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Fase Primitiva da antiguidade fisiocracia 2

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HISTÓRIA DO 
PENSAMENTO 
ECONÔNOMICO
UFPB
Prof. Tiago Sobel
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FASE PRIMITIVA: O MUNDO 
ECONÔMICO “SEM” 
RACIONALIDADE PRÓPRIA
Ideias da antiguidade: Platão, Aristóteles e 
Romanos
Ideias da Idade Média
Mercantilismo
Fisiocracia
MATERIAL 2:
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1. Origem da economia como ciência
É difícil precisar nascimento da “ciência econômica” – porém, é considerado marco “A 
Riqueza das Nações” (Smith, 1776). 
Portanto, note que “ciência econômica” surge c/ “↑capitalismo” (séc.18) → por que? 
(se sempre houve problemas econômicos).
Tal relação vai além de coincidência histórica:
Vimos que objeto de estudo da economia são “fenômenos econômicos/sociedade”
Contudo, p/um tratamento científico é necessário que “objeto” possua 
racionalidade/lógica comportamental → nesse contexto, imagine: 
Ao longo da história, “agricultores/manufatores” poderiam decidir não produzir o 
suficiente → pq não ocorre? Quais “forças” movem a “natureza social” (visando 
↓calamidades):
• (i) Sociedades pré-capitalistas: tais “forças” estavam fortemente submetidas a 
“imposição da tradição” (atrelada a preceitos éticos, morais e religiosos) e “regras 
autoritárias” → dificulta identificação de racionalidade → “obstáculo”:
• Ex: regulamentações antieconômicas, proibição da “usura”, controle de P 
(→“PJUSTO”), regras/ocupações discriminadas e c/base na tradição (casta, 
família,...), etc.
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1. Origem da economia como ciência
– P/Smith: “No antigo Egito, por um princípio religioso, todo homem era levado a 
desempenhar a mesma ocupação que seu pai, e cometeria o mais terrível sacrilégio 
se mudasse para outra”. 
– P/Heilbroner: “até bem recentemente, na Índia, algumas ocupações eram 
tradicionalmente atribuídas de acordo com as castas (...) de fato, em boa parte do 
mundo não industrializado cada qual nasce para uma determinada tarefa”.
– “As pirâmides do antigo Egito não foram construídas porque um empreiteiro 
empreendedor enfiou na cabeça que iria construí-las (...). O Egito era uma sociedade 
autoritária; política à parte, eles asseguravam a sobrevivência econômica por meio 
dos decretos de uma autoridade e por castigos que a suprema autoridade aplicava 
em cada caso.”
– Heilbroner descrevendo julgamento em Boston (1639): “um tal de Keayne, um velho 
professor de Evangelho, era um homem rico e c/um só filho (...) passou por cima do 
amor à consciência e do conhecimento do Evangelho e foi acusado de crime 
hediondo: teve mais de seis pence de lucro sobre um xelim, ganho esse considerado 
ultrajante. A corte debate se deve excomungá-lo pelo pecado cometido, mas, em 
vista de seu passado sem manchas, finalmente se abranda e lhe dá a liberdade com 
uma multa de duzentas libras.”
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1. Origem da economia como ciência
• (ii) período capitalista: ↓preceitos baseados na “tradição/autoritarismo” → viabiliza 
interpretar “fenômenos” como esfera movida por “racionalidade própria”: 
– Agentes passam a mover-se segundo “comportamento lógico/presumido” → 
pautado por critérios como busca por máx.lucro, satisfação, eficiência,...;
– Portanto, como “regra de orientação de indivíduos/sociedade” observa-se: 
(i) “↓forças” baseadas na “tradição/autoritarismo”; 
(ii) “↑forças” baseadas pelo “auto-interesse” (→ considerado de “ordem 
natural”).
⇒ Resultado: visualiza-se um “arranjo social” cujo (i) “comportamento seria 
natural/presumível” e (ii) resultado seria o “progresso” → Sistema de Mercado
Contudo, não significa que “reflexões econômicas” não tenham sido feitas – cujo 
entendimento é importante p/compreensão da (i) “evolução do PE” e (ii) seu 
estabelecimento como ciência. 
