma dificuldade temporária. Em todas estas matérias há muitos mal-entendidos, e como muitas das dificuldades na oração mental, provêm destas noções erradas, os capítulos seguintes darão, antes de mais nada, um breve resumo das diferentes faculdades que a alma usa nas suas operações, para depois tratar com mais pormenor das várias fases de oração aqui esboçadas. 22 http://alexandriacatolica.blogspot.com.br AS POTÊNCIAS DA ALM A Falando tecnicamente, o homem é um animal racional. Como os animais brutos, participa da faculdade da sensação e do apetite sensível, enquanto que, do mesmo JI!.Odo que os anjos, tem inteligência e vontade. No estado de graça torna-se participante da natureza divina e é enriquecido com o poder de conhecer e amar a Deus pela fé, esperança e caridade. Todo o seu conhecimento natural depende do tra balho dos seus cinco sentidos externos. Tem, no entanto, sentidos internos, dois dos quais, a ima ginação e a memória, nos interessam aqui. Por meio destas faculdades, pode recordar e reproduzir as imagens obtidas pelos sentidos externos, por meio duma espécie de quadro falante. Pode mesmo reconstruir quadros novos - ou «fantasmas)), corno se lhes chama - com o material fornecido pela expe riência anterior Além destas faculdades de conhecimento sensi tivo há também a importantíssima faculdade de desejo sensível, chamada apetite sensível, a qual deseja qualquer objecto bom ou atractivo que os sentidos apresentam ao sujeito, quer duma forma real, quer na imaginação. Esta faculdade é auto mática, isto é, actua imediatamente assim que se lhe apresenta o objecto, e a sua acção é , muitas vezes, 23 A DIFICULDADI! DI! ORAR acompanhada por aquilo a que os filósofos chamam uma paixão, a qual produz um certo efeito corporal. Podemos ver este apetite actuar - a palavra tem aqui um sentido muito mais vasto do que na lin guagem corrente, porque engloba todos os impul sos que se dirigem ao bem de qualquer sentido nos nossos momentos de ira ou, por exemplo, no desejo dos alimentos proíbidos nos dias de absti nência. Note-se de passagcm que, por ser auto mático e estar portanto fora do controle da vontade, este desejo não pode ser nunca um pecado em si mesmo. Se isto se entendesse claramente, evitar -se-ia muita preocupação sobre o suposto consenti mento a maus pensamentos e à ira, e quejandos. Há desejo, mas só no apetite sensível ; não pode haver pecado até que a inteligência reconheça a natu reza pecaminosa do objecto e a vontade o deseje. Deste modo, numa sexta-feira, por muito que o «apetite» do homem deseje a carne, desde que a sua vontade recuse o consentimento, não só ele não peca, como ainda pode tirar daí méritos. Esta digressão, que introduzimos por causa da sua importância em outras circunstâncias, faz-nos reparar nas faculdades mais elevadas da inteligência e da vontade. A inteligência é a faculdade pela qual o homem conhece a verdade ; o seu âmbito é indi cado pela sua capacidade de conhecer verdades abstractas, relações, ideias universais, etc.. Nesta vida - pelo menos enquanto opera segundo o seu modo actual - a inteligência actua abstraindo o seu conhecimento dos objectos individuais concretos representados na imaginação. Mas, mesmo depois de a inteligência ter obtido matéria para o pensa mento, a imaginação ainda continua a tentar elaborar alguma imagem que represente as ideias com as quais a inteligência está a trabalhar. É por isso 24 AS PO'rtNCIAS DA ALMA que o pensamento abstracto é tão fatigante, porque a imaginação não pode nunca atingir completa mente o seu objectivo ; tem muitas vezes de conten tar-se com imaginar uma palavra, ou alguma imagem vaga, que se adapte à ideia. Os seus esforços podem ser exemplificados tentando ver que «imagem» forma mos de Deus. As suas limitações podem exemplifi car-se, se tentamos representar as noções de «depen dência>>, de «casualidade» ou de «honestidade», ou qualquer outra ideia abstracta semelhante. A vontade é o apetite intelectivo, é a potência pela qual desejamos ou «amamos» objectos que a inteligência afirma como bons. Tudo pode ser olhado como bom sob algum aspecto ; mesmo o pecado é desejado como um bem - um bem dos sentidos. Em última análise, o mérito pertence só aos actos da vontade,e o pecado só pode come ter-se através dela. Da actuação da vontade depende toda a vida espiritual. A vontade é uma faculdade livre, cuja actividade nos está de tal modo sujeita que nenhum objecto criado pode forçá-la a actuar. Por causa desta dúplice natureza do homem, surge um certo número de reacções às quais está SUJeito e que designaremos, de um modo geral, por emo ções ou paixões. Estas radicam-se na sua natureza sensível ou animal. A alegria, com a respectiva expressão corporal, que um rapaz tem por ser clas sificado em primeiro lugar num exame, é, na sua origem. talvez mais racional do que sensível; a vio lência com que o mesmo rapaz riposta quando é atacado, vem mais da sua natureza sensível do que da acção do entendimento. A este último tipo de reacções pertencem muitos daqueles «sentimentos» que se encontram na oração: consolação, aridez, pesar, alegria, etc.. Por isso se apresentou aqui o assunto, pois é óbvio que, enquanto procedem 25 A DIFICULDADE DE ORAR dos sentidos, tais movimentos não são, em si mes mos, meritórios nem mesmo sinais de verdadeira devoção, que consiste na prontidão da vontade para servir a Deu-;. São, no entanto, um enorme auxílio para vencer a resi.,tência da «carne» a servir o espírito, e ajudam-nos a dedicar todas as nossas energias ao serviço de Deus. Na prática, nenhum ser humano poderia servir a Deus com todo o seu coração, a não ser que a sua natureza sensível encontrasse algum prazer em entregá-lo a Deus ; porque nós somos homens, e não anjos. Mas há urna diferença enorme eritre os «sentimentos» que se originam nas faculdades supe riores e transbordam para os sentidos, como por vezes acontece, em especial nos mais altos voos da vida espiritu&l, e os «sentimentos» procedentes dos sentidos que tendem, por si próprios, a arrastar as potências superiores atrás deles. Muita da «devo ção» que se experimenta no inicio da vida espiritual, contém urna boa dose deste último «Sentimento». Deus nos livre, no entanto, de o desprezarmos, por que com frequência esta consolação pode vir de Deus. É urna grande ajuda para desapegar os nossos corações das consolações das criaturas e para mover todo o coração na busca de Deus. Mas ima ginar que a verdadeira devoção consiste em tais sen timentos é um erro fatal. Há outros pontos de importância, relacionados com isto, mas, desde que o que fica acima é bastante para a nossa finalidade imediata, podem ser deixados para mais tarde, e podemos prosseguir no estudo dos primeiros estados na oração. 