Buscar

Produtividade do Mombaça rotacionado e Irrigado

Prévia do material em texto

427Produtividade do Panicum maximum cv.Mombaça
Scientia Agricola, v.59, n.3, p.427-433, jul./set. 2002
PRODUTIVIDADE DO Panicum maximum cv. Mombaça
IRRIGADO, SOB PASTEJO ROTACIONADO1
Marcela dos Santos Müller2,3; Antonio Luiz Fancelli2; Durval Dourado-Neto2,3*; Axel García y
García2,3; Ramiro Fernando López Ovejero2,4
2Depto. de Produção Vegetal - USP/ESALQ, C.P. 9 - CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.
3
Bolsista CNPq.
4Bolsista CAPES.
*Autor correspondente <dourado@esalq.usp.br>
RESUMO: O uso da irrigação em pastagens é uma realidade fundamentada na experiência empírica de
produtores, devido à falta de bases científicas definidas sobre o assunto. O trabalho visou avaliar a
produtividade do capim Mombaça (Panicum maximum Jacq. cv. Mombaça) manejado em pastejo rotacionado,
sob sistema de irrigação e as principais variáveis climáticas responsáveis pelo acúmulo de massa de forragem.
O experimento foi conduzido sob irrigação por aspersão tipo pivô central, de julho a dezembro de 1998, em
região de cerrado (Latossolo Vermelho-Amarelo) em São Desidério, BA. Foi quantificada a massa de forragem
da pastagem aos 30 dias de crescimento e antes do pastejo e desenvolvidos modelos matemáticos que
relacionam a produção de forragem a variáveis climáticas. A produção e a taxa de acúmulo de matéria seca
da pastagem, ao longo do período de inverno não apresentaram diferenças significativas. Na primavera,
houve tendência de aumento em ambas, com maiores produções obtidas no período final de avaliação. As
menores taxas de acúmulo durante a primavera foram observadas nos primeiros piquetes, coincidindo com a
ocorrência de baixas temperaturas durante o período de descanso. Com a elevação da temperatura mínima,
a produção forrageira entrou em fase de acúmulo crescente. A produção de forragem, durante a primavera,
foi superior à do inverno, apresentando incrementos em função da maior temperatura mínima do ar, do
período de descanso e da área foliar inicial. As principais variáveis climáticas responsáveis pela produção da
forragem foram temperatura mínima do ar e disponibilidade de água no solo.
Palavras-chave: pastagem, irrigação, Mombaça, modelagem
PRODUCTIVITY OF Panicum maximum cv. Mombaça
UNDER ROTATIONAL GRAZING AND IRRIGATION
ABSTRACT: Irrigation of tropical grasses is a reality based on the empirical knowledge of farmers, having no
scientific evidence. This field experiment was carried out to evaluate the productivity of the Mombaça grass
(Panicum maximum Jacq.cv. Mombaça) under rotational grazing and center pivot irrigation, and the main
weather attributes responsible for increases of the Mombaça dry mass yield. The experiment was carried out
from July to December 1998, in the Central Brazilian Savannah region (Typic Haplustox), São Desidério,
Bahia, Brazil. The Mombaça forage mass was measured at 30 days of growth and before each grazing.
Mathematical models were developed to relate the forage productivity to weather attributes. The dry mass
yield and the rate of growth, during the winter season, were not statistically different. Even though, both of
them increased during the spring season, with the higher dry mass yield at the end of the experimental
evaluation period. The lower growth rates, during the spring season, were observed in the initial period,
corresponding to lower air temperatures during the pasture rest period. With the increase of the minimum air
temperature, the dry mass yield also increased. The forage yield was higher during the spring season as
compared to the winter season, because of the higher minimum air temperature during the rest period, and of
the initial leaf area. At the Savannah region, the main attributes responsible for increasing the Mombaça dry
mass yield were minimum air temperature and soil water availability.
Key words: pasture, irrigation, Mombaça, modeling
1Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora apresentada à USP/ESALQ - Piracicaba, SP.
INTRODUÇÃO
A l i teratura concernente ao desempenho
agronômico de pastagens irrigadas ainda é restrita e, na
maioria dos casos, datada de décadas atrás. Porém, o
uso da irrigação de pastagens na região do Cerrado é
uma realidade fundamentada na experiência empírica de
produtores e que ainda não encontra alicerces na
pesquisa acadêmica. A agricultura, nessa região, utiliza
tecnologia avançada e a irrigação mostra-se fundamental
no processo produtivo. Contudo, os baixos rendimentos
alcançados nessas áreas, em função da disseminação
de pragas e doenças, aliados à realidade agrícola
nacional, forçaram os produtores a medidas extremas e
até então inéditas, como a introdução das pastagens nas
áreas irrigadas.
