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1 Livro - Direito e Economia, 2019

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Prévia do material em texto

Pablo Jiménez Serrano 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO E ECONOMIA 
DIÁLOGO ENTRE ECONOMIA POLÍTICA E SISTEMAS DE DIREITO 
 
 
 
 
 
PARA UMA 
CRÍTICA AO FATALISMO ECONÔMICO, EM FACE DA 
CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDITORA JURISMESTRE 
 
 CONSELHO EDITORIAL 
 
Presidente: 
Pablo Jiménez Serrano. Doutor em Direito, UNISAL, Lorena-SP, Unifoa-RJ, UBM-RJ. 
 
Membros: 
Prof. Dr. Celso Antonio Pacheco Fiorillo (Academia de Direitos Humanos/Brasil). Chanceler da Academia de Direitos 
Humanos é o primeiro professor Livre Docente em Direito Ambiental do Brasil bem como Doutor e Mestre em Direito das 
Relações Sociais (pela PUC/SP). Miembro colaborador del Grupo de Investigación Reconocido IUDICIUM: Grupo de 
Estudios Procesales de la Universidad de Salamanca (ESPAÑA) y Director Académico del Congreso de Derecho Ambiental 
Contemporáneo España/Brasil-Universidad de Salamanca (ESPAÑA). Professor convidado visitante da Escola Superior de 
Tecnologia do Instituto Politécnico de Tomar (PORTUGAL) e Professor Visitante/Pesquisador da Facoltà di Giurisprudenza 
della Seconda Università Degli Studi di Napoli (ITALIA). 
Grasiele Augusta Ferreira Nascimento. Doutora em Direito, UNISAL, Lorena-SP. 
Rolando Antonio Rios Ferrer. Doutor em Direito. Universidade Lusófona de Cabo Verde. 
Mario González Arencibia. Doutor em Ciências Econômicas. Universidad de Habana, Cuba. 
Lino Rampazzo. Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma). 
Cláudia Ribeiro Pereira Nunes. PhD, PPGD/UVA, UBM-RJ 
Ana Maria Viola. Doutora em Direito. UNISAL, Lorena-SP. 
Daniele Mattoso Hammes. Doutora em Sociologia Política, UBM-RJ. 
 
CONSELHO CIENTÍFICO-TÉCNICO 
Revisão Editorial: Pablo Jiménez Serrano. Diretor. 
Revisão Textual: Maricineia Pereira Meireles da Silva, UBM e UniFOA. 
Tradução: José Alfredo Jiménez Serrano. Professor de Língua Inglesa e Literatura Espanhola. 
Projeto gráfico da capa: Luciano Fonseca. Tecnologia de Sistema de Computação, UFF. 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
Bibliotecária: Alice Tacão Wagner - CRB 7/RJ 4316 
 
 
 
 
 
 
 
Editoração e Acabamento: 
Editora Jurismestre – Rua H, n. 173 
Fone: (24) 99905-8200 – 27crítica251-223 – Volta Redonda, RJ. 
www.loja.jurismestre.com.br 
contato@jurismestre.com.br 
 
 
S487p 
 Serrano, Pablo Jiménez. 
 Direito e economia: diálogo entre economia política e sistemas de direito, 
para uma crítica ao fatalismo econômico. [livro eletrônico] / Pablo Jiménez 
Serrano. – Rio de Janeiro: Jurismestre, 2019. 
 
 268 p. : Il. 
 
 
 ISBN: 978-85-69257-52-3 
 
 
 
 
 1. Economia. 2. Direito - sistemas. I. Título. 
 
CDD – 340.14 
 
 
http://www.loja.jurismestre.com.br/
 
 
 
Ao meu pai ALFREDO e à minha mãe, 
CRISTINA, 
pelo afeto e carinho. 
 
 
Aos meus filhos, 
tesouros e presentes de Deus. 
 
 
 
 
 
Pablo Jiménez Serrano 
 
Graduação em Direito pela Universidade do Oriente, Cuba (1983), Mestrado em 
Epistemologia da Política e do Direito pela Universidade São Judas Tadeu (2005) e 
Doutorado em Direito pela Universidade do Oriente, Cuba (1996), diploma revalidado 
(RECONHECIDO), de acordo com os documentos constantes do Processo n. 2000.1.4694.1.7 
pela Universidade de São Paulo - USP/SP (02 de agosto de 2004). Cursou o Programa de 
Doutorado: Metodologia Fontes e Instituições Jurídicas da Universidade de Alicante, 
Espanha. Professor e pesquisador do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Unisal, 
Lorena. Professor e pesquisador do Centro Universitário de Volta Redonda, UniFOA. Tem 
experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Civil e Direito do Consumidor, atuando 
principalmente nos seguintes temas: Metodologia do Ensino e da Pesquisa Jurídica, 
Hermenêutica e Interpretação Jurídica, Filosofia do Direito, Ética Pública e Empresarial, 
Teoria do Direito etc. É autor de vários livros e artigos científicos. 
 
 
 
 
 
Nas sociedades modernas, a livre iniciativa há de ser o princípio 
motor do desenvolvimento, a ética pública o pilar da política e o 
direito um instrumento de concretização da justiça. 
 
(SERRANO, Pablo Jiménez, 2019) 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO______________________________________________________________ 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9 
 
CAPÍTULO 1 CONCEITOS DE CIÊNCIA ECONÔMICA ...................................................11 
1.1 A definição de Ciência Econômica ................................................................................... 11 
1.2 O objeto de estudo da Ciência Econômica ........................................................................ 12 
1.3 Estrutura da Ciência Econômica ....................................................................................... 15 
1.3.1 O conceito de Microeconomia ....................................................................................... 15 
1.3.2 Conceito de Macroeconomia ......................................................................................... 16 
1.4 Acerca da distinção entre Ciência Econômica e Economia Política ................................. 17 
1.5 Importância do estudo da Economia Política nos Cursos Jurídicos .................................. 22 
 
CAPÍTULO 2 O PENSAMENTO ECONÔMICO ................................................................. 25 
2.1 Origem e evolução do pensamento econômico ................................................................. 25 
2.1.1 Idade Antiga ................................................................................................................... 26 
2.1.2 Idade Média .................................................................................................................... 31 
2.1.3 Escola Clássica ............................................................................................................... 44 
2.1.4 Escola Histórica ............................................................................................................. 59 
2.1.5 Escola Neoclássica ......................................................................................................... 77 
2.1.5.1 Corrente Marginalista ................................................................................................. 77 
2.1.6 A lógica do pensamento econômico moderno ............................................................... 87 
2.2 Sistemas econômicos ........................................................................................................ 90 
 
CAPÍTULO 3 DIÁLOGO ENTRE ECONOMIA E DIREITO ............................................ 102 
3.1 Direito e Economia ......................................................................................................... 102 
3.2 O Conceito do Direito à luz da Economia ...................................................................... 106 
3.2.1 O fato econômico como objeto do direito .................................................................... 108 
3.2.1.1 Distinção entre fato econômico e fenômeno jurídico ............................................... 111 
3.2.2 O fenômeno econômico como objeto do conhecimento jurídico ................................ 113 
3.2.3 A correspondência entre a economia e o direito: leis econômicas e leis jurídicas ..... 118 
 
CAPÍTULO 4 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO ......................................................122 
4.1 Naturalismo econômico .................................................................................................. 122 
4.2 Os princípios da econômica aplicados ao Direito ........................................................... 127 
4.2.1 Utilidade dos princípios: estudo de casos .................................................................... 135 
4.3 Eficiênciaeconômica e concretização de direitos ........................................................... 143 
 
CAPÍTULO 5 ECONOMIA, SOCIEDADE E MERCADOS .............................................. 146 
5.1 Economia, sociedade e mercados .................................................................................... 146 
5.2 Produção .......................................................................................................................... 149 
5.2.1 Trabalho ....................................................................................................................... 152 
5.2.2 Salário .......................................................................................................................... 154 
5.2.3 Produto ......................................................................................................................... 156 
5.2.4 Serviços ........................................................................................................................ 159 
 
 
 
5.3 Distribuição ..................................................................................................................... 168 
5.3.1 Mercado ....................................................................................................................... 169 
5.3.1.1 O equilíbrio de mercado ............................................................................................ 170 
5.3.1.2 Oferta e demanda ...................................................................................................... 171 
5.3.1.3 Preço .......................................................................................................................... 174 
5.4 Consumo ......................................................................................................................... 180 
5.4.1 Consumo, necessidade e desejo ................................................................................... 191 
 
CAPÍTULO 6 ESTADO, POLÍTICA E GOVERNO ........................................................... 200 
6.1 Estado, economia e governo ........................................................................................... 200 
6.2 A dimensão política na esfera economia ......................................................................... 205 
6.3 Economia e ações do governo ......................................................................................... 206 
6.3.1 Planejamento econômico ............................................................................................. 210 
6.3.2 Políticas econômicas .................................................................................................... 216 
6.3.3 Desenvolvimento econômico ....................................................................................... 216 
6.3.3.1 O papel das empresas no desenvolvimento econômico ............................................ 217 
6.3.3.1.1 A concepção do lucro das empresas: lucro ético ................................................... 220 
6.3.3.2 A mão invisível? ....................................................................................................... 222 
6.4 O fatalismo econômico ................................................................................................... 225 
 
