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Empresa no Mundo Globalizado 
" De que forma a GLOBALIZAÇÃO pode afetar as empresas brasileiras e seus planos estratégicos."
O QUE É GLOBALIZAÇÃO
é o conjunto de transformações na ordem política e econômica mundial que vem acontecendo nas últimas décadas. O ponto central da mudança é a integração dos mercados numa "aldeia-global", explorada pelas grandes corporações internacionais. Os Estados abandonam gradativamente as barreiras tarifárias para proteger sua produção da concorrência dos produtos estrangeiros e abrem-se ao comércio e ao capital internacional. Esse processo tem sido acompanhado de uma intensa revolução nas tecnologias de informação - telefones, computadores e televisão.
As fontes de informação também se uniformizam devido ao alcance mundial e à crescente popularização dos canais de televisão por assinatura e da Internet. Isso faz com que os desdobramentos da globalização ultrapassem os limites da economia e comecem a provocar uma certa homogeneização cultural entre os países. 
CORPORAÇÕES TRANSNACIONAIS
A globalização é marcada pela expansão mundial das grandes corporações internacionais. A cadeia de fast food McDonald's, por exemplo, possui 18 mil restaurantes em 91 países. Essas corporações exercem um papel decisivo na economia mundial. Segundo pesquisa do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de São Paulo, em 1994 as maiores empresas do mundo (Mitsubishi, Mitsui, Sumitomo, General Motors, Marubeni, Ford, Exxon, Nissho e Shell) obtêm um faturamento de 1,4 trilhão de dólares. Esse valor eqüivale à soma dos PIBs do Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai, Venezuela e Nova Zelândia. 
Outro ponto importante desse processo são as mudanças significativas no modo de produção das mercadorias. Auxiliadas pelas facilidades na comunicação e nos transportes, as transnacionais instalam suas fábricas sem qualquer lugar do mundo onde existam as melhores vantagens fiscais, mão-de-obra e matérias-primas baratas. Essa tendência leva a uma transferência de empregos dos países ricos - que possuem altos salários e inúmeros benefícios - para as nações industriais emergentes, com os Tigres Asiáticos. O resultado desse processo é que, atualmente, grande parte dos produtos não tem mais uma nacionalidade definida. Um automóvel de marca norte-americana pode conter peças fabricadas no Japão, ter sido projetado na Alemanha, montado no Brasil e vendido no Canadá. 
REVOLUÇÃO TECNOCIENTÍFICA
A rápida evolução e a popularização das tecnologias da informação (computadores, telefones e televisão) têm sido fundamentais para agilizar o comércio e as transações financeiras entre os países. Em 1960, um cabo de telefone intercontinental conseguia transmitir 138 conversas ao mesmo tempo. Atualmente, com a invenção dos cabos de fibra óptica, esse número sobe para l,5 milhão. Uma ligação telefônica internacional de 3 minutos, que custava cerca de 200 em 1930, hoje em dia é feita por US$ 2. O número de usuários da Internet, rede mundial de computadores, é de cerca de 50 milhões e tende a duplicar a cada ano, o que faz dela o meio de comunicação que mais cresce no mundo. E o maior uso dos satélites de comunicação permite que alguns canais de televisão - como as redes de notícias CNN, BBC e MTV - sejam transmitidas instantaneamente para diversos países. Tudo isso permite uma integração mundial sem precedentes. 
DESEMPREGO ESTRUTURAL
A crescente concorrência internacional tem obrigado as empresas a cortar custos, com o objetivo de obter preços menores e qualidade alta para os seus produtos. Nessa restruturação estão sendo eliminados vários postos de trabalho, tendência que é chamada de desemprego estrutural. Uma das causas desse desemprego é a automação de vários setores, em substituição à mão de obra humana. Caixas automáticos tomam o lugar dos caixas de bancos, fábricas robotizadas dispensam operários, escritórios informatizados prescindem datilógrafos e contadores. Nos países ricos, o desemprego também é causado pelo deslocamento de fábricas para os países com custos de produção mais baixos. 
NOVOS EMPREGOS
O fim de milhares de empregos, no entanto, é acompanhado pela criação de outros pontos de trabalho. Novas oportunidades surgem, por exemplo, na área de informática, com o surgimento de um novo tipo de empresa, as de "inteligência intensiva", que se diferenciam das indústrias de capital ou mão-de-obra intensivas. A IBM, por exemplo, empregava 400 mil pessoas em 1990 mas, desse total, somente 20 mil produziam máquinas. O restante estava envolvido em áreas de desenvolvimento de outros computadores - tanto em hardware como em software - gerenciamento e marketing. Mas a previsão é de que esse novo mercado de trabalho dificilmente absorverá os excluídos, uma vez que os empregos emergentes exigem um alto grau de qualificação profissional. Dessa forma, o desemprego tende a se concentrar nas camadas menos favorecidas, com baixa instrução escolar e pouca qualificação. 
