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Exploração sexual infanto-juvenil: marcas para a vida toda. 1 Ana Gabriela Lima Esmeraldo* Maria Isadora Felix Gomes** Priscila Ribeiro Jeronimo Diniz*** RESUMO O presente artigo tem como objetivo básico abordar os aspectos gerais relacionados ao tema da exploração sexual de crianças e adolescentes no Estado do Ceará, juntamente com a contribuição que o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) possui na supressão e resposta aos casos, que são desde os primórdios da civilização brasileira praticados nos mais diferentes espaços norteadores. Tendo como fonte estudos teóricos em livros, legislação, noticias panfletos e, principalmente, na pesquisa documental de campo realizada pela autora na DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), assim como, no Conselho Tutelar da cidade de Juazeiro do Norte – Ceará e no CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), onde respondem por ampararem as crianças e adolescentes vítimas de violência. Tendo em vista que a exploração sexual de crianças e adolescentes é um tema de grande relevância social e que a cada dia as denúncias só aumentam juntamente com as marcas cada vez mais profundas deixadas no corpo e na alma das vítimas, e que juntamente com elas crescem cada vez mais o desejo de reverter essa situação tão triste, é com ânsia que as questões preventivas, punitivas e inclusivas das vítimas na sociedade estão cada vez mais amplas na sociedade. Onde as ONG’s realizam uma função primordial no auxílio à recuperação das vítimas nos traumas sofridos. Mesmo que o grande enfrentamento à exploração esteja na conscientização social. Palavras-chave: infância; violência; exploração INTRODUÇÃO Um dos temas que mais gera atrito social é a exploração sexual de crianças e adolescentes, comoção essa que vem ganhando cada vez mais repercussão, devido ao grande sentimento de repulsa que vem tomando conta das pessoas em relação ao tema, que conforme vai repercutindo, vai aumentando as denúncias desse tipo de violência. Um problema mundial que diariamente atinge milhares de vítimas de forma silenciosa e *Acadêmica de Direito do 6° Semestre da Faculdade Paraíso do Ceará. ** Acadêmica de Direito do 6° Semestre da Faculdade Paraíso do Ceará. *** Docente da Faculdade Paraíso do Ceará. Doutoranda em Ciências das religiões. Mestre em Sociologia. Bacharel em Ciências Sociais. dissimulada. Onde atinge a ambos os sexos, idades e níveis sociais, econômicos, religiosos ou culturais. Trata-se de atos com fins sexuais lesivos ao corpo e mente da vítima. Onde, ao mesmo tempo, existe uma negligência aos valores universais da pessoa, como a igualdade, liberdade, respeito, garantias individuais e dignidade, como vem previsto na Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, e é justamente nessa negligência que as crianças e adolescentes transformam-se nas maiores vítimas de exploração, devido a sua maior vulnerabilidade e dependência, muitas vezes até do próprio agressor. Desse modo, a violência sexual caracteriza-se, como: [...] por um ato ou jogo sexual, em um relação heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular a sexualmente esta criança ou adolescente, ou utiliza-la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa (AZEVEDO; GUERRA, 1988,p.33). Ao conceituar, podemos notar que o autor foi bastante criterioso a respeito do tema, pois tratou de forma subjetiva e ampla os aspectos da questão. Deixando claro o ato e a finalidade do mesmo. 1. HISTÓRICO Desde 1991, a exploração sexual ocupa um espaço na agenda pública do Ceará. Foi quando houve a denúncia de uma rede de exploração e tráfico de crianças e adolescentes, foi ai que se deu o início do processo articuloso da sociedade, que cria o Fórum Permanente de Combate e Prevenção à Prostituição Infanto-Juvenil, que age desde a denúncia até a exigência de providencia por parte das autoridades. Em 1993, foi o ano em que o Congresso Nacional decide criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), para colher a responsabilidade devida pela exploração e prostituição infanto-juvenil, no Ceará aonde chegaram à conclusão de que as crianças não estão na rua se prostituindo, estão lá em busca de sobrevivência. Elas vêm, em grande quantidade, da zona do sertão e do litoral e não tem condições de moradia, renda, escolha, nem saúde. Houveram ainda, constatações de que membros da policia Militar e Civil foram apontados como envolvidos na prática de suborno a porteiros de hotéis, boates e motéis e de adulteração dos documentos das meninas para que pareçam maiores e assim, facilite o ato exploratório. Diante da grande repercussão que essa CPI causou, a Câmara Municipal de Fortaleza inicia a CPI da Prostituição Infantil onde deu início a um dossiê que denunciava o turismo sexual existente naquela localidade, além de provar a real permanência de uma rede de prostituição em todo o estado do Ceara. Ainda em 1993 foi criada a Lei 12.242/93, lei essa que impõe aos hospitais que criem uma comissão de atendimento e prevenção às violências sofridas pelas crianças e adolescentes em todo o estado. Já em 1995, é criada a primeira delegacia especializada no combate à exploração de crianças e adolescentes, a DCECA. Em 1997 foi fundado o Sistema Nacional