428 Müller et al.
Scientia Agricola, v.59, n.3, p.427-433, jul./set. 2002
O capim Mombaça, foi lançado no Brasil em
1993, pela EMBRAPA, no Centro Nacional de Pesquisa
de Gado de Corte (Jank et al., 1994; Jank, 1995). É
um cult ivar de alta produtividade, apresenta
elevada porcentagem de folhas, principalmente
na seca, destacando-se também por apresentar
menor estacionalidade de produção do que o cultivar
Colonião.
É íntima relação entre os fatores ambientais e a
ocorrência e distribuição das plantas forrageiras,
mostrando a necessidade de se conhecer a
disponibilidade desses fatores e as características
ecológicas e fenológicas das plantas a serem cultivadas
(Silva, 1995). Apesar da dificuldade de se isolarem os
efeitos de uma variável meteorológica sobre a produção
de cultura, os fatores climáticos são os mais importantes
na escolha de plantas forrageiras para uma determinada
região (Alcântara & Bufarah, 1985), sendo a umidade e
a temperatura fatores preponderantes na distribuição
geográfica da tribo Paniceae (Silva, 1995). Sob
condições de temperaturas médias anuais iguais ou
superiores a 29°C e de inverno acima de 15°C, o fator
temperatura perde importância e as condições hídricas
assumem papel preponderante na fenologia das plantas
(Burkart, 1975). A região tropical apresenta temperaturas
entre 25°C e 30°C e pequena variação na radiação
incidente (Cooper, 1970). Dessa forma, o período de
inverno, em virtude da deficiência hídrica, pode se
apresentar como fator limitante ao cultivo agrícola.
Entretanto, em regiões cujas temperaturas médias anuais
são de 10°C a 20°C e de inverno entre 5°C e 15°C, a
temperatura exerce papel tão importante quanto a
umidade na ocorrência e distribuição das plantas
(Burkart, 1975).
A taxa de acúmulo de matéria seca em
gramíneas tropicais e subtropicais é extremamente
baixa sob temperaturas inferiores a 15°C (Cooper &
Tainton, 1968; McWilliam, 1978; Gomide, 1994) e entre
5,5°C e 14°C (Skerman & Riveros, 1992). Esses autores
citaram que a temperatura ótima para o crescimento de
P. maximum está entre 19,1°C e 22,9°C. Os efeitos da
temperatura mínima sobre o potencial produtivo de
capim Pangola (Digitaria decumbens) foram
pesquisados por McCloud (1963), observando que a
diminuição da temperatura noturna de 30°C para 20°C
e posteriormente para 10°C, causou redução da
produção de matéria seca dessa forrageira em 25% e
44,5%, respectivamente. A manutenção da temperatura
em 10°C proporcionou produção relativa de 21%
daquela obtida a 30°C.
A luminosidade é outro fator de influência sobre
os diversos processos metabólicos das plantas,
particularmente sobre a fotossíntese. Normalmente, os
ambientes tropicais e subtropicais são caracterizados
por elevados índices de radiação (acima de 300
cal cm-2 dia-1), não constituindo fator limitante ao
crescimento de Panicum (Rolim, 1980; Alcântara &
Bufarah, 1985). Seu padrão de ocorrência e
disponibilidade todavia tem influência marcante sobre a
distribuição e/ou estacionalidade de produção forrageira.
A estacionalidade da produção forrageira é um fenômeno
que ocorre na maioria das espécies tropicais, sendo
determinado em maior grau pelas limitações climáticas
e exaustão energética das plantas após o estádioreprodutivo. (Maldonado et al. 1997). Em ambiente de
Cerrado, Pereira et al. (1966) avaliaram o desempenho
de dez gramíneas para capineiras, concluindo que a
irrigação efetuada no inverno produziu aumento de
produção de matéria seca correspondente a 70% sobre
a testemunha.
Com o objetivo de avaliar a capacidade
produtiva de P. maximum, Pedreira (1979) promoveu
cortes da forragem durante o verão (outubro a março)
e no inverno (abril a setembro). O autor observou que
a curva de crescimento da cultura apresentou a mesma
tendência da curva de distr ibuição de chuvas.