BLOCOS ECONÔMICOS
São associações de países, em geral de uma mesma região geográfica, que estabelecem relações comerciais privilegiadas entre si e atuam e atuam de forma conjunta no mercado internacional. Um dos aspectos mais importantes na formação dos é a redução ou a eliminação das alíquotas de importação, com vistas à criação de zonas de livre comércio. Os blocos aumentam a interdependência das economias dos países membros. Uma crise no México, como a de 1994, afeta os EUA e o Canadá - os outros países-membros do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta). 
O primeiro bloco econômico aparece na Europa, com a criação, em 1957, da Comunidade Econômica Européia (embrião da atual União Européia). Mas a tendência de regionalização da economia só é fortalecida nos anos 90: o desaparecimento dos dois grandes blocos da Guerra Fria, liderados por EUA e URSS, estimula a formação de zonas independentes de livre-comércio, um dos processos de globalização. Atualmente, os mais importantes são: o Acordo de Livre Comércio da Am rica do Norte (Nafta), a União Européias (UE). o Mercado Comum do Sul(Mercosul), a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec) e, em menor grau o Pacto Andino, a Comunidade do Caribe e Mercado Comum (Caricom), a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e a Comunidade da África Meridional para o Desenvolvimento (SADC).
No plano mundial, as relações comerciais são reguladas pela Organização Mundial do Comércio (MC)m que substitui o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), criado em 1947. A organização vem promovendo o aumento no volume de comércio internacional por meio da redução geral de barreiras alfandegárias. Esse movimento, no entanto, é acompanhado pelo fortaleci mentos dos blocos econômicos, que buscam manter maiores privilégios aos países-membros.
PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS
	Blocos Integrantes
	PIB total(milhões de US$)
	População total(milhões de hab.)
	PIB per capita(em US$)
	Data de criação 
	Asean 7 países
	541.075
	429,00
	1.261,25
	1967 
	Apec 17 países e 1 território
	14.119.450
	2.217,00
	6.368,72
	1989 
	Caricom 12 países e 3 territórios
	16.135*
	5,82 
	2.772,34
	1973 
	Mercosul 4 países 
	859.874
	207,70
	4.139,98
	1991 
	Nafta 3 países
	7.568,082
	391,10 
	19.356,76
	1988 
	Pacto Andino 5 países
	197.662
	101,50
	1.947,41
	1969 
	União Européia 15 países
	7.324.381
	372,40
	19.668,05
	1957 
	SADC 11 países
	145.950
	137,20
	1.063,78
	1979 
	CEI 12 países
	550.989
	285,00
	1.933,29 
	1991 
* Excluídas as ilhas Virgens Britânicas e as ilhas Turks e Caicos.
Fontes: Banco Mundial, Fundo das Nações Unidas para a População
2 - O Caso Brasileiro: Da Crise do Desenvolvimentismo à Adoção do Neoliberalismo
Para compreendermos a situação atual de transformação do Brasil em meio ao cenário da globalização, convém retomar o percurso histórico do país, nas últimas três décadas, considerando alguns aspectos dos projetos econômicosadotados no período.
O modelo de desenvolvimento implantado autoritariamente durante a última ditadura militar brasileira apoiava-se no fortalecimento do papel do Estado, no endividamento externo, na substituição das importações, na instalação de multinacionais atendendo demandas do mercado interno e na manutenção de superávits na balança comercial, em que a exportação de produtos agrícolas desempenhou um importante papel. A dívida externa que era de US$ 3 bilhões em 1964, no início da ditadura, passou a US$ 81,5 bilhões ao seu final, em 1985. Em meados da década de 70 este projeto entrou em crise, surgindo novos fatores sociais exigindo, a partir de sua situação imediata, a satisfação de demandas concretas.
Se no período pós-guerra a economia do país registrou um histórico crescimento do Produto Interno Bruto, em média, de 7% ao ano até a década de 80, tendo o PIB por habitante crescido 4 vezes no período, por outro lado, durante a década de 80 o Brasil permaneceu estagnado. Mesmo com tal estagnação ele continuou sendo o país de industrialização mais avançada no continente latino-americano, embora não tivesse um projeto de desenvolvimento coerente com o aproveitamento estratégico de seu potencial geo-econômico.
A década de 80, sob o aspecto do desenvolvimento econômico, ficou conhecida como a década perdida. A estrutura produtiva envelheceu, o fluxo positivo da poupança se inverteu em função da dívida externa que atingia elevados patamares. Naqueles anos a economia brasileira perdeu competitividade e tentou manter posições no comércio exterior valendo-se de recursos como o arrocho salarial e a deterioração do câmbio (desvalorizando a moeda nacional), reduzindo o custo da produção, no primeiro caso, e tornando as mercadorias internacionalmente mais baratas com os dois expedientes, facilitando assim a colocação de produtos brasileiros no mercado externo. O Estado, aos poucos, vai se fragilizando e ficando sem condições de reverter com os expedientes adotados, o quadro de agravamento da situação econômica e social. Neste período verificam-se elevadas taxas inflacionárias e sucessivos planos que tentam contê-las. Tanto a inflação quanto os planos anti-inflacionários, que fracassam um após outro, promovem, em geral, uma concentração de renda ainda maior no Brasil, que se vê às voltas com a hiperinflação no final do anos 80.
