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1 Compreensão, Interpretação de Textos TEXTO – é um conjunto de idéias organizadas e relacionadas entre si, formando um todo significa- tivo capaz de produzir INTERAÇÃO COMUNICA- TIVA (capacidade de CODIFICAR E DECODIFI- CAR). CONTEXTO – um texto é constituído por diversas frases. Em cada uma delas, há uma certa infor- mação que a faz ligar-se com a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interligação dá-se o nome de CONTEX- TO. Nota-se que o relacionamento entre as frases é tão grande, que, se uma frase for retirada de seu contexto original e analisada separadamente, poderá ter um significado diferente daquele inicial. INTERTEXTO - comumente, os textos apresen- tam referências diretas ou indiretas a outros auto- res através de citações. Esse tipo de recurso denomina-se INTERTEXTO. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - o primeiro obje- tivo de uma interpretação de um texto é a identifi- cação de sua idéia principal. A partir daí, locali- zam-se as idéias secundárias, ou fundamenta- ções, as argumentações, ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões apresen- tadas na prova. Normalmente, numa prova, o candidato é convi- dado a: 1. IDENTIFICAR – é reconhecer os elementos fundamentais de uma argumentação, de um pro- cesso, de uma época (neste caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o tempo). 2. COMPARAR – é descobrir as relações de se- melhança ou de diferenças entre as situações do texto. 3. COMENTAR - é relacionar o conteúdo apre- sentado com uma realidade, opinando a respei- to. 4. RESUMIR – é concentrar as idéias centrais e/ou secundárias em um só parágrafo. 5. PARAFRASEAR – é reescrever o texto com outras palavras. EXEMPLO TÍTULO DO TEXTO PARÁFRASES "O HOMEM UNIDO‖ A INTEGRAÇÃO DO MUN- DO A INTEGRAÇÃO DA HUMA- NIDADE A UNIÃO DO HOMEM HOMEM + HOMEM = MUN- DO A MACACADA SE UNIU (SÁTIRA) CONDIÇÕES BÁSICAS PARA INTERPRETAR Fazem-se necessários: a) Conhecimento Histórico – literário (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), leitura e prática; b) Conhecimento gramatical, estilístico (qualida- des do texto) e semântico; OBSERVAÇÃO – na semântica (significado das palavras) incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conotação, sinonímia e antonimia, polissemia, figuras de linguagem, entre outros. c) Capacidade de observação e de síntese e d) Capacidade de raciocínio. INTERPRETAR x COMPREENDER INTERPRETAR SIGNIFICA COMPREENDER SIG- NIFICA - EXPLICAR, CO- MENTAR, JULGAR, TIRAR CONCLU- SÕES, DEDUZIR. - TIPOS DE ENUN- CIADOS • Através do texto, INFERE-SE que... • É possível DEDU- ZIR que... • O autor permite CONCLUIR que... • Qual é a INTEN- ÇÃO do autor ao afirmar que... - INTELECÇÃO, EN- TENDIMENTO, ATEN- ÇÃO AO QUE REAL- MENTE ESTÁ ESCRI- TO. - TIPOS DE ENUNCIA- DOS: • O texto DIZ que... • É SUGERIDO pelo autor que... • De acordo com o texto, é CORRETA ou ERRA- DA a afirmação... • O narrador AFIRMA... ERROS DE INTERPRETAÇÃO 2 É muito comum, mais do que se imagina, a ocor- rência de erros de interpretação. Os mais fre- qüentes são: a) Extrapolação (viagem) Ocorre quando se sai do contexto, acrescentado idéias que não estão no texto, quer por conheci- mento prévio do tema quer pela imaginação. b) Redução É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção ape- nas a um aspecto, esquecendo que um texto é um conjunto de idéias, o que pode ser insuficiente para o total do entendimento do tema desenvolvi- do. c) Contradição Não raro, o texto apresenta idéias contrárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo- cadas e, conseqüentemente, errando a questão. OBSERVAÇÃO - Muitos pensam que há a ótica do escritor e a ótica do leitor. Pode ser que exis- tam, mas numa prova de concurso qualquer, o que deve ser levado em consideração é o que o AUTOR DIZ e nada mais. COESÃO - é o emprego de mecanismo de sinta- xe que relacionam palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um pronome oblí- quo átono, há uma relação correta entre o que se vai dizer e o que já foi dito. OBSERVAÇÃO – São muitos os erros de coesão no dia-a-dia e, entre eles, está o mau uso do pro- nome relativo e do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do verbo; aquele do seu antecedente. Não se pode esquecer também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor semântico, por isso a necessidade de adequação ao antecedente. Os pronomes relativos são muito importantes na interpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de coesão. Assim sedo, deve-se levar em consideração que existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, a saber: QUE (NEUTRO) - RELACIONA-SE COM QUAL- QUER ANTECEDENTE. MAS DEPENDE DAS CONDIÇÕES DA FRASE. QUAL (NEUTRO) IDEM AO ANTERIOR. QUEM (PESSOA) CUJO (POSSE) - ANTES DELE, APARECE O POSSUIDOR E DEPOIS, O OBJETO POSSUÍ- DO. COMO (MODO) ONDE (LUGAR) QUANDO (TEMPO) QUANTO (MONTANTE) EXEMPLO: Falou tudo QUANTO queria (correto) Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria aparecer o demonstrativo O ). • VÍCIOS DE LINGUAGEM – há os vícios de lin- guagem clássicos (BARBARISMO, SOLECIS- MO,CACOFONIA...); no dia-a-dia, porém , exis- tem expressões que são mal empregadas, e, por força desse hábito cometem-se erros graves co- mo: - ― Ele correu risco de vida ―, quando a verdade o risco era de morte. - ― Senhor professor, eu lhe vi ontem ―. Neste caso, o pronome correto oblíquo átono correto é O. - ‖No bar: ―ME VÊ um café‖. Além do erro de po- sição do pronome, há o mau uso. Estruturação do Parágrafo Familiarizados com o tema a ser desenvolvido, elencadas todas as ideias a serem discorridas... finalmente estamos aptos a começarmos nossa produção. Mas ainda resta outro detalhe de ex- trema relevância – a eficácia do texto dependerá da forma pela qual estas ideias se apresentarão mediante o transcorrer do discurso. Partindo deste pressuposto, temos a noção de quão importante é a estruturação dos parágrafos, que permitem que o pensamento seja distribuído de forma lógica e precisa, com vistas a permitir uma efetiva interação entre os interlocutores. Obviamente que outros fatores relacionados à competência linguística do emissor participam deste processo, entre estes: pontuação adequa- da, utilização correta dos elementos coesivos, de modo a estabelecer uma relação harmônica entre uma ideia e outra, dentre outros. Esteticamente, o parágrafo se caracteriza como um sutil recuo em relação à margem esquerda da folha, atribuído por um conjunto de períodos que representam uma ideia central em consonância 3 com outras secundárias, resultando num efetivo entrelaçamento e formando um todo coeso. Quanto à extensão, é bom que se diga que não se trata de uma receita pronta e acabada, visto que a habilidade do emissor determinará o mo- mento de realizar a transição entre um posicio- namento e outro, permitindo que o discurso seja compreendido em sua totalidade. Em se tratando de textos dissertativos, normal- mente os parágrafos costumam ser assim distri- buídos: * Introdução – também denominada de tópico frasal, constitui-se pela apresentação da ideia principal, feita de maneira sintética e definida pelos objetivos aos quais o emissor se propõe. * Desenvolvimento – fundamenta-se na amplia- ção do tópico frasal, atribuído pelas ideias secun- dárias, reconhecidas na exposição dos argumen- tos com vistas areforçar e conferir credibilidade ora em discussão. * Conclusão – caracteriza-se pela retomada da ideia central associando-a aos pressupostos mencionados no desenvolvimento, procurando arrematá-los de forma plausível. Pode, na maioria das vezes, constar-se de uma solução por parte do emissor no que se refere ao instaurar dos fa- tos. Quanto aos textos narrativos, os parágrafos cos- tumam ser caracterizados pelo predomínio dos verbos de ação, retratando o posicionamento dos personagens mediante o desenrolar do enredo, bem como pela indicação de elementos circuns- tanciais referentes à trama: quando, por que e com que ocorreram os fatos. Nesta modalidade, a ocorrência dos parágrafos também se atribui à transcrição do discurso dire- to, em especial às falas dos personagens. Referindo-se aos textos descritivos, sua utilização está relacionada pela minuciosa exposição dos detalhes acerca do objeto descrito, representado por uma pessoa, objeto, animal, lugar, uma obra de arte, dentre outros, de modo a permitir que o leitor crie o cenário em sua mente. Colaborando na concretização destes propósitos, sobretudo pela finalidade discursiva – visando à caracterização de algo –, há o predomínio de verbos de ligação, bem como do uso de adjetivos e de orações coordenadas ou justapostas. Tipologia Textual 1. Narração Modalidade em que se conta um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há uma relação de anteri- oridade e posterioridade. O tempo verbal predo- minante é o passado. Estamos cercados de nar- rações desde as que nos contam histórias infantis até às piadas do cotidiano. É o tipo predominante nos gêneros: conto, fábula, crônica, romance, novela, depoimento, piada, relato, etc. 2. Descrição Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produ- ção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. Significa "criar" com palavras a imagem do objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se Pega. É um tipo textual que se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gêneros textuais. Tem predominância em gêneros como: cardápio, folhe- to turístico, anúncio classificado, etc. 3. Dissertação Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Dependendo do objetivo do autor, pode ter caráter expositivo ou argumentativo. 