26 O RA Ç Ã O D I S CU R S I VA Entende-se por oração discursiva, uma oração na qual predomina a reflexão ou consideração de algum mistério ou de alguma verdade da fé. «Dis curso» era o vocábulo antigamente usado para desig nar o processo de raciocínio pelo qual se chega à verdade gradualmente - passo a passo -, como em qualquer demonstração euclidiana. Poderia chamar-se «intuição», à acção oposta do entendimento através da qual o espírito apreende uma verdade de relance ou porque é evidente por si mesma - «o todo é maior do que a parte», por exemplo- ou, num sentido menor e restrito, porque uma longa experiência lhe tornou muito familiares todos os passos da argumentação que a ela conduz. Todos, por exemplo, vêem os «axiomas» de Euclides por intuição, enquanto muitos dos «teoremas>> são tão familiares para o professor que se pode já dizer que os vê por intuição. Introduz-se aqui o termo «oração discursiva» propositadamente. No sentido estrito da palavra, <aneditação» aplica-se ao discurso do espírito, com actuação concomitante da imaginação e da memória, e apenas a isto. Como, no entanto, em muitos ambientes religiosos se dá o nome de medi tação ao exercício em que um determinado tempo do programa do dia se destina à oração mental, a 27 A DIFICULDADE DE ORAR palavra é com frequência aplicada a qualquer forma de oração mental. Mesmo que uma pessoa se eleve aos cumes da contemplação, diz-se que está a fazer a «sua meditação)). Este costume tem as suas desvantagens ; apropria-se duma palavra muito útil que há-de ser aqui substituída por «reflexão» ou «consideração)), e leva os que tomam o termo à letra, a julgar que a essência do exercício da oração mental reside nas considerações. Ora, na verdade, o facto é que não há oração de verdade até que a alma comece a produzir «actos» ou afectos». Nunca se insistirá bastante nisso. A finalidade da consideração, reflexão ou «medita ção», no seu sentido estrito, é apenas conduzir a alma a produzir actos. Tem ainda outros efeitos, que consideraremos mais adiante, mas logo que surgem os actos, a sua função está cumprida e deve por-se de parte até que a alma não possa já continuar a fazer actos ou, por outras palavras, não possa já continuar, de um ou outro modo, a falar com Deus, porque nisto é que consiste realmente a oração. Se se verifica que esta conversa com Deus é possível logo ao princípio do tempo de oração, não devem tentar-se considerações enquanto subsiste o nosso diálogo com Deus, mesmo que implique o fim da reflexão (1). Como, no entanto, não é este o caso corrente, pelo menos no princ1p10, qualquer método de reflexão poderá ser muito útil. A bibliografia sobre este assunto é abundante e a (1) Pelo menos esta é a nossa opinião, mas nem todos concordariam completamente com ela. Sobre este ponto, e sobre a matéria deste capitulo e do seauinte, vide o Apên dice I. 28 ORAÇÃO DISCURSIVA maioria das pessoas estão a par da doutrina comum, pelo menos até certo ponto. Numerosos autores esboçaram, expuseram e desenvolveram com mais ou menos detalhe um «método» que, nas suas linhas essenciais, está em geral ligado estreitamente com o usado por Santo Inácio nos seus célebres «Exercí cios Espirituais». O tema da meditação, dividido em «pontos», é preparado na noite anterior, e deter minam-se as conclusões principais, actos, petições e resoluções a que se há-de chegar. Quando chega o tempo da oração, começa-se o exercício pondo-nos na presença de Deus; há alguns prelúdios para fixar as faculdades por meio duma «composição do lugar», etc. e algumas petições iniciais ; toma-se o primeiro ponto, e a imaginação e a inteligência aplicam-se-lhe metàdicamente ; formulam-se certos actos ; depois procede-se de forma idêntica com um segundo ponto e, talvez, com um terceiro. Uma vez feitos os actos, as petições e as resoluções determinadas com antece dência, bem como outras que se tenham apresentado no decorrer do exercício, a oração termina com um «colóquio» ou numa conversa com Deus ou com algum dos seus santos e uma curta acção de graças, à qual se acrescenta um exame do modo como se procedeu no exercJCIO. Pode recolher-se algum pensamento para tê-lo à mão durante o dia, a fim de renovar na alma os efeitos da meditação. Para quem tenha usado um destes manuais de oração, que por vezes estabelecem o plano com grande detalhe, todo este esquema é familiar, e não vale a pena tratá-lo aqui mais detidamente. Quando se segue um método deste género, por certo há-de dar resultado, e constitui um modo muito útil de ajudar o principiante nas suas primeiras ten tativas de oração mental. As numerosas almas que podem segui-lo, não precisam dos nossos remé- 29 A DIFICULDADE DE ORAR dios, mas é aconselhável preveni-las de que devem estar prontas a modificar o método, caso deixe de ser-lhes proveitoso, e pô-las em guarda contra o erro que se pode cometer com uma noção errada da natureza essencial da oração, de julgar que a reflexão é a oração, e, consequentemente, de não guardar tempo bastante para formular actos e conversar com Deus. Talvez encontrem um novo alento na sugestão de que podem ainda ter outras possibilidades diantede si. Há muitas almas que alcançaram um elevado grau de santidade e que parece nunca terem usado outro modo de orar. Dizemos «parece». porque, como se verá mais tarde, pode acontecer que, enquanto «meditam» com a parte inferior do espírito, estão, sem que o saibam, a contemplar a Deus de modo especial com as suas faculdades superiores. Isto mesmo pode acontecer até com a oração vocal, especialmente com a recita ção coral do Oficio Divino. Seja como for, há muitas veredas que conduzem à santidade e, se bem que as graças duma oração proficiente são uma pode rosa ajuda, senão a maior, para progredir, estas não constituem por si mesmas a santidade. Se um homem ama a Deus com todo o seu coração e com toda a sua alma, com todo o seu espírito e com todas as suas forças, cumpriu a lei por inteiro e é perfeito, seja qual for o seu modo de orar. Parece, no entanto, que há um certo número de pessoas que, apesar de reiterados esforços e duma indubitável boa vontade, não só não encontram nenhum proveito no uso destes métodos de oração, mas até se vêem embaraçados por eles, às vezes de tal modo que toda a oração se torna, em si mesma, um fardo insuportável. Como consequência disto, o que devia ser fonte da sua vida espiritual, seca; a perseverança toma-se difícil, e só se consegue 30 ORAÇÃO DISCURSIVA progredir através de esforços heróicos. A alma pode mesmo desistir de toda e qualquer tentativa para orar, e acabar num desastre espiritual. E há também aqueles que, em tempos, foram proficientes na oração, mas que, à medida que passou o tempo, verificaram que não podiam continuar a orar como costumavam e foram reduzidos a um estado de completa impotência na meditação, sem conhecerem nenhum outro modo de orar. Todas estas almas podem, esperamos, encontrar o princípio da soluçãc;> dos seus problemas na aná lise da oração mental que se segue. Os leigos não devem desanimar lá porque, às vezes, é o caso de sacerdotes e religiosos que nós consideramos. A maior parte dos pontos que se focam, e todos os princí pios indicados, podem aplicar-se aos que, no mundo, querem levar uma vida de oração e santificar o seu trabalho quotidiano. 