Na década de 75 a 85 verificou-se o fortalecimento da sociedade civil em contraposição ao Estado autoritário. Vão emergindo e radicalizando-se movimentos eclesiais que lutam por justiça social, movimentos populares, oposições sindicais combativas, que vão retomando as lutas sindicais e Organizações Não-governamentais, em particular, os centros de defesa dos direitos humanos e organizações voltadas à educação popular. Das questões imediatas e específicas como o custo de vida, a demanda por creches, o arrocho salarial, a situação da educação e outras, estes movimentos vão ganhando uma conotação mais política, surgindo grandes mobilizações nacionais, como as que se articularam em torno da luta pela anistia e da luta pelas eleições diretas para presidente.
Com o desgaste da ditadura, surgem projetos alternativos de desenvolvimento: o neoliberalismo empunhado pelas elites dominantes e o socialismo democrático e ecológico, defendido pelos setores populares.
O governo do presidente José Sarney (1985-1989), caracterizou-se como o início da transição do modelo de desenvolvimento autoritário estatal para o liberal, mas não foi essencialmente nem uma coisa, nem outra. Seu "liberalismo" que atingiu a esfera política e ensaiou os primeiros passos no campo econômico, efetivou-se praticamente como um regime de caráter populista, com forte intervenção estatal. Tanto sob o modelo autoritário que saía de cena, quanto sob o modelo neoliberal que começava a se implantar, cresceu e crescia no país a concentração de renda, a marginalização social e a favelização das cidades - mesmo considerando-se o desenvolvimento econômico da primeira etapa da ditadura, quanto o breve surto econômico provocado pelo Plano Cruzado no Governo Sarney. A inflação de preços subia em níveis alarmantes e seu combate serviu de justificativa para medidas promotoras dos interesses das elites em detrimento da qualidade de vida das camadas populares.
Em 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello, tem-se o fim de um ciclo de confronto entre o projeto neoliberal e o socialismo democrático, sendo vitorioso o projeto neoliberal que propunha o livre mercado e menos Estado. Ainda naquele ano, em Washington, foram sistematizadas as principais propostas do programa neoliberal em um seminário com o título Latin American Adjustment: How Much Has Happened, do qual participaram funcionários do governo dos Estados Unidos e de organismos financeiros internacionais ali instalados: o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. As conclusões desse encontro acadêmico, que não possuía caráter deliberativo, passaram a ser denominadas informalmente por Consenso de Washington(4). Elas ratificaram a proposta neoliberal, que o governo norte-americano vinha defendendo, como condição necessária para que qualquer país pudesse receber cooperação financeira externa bilateral ou multilateral. A partir de então as políticas econômicas brasileiras buscaram ajustar-se a esse modelo, como forma de obter financiamentos internacionais.
Em síntese o programa neoliberal apontava para os seguintes pontos. a) A necessidade das privatizações, deixando o mercado ao livre jogo dos agentes privados, gerando com a venda das empresas recursos que seriam necessários ao equilíbrio das contas governamentais na fase dos ajustes estruturais. b) Uma tributação mínima e regressiva, bem como o aumento da base de tributação e a redução de impostos sobre os agentes econômicos, isto é, os possuidores de grandes fortunas e os pobres pagariam as mesmas taxas de impostos, estendendo a cobrança de impostos a segmentos pobres que antes estavam isentos, ao passo que seria diminuída a cobrança de impostos das empresas. c) Abertura a importações e investimentos estrangeiros, uma vez que o protecionismo de mercado seria ineficiente tanto para captar recursos quanto para satisfazer os interesses do consumidor nacional. O protecionismo inibiria a inserção competitiva do país na economia mundial. O investimento estrangeiro direto complementaria a poupança nacional necessária ao desenvolvimento e traria novas tecnologias, aumentado a competitividade do país. d) Quanto ao regime cambial e política monetária, o Consenso de Washington apontava a necessidade de estimular exportações e inibir importações. Afirmava, contudo, que durante a fase de estabilização econômica era válida a vinculação da moeda nacional a uma "âncora externa", mesmo correndo o risco de uma sobrevalorização monetária. Esta política, que era indicada como exceção, tornou-se posteriormente a praxe de dolarização para a estabilização econômica.
O projeto neoliberal, que saíra vitorioso das urnas brasileiras graças, em grande medida, ao emprego político de técnicas semióticas de produção de subjetividades - operadas em particular pela TV Globo, como veremos na próxima seção - implantou-se no Governo Collor, apresentando-se como um programa de desenvolvimento e modernização e provocando significativas mudanças na economia do país. Tal projeto subordinou o Brasil ao modelo de "modernização conservadora", estabelecido pelas pressões do capital globalizado internacional, e acelerou a abertura da economia do país. Seguindo a linha neoliberal hegemônica, este governo buscou uma posição mais fortalecida de inserção internacional, participando ativamente na constituição do Mercosul, que foi criado pelo Tratado de Assunção em 1991, mas que passou a existir de fato em 1995(5).