3.1 Dissertação-Exposição Apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Apresenta informações so- bre assuntos, expõe, reflete, explica e avalia idéi- as de modo objetivo. O texto expositivo apenas expõe ideias sobre um determinado assunto. A intenção é informar, esclarecer. Ex: aula, resu- mo, textos científicos, enciclopédia, textos exposi- tivos de revistas e jornais, etc. 3.1 Dissertação-Argumentação Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou um ponto de vista do autor. O texto, além de explicar, também persuade o interlocutor, objetivando convencê-lo de algo. Caracteriza-se pela progressão lógica de ideias. Geralmente utiliza linguagem denotativa. É tipo predominante em: sermão, ensaio, monografia, dissertação, tese, ensaio, manifesto, crítica, editorial de jornais e revistas. 4. Injunção/Instrucional Indica como realizar uma ação. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maiori- 4 a, empregados no modo imperativo, porém nota- se também o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do modo indicativo. Ex: ordens; pedidos; súplica; desejo; manuais e instruções para mon- tagem ou uso de aparelhos e instrumentos; textos com regras de comportamento; textos de orienta- ção (ex: recomendações de trânsito); receitas, cartões com votos e desejos (de natal, aniversá- rio, etc.). OBS: Os tipos listados acima são um consenso entre os gramáticos. Muitos consideram também que o tipo Predição possui características sufici- entes para ser definido como tipo textual, e al- guns outros possuem o mesmo entendimento para o tipo Dialogal. 5. Predição Caracterizado por predizer algo ou levar o interlo- cutor a crer em alguma coisa, a qual ainda está por ocorrer. É o tipo predominante nos gêneros: previsões astrológicas, previsões meteorológicas, previsões escatológicas/apocalípticas. 6. Dialogal / Conversacional Caracteriza-se pelo diálogo entre os interlocuto- res. É o tipo predominante nos gêneros: entrevis- ta, conversa telefônica, chat, etc. Gêneros textuais Os Gêneros textuais são as estruturas com que se compõem os textos, sejam eles orais ou escri- tos. Essas estruturas são socialmente reconheci- das, pois se mantêm sempre muito parecidas, com características comuns, procuram atingir intenções comunicativas semelhantes e ocorrem em situações específicas. Pode-se dizer que se tratam das variadas formas de linguagem que circulam em nossa sociedade, sejam eles formais ou informais. Cada gênero textual tem seu estilo próprio, podendo então, ser identificado e diferenciado dos demais através de suas características. Exemplos: Carta: quando se trata de "carta aberta" ou "carta ao leitor", tende a ser do tipo dissertativo- argumentativo com uma linguagem formal, em que se escreve à sociedade ou a leitores. Quando se trata de "carta pessoal", a presença de aspec- tosnarrativos ou descritivos e uma linguagem pessoal é mais comum. Propaganda: é um gênero textual dissertativo- expositivo onde há a o intuito de propagar infor- mações sobre algo, buscando sempre atingir e influenciar o leitor apresentando, na maioria das vezes, mensagens que despertam as emoções e a sensibilidade do mesmo. Bula de remédio: é um gênero textual descritivo, dissertativo-expositivo e injuntivo que tem por obrigação fornecer as informações necessárias para o correto uso do medicamento. Receita: é um gênero textual descritivo e injuntivo que tem por objetivo informar a fórmula para pre- parar tal comida, descrevendo os ingredientes e o preparo destes, além disso, com verbos no impe- rativo, dado o sentido de ordem, para que o leitor siga corretamente as instruções. Tutorial: é um gênero injuntivo que consiste num guia que tem por finalidade explicar ao leitor, pas- so a passo e de maneira simplificada, como fazer algo. Editorial: é um gênero textual dissertativo- argumentativo que expressa o posicionamento da empresa sobre determinado assunto, sem a obri- gação da presença da objetividade. Notícia: podemos perfeitamente identificar carac- terísticas narrativas, o fato ocorrido que se deu em um determinado momento e em um determi- nado lugar, envolvendo determinadas persona- gens. Características do lugar, bem como dos personagens envolvidos são, muitas vezes, minu- ciosamente descritos. Reportagem: é um gênero textual jornalístico de caráter dissertativo-expositivo. A reportagem tem, por objetivo, informar e levar os fatos ao leitor de uma maneira clara, com linguagem direta. Entrevista: é um gênero textual fundamentalmen- te dialogal, representado pela conversação de duas ou mais pessoas, o entrevistador e o(s) entrevistado(s), para obter informações sobre ou do entrevistado, ou de algum outro assunto. Geralmente envolve também aspectos dissertati- vo-expositivos, especialmente quando se trata de entrevista a imprensa ou entrevista jornalística. Mas pode também envolver aspectosnarrativos, como na entrevista de emprego, ou aspec- tos descritivos, como na entrevista médica. História em quadrinhos:é um gênero narrativo que consiste em enredos contados em pequenos quadros através de diálogos diretos entre seus personagens, gerando uma espécie de conversa- ção. Charge: é um gênero textual narrativo onde se faz uma espécie de ilustração cômica, através de caricaturas, com o objetivo de realizar uma sátira, crítica ou comentário sobre algum acontecimento atual, em sua grande maioria. 5 Poema: trabalho elaborado e estruturado em versos. Além dos versos, pode ser estruturado em estrofes. Rimas e métrica também podem fazer parte de sua composição. Pode ou não ser poético. Dependendo de sua estrutura, pode re- ceber classificações específicas, como haicai, soneto, epopeia, poema figurado, dramático, etc. Em geral, a presença de aspectos narrativos e descritivos são mais frequentes neste gênero. Poesia: é o conteúdo capaz de transmitir emo- ções por meio de uma linguagem , ou seja, tudo o que toca e comove pode ser considerado como poético (até mesmo uma peça ou um filme podem ser assim considerados). Um subgênero é a pro- sa poética, marcada pela tipologia dialogal. Gênero Narrativo: Na Antiguidade Clássica, os padrões literários reconhecidos eram apenas o épico, o lírico e o dramático. Com o passar dos anos, o gênero épico passou a ser considerado apenas uma va- riante do gênero literário narrativo, devido ao sur- gimento de concepções de prosa com caracterís- ticas diferentes: o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula. Porém, praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilísticos em comum e devem responder a questionamentos, como: quem? o que? quando? onde? por quê? Vejamos a seguir: Épico (ou Epopeia): os textos épicos são geral- mente longos e narram histórias de um povo ou de uma nação, envolvem aventuras, guerras, viagens, gestos heroicos, etc. Normalmente apre- sentam um tom de exaltação, isto é, de valoriza- ção de seus heróis e seus feitos. Dois exemplos são Os Lusíadas, de Luís de Camões, e Odisséia, de Homero. Romance: é um texto completo, com tempo, es- paço e personagens bem definidos e de caráter mais verossímil. Também conta as façanhas de um herói, mas principalmente uma história de amor vivida por ele e uma mulher, muitas vezes, ―proibida‖ para ele. Apesar dos obstáculos que o separam, o casal vive sua paixão proibida, física, adúltera, pecami- nosa e, por isso, costuma ser punido no final. É o tipo de narrativa mais comum na Idade Média. Ex: Tristão e Isolda. Novela: é um texto caracterizado por ser inter- mediário entre a longevidade do romance e a brevidade do conto. Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras O Alienista, de Ma- chado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka. Conto: é um texto narrativo breve, e de ficção, geralmente em prosa, que conta situações rotinei- ras, anedotas e até folclores. Inicialmente, fazia parte da literatura oral. Boccacio foi o primeiro a reproduzi-lo de forma escrita com a publicação de Decamerão. Diversos tipos do gênero textual conto surgiram na tipologia textual narrativa: con- to de fadas, que envolve personagens do mundo da fantasia; contos de aventura, que envolvem personagens em um contexto mais próximo da realidade; contos folclóricos (conto popular); con- tos de terror ou assombração, que se desenrolam em um contexto sombrio e objetivam causar me- do no expectador; contos de mistério, que envol- vem o suspense e a solução de um mistério. Fábula: é um texto de caráter fantástico que bus- ca ser inverossímil. As personagens principais são não humanos e a finalidade é transmitir al- guma lição de moral. Crônica: é uma narrativa informal, breve, ligada à vida cotidiana, com linguagem coloquial. Pode ter um tom humorístico ou um toque de crítica indireta, especialmente, quando aparece em se- ção ou artigo de jornal, revistas e programas da TV.. Crônica narrativo-descritiva: Apresenta alter- nância entre os momentos narrativos e manifes- tos descritivos. Ensaio: é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema. É menos formal e mais flexível que o trata- do. Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (huma- nístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, etc.), sem que se paute em for- malidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico. Exem- plo: Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago e Ensaio sobre a tolerância, de John Locke. Gênero Dramático: Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, não há um narrador contando a história. Ela ―a- contece‖ no palco, ou seja, é representada por atores, que assumem os papéis das personagens nas cenas. Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristó- teles afirmava que a tragédia era "uma represen- tação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror". Ex: Romeu e Julieta, de Shakespeare. 6 Farsa: é uma pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que critica a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino ridendo castigat mores (rindo, castigam-se os costumes). A farsa consiste no exagero do cômico, graças ao emprego de processos grosseiros, como o absur- do, as incongruências, os equívocos, os enganos, a caricatura, o humor primário, as situações ridí- culas. Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil. Sua origem grega está ligada às festas populares. Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário. Poesia de cordel: texto tipicamente brasileiro em que se retrata, com forte apelo linguístico e cultu- ral nordestinos, fatos diversos da sociedade e da realidade vivida por este povo. Gênero Lírico: É certo tipo de texto no qual um eu lírico (a voz que fala no poema e que nem sempre correspon- de à do autor) exprime suas emoções, ideias e impressões em face do mundo exterior. Normal- mente os pronomes e os verbos estão em 1ª pes- soa e há o predomínio da função emotiva da lin- guagem. Elegia: é um texto de exaltação à morte de al- guém, sendo que a morte é elevada como o pon- to máximo do texto. O emissor expressa tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. É um poema melancólico. Um bom exemplo é a peça Roan e yufa, de william shakespeare. Epitalâmia: é um texto relativo às noites nupci- ais líricas, ou seja, noites românticas com poe- mas e cantigas. Um bom exemplo de epitalâmia é a peça Romeu e Julieta nas noites nupciais. Ode (ou hino): é o poema lírico em que o emis- sor faz uma homenagem à pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à mulher amada, ou a alguém ou algo importante para ele. O hino é uma ode com acompanhamento musical; Idílio (ou écloga): é o poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à natureza, às belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o poema bucólico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de tais belezas e riquezas ao lado da amada (pastora), que enriquece ainda mais a paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio com diálogos (muito rara); Sátira: é o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém ou a algo, em tom sério ou irônico. Acalanto: ou canção de ninar; Acróstico: (akros = extremidade; stikos = linha), composição lírica na qual as letras iniciais de cada verso formam uma palavra ou frase; Balada: uma das mais primitivas manifestações poéticas, são cantigas de amigo (elegias)com ritmo característico e refrão vocal que se desti- nam à dança; Canção (ou Cantiga, Trova): poema oral com acompanhamento musical; Gazal (ou Gazel): poesia amorosa dos persas e árabes; odes do oriente médio; Haicai: expressão japonesa que significa ―versos cômicos‖ (=sátira). E o poema japonês formado de três versos que somam 17 sílabas assim dis- tribuídas: 1° verso= 5 sílabas; 2° verso = 7 síla- bas; 3° verso 5 sílabas; Soneto: é um texto em poesia com 14 versos, dividido em dois quartetos e dois tercetos, com rima geralmente em a-ba-b a-b-b-a c-d-c d-c-d. Vilancete: são as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de escárnio e de maldizer); satíri- cas, portanto. Informações Implícitas Muitas pessoas se perguntam como melhorar sua capacidade de interpretação dos textos. Primei- ramente, é preciso ter em mente que um texto é formado por informações explícitas e implícitas. As informações explícitas são aquelas manifesta- das pelo autor no próprio texto. As informações implícitas não são manifestadas pelo autor no texto, mas podem ser subentendi- das. Muitas vezes, para efetuarmos uma leitura eficiente, é preciso ir além do que foi dito, ou seja, ler nas entrelinhas. Por exemplo, observe este enunciado: Patrícia parou de tomar refrigerante. A informação explícita é ―Patrícia parou de tomar refrigerante‖. A informação implícita é ―Patrícia tomava refrigerante antes‖.Agora, veja este outro exemplo: Felizmente, Patrícia parou de tomar refrigerante. A informação explícita é ―Patrícia parou de tomar refrigerante‖. A palavra ―felizmente‖ indica que o falante tem uma opinião positiva sobre o fato – essa é a informação implícita. 7 Com esses exemplos, mostramos como podemos inferir informações a partir de um texto. Fazer uma inferência significa concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida. Nos vestibulares, fazer inferências é uma habilidade fundamental para a interpretação adequada dos textos e dos enunciados. A seguir, veremos dois tipos de informações que podem ser inferidas: as pressupostas e as suben- tendidas. Pressupostos Uma informação é considerada pressuposta quando um enunciado depende dela para fazer sentido. Considere, por exemplo, a seguinte pergunta: ―Quando Patrícia voltará para casa?‖. Esse enun- ciado só faz sentido se considerarmos que Patrí- cia saiu de casa, ao menos temporariamente – essa é a informação pressuposta. Caso Patrícia se encontre em casa, o pressuposto não é válido, o que torna o enunciado sem sentido. Repare que as informações pressupostas estão marcadas através de palavras e expressões pre- sentes no próprio enunciado e resultam de um raciocínio lógico. Portanto, no enunciado ―Patrícia ainda não voltou para casa‖, a palavra ―ainda‖ indica que a volta de Patrícia para casa é dada como certa pelo falan- te. Subtendidos Ao contrário das informações pressupostas, as informações subentendidas não são marcadas no próprio enunciado, são apenas sugeridas, ou seja, podem ser entendidas como insinuações. O uso de subentendidos faz com que o enuncia- dor se esconda atrás de uma afirmação, pois não quer se comprometer com ela. Por isso, dizemos que os subentendidos são de responsabilidade do receptor, enquanto os pres- supostos são partilhados por enunciadores e re- ceptores. Em nosso cotidiano, somos cercados por infor- mações subentendidas. A publicidade, por exem- plo, parte de hábitos e pensamentos da socieda- de para criar subentendidos. Já a anedota é um gênero textual cuja interpretação depende a que- bra de subentendidos. Quanto à significação, as palavras são divididas nas seguintes categorias: Sinônimos As palavras que possuem significados próximos são chamadas sinônimos. Exemplos: Casa - Lar - Moradia – Residência Longe – Distante Delicioso – Saboroso Carro - Automóvel Observe que o sentido dessas palavras são próximos, mas não são exatamente equiva- lentes. Dificilmente encontraremos um sinônimo perfeito, uma palavra que signifique exatamente a mesma coisa que outra. Há uma pequena diferença de significado entre palavras sinônimas. Veja que, embora ca- sa e lar sejam sinônimos, ficaria estranho se fa- lássemos a seguinte frase: Comprei um novo lar. Obs: o uso de palavras sinônimas pode ser de grande utilidade nos processos de retomada de elementos que inter-relacionam as partes dos textos. Antônimos São palavras que possuem significados opostos, contrários. Exemplos: Mal / Bem Ausência / Presença Fraco / Forte Claro / Escuro Subir / Descer Cheio / Vazio Possível / Impossível Polissemia Polissemia é a propriedade que uma mesma pa- lavra tem de apresentar mais de um significado nos múltiplos contextos em que aparece. Veja alguns exemplos de palavras polissêmicas: 8 Cabo (posto militar, acidente geográfico, cabo da vassoura, da faca) Banco (instituição comercial financeira, assento) Manga (parte da roupa, fruta) Coerência e Articulação no Texto Na construção de um texto, assim como na fala, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão do que é dito, ou lido. Esses mecanismos linguísticos que estabelecem a conectividade e retomada do que foi escrito ou dito, são os referentes textuais e buscam garantir a coesão textual para que haja coerência, não só entre os elementos que compõem a oração, como também entre a sequência de orações dentro do texto. Essa coesão também pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado em conhecimentos anteriores que os participantes do processo têm com o tema. Por exemplo, o uso de uma determi- nada sigla, que para o público a quem se dirige deveria ser de conhecimento geral, evita que se lance mão de repetições inúteis. Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha imaginária - composta de termos e expressões - que une os diversos elementos do texto e busca estabelecer relações de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de diferentes pro- cedimentos, sejam lexicais (repetição, substitui- ção, associação), sejam gramaticais (emprego de pronomes, conjunções, numerais, elipses), cons- troem-se frases, orações, períodos, que irão a- presentar o contexto – decorre daí a coerência textual. Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoerência é resultado do mau uso daque- les elementos de coesão textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais prejudica o entendimento do texto. Cons- truído com os elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal. Nas palavras do mestre Evanildo Bechara (1), ―o enunciado não se constrói com um amontoado de palavras e orações. Elas se organizam segun- do princípios gerais de dependência e indepen- dência sintática e semântica, recobertos por uni- dades melódicas e rítmicas que sedimentam es- tes princípios‖. Desta lição, extrai-se que não se deve escrever frases ou textos desconexos – é imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que essas frases estejam coesas e coerentes formando o texto. Além disso, relembre-se que, por coesão, enten- de-se ligação, relação, nexo entre os elementos que compõem a estrutura textual. Há diversas formas de se garantir a coesão entre os elementos de uma frase ou de um texto: 1. Substituição de palavras com o emprego de sinônimos, ou de palavras ou expressões do mesmo campo associativo. 2. Nominalização – emprego alternativo entre um verbo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (desgastar / desgaste / desgastante). 3. Repetição na ligação semântica dos termos,empregada como recurso estilístico de intenção articulatória, e não uma redundância - resultado da pobreza de vocabulário. Por exemplo, ―Gran- de no pensamento, grande na ação, grande na glória, grande no infortúnio, ele morreu desco- nhecido e só.‖ (Rocha Lima) 4. Uso de hipônimos – relação que se estabelece com base na maior especificidade do significado de um deles. Por exemplo, mesa (mais específi- co) e móvel (mais genérico). 5. Emprego de hiperônimos - relações de um termo de sentido mais amplo com outros de sen- tido mais específico. Por exemplo, felino está numa relação de hiperonímia com gato. 6. Substitutos universais, como os verbos vicários (ex.: Necessito viajar, porém só o farei no ano vindouro) A coesão apoiada na gramática dá-se no uso de conectivos, como certos pronomes, certos advérbios e expressões adverbiais, con- junções, elipses, entre outros. A elipse se justifica quando, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida é facilmente identificável (Ex.: O jovem recolheu-se cedo. ... Sabia que ia necessitar de todas as suas forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a relação entre as duas orações.). Dêiticos são elementos lingüísticos que têm a propriedade de fazer referência ao contexto situa- cional ou ao próprio discurso. Exercem, por exce- lência, essa função de progressão textual, dada sua característica: são elementos que não signifi- cam, apenas indicam, remetem aos componentes da situação comunicativa. 9 Já os componentes concentram em si a significa- ção. Elisa Guimarães (2) nos ensina a esse res- peito: ―Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, certas locuções pre- positivas e adverbiais, bem como os advérbios de tempo, referenciam o momento da enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo ano, depois de (futu- ro).‖ Esse conceito será de grande valia quando tra- tarmos do uso dos pronomes demonstrati- vos.Somente a coesão, contudo, não é suficiente para que haja sentido no texto, esse é o papel da coerência, e coerência se relaciona intimamente a contexto. Como nosso intuito nesta página é a apresenta- ção de conceitos, sem aprofundá-los em demasi- a, bastam-nos essas informações. Vejamos como o examinador tem abordado o assunto: Assinale a opção em que a estrutura sugerida para preenchimento da lacuna correspondente provoca defeito de coesão e incoerência nos sen- tidos do texto. A violência no País há muito ultrapassou todos os limites. ___1___ dados recentes mostram o Brasil como um dos países mais violentos do mundo, levando-se em conta o risco de morte por homicí- dio. Em 1980, tínhamos uma média de, aproximada- mente, doze homicídios por cem mil habitantes. ___2___, nas duas décadas seguintes, o grau de violência intencional aumentou, chegando a mais do que o dobro do índice verificado em 1980 – 121,6% –, ___3___, ao final dos anos 90 foi supe- rado o patamar de 25 homicídios por cem mil habitantes. ___4___, o PIB por pessoa em idade de trabalho decresceu 26,4%, isto é, em média, a cada queda de 1% do PIB a violência crescia mais do que 5% entre os anos 1980 e 1990. Estudos do Banco Interamericano de Desenvol- vimento mostram que os custos da violência con- sumiram, apenas no setor saúde, 1,9% do PIB entre 1996 e 1997. ___5___ a vitimização letal se distribui de forma desigual: são, sobretudo, os jovens pobres e negros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, que têm pago com a própria vida o preço da escalada da violência no Brasil. a) 1 – Tanto é assim que b) 2 – Lamentavelmente c) 3 – Ou seja d) 4 – Simultaneamente e) 5 – Se bem que COMENTÁRIO: As lacunas no texto ocultam pa- lavras e expressões que atuam como conectores – ligam orações estabelecendo relações semânti- cas entre os períodos. A banca sugere algumas opções de preenchimento. Dessas, a única que não atende ao solicitado é a de número 5, uma vez que a expressão ―Se bem que‖ deveria introduzir uma oração de valor con- cessivo, estabelecendo, assim, idéia contrária à que foi apresentada até então pelo texto. Verifica-se, contudo, que o que se segue ratifica as informações anteriores ao fornecer dados complementares às estatísticas sobre homicídios. Sendo aceita a sugestão da banca, a coerência textual seria prejudicada. Por isso, o gabarito é a opção E. A Referenciarão/ Os Referentes/ Coerência E Coesão (Texto publicado no site da UFSC) A fala e também o texto escrito constituem-se não apenas numa seqüência de palavras ou de fra- ses. A sucessão de coisas ditas ou escritas forma uma cadeia que vai muito além da simples se- qüencialidade: há um entrelaçamento significativo que aproxima as partes formadoras do texto fala- do ou escrito. Os mecanismos lingüísticos que estabelecem a conectividade e a retomada e garantem a coesão são os referentes textuais. Cada uma das coisas ditas estabelece relações de sentido e significado tanto com os elementos que a antecedem como com os que a sucedem, construindo uma cadeia textual significativa. Essa coesão, que dá unidade ao texto, vai sendo construída e se evidencia pelo emprego de dife- rentes procedimentos, tanto no campo do léxico, como no da gramática. (Não esqueçamos que, num texto, não existem ou não deveriam existir elementos dispensáveis. Os elementos constitutivos vão construindo o texto, e são as articulações entre vocábulos, entre as partes de uma oração, entre as orações e en- tre os parágrafos que determinam a referencia- 10 ção, os contatos e conexões e estabelecem sen- tido ao todo.) Atenção especial concentram os procedimentos que garantem ao texto coesão ecoerência. São esses procedimentos que desenvolvem a dinâmi- ca articuladora e garantem a progressão textual. A coesão é a manifestação lingüística da coerên- cia e se realiza nas relações entre elementos sucessivos (artigos, pronomes adjetivos, adjetivos em relação aos substantivos; formas verbais em relação aos sujeitos; tempos verbais nas relações espaço-temporais constitutivas do texto etc.), na organização de períodos, de parágrafos, das par- tes do todo, como formadoras de uma cadeia de sentido capaz de apresentar e desenvolver um tema ou as unidades de um texto. Construída com os mecanismos gramaticais e lexicais, confe- re unidade formal ao texto. 1. Considere-se, inicialmente, a coesão apoiada no léxico. Ela pode dar-se pelareiteração, pe- la substituição e pela associação. É garantida com o emprego de: Enlaces semânticos de frases por meio da repetição. A mensagem-tema do texto apoiada na conexão de elementos léxicos sucessivos pode dar-se por simples iteração (repetição). Ca- be, nesse caso, fazer-se a diferenciação entre a simples redundância resultado da pobreza de vocabulário e o emprego de repetições como recurso estilístico, com intenção articulatória. Ex.: ―as contas do patrão eram diferentes, arranjadas a tinta e contra o vaqueiro, mas fabiano sabia que elas estavam erradas e o patrão queria enganá- lo.enganava.