Até Sec.15, tais “ideias” foram influenciadas por “correntes filosóficas”, destacando-se 
visões de Platão, Aristóteles, Romanos e Escolásticos – vejamos:
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2. Platão e a sociedade ideal (séc.4 a.C)
Platão apenas toca em temas econômicos, na busca por questões éticas/morais da 
sociedade → “economia” seria tema secundário → contexto: 
(i) Período conturbado – abalo na “estrutura aristocrática” → ↑certa “democracia”.
(ii) Mudança no “modo de pensar” (filosófico) – em que: 
• Crença de que “leis seriam naturais” (→ incontestáveis) – dá lugar à crença de 
“verdade relativa” (→ contestáveis → ↓noção absoluta de justiça → leis podem 
ser contestadas) → sofistas.
– OBS: P/sofistas, os elementos que regem conduta social seriam fruto de mera 
“convenção” estabelecida pelos “sábios” (detinham poder de convencimento).
Platão reage, afirmando haver “princípios verdadeiros” a serem seguidos → nesse 
contexto, tece considerações sobre temas econômicos, nas obras: “Protágoras”, “A 
República” e “As Leis” – vejamos:
1. PROTÁGORAS: 
No geral, destaca que “vida social” só seria possível se homens fossem dotados de 
“qualidades éticas” (p/não entrarem em conflito) → destaca “respeito e justiça”.
⇒ Logo, investigação da “esfera social” vinculada à considerações “éticas”.
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2. A REPÚBLICA: aprofunda seu “conceito de justiça” e sua “doutrina ética-social”.
Argumenta que “justiça” seria um conceito que: 
• (i) apenas se realizaria em “sociedade/cidades” → que surgem naturalmente pela 
busca do homem em melhor satisfazer necessidades (via “troca de excedentes”);
• (ii) consiste em atribuir a cada cidadão o papel social que melhor lhe compete por 
suas habilidades naturais (dado que a natureza fez todos diferentes em aptidões).
⇒ “Justiça da cidade” consistiria em distribuir ofícios segundo qualidades inatas, de 
modo que cada um (i) cumpra papel segundo aptidões e (ii) leve uma vida 
conforme função que lhe cabe.
– OBS: Smith retoma tema “divisão do trabalho” (embora c/enfoque econômico).
Nesse contexto, haveria 3 tipos gerais que ocupariam as seguintes funções: 
• (i) guerreiros: os c/maior forca física;
• (ii) agricultores e artesãos: os c/força física e senso de obediência;
• (iii) governantes: os c/maior propensão a sabedoria e domínio das paixões (OBS: 
note que “sociedade ideal” seria “não-democrática”).
2. Platão e a sociedade ideal (séc.4 a.C)
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2. A REPÚBLICA (CONT.):
Porém, p/que todos ocupem seu “papel”, algumas condições deveriam ser observadas: 
• (i) Sist.educacional que discrimine por aptidões – educadores encaminhariam crianças; 
• (ii) Todos deveriam ser amigos, viabilizando determinações/bens comuns.
Resumo: Platão defendia “comunismo” – pois: favoreceria amizade, definição de 
funções, evitaria busca por enriquecimento excessivo, etc. 
3. AS LEIS:
Platão tinha consciência de que este seria apenas um modelo de “cidade ideal”, 
reconhecendo que tais características não se verificariam em cidades concretas. 
Assim, propõe meios p/se aproximar desse “ideal” (via intervenções econômicas):
• Ex: repartição da propriedade, sistema tributário que busque igualdade, confisco de 
fortunas e regulamentação de heranças, proibição de empréstimos c/altos juros, etc.
Ou seja, p/se aproximar da “cidade ideal”, Platão discorre sobre necessidade do Estado 
controlar a economia (impondo condições ao setor privado e repartindo riqueza).