31 MU D A N Ç A D E MÉTO DO Os métodos da oração discursiva detalhados em tantos manuais, e que constituem uma dificuldade para o tipo de almas que agora consideramos, desen volveram-se há relativamente pouco tempo; a sua difusão data de cerca do séc. XVI. Nos velhos tempos, quando a vida religiosa era de forma mais monás tica e a fé talvez mais viva, não era tão geralmente sentida a falta dum plano com tanto detalhe. Os espíritos da época eram totalmente alheios à ideia da oração limitada a um período curto e especialmente delicado a ela. Não se sabe até que ponto os antigos monges faziam a sua oração privada em comum. Este exer cício seria antes um meio de atiçar o fogo da oração, para que pudesse arder firmemente durante o resto do dia, pois se considerava todo o dia como tempo de oração. O papel da meditação, no sentido de reflexão e consideração, era desempenhado pela leitura espi ritual - que se fazia devagar e atentamente - e pro longava-se por uina autêntica reflexão e ponderação sobre as verdades da fé ou sobre os mistérios de Cristo, durante o tempo de trabalho manual ou nos tempos livres do dia. Orações, jaculatórias, ao longo do dia, ajudavam a voltar o coração continuamente para Deus, e o Ofício Divino dava expressão, duma 33 A DIF1CULDADE DE ORAR forma concreta e inspirada, aos sentimentos e neces sidades não só de cada alma, mas também de toda a Igreja, Corpo de Cristo. Assim, quando um reli gioso se consagrava à oração privada, todo o tra balho preparatório estava feito, e ia direito propria mente à tarefa de orar. Com o correr dos tempos, a evolução do estado religioso introduziu muitas actividades dispersivas na vida dos seus membros, e tornou impraticável, na maior parte dos casos, a recitação pública do Ofício Divino. Verificou-se então que era conve niente generalizar o costume de reservar um tempo determinado para a oração mental, convertê-la num dos principais exercícios do dia, não para limitar a sua prática, mas para lhe assegurar pelo menos um mínimo. Esta evolução foi talvez acelerada pelos efeitos do Renascimento que assistiu ao declínio do espírito de fé medieval que tinha impregnado até mesmo a vida dos leigos. Actualmente todas as casas de rd;giosos, mesmo as das Ordens monásticas, desti nam um tempo fixo para a oração mental, e o Código de Direito Canónico recomenda uma prática seme lhante para o clero secular. Para resumir o efeito desta mudança, poderia dizer-se que o dia inteiro do monge foi concentrado no espaço de cerca de uma hora e inserido na vida do sacerdote ou 'do reli gioso moderno, para se ter a certeza de que pelo menos durante uma certa parte do dia, se hão-de elevar acima dos seus cuidados e preocupações, e conversar com Deus. Desde que o objecto desta modificação não é limitar a oração mas apenas insistir pelo menos num mínimo, concluímos que se em determinado local ou para determinada pessoa se pode inverter este processo de compressão e restaurar parte do antigo 34 MUDANÇA DE MÉTODO espírito, de tal modo que a oração se espraie pelas outras horas do dia, é muito desejável que assim se faça. Para isto, a leitura espiritual que é de tanta importância na vida espiritual, poderia tornar-se mais ou menos uma meditação. A leitura espiritual e a oração mental são tão necessárias para a vida da alma como o alimento diário para a do corpo. Sem urna leitura espiritual constante, não só não pode haver progresso na ora ção mas nem sequer há nenhuma esperança de per severar na vida espiritual. Seria demasiado deli cado tentar demarcar o tempo mínimo para esta prática. A graça de Deus pode sempre adaptar-se às circunstâncias, e as circunstâncias de cada ambiente religioso são uma parte muito especial do plano de Deus. No entanto, quando se dispõe de tempo suficiente, pode dizer-se que reduzir o tempo da leitura espiritual, sem causa fundada, a menos de três horas por semana, é subalimentar a alma, e acarretar as consequências dessa subalimentação. E cremos que a leitura deveria ser feita pessoalmente durante pelo menos metade deste tempo. Uma dieta exclusiva de leitura pública dificilmente poderia ser suficiente para satisfazer as necessidade de cada indivíduo. Em algumas casas religiosas, devido a circuns tânci� especiais, talvez nem sempre seja possível empregar meia hora por dia nesta prática, mesmo por períodos parciais. Nestes casos há-de ter-se o cuidado de aproveitar as ocasiões que surjam, como nos domingos ou feriados, ou durante o tempo de férias, para nutrir a alma com uma leitura adequada. Nas casas em que se têm os livros em comum, deve cada qual completar a prática geral com uma leitura pessoal dos assuntos mais adequados às suas neces sidades especiais. Todos deveriam familiarizar-se 35 A DIFICULDADE DE ORAR com os actos e palavras de Jesus Cristo, porque estes são a revelação da palavra de Deus. A elaboração duma lembrança viva do Senhor, por meio duma leitura frequente, é de grande importância. Devía mos, além disso, familiarizar-nos com o esquema genérico da vida espiritual e, em particular, com a doutrina da oração, mesmo nos graus mais elevados. Todo este equipamento é necessário para se poder colaborar nas fases evolutivas da acção de Deus ; e também nos ajudará a tirar o melhor partido de uma possível direcção espiritual. Uma vez que se adquiriram estes conhecimen tos espirituais, a leitura deveria ser feita sem pressa, digerindo e saboreando o que se leu e oca sionalmente fazendo aqueles actos de oração que se apresentem. A leitura,que nunca se deveria come çar sem uma curta mas ferverosa oração a pedir ajuda, deveria sempre ser olhada com espírito de fé como comendo algures, nas linhas ou entrelinhas do que se leu, urna mensagem do próprio Deus, que a oração, a fé e a confiança tornarão perceptível. Esta leitura espiritual é o fundamento - poderia dizer-se o fundamento essencial - duma vida de oração e é a melhor preparação para esse exercício. Se se pratica fielmente, a necessidade duma longa e metódica consideração durante a oração, será ràpidamente reduzida ; de facto, isto pode até tor nar-se bastante impossível. Como consequência, os métodos vulgares de ora ção devem então ser modificados para se adapta rem às necessidades duma destas almas. À medida que se faz mais progresso no conhecimento e em especial na prática da vida espiritual, não só as con siderações serão reduzidas, mas os actos ou afectos tornar-se-ão muito mais simples. De facto, um acto determinado chegará a abranger muito� dos 36 MUDANÇA DE MÉTODO outros usualmente indicados no método ; e além disso a natureza dos actos pode mudar de tal maneira que seja difícil observá-los, porque há muitos impul sos num coração amante que escapam à obser vação humana. Quem pode contar os <<actos» de amor que a mãe faz junto do filho adormecido? O método de oração necessitará de uma nova modi ficação e, em verdade, neste ponto, os métodos devem ser postos de parte. Desde que a finalidade da consideração prescrita nos métodos de oração mental é, sobretudo, condu zir a actos ou afectos, tal consideração pode e de facto deve cessar assim que os actos chegam. Quando se atinge aquele ponto em que se pode «orar» - isto é, fazer attos - logo desde o principio da oração, estas considerações, aparte um recolhimento de poucos momentos no início para fixarmos a atenção, J>Odem ser afastados completamente da oração. F claro que, se a facilidade de oração cessa, pode ter de se voltar à reflexão para recomeçar de novo. Mas devemos pôr-nos em guarda contra o erro de pensar que as considerações são uma parte çssencial da oração mental. · Há, no entanto, um outro ponto valioso destas considerações : aquelas fortes convicções sobre os principias da vida espiritual, a realidade do sobre natural, etc., que se desenvolvem e aprofundam atra vés de uma reflexão frequente. Deve-se ter cuidado em sustentar estas convicções quando a reflexão já não é usada no tempo de oração. Isto pode fazer-se por meio da leitura espiritual, especialmente quando feita à maneira de meditação, ou por refle xão frequente, quase inconsciente, durante as várias partes do dia. Pode fàcilmente avaliar-se como um homem de negócios ou um profissional está sempre a pensar 37 A DIFICULDADE DE ORAR nos seus negócios, <<Illeditando» neles continuamente, e buscando aperfeiçoamentos e entrevendo novos meios de avançar. Se uma alma toma a sua vida espiritual a sério, há-de ser assídua na sua conside ração dos modos e meios, na sua busca da verdade, e no seu esforço por seguir a verdade quando conhe cida. Assim, sem determinação expressa, dedicará bastante reflexão à sua vida espiritual durante os momentos vagos do dia. A meditação neste sen tido, não deveria nunca ser posta de parte ; porque se um homem não pensa no seu coração, toda a sua vida espiritual pode ficar em breve desfeita. Também as resoluções que são em geral indicadas no método, não devem ser descuradas. Pode acon tecer que se não façam durante a oração mental. Então deveriam ser feitas ou renovadas durante o exame de consciência; tornar-se-ão provàvelmente mais simples e mais gerais à medida que passar o tempo. Mas desde que haja defeitos a vencer em particular, especialmente se são habituais, há neces sidade de resoluções especiais para combatê-los. Então, dado que a alma ache que pode orar sem ter de reflectir detidamente sobre diversos pontos, e que se dedique à reflexão e à renovação dos pro pósitos durante qualquer outra parte do dia, não há razão para não omitir a meditação metódica a favor duma conversa mais livre e mais plena com Deus, pelo menos enquanto se mantiver um tal estado de coisas. Porque, bem vistas as coisas, a meditação é apenas «pensar em Deus», enquanto que a oração é «falar co:in Deus», uma conversação que pode converter-se em «olhar para Deus e amá-lo». 38 O R I G E N D I F I C U L S D A S D A D E S Não só é desnecessário, para uma alma que fez algum progresso na vida espiritual e que vai colher o assunto e as convicções que conduzem à oração mental na leitura espiritual reflectida, fazer uma meditação ponto por ponto quando chega o tempo da oração, como ainda por cima se veria embaraçada com dificuldades. Isto é especialmente verdade quando se está pronto para o tipo de oração seguinte, no qual a ref lexão é reduzida a um mínimo e predo minam os actos e afectos, onde toda a oração é de facto um amável colóquio ou conversa com Deus. Impor a uma destas almas o uso de um <anétodo», é tentar obrigar um corredor a usar muletas. Não admira que uma alma nestas circuustâncias, ache a meditação uma carga intolerável. Mas, antes de considerar o tipo seguinte de oração, vamos ver primeiro se não pode haver outras razões pelas 9uais o uso dum método determinado seja pertur bador e constitua um obstáculo ao êxito, mesmo que o indivíduo não esteja ainda no estado de apro veitamento na vida espiritual e tenha ainda muito de novato. Dá a impressão de que muitos autores, ao con siderar a subida da encosta da vida espiritual, come çam com a condição dum pecador habitual, para quem os ensinamentos de fé foram mais ou menos 39 A DiFICULDADE DE ORAR descurados, e que deu muita rédea livre ao amor próprio e aos desejos da natureza inferior. Pode pôr-se a questão de saber se um tal plano, com as consequentes prescrições de assunto e de método para a oração, pode ser aplicado ao género de almas que se encontram nos seminários e noviciados. A maior parte dos rapazes e raparigas que entram aqui em religião, ou que começam seriamente a encarar a prática da vida espiritual no mundo, já, por assim dizer, se embeberam das convicções da fé, mesmo na infância e viveram, pelo menos nos pri meiros tempos, numa atmosfera de fé. É verdade que podem não ter tido consciência disso e nunca terem considerado o significado real da sua religião, mas pelo menos tiveram a convicção suficiente para os levar a entrar no seminário ou no estado religioso e, isto com frequência, logo depois do tempo escolar. Em geral, também, o pecado habitual de qualquer tipo grave, é raro entre tais pessoas e há muitos que ainda conservam a sua inocência baptismal. Por certo que uma tal alma não tem necessidade nem pode encarar o longo e fastidioso arrastar dum plano de meditação de «prelúdio e ponto» durante muitos anos. É verdade que terá de ser educada na vida espiritual, e que os novos conhecimentos terão de ser assimilados pela reflexão. Mas isto faz-se muitas vezes, bastante espontâneamente, na leitura espiritual, e dificilmente necessita de um tão detalhado plano de ataque como o requerido, no caso de quem tenta converter-se duma vida de pecado. Fazer «meditar» estas almas sem algumas alterações no método é, muitas vezes, pô-las a construir urna casa já acabada. Uma leitura espiritual adequada produzirá as convicções necessárias em vista das novas verdades que apreendem, se é que a docilidade da sua fé e a 40 ORIGENS DAS DIFICULDADES prontidão do seu fervor o não fazem espontânea mente. Os propósitos firmes que são um dos frutos da meditação, surgirão, em geral, espontâneos na oração afectiva; e, se não, o exame de consciência os produzirá. Portanto, pareceria que tais almas estão muitasvezes realmente prontas para alguma espécie de oração afectiva, mesmo que depois possa ser-lhes necessário fazer uso da meditação durante algum tempo. A sua direcção requer prudência, mas parece um erro insistir que todos devam adop tar a meditação metódica. Seria muito mais eficaz pô-las em contacto com a pessoa do Senhor, e deixá-las tornarem-se íntimas com Ele em conversa amorosa. Um tal trato com o Senhor é um excelente correctivo para os seus hábitos defeituosos e moldá -las-á ràpidamente conforme o seu coração. Há outra razão que toma aconselhável este pro cedimento. As exigências impostas ao tempo de que dispõe um sacerdote ou religioso moderno pela preparação e depois pelo exercício das suas activi dades, deixam-lhe um mínimo para os exercícios interiores da vida espiritual e para o desenvolvi mento da vida de oração. Se uma pessoa nestas circunstâncias não entra em contacto com o Senhor, antes que todo o peso da actividade intensa se descarregue sobre ela, então não lhe será tão fácil desenvolver um tipo de oração que possa fàcilmente adaptar-se ao seu trabalho diário; enquanto que, se já anteriormente teve a1guma experiência da oração afectiva, pode em breve adquirir o hábito de con versar com Cristo durante o trabalho. Mesmo que depois de algum tempo lhe seja necessário voltar à oração meditada durante o tempo reservado para esse exercício, de modo a poder completar a sua formação espiritual, apesar disso adquiriu um hábito de oração jaculatória que é de um valor inapreciável, 41 A DIFICULDADE DE ORAR e deu o primeiro passo no. caminho da transformação de todas as suas actividades, em oração verdadeira. Há outro género de temperamento que encontra grande dificuldade na meditação