CAPÍTULO 7 ECONOMIA AMBIENTAL ......................................................................... 230 
7.1 Economia Ambiental ....................................................................................................... 230 
7.2 Preservação do Meio Ambiente ...................................................................................... 233 
7.2.1 A dimensão moral da proteção ambiental .................................................................... 234 
7.2.2 Patrimônio cultural ....................................................................................................... 235 
7.2.2.1 Dignidade e identidade cultural ................................................................................ 236 
7.3 Poluição e degradação ambiental .................................................................................... 238 
7.3.1 Poluição e incentivo ..................................................................................................... 241 
7.3.2 Expansão suburbana ..................................................................................................... 243 
7.4 Desenvolvimento sustentável .......................................................................................... 245 
7.5 Economia e biodiversidade ............................................................................................. 246 
7.6 Políticas ambientais ......................................................................................................... 248 
7.7 Problemas ambientais globais ......................................................................................... 252 
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 254 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 presente obra tem como objetivo estimular um debate acerca da relação 
existente entre o Direito e a Economia. Assim, aproveitando a minha 
liberdade de poder discutir publicamente esta dialeticidade, optei por 
desenvolver uma análise dos conceitos (categorias), teorias e princípios econômicos, 
para logo, caracterizar a repercussão desses construtos nos diferentes Sistemas 
Econômicos e decisões políticas e jurídicas a serem abordadas na forma de estudo de 
casos. 
Contudo, procuramos ir além dos limites tradicionais estabelecidos pelas 
Ciências Econômicas, para discutir os problemas atuais relacionados ao mercado, ao 
consumo, ao meio ambiente, à governança política etc., direcionando sempre a 
discussão para o campo do Direito. 
Nos primeiro e segundo capítulos procuramos definir a Ciência Econômica para, 
a seguir, indicar seus ramos e destacar a relação e diferenças existentes entre a 
microeconomia e a macroeconomia. O estudo da estrutura da Ciência Econômica 
permitirá criar as bases para a crítica à política de governança que, por momentos se 
aproxima, ou se afasta dos verdadeiros problemas sociais, tendo como perspectivas uma 
abordagem do papel do Estado e seus governos na economia, na sociedade, no 
desenvolvimento, na preservação do meio ambiente e na concretização de direitos. A 
nossa discussão, certamente, será feita reconsiderando as diferentes concepções 
conhecidas, acerca do significado da Economia Política e da sua relação com os 
Sistemas econômicos e jurídicos. 
Nos terceiro e quarto capítulos discorremos acerca da relação existente entre a 
Economia e o Direito. Partimos, pois, do princípio de que o Direito pode ser estudado a 
partir da sua correlação com outras ciências ou áreas do saber humano, privilegiando-se 
alguns dos seus domínios, a saber, o axiológico (os valores), o normativo (os princípios 
e as regras de direito) ou o empírico (os fatos e fenômenos sociais e econômicos), para 
A 
10 
 
finalmente concordar com a ideia de que os Sistema Jurídicos não deve ser estudado 
desconsiderando o fator econômico que sobre eles incide. 
Já, nos últimos capítulos pretendemos demonstrar que o profissional que se 
preocupa com a pesquisa da correlação existente entre a “eficiência econômica” e a 
“concretização do direito” não se deve limitar, apenas, a esta ou àquela parcela ou 
domínio empírico, mas, deve, também, indagar a origem dos problemas e sugerir os 
critérios resolução dos mesmos. Neste sentido, a abordagem empírica e principiológica 
do Direito e da Economia nos convida sempre a discorrer sobre aquele fragmento da 
realidade factual, que também é objeto de estudo de outras tantas ciências: Sociologia, 
Psicologia, História etc. o que não significa desmerecer os valores morais esocioculturais vigentes na ordem social. 
Deste modo, os temas contemplados nesta obra são variados, mas de grande 
valia para a compreensão epistemológica das ciências sociais e das boas práticas 
governamentais, facilitando, também, a identificação dos fundamentos dos Sistemas 
Jurídicos e as diversas causas dos problemas, aquele que preocupam a juristas, a 
economistas e politólogos. 
O estudo da correlação existente entre Economia Política e Sistemas de Direito 
é, de fato, o que estimula a presente obra. Por esse motivo, nas seguintes linhas 
discutimos os aspectos que definem esse nexo no contexto moderno, destacando, ainda, 
o diálogo entre estas disciplinas, em face da eficiência econômica e a eficácia do direito. 
Indagamos, pois, as razões pelas quais, apesar de ainda persistir a concepção 
normativa (positivista), os problemas derivados da negação de direitos devem ser 
pensados a partir da compreensão da necessidade de uma política econômica eficiente. 
A perspectiva aqui privilegiada se funda no reconhecimento da existência de leis 
e princípios econômicos que devem ser observados, por serem, na maioria das vezes, 
responsáveis pela orientação da compreensão da dependência causal dos problemas que 
afetam as diversas sociedades: desemprego, ineficiência econômica, miséria, pobreza 
etc. 
Mais uma vez, gostaria de agradecer a todos os colegas e alunos que 
incentivaram a idealização e a elaboração desta obra. 
A todos muito obrigado e boa leitura! 
 
 
Pablo Jiménez Serrano 
Rio de Janeiro, 29 de junho de 2019 
11 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
 
CONCEITOS DE CIÊNCIA ECONÔMICA 
 
Sumário: 1.1 A definição de Ciência Econômica. 1.2 O objeto de estudo da Ciência 
Econômica. 1.3 Estrutura da Ciência Econômica. 1.3.1 O conceito de Microeconomia. 
1.3.2 Conceito de Macroeconomia. 1.4 Acerca da distinção entre Ciência Econômica e 
Economia Política. 1.5 Importância do estudo da Economia Política nos Cursos 
Jurídicos. 
 
niciamos o nosso estudo significando a Ciência Económica (ou Ciências 
Econômicas) para, posteriormente, poder conhecer o objeto, os problemas e a 
estrutura desta área do saber humano. O debate irá, consequentemente, permitir a 
compreensão do lugar que a Economia Política ocupa na grade curricular dos cursos 
jurídicos. 
 
1.1 A definição de Ciência Econômica 
 
A Ciência Econômica é comumente definida como uma área do saber humano 
que estuda os processos de produção, circulação e consumo de bens e serviços 
produzidos por grupos humanos, sociedades ou sistemas econômicos. Ela é chamada de 
ciência por ser constituída de um conjunto de conhecimentos relacionados que ordenam 
a atividade econômica, cuja natureza se sabe social. Trata-se, pois, de uma ciência que 
estuda um conjunto de atividades, geralmente, a partir da aplicação de teorias e 
princípios econômicos. 
Uma das definições mais representativas das Ciências Econômicas modernas é a 
oferecida por Lionel Robbins em um ensaio de 1932: 
 
a ciência que estuda as formas de comportamento humano resultantes da 
relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos 
que, embora escassos, se prestam a usos alternativos1. 
 
 
1 Informação disponível em: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/economia Acesso em 
21 de janeiro de 2019. 
I 
https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/economia
12 
 
Certamente, a Ciência Econômica estuda, de forma dinâmica, as causas dos 
principais problemas econômicos ligados a variadas questões: O que produzir? Quando 
produzir? Quanto produzir? Por este motivo ela é considerada uma ciência aplicada à 
produção e ao destino dos bens e das riquezas nacionais, pois desenvolve o estudo das 
políticas e das decisões sociais, vinculadas aos campos da moral, do direito, da 
tecnologia, da educação, da saúde, das instituições sociais etc. Talvez, por essa razão, 
seja chamada de ciência dos recursos escassos. 
A Ciência Econômica genuína (autônoma) surge com o advento do capitalismo 
(momento em que se constitui a “Economia” como ciência no século XVIII). Mas, a 
relação entre Capitalismo e Pensamento Econômico vai além de mera coincidência 
histórica, pois, como veremos, já se pensava em economia, muito antes do capitalismo. 
Mas, verdadeiramente, foi com o surgimento dessa formação econômica e social 
(capitalista) quando a Economia se erige sobre um objeto de estudo específico, com 
métodos e princípios reconhecidos, possibilitando explicar os fenômenos 
socioeconômicos (problemas) com base em leis cientificas. 
Todavia, mesmo sendo uma ciência social fundada em teorias, a Ciência 
Econômica começaria a ter uma utilidade prática, por cuidar da gestão econômica em 
face do bem-estar e do desenvolvimento social, buscando entender, de forma racional, 
os fatos econômicos e as relações causais e lógicas deles num determinado 
ordenamento, mas com um enfoque (perspectiva) pragmático. 
Ao falar da utilidade prática importa lembrar que, como ciência, a economia se 
nos apresenta como praxeologia, isto é, como ciência da “ação humana”, definida por 
Mises como a “manifestação da vontade humana”: ação definida como um 
“comportamento propositado”2. Os estudos econômicos analisam as implicações 
positivas e negativas das ações humanas, para desvendar qual delas é válida em relação 
às condições sociais e historicamente consideradas. 
 
1.2 O objeto de estudo da Ciência Econômica 
 
Qual é o objeto de estudo da Ciência Economia? Pois bem, esta ciência examina 
os fenômenos sociais e econômicos que dizem respeito à produção, à distribuição e ao 
consumo de bens e serviços criados para satisfazer as necessidades humanas. É difícil 
 
2 MISES, Ludwig von. Ação Humana. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 23. 
 
13 
 
imaginar a vida social sem que tais fenômenos estejam presentes, pois, mesmo nas 
sociedades não capitalistas, verifica-se, a princípio, que os homens, nelas inseridos, são 
regidos por leis econômicas. 
A razão das Ciências Econômicas é esta: o ser humano não é um ser isolado, ele 
vive em comunidades, onde a produção (o trabalho), o mercado (o comércio), a 
demanda, os preços, o consumo etc. são visíveis, constantes e necessários. Porém, não 
há uma concepção uniforme acerca do objeto, objetivos e perspectivas desta ciência, 
motivo pela qual subsistem variadas escolas e doutrinas econômicas: austríacos, 
keynesianos, monetaristas, historicistas, institucionalistas, marxistas etc. debatem e 
defendem perspectivas distantes uma das outras. 
Assim, por exemplo, como aponta Hoppe3: 
 
Os austríacos são famosos por possuírem fortes discordâncias com outras 
escolas de pensamento econômico, como os keynesianos, os monetaristas, os 
economistas da escolha pública, os historicistas, os institucionalistas e os 
marxistas. Logicamente, as discordâncias mais evidentes ocorrem nas 
questões de políticas econômicas e suas propostas. De vez em quando ocorre 
uma aliança entre os austríacos e, em particular, adeptos da Escola de 
Chicago e da Escolha Pública. Ludwig von Mises, Murray N. Rothbard, 
Milton Friedman, e James Buchanan, só para citar alguns nomes, 
frequentemente estão lado a lado em seus esforços para defender a economia 
de livre mercado contra seus detratores socialistas. 
 