O Governo Collor diminuiu a capacidade reguladora do Estado e fez inúmeras concessões ao FMI, Clube de Paris e credores internacionais. Realizando ondas recessivas, visando combater a inflação,colocou em risco a capacidade industrial e produtiva do país. Após dois anos deste governo, o Brasil passou a viver uma das crises mais agudas de sua história.
O processo de impeachment sofrido por Fernando Collor (1992) em razão dos esquemas de corrupção, estabeleceu-se como um momento de crise política conjuntural em que os setores da elite remanejaram suas composições de força para a continuidade do mesmo projeto hegemônico. No Governo Itamar Franco, nada de significativo foi mudado nas políticas que vinham sendo implantadas durante a gestão anterior. O receituário monetarista permaneceu, com taxas de juros elevadas. O combate do déficit público realizou-se às custas da precarização dos serviços prestados pelo Estado - afetando também as áreas da saúde e educação - e com a introdução do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira. Algumas iniciativas voltadas aos aposentados, aos indigentes e à recomposição dos salários, foram mais de caráter administrativo e de gerenciamento, no primeiro caso, e para efeitos de marketing nos dois últimos, uma vez que ações efetivas requeridas pelas demandas reais não foram implementadas(6).
Fernando Henrique Cardoso, que assumiu o Ministério da Fazenda do governo Itamar Franco, adotou as proposições do consenso de Washington, organizando um plano econômico que estabilizou a moeda - com base na adoção da âncora cambial, na elevação das taxas de juros, na introdução de um mecanismo de conversão de preços (a Unidade Real de Valor, URV), na contenção dos salários e no corte dos gastos do governo com políticas públicas. O capital político adquirido com o controle da inflação garantiu a Fernando Enrique sua eleição ao primeiro mandato na presidência nacional (1994-1998), período em que buscou realizar um conjunto de reformas estruturais, entre outras: a Reforma da Previdência, alterando os critérios para aposentadoria por tempo de serviço, diminuindo o gasto com benefícios; a Reforma Tributária e Fiscal, buscando ampliar a arrecadação pelo aumento da base tributária, isto é, do número de pessoas que pagam impostos, bem como, reduzindo o número e o valor de impostos sobre as empresas; a Reforma Econômica, buscando privatizar as empresas e serviços estatais; e a Reforma Política, tanto aprovando a possibilidade de reeleição do presidente, governadores e prefeitos, quanto reduzindo as atribuições do Estado, bem como, visando promover uma reforma eleitoral com a introdução do voto distrital misto, entre outros aspectos.
A sobrevalorização do câmbio fez com que os produtos importados ficassem muito baratos, o que ajudou a pressionar a queda da inflação com o expediente das importações, mas também fez cair as exportações do país tornando a balança comercial deficitária. Um estudo comparativo, considerando vários indexadores no país, destacou que embora o dólar comercial estivesse cotado - em 14 de novembro de 1997 - a R$ 1,1080 para a venda, ele deveria ser reajustado entre R$ 1,24 e R$ 1,66(7). Conforme dados da fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior - FUNCEX, considerando a taxa de câmbio do real frente ao dólar, iene, moedas européias e latino-americanas, em setembro de 1997 o real estaria defasado 17,1% em relação do dólar, considerando-se a defasagem ocorrida desde o início do Plano Real. Contudo, considerando-se os patamares prévios de 1991/92, a defasagem alcançava 22,7%, uma vez que na véspera do real já havia uma defasagem do câmbio - o que possibilitou o jogo de marketing político eleitoral ao fazer um real valer mais que um dólar.
A contenção dos salários, que sofreram perdas quando da conversão à nova moeda, visava também inibir o consumo e evitar a inflação. O poder de compra real dos salários ficou congelado por um ano a partir da conversão do Cruzeiro Real pelo Real em julho de 1994, enquanto a inflação, apenas em julho e agosto daquele ano, somou 12%. Em seu conjunto, o plano econômico provocou perdas ainda maiores. Quando os salários foram convertidos para URV(8) as perdas salariais variam de 26,91% a 47,50% dependendo da categoria profissional e da data base de negociação salarial; os trabalhadores de renda mais baixa, os 25% mais pobres, receberam em março de 1994 um dos salários reais mais baixos dos últimos dez anos, cerca de 54% do salário médio recebido em 1985. De março a junho houve uma inflação em URV de 9% que também não foi incorporada ao salário. O salário mínimo, por sua vez, perdeu 10,8% após a implementação da URV até a virada do Real.(9) A perda salarial fica clara quando comparamos o valor do salário estabilizado em URV com a elevação do preço da cesta básica que custava em dezembro de 1993 o valor de 80,79 URVs, passando a custar 97,33 URVs em abril e chegando a R$ 110,00s em julho. O próprio então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, reconheceu que havia ocorrido perdas salariais e sugeriu a concessão de abono.(10)
A elevação das taxas de juros inibiu o consumo contribuindo com a estabilização dos preços e atraindo capital externo para equilibrar a balança de pagamentos, mas provocou um alto nível de inadimplência, a quebra de muitas pequenas empresas, o aumento do desemprego e uma elevação fabulosa da dívida interna do governo brasileiro. Nos períodos de sobressalto econômico internacionais, os juros foram elevados a patamares ainda mais superiores. Pequenos negociantes passaram, então, a liquidar seus estoques queimando capital de giro para saldar suas dívidas. As mídias, entretanto, mostravam as liquidações como um dos benefícios do plano econômico aos consumidores, pois teria provocado a concorrência entre os comerciantes, melhorando a vida de todos os brasileiros.