de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, onde atuava como fonte de denúncias pelo disque 100. No ano de 2000, foi dado origem ao Plano Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, o qual foi reformulado e relançado em 2013. Ainda em 2000, o governo federal criou o Programa Sentinela, que tinha função de dar apoio psicossocial, educacional e jurídico para as crianças e adolescentes que viviam em constante violência sexual, juntamente com as suas respectivas famílias. Assim como, foi instituído no dia 18 de maio o Dia Nacional de Luta pelo Fim da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes. Em 2002, o congresso estadual aprova a lei 13.230/02 que desfruta a respeito da criação de comissões de atendimento, notificação e prevenção de atos de violência sexual nas escolas públicas e privadas de todo o Estado. Em 2003, foi realizada uma pesquisa sobre a exploração e o abuso de crianças e adolescentes no Ceará onde revelou ser esses acontecimentos uma questão de opressão ao gênero, sendo meninas o principal alvo. Com a elaboração do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), entre os anos de 2005 a 2009, o Programa Sentinela passou a operar juntamente com o Centro de Referência Especializado na Assistência Social, órgão esse que atende toda a precisão das vítimas de violência de modo amplo, atividade essa que acabou atingindo o modo especializado da política e a qualidade no atendimento das vítimas. Desse modo, os municípios do acabaram por dar como responsabilidade ao CREAS, o atendimento as vítimas. Ao todo foram mais de duas décadas de história de grandes mobilizações a cerca desse tema, onde ocorreram diversas CPI’s tanto a nível federal, estadual e municipal. Uma coisa boa, pois colocou esse problema na agenda política que provocou importantes transformações legislativas. No entanto, não houve ainda um avanço quando se fala na punição dos agressores e o rompimento de tantas redes detectadas em todo o Estado e nem mesmo a consolidação dos serviços e programas de atendimento as vítimas. 2. COMPREENDENDO O CONCEITO A exploração sexual é formada pela utilização de crianças e/ou adolescentes em atos de caráter sexual remunerado, como por exemplo,a prostituição infanto-juvenil e a pornografia. Vale ressaltar, que para constituir o caráter explorativo não se faz necessário a ocorrência de atos sexuais, pode ocorrer na forma de atentado ao pudor, ou qualquer outra forma que cause proximidade entre a vítima e o explorador. Foi ainda definido no I Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes em 1996, como sendo: o abuso sexual cometido por adultos com remuneração à criança e ao adolescente, onde estes são tratados como objeto sexual, uma mercadoria. O Congresso classificou a exploração sexual comercial em quatro modalidades: tráfico para fins sexuais, prostituição, turismo sexual e pornografia. O conceito trazido no Congresso nos relata uma triste realidade em que muitas crianças e adolescentes vivem, pois nos remete a ideia de que são realmente objetos sexuais utilizados por adultos que agem com plena consciência da capacidade lesiva do seu ato e que mesmo assim, continuam a pratica-lo sem o menor senso do quão graves são as lesões ali deixadas. 3. CATEGORIAS EXPLORATÓRIAS a. Tráfico Trata-se do incremento da entrada ou saída de crianças/adolescentes em território nacional ou estrangeiro para fins de prostituição. Pratica prevista no art. 231 do Código Penal e nos arts. 83,84,85 e 251 do Estatuto da Criança e do adolescente. b. Pornografia Tema de difícil discussão pois temos que levar em consideração que os conceitos de criança e de prostituição mudam de país para país e diferem principalmente de acordo com as convicções morais, culturais, sexuais, sociais e religiosas de cada um, onde nem sempre conferem com o que é estabelecido nas legislações. Porém, a pornografia infantil é encarada como sendo todo e qualquer aparato audiovisual que tenha a atuação de crianças em um contexto sexual ou, segundo a INTERPOL, seria “a representação visual da exploração sexual de uma criança, concentrada na atividade sexual e nas partes genitais dessa criança”. Então, a prática da produção pornográfica com a incrementação de crianças e adolescente integra a exploração sexual, sendo que os exploradores são os produtores (fotógrafos e videomakers), intermediários (os aliciadores), difusores (os anunciantes) e os consumidores do produto criado. Sendo que a grande maioria dos envolvidos, são pedófilos. c. Turismo Constituído pela exploração sexual de crianças e adolescentes por turistas, em geral, vindos de países desenvolvidos ou até mesmo do próprio país, conjuntamente com a conivência oriunda da ação direta ou omissão de agências de viagens e de guias turísticos, hotéis, bares, restaurantes, barracas de praia, etc, além da cafetinagem ainda muito comum no país. Tendo Fortaleza - Ce, como principal alvo de referência na mídia internacional, como um dos destinos mais procurados para o turismo sexual. Mesmo diante dos fatos, encontramos ainda, as políticas de enfrentamento à violência como não sendo uma das prioridades nos orçamentos públicos no âmbito estadual e municipal. d. Prostituição A prostituição infantil consiste na forma mais comum de exploração sexual comercial, podendo ser voluntária da pessoa que se dispõe a esta situação. É justamente por causa da vulnerabilidade em que tais crianças e adolescentes são submetidas que não são consideradas prostitutas(os), mas sim prostituídas(os). Entende-se que, a prostituição por ocasionar danos físicos e psicológicos à pessoa, afetando assim, a sua individualidade, seu prazer sexual e a sua integridade moral. Transformando assim, a pessoa prostituída em um objeto de consumo para o prazer sexual alheio, organizado por meio da oferta e da demanda de favores sexuais ou em razão dos princípios econômicos dos indivíduos. 