‖Vidas secas, p. 143); Substituição léxica, que se dá tanto pelo emprego de sinônimos como de palavras quase sinônimas. Considerem-se aqui além das pala- vras sinônimas, aquelas resultantes de famílias ideológicas e do campo associativo, como, por exemplo, esvoaçar, revoar, voar; Hipônimos (relações de um termo específi- co com um termo de sentido geral, ex.: gato, felino) e hiperônimos (relações de um termo de sentido mais amplo com outros de sen- tidomais específico, ex.: felino, gato); Nominalizações (quando um fato, uma ocorrência, aparece em forma de verbo e, mais adiante, reaparece como substantivo, ex.: consertar, o conserto; viajar,a viagem). É preciso distinguir-se entre nominalização estri- ta e.generalizações (ex.: o cão < o animal) e especificações (ex.: planta > árvore > palmeira); Substitutos universais (ex.: joão trabalha muito. Também o faço. O verbo fazer em substitu- ição ao verbo trabalhar); Enunciados que estabelecem a recapitula- ção da idéia global. Ex.: o curraldeserto, o chi- queiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava aban- dono (vidas secas, p.11). Esse enunciado é chamado de anáfora conceptual. Todo um enun- ciado anterior e a idéia global que ele refere são retomados por outro enunciado que os resume e/ou interpreta. Com esse recurso, evitam-se as repetições e faz-se o discurso avançar, manten- do-se sua unidade. 2. A coesão apoiada na gramática dá-se no uso de: Certos pronomes (pessoais adjetivos ou substantivos). Destacam-se aqui os pronomes pessoais de terceira pessoa, empregados como substitutos de elementos anteriormente presentes no texto, diferentemente dos pronomes de 1 ª e 2 ª pessoa que se referem à pessoa que fala e com quem esta fala. Certos advérbios e expressões adverbiais; Artigos; Conjunções; Numerais; Elipses. A elipse se justifica quando, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida é facilmente identificável (Ex.: O jovem recolheu-se cedo.… Sabia que ia necessitar de todas as suas for- ças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a relação entre as duas ora- ções.). É a própria ausência do termo que marca a inter-relação. A identificação pode dar-se com o próprio enunci- ado, como no exemplo anterior, ou com elemen- tos extraverbais, exteriores ao enunciado. Vejam- se os avisos em lugares públicos (ex.: Perigo!) e as frases exclamativas, que remetem a uma situ- ação não-verbal. Nesse caso, a articulação se dá entre texto e contexto (extratextual); As concordâncias; A correlação entre os tempos verbais. Os dêiticos exercem, por excelência, essa função de progressão textual, dada sua característica: são elementos que não significam, apenas indi- 11 cam, remetem aos componentes da situação comunicativa. Já os componentes concentram em si a significação. Referem os participantes do ato de comunicação, o momento e o lugar da enunci- ação. Elisa Guimarães ensina a respeito dos dêiticos: Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, certas locuções pre- positivas e adverbiais, bem como os advérbios de tempo, referenciam o momento da enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo ano, depois de (futu- ro). Maria da Graça Costa Val lembra que ―esses recursos expressam relações não só entre os elementos no interior de uma frase, mas também entre frases e seqüências de frases dentro de um texto‖. Não só a coesão explícita possibilita a compreen- são de um texto. Muitas vezes a comunicação se faz por meio de uma coesão implícita, apoiada no conhecimento mútuo anterior que os participantes do processo comunicativo têm da língua. Variação da Língua Pelo estudo da seleção vocabular e da sintaxe, objetivamos descrever as mudanças que podem ocorrer na produção textual escrita, a partir do vocabulário e do uso deste pelo emissor, nos processos de comunicação dos quais faz parte. Ao produzir seu texto, seja ele falado ou escrito, o emissor estará, mesmo sem ter consciência disto, envolvendo, além da seleção vocabular e da sin- taxe, outros campos de pesquisa nesta produção. Referimo-nos à semântica e à estilística. Dessa forma, tentaremos desvendar a rede de relações que existe desde o momento em que o emissor pretende construir sua mensagem, pas- sando pela influência que a oralidade pode exer- cer sobre ela e pela sua escritura propriamente dita, até sua conseqüente interpretação por de- terminado interlocutor. Para o falante, a sua língua materna é um instru- mento de suma importância tanto para a sua prá- tica comunicativa quanto para sua afirmação en- quanto sujeito que exerce determinado papel na sociedade. O que existe por trás do ato comunicativo, da fala em si, não está explícito para o emissor. Porém, mesmo que o falante desconheça ou (re)conheça este fato, isto não fará com que sua mensagem seja menos eficiente, pois os sentidos das pala- vras que emprega não se acham dissociados do próprio pensamento. Marx esclarece muito bem esta relação entre fala e pensamento/consciência: A fala é velha como a consciência, a fala é uma consciência prática, real, que existe tanto para os outros como para mim mesmo. E a fala, como a consciência, nasce apenas da necessidade, da imperiosidade de contato com outras pessoas. (Marx apud Schaff, 1968, p. 317.) A necessidade inegável de que o homem sente em se comunicar com o outro resulta em esco- lhas: a quem falar, o que falar, como falar. O dis- curso produzido a partir dessas escolhas será somente seu, visto que refletirá seus fracassos e conquistas, sua história, seu ―eu‖. Fazendo parte de uma sociedade, na qual estará em contato constante com outros, o indivíduo necessitará não apenas da linguagem oral para se comunicar. Dentre outras linguagens, a escrita será mais um instrumento à disposição dele para demonstrar sua competência lingüística. Acontece que esta competência é constantemen- te colocada à prova, como se o usuário da língua nunca tivesse tido contato com ela. Referimo-nos especificamente ao ensino da língua. Ao tentar transportar os conhecimentos lingüísti- cos que já possui e que emprega eficientemente, da linguagem oral para a linguagem escrita, reve- la-se muitas vezes um fracassado. É difícil entender por que precisamos expressar- mo-nos diferentemente na escrita. Por que exis- tem tantas regras que já não traduzem a realida- de do usuário da língua? Por que a cada esquina de uma página há tantas exceções, contradições? Há extrema urgência em se rever o ensino da língua nas escolas, principalmente de ensino fundamental, para que estas questões possam ser esclarecidas. E, antes de tudo, a reformulação precisa estar presente também nos cursos de formação de professores, para que esta nova visão ganhe o devido espaço. De outro modo, não vemos como o falante deixa- rá de sentir-se perplexo diante de um ―Dê-me um cigarro‖ no lugar de um ―Me dá um cigarro‖. O estudo da seleção vocabular e da sintaxe na produção dos sentidos durante a textualização justifica-se tendo em vista que 12 · é através da seleção vocabular que o emissor revela a sua intencionalidade ao produzir deter- minado texto; · o contexto situacional do ato comunicativo de- terminará, em parte, a escolha vocabular do sujei- to escritor; · a organização das palavras selecionadas levará à interpretação desejada pelo emissor; · se faz necessário evitar as interferências negati- vas no processo de produção textual escrita, uma vez que, por serem negativas, prejudicam o bom entendimento da mensagem. Estudo da Seleção Vocabular Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neu- tra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? Todo usuário da língua possui a chave que lhe dá acesso ao mundo das palavras. A capacidadeda linguagem humana é essa chave. Quando crian- ça, o falante, de modo bastante natural, principia a utilizar o valioso instrumento da linguagem. Enquanto tímido aprendiz de palavras reproduz muito e cria pouco. Porém, seguindo um caminho irretornável, não mais necessita de que lhe digam o que falar como falar. Já se sente perfeitamente capaz de seguir sozinho. Sente-se seguro do conhecimento que possui, do acervo vocabular de que dispõe. O uso que fazemos desse acervo vocabular é determi- nado pelas situações que vivenciamos. Dessa forma, em um dado contexto, a seleção vocabular da qual lançaremos mão para produzir um texto deverá estar de acordo com o sentido que queremos dar à nossa mensagem. Então, não nos causa espanto que o nosso alu- no/usuário da língua queira manter-se fiel ao seu texto, reproduzindo na escrita aquilo que pensou e disse. Mesmo que esse texto passe a ser ―con- denado‖ por não se ajustar aos padrões impostos pelas gramáticas normativas. Parece-lhe que, ao mexerem no seu texto, estão retirando o seu di- reito de ser autêntico. O pessoal fizeram muita bagunça na sala, profes- sora! A gente gostamos de aula vaga. É perfeitamente compreensível que tais constru- ções sejam usadas pelo falante/escritor, uma vez que ele não quer deixar dúvidas de que está refe- rindo-se a um grupo de várias pessoas. No seu entender, o verbo no singular soa de forma estra- nha, não condiz com a verdade que ele quer ex- pressar. Sobre o papel do sentido nas relações entre as palavras, afirma Guiraud (1972, p. 26-27): O sentido, tal como nos é comunicado no discur- so, depende das relações da palavra com as ou- tras palavras do contexto, e tais relações são determinadas pela estrutura do sistema lingüísti- co. À estrutura do sistema lingüístico chamamos gramática internalizada por cada indivíduo, o mesmo que conhecimento implícito da língua, conforme Perini (2000, p. 12.). Por saber empre- gá-la, o falante faz as relações que deseja com as palavras escolhidas de seu léxico, de forma que molda seu texto para este atenda às suas inten- ções. A disposição em que coloca as palavras valoriza o significado delas. Wittgenstein (apud Rector, 1980, p. 53.) corrobora esta idéia ao ―constatar que as palavras só significam na medida em que estão num contexto interativo, isto é, como se seu valor variasse em função de sua disposição face às demais‖. A interação da palavra com o contexto revela-se no discurso, pois é nele ―que se manifestam estas relações da linguagem, visto que o discurso é o lugar de encontro do significante e do significado e o lugar das distorções da comunicação que ocorrem devido à liberdade da comunicação.