[...] 
 
A diferença elementar que provoca todas as discordâncias relativas à teoria 
econômica e às políticas econômicas – discordâncias, por exemplo, quanto 
aos méritos do padrão ouro VS. moeda fiduciária, sistema bancário livre VS. 
banco central, as consequências do mercado para o bem-estar VS. ações 
estatais, capitalismo VS. socialismo, a teoria dos juros e dos ciclos 
econômicos etc. – estão diretamente ligadas à resposta da primeira pergunta 
que todo economista deve fazer: Do que trata a ciência econômica, e que tipo 
de proposições são teoremas econômicos? 
 
Contudo, tanto nas sociedades capitalistacomo nas não capitalistas, históricas e 
modernas, o produto do trabalho coletivo é distribuído, inclusive para os que não 
trabalhavam, e os bens são, por fim, consumidos. Essa é a realidade onde se albergam as 
relações e os fenômenos que definem o objeto da Ciência Econômica4. 
 
3 HOPPE, Hans-Hermann. A Ciência Econômica e o Método Austríaco. São Paulo: Instituto Ludwig 
von Mises. Brasil, 2010, p. 9. 
4 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico: de Lao Zi a Robert Lucas. 2. Ed. São Paulo: 
Atlas, 2007, p. 1-2. 
14 
 
Por esse caminho, não há como fazer depender a “economia” de uma ou de outra 
orientação ideológica. O pensamento econômico puro (Economia Pura) deve ser 
construído de tal maneira que se mantenha a prova de qualquer crítica ideológica: 
 
Não é admissível desembaraçar-se dessas objeções meramente com bases nos 
motivos políticos que as inspiraram. A nenhum cientista é permitido presumir 
de antemão que a desaprovação de suas teorias deve ser infundada porque 
seus críticos estão imbuídos de paixão ou preconceito partidário. 
 
[...] É verdade que a economia é uma ciência teórica e, como tal, se abstém 
de qualquer julgamento de valor. Não lhe cabe dizer que fins as pessoas 
deveriam almejar. É uma ciência dos meios a serem aplicados para atingir os 
fins escolhidos e não, certamente, uma ciência para escolha dos fins. 
decisões finais, a avaliação e a escolha dos fins, não pertencem ao escopo de 
nenhuma ciência. A ciência nunca diz a alguém como deveria agir; 
meramente mostra como alguém deve agir se quiser alcançar determinados 
fins5. 
 
Podemos, assim, considerar que a ciência em estudo tem como objeto as 
relações econômicas objetivas, que procura estudar e ordenar conforme a princípios e, 
fundamentalmente, a uma lógica específica que muitos julgam válida para todas as 
sociedades e, por isso, como foi dito, é considerada uma ciência social e universal. 
Neste sentido, afirma Mises6, “a questão central que a economia tem obrigação 
de responder é sobre a relação entre suas afirmações e a realidade da ação humana, cuja 
compreensão é o objeto dos estudos da economia”. 
Aqui, certamente tampouco há unanimidade. Pois, se para Mises a ciência 
econômica é a ciência da ação humana, suas afirmativas e proposições não derivam da 
experiência (elas são, como a lógica e a matemática, aprioristas e não estão sujeitas a 
verificação com base na experiência e nos fatos), outros a consideram uma ciência 
empírica. 
Certamente, 
 
é esta avaliação da ciência econômica como uma ciência a priori, uma ciência 
cujas proposições podem receber uma rigorosa justificação lógica, que 
distingue os austríacos, ou mais precisamente, os misesianos, de todas as 
outras escolas de economia atuais. Todas as outras concebem a ciência 
econômica como uma ciência empírica, como uma ciência como a física, que 
desenvolve hipóteses que requerem testes empíricos constantes. E elas 
consideram dogmática e não científica a ideia de Mises de que os teoremas 
econômicos – como a lei da utilidade marginal, ou a lei dos rendimentos, ou a 
teoria da preferência temporal dos juros e a teoria austríaca dos ciclos 
econômicos – possam ser definitivamente provados, de maneira que pode ser 
 
5 MISES, Ludwig von. Ação Humana. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 30. 
6 MISES, Ludwig von. Ação Humana. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 27. 
15 
 
claramente demonstrado que negar suas validades é completamente 
contraditório7. 
 
A diversidade de escolas e doutrinas é próprio das ciências sociais, essa é uma 
característica que se repete noutras tantas áreas do saber humano, incluindo o Direito. 
Assim, podemos dizer, esse é o constante debate entre empiristas e racionalistas que 
também se tornou presente na economia. Se por um lado, a economia como ciência está 
confinada ao trabalho com princípios (enunciados válidos), por outro ela há de 
acompanhar a evolução das necessidades e exigências sociais: se ela obedece à razão, 
também depende da observação. Não haveria como separar um domínio de outro. 
 Sendo a Ciência Econômica uma ciência social, ela teria por missão, como 
dissemos, a análise dos processos de produção, de circulação e de consumo da riqueza 
nacional, visando ao bem-estar das sociedades. Neste sentido, as suas diversas temáticas 
guardam estreita relação com outras áreas e dimensões, a saber, social, jurídica, moral, 
tecnológica, política etc. Esta questão ficará mais claro a partir da leitura do capítulo 2, 
onde cuidamos da historicidade do pensamento econômico. 
 
1.3 Estrutura da Ciência Econômica 
 
Na presente seção iremos estudar a estrutura ou ramos comumente atribuídos à 
Ciência Econômica, a saber Macroeconomia e Microeconomia. Tal é, certamente, a 
principal divisão desta ciência que se considera constitutiva do mundo da economia. É, 
no seio desta separação que ela encontra e define seu objeto de estudo. 
 
1.3.1 O conceito de Microeconomia 
 
 
Define-se a Microeconomia como o ramo da Ciência Econômica que estuda o 
comportamento dos agentes econômicos (unidades individuais) em relação ao mercado 
consumidor: empresas (fornecedores) e consumidores, seus destinatários. Ela tem como 
objeto de estudo o comportamento das chamadas pequenas unidades do sistema, tais 
 
7 HOPPE, Hans-Hermann. A Ciência Econômica e o Método Austríaco. São Paulo: Instituto Ludwig 
von Mises. Brasil, 2010, p. 10. [A fim de ressaltar a condição de ciência pura da ciência econômica, uma 
ciência que tem mais em comum com uma disciplina como a lógica aplicada do que, por exemplo, com as 
ciências naturais empíricas, Mises propôs o termo “praxeologia” (a lógica da ação) para o ramo de 
conhecimento demonstrado pela ciência econômica]. 
16 
 
como famílias, unidades produtivas e governos no tocante a suas decisões e escolhas 
perante a escassez. 
Neste sentido, a Microeconomia tem uma projeção particular, qual seja, o 
indivíduo. O enfoque da Microeconomia não é conflitante (nem excludente) com o 
enfoque da Macroeconomia, mas sim, complementar, visto que os fatos ocorridos no 
mundo macro, especialmente os que decorrem das decisões e ações da política 
Macroeconômica do governo na economia, impactam no âmbito microeconômico. A 
visão microeconômica, teve um maior valor até a Grande Depressão de 1930 quando 
prevaleciam as ideias da autoregulação do mercado. Acreditava-se, pois, que o mercado 
reagiria sem a intervenção do Governo. Mas, quando se passou a defender a importância 
da intervenção do governo na economia, a Macroeconomia começou a prevalecer8. 
 
1.3.2 Conceito de Macroeconomia 
 
A Macroeconomia estuda o desempenho global da economia, assim, por 
exemplo, a produção de bens e serviços, a taxas de inflação, a taxas de desemprego, a 
poupança, o consumo, os investimentos e as políticas de governança. A Macroeconomia 
projeta uma visão holística, estudando a economia como um todo, analisando a 
determinação e o comportamento de grandes agregados, tais como: renda e produto 
nacionais, nível geral de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas de 
juros, balança de pagamentos e de câmbio. Assim, as teorias macroeconômicas 
objetivam explicar os aspectos de curto prazo, permitindo estabelecer relações entre 
grandes agregados, facilitando uma melhor compreensão das interações mais relevantes 
da economia, como, por exemplo, entre os mercados de bens e serviços, o mercado 
monetário e o mercado de trabalho, representando assim um importante instrumento 
para a política e a programação econômica. O campo da teoria econômica neste ramo é 
definido por questões de longo prazo, assim denominado de teoria do crescimento 
econômico. No seu âmbito de estudo, analisa as questões que envolvem o progresso 
tecnológico, abertura comercial, estratégias de crescimento, entre outros, numa visão de 
longo prazo9. 
 