Maldonado et al. (1997), em experimento conduzido no
Estado do Rio de Janeiro, observaram que a produção
de matéria seca do capim Elefante (Pennisetum
purpureum Schum.) respondeu de forma linear à lâmina
de água aplicada, ainda que no período de inverno, que
se apresenta com deficiência hídrica, todavia, com
temperatura e luminosidade adequados à produção de
plantas tropicais.
A expressão do potencial genético da planta
forrageira é dependente da atuação de componentes
imponderáveis, juntamente com todo o sistema de
produção adotado. Dessa forma, é necessária a
avaliação das relações entre os elementos bióticos e
abióticos, em cada sistema, para o melhor
estabelecimento de bases de manejo que culminem em
rendimentos agrícolas favoráveis. O trabalho foi realizado
com o objetivo de se obter maiores subsídios e
parâmetros para a definição da viabilidade técnica da
irrigação de poáceas tropicais na região do cerrado,
avaliando-se o desempenho da pastagem de capim
Mombaça.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido em São Desidério, BA,
na Fazenda Rio Brilhante (12°55’12” Sul, 45°42’54”
Oeste e altitude de 750 m). O solo da área é classificado
como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico.
Com base nos resultados da análise química do
solo, procedeu-se sua correção, visando a elevação da
saturação por bases para 60%, conforme indicado por
Werner (1994). A semeadura foi realizada entre 14 e
17 de janeiro de 1998, em linhas espaçadas de 0,45
m, com distribuição de 15 kg ha-1 de sementes (20%
de valor cultural) e 150 kg ha-1 de superfosfato simples.
A emergência das plântulas ocorreu entre 8 e 10 dias
após a semeadura. A part ir de 90 dias após a
semeadura (abril/maio de 1998), a pastagem foi
429Produtividade do Panicum maximum cv.Mombaça
Scientia Agricola, v.59, n.3, p.427-433, jul./set. 2002
submetida ao corte de uniformização com colheita da
forragem para ensilagem. Posteriormente, a área foi
subdividida radialmente em 18 piquetes de 5,5 ha e
acesso a uma aguada central de 1 ha.
O período de pastejo, em cada piquete, foi
inicialmente programado para três dias, porém, variou de
dois a seis dias em função da massa de forragem
apresentada a cada ciclo de pastejo. O manejo da
pastagem consistiu na introdução de todo o rebanho no
primeiro piquete e sua permanência até o rebaixamento
da pastagem, quando o lote era transferido para o
piquete seguinte. Em função da semeadura ter sido
realizada na estação das águas, foi necessária a
irrigação apenas nos períodos de veranico e a partir do
final das chuvas (Figura 1). A irrigação consistiu na
aplicação de lâmina fixa de 30 mm semanais.
A adubação de cobertura foi realizada via água
de irrigação, imediatamente após o pastejo de cada
piquete, com 30 kg ha-1 de N e K2O, cujas fontes, foram,
respectivamente, uréia e cloreto de potássio. O manejo
da irrigação foi estabelecido de forma que cada piquete
não fosse irr igado imediatamente antes da sua
ocupação por animais.
Os dados de produção de forragem foram
obtidos através da coleta de amostras em cada um dos
piquetes, em duas épocas distintas: imediatamente
antes do pastejo (18 observações durante o inverno e
27 na primavera) (Tabela 1), e 30 dias após a retirada
dos animais da pastagem (total de 45 observações)
(Figura 5). As amostras foram retiradas em cinco pontos
aleatórios dentro de cada piquete, delimitadas por um
quadro de 1 m2 e corte realizado ao nível do solo. Foi
obtida a massa total das amostras, sem subdividi-las
em suas partes vegetativas. Para determinação da
forragem remanescente após a saída dos animais dos
piquetes, o mesmo procedimento de amostragem foi
executado.
A taxa média de acúmulo de forragem foi obtida
através da relação entre a variação da massa de
forragem em cada piquete e o respectivo intervalo entre
pastejos (Tabela 1). No primeiro ciclo de pastejo
(período de pastejo + período de descanso) (19/07 a
16/09/98), foi considerado o acúmulo total da forragem,
visto que toda a pastagem foi submetida, inicialmente,
ao corte de uniformização. A partir do segundo ciclo
iniciado em 16/09/98, estimou-se que a massa
remanescente da forragem foi 27,5% da observada no
momento do início do pastejo. Essa estimativa foi feita
através de amostragens efetuadas em cada piquete
após a saída dos animais.