‖ (Rector, 1980, p. 130.) O falante não deseja perder a liberdade de comu- nicar-se, de colocar no ato de comunicação do qual faz parte sua marca pessoal. Atentemos aqui para a questão do estilo próprio. Uma entonação diferente, uma determinada fle- xão de grau, uma intencional ausência de flexão de número são exemplos de marcas pessoais que ocorrem na fala e que naturalmente se con- cretizam na escrita. AMIGO 1: - Comprei um estojo ‗manero‘. Custou só dois ‗real‘! AMIGO 2: - Também, você é filhote de loja de um e noventa e nove! Há tendência, por parte do falante de língua por- tuguesa, a reduzir ditongos em simples vogais, conforme atesta Coutinho em sua ―Gramática Histórica (COUTINHO, p. 108.). Assim, para o usuário da língua, é perfeitamente correto falar 13 ―manero‖ em vez de ―maneiro‖. Tal tendência acaba por ser explicitada na escrita por influência da oralidade. Se ninguém praticamente fala ―man- teiga‖, conseqüentemente estaremos diante da palavra ―mantega‖ nas redações de nossos alu- nos. Quanto à questão da ausência de flexão de nú- mero da palavra ―real‖, temos aqui duas coloca- ções. Por um lado, poderíamos considerar a ex- pressão ―dois real‖ apenas um caso de erro de concordância; por outro lado, estaríamos diante de uma seleção vocabular empregada para ex- pressar, por exemplo, esperteza de quem compra um bom produto por um pequeno preço. Em nossa literatura, há muitos exemplos em que a seleção vocabular aliada à linguagem oral, só para determo-nos em assuntos objetos de nosso estudo, produzem obras originalíssimas. Citemos, para ilustrar, Mário de Andrade com ―Macunaíma‖ (texto em prosa) e Oswald de Andrade com o texto em verso que vai transcrito a seguir: brasil O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem - Sois cristão? - Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu - Sim pela graça de Deus Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval. (Andrade apud Cereja & Magalhães, 1995, p. 312.) Para o falante/usuário da língua o que conta é a praticidade. Se na linguagem oral, ele dispõe de tanta liberdade para comunicar-se, por que não fazer uso dessa liberdade também na escrita? Não queremos dizer com isso que devemos abo- lir, no ensino da língua, as regras que estruturam nosso sistema lingüístico, mas que precisamos adaptá-las à realidade do falante. Por que não acompanhar na escrita a dinamicidade da língua? Concluindo, o ensino da língua pode contribuir para que o nosso aluno (falante competente da língua materna) aproprie-se de conhecimentos que permitam que ele não apenas chegue perto e contemple as palavras, mas que faça bom uso da chave que possui para que não dê respostas pobres ou terríveis às perguntas que lhe forem feitas. Sintaxe de Concordância A oralidade influencia constantemente a produção de um texto escrito. Muitas vezes, esta influência é considerada negativa, pois resulta nos chama- dos ―erros de concordância‖. As gramáticas nor- mativas costumam listar regras muitas vezes inflexíveis para determinar o que é certo e o que é errado. Porém, estudiosos mais modernos têm percebido e registrado casos passíveis de discus- são. Perini (2000, p. 19.) cita o caso da expressão ―os relógio‖, comprovadamente utilizada por falantes ―cultos e incultos‖. Não estamos diante de um mero caso de erro de concordância e sim de uma tendência lingüística da oralidade que vem sendo empregada também na escrita. Tendência esta que não pode ser ignorada pelos profissionais que lidam com o ensino da língua. Para Lapa (1991, p. 157.) o erro de concordância não existe, pois a construção de um texto reflete o estilo de cada um. Vejamos sua colocação so- bre o assunto: ...esses desvios aparentes de concordância se explicam sobretudo por três motivos: um que consiste em concordar com as palavras não se- gundo a letra mas segundo a idéia; outro, segun- do o qual a concordância varia conforme a posi- ção dos termos do discurso; e um terceiro, que traduz o propósito de fazer a concordância com o termo que mais interessa acentuar ou valorizar. É preciso que analisemos bem os casos dos chamados ―erros de concordância‖ que surgem nos textos produzidos por nossos alunos. Muitas vezes, a produção do aluno revela textos coeren- tes e coesos, dentro de seus propósitos, ―diferen- tes‖ do que esperamos e desejamos encontrar. Observemos um trecho de uma redação de um aluno da 7ª. Série do ensino fundamental: Gosto de sair curto muitos bailes fanks todos os finais de semana vou ao baile. (sic) Ignorando em nosso comentário as questões da pontuação e da grafia equivocada da palavra ―funk‖, vamos ao caso de concordância que aí se apresenta: ―curto muitos bailes fanks‖. Nós, pro- fessores da língua, esperaríamos encontrar a seguinte construção: ―curto muito bailes funks‖, na qual a palavra muito estaria funcionando como14 advérbio e não como pronome indefinido, tal co- mo se encontra na redação do aluno. Para que se considere errada a construção do aluno, é preciso analisar seu texto com cuidado, tentando perce- ber sua intenção, seu propósito. Acreditamos que a falta de organização do pen- samento influencia a produção do discurso do nosso aluno, seja tal produção oral ou escrita. A forma como o ensino da língua ainda é tratado não tem oportunizado o exercício da organização do pensamento, uma vez que os conteúdos gra- maticais são priorizados em detrimento de outros (produção oral e escrita, por exemplo), tornando a aula de português um ―amontoado de coisas sem sentido‖. Não temos dado ao nosso aluno espaço suficien- te para que ele exerça seu direito de fala. Nor- malmente, ele está na sala apenas para ouvir, para copiar, para reproduzir o que se espera dele. Ao ser solicitado a falar, muitas vezes, sua fala é truncada, inicia um assunto e não é capaz de concluí-lo. Questão de timidez? Em alguns casos, sim. Essa fala fragmentada, não desenvolvida, concretiza-se na escrita de forma bem clara: au- sência de coesão e de coerência, fuga ao tema proposto, repetições excessivas, para citar ape- nas os problemas mais encontrados. Prycila eu quero que você fiquei torcendo porque agora porque no dia 16 de outubro vou fazer pro- va com padre para crisma porque no final do vou se alistar. (sic) (Trecho de um texto produzido por aluno de 6ª. Série do ensino fundamental.) Atentemos para a mistura de assuntos que o alu- no realiza, utilizando basicamente um conectivo (porque). Que relação existe entre os dois fatos, o de ser crismado e o de se alistar no final do ano (palavra omitida, provavelmente sem que o aluno tenha tido esta intenção)? Acreditamos que aqui não estejamos diante de um caso de desconhe- cimento do significado do conectivo apenas. E sim de incapacidade de relacionar idéias, de fazer conexão de sentidos. Por tudo o que foi exposto até aqui, cremos que o exercício da leitura e da escrita, como forma de desenvolver a competência lingüística, seria uma das estratégias numa tentativa de minimizar mui- tos dos problemas citados. Sintaxe de Regência Na maioria das gramáticas normativas, o conceito de regência aborda a relação de dependência entre termos da oração. Fazer com que o nosso aluno, que traz influências (negativas e positivas) da oralidade, perceba e compreenda essa idéia de dependência é, por vezes, tarefa bastante árdua. Pesquisando em algumas gramáticas disponíveis aos nossos estudantes, observamos que alguns casos são tratados de forma diversa. Vejamos um caso: no ―Curso Prático de Gramática‖, de Ernani Terra (1996, p. 299.), há a seguinte afirmação referente à regência do verbo chegar: ―O verbo chegar exige a preposição a e não a preposição em.‖ Já a ―Gramática‖, de Faraco e Moura (1999, p. 514.), apresenta a seguinte colocação em relação ao mesmo verbo chegar: ―É intransitivo no sentido de atingir data ou local. (...) Já é bastante comum o uso da preposi- ção em nesta acepção.