8 Disponível em:https://slideplayer.com.br/slide/5606218/ Acesso em 21 de janeiro de 2019. 
9 MATIAS-PEREIRA, José. Curso de economia política: foco na política macroeconômica e nas 
estruturas de governança. São Paulo: Atlas, 2015. 
https://slideplayer.com.br/slide/5606218/
17 
 
Resumindo, se a Microeconomia estuda o comportamento dos agentes 
econômicos individuais, empresas e consumidores, a Macroeconomia se dedica ao 
estudo dos grandes agregados econômicos, isto é, o funcionamento do sistema 
econômico, analisando a relação existente entre as variáveis econômicas agregadas (por 
exemplo, o consumo, a produção, gastos públicos etc.). Utiliza-se o termo 
microeconomia para descrever o estudo de escolhas individuais e de comportamentos de 
grupos em mercados individuais. Já, o conceito de macroeconomia, em contrapartida, 
trata do estudo do desempenho das economias nacionais e das políticas que os governos 
usam para tentar melhorar esse desempenho. Ela tenta entender, por exemplo, os 
determinantes da taxa de desemprego nacional, do nível de preço global e do valor total 
de produção nacional10. 
A Microeconomia se refere ao estudo das escolhas individuais sob condições de 
escassez e suas implicações para o comportamento de preços e quantidades em 
mercados individuais. Já, a Macroeconomia, estuda o desempenho das economias 
nacionais e as políticas que os governos hão de utilizar para tentar melhorar esse 
desempenho. 
 
1.4 Acerca da distinção entre Ciência Econômica e Economia Política 
 
Assim como nas ciências naturais se estuda um objeto específico da natureza: 
vida, existência, desenvolvimento etc., a Ciência Econômica tem como objeto de estudo 
a realidade econômica (o fenômeno econômico) e sua dinâmica, isto é, a dialética 
existente entre a sociedade, a política e o direito. Investiga-se, pois, como os fenômenos 
econômicos se relacionam (causa e efeito), qual tipo de vínculo predomina entre eles, e 
o que poderiam causar outro ou outros fenômenos (problemas). 
Essa investigação é feita com o auxílio de leis, princípios e teorias econômicas. 
Assim, por exemplo, indaga-se se a pobreza, a exclusão e o não desenvolvimento têm 
relação como um determinado fato (ou fator) econômico. Busca-se, por exemplo, 
estimular o desenvolvimento nacional por meio da lei da oferta e da demanda, 
priorizando a livre iniciativa, a proteção e o estímulo dos pequenos negócios 
(microempresas). É, neste sentido que, por meio da Econômica se procura prever e 
resolver certos problemas sociais. 
 
10 MATIAS-PEREIRA, 2015. 
18 
 
Mas, diferentemente de outras ciências (naturais e exatas) ela, a Economia, por 
ser uma ciência social é, também complexa, razão pela qual, suas previsões não são 
exatas. Ela estuda uma realidade, cujos componentes apresentam diferentes variáveis, 
assim, por exemplo, é ilusório considerar que a informalidade econômica seja a única 
causa do desemprego e do não desenvolvimento. 
Todavia, a Ciência Econômica considera certos parâmetros, teorias e métodos 
relacionados a fatores de produção, que por sua vez estão estritamente relacionados aos 
agentes econômicos (fator comportamental) que operam, por exemplo, na comunidade, 
nas instituições públicas e privadas, empresas, pessoas e nações. 
Obviamente, as teorias econômicas, como toda teoria não são perfeitas. Isto, 
porque não existe perfeição no conhecimento humano. Por esse motivo, a onisciência é 
negada ao homem. Aquela teoria que se diz bem elaborada e que parece satisfazer 
completamente a nossa sede de conhecimento pode um dia ser emendada ou superada 
por uma nova teoria. A ciência não nos dá certeza final e absoluta. Apenas nos dá 
convicção dentro dos limites de nossa capacidade mental e do prevalecente estado do 
conhecimento científico. Um sistema científico não é senão um estágio na permanente 
busca de conhecimento. É necessariamente afetado pela insuficiência inerente a todo 
esforço humano. Mas reconhecer estes fatos não implica que o estágio atual da 
economia seja retrógrado e inútil. Significa apenas que a economia é algo vivo: e viver 
implica tanto imperfeição como mudança11. 
Comumente usa-se a denominação Ciências Econômicas, pois são muitas e 
variadas as disciplinas constitutivas desta ciência, assim como, a seguir ilustramos: 
 
Ciências Econômicas 
 
 
 
Engenharia Econômica, Finanças Públicas, Geografia Econômica, Economia e Meio 
Ambiente, Organização Industrial, Economia Positiva, Economia Regional, Psicologia 
Econômica, Sociologia Econômica, Direito e Economia, Economia Política. 
 
Mais especificamente usa-se o vocábulo “Economia” para indicar uma área de 
conhecimento especializada que se utiliza de métodos científicos específicos. 
 
11 MISES, Ludwig von. Ação Humana. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 28. 
19 
 
O vocábulo economia, do ponto de vista etimológico, tem origem no grego 
“oikos” (casa) e “nomos” (costume ou lei), significando, igualmente, gerir, 
administrar: daí “regras da casa” (lar) e “administração da casa”. 
Economia, é pois, o estudo de como e por que os indivíduos e grupos de 
indivíduos tomam decisões sobre o uso e a distribuição de valiosos recursos humanos e 
não humanos. Não se trata somente do estudo da tomada de decisões por empresas 
lucrativas em uma economia capitalista, por exemplo, mas de algo muito mais amplo: a 
economia fornece um conjunto de ferramentas analíticas que podem ser usadas para 
estudar qualquer situação em que a escassez de meios exija o balanceamento de 
objetivos concorrentes. Inclui, logo, importantes questões relacionadas ao 
comportamento de organizações sem fins lucrativos, órgãos governamentais e 
consumidores.12 
Economia, ensina José Petrelli Gastaldi13, 
 
é a ciência que trata dos atos e fenômenos econômicos traduzidos em 
relações constantes, que representam as leis econômicas. Tem como objeto a 
atividade econômica exercida pelo homem de forma associativa. Como arte, 
a economia indica os meios para promover o bem-estar econômico da 
sociedade humana. 
 
A economia é uma ciência especial a integrar a Sociologia, ciência social que 
tem como objeto o estudo dos fatos sociais encarados em seu conjunto. Como 
ciência a economia se interessa pela análise das atividades econômicas 
agrupadas e somadas e pelo modo como se ajustam no organismo social, a 
partir do momento em que os homens que o compõem partem em busca dos 
bens naturais e dos serviços aptos à satisfação das suas necessidades e 
desejos. 
 
Podemos considerar, então, que o problema fundamental da economia seja: 
como alocar recursos produtivos para satisfazer as necessidades sociais. É, neste 
empenho, que os economistas procuram estudar como os agentes (indivíduos) grupos 
econômicos, empresas e governos podem atingir seus objetivos econômicos. Por meio 
dos estudos econômicos se sugerem soluções para problemas pontuais dos municípios, 
dos estados, das províncias e das nações, tais como, desemprego, crise ou depressão 
econômica. Logicamente, coloca-se em primeiro plano a avaliação das questões ligadas 
à produção e ao mercado financeiro que afetam a qualidade de vida e o 
desenvolvimento social. 
 
12 FIELD, Barry C.; FIELD, Martha K. Introdução à economia do meio ambiente. Tradução: Christiane 
de Brito Andrei; revisão técnica: Ronaldo Serôa da Motta. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014, p. 3. 
13 GASTALDI, José Petrelli. Elementos de economia política. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 3. 
 
20 
 
A análise econômica pode ser dividida da seguinte maneira: “positiva” e 
“normativa”. A primeira, identifica a relação entre causa e efeito dos fenômenos 
econômicos, por meio da construção de um modelo econômico. A segunda, formula 
teorias sobre as intervenções que permitam alcançar uma declaração de determinado 
objetivo. Diz-se, assim, de uma distinção entre as denominações “economia positiva” e 
“economia normativa”. Nela afirma-seque, a primeira, busca entender e prever o que 
realmente acontece no mundo. Já, a segunda, indaga o que deveria acontecer tendo em 
vista os valores do economista14. Nesta distinção, alguns conceitos (categorias) são 
imprescindíveis ao estudioso, tais são, produção, distribuição, consumo, recursos, 
preços, escolhas, necessidades, escassez etc. 
O mais importante na concepção do significado da economia está em entender 
que ela não é uma área representativa de uma coleção de fatos imutáveis que devem ser 
copiados e memorizados. Na verdade, o único prognóstico sobre a economia que pode 
ser feito com segurança é que haverá mudanças continuamente maiores e cada vez mais 
imprevisíveis. Se a economia não é um conjunto de fatos duradouros, então o que é? 
Fundamentalmente, é uma forma de pensar o mundo15. 
O economista se ocupa com o estudo da ação econômica do homem, 
envolvendo, essencialmente, os processos de produção, de geração e de apropriação da 
renda, o dispêndio e a acumulação de riquezas. Deve-se ressaltar, entretanto, que a 
economia, a ciência política, o direito, a administração pública ou qualquer outro ramo 
das ciências sociais não devem e não podem manter-se fechados em si mesmos. Neste 
sentido, no mundo moderno é essencial reforçar a interdisciplinaridade existente entre 
os conhecimentos econômicos, políticos, jurídicos e da administração pública que 
contribui para aumentar a capacidade de compreensão do mundo real e colabora com as 
capacidades cognitivas individuais16. 
Pois bem, a Economia Política é comumente contemplada dentro do ramo da 
Macroeconomia. O termo foi inicialmente usado por Antoine de Montchrestien em 
1615 em sua obra intitulada “Tratado de Economia Política”, com o objetivo de transpor 
para a atividade estatal as ideias e os princípios da Economia. Nesse livro o autor aborda 
temas como Monopólio, proteção para a indústria, trabalho etc. O nome passou a ser 
utilizado para o estudo das relações de produção, especialmente entre as três classes 
 