discursiva. Alguns espíritos tiram as suas conclusões mais por uma espécie de intuição do que por um longo raciocínio discursivo. Quando se lhes apresenta um assunto, tiram dele ràpidamente todo o fruto possível de momento, e a colheita não será aumentada por uma consideração prolongada. Só mais tarde, à luz de novos conhecimentos e da experiência, é que as suas convicções se aprofundam e alargam. Tais almas têm pouco a lucrar em conservar o espírito fixado demoradamente nos pontos duma meditação. É melhor para elas adiantar-se para os actos e tentar falar com o Senhor ou, se isto não resulta, repetir frases de alguma oração preferida, devagar e atentamente. Esta dificuldade pode fàcil mente surgir quando, em algumas comunidades reli giosas, o assunto e os pontos de meditação se lêem na noite anterior e de novo de manhã, durante o tempo da oração. Ao ouvi-lo a primeira vez, a inteligência pode, com frequência, extrair do assunto, ali mesmo e nesse instante, tudo quanto lhe é possível, ficando pronta a iniciar a ora ção imediatamente. A repetição da leitura pela manhã, é então bastante perturbadora, já que se não precisa de retomar o assunto ponto por ponto. Em tais casos deve-se tentar falar com Deus, ou então retomar um assunto novo. É sempre bom ter qualquer alternativa determinada com antecedência. Os quinze mistérios do rosário constituem programa de oração para muitas almas. Outros fazem uso semelhante das estações da Via-Sacra. Outra variante é recordar que algures está, nesse instante, a começar a missa. Se se segue essa missa em espírito e ima- 42 ORIGENS DAS DIFICULDADES ginação, pode fornecer assunto adequado para a oração. Outra fonte de dificuldades na oração, reside na escolha dum tema. Neste campo deve ter-se em conta as necessidades e predilecções de cada indi víduo. Quando se nos deixa a escolha, as regras ordinárias de prudência - em especial se se procura conselho de alguma autoridade competente - resol verão o assunto. Mas que fazer quando o tema é lido para uma comunidade na noite anterior. e repe tido ponto por ponto na manhã seguinte ? Esta mos perante uma questão delicada que requer um compromisso. É preciso evitar dois extremos. Em primeiro lugar, todo religioso, sejam quais forem as necessi dades da sua alma ou seja qual for o seu adiantamento nos caminhos da oração, deverá estar sempre em guarda, não vá menosprezar ou desdenhar de algum modo um alimento espiritual que lhe vem de fontes autorizadas. As disposições tomadas pelos supe riores são uma parte muito especial da providência divina e vêm repletas de graças. Qualquer que atenda a essa leitura com espírito de fé, dizendo no seu coração : «Fala, Senhor, que o teu servo escuta)), verificará que Deus se serve dela para iluminar e fortalecer a sua alma. Pode ser apenas um pequeno ponto - uma única palavra, talvez, que Ele usa mas encaixará num outro contexto, o das demais relações de Deus com a alma, e será uma fonte de graça. Cumprir-se-á em nós como acreditamos. É questão de muita importância que as almas espe cialmente as mais adiantadas, sejam muito cuida dosas na sua atitude em tais circunstâncias. Por outro lado, não parece razoável querer que todas as almas façam a sua oração nos moldes da meditação lida para todos, e negar a cada um o 43 A D�CULDADE DE ORAR direito de seguir as atracções da graça. Evitando estes dois extremos, cada alma de boa vontade, embora mantendo a sua liberdade de espírito, deve dar preferência, em idênticas circunstâncias, ao tema designado por aqueles que têm o encargo de governá-la. Se se pode fazer uso deste tema para oração, mesmo que s�ja apenas como ponto de partida para um colóquio com Deus, deve fazer-se. Se, no entanto, não se adapta às necessidades da nlma e à actuação da graça divina, pode ser serena e respeitosamente posto de lado. Acontece com frequência que entre os pontos lidos há uma lem brança dh,ina para a alma se familiarizar com alguma verdade determinada ou algo semelhante, por refle xão ou leitura em qualquer outra ocasião sem que se torne necessário para a alma abandonar o seu próprio modo de orar no momento. Em toda esta questão há claramente necessidade de discernimento e prudência, e seria bom que aqueles que acham necessário desenvolver a sua oração em moldes próprios, aceitem opinião com algum conselheiro competente, quer ele seja superior, sacerdote, ou mesmo um colega prudente. Nas presentes circunstâncias acontece muitas vezes que para muitas almas nem sempre está à mão um guia adequado; mas, entre os retiros anuais e as diversas viagens que as férias ou a falta de saúde requerem, em geral será possível consultar algum «especialista» e estabelecer relações com ele. Uma vez que se encontrou um guia competente a quem se possa abrir a alma, e que se familiarizou com as nossas circunstâncias, uma carta eventual será o bas tante para prover a todas as incertezas da trajectória espiritual. Também neste assunto Deus adaptará sempre a sua graça às circunstâncias, de modo que, onde uma tal direcção se não possa conseguir, Ele 44 ORIGENS DAS DIDCULDADES providenciará doutro modo. Mas, onde possa conse guir-se um conselho competente, seria erro rejeitá-lo. No caso que agora consideramos, acusar de sin gularidade ou de soberba quem quer que não siga o assunto lido e sinta necessidade dum livro para fixar os seus pensamentos, especialmente numa comu nidade que englobe membros de todas as idades e de vários graus de vivência religiosa, parece bastante arbitrário. É impossível esperar que numa tal comunidade o mesmo alimento espiritual seja adequado para as necessidades de todos. É claro que os caprichos de cada qual não podem e não devem ser favorecidos. Mas é preciso um discerni mento prudente e urna santa liberdade de espírito. No entanto, onde o costume já tenha estabelecido uma regra nestes assuntos, o religioso deve estar preparado para aceitar as limitações impostas pelas circunstâncias - tais comoa falta duma luz - ou por disposição directa dos superiores. A graça de Deus pode sempre adaptar-se a semelhantes cir cunstâncias providenciais, e uma confiança resignada no cuidado paternal de Deus assegurará sempre a sua ajuda especial. Podemos estar bastante certos de que aqueles que se resignam alegre e confiada mente neste e em outros assuntos semelhantes, pro gredirão muito mais ràpidamente e com muito mais firmeza, do que se procurassem insistir em progre dir a seu modo. Note-se que Deus dá muitas vezes durante o dia as graças que suspendeu durante o tempo da oração. De facto, para uma alma que tem cuidado em aceitar e em se adaptar a todas as actuações da providência, especialmente quando Ela parece erguer obstáculos, os seus caminhos, por muito incompreensíveis que pare çam à primeira vista, estão no entanto cheios duma ter nura maravilhosa e duma bondade misericordiosa. 