‖ Essas abordagens conflitantes apresentadas pelas gramáticas citadas acabam por confundir o nosso aluno e, até mesmo, por dificultar o enten- dimento deste assunto. Que frase é mais comum nas redações de nossos alunos? ―Cheguei em casa muito tarde‖ ou Cheguei a minha casa muito tarde‖? Com certeza, a primeira. Portanto, não é mais cabível afirmar que o verbo chegar não exi- ge a preposição em. Uma ou outra preposição é perfeitamente admissível. Reconhece-se que a língua falada no Brasil não é a mesma representada na escrita. É também dessa questão que temos tratado até então. O falante, com o propósito de passar adiante seu pensamento, suas idéias, seleciona as palavras que melhor representam sua intenção e arruma- as de maneira que estas atendam aos seus dese- jos. Altera, propositalmente ou não, a sintaxe de con- cordância ou de regência, construindo seu próprio estilo. Sua mensagem poderá ou não ser com- preendida da forma como gostaria de que fosse. As chances de que o entendimento ocorra tal como planejou são grandes. O estudo do emprego diversificado que se faz da língua falada (situações informais) e da língua escrita (situações formais) está cada vez mais ocupando espaço nos meios acadêmicos que tratam do ensino da língua. Algumas obras vêm acrescentar novas idéias que auxiliam o presente trabalho, como Mário Perini (Sofrendo a Gramáti- ca), Celso Pedro Luft (Língua e Liberdade) e E- vanildo Bechara (Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade?). Porém, décadas de um ensino equivocado exigirão a adoção de um novo modo de ensinar a gramática, a partir de uma visão de linguagem que liberte, que permita a 15 construção de um discurso de sujeito, e não de quem se sujeita. Voltando a mais um caso de sintaxe de regência. Se um dos significados da palavra ―com‖ é a idéia de companhia, como considerar errada a constru- ção ―Namoro com Carlos‖? Para o falante/usuário da língua, a frase está corretíssima. Para tentarmos convencer este falante de que a sua construção é incorreta, só temos o argumento de que o verbo namorar é transitivo direto (não admitindo preposição), pois quem namora, namo- ra alguém. Porém não é argumento forte o sufici- ente para deslegitimar a sua intenção de transmi- tir a idéia de um estar com o outro, de namo- rar com o outro. Finalizando, a estrutura lingüística que cada usu- ário da língua internaliza, dá-lhe subsídios para que ele elabore construções que, na escrita, são consideradas como erros de concordância, de regência, entre tantos outros ―erros‖. Cabe ampli- ar, na sistematização das regras que estruturam a língua, o registro das possibilidades de constru- ções de que o usuário da língua dispõe. Até por- que as invariações dentro das variações é que dão vida à língua. Sintaxe de Colocação No início de nosso trabalho, comentamos a res- peito de o falante sentir-se perplexo diante da construção ―Dê-me um cigarro‖, verso conheci- díssimo do poema Pronominal‖, de Oswald de Andrade, muito usado para exemplificar casos de colocação pronominal. É claro que o usuário da língua estranha uma construção como essa, quando, no seu falar revela-se a tendência de fazer uso da próclise. O nosso aluno jamais empregaria a frase ―Em- preste-me uma caneta‖ ao dirigir-se ao colega a seu lado. Até mesmo nós, professores e conhe- cedores da língua, no dia a dia, empregamos a próclise com abundância em nossa fala. Ainda mais que a questão da colocação dos pronomes na frase está mais a serviço da estilística que da sintaxe. Observemos: A. Se atrasou hoje, professora. B. Atrasou-se hoje, professora. De acordo com as regras que norteiam o empre- go da próclise, a frase A estaria fora dos padrões, porém, numa linguagem informal, falada ou escri- ta, seria perfeitamente justificável, na medida em que representaria um estilo despojado e simples do locutor/escritor. Já a frase B exemplifica o correto emprego do pronome, mas na prática de nossos alunos é pouco utilizada. O emprego da mesóclise é ainda mais complica- do. Em primeiro lugar, há a preferência de o usu- ário da língua portuguesa no Brasil utilizar para o tempo futuro do presente do indicativo, por exem- plo, a locução verbal: ―Vou fazer prova amanhã‖ no lugar de ―Farei prova amanhã‖; em segundo lugar, o emprego da mesóclise soa como pedan- tismo, próprio da linguagem rebuscada, empola- da: ―Far-te-ei uma proposta amanhã‖. O uso da mesóclise está reduzido à produção escrita de usuários com bom domínio da estrutura da língua. Façamos mais um comentário: ―Está um calor! A janela está fechada, professora. Quer que abra ela?‖ É um tipo de construção amplamente empregada pelo falante.Devemos considerá-la totalmente errada? E o que podemos dizer de construções do tipo ―Professora, eu se machuquei!‖? Não se- ria mais relevante preocuparmo-nos com frases desse tipo? E não é só uma questão de concor- dância ou de colocação. É uma questão de identidade. O falante não se reconhece no próprio discurso. Não é capaz de reconhecer-se no me, pois é a partir do se que vê o mundo: ―Entre, sente-se, cale-se, saia e vire-se; a minha parte eu já fiz.‖ Organização Frasal Toda frase de uma língua consiste em uma orga- nização, uma combinação de elementos lingüísti- cos agrupados segundo certos princípios, que a caracterizam como uma estrutura. Para evidenci- ar estas estruturas, temos uma estruturas, temos de decompor a frase/oração em unidades meno- res, e substituir estas unidades, por aquelas e- quivalentes, que desempenham a mesma função. Este procedimento denomina-se comunicação: Ex: Maria está na casa da vizinha Você fará o relatório como a professora pediu Aquela menininha de cabelo loiro gosta de doce de leite. Estes subconjuntos são blocos significativos e possuem equivalência entre si,pois a troca de um pelo outro,não destrói a integridade das orações, como demonstraram os exemplos. A estes blo- cos, ou unidades significativas, chamamos: Sintagmas. Constituintes Oracionais > Os Sintagmas 16 A Natureza do sintagma do sintagma depende por tanto do tipo de elemento que constitui o seu núcleo. Vantagens: * Ter controle sobre os mecanismos que utiliza- mos nos usos da linguagem; * Aumentar a versatilidade no uso que podemos fazer desses mecanismos. Base da Oração {SN (subst) = SA > Sintagma Adjetiva, SV (verbo) SP > Sintagma Preposi- cionado Sintagma: elementos constituintes das unidades significativas da oração – relaciona-se por depen- dência e ordem. Possuem um núcleo em relação aos demais constituintes, mas pode compor-se de apenas um núcleo. Além das orações com os dois sintagmas obriga- tórios: SN + SV, há ainda a possibilidade de ora- ção com três partes: SN+SV+SP. Os Sintagmas Nominais e Verbais obrigatoria- mente existem como unidades significativas nas frases. Por isso, as frases sempre podem ser decompostas nesses dois subconjuntos, mesmo que elas sejam longas, ou mesmo que o sujeito esteja oculto ou não seja lexicalmente preenchido (sujeito inexistente). Ex: SN/SV A irmã de uma conhecida de meu mari- do/recebeu uma belíssima homenagem de seus companheiros de trabalho. A carrocinha de pão [que passava pela minha rua todos os dias]/pertencia a um antigo empregado da prefeitura municipal. Sintagma Preposicionado (SP) Os Sintagmas preposicionados, quando assu- mem função de advérbio, são facultativos na es- trutura sintática das frases; móveis, podendo ser deslocados de sua posição normal (após o SN e o SV);apresentam-se como modificadores cir- cunstanciais,geralmente sob a forma de locuções adverbiais. Exs: As flores/ enfeitam os jardins/ na primavera. - SN, SV e SP O padeiro/ entrega o pão / na minha casa / de madrugada - SN, SV, SP e SP O que é Redação Oficial? Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a maneira pela qual o Poder Público redige atos normativos e comunicações. Interessa-nos tratá- la do ponto de vista do Poder Executivo. A redação oficial deve caracterizar-se pela im- pessoalidade, uso do padrão culto de linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade. Fundamentalmente esses atributos decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo 37: "A admi- nistração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)". Sendo a publicidade e a impessoalidade princí- pios fundamentais de toda administração pública, claro está que devem igualmente nortear a elabo- ração dos atos e comunicações oficiais. Não se concebe que um ato normativo de qual- quer natureza seja redigido de forma obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreensão. A transparência do sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibilidade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável que um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade implica, pois, necessariamente, clare- za e concisão. Além de atender à disposição constitucional, a forma dos atos normativos obedece a certa tradi- ção. Há normas para sua elaboração que remon- tam ao período de nossa história imperial, como, por exemplo, a obrigatoriedade – estabelecida por decreto imperial de 10 de dezembro de 1822 – de que se aponha, ao final desses atos, o número de anos transcorridos desde a Independência. Essa prática foi mantida no período republicano. Esses mesmos princípios (impessoalidade, clare- za, uniformidade, concisão e uso de linguagem formal) aplicam-se às comunicações oficiais: elas devem sempre permitir uma única interpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exige o uso de certo nível de linguagem. Nesse quadro, fica claro também que as comuni- cações oficiais são necessariamente uniformes, pois há sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o receptor dessas comunicações ou é o próprio Serviço Público (no caso de expedientes dirigidos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou instituições tratados de forma homogênea (o público). 