14 MATIAS-PEREIRA, 2015. 
15 H. FRANK, Robert; BERNANKE, Ben S. Princípios de economia. 4. ed. Tradução: Heloisa Fontoura 
Monica Stefani. Porto Alegre, RS, AMGH, 2012. 
16 MATIAS-PEREIRA, José, 2015. 
21 
 
principais da sociedade capitalista ou burguesa: capitalistas, proletários e latifundiários. 
Em contraposição com as teorias do mercantilismo, e, posteriormente, da fisiocracia, 
nas quais o comércio e a terra, respectivamente, eram vistos como a origem de toda a 
riqueza, a economia política propôs (primeiro com Adam Smith) a teoria do valor-
trabalho, segundo a qual o trabalho é a fonte real do valor. No final do século XIX, o 
termo “Economia Política” foi paulatinamente trocado pela “economia”, usado por 
aqueles que buscavam abandonar a visão classista da sociedade, repensando-a pelo 
enfoque matemático, axiomático e valorizador dos estudos econômicos atuais e que 
concebiam o valor originado na utilidade que o bem gerava no indivíduo. Atualmente o 
termo “Economia Política” é utilizado para referir-se a estudos interdisciplinares 
auxiliados pela economia, a sociologia, o direito, e as ciências políticas para entender 
como as instituições e os contornos políticos influenciam a conduta dos mercados. 
Dentro da ciência política, o termo se refere principalmente às teorias liberais e 
marxistas, que estudam as relações entre a economia e o poder político dentro dos 
Estados. Economia política internacional, por exemplo, é um ramo da economia que 
estuda como o comércio, as finanças internacionais e as políticas estatais afetam o 
intercâmbio internacional e a política monetária e fiscal17. 
Assim, como ciência, a Economia Política foi fundada pela Escola Fisiocrata, na 
França, no período de 1726 a 1776. Com ela surgiu o naturalismo econômico, 
enunciando as primeiras leis de economia. Adam Smith, na Inglaterra, é considerado o 
fundador da economia como ciência autônoma e possuindo leis próprias18. 
Certamente, a denominação (Economia Política) se consolida com Adam Smith, 
que se interessou pelo Direito, sobretudo, em razão da sua importância para o 
funcionamento dos mercados. A tradição da economia política constitui a espinha dorsal 
daquilo que, posteriormente, se convencionou chamar de “ciência econômica”. Essa 
tradição encontrou espaço nas Faculdades de Direito, em especial, por meio da 
disciplina de Direito Econômico, que se ocupa da regulação e intervenção do Estado nos 
mercados. Mas é importante observar que o Direito Econômico estuda, apenas, uma 
pequena parte do temário da disciplina de Direito e Economia. Isso porque em Direito e 
Economia o estudioso se ocupa dos incentivos postos pelos institutos jurídicos 
individualmente tomado, e não necessariamente de um mercado. Isso quer dizer que a 
 
17 Informação disponível em: https://www.lua.ovh/mundo/pt/Economia_pol%C3%ADtica Acesso em 18 
de janeiro de 2019. 
18 GASTALDI, José Petrelli, 2006, p. 9. 
https://www.lua.ovh/mundo/pt/Economia_pol%C3%ADtica
22 
 
análise em Direito e Economia engloba o estudo da regulação dos mercados pelo 
Estado, embora, como veremos adiante, a esta não se limite. Seja como for, a disciplina 
denominada Direito e Economia emprega principalmente modelos e ferramentas 
analíticas típicas da Economia. Ainda que haja aqui e ali abertura cognitiva para outras 
ciências, utiliza-se principalmente os modelos microeconômicos, aproveitando-se 
também da Teoria dos Custos de Transação, Teoria do Agente, Teoria da Escolha 
Pública e da Teoria dos Jogos19. 
A denominação “Economia Política”, passaria a ser usada para indicar a 
disciplina que aborda questões ligadas diretamente a interesses materiais (econômicos e 
sociais) que, em face deles, não há nem pode haver “neutralidade”, pois suas teses e 
conclusões estão sempre conectadas a interesses de grupos e classes sociais20. 
A definição da Economia Política abrange toda a realidade que se sabe 
complexa: é a ciência da produção, distribuição, circulação e consumo dos bens e 
serviços úteis, na sociedade humana, com equilíbrio e progresso. Neste sentido, com 
base nessa definição, tem-se convencionado a divisão do seu objeto de estudo21. 
A qualificação “Economia Política” advém do fato de que a economia era 
entendida como o ramo do conhecimento essencialmente voltado para a administração e 
fortalecimento do Estado22. Mas, esta concepção, como veremos, não foi 
necessariamente predominante, pois noções e terias econômicas contrarias e, até 
conflitantes, surgiriam como propostas das escola clássica, histórica, marxista, 
neoclássica, austríaca, keynesiana, neo-keynesiana, da Escola de Friburgo, da Escola de 
Chicago etc. paralelamente a essas escolas fala-se em ideologia Anarquista, Capitalista, 
Corporativista, Convencional, Mercantilista, Protecionista, Sindicalista, Socialista etc. 
 
1.5 Importância do estudo da Economia Política nos Cursos Jurídicos 
 
A Economia, já vimos, é uma ciência social que estuda os processos de 
produção, distribuição, intercambio e consumo de bens e serviços produzido na 
sociedade. Por esse motivo, ela tem como objeto concreto a conduta humana, isto é, as 
formas de comportamento que definem as relações socioeconômicas de uma dada 
 
19 MEYERHOF Salama, Bruno (org.) Direito e economia: textos escolhidos. São Paulo: Saraiva, 2010, 
p. 13, 21. 
20 NETTO, José Paulo. Economia política: uma introdução crítica. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008, p. 16. 
21 GALVES, Carlos. Manual de economia política atual. 15. ed. revista e atualizada por Galeno 
Lacerda. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 8. 
22 MATIAS-PEREIRA, José, 2015. 
23 
 
sociedade, em face da análise dos bens e recursos disponíveis e necessários à satisfação 
das necessidades sociais. 
Por sua vez, a Economia Política está intimamente ligada às políticas praticadas 
pelas instituições e agentes, aquelas que interferem na vida, no desenvolvimento e na 
concretizaçãodos direitos sociais, humanos e fundamentais. Nesta perspectiva, ela teria 
como principal função o estudo da dinâmica das relações dos agentes econômicos 
dentro do funcionalismo dos sistemas econômicos e, em face da resolução dos 
problemas urgentes existentes. 
Ela tem como propósito estudar como se desenvolvem as relações sociais que 
garantem a produção e como a riqueza vai se distribuindo à medida que as referidas 
relações vão ocorrendo. Nesse sentido, ela pode ser entendida como a ciência que 
estuda a atividade humana no comportamento econômico, em virtude da relação 
existente entre a satisfação das necessidades sociais em condições de escassez de 
recursos23. 
A respeito da importância do seu estudo se destaca que: 
 
a) Do ponto de vista individual, o seu estudo só pode trazer vantagens. Cada 
ciência, a mais, que se estuda, torna a pessoa mais culta, e amplia a sua visão 
das coisas. Em especial, a economia complementa a formação humanista, 
liberal, filosófica e religiosa, mostrando a importância do aspecto econômico 
da existência humana e o lado econômico dos outros fenômenos culturais. 
Além disso, a economia oferece outra vantagem individual, esta prática: 
permite que possamos tratar com segurança e proveito dos nossos interesses 
econômicos. E vantagem profissional: as grandes empresas, e já começam a 
fazê-lo as médias, têm economistas trabalhando na sua administração, junto a 
contabilistas e advogados. 
 
b) Do ponto de vista social, o estudo da economia assume uma importância, 
evidentemente, maior, e se torna um verdadeiro dever, como o acentuam os 
politólogos científicos. O bom desempenho de nossos deveres de cidadãos 
depende de que a conheçamos, pois, o cidadão tem por dever velar e agir para 
que o país progrida, e todos os seus membros, sem distinção, possam ter uma 
vida decente, digna e livre. Esse objetivo social não pode ser alcançado sem 
uma acertada política econômica. O conhecimento da economia é que nos 
possibilitará concorrer para essa finalidade, como eleitores, administradores 
públicos, políticos, ou até na simples formação de opinião pública, através do 
trato de assuntos econômicos em nossas conversas da vida diária.24 (Grifo 
nosso) 
 
Certamente, como ciência social, estuda a melhor opção para o uso dos recursos 
produtivos escassos na produção de bens e serviços, de maneira a distribui-los entre as 
inúmeras pessoas e os grupos da sociedade. As diversas concepções e doutrinas de 
Economia Política, reconhecem que ela tem como foco principal a preocupação com as 
 
23 MATIAS-PEREIRA, José, 2015. 
24 GALVES, Carlos, 2004, p. 13. 
24 
 
relações do sistema econômico, e suas instituições, com o resto da sociedade em face do 
desenvolvimento social. Ela é sensível à influência de fatores extra econômicos, como 
as instituições políticas e sociais, a moral e a ideologia, na determinação de eventos 
econômicos. Logo, tem um escopo muito mais amplo do que a economia tradicional, 
tendo como propósito estudar a ação econômica do homem, em especial, o processo de 
produção, a geração e a apropriação da renda, o dispêndio e a acumulação de riquezas. 
Neste sentido, para a formulação e tomada de decisões em política econômica, é 
fundamental à avaliação consistente e tempestiva da evolução da economia e as 
diferentes estratégias e alternativas de política25. 
Todavia, como ciência nova ou nova ciência, explica Mises26, a economia abriu 
para as ciências humanas um domínio até então inacessível, no qual não se havia jamais 
pensado. A descoberta de uma regularidade na sequência e interdependência dos 
fenômenos de mercado foi além dos limites do sistema tradicional de saber, pois passou 
a incluir um conhecimento que não podia ser considerado como lógica, matemática, 
psicologia, física, nem como biologia. 
A partir dessa percepção se busca discutir as questões mais relevantes da 
economia política contemporânea, com apoio na interdisciplinaridade existente entre os 
conhecimentos econômicos, políticos, jurídicos e da administração pública. Esse 
esforço visa contribuir para elevar a capacidade de compreensão do mundo real, 
fortalecendo, dessa forma, as capacidades cognitivas individuais das pessoas 
interessadas no tema no campo das ciências sociais27. 
 