Resumo: note que todas prescrições de “natureza econômica” são apenas meios 
pensados p/alcançar ideal de “justiça”.
2. Platão e a sociedade ideal (séc.4 a.C)
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3. Noções de Aristóteles (Séc. 4 a.C)
Discípulo de Platão, o segue em aspectos filosóficos – porém, diferencia-se em “economia”:
Via o homem como um “ser social” → portanto, cujo lugar natural seria a “sociedade”, onde 
buscaria o principal propósito: busca da felicidade → nessa, considera 2 pontos gerais:
(i) “Felicidade” não viria meramente da riqueza – logo, condenava “busca insana”, exceto ao 
atendimento de “necessidades básicas” → riqueza deve servir as necessidades e não a 
ganância;
(ii) Haveria outras dimensões de “felicidade” – destaca: o “prazer do pensamento racional”, 
no uso da razão e da contemplação.• Por sua vez, “felicidade contemplativa” (associada ao “uso da razão”) requereria 
“atendimento de necessidades básicas, ter bons amigos e uma descendência feliz”
⇒ Resumo: p/ “felicidade” seriam necessários recursos econômicos → nesse contexto, tece 
considerações de natureza econômica – destacam-se os seguintes pontos:
Critica o comunismo de Platão (argumentos interdependentes – muitos ainda utilizados): 
(i) “Bens comuns” seriam fonte de conflito (↓interesse) → amizade requer “prop.privada” 
(ii) No comunismo o ônus da manutenção das novas gerações é repassado à sociedade – logo, 
indivíduos não refreariam ímpeto de procriação (→ leva à divisão infinita dos recursos). 
(iii) Desigualdades poderia ser útil, pois ricos pagam “T” p/que Estado oferte bens públicos;
(iv) Sist.Educacional de Platão é combatida, pois filhos deveriam estar c/os pais, etc.
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3.1 Economia vs. Crematística
Vimos: busca ilimitada por riqueza não traria felicidade – embora certo conforto material 
(voltado ao atendimento de necessidades naturais) seria condição à felicidade.
⇒ Portanto, apenas este “atendimento” seria digno de ser examinado pela Economia. 
Nesse contexto, expõe distinção entre Economia e Crematística: 
(i) Economia: preocupa-se c/atendimento de necessidades humanas → logo, estuda 
“modos naturais” de aquisição de bens – via agricultura, pecuária, pesca e caça.
(ii) Crematística: preocupa-se c/mero acúmulo de riquezas → logo, estuda “modos não-
naturais” de adquirir riqueza – via comércio e atividades financeiras (juros).
• Assim, “Crematística Pura” corromperia a alma → condenável:
– “Causa muito descontentamento a prática da usura; e o descontentamento é 
plenamente justificado, pois o lucro resulta do dinheiro em si (...) de todos os 
meios de enriquecimento, este é o mais contrário à natureza”
Porém, o “comércio” poderia ser aceito moralmente quando não focado meramente na 
“acumulação” (→ faria parte da “Economia”) – p/tal, teria que atender tais critérios: 
(i) reciprocidade (ambos ganham). 
(ii) justiça, considerada c/base na noção de mérito: “dar mais a quem merecem mais”. 
Tais questões lançam sementes a aspecto importante do PE: como avaliar 
“justiça/mérito” nas trocas? Quais critérios considerar? Vejamos:
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3.1 Economia vs. Crematística
Embora oscile, Aristóteles lança algumas ideias (sobre “justiça nas trocas”) : 
(i) primeiro considera que as partes devem receber segundo o trabalho despendido 
→ antecipa a “Teoria do Valor-Trabalho”. 
• Porém, é ciente das dificuldades desta “medida de mérito” – sobretudo, pelas 
diferenças qualitativas entre trabalhos de naturezas distintas.
(ii) Logo, parte ao princípio da “importância do bem em atender necessidades”.
• Porém, é ciente que envolve avaliações subjetivas → logo, tb mostrando-se 
cético quanto ao seu uso na avaliação moral. 