17 Outros procedimentos rotineiros na redação de comunicações oficiais foram incorporados ao longo do tempo, como as formas de tratamento e de cortesia, certos clichês de redação, a estrutura dos expedientes, etc. Mencione-se, por exemplo, a fixação dos fechos para comunicações oficiais, regulados pela Portaria n o 1 do Ministro de Estado da Justiça, de 8 de julho de 1937, que, após mais de meio século de vigência, foi revogado pelo Decreto que aprovou a primeira edição deste Manual. Acrescente-se, por fim, que a identificação que se buscou fazer das características específicas da forma oficial de redigir não deve ensejar o enten- dimento de que se proponha a criação – ou se aceite a existência – de uma forma específica de linguagem administrativa, o que coloquialmente e pejorativamente se chama burocratês. Este é antes uma distorção do que deve ser a redação oficial, e se caracteriza pelo abuso de expressões e clichês do jargão burocrático e de formas arcai- cas de construção de frases. A redação oficial não é, portanto, necessariamen- te árida e infensa à evolução da língua. É que sua finalidade básica – comunicar com impessoalida- de e máxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso que se faz da língua, de maneira diversa daquele da literatura, do texto jornalístico, da correspondência particular, etc. Apresentadas essas características fundamentais da redação oficial, passemos à análise pormeno- rizada de cada uma delas. 1.1. A Impessoalidade A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: a) alguém que comunique, b) algo a ser comunicado, e c) alguém que receba essa comunicação. No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção); o que se comunica é sempre algum assunto relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatário dessa comu- nicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro órgão público, do Executivo ou dos ou- tros Poderes da União. Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que deve ser dado aos assuntos que constam das comunicações oficiais decorre: a) da ausência de impressões individuais de quem comunica:embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por Chefe de deter- minada Seção, é sempre em nome do Serviço Público que é feita a comunicação. Obtém-se, assim, uma desejável padronização, que permite que comunicações elaboradas em diferentes se- tores da Administração guardem entre si certa uniformidade; b) da impessoalidade de quem recebe a comuni- cação, com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão, sempre concebido co- mo público, ou a outro órgão público. Nos dois casos, temos um destinatário concebido de forma homogênea e impessoal; c) do caráter impessoal do próprio assunto trata- do: se o universo temático das comunicações oficiais se restringe a questões que dizem respei- to ao interesse público, é natural que não cabe qualquer tom particular ou pessoal. Desta forma, não há lugar na redação oficial para impressões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser isenta da inter- ferência da individualidade que a elabora. A concisão, a clareza, a objetividade e a formali- dade de que nos valemos para elaborar os expe- dientes oficiais contribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária impessoalidade. 1.2. A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais A necessidade de empregar determinado nível de linguagem nos atos e expedientes oficiais decor- re, de um lado, do próprio caráter público desses atos e comunicações; de outro, de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de caráter normativo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam o funciona- mento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em sua elaboração for empregada a lingua- gem adequada. O mesmo se dá com os expedi- entes oficiais, cuja finalidade precípua é a de informar com clareza e objetividade. As comunicações que partem dos órgãos públi- cos federais devem ser compreendidas por todo e qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar o uso de uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há dúvida que um texto marcado por expressões de circula- ção restrita, como a gíria, os regionalismos voca- bulares ou o jargão técnico, tem sua compreen- são dificultada. Ressalte-se que há necessariamente uma distân- cia entre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente dinâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração de costumes, e pode eventu- almente contar com outros elementos que auxili- 18 em a sua compreensão, como os gestos, a ento- ação, etc., para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lentamente as trans- formações, tem maior vocação para a permanên- cia, e vale-se apenas de si mesma para comuni- car. A língua escrita, como a falada, compreende dife- rentes níveis, de acordo com o uso que dela se faça. Por exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos valer de determinado padrão de linguagem que incorpore expressões extrema- mente pessoais ou coloquiais; em um parecer jurídico, não se há de estranhar a presença do vocabulário técnico correspondente. Nos dois casos, há um padrão de linguagem que atende ao uso que se faz da língua, a finalidade com que a empregamos. O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu caráter impessoal, por sua finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, eles reque- rem o uso do padrão culto da língua. Há consen- so de que o padrão culto é aquele em que a) se observam as regras da gramática formal, e b) se emprega um vocabulário comum ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças lexi- cais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias lin- güísticas, permitindo, por essa razão, que se atin- ja a pretendida compreensão por todos os cida- dãos. Lembre-se que o padrão culto nada tem contra a simplicidade de expressão, desde que não seja confundida com pobreza de expressão. De ne- nhuma forma o uso do padrão culto implica em- prego de linguagem rebuscada, nem dos contor- cionismos sintáticos e figuras de linguagem pró- prios da língua literária. Pode-se concluir, então, que não existe propria- mente um "padrão oficial de linguagem"; o que há é o uso do padrão culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que haverá preferência pelo uso de determinadas expressões, ou será obedecida certa tradição no emprego das formas sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se consagre a utilização de uma forma de linguagem burocrática. O jargão burocrático, como todo jar- gão, deve ser evitado, pois terá sempre sua com- preensão limitada. A linguagem técnica deve ser empregada apenas em situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso indiscriminado. Certos rebuscamentos aca- dêmicos, e mesmo o vocabulário próprio a deter- minada área, são de difícil entendimento por quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado, portanto, de explicitá-los em comu- nicações encaminhadas a outros órgãos da ad- ministração e em expedientes dirigidos aos cida- dãos. Outras questões sobre a linguagem, como o em- prego de neologismo e estrangeirismo, são trata- das em detalhe em 9.3. Semântica. 1.3. Formalidade e Padronização As comunicações oficiais devem ser sempre for- mais, isto é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exigências de impesso- alidade e uso do padrão culto de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de tratamen- to. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível (v. a esse respeito2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento); mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação. A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária uniformidade das comunicações. Ora, se a administração federal é una, é natural que as comunicações que expede sigam um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das metas deste Manual, exige que se aten- te para todas as características da redação oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos tex- tos. A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes para o texto definitivo e a correta diagramação do texto são indispensáveis para a padronização. Consulte o Capítulo II, As Comunicações Oficiais, a respeito de normas específicas para cada tipo de expediente. 1.4. Concisão e Clareza A concisão é antes uma qualidade do que uma característica do texto oficial. Conciso é o texto que consegue transmitir um máximo de informa- ções com um mínimo de palavras. Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais redundân- cias ou repetições desnecessárias de idéias. O esforço de sermos concisos atende, basica- mente ao princípio de economia lingüística, à mencionada fórmula de empregar o mínimo de 19 palavras para informar o máximo. Não se deve de forma alguma entendê-la como economia de pen- samento, isto é, não se devem eliminar passa- gens substanciais do texto no afã de reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar pala- vras inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já foi dito. Procure perceber certa hierarquia de idéias que existe em todo texto de alguma complexidade: idéias fundamentais e idéias secundárias.
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