Com efeito, o crédito ao consumidor e os saques de poupança foram os principais vetores para o incremento do consumo popular após a estabilização da moeda. Com a elevação dos juros, que ocorreu após a crise do México, elevou-se acentuadamente o nível de inadimplência que cresceu 135% em fevereiro de 1995 em relação a fevereiro de 94, em São Paulo. No ano de 1997, a Associação Comercial de São Paulo, constatou que quase 20% dos consumidores não estavam pagando pontualmente os carnês de crediário e que os cheques sem fundos atingiam 20 milhões de unidades naquele ano, contra 12 milhões em 1996 e 11,6 milhões em 1995. O percentual de cheques sem fundo no primeiro trimestre de 1997, acusou o maior nível já registrado no Brasil. As causas da inadimplência de consumidores finais estavam ligadas, principalmente, ao desemprego, descontrole de gastos, diminuição de renda.
Sofrendo as consequências do não recebimento por vendas já realizadas, os comerciantes também tornaram-se inadimplentes junto a fornecedores e, por fim, teve-se a elevação do desemprego, a quebra de muitas empresas ou sua incorporação por empresas internacionais.
A elevação das taxas de juros ampliou a própria dívida interna do governo, uma parcela da qual se refere à remuneração do capital investido em títulos públicos por especuladores internacionais. Com a alta de juros promovida em março 95, para enfrentar possíveis desdobramentos da crise do México, as taxas dos títulos públicos ultrapassaram aos 50% anuais em valores reais acima da inflação, ao passo que durante a crise dos Tigres Asiáticos as taxas subiram nominalmente de 20,7% para 43,7% ao ano(15) ou 37,5%, em juros reais, não havendo taxas de juros comparáveis a essas em todo o mundo. Um editorial da Folha de São Paulo, em maio de 1995, sobre a taxa de juros praticada no país afirmava o seguinte: "supondo-se que até o final do ano o governo ofereça ao mercado, para continuar com a bomba-relógio no colo, as taxas médias atuais de cerca de 4% ao mês, o dispêndio com juros terá sido de mais de US$ 40 bilhões, ou seja, o suficiente para pagar por mais de dez anos todas as internações hospitalares do INAMPS..." - Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social(16).
Como destacou o economista Paulo Nogueira Batista Jr, considerando-se as taxas de juros de curto prazo fixadas a partir de 31 deoutubro de 1997, enquanto no Brasil têm-se 37,5% ao ano, "nos países do G-7 (EUA, Canadá , Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido) a taxa real média é 2,9 % variando entre o mínimo de 0,5% no Japão e o máximo de 5,4% na Itália. Os juros reais brasileiros são, portanto, 13 vezes maiores do que os juros médios nos principais países desenvolvidos."(17) Por outra parte, se compararmos as taxas reais de juros praticadas no Brasil em relação ao conjunto dos "mercados emergentes", considerando-se os juros básicos de curto prazo, apresentados na tabela 3, perceberemos que somente cinco outros países mantém taxas de juros anuais na casa dos 10% ou acima.
Se a queda da taxa de juros tende a ser - sob a lógica do governo - lenta e gradual, levando a previsões de que estaria em 15% em 2001, conforme Ives Gandra Martins(19), a sua contrapartida está em que a dívida mobiliária do país saltou gigantescamente de R$ 61,8 bi em junho de 1994 para R$ 304,9 bi em julho de 1998, experimentando um ligeiro declínio dois meses depois.
Esta dívida mobiliária do governo federal é, contudo, somente uma parte da dívida pública, tendo crescido também pela absorção de dívidas estaduais, por uma explicitação de dívidas assumidas anteriormente por outros governos e que eram contabilizadas de outro modo, bem como pela acumulação de reservas internacionais. Assim, a queda da dívida verificada entre julho e setembro de 1998 deveu-se à fuga de capitais do país em razão da crise internacional e do temor dos aplicadores que o governo realizasse uma desvalorização cambial. Embora alguns argumentem que a dívida tenha aumentado cinco vezes no Brasil desde de 1994, crescendo R$ 240 milhões por dia(21), outros economistas citando dados do Banco Central, preferem destacar que a dívida líquida total variou "de 31,2% para 38,4% do PIB entre julho de 1994 e agosto de 1998, devendo chegar perto dos 50% do PIB em três anos."(22) Fato é que em 1998 o governo gastou cerca de R$ 70 bilhões em pagamentos de juros da dívida interna, ao passo que todos os recursos destinados ao pagamento de benefícios da previdência social somam R$ 53,8 bilhões(23).
A desconfiança do mercado quanto ao futuro da economia do país, entretanto, fez com que a procura pelos títulos públicos que são indexados à variação do câmbio. Em janeiro de 1997, estes títulos representavam 10,3% do total da dívida, passando a 29,5% em novembro de 1998(24).