45 o DA C A M ORAÇ ÃO I N H o A F E C TIVA Até agora temos estado a considerar as dificuldades que surgem na oração, em virtude do uso . de um método que é inadequado ao nosso estado ou tem peramento. A prova geral da adequação neste aspecto, é dupla: facilidade no exercício e eficácia no resultado. Das duas, a segunda é a mais segura e é por vezes o único sinal dum modo apropriado de oração ; porque se uma alma faz oração do modo mais adaptado ao seu estado, o resultado manifestar -se-á na bondade e fervor da sua vida. Quem procura adoptar um modo de orar que ultrapasse as suas força� ou idade espiritual, depressa se encontrará rodeado de dificuldades, e começará a perder em regularidade e a abandonar o fervor inicial. Mas se, por exemplo, uma alma acha que pode passar o tempo da oração em amoroso trato com Deus, mesmo que use poucas palavras, e se, ao mesmo tempo, não começa a decair no fervC'r e nas outras actividades da sua vida espiritual, nem tão pouco começa a adquirir aquela sensibilidade da soberba que se recusa a aceitar mesmo a mais pequena humilhação ou desprezo, então pode, e seguramente deve, ser autorizada a orar deste modo. Esta é a oração afectiva, que será tratada num pró ximo capítulo. 47 A DIFICULDADE DE ORAR Mas que fazer com a alma que não está ainda pre parada para uma tal oração e que, apesar de boa vontade e de esforços tetJ.azes, não encontra ajuda no método ordinário de meditação ? Aqui, urna vez que as necessidades individuais diferem, temos de contentar-nos em fazer sugestões que possam indicar uma linha de conduta que há-de levar à solução desta dificuldade. Nos nossos dias, graçi:is a Deus, a comunhão diária é uma prática corrente, não só em casas religiosas, mas também para muitas almas fora do estado reli gioso. Enquanto que há algumas que usam um livro para fazer a sua acção de graças, há muitas almas que são capazes de manter-se em oração durante os habituais quinze minutos sem uma tal ajuda. De facto, muitos mais o fariam, se não tivessem uma ideia errada do modo como o Senhor deseja ser recebido, pois pensam que devemos usar os termos formais dum livro de orações em vez de lhe falar com as nossas próprias palavras incoerentes. Esta acção de graças parece fornecer um caminho de aproximação à oração mental, por que, bem entendida, a não ser que fosse uma reci tação meramente formal duma longa lista de ora ções vocais, deve ser oração mental de verdade. Supunhamos então que começamos a nossa oração com uma comunhão espiritual - bastante infor mal - sem nos preocuparmos muito como havemos de expressar o convite a Deus para que venha aos nossos corações (porque temos de evitar os «belos discursos» como uma praga na oração mental, mas prestando toda a atenção Àquele cuja presença é a causa da nossa oração, porque Ele já se encontra nas nossas almas desde a data do baptismo, uma vez que estejamos em estado de graça. Então podemos prosseguir exactamente como fazemos 48 A CAMINHO DA ORAÇÃO AFECI'IVA depois da comunhão sacramental. Muitas almas já ordenaram programas para este tempo, de forma a adaptar-se às suas próprias necessidades. Os quatro fins pelos quais a missa é oferecida, por exemplo, podem fornecer temas para a oraÇão, que pode ser desenvolvida em conversa familiar com o Senhor. Estas são : adorar a Deus, lou vá-lo e agradecer-lhe todos os seus dons, repara ção pelos nossos pecados e pedir-lhe graça e mise ricórdia. Este colóquio ou conversa com Deus pode ser modificado para introduzir o ponto ou pontos que são assunto da nossa oração. Com muita frequência os pontos duma meditação que acabam de ser lidos, podem usar-se deste modo. Assim, por exemplo, �e o assunto é a vida oculta de Cristo, podemos falar-lhe dos seus dias em Nazaré, familiarmente, intima'!lente, como um homem tem o dever de falar com o seu amigo. Podemos inter rogar o Senhor àcerca desses dias, podemos escutar o que Ele tem para nos dizer deles. Podemos falar-lhe do nosso trabalho diário e trocar impres sões com Ele : «Acharás tu o trabalho tão fati gante ? Os teus fregueses eram exigentes e difí ceis de satisfazer ? Doíam-te as costas depois de estar continuamente curvado sobre o banco de car pinteiro ? Não é verdade que sabias fazer as coisas muito melhor que S. José ? Tu fizeste todo o mundo! Como te forçaste a passar desta maneira trinta anos da tua curta vida, com todo o mundo à espera da tua doutrina e da tua salvação ?», etc. , etc.. E deve mos então falar-lhe da nossa própria vida, das nossas dificuldades, das nossas quedas, das nossas imper feições, dos nossos pecados. Especialmente dos nossos pecados! . . . porque este Homem recebe os pecadores e salvará o seu povo dos seus pecados. Os pecados dos quais estamos verdadeiramente con- 49 A DIFICULDADE DE ORAR tritos, podem ligar-nos ao Salvador e o grande segredo de todo o trato e estreita sociedade com Jesus, é dar-lhe uma oportunidade para que seja para nós um salvador. Se há alguma dificuldade particular na nossa vida, se há algo desagradável que tenhamos de enfrentar nesse mesmo dia, falemos-lhe disso. Se há alguma coisa que insiste em aparecer como distracção, transformemo-la em oração falando dela a Deus. Falemos-lhe das coisas que nos perturbam tanto, no nosso trabalho diário ; falemos-lhe daquele apegamento que não podemos, ou mesmo que não queremos, quebrar. O grande meio para converter as distracções em oração, e transformar um desejo mau ou imper feito num santo propósito, é falar dele a Cristo exactamente como falamos a um amigo, lembrando -nos que Ele foi destinado por Deus para nos salvar dos nossos pecados e de tudo o que conduz ao pecado ou à negligência. Não podemos esquecer nunca que, porque é Deus, Ele é omnipotente e por tanto, não há absolutamente nenhum abismo do pecado ou da fraqueza, da escuridão ou du deses pero, da quaJ não possa ou não deseje liber tar-nos. Portanto não há ninguém que precise de ter receio, ninguém que não tenha o direito de aproximar-se d'Ele, de falar-lhe, de lhe mostrar os seus pecados, de falar-lhe da sua vida espiritual em qualquer dos seus aspectos, como falamos com o médico, da doença, com um amigo, dos nossos negócios, ou à namorada, da nossa vida, com as suas penas e alegrias, as suas esperanças e receios. O princípio básico deste modo de fazer actos é tal que precisa de ser posto em relevo como de impor tância capital em todas as fases da vida espiritual. E é este : o ponto essencial é entrar em contacto 50 A CAMINHO DA ORAÇÃO AFECTIVA com Cristo o mais cedo possível, na vida espiritual, em cada um dos seus exercícios, em especial no da oração e manter-se em contacto com Ele por todos os meios possíveis e a todo o custo. Este modo de actuar fará desaparecer da oração os elementos que a tornam desagradávele difícil a certas espécies de almas. É também um remédio para um engano muito corrente sobre a natureza da oração mental, porque muita gente tem a noção de que esta é pura mente um exercício mental, um trabalho da inteli gência e das suas faculdades auxiliares, para des cobrir a verdade, para compreendê-la, para formar convicções e conduzir a propósitos - um trabalho da cabeça, mas absolutamente alheio ao coração. Na realidade, tudo isto é um mero prelúdio para a oração, se não oração em si mesma. É preciso ainda insistir em uma outra consideração a este respeito. Para muitas almas, uma visão impessoal ou abstracta da virtude, da perfeição, da alegria do Céu, ou qualquer outra consideração análoga, deixa em geral o coração intacto e não excita desejos. Nem produz oração nem nos impele à prática de virtude. O contacto pessoal com Deus, mostra todo o