Embora não chegue a “conclusões” – é interessante notar que Aristóteles lança bases 
das principais vertentes do PE na explicação do valor: as teorias do valor-trabalho e 
do valor-subjetivo.
OBS: ainda introduz debate sobre natureza da moeda (visando explicar avaliações 
subjetivas do valor) – ex: determinante de seu valor (metalismo vs. nominalismo), 
funções (ex: intermediário de troca, reserva de valor,...), etc. 
4. PE entre Romanos (3 a.C→Séc.5)
Decadência da “civilização grega” → Roma emerge como maior império da Antiguidade:
Intensa movimentação econômica – ex: desenvolvimento de comércio, instituições 
financeiras, hábitos de consumo, etc.
↑Problemas econômicos (típicos da “era moderna”) – ex: crises monetárias, fiscais, de 
balança comercial, etc. 
Nesse contexto, era de se esperar ↑desenvolvimento do “PE” → não houve, explicado por 
“cultura de viés pragmático” → ↑preocupação com ações/ideias práticas (não c/análises 
teóricas).
Porém, houve certa evolução, destacando-se no “sistema de leis” → defesa de normas 
c/“↓viés moral” (ainda sem “desvinculação”) → 2 influências filosóficas:
Estóica: acredita na ideia de que “leis naturais” (divinas e racionais) governam 
comportamentos (→ visão fatalista) – OBS: ideia de “natural” é retomada no séc.18.
Epicurista: põe ênfase no indivíduo isoladamente (em detrimento do “ser social”):
⇒ Resultado: o homem sempre buscaria max.felicidade individual (comportamento 
natural/hedonista) – OBS: antecipa concepções (neo)clássicas dos séc.18-19.
Tal contexto resultou em sistema jurídico que priorizava “direitos individuais” (mais 
do que “os de comunidade”) → assim, desenvolve-se instituições voltadas a “liberdade 
contratual” e de “direitos de propriedade” (→ favorece processos econômicos).
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4.2 Decadência Romana e o PE
Contudo, decadência do Imp.Romano passou a estimular PE de viés mais 
intervencionista (pelos imperadores) como tentativa de evitá-la – ex: fixação de P e 
juros “justos”, protecionismo, etc.
Ademais, embora encontremos um PE menos subordinado à questões morais, não se 
pode afirmar que estas foram abandonadas por completo.
Ex: mantém condenação à busca desenfreada por riqueza (apologia a vida 
simples).
Contudo, constata-se certo progresso no “PE” (indo de encontro a “visão 
antieconômica”) – sobretudo havendo:
(i) Maior defesa da propriedade (legítima se adquirida conforme o direito);
(ii) Riqueza não “tão condenável” (desde que obtida “honestamente”).
Resumo: embora não acrescentem muito ao PE, o estudo das doutrinas romanas tem 
sua importância p/uma melhor compreensão da evolução do PE.
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5. Uma nova sociedade (Séc.3→5) →↑↓∆
Imp.Romano inicia derrocada → emerge novo conjunto de crenças aliadas a 
preceitos “cristãos” (vindo com os bárbaro-germanicos e a expansão de Carlos 
Magno).
Tal cenário trouxe implicações aos processos econômicos:
(i) Leis romanas (de certo viés voltado aos “direitos individuais”) dão lugar a 
costumes fortemente direcionados a “interesses comunitários”;
(ii) Retoma-se o forte sentimento de reprovação ao acúmulo de riqueza 
individual (→ segundo a igreja, riqueza seria uma “dádiva de Deus”).
⇒ No geral, a igreja defendia “comunitarismo”
• OBS: preocupados com “dízimos”, gradativamente a igreja flexibiliza visão 
→ “riqueza” não mais condenável, mas o seu uso – devendo haver 
benevolência em relação aos “pobres/Deus” (pois “da prática da caridade, 
a sociedade viveriam em paz”).