O Brasil permanece atado, ainda, a uma outra dívida, a dívida externa que passou a crescer acentuadamente a partir da ditadura militar, quando os acordos e o destino do dinheiro não foram discutidos com o legislativo ou com a sociedade. Uma parcela deste dinheiro financiou obras de infra-estrutura e integração nacional que contribuíram para o desenvolvimento econômico dos anos 70; outra parte foi empregada em despesas militares em geral, na compra de armamentos e desenvolvimento de tecnologia bélica; estima-se que outro montante foi desviado para contas privadas em paraísos fiscais e, por fim, que outras parcelas tenham engordado os cofres de empreiteiras com o superfaturamento de obras faraônicas por elas realizadas naquele período. Com o aumento das taxas internacionais de juros que incidiam sobre esta dívida no fim da década de 60 - que de 4,5% saltaram para 21,5%, tendo em vista combater a inflação nos países ricos - a dívida externa do Brasil elevou-se para valores estratosféricos. Somente de 1975 a 1990 o Brasil pagou US$ 100 bilhões de juros e serviços, mas a dívida que era de US$ 25 bilhões em 75, passou a US$ 115 bilhões em 1989 e a U$ 159 bilhões em 1995. De 1994, quando Fernando Henrique era Ministro da Fazenda, até 1998, quando encerrou seu primeiro mandato presidencial, o país pagou aproximadamente U$ 62 bilhões de dólares em juros e serviços da dívida externa - ver figura 4.
Na última negociação com o FMI o governo assumiu novos compromissos sobre o tema. Conforme o governo, "a dívida externa brasileira não é muito elevada com relação ao PIB (29%) e seu prazo médio de vencimento é relativamente longo. O componente do setor público na dívida externa representa não mais do que um terço do total, e a dívida a curto prazo do setor público é inferior a US$ 6 bilhões. É intenção do governo - segundo ele mesmo - manter o aumento da dívida pública do setor externo dentro de limites prudentes, em torno de US$ 10 bilhões em 1999. É também intenção do governo promover uma prorrogação gradativa do vencimento médio do total da dívida externa, conforme as condições do mercado permitirem."(26)
Considerando o conjunto dos gastos federais em 1995 (R$ 251,5 bilhões) percebe-se que significativa parcela refere-se ao serviço da dívida pública federal interna e externa (R$ 117,6 bilhões) ao passo que a parcela destinada ao gasto social federal foi inferior a esta (R$ 79,0 Bilhões).
Este quadro de sobrevalorização do câmbio, a elevação das taxas de juros, a abertura às importações e a facilitação de movimentos ao capital internacional, somada às inadimplências de consumidores finais e comerciantes e à falta de financiamento à produção interna vem provocando a subordinação do país aos capitais internacionais.
Os investimentos estrangeiros diretos cresceram no país de US$ 2,1 bilhões em 1994 a US$ 23 bilhões em 1998 
Aumentou também a participação do capital estrangeiro no patrimônio líquido das empresas de US$ 65,9 bilhões para US$ 129, 4 bilhões em igual período - como mostra a figura 7. Inúmeras empresas nos setores de indústria, comércio e serviços estão sendo incorporadas por empresas estrangeiras.
Já os investimentos estrangeiros em bolsa e renda fixa também cresceram no período de US$ 25,2 bilhões em 1994 a US$ 38,4 bilhões em 1998, tendo atingido o pico de US$ 53,3 bilhões em 1997 
O movimento de fusões e aquisições de empresas no Brasil tem feito surgir segmentos com alta concentração acima dos padrões de mercado das economias avançadas. Para ter-se uma noção do que isto significa, basta citar que os grupos Cragnotti & Partners e Gessy Lever dominavam, em 1994, 90% de toda a produção de detergentes líquidos no Brasil(31). Um estudo do IPEA constatou uma alta concentração oligopolizada em vários outros setores do mercado no país(32). Utilizou-se, neste estudo, o Índice Herfindhal Hirschman, que é calculado tomando por referência a participação das empresas na receita global do mercado. Conforme este indicador, considera-se desconcentrados os segmentos que atinjam um índice de até 1.000, moderadamente concentrados os que ficam entre 1.000 a 1.800 e, por fim, extremamente concentrados aqueles setores que têm um índice superior a 1.800. 
Sobre dados de 1994, o IPEA constatou que, no Brasil, "no segmento de copiadoras o índice chega a 9.224 (5,2 vezes o que os EUA consideram extremamente concentrado). Nos mercados de computadores, baterias e montadoras de automóveis, o índice ultrapassa 4.000. Nos segmentos de lâmpadas, máquinas de escrever, cobre, higiene e limpeza, aços planos, elevadores, condutores elétricos e aços laminados, o índice é superior a 3.000." Outros setores com índice de concentração superiores ao considerado razoável nos Estados Unidos, são: metalurgia, torneiras/chuveiros/aquecedores, tratores e colheitadeiras, freios e componentes, eletrodomésticos e centrais telefônicas.