Durante a condução do experimento foram
monitoradas, diariamente, as temperaturas mínima,
máxima, média relativa, pluviosidade e radiação solar,
através de uma estação meteorológica local Li-1200 (Li-
cor, Inc. Lincoln, Nebraska, USA), (Figura 2).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O primeiro ciclo de pastejo efetuado durante o
inverno (19/07 a 16/09/98) foi realizado após um
período de descanso médio de 88 dias (Tabela 1). O
longo período de descanso adotado para o início do
primeiro ciclo de pastejo deve-se ao tempo demandado
para a recuperação das plantas, que pode ser explicado
por dois fatores: (i) baixo vigor da rebrota da pastagem
em função das condições climáticas vigentes após o
corte de uniformização, e (ii) pela rebrota dependente
da emissão de perfilhos basais, devido à desfolha
excessiva no corte de uniformização das plantas, que
provocou a remoção dos meristemas apicais.
Essa el iminação deu-se devido ao corte de
uniformização ter sido promovido no estádio reprodutivo
da planta forrageira, momento em que há o
alongamento das hastes com conseqüente elevação
dos meristemas.
A rebrota dependente de perfilhos basais ocorre
de forma lenta pois depende diretamente das reservas
orgânicas da planta para o seu desenvolvimento. Nas
forrageiras do gênero Panicum, os perfilhos basais
devem ser preferencialmente explorados para obtenção
de altos rendimentos e elevada taxa de lotação (Santos,
1993), pois esses contribuem com maior peso de massa
verde e de maneira mais vigorosa em relação aos aéreos
(Barbosa et al.,1996).
Figura 1 - Precipitação (C) no período de janeiro a dezembro de
1998.
Figura 2 - Temperaturas Médias Máxima (Tx) e Mínima (Tm) e
Radiação Solar (R, MJ m-2 dia-1) de janeiro a dezembro
de 1998.
0
50
100
150
200
250
J F M A M J J A S O N D
Mês
C
 (m
m
)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
J F M A M J J A S O N D
Mês
T 
°C
0
5
10
15
20
25
30
R 
Tx Tm R
M
J 
m
-2
 d
ia
-1
430 Müller et al.
Scientia Agricola, v.59, n.3, p.427-433, jul./set. 2002
A influência das condições climáticas e do tipo
de rebrota sobre o desenvolvimento e produção do
cultivar Mombaça é constatada através dos níveis de
produção de matéria seca obtidos sob diferentes
períodos de descanso, os quais variaram de 36 a 95
dias, na primavera e no inverno, respectivamente, com
coeficiente de variação de 20,6%.
Tabela 1 - Massa de forragem do Panicum maximum cv.
Mombaça em função da data de coleta e período
de descanso (PD).
Figura 3 - Massa de forragem do Panicum maximum cv. Mombaça
durante a primavera, com período de descanso médio
de 40 dias, ao longo das avaliações temporais
(Modelo 1).
M
as
sa
 d
e 
fo
rr
ag
em
 (k
g 
ha
-1
)
Dia após início da estação
Data da
coleta Piquete PD MS
Inverno
dias kg ha-1
19/07/98 1 76 3732,7
25/07/98 2 79 3793,6
30/07/98 3 81 3853,7
04/08/98 4 84 3827,9
07/08/98 5 84 3748,4
10/08/98 6 85 3808,0
13/08/98 7 87 4129,416/08/98 8 88 4018,7
19/08/98 9 89 3904,2
22/08/98 10 91 3850,5
24/08/98 11 91 3963,6
27/08/98 12 91 3850,5
31/08/98 13 92 4191,5
04/09/98 14 94 3991,4
07/09/98 15 95 4157,6
10/09/98 16 95 4022,0
12/09/98 17 95 4249,4
14/09/98 18 95 4192,8
Primavera
16/09/98 1 53 4220,1
18/09/98 2 50 4035,5
21/09/98 3 48 4283,4
23/09/98 4 47 3886,2
25/09/98 5 46 4307,0
27/09/98 6 45 4009,0
29/09/98 7 44 3963,2
01/10/98 8 43 5239,0
03/10/98 9 42 5508,1
05/10/98 10 42 4287,5
06/10/98 11 40 4900,2
10/10/98 12 40 4590,0
12/10/98 13 38 4032,6
15/10/98 14 38 4836,6
17/10/98 15 38 5788,0
19/10/98 16 38 4564,7
21/10/98 17 38 6015,0
23/10/98 18 38 4614,1
25/10/98 1 38 6513,1
27/10/98 2 36 5926,2
29/10/98 3 36 4637,5
31/10/98 4 36 4987,6
02/11/98 5 36 5204,7
04/11/98 6 36 6160,9
06/11/98 7 36 5856,6
08/11/98 8 36 5913,6
10/11/98 9 36 5595,8
A menor massa de forragem no pré-pastejo foi
de 3733 kg ha-1, com período de descanso de 76 dias,
em 19/07/98 (Tabela 1), superior aos 1200 kg ha-1,
considerado por Mott (1980), como o mínimo aceitável
para o consumo de bovinos em pastejo.