Este era o cenário geral do PE na Europa quando inicia-se a Id.Média – 
vejamos:
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5.1. 1ª Etapa Medieval (Séc.5→1200)
Europa entra em período de “ruralização” (c/relativo desaparecimento de 
cidades) e menor fervor cultural → PE não evolui substancialmente. 
No séc.8, aflora o Imp.Islâmico, que se destaca por certo padrão cultural, ligado 
a literatura, ciências e filosofia → relativa evolução na matemática (aritmética e 
contabilidade) e tradução dos filósofos gregos (influenciará o “PE” pós-1200).
Não há um Estado Central, mas um grande no.de feudos onde havia relação de 
parceria entre “senhores e camponeses”, regulado por “costumes” (→ “↓Leis 
Romanas” – ex: camponeses transferem parte da produção e senhores dão-lhes 
proteção).
Predomina a “atividade agrícola” (embora c/↓produção de excedentes) – e 
sendo limitadas as “atividades artesanal/comercial”.
Ademais, a “ética cristã” (atrelada ao consequente “altruísmo dos ricos”) ajudava 
a manter relativamente coesa a organização social, acalmando tensões e 
protegendo “governantes/elites” contra a maioria camponesa.
OBS: note existência de divisão do poder político (→ senhores, reis e igreja). 
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Séc.12: ↑produtividade agrícola (via rodízio de culturas, novos adubos,...) →
↑excedentes → origem de grupo de “novos-ricos” e “dissolução das relações feudais”
Portanto, “1ª Revolução Agrícola” (↑excedentes) teve como consequências: 
↑comércio, enriquecimento e ↑demográfica →
Formação de feiras e núcleos urbanos → viabiliza ↑relações de mercadoe 
↑cidades “autônomas” (pois “feiras” estavam sob tutela dos senhores feudais) →
• OBS: assim ↑instituições próprias, dentre elas as “Guildas” (corporações que 
regulavam produção e atividades financeiras/comerciais).
No contexto da evolução, gradualmente ↑flexibilidade cristã quanto a “juros e 
comércio” – ex: ↑banqueiros, ↑sistemas legais de transações comerciais,...
• OBS: ainda “↑carroças, estradas e navegação” → contribuem ↑comércio. 
⇒ Resultado: ↓importância dos “senhores”, substituindo “antigos vínculos” por 
“relações de mercado” – OBS: processo gradual (ex: revoltas, retrocessos,..)
Todo esse cenário contribuiu à melhor compreensão da economia, aparecendo nas 
“reflexões dos escolásticos” (1200-1500) → avanço no “PE” – vejamos:
5.2. 2ª Etapa Medieval (1200→1500)
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5.3 Análise Escolástica (1200→1500)
O “PE” do séc.13 foi desenvolvido por padres inspirados nas obras gregas (sobretudo 
Aristóteles) → temas principais: “mercados, preço e valor”.
Ideias estruturadas em “cadeia dedutiva de raciocínio” que buscavam refutar posições 
contrárias pela lógica e fé/autoridade → logo, mantém preocupação com “questões morais”, 
especialmente acerca da “justiça”.
Sobre o “valor”, o principal aspecto a ser ressaltado é a distinção entre:
(i) “ordem natural”: bens ordenados pela importância no atendimento às necessidades
básicas/naturais → mais ligado ao “custo/oferta” (Magno e Scotus). 
(ii) “ordem econômica”: prevalece critério da busca do prazer – não necessariamente 
de “base natural” → mais ligado à “utilidade/demanda” (Aquino, Friemar e Buridan).
⇒ Resumo: mesmo ainda misturando análise “moral” e “objetiva”, evoluem reflexões sobre 
“valor” (frente a noção aristotélica) → evolui noção de que “valor” dependeria de “oferta” 
e “demanda”. 
Em outras palavras, evolui ideia de que “valor” resultaria de “equilíbrio de mercado” 
(embora ainda não houvesse clara compreensão de “determinação de P” c/base no 
comportamento de “oferta vs. demanda”).