 
 
25 MATIAS-PEREIRA, José, 2015. 
26 MISES, Ludwig von. Ação Humana. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 21. 
27 MATIAS-PEREIRA, José, 2015. 
 
25 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
 
O PENSAMETO ECONÔMICO 
 
Sumário: 2.1 Origem e evolução do pensamento econômico. 2.1.1 Idade Antiga. 2.1.2 
Idade Média. 2.1.3 Escola Clássica. 2.1.4 Escola Histórica. 2.1.5 Escola Neoclássica. 
2.1.5.1 Corrente Marginalista. 2.1.6 Pensamento moderno. 2.2 Sistemas econômicos. 
 
o capítulo anterior estudamos a Ciência Econômica ou Ciências Econômicas, 
discutimos sua importância e o lugar que ocupa a Economia Política nessa 
grande gama de disciplinas a ela vinculadas, assim, ficou claro que o que se 
designa como economia é aquela área do saber que estuda o conjunto de atividades 
(ações) humanas vinculadas à produção, à distribuição e ao consumo dos bens 
(riquezas) produzidos numa determinada sociedade. 
Neste segundo capítulo privilegiamos o estudo da origem e da evolução do 
pensamento econômico. De fato, a abordagem histórica do pensamento econômico 
permitirá a compreensão das perspectivas, contribuições e atualidade das diferentes 
escolas e o motivo pelo qual existe uma diversidade de orientações teorias e 
principiológicas propostas pelos diversos autores (pensadores), que acabaram por 
influenciar o pensamento econômico moderno. 
2.1 Origem e evolução do pensamento econômico 
Por historicidade do pensamento econômico definimos o conjunto de 
acontecimentos que define a evolução das concepções e paradigmas oriundos das 
diferentes realidades (sociedades) econômicas, que deram início na chamada 
antiguidade clássica e se sucederam até nossos dias. 
Alguns autores preferem indicar como início dessa historicidade, o ano 4000 (ao 
ano 1000) a.C., período onde se situam a China, Babilônia, Egito, Assíria, Mesopotâmia 
e outras civilizações, incluindo também nessa fase o período dos tempos bíblicos, a 
parir dos ensinamentos e fatos narrados no Antigo Testamento, do ano 2500 ao ano 100 
a.C., e no Novo Testamento, no primeiro século da era cristã28. 
 
28 GASTALDI, José Petrelli, 2006, p. 32. 
 
N 
26 
 
Mas, com o intuito de garantir maior objetividade na compreensão da 
historicidade do pensamento econômico, na presente obra optamos por indicar o estudo 
da realidade socioeconômica do mundo ocidental, que deu início na Grécia Antiga até 
nossos dias. Por esse motivo discutiremos, a seguir, o pensamento econômico oriundo 
dos problemas que foram objeto de preocupação, de filósofos, juristas e economistas ao 
longo de três importantes períodos: Idade Antiga (primeiro período), Idade Média 
(segundo período) e Idade Moderna e Pós-Moderna (terceiro período). Vejamos. 
 
Primeiro período, também conhecido como Idade Antiga, demarcado pelo 
surgimento e desenvolvimento da civilização ocidental, especificamente compreendido 
entre 750-338 a.C. (Atenas, Corinto, Esparta e Tebas quando se desenvolveram as 
principais cidades-estados da Grécia durante o período helénico) e que finaliza com a 
queda do Império Romano de Ocidente, no ano 476. 
 
Segundo período, que compreende a Idade Média. Conhecido como período da 
civilização ocidental, compreendido entre o século V e o século XV, e que se inicia no 
ano 476 com a queda do Império Romano de Ocidente e finaliza em 1492 com o 
descobrimento da América. 
 
Terceiro período, conhecido como Idade Moderna (e Pós-Moderna), 
compreendido entre o século XV (1492 com o descobrimento da América) até nossos 
dias. 
 
Em verdade, no decorrer desses períodos, vários foram os precursores da 
Economia Política. A maioria deles filósofos, politólogos,economistas e juristas que 
nos legaram diversas idéias expressas na forma de teorias e doutrinas, historicamente 
reconhecidas como orientadoras dos estudos que, seguidamente, caracterizamos. 
 
2.1.1 Idade Antiga 
 
Conforme estudos históricos, problemas de natureza social, moral, política e 
econômica foram objeto de comentário das obras de Aristóteles e Platão. Devemos 
lembrar que nas eras pré-socrática e pós-socrática, até as concepções aristotélicas, não 
27 
 
existia uma consolidação das ciências, motivo pelo qual a análise dos problemas sociais 
vividos dava-se a partir de uma reflexão mais bem filosófica – política e moral, e não 
propriamente científico/econômica, se bem é certo que ambos os filósofos que, a seguir 
apresentaremos (Platão e Aristóteles), abordaram assuntos relativos à riqueza, à 
propriedade e ao comércio. Pois bem, neste primeiro período achamos por bem iniciar o 
nosso estudo abordando as principais ideia desses pensadores: 
 
Platão (427-347 a. C.), filósofo grego seguidor de Sócrates e mestre de 
Aristóteles que, em 387 fundou a Academia, instituição onde Aristóteles estudaria 
filosofia aproximadamente no ano 367, compartindo, deste modo, uns vinte anos de 
amizade e trabalho com seu mestre. Platão escreveu, sempre na forma de diálogo, sobre 
os mais diversos temas, tais como filosofia política, ética, psicologia, antropologia, 
epistemologia, gnosiologia, metafísica, cosmologia, filosofia da linguagem e filosofia 
da educação. 
Platão disseminou sua doutrina política em diversos Diálogos e 
fundamentalmente em três deles: A República, As Leis e o Político ou Homem de 
Estado. O mestre fez referência ao pensamento político dos sofistas e sua polémica com 
Sócrates, em seus diálogos: Protágoras, Górgias e O Sofista. Mas, a obra principal de 
Platão em matéria política é A República. Nela estabelece as bases da estruturação de 
um Estado ideal no qual haveria de prevalecer a justiça como “valor supremo”. 
Seguindo seu estilo alegórico concebe o Estado como um homem gigantesco que 
haveria de realizar suas funções servindo-se de três classes importantes; os labradores 
encarregados de satisfazer as necessidades materiais do Estado; os militares protetores 
dos labradores e da segurança geral do Estado e, por último, os magistrados 
encarregados de governar a comunidade, em interesse general. A classe mais importante 
dentro desta noção de Estado é esta última e, por isso, deve integrar-se por homens 
seletos, inteligentes e virtuosos. Por ser o mais sábio, o mais indicado para governar é o 
filósofo, que deve fazê-lo buscando a cultura e o conhecimento. O melhor governo para 
Platão, é aquele no qual “os filósofos sejam reis e os reis sejam filósofos”29. 
No marco da política propus um Estado real que seria sua original teoria política, 
razão pela qual viajaria a Siracusa e a Sicília, com intenções de pôr em prática seu 
 
29 PORRUA Perez, Francisco. Teoría del Estado: teoría política. 39. ed. México: Editorial Porrúa, 2005, 
p. 59. 
 
28 
 
projeto, mas foi perseguido e correu risco de vida por parte dos seus opositores. As 
obras políticas de Platão (A República, O Político, As Leis) se fundam na dedução; 
pouco se preocupa com os fatos e intenta definir a imagem de um Estado ideal, do bom 
governo, pelo movimento do seu próprio espírito por reflexão interior. Assim, Platão se 
preocupa com um bom governo. Na sua obra “Política” antecipou uma classificação das 
formas de Estado, a partir de um estudo prévio da maior parte dos regímenes políticos 
da sua época, com base na análise de 158 constituições de cidades gregas, das que 
somente temos notícia da Constituição de Atenas. 
 