A comparação de médias, pelo teste de Tukey,
para a variável massa média de matéria seca,
independentemente dos períodos de descanso praticados,
mostra que o efeito do período do ano (inverno e
primavera) foi altamente significativo (Tabela 2).
O acúmulo médio obtido na primavera (MS, 4958
kg ha-1), com período de descanso médio de 40 dias,
superou em 25% aquele obtido, durante o inverno, em
88 dias (3960 kg ha-1 de MS), demonstrando que a
menor freqüência de pastejos, no período de inverno,
não promoveu o mesmo acúmulo obtido na primavera.
O primeiro dia de avaliação e entrada dos animais no
sistema foi considerado como zero, em todos os modelos
propostos. Durante o inverno ocorreu o primeiro ciclo de
pastejo (18 piquetes), de 19/07/98 a 16/09/98. Na
estação de primavera, o pastejo teve início em 16/09/98
e término em 12/11/98, com 27 piquetes pastejados
(Tabela 3).
O aumento na produção durante a primavera
(Figura 3) foi crescente, com as maiores massas obtidas
no período final de avaliação, ainda que essas áreas
estivessem sob menores intervalos entre pastejos (36
dias). Acredita-se que esse desempenho seja função da
alteração paulatina das condições hídricas e térmicas.
O modelo que melhor explicou a variação da
massa de forragem produzida durante a primavera está
representado na Tabela 3 (Modelo 1).
No presente estudo, o período de primavera não
foi avaliado até o seu término e, considerando-se que
nesse período a pastagem foi submetida a maior
freqüência de pastejos, depreende-se que as produções
de matéria seca teriam sido maiores se os intervalos entre
pastejos fossem maiores; concordando com observações
de Gomide & Zago (1981) em estudo da produção do
capim Colonião submetido a intervalos de corte.
431Produtividade do Panicum maximum cv.Mombaça
Scientia Agricola, v.59, n.3, p.427-433, jul./set. 2002
** Significativo a 1%.
Taxa de acúmulo: CV= 27,2%; s = 26,4 kg ha-1 dia-1; média = 97,0 kg ha-1 dia-1.
Massa de forragem: CV= 29,8%; s = 1206,9 kg ha-1; média = 4045,2 kg ha-1.
Massa de forragem média: 1Médias seguidas pela mesma letra não apresentam diferença pelo teste de Tukey (α=0,01); dms = 250,7
kg ha-1. 2 Massa referente a todos os piquetes.
Tabela 2 - Análise de variância relativa à taxa de acúmulo (kg ha-1 dia-1) ao longo da avaliações, durante a primavera, massa
de matéria seca (kg ha-1) aos 30 dias de descanso, durante as avaliações de inverno e primavera e comparação
de médias (MSm, kg ha-1) e total (MSt, kg) em função da estação do ano, nos períodos médios de descanso (PD)
do Panicum maximum, cv. Mombaça.
A análise de variância referente à taxa de acúmulo
de forragem durante a primavera foi altamente significativa
(P < 0,01) (Tabela 2), devido a alterações nas condições
climáticas nesse período. No inverno, a taxa de acúmulo
não apresentou diferença. O coeficiente de variação foi
de 17,1% e a média de 44,9 kg ha-1 dia-1.
A análise de regressão permitiu a obtenção do
modelo explanatório que demonstra a tendência da taxa
média de acúmulo da pastagem durante o período de
primavera (Figura 4). Foi utilizado o software TableCurve
2D (Jandel Scientific, 1994) para ajustar os modelos aos
dados observados, minimizando a soma dos quadrados
dos desvios, utilizando o procedimento iterativo de
Newton-Raphson.