OBS: no séc.18, predomina modelos ênfase na “teoria do valor-trabalho”. 
6. Mercantilismo (Séc.16-18) →↑↓∆
Contexto: “↑cidades” e “enriquecimento nova classe” → associação entre “monarcas e novos-
ricos” (via protecionismo, monopólio, controle w...) → fortalecimento de ambos em detrimento 
de “senhores feudais” e “igreja” → ↑Estados-Nação → ambiente favorável a um “novo PE”:
⇒ Resultado: Mercantilismo → doutrina que acompanha surgimento de Estados-Nação 
(séc.16-17) → constitui transição entre: 
(i) práticas marcadas por fervor “ético/religioso”; 
(ii) nascimento de concepções mais pragmáticas (→ Clássicos).
⇒ Resultado: “fenômenos econômicos” começam a ser vistos como um cosmo dotado de 
racionalidade própria → culminará na “economia científica”.
Portanto, embora não tenha havido ideias unificadoras, constituiu momento de relativa 
“fertilidade no PE” → sobretudo, temas ligado a “administração pública” (visando ↑Estado).
Nesse contexto, pensadores (Maquiavel, Hobbes…) idealizam “novo modelo de sociedade”: 
O homen seria naturalmente corrupto/egoísta (“↓ético-cristão”) → logo, deveria ser
governado por um soberano c/condições de estabelecer um “contrato social” que 
assegurasse controle dos impulsos → justifica-se estado forte/interventor.
Porém, justifica-se “↑Estado” tb por outras vias – destaque: “Tese da Utilidade da Pobreza” 
e “Metalismo” – vejamos:
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6.1 Tese da utilidade da pobreza →↑↓∆
Segundo esta tese, “intervenções” se justificariam pela “busca da riqueza nacional”, a 
partir da ideia de que: riqueza nacional não resultaria do “∑riquezas individuais”, mas 
de “↓w”:
“O homem comum que vive sem conforto não perde seu ímpeto pelo trabalho e 
mantém-se longe dos vícios” → contribui ao fortalecimento da Nação.
⇒ Portanto, “w” deveriam ser regulados (→ “w máximo”). 
• OBS1: somente “nobres e minoria de comerciantes” estariam preparados p/vida 
de riquezas (visando fortalecer Estado) → logo, políticas deveriam favorecê-los.
• OBS2: tal argumento deu base a “Curva de Ns” (micro moderna): a partir de 
“certo w” → “efeito renda > efeito substituição” → ↓Ns.
Note que (indiretamente) uma das preocupações desse argumento seria o “emprego” 
– OBS: embora, tenha havido “↑desemprego/mendicância” – razões:
↑indústrias manufatureiras (substituindo artesanato); ↑monopólios a grandes 
mercadores (quebrando pequenos); expulsão de população rural (p/↑produção de 
lã); “↓paternalismo da igreja” substituído por “↑ação do Estado”, etc.
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6.2 Metalismo
Ademais, ↑cidades/mercados gerou escassez relativa de metais (p/↑trocas) – 
solucionado por “descoberta de colônias” – que, adicionalmente, viabilizou estímulo a 
produção (dado contexto de economias sem pressões inflacionárias e c/desemprego).
⇒ Resultado: associação induzida entre “M e Riqueza” (Metalismo) → argumentos 
centrais:
(i) Facilita trocas → viabiliza ↑comércio → incentiva ↑produção;
(ii) ↑M gera ↓juros → ↑empréstimos → ↑I → incentive ↑produção/comércio.
• OBS: embora tenha algo de verdadeiro, “sabe-se” que ambas são “falsas”:
– (i) Benefícios do ↑Ms dependem de “P=cte” – ameaçado pelo próprio ↑Ms;
– (ii) I depende não só de juros, mas tb de DAe, incerteza (“P=cte”), etc.
De qualquer modo, dada a crença de que “↑M gera ↑Y” → “comércio externo” passou 
a ser visto como meio p/ “↑metais preciosos” → visto como “jogo de soma zero” 
(OBS: Ricardo modifica com TVC).