conjunto da vida espiritual a uma luz totalmente diferente e, muitas vezes sem muita consideração explicita ou sem resoluções particulares, conduz a alma inconscientemente à prática de muitas virtudes e introduz novas energias no seu caminho espiritual. Nota-se um efeito análogo nos negócios humanos, em que somos guiados e encorajados pelos exemplos dos nossos amigos, do mesmo modo que é já pro verbial a capacidade dJm homem apaixonado para mudar os seus traços mais característicos e esquecer o seu egoísmo. Este ponto poderia ser extensa mente desenvolvido, porque a vida espiritual é um 51 A DIFICULDADE DB ORAR enamorar-se de Cristo, mas o espaço impede-o. Contentemo-nos em dizer que este é um princípio que reso!verá muita , senão todas as dificuldades da vida da alma, porque Cristo é o caminho, a ver dade e a vida. Mesmo nos estádios áridos da oração contemplativa, quando a alma parece incapaz dum bom pensamento ou afecto, quando Deus parece não ser nada mais que uma palavra de quatro letras, ainda podemos manter-nos em contacto com Jesus. O contacto real com Ele é estabelecido através da fé - fé no seu amor e na sua misericórdia. Alcançamo-lo pela esperança e agarramo-nos a ele pelo amor, não importa a aridez do nosso acto de amor, desde que seja um acto de vontade a acei tar a vontade de Deus. Mas uma discussão mais detida de-.te ponto tem de aguardar um capítulo posterior. Há um abuso da oração mental que poderia ser bom indicar aqui, no qual estão sujeitos a cair todos aqueles que pregam ou ensinam. Consiste em fazer da sua oração mental uma preparação para o tra balho, mais do que um despertar da vontade para orar e para amar. Alguns, também, passam o tempo da meditação «pregando» a si mesmos, interes sando-se especialmente em encontrar belos pensa mentos e palavras para o fazer a seu gosto. Falar ao Senhor «com as nossas próprias palavras» pode ser o remédio desta doença. Algumas vezes a lista dos actos prescritos no livro que usamos, aparece-nos como uma droga intra gável. Pode ter-se como princípio geral de con duta, que ninguém deve sentir-se alguma vez obri gado a esgotar todos os actos da lista. Se um acto basta para nos manter ocupados, não deve ser posto de parte a pretexto de passar ao seguinte. Desde 52 A CAMINHO DA ORAÇÃO AFECITVA que o coração está ocupado com Deus, falando ou em silêncio, isso basta. Mais uma vez a demasiada atenção a um método pode criar obstáculo ao nosso proveito na oração e dar em resultado que todos os nossos actos se tornem «reflexos». Não fazemos apenas um acto, digamos, de fé, mas «observamo-nos» ao fazê-lo, e isto seria bastante como critica, tornando nota, todo o tempo, de tudo quanto fazemos. Além de não ser pequena carga, tal acto pode fazer com que nos preo cupemos mais connosco próprios do que com Deus. Esta é a ruína de qualquer oração, porque a oração é uma preocupação com Deus, e os estados mais ele vados de oração são absolutamente impossíveis, se uma alma se recusa a perder-se de vista a si mesma e aos seus esforços. De modo idêntico, uma con templação contínua dos insucessos c esforços esté reis do homem, apenas pode conduzir ao desânimo, a não ser que ao mesmo tempo conservemos diante dos olhos, Deus e a sua amorosa misericórdia. O remédio par4 todas as doenças semelhantes é o trato familiar com Jesus Cristo. Poderia parecer que, ao pormos a alma deste modo, em contacto com Cristo, e ao colocá-la em conversa com Ele sobre o assunto da meditação, estamos apenas a voltar à «composição de lugar». e à «aplicação dos sentidos» prescritos no método. Na verdade, não há razão pela qual o não devêssemos fazer, pelo menos até certo ponto, porque se não serenamos as faculdades dos sentidos por qualquer modo análogo, podem estorvar i:oda a oração com as suas divagações. Mas há aqui uma diferença de perspectiva que parece ser de importância. Àparte o facto de que este método de aproximação é mais espontâneo e se addpta automàticamente ao grau de oração que 53 A DIFICULOADB DB ORAR cada alma alcançou, tem esta característica parti cular : põe-nos em contacto com o Senhor como mestre, modelo e amante, vivo, presente à alma aqui e agora. A importância deste facto parece que é capital, e deve fazer urna grande diferença para a oração e para o fervor de muitas almas. S4 O R A Ç Ã O A F E C T I V A Já têm sido feitas frequentes referências à oração «afectiva>> e a sua natureza já foi mesmo indicada, se bem que apenas de passagem. O assunto, no entanto, requer mais alguma atenção. Os que estão familil'lrizados com o plano metódico para a oração mental, hão-de recordar que a consi deração de cada ponto deveria ser segui ia de deter minados «actos», e que a oração em conjunto deve ria terminar com um «colóquio» ou conversa com Deus ou algum dos seus santos. Quando estes actos e o colóquio se alargam pd.ra ocupar a maior parte do tempo da oração, a oração chama-se : «ora ção afectiva>>. É, portanto, um desenvolvimento natural da meditação, e de facto, se a meditação não incluir alguma oração afectiva, não chega sequer a ser oração. Não há, por consequência, nenhuma separação rígida e ajustada entre as duas formas. Na oração afectiva as considerações, seja devido a uma longa familialidade com o assunto ou a uma leitura espi ritual adequada, feita atentamente, ocupam um lugar pequeno e muito secundário, se é que de todo se fazem. Num relance, uma reflexão momentânea é bastante para relembrar e extrair tudo o que o assunto da oração significa para nós, e o coração começa imediatamente a exprimir-se em actos, 55 A DIFICULDADE DE ORAR petições, louvor ou qualquer outra manifestação da oração. A todas estas acções se dá o nome de «afectos». Para entender este termo correctamente, temos de esquecer por completo a associação com a pala vra afectivo porque, como já frisámos, este nome aplica-se aqui a todos aqueles movimentos da von tade para com Deus, que se manifestam em geral em actos das várias virtudes. É por esta razão que o termo «afectivo» se aplica a uma oração na qual predomi nam estes actos. No entanto, isto não quer significar nenhuma intensidade de sentimento ou emoção. Uma vez que este tipo de oração é uma audiência pessoal ou uma conversa amorosa com Deus, é susceptível de tantas variações quantas as pessoas que existem. Por isso mesmo não podemos esta belecer-lhe regras rígidas e estreitas. A grande coisa é falar com o Senhor com as nossas próprias palavras, com bastante simplicidade, acerca de qual quer assunto que seja de interesse mútuo. Nunca deveríamos enveredar pelas palavras ou frases boni tas. Não só o Senhor não procura lindos discursos como nem sequer nos pede uma boa gramática. De facto, a oração afectiva é muitas vezes bastante incoerente, usando-se uma palavra para exprimir urna multidãode sentimentos. Para algumas almas cujos espíritos estão cheios dos significados que encerra, o santo nome de Jesus é oração bastante. Aquela única palavra maravilhosa diz mais do que nós poderíamos alguma vez imaginar. Outras almas não podem encontrar palavras para dar expressão aos seus desejos. Rezam um tanto ou quanto assim : «Eu quero . . . Não sei que quero . . . Quero, apenas . . . » E o Senhor entende. Ele sabe que o que querem é Ele mesmo, tenham ou não consciência disso. 