O Modelo 2 (Tabela 3) representou a melhor
tendência da taxa de acúmulo do capim Mombaça
durante a primavera. As menores taxas de acúmulo
durante a primavera ocorreram nos primeiros piquetes
pastejados (Figura 4) e coincidem com a ocorrência
das menores temperaturas mínimas (13oC) durante o
período de descanso. A part i r da elevação da
temperatura mínima, as taxas de acúmulo
aumentaram, com maior valor absoluto de 140,9 kg
MS ha-1 dia-1.
As taxas de acúmulo em matéria seca obtidas
no presente estudo superam aquelas obtidas
por diversos autores: (i) Bryan & Sharpe (1965)
obtiveram 2,24 kg ha-1 dia-1 para o capim Pangola
(Digitaria decumbens Stent); Singh & Chatterjee
(1968) reportaram taxas de 7,0; 5,4 e 1,1 kg ha-1 dia-1
para os capins Brachiaria brizantha, Andropogon
gayanus e Paspalum notatum, respectivamente; Pedreira
(1973), obteve, para o capim Colonião, taxas de 2,0;
3,6 e 8,7 kg ha-1 dia-1, nos meses de julho, agosto
e setembro, respectivamente; enquanto Pedreira
(1979), ainda para o capim Colonião, reporta taxas
de 1,7; 7; 12,2; 22,3 e 39,6 kg ha-1 dia-1, nos meses de
agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro,
respectivamente.
A aval iação da inf luência de var iáveis
climáticas sobre a produção da pastagem exige bases
comuns no que tange ao período de descanso. Para
isso, foram consideradas somente as avaliações
referentes ao período de descanso de 30 dias.
A análise de variância referente à massa de
forragem após 30 dias de descanso, durante as
avaliações, foi significativa devido as alterações
climáticas (Tabela 2), permitindo a elaboração de
modelos extrapoláveis para previsão da produção de
Mombaça em função da lâmina de água diária (somatório
da lâmina de água da irrigação e pluviosidade) e da
temperatura mínima (Figura 5).
A produção de forragem apresentou relação
positiva com o aumento dos níveis dessas variáveis e
os modelos que melhor explicaram essas funções são
Figura 4 - Taxa média de acúmulo de forragem capim Mombaça,
no período de primavera (Modelo 2).
Dia após o início da estação
Ta
xa
 d
e 
m
éd
ia
 d
e 
ac
um
ul
o 
de
 fo
rr
ag
em
(k
g 
ha
-1
 d
ia
-1
)
Taxa de acúmulo
Causa da variação G.L. S.Q. Q.M. F
Época de amostragem 26 90593,54 3484,36 7,2058**
Resíduo 108 52223,53 483,55
Total 134
Massa de forragem
Época do ano 44 318361468,51 7235487,92 13,6367**
Resíduo 180 95505735,59 530587,42
Total 224
Massa de forragem média
Estação PD MSm1 MSt2 Piquetes Pastejados
Inverno 88 3960,33 a 392.072,67 18 (99 ha)
Primavera 40 4958,37 b 736.317,95 27 (148,5 ha)
Período to tal 4559,15 1.128.390,62
432 Müller et al.
Scientia Agricola, v.59, n.3, p.427-433, jul./set. 2002
1 2 3 4 5
Parâmetro do modelo
A 14156,97 -1,57.106 7261,66 -17561,89 9502,57
B -6,70.10-4 -594,95 7,9725.10-6 127467,00 -1021,25
C -1,11.106 33360,73 -16240,24 646154,90 38,61
D 3,12.107 1,67.107 - 911598,80 1536,83
E - -1,64.107 - - -
f - - - - 8,81
g - - - - 0,34
Parâmetro Estatístico
r 0,71 0,85 0,89 0,89 0,90
n 27 27 45 45 45
s 792,47 26,39 1206,87 1206,87 1221,63
f 8,02** 14,76** 82,88** 54,18** 30,30**
Modelo Descrição Tipo
1
Massa de matéria seca (kg ha-1), na primavera, em função do
número de dias decorridos a partir do início do experimento (t, dias;
t1 = 58; ti = 113 dias).
2
Taxa de acúmulo (TA, kg ha-1 dia-1), na primavera, em função do
número de dias decorridos a partir do início do experimento (t,dias;
t1 = 58; ti = 113 dias).
3
Modelo extrapolável referente à estimativa de massa de matéria
seca, aos 30 dias de crescimento (MMS30, kg ha-1), em função da
temperatura mínima (Tm, oC).