⇒ Tal visão justifica ações intervencionistas/proteciostas (visando ↓imp. e ↑exp).
OBS: p/Smith metalismo objetivava apenas justificar ações do Estado (ex: 
colonialismo, pacto colonial, protecionismos, monopólios, guerras,...).
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6.3Etapas do PE Mercantilista →↑↓∆
Ademais, outras “teorias monetaristas” surgiram junto aos “problemas inflacionários” 
trazidos pelo “↑fluxo de metais” – em que: 
(i) primeiro, acreditou-se que ↑P resultaria de “adulterações na M” (↓metal nela 
contida) → logo, “M boa” seria substituída por “M má” → ↑P (Lei de Gresham);
(ii) em seguida, acreditou-se que “poder de compra de M” varia inversamente à 
sua oferta → ↑P (embora não soubessem explicar bem conexão entre M e P) → 
embrião da “TQM” – OBS: Bodin (séc.16), Hume e Locke (séc.17).
• OBS: mesmo muitos admitindo esta tese, se manteve “metalismo”. 
Ademais, houve avanço na análise dos “juros” → “↓condenações morais”, utilizando-
se argumentos mais sofisticados contra “usura” (→ ligados à ↓crescimento).
Por fim, vale destacar evolução de técnicas contábeis → busca viabilizar análise 
do que era a maior preocupação (↑Estado-Nação) – destaca-se Misselden (séc.17):
Evolui conhecimentos/técnicas sobre “balanço de pgtos” (→“fluxos de metais” vs. 
“fluxos comérciais/financeiros”) → embasa defesa do protecionismo.
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6.4Considerações sobre Mercantilismo
No geral, há dois pontos a se considerar sobre o “PE mercantilista”: 
(i) embora sempre argumentado o “bem da nação” (p/justificar
“intervencionismos”) – sabe-se que havia outros interesses (↑lucro
comerciantes e ↑poder do rei);
• Lembre-se relação de ajuda mútua entre “Estado e Novos-
Burgueses” → ficando a maioria do população a margem.
(ii) porém, deve se considerar que (p/época) havia certa
racionalidade nos argumentos – dados: 
• realidade da época e observação de fenômenos (ex: “↑M e ↑Y”, 
utilidade da pobreza, etc.); hostilidade entre Nações, luta contra 
a volta do sistema feudal (necessitando Estado forte), etc.
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7. Transição ao liberalismo (Séc.18) →↑↓∆
No Séc.18, o mercantilismo começa a sofrer ↑restrições – principais razões: 
(i) Rev.Industrial → fortalece “nova burguesia” → passa a reagir aos abusos 
do Estado (ex: ↑regras e controle sobre economia/comportamentos – casos 
em que nobreza embolsava 80% da renda de comerciantes...);
⇒ Resulta movimentos revolucionários contra tais abusos (ex: Revolução 
Francesa, Gloriosa, Independência dos EUA,...);(ii) Concomitantemente, há amplo progresso intelectual/científico →
“Iluminismo” (= “Idade da Razão”) → “razão” deveria predominar sobre 
“teocentrismo” e “autoridade”.
Tal junção fez com que “pensadores” buscassem novo conjunto de princípios p/ 
economia → pautado (i) em análise “racional/cientifica” (recusa de dogmas) e 
(ii) não mais a subjugando aos interessas da “nobreza/estado” e “clero”, mas em 
prol da “burguesia” → ↓intervenção estado.
Nesse contexto, emerge fase “Liberal”, precedida pelos “Fisiocratas” – vejamos:
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8. Escola Fisiocrata (Séc.18)
Origem no Séc.18, sendo o 1º grupo organizado formalmente como “escola”. 