Assim, por exemplo, Fiat, Valmet e Maxion respondem por 87% das vendas de equipamentos agrícolas. De outra parte, "a fusão da Brasilit com a Eternit, que constituíram uma nova empresa chamada Eterbrás, fez com que elas concentrassem 68% do mercado interno de caixas d'água e telhas de amianto." Na área química, o estudo do IPEA "cita a fusão da Rhodia com a Cia. Alcooquímica Nacional, através da qual as duas passaram a deter 84,7% da produção de ácido acético." Conforme Lúcia Helena Salgado, economista daquele Instituto, "as fusões e aquisições [no Brasil] têm sido aprovadas sem maior análise econômica, sem apontar benefícios e riscos" - sendo, grande parte delas, aprovada por decurso de prazo(33). A Lei Antitruste,que foi aprovada em junho de 1994, por sua vez, previa punições quando as empresas, que passaram por processos de fusão, não cumprissem determinadas metas que haviam sido estabelecidas.
Este processo de fusões têm reflexo, em certos setores, no aumento de importações. No caso das esponjas de aço, a 3M é, potencialmente, o maior concorrente do grupo Cragnotti & Partners no Brasil, que respondeu por 94% de todas vendas neste segmento em 1994. Com a redução das alíqüotas de importação, a 3M, teria melhores condições para importar o Esponjaço de sua matriz nos Estados Unidos, para concorrer com o Bombril que é da Cragnotti & Partners. Por outra parte, conforme o gerente de marketing da Phillips, Isac Roizenblatt, cerca de 20% das lâmpadas para faróis de automóveis que, em 1994, eram utilizadas no mercado brasileiro, já eram importadas, o que, segundo ele, estaria obrigando os fabricantes no país a investir buscando melhorar a produtividade(34). Contudo, como os grupos fabricantes do país são os mesmos do exterior, uma vez que esse é o segmento mais concentrado do mundo, o resultado dessa "livre-concorrência" com a entrada de produtos externos é a redução da produção interna, com a conseqüente geração de desemprego no país. Se é possível importar lâmpadas de qualquer marca, porque uma empresa multinacional investiria no Brasil para enfrentar a importação de lâmpadas de seu concorrente, se suas próprias lâmpadas - fabricadas em unidades produtivas mais sofisticadas em outras partes do mundo - também poderiam ser importadas por um valor final mais baixo do que o de sua produção no país, resultando-lhe assim um lucro ainda maior do que se as fabricasse no Brasil ?
Assim, as importações continuam superando crescentemente as exportações, com um déficit persistente na balança comercial .
No período de 1994 a 1998 também cresceram as remessas de lucro para o exterior de US$ 2,9 bilhões para US$ 7,1 bilhões . Por fim, as reservas internacionais do país, após crescerem entre 1994 e 1996, vem experimentando uma progressiva regressão, chegando a US$ 41,6 bilhões em outubro de 1998. A submissão aos agentes financiadores externos é cada vez maior. No último acordo com o FMI, para assegurar um empréstimo de US$ 41,5 bilhões ao país, o governo brasileiro assumiu a meta de limitar o déficit nominal das contas públicas nacionais - incluindo os resultados fiscais da União, dos Estados e dos municípios (considerando-se o resultado primário, isto é, as receitas menos as despesas, bem como os desembolsos realizados com o pagamento de juros da dívida interna) - que atualmente giram na casa de 8% do PIB, a um patamar de 4,7% em 1999, a uma cifra um pouco superior a 3% no ano 2000 e de 2% em 2001. 
INCENTIVOS FISCAIS
O Brasil é um país sem grupos empresariais fortes. A intensa desnacionalização que o Plano Real provocou a partir de 1994 refletiu-se na entrada de grandes conglomerados estrangeiros, não só na aquisição de empresas estatais como em determinados segmentos em que o Brasil já era auto-suficiente com a presença de grupos nacionais.
A onda de investidores estrangeiros que ingressaram no país nestes últimos anos veio para a aquisição de empreendimentos já existentes. Como escreve Antônio Ermírio de Moraes na Folha, sem colocar novos tijolos.
Por outro lado, os grupos empresariais estrangeiros principalmente a indústria automobilística que vieram construir novas fábricas ou "colocar novos tijolos" não trouxeram recursos próprios, pois os incentivos fiscais de duvidosa constitucionalidade, concedidos pela maior parte dos Estados, foram os responsáveis por sua vinda. Com créditos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e incentivos fiscais dos contribuintes, eles construíram novas fábricas.
A política neoliberal de FHC tende como meta principal, trazer capital estrangeiro e industrias multinacionais com tecnologia de ponta para instalarem-se aqui no Brasil. Para que isso seja possível, o governo dá vários incentivos fiscais como: isenção do imposto de renda e de outros impostos indiretos, por um período determinado; créditos subsidiados dos bancos públicos de desenvolvimento e importações de bens de capital livre de tarifas aduaneiras ou com tarifas bastante reduzidas, causando dificuldades para que as empresas nacionais consigam competir com as multinacionais, já que essas são protegidas pela política de FHC e as empresas nacionais sofrem todo o tipo de exploração.