4
Modelo extrapolável referente à estimativa da massa de matéria
seca, aos 30 dias de crescimento (MMS30, kg ha-1), em função da
lâmina de água diária (Lw, mm dia-1).
5
Modelo extrapolável referente à estimativa da massa de matéria
seca do P anicum m axim um cv. Mombaça aos 30 dias de
crescimento (MMS30, kg ha-1), em função da temperatura mínima
do ar (Tm, oC) e da lâmina de água diária (Lw, mm dia-1).
Tabela 3 - Modelos para Panicum maximum cv. Mombaça com os respectivos valores do coeficiente de correlação (r),
número de observações (n), desvio padrão (s) e valor F.
**Significativo a 1%. Modelos 1,2: (r26-0,01 = 0,479); Modelos 3,4,5: (r44-0,01 = 0,377).
Figura 5 - Massa de forragem do capim Mombaça com período de descanso de 30 dias, em função das variáveis independentes: (a) lâmina
de água diária (Modelo 4); (b) temperatura mínima (Modelo 3).
2
3
t
d
t
cbtaMMSP +++=
)( 1 ittt ≤≤
( )
t
te
t
dtcbtaTA lnln 5,0
2 ++++=
)( 1 ittt ≤≤
Tm
cbeaMMS Tm ++=30
)30,1962,12( <≤ Tm
Lde
Lw
c
Lw
LwbaMMS −++


+= 2
ln30
)04,1025,3( <≤ Lw








−
+++=
2ln
5,0
...30
g
f
L
edTmcTmbaMMS
)3,1962,12(
)04,1025,3(
≤≤
≤≤
Tm
Lw
Lamina de água diária (mm dia-1)A
M
as
sa
 d
e 
fo
rr
ag
em
 (k
g 
ha
-1
)
B
M
as
sa
 d
e 
fo
rr
ag
em
 (k
g 
ha
-1
)
Temperatura mínima (°C)
433Produtividade do Panicum maximum cv.Mombaça
Scientia Agricola, v.59, n.3, p.427-433, jul./set. 2002
apresentados na Tabela 3 (Modelos 3 e 4). A partir
desses resultados, foi elaborado novo modelo
matemático extrapolável visando a previsão da produção
de forragem do Mombaça em função da interação entre
temperatura mínima e lâmina de água diária (Figura 6 e
Tabela 3). A integração dessas variáveis tem por objetivo,
assegurar maior precisão na previsão de rendimento do
Mombaça, visto que, teoricamente, os modelos
extrapoláveis devem considerar o maior número possível
de variáveis independentes e a interferência dessas
sobre a variável de interesse.
CONCLUSÕES
A produção de matéria seca de capim Mombaça,
durante a primavera foi maior do que durante o inverno.
Houve aumento da produção de matéria seca de
capim Mombaça, com o aumento da temperatura
mínima, bem como do período de descanso e da área
foliar inicial.
Na região de cerrado, os principais atributos
responsáveis pela produção de massa de forragem do
capim Mombaça, foram temperatura mínima do ar e
disponibilidade de água no solo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCÂNTARA, P.B.; BUFARAH, G. Plantas forrageiras: gramíneas e
leguminosas. São Paulo: Livraria Nobel, 1985. 150p. (Biblioteca
Rural)
BARBOSA, M.A.A.F.; DAMASCENO, J.C.; CECATO, U. Estudo de
perfilhamento em quatro cultivares de Panicum maximum Jacq.
submetidos a duas alturas de corte. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33., Fortaleza, 1996. Anais. Fortaleza:
SBZ, 1996. v.2.
Figura 6 - Massa de forragem do capim Mombaça, com período de
descanso de 30 dias, em função da temperatura mínima
do ar e da lâmina de água diária (Modelo 5).
Lâmina de água diária (mm dia-1)
M
as
sa
 d
e 
fo
rr
ag
em
 (k
g 
ha
-1
)
Tem
per
atu
ra m
ínim
a (°
C)
BRYAN, W.W.; SHARPE, J.P. The effect of urea nad cutting treatments on
the production of Pangola grass in south-eastern Queensland. Australian
Journal Experimental Agriculture Animal Husbandry, v.5, p.433-441,
1965.
BURKART, A. Evolution of Grasses and Grasslands in South America. Taxon,
v.24, p.53-66, 1975.
COOPER, J.P. Potential production and energy conversion in temperate and
tropical grasses. Herbage Abstracts, v.40, p.1-15, 1970.