Aristóteles (384-322 a.C.), filósofo grego, discípulo de Platão e professor de 
Alexandre O Grande. Suas obras tratavam sobre diversos assuntos, tais como física, 
metafísica, poesia, música, retórica, lógica, política, ética, biologia, zoologia etc. O 
mestre foi visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Ele se referiu ao 
primeiro elemento da Ciência Política clamando-o de método da observação. 
Aristóteles elaborou uma importante doutrina política. Notável conhecedor das 
Ciências Naturais, aplicou o método da observação derivado destas para estabelecer 
seus princípios de Ciência política, derivando-os da observação dos fenómenos desta 
ordem. Por isso sua doutrina não é idealista, mas realista. “O ser constituiu então o 
pressuposto necessário do dever ser e não vice-versa”. A doutrina de Aristóteles contida 
especialmente nos livros “A Política” e “As Constituições” e em diversas obras morais, 
expressava um pensamento político construído de maneira lógica e sistemática que 
partia da análise dos dados políticos ou reais tomados da observação e da História. Na 
Política recolhe as conclusões que o levou ao estudo de numerosas constituições da 
polis da sua época, Esparta, Atenas, Creta, Cartago etc., e chegou a conclusões que nos 
fazem considerá-lo fundador da “Ciência histórico-descritiva da política” com aplicação 
no campo econômico30. 
Com Aristóteles, 
 
são necessários recursos econômicos para a felicidade e, ao reconhecer tal 
fato, Aristóteles lança-se a tecer considerações de natureza econômica. A 
Economia é uma parte mais restrita da ciência do homem que estuda a 
administração do lar (oïko = casa, nomik = leis ou princípios de 
administração). O ramo mais abrangente e mais importante dessa ciência é a 
política e o estudo mais específico do indivíduo pertence à ética. A cidade 
nunca pode ser perfeita, pois tudo o que pertence ao mundo sublunar está 
sujeito ao acaso e as mudanças imprevisíveis; o mundo perfeito e imutável é 
 
30 PORRUA Perez, Francisco, 2005, p. 67. 
http://www.monografias.com/trabajos36/vida-de-platon/vida-de-platon.shtml
http://www.monografias.com/trabajos7/imco/imco.shtml
http://www.monografias.com/trabajos15/kinesiologia-biomecanica/kinesiologia-biomecanica.shtml
29 
 
o das esferas celestes tal como se observa na harmonia do movimento dos 
astros31. 
 
De fato, na Grécia Antiga, as primeiras referencias conhecidas de Economia 
aparecem no trabalho de Aristóteles, que aparentemente foi quem cunhou o termo 
Economia (oikosnomos) em seus estudos sobre aspectos de administração privada e 
sobre finanças públicas. Mas, também encontramos algumas noções de ordem social, 
política e econômica nos escritos de Platão (427-347 a.C.), com a noção de um Estado 
ideal dividido em classes: labradores, militares e magistrados todos com funções 
especificas e encarregados de satisfazer as necessidades materiais do Estado32. 
 
Marco Tulio Cicero (3 de janeiro de 106 a.C – 7 de dezembro de 43 a.C). Foi 
um jurista, político, filósofo e escritor romano e considerado um dos maiores retóricos 
da República romana. Reconhecido como um dos mais importantes autores da história 
romana que dedicou a maior parte do seu intelecto à carreira política. 
Afirma-se que Roma não deixou nenhum escrito notável na área de economia. 
Mas, algumas noções sobre a lei da usura, a moralidade de juros altos e sobre o que 
deveria ser um lucro justo, seriam indícios da existência de um pensamento 
(preocupação) econômico insipiente33. 
Todavia, estudos históricos revelam que: 
 
O Direito Romano também tecia ideias sobre preço e valor econômico dos 
bens. Havia um senso prático nessa questão. A Lei das Doze Tábuas deixava 
os preços ao sabor do mercado. O preço era visto como resultante dos 
processos de regateio no mercado, onde cada parte tendia a fazer seu ponto 
de vista prevalecer. Os juristas romanos não analisam as forças que 
determinam o preço final da transação, mas com o tempo surgem discussões 
sobre o preço justo (verum pretium). A ideia de preço justo será depois 
retomada pelos padres da Idade Média e ela está na base da idéia moderna de 
preço de equilíbrio. 
 
Um aprofundamento na questão do valor aparece nos filósofos moraisCícero 
e Sêneca. Eles reconhecem a importância do desejo humano e da utilidade do 
bem na determinação do valor. Com o crescimento do comércio e do crédito, 
os romanos passam cada vez mais a ver a “utilidade” como o fundamento 
para o valor de troca dos bens. Nos últimos dois séculos antes da queda do 
império romano, a percepção da decadência estimula o desenvolvimento de 
idéias econômicas e as iniciativas de intervenção do Estado nas atividades 
econômicas como um paliativo para evitar o desastre anunciado. Em 301 de 
nossa era, Dioclesiano fixa nos contratos um preço justo com base no custo 
tradicional de produção. Cresce, a partir de então, as tentativas de limitar os 
contratos introduzindo considerações éticas. 
 
31 FEIJÓ, Ricardo, 2007, p. 1-2. 
32 MATIAS-PEREIRA, José, 2015. 
33 MATIAS-PEREIRA, José, 2015. 
30 
 
 
A escravidão, embora generalizada no império romano e embora se 
encontrem filosóficos que a justifique, é condenada com base em argumentos 
econômicos nos escritos que tratam dos princípios práticos das propriedades 
agrícolas, dos autores romanos Varrão, Catão e Columella. Os romanos não 
acrescentaram muito ao pensamento econômico, não desenvolveram teoria 
nessa disciplina. No entanto, o estudo de suas doutrinas jurídicas e filosóficas 
é importante para uma compreensão da evolução das idéias econômicas. Não 
se pode negar que houve um avanço na interpretação econômica entre os 
romanos e talvez falte na literatura especializada em história da idéias um 
maior aprofundamento no período em questão34. 
 
Mas, dentre os romanos já surgiram as célebres doutrinas políticas que 
influenciaram consideravelmente o pensamento econômico posterior, com elevados 
princípios morais. Com um sentido prático, nas obras literárias dos romanos existem 
contínuas referências às instituições políticas da sua época. Cicero, expressou seu 
pensamento político em suas obras De República, De Legibus e De Officiis. Em sua 
época haviam-se desmoronado as instituições políticas elogiadas por Polibio e 
consideradas por ele como a causa da grandeza de Roma. Cicero procurava recuperar 
essas instituições, que se regressara aos métodos tradicionais de governo. Cicero 
continua as ideias de Platão, mas não no que se refere à construção de uma comunidade 
política ideal, com os lineamentos de Platão, mas dando bases à estruturação de uma 
comunidade política em que renascessem os princípios abstratos e morais da justiça 
com fundamento sólido na doutrina ética dos estoicos. A organização política, para 
Cicero, não seria algo artificial, mas um resultado natural das condiciones do homem, e, 
em consequência, útil e necessário35. 
Um exemplo famoso, conforme ensina Mises: 
 
é o caso do imperador romano Diocleciano, notório como o último imperador 
romano a perseguir os cristãos. Na segunda metade do século III, os 
imperadores romanos dispunham de um único método financeiro: 
desvalorizar a moeda corrente por meio de sua adulteração. Nessa época 
primitiva, anterior à invenção da máquina impressora, até a inflação era, por 
assim dizer, primitiva. Envolvia o enfraquecimento do teor da liga metálica 
com que se cunhavam as moedas, especialmente as de prata. O governo 
misturava à prata quantidades cada vez maiores de cobre, até que a cor das 
moedas se alterou e o peso se reduziu consideravelmente. A consequência 
dessa adulteração das moedas e do aumento associado da quantidade de 
dinheiro em circulação foi uma alta dos preços, seguida de um decreto 
destinado a controlá-los. E os imperadores romanos não primavam pela 
moderação no fazer cumprir suas leis: a morte não lhes parecia uma punição 
demasiado severa para quem ousasse cobrar preços mais elevados que os 
estipulados. Conseguiram impor o controle de preços, mas foram incapazes 
 
34 FEIJÓ, Ricardo, 2007, p. 24-26. 
35 PORRUA Perez, Francisco, 2005, p. 61. 
31 
 
de preservar a sociedade. A consequência foi a desintegração do Império 
Romano e do sistema da divisão do trabalho36. 
 
Nos dois últimos séculos da dominação romana, o Império não consegue mais 
manter a mesma força militar e o elevado grau de coesão política e ordenamento 
jurídico que no passado fizeram sua glória. Há uma estagnação econômica. As antigas 
instituições entram em decadência e um novo conjunto de crenças religiosas emerge, 
então sob influência do cristianismo. Depois de séculos de perseguição implacável, em 
313 o imperador Constantino legaliza o culto cristão. Ele próprio veio a aderir à nova 
religião37. 
O pensamento político da Idade Antiga terminou com a chegada de uma nova 
Era marcada pela Revolução que em todos os aspectos da existência do homem 
representou a vida de Jesus Cristo e a difusão de sua doutrina. Ao lado da comunidade 
política se assentou uma comunidade religiosa representada na Igreja. Acabaria, por 
tanto, o monismo das organizações humanas da antiguidade, dando lugar ao dualismo 
político-religioso. Mas, o mais importante é que com o cristianismo apareceu também 
uma nova visão do mundo e em especial do home que, a partir de então, seria 
considerado essencialmente igual a todos seus semelhantes, sem categorias derivadas da 
fortuna ou da raça. Daqui em diante todo home seria considerado uma pessoa, com a 
dignidade e a liberdade que lhe correspondem por natureza38. 
 
2.1.2 Idade Média 
 
A vida econômica na sociedade medieval, explica Ricardo Feijó, era sustentada 
pela atividade agrícola. Os feudos eram autossuficientes e quase nunca produziam um 
excedente exportável. A partir do século XI, mudanças tecnológicas aumentaram 
significativamente a produtividade na agricultura e com isso pode-se gerar 
crescentemente um excesso de produção destinado ao comércio. A atividade comercial 
dá origem a uma nova classe de homens enriquecidos sem vínculos fortes com a antiga 
ordem social. São os portadores do elemento que iria dissolver lentamente as relações 
feudais: a substituição dos vínculos medievais que existiam entre as pessoas, 
 
36 MISES, Ludwig von. As seis lições. Tradução de Maria Luiza Borges. 7. ed. São Paulo: Instituto 
Ludwig von Mises Brasil, 2009, p. 48. 
37 FEIJÓ, Ricardo, 2007, p. 24-26. 
38 PORRUA Perez, Francisco, 2005, p. 69. 
 
32 
 
legitimados pela fé, por relações de mercado. Contudo, não foi uma transição linear; 
muitas guerras, revoltas e retrocessos ocorreriam até que o capitalismo comercial 
substituísse o feudalismo nos países mais adiantados da Europa. 
 