É um dado sem nenhuma base sólida que os incentivos fiscais oferecidos por oito Estados alcançam R$ 39 bilhões. De concreto, podemos informar que a União, de 1995 a 1999, concedeu R$ 71,6 bilhões em incentivos e benefícios fiscais sendo R$ 41,2 bilhões para as regiões Sul e Sudeste e apenas R$ 8,6 bilhões para a região Nordeste.
Os ganhos da "guerra" entre os Estados para o país são claros. As empresas e os indivíduos podem optar entre diferentes localidades, cada uma oferecendo um leque diferente de impostos/ serviços públicos. Por exemplo, alguns indivíduos são favoráveis a uma intervenção maior do Estado na economia e preferem pagar mais impostos, exigindo em troca mais serviços públicos. Por outro lado, a descentralização fiscal exerce um importante papel ao restringir o crescimento do setor público, como resultado da competição entre as diversas localidades por empresas e indivíduos qualificados. Estados com impostos elevados, sem a contrapartida de uma melhor qualidade nos serviços, ou se ajustam ou experimentam uma fuga de investimentos e de mão-de-obra especializada.
Os opositores da guerra fiscal argumentam que seu fim "protege os Estados deles mesmos" ao impedir que governadores reduzam os impostos numa corrida desenfreada para atrair novas indústrias. A principal consequência negativa da guerra fiscal é que os impostos estaduais ficam num patamar inferior ao desejado, comprometendo a provisão de bens e serviços públicos. Mesmo que o governo federal não corrigisse essa eventual distorção com as transferências constitucionais, com regras claras e bem definidas, as vantagens da guerra fiscal mencionadas acima mais que compensam o efeito negativo.
Entretanto essa competição saudável entre os Estados não deve existir ou ser incentivada dentro do atual regime de pronto-socorro federal. Primeiro porque ela pode acarretar um desequilíbrio fiscal consolidado das diversas esferas de governo, com consequências perversas bastante conhecidas. Segundo porque enormes recursos são "desperdiçados" pelos Estados para conseguirem aumentar a sua parcela no total dos recursos transferidos da União e assim compensar a perda de arrecadação com os incentivos fiscais oferecidos para a implementação de novas empresas na sua região, por exemplo. Fica fácil conceder incentivos quando é possível obter recursos de outras fontes. Talvez isso explique o apoio à guerra fiscal pelos seus atuais praticantes.
A seguir apresentaremos algumas empresas que por causa de incentivos fiscais se instalaram em determinados estados do país e trataremos também de sua importância para a região:
Brasil 'vende' subsídio 
O governo brasileiro faz propaganda de incentivos fiscais e dos empréstimos subsidiados do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para atrair investimentos de empresários argentinos.
A Folha obteve cópia do Guia de Investidores Estrangeiros no Brasil, distribuído pela Embaixada do Brasil em Buenos Aires a empresários argentinos, que traz uma vasta relação de incentivos concedidos pelo governo para a instalação de indústrias.
Na última quarta-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse, em entrevista à rádio uruguaia El Espectador, que o Brasil não tem interesse em atrair empresas argentinas.
"Não nos interessa que a Argentina se desindustrialize. Não podemos confundir a estratégia de algumas multinacionais com a do governo brasileiro", afirmou FHC.
A União Industrial Argentina afirma que há 28 grandes empresas daquele país em processo de transferência para o Brasil. Dessas,23 seriam multinacionais.
O chefe do setor comercial da Embaixada, Roberto Ardenghy, afirma que não há contradição entre a fala do presidente e o documento, porque o objetivo do guia não é a transferência das empresas para o Brasil, "mas permitir que elas tenham um braço no Mercosul". De acordo com ele, o guia apenas difunde informações públicas.
Segundo a cartilha distribuída pela Embaixada Brasileira, incentivos incluem "isenção de Imposto de Renda e de outros impostos indiretos, por um período determinado, créditos subsidiados dos bancos públicos de desenvolvimento e importação de bens de capital livres de tarifas aduaneiras ou com tarifas bastante reduzidas".
Ardenghy afirma que a fonte das informações sobre os benefícios fiscais concedidos pelo governo brasileiro é o escritório de advocacia Pinheiro Neto, que tem um documento sobre o assunto na página do Ministério das Relações Exteriores na Internet.
Questionado sobre qual banco público de desenvolvimento daria "créditos subsidiados", o chefe do setor comercial disse que "o BNDES tem créditos facilitados".
O superintendente da área financeira do BNDES, Gil Bernardo, nega que haja subsídio nos empréstimos concedidos pelo banco: "Sobre o custo de captação, o banco agrega um 'spread' básico e um 'spread' de risco", afirma.
O advogado tributarista Ives Gandra Martins afirma que incentivos anunciados pelo documento são verdadeiros, mas que "não refletem toda a verdade".
Segundo ele, muitos dos benefícios, como a isenção de Imposto de Renda, só são concedidos em casos muito específicos. Para ele, a informação mais importante é que o Brasil tem uma carga tributária 60% maior que a da Argentina. "Mesmo com essas facilidades, a carga ainda é maior.

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