COOPER, J.P.; TAINTON, N.M. Light and temperature requirements for the
growth of tropical and temperate grasses. Herbage Abstracts, v.38,
p.167-176, 1968.
GOMIDE, J.A. Fisiologia do crescimento livre de plantas forrageiras. In:
PEIXOTO, A.M. (Ed.) Pastagens: fundamentos de exploração racional.
Piracicaba: FEALQ, 1994. p.1-14.
GOMIDE, J.A.; ZAGO, C.P. Produtividade do capim colonião (Panicum
maximum ) , com e sem adubação de reposição, submetido a
diferentes intervalos de corte. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 18., Goiânia, 1981. Anais. Goiânia:
SBZ, 1981.
JANDEL SCIENTIFIC. TableCurve 2D (software). Illinois, 1994.
JANK, L. Melhoramento e seleção de variedades de Panicum maximum. In:
SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 12., Piracicaba, 1995.
Anais. Piracicaba: FEALQ, 1995. p.21-58.
JANK, L.; SAVIDAN, Y.H.; SOUZA, M.T.C.; COSTA, J.C.G. Avaliação do
germolasma de Panicum maximum introduzida da África. I: Produção
forrageira. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.23, p.433-
440, 1994.
MALDONADO, H.; DAHER, F.R.; PEREIRA, A.V. Efeito da irrigação na
produção de matéria seca do capim elefante (Pennisetum purpureum
Schum) em Campos dos Goytacazes, RJ. In: REUNIÃO ANUAL DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 34., Juiz de Fora, 1997.
Anais. Juiz de Fora: SBZ, 1997.
McCLOUD, D.E. Temperature responses of some subtropical forage grasses.
In: Conference of pastures and forages, São Paulo, 1963. Rome: FAO,
1963.
McWILLIAM, J.R. Response of pasture plants to temperature. In: WILSON,
J.R. Plant relations in temperature. Australia: Commonwealth Scientific
Industrial Research Organization, 1978. p.17-34.
MOTT, G.O. Measuring forage quantity and quality in grazing trials. In:
SOUTHERN PASTURE AND FORAGE CROP IMPROVEMENT
CONFERENCE, 37., Nashville, 1980. Proceedings. Nashville, 1980. p.3-
9.
PEDREIRA, J.V.S. Crescimento estacional de capim pangola (Digitaria
decumbens Stent.) e colonião (Panicum maximum Jacq.) na região de
Barretos (SP). Zootecnia, v.17, p.215-223, 1979.
PEDREIRA, J.V.S. Crescimento estacional dos capins colonião Panicum
maximum Jacq., gordura Melinis minutiflora Pal de Beauv, Jaraguá
Hyparrhenia rufa (Ness) Stapf e pangola de Taiwan A-24 Digitaria pentzii
Stent. Boletim da Indústria Animal, v.30, p.59-145, 1973.
PEREIRA, R.M.A.; SYKES, D.J.; GOMIDE, J.A.; VIDIGAL, G.T. Competição
de 10 gramíneas para capineiras, no cerrado, em 1965. Revista Ceres,
v.13, p.141-153, 1966.
ROLIM, F.A. Estacionalidade de produção de forrageiras. In: SIMPÓSIO
SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 6., Piracicaba, 1980. Anais .
Piracicaba: FEALQ, 1980. p.243-270.
SILVA, S.C. Condições edafo-climáticas para a produção de Panicum sp. In:
SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 12., Piracicaba, 1995.
Anais. Piracicaba: FEALQ, 1995. p.129-146.
SINGH, R.D.; CHATTERJEE, B.N. Growth analysis of perennial grasses in
Tropical India. I: Herbage growth in pure grass swards. Experimental
Agriculture, v.4, p.117-125, 1968.
SKERMAN, P.J.; RIVEROS, F. Poáceas tropicales. In: PRODUCCIÓN Y
PROTECCIÓN VEGETAL, 23., Roma, 1992. Colección. Roma: FAO,
1992. 849p.
SOIL SURVEY STAFF. Agency for International Development. Soil
Management Support Services. Keys to soil taxonomy. Washington:
USDA, 1993. 422p.
WERNER, J.C. Adubação de pastagens de Brachiaria spp.. In: SIMPÓSIO
SOBRE MANEJO DA PASTAGEM,11., Piracicaba, 1994. Anais.
Piracicaba: FEALQ, 1994. p.202-209.
Recebido em 31.10.00

Continue navegando