O início das transformações sociais ocorre com as inovações tecnológicas 
que ocorreram no século XI. Verifica-se primeiramente uma mudança no 
sistema de rodízio das culturas. A repercussão dessa prática na produtividade 
agrícola representou um aumento de 50% no rendimento das lavouras. O 
aumento na produção de aveias e outras forragens permitiu a expansão da 
pecuária, pois mais animais poderiam ser alimentados. Soma-se a isso a 
utilização do cavalo em substituição ao boi que se generaliza tanto na aragem 
da terra como no transporte. A maior agilidade do cavalo impulsionou a 
produtividade agrícola. Outras tecnologias também se desenvolveram. Os 
arados foram substituídos por equipamentos de madeira e depois se passou a 
reforçá-los com pontas metálicas pelo desenvolvimento da metalurgia. Novos 
tipos de adubos são inventados aproveitando-se os excrementos e restos 
orgânicos dos animais. A construção de carroças fora melhorando 
gradualmente até se chegar no século XIII aos modelos de quatro rodas com 
pivô no eixo dianteiro. A primeira Revolução Agrícola corresponde ao 
período de intensas inovações tecnológicas na agricultura europeia nos 
séculos XI a XIII. 
 
As consequências da revolução agrícola foram dramáticas. O excedente de 
produção permitiu a expansão demográfica na Europa cuja população cresceu 
cerca de três vezes no período, gerando-se assim um excedente de mão-de-
obra. O enriquecimento de parte da populaçãopossibilitou mercado 
consumidor para as manufaturas, cuja produção estabeleceu-se em núcleos 
urbanos em torno dos feudos ou que se formaram nas feiras ao longo de rotas 
comerciais pelo interior do continente. Tais aglomerações eram os burgos 
que viviam à mercê dos senhores feudais. Em breve, alguns desses centros 
transformam-se em cidades que pouco a pouco foram livrando-se da tutela 
dos senhores. O fluxo de manufaturas deu um impulso adicional ao comércio 
que vinha desenvolvendo-se para os produtos agropecuários. O 
aperfeiçoamento das carroças, a melhoria das estradas e a navegação costeira 
e dos rios permitiram o comércio de longa distância39. 
 
No século XI, continua o citado autor, também contribuiu para impulsionar o 
comércio o fato político das Cruzadas. A ampliação do comércio foi um fator de 
desintegração da sociedade medieval. Muitas das obrigações mútuas entre o camponês e 
o senhor ou mesmo entre os senhores, ditadas pela tradição medieval, foram sendo 
substituídas pelo pagamento em dinheiro de aluguéis e taxas. Com o aumento da renda 
dos camponeses, algumas das obrigações em trabalho (ou espécies) são substituídas por 
pagamentos em dinheiro. Outros deveres, como destinar parte da produção ao senhor, 
também são transformados em pagamentos. Com isso, camponeses viram simples 
arrendatários, e senhores feudais tornam-se meros proprietários de terra. Tal processo, 
no entanto, só se completa ao final da Idade Média e nos países europeus mais atrasados 
ele prossegue até o século XIX. A transição de um modelo social (Formação Econômica 
 
39 FEIJÓ, Ricardo 2007, p. 35-36. 
33 
 
Social) a outro conheceu inúmeros sobressaltos. No fim da Idade Média, a ocorrência de 
catástrofes era acompanhada por tentativas de reintroduzir as antigas obrigações 
feudais. A reação dos camponeses, por vezes, resultava em rebeliões que proliferaram 
pela Europa. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e a Peste Negra dizimaram a 
população, aumentando com isso os salários e reduzindo a renda. Isso forcava os 
senhores a buscarem recuperar os direitos antigos como forma de compensar o prejuízo. 
O que tendia a agravar o quadro de conflitos sociais. As grandes feiras comerciais até o 
século XIV permaneceram sob a tutela do senhor feudal. No último século do período 
medieval, muitas delas tinham-se transformado em verdadeiras cidades comerciais que 
conseguiram libertar-se do senhor feudal. Na ausência do poder externo, as cidades 
buscaram criar suas próprias instituições. A mais importante era as Guildas, corporações 
que regulamentavam a produção de manufaturas e as atividades financeiras e 
comerciais. Tal instituição também intervia nas questões sociais e religiosas40. 
Podemos dizer que o cristianismo causou profundas mudanças na concepção 
política da humanidade, pois colocou em crises a concepção pagã do homem; e afirmou 
os valores humanos e religiosos, especialmente a dignidade e a igualdade dos seres 
humanos e a liberdade da sua consciência frente à organização política e econômica. 
Mas, durante a Idade Média, predominaram as ideias da Igreja Católica 
Apostólica Romana, que condenava a usura (contrato de empréstimo com pagamento de 
juros) e considerava o comércio uma atividade inferior à agricultura41. 
Mas, independentemente, da doutrina cristã ser contrária ao empréstimo a juros, 
a posição oficial da Igreja foi tornando-se mais flexível. Então, de acordo com Ricardo 
Feijó, 
 
nos séculos XII e XIII, o desenvolvimento econômico estimulou a atividade 
financeira surgindo, assim, os primeiros banqueiros que recebem depósitos 
com juros. Neste período a doutrina econômica, de cunho moral, ia cedendo à 
prática econômica e a Igreja passaria a influenciar os reis para que 
permitissem os juros, mas regulassem o valor cobrado. Os limites legais 
variavam de 10% ao ano na Itália a 300% anuais em Provença. Os reis 
também passaram a receber fundos mediante pagamento de juros. Frederico 
II pagava aos credores juros de 30 a 40% ao ano, mais do que comerciantes 
pagavam pelos empréstimos recebidos dos banqueiros, algo entre 10 e 25%, 
dependendo do tipo de crédito. À medida que as cidades comerciais foram 
adquirindo autonomia, seus dirigentes procuravam estabelecer um código 
legal preciso em substituição ao direito consuetudinário e paternalista do 
feudalismo. No mesmo sentido, as transações comerciais e financeiras foram 
então regulamentadas por uma legislação comercial específica. Tal legislação 
permitiu incrementar o comércio, pelas leis de contrato, legalização das 
 
40 FEIJÓ, Ricardo, 2007, p. 35-36. 
41 MATIAS-PEREIRA, José, 2015. 
34 
 
representações comerciais e das vendas em leilão, e criar novos instrumentos 
e operações financeiras, tais como letras de câmbio e outros papéis 
negociáveis, câmaras de liquidação de dívidas etc. É de se esperar que todo 
esse desenvolvimento da vida econômica tenha de alguma forma contribuído 
para uma melhor compreensão do processo econômico e do funcionamento 
dos mercados. De fato, na etapa final da Idade Média (de 1200 a 1500) um 
avanço ano desprezível da análise econômica aparecerá nas reflexões dos 
padres escolásticos do período. 
 
O renascimento da filosofia e a análise econômica escolástica O pensamento 
econômico na Idade Média, em seu período avançado a partir do século XIII, 
será desenvolvido no interior dos mosteiros onde padres cultos irão explorar 
e estender as reflexões econômicas preexistentes inspirando-se nas traduções 
das obras de Aristóteles. A mescla da filosofia peripatética com o 
pensamento bíblico deu origem à escola escolástica que contribuiu 
significativamente para o avanço da reflexão econômica à época. Embora 
ainda envoltos com falácias e preconceitos antieconômicos, os escolásticos 
alcançam melhor entendimento dos mercados e dos fenômenos relacionados 
de preço, valor e juro. Nas questões econômicas, como de fato em todos os 
aspectos da cultura e da teologia, sobressaiu-se o nome de Tomás de Aquino, 
o mais importante pensador escolástico do século XIII, que marcaria com 
suas idéias todo o período restante da Idade Média. Aquino pode ser visto 
como um divisor de águas entre os dois períodos medievais que estamos 
considerando42. 
 
Resumidamente, como também explica Mises43: 
 
Duzentos anos atrás, antes do advento do capitalismo, o status social de um 
homem permanecia inalterado do princípio ao fim de sua existência: era 
herdado dos seus ancestrais e nunca mudava. Se nascesse pobre, pobre seria 
para sempre; se rico – lorde ou duque –, manteria seu ducado, e a propriedade 
que o acompanhava, pelo resto dos seus dias. 
 
No tocante à manufatura, as primitivas indústrias de beneficiamento da época 
existiam quase exclusivamente em proveito dos ricos. A grande maioria do 
povo (90% ou mais da população europeia) trabalhava na terra e não tinha 
contato com as indústrias de beneficiamento, voltadas para a cidade. Esse 
rígido sistema da sociedade feudal imperou, por muitos séculos, nas mais 
desenvolvidas regiões da Europa. 
 
Contudo, a população rural se expandiu e passou a haver um excesso de 
gente no campo. Os membros dessa população excedente, sem terras 
herdadas ou bens, careciam de ocupação. Também não lhes era possível 
trabalhar nas indústrias de beneficiamento, cujo acesso lhes era vedado pelos 
reis das cidades. O número desses “párias” crescia incessantemente, sem que, 
todavia, ninguém soubesse o que fazer com eles. Eram, no pleno sentido da 
palavra, “proletários”, e ao governo só restava interná-los em asilos ou casas 
de correção. Em algumas regiões da Europa, sobretudo nos Países Baixos e 
na Inglaterra, essa população tornou-se tão numerosa que, no século XVIII, 
constituía uma verdadeira ameaça à preservação do sistema social vigente. 
 
 
42 FEIJÓ, Ricardo, 2007, p. 37-38. 
43 MISES, Ludwig von. As seis lições. Tradução de Maria Luiza Borges. 7.

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