Crença comum: a “sociedade/economia” funciona como organismo regido por “leis naturais” 
(→ “ordem natural” governa a sociedade) → viável estuda-la cientificamente:
E o respeito a esta “ordem” resultaria “SE ideal”→ “laissez-faire, laisez-passer” 
Maiores preocupações: identificar “princípios racionais” que regem: 
(i) “produção” e “acumulação de riquezas” (enfatizam “I produtivo”) → cujo “setor-
chave” seria agricultura – pois, apenas nele seriam criados “excedentes” (→ gera mais 
do que é consumido na produção, fruto de “fatores naturais”).
• “A natureza fornece a riqueza bruta e o homem a transforma c/seu trabalho” → 
“atividade manufatureira” apenas transformaria bens (→ estéril).
• Ex: p/cozinheiro: 100 ervilhas viram um prato de 100 ervilhas; p/agricultor: 100 
ervilhas viram 1000 ervilhas. 
– OBS: ↑França → predominava atividades agrícolas (↓manufatureiras/industriais) 
(ii) fluxo renda – buscando entender funcionamento do SE, via interações entre classes
Dentre principais pensadores, destacam-se: Turgot, Baudeau e Quesnay – sendo este 
último o líder do movimento – vejamos:
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8.1 François Quesnay
Médico, sua obra “Tableau Économique” é a mais conhecida da “escola fisiocrata”.
Destaca que a compreensão do “fluxo de renda” entre classes seria fundamental 
p/compreensão do crescimento → divide sociedade em 3 classes:
1. Produtiva – basicamente agricultores;
2. Estéril – manufatureiros, mercadores, servos e profissionais liberais;
3. Ociosa – meros proprietários de terra e de outros bens.
Analisando este fluxo (num modelo “fechado e estático”), conclui que a renda criada 
em “1” movimenta a atividade econômica das “três classes”.
Assim, “crescimento” seria função de gastos direcionados a “1” (denominados 
“adiantamentos”) – podendo ser de 4 tipos:
1. Adiantamentos anuais → “capital de giro” p/produção agrícola;
2. Adiantamentos primitivos → para reposição das “ferramentas agrícolas”;
3. Adiantamentos em melhorias permanentes nas terras;
4. Adiantamentos em “capital social fixo” (estradas, canais, portos,...).
Portanto, “↑adiantamentos” (implicando ↑I produtivo) → ↑crescimento. 
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8.1 François Quesnay
Portanto, PEs deveriam estimular “adiantamentos” – ex: ↓T sobre “produtor”, 
em detrimento dos “proprietários de terra” (pois estes destinavam seus 
ganhos sobretudo ao “C”).
Porém, Quesnay dizia não ser contra essa classe (pelo contrário), pois:
(i) era um defensor da propriedade privada;
(ii) via o proprietário tb responsável por “alguns adiantamentos” (e não 
apenas como “C”);
(iii) acreditava que as políticas que recomendava levaria a “↑renda da 
terra” que mais que compensaria o ↑T proposto (recompensando 
“proprietários”).
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8.2 Considerações Finais
Enfim, acreditavam que crescimento viria de “não-intervenção” e incentivos especiais 
ao “setor agrícola” – tiveram prestígio, mas rapidamente declinou, pois:
(i) embora ideais/propostas tivessem alguns méritos – exemplos: 
• Contribuições conceituais (ex: excedente, adiantamento,...); noção correta de 
que “crescimento é função de I”; ideia adequada (p/época) de que T deveriam 
penalizar “menos produção” e “mais C de proprietários”,...
(ii) também apresentava falhas – exemplos:
• Não explica satisfatoriamente “criação de excedente” – OBS: Smith percebe e 
desenvolve uma “teoria do valor” antes da “teoria do crescimento” (apoia-se na 
“∆K”, a la Quesnay).
• Põe agricultura como única geradora de excedente – sabe-se que outras 
atividades tb ∆insumos e/ou gera utilidades → valor (→ excedentes),...
Contudo, todas estas falhas foram levantadas por “escolas posteriores”, servindo de 
embasamento para a evolução do PE.
O mais importante a observar → fisiocratas confirmam tendência do séc.18 de 
reconhecer uma “ordem natural” subjacente aos “fenômenos econômicos”.

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