56 ORAÇÃO AFECITV A Tomando na devida conta o facto de que diferen tes temperamentos rezarão de modos bastante dife rentes, pode dizer-se que, pará muitos, a oração afectiva consistirá em enamorar-se de Cristo. A linguagem do amor humano despojada do seu sentido grosseiro, é o único modo de expressão que pode satisfazer a necessidade de articular o que sen tem algumas almas. Nem todos hão-de orar deste modo mas, para aqueles em que isso é natural, as mais delicadas formas de expressão do amor humano, são modelos excelentes para a nossa conversa com Deus. Ele quer possuir o nosso coração e quer dar-nos o seu coração, e quaisquer palavras que possam ajudar-nos nessa transacção, constituem urna oração perfeita. Este exemplo do amor humano pode ainda ajudar-nos doutro modo a compreender até onde podemos entender esta oração. Frequentemente a conversa dos namorados versa apenas sobre coisas vulgares e, no entanto, podem estar unidos um ao outro! Também na oração, as nossas palavras e mesmo o nosso assunto pode ser bastante vulgar e, no entanto, pode ser muito grande o amor que damos e demonstramos a Cristo. Outras almas, de diferente temperamento, servir -se-ão de palavras de orações que lhe são familiares, de versículos dos Salmos, de petições extraídas do mis sal, etc.. Se o estilo da oração pública da Igreja nos ocorre naturalmente, muito bem : se assim não é, então não deve tentar-se encaixar a oração de cada t}ual em estilo semelhante. «Dignai-vos» e outras palavras no género é preferível que se não usem. Um outro modo, que pode ajudar os que têm difi culdade de expressão, é o que sugere Santo Inácio, e consiste em repetir lentamente alguma oração vocal : o «Pai Nosso», a «Avé Maria», a «Alma de Cristo», 57 A DIFICULDADE DB ORAR a «Ladainha da Santíssima Virgem», etc. Para os que usam o Breviário, um único Salmo pode ser usado deste modo com grande êxito. Podemos sobre ele improvisar e desenvolver algumas das súplicas, ou podemos apenas escapar-nos, por assim dizer, por entre as frases, deixando que o coração se mostre a Deus sem palavras. Em capítulos anteriores se indi caram outros modos de entrar em contacto com o Senhor, e a devoção de cada um, há-de decerto encontrar aquele que melhor lhe quadrará a si. Há alguns erros que devem ser evitados. Um muito vulgar é esforçar-nos por enchermos nós toda a con versa. A alma deveria parar de vez em quando e escutar Deus. Ele responde-nos, na nossa cons ciência, no nosso coração, muitas vezes inconfundi velmente. É claro que nesta matéria, devemos estar em guarda contra a desilusão causada por imagi nações vãs e frfvolas, corno se diz rnodernamente. Um erro muito semelhante é julgar que devemos manter uma torrente continua de palavras quando não estamos a escutar o Senhor. Como ainda há pouco dissemos, deveríamos usar de uma certa elas ticidade nos intervalos dos actos. A capacidade para assim proceder, é muitas vezes a pedra de toque da nossa sinceridade. Assim, no momento em que acabámos de dizer a Jesus que o amamos com todo o nosso coração, só se formos sinceros, seremos capazes de permanecer silenciosa mente nesse sentimento. De outro modo sentir-nos -ernos obrigados a prosseguir dizendo qualquer outra coisa, para que não aconteça que o ouçamos dizer: «Se tu realmente me amasses, não farias isto e isto!» Esta é uma das maneiras que o Senhor utiliza para nos moldar segundo os desejos do seu coração. Um erro diverso é o de tentar sentir os nossos actos. O acto essencial do amor de Deus é feito 58 ORAÇÃO AFECTIVA com a vontade e, portanto, a não ser que ele se der rame por sobre as emoções, não pode ser sentido. A este respeito deveria ter-se bem presente a conhe cida doutrina da verdadeira contrição. O verda deiro arrependimento do pecado, é o afastamento da vontade de pecar e manifesta-se numa reso lução da vontade de evitá-lo no futuro. É bastante compatível com uma forte atracção animal para o prazer pecaminoso, sentida no apetite inferior, e com a consequente pena de abandoná-lo. Assim também, na oração, se os nossos actos pro cedem da vontade, não importa se afectam ou não o nosso sentimento. Uma vez que queremos amar a Deus, por essa mesma razão, com a ajuda da graça, amamo-lo realmente. Fora daquelas alturas em que o coração está árido e não pode produzir nem um bom pensa mento nem uma palavra boa, as mais importantes dificuldades da oração têm as suas raízes fora dela. Esta relação que existe entre toda a oração e o estado geral da vida espiritual, ainda não foi tratada. Um ponto podemos mencionar, já relacionado com a oração afectiva, porque esta espécie de oração é particularmente sensível às desordens na nossa vida espiritual. Levadas por uma noção errada de Deus e da atitude correcta a adoptar para com Ele, algumas almas têm grande dificuldade em «abandonar-se» e em falar com Ele naturalmente, quando em oração. Ora é verdade que a reverência é essencial a toda a oração. Mas na oração privada, estamos em con versa com um Deus que está enamorado de nós, e que procura uma grande intimidade connosco, e isto com tal ardor que nos dá o seu próprio corpo e sangue como alimento, mostrando assim quão inten samente deseja o nosso coração. 59 A DIFICULDADE DE ORAR Ele quer que lhe falemos livremente, e há-de dar -nos o desconto se a nossa atenção para com Ele nos leva a ser pouco cerimoniosos. Além disso, Ele próprio é o remédio para todas as nossas doen ças e, se há alguma coisa errada na nossa oração, tal como a falta da reverência devida, depressa Ele a pode corrigir. Mesmo correndo o risco de nos faltar reverência ou de estar imperfeitamente dis postos, é melhor entrar num estreito contacto com Aquele que veio para curar as nossas doenças, do que manter-se afastado d'Eie por um excesso de respeito. Os últimos traços do jansenismo estão longe de estar extintos nas nossas noções de piedade. 60 N O V O S P R O G R:E S S O S A partir deste ponto da subida dessa montanha que é a oração, há dois caminhos pelos quais podemos fazer novos progressos. Um é pela simplificação da oração propriamente dita, durante o tempo determinado para esse exercício. O outro é desen volvê-la em extensão, de modo a entretecer com ela o torvelinho do trabalho de todo o dia. Estes dois caminhos estão tão intimamente rela cionados um com o outro, que o melhor é tratá-los em conjunto. Uma vez que a oração se tomou afectiva - isto é, composta de actos, enquanto estes são distintos da reflexão - pode e deve com frequência ser renovada ao longo do dia, por insistentes aspirações que deve rão ser sempre curtas, muitas vezes originais e, em geral, com palavras nossas. Podem mesmo ser isentas de palavras; um sorriso, um olhar, um suspiro, um movimento de coração que nós próprios mal percebemos, podem dizer tanto como volumes e mais volumes a um amigo tão íntimo como Cristo. Se se desenvolve este hábito, a oração pode manter-se perfeitamente através das nossas ocupações mais absorventes, especialmente se a nossa oração brota do trabalho que temos entre mãos, num pedido de ajuda, de paciência nas difi- 61 A DIFICULDADE DE ORAR culdades, numa palavra de louvor por alguma dis posição
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