4. EXPLORAÇÃO SEXUAL E O MERCADO DO SEXO O chamado mercado do sexo é encarado como um dos mais lucrativos, chamado também de “mercado negro” pelo fato de funcionar por normas não legalizadas, sem qualquer registro, pagamento de impostos ou emissão de notas fiscais. É nesse meio que muitas crianças e adolescentes buscam ganhar a vida como uma prática autônoma de trabalho diante de sua família e de ter acesso mais fácil a bens de consumo e serviços que lhes proporcione um sentimento mais próximo de presença social diante da sociedade. Para que exista esse tipo de trabalho comercial, faz-se necessário a criação de empresas fantasmas que são criadas para ocultar as atividades sexuais realizadas nesses estabelecimentos, que não oferecem os serviços indicados no registro comercial, como por exemplo, bares, hotéis, pousadas, etc. Como toda empresa, essas possuem mercadorias, ofertas, demanda, troca, venda e lucro. Sendo que, as mercadorias são referentes a serviços de caráter sexual. É com a inclusão de crianças e adolescentes nesse mercado que nota-se um elevado crescimento, tendo em vista que são “mercadorias” de alto valor comercial. A declaração aprovada durante o Primeiro Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, realizado em Estocolmo, em 1996, define a exploração sexual comercial: A exploração sexual comercial infantil é todo tipo de atividade em que as redes, usuários e pessoas usam o corpo de um menino, menina ou de adolescente para tirar vantagem ou proveito de caráter sexual com base numa relação de exploração comercial, de poder e declara que a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes é um crime contra a humanidade (LEAL, 1999). A mencionada declaração refere que podem ser identificados os seguintes elementos na configuração da exploração sexual infanto-juvenil: Sujeitos (envolverão vítima, explorador e o abusador); ação (exploração/abuso) e lucro. Ferreira (2009-2011) afirma que a exploração sexual comercial é uma violência sistemática que se apropria comercialmente do corpo, como mercadoria, para usufruir lucro. Mesmo inscrito como “autônomo”, sem intermediários, o uso (abuso) do corpo, em troca de dinheiro, configura uma mercantilização do sexo e reforça os processos simbólicos, imaginários e culturais machistas, patriarcais, discriminatórios e autoritários. De acordo com Duarte (2009), fica claro que a exploração, para se consumar, necessita de uma relação de poder, pois é o adulto, o mais forte, que se aproveita da fragilidade física e psíquica da criança ou adolescente e os oferece como mercadoria no comércio sexual. Tal comércio somente ocorre porque existe uma demanda. 5. QUEM SÃO OS CLIENTES DA EXPLORAÇÃO SEXUAL Pode ser qualquer pessoa. No entanto, constituem as partes menos exploradas em pesquisas e estudos sobre o tema, os clientes são o lado da dinâmica que demanda e ajudam a manter a existência desse tipo de serviço no mercado, ou seja, são os entes principais do serviço, pois buscam nas práticas sexuais com crianças e adolescentes estímulos pelo elevado valor atribuído socialmente as relações sexuais vinculadas aos infanto-juvenis. Em 2005 foi realizada no Brasil, uma pesquisa chamada “O perfil do caminhoneiro no Brasil” com diversos caminhoneiros, que muitos dos que se envolvem com a exploração são homens casados e pais de família que buscam uma vida honesta, mas que sofrem com pressões e dificuldades cotidianas oriundas do seu próprio trabalho. Mas que 16% dos entrevistados afirmam que aceitam a prostituição infantil, mas que o mesmo não aconteceria se o fato fosse em sua família. Ainda justificam-se, dizendo que aceitam favores sexuais em troca de refeições ou dinheiro dado para as crianças e adolescentes e que isso lhes tem contribuído. Essa relação é muitas vezes vista como uma relação explorador-vitimador onde traz virtudes comerciaispor meio do serviço prestado que é imposto socialmente por conta das condições desfavoráveis que muitas vezes se encontram tais crianças e adolescentes. O que conflita com o pensamento dos caminhoneiros envolvidos com a exploração infanto-juvenil, que veem esse ato com uma relação de troca mútua entre partes que apresentam, por hora, necessidades especificas que podem ser supridas, onde todos “lucram” na relação. 6. UM PROBLEMA INVISIVEL? A capital do Estado, Fortaleza, é muito conhecida por ser uma das mais belas cidades do país, porém também é muito conhecida pelo seu alto grau de incidência no quesito turismo sexual. De acordo com a CPI da exploração sexual realizada na cidade em 2012, foram apontados 74 pontos de exploração sexual na cidade, que ligam-se a dezenas de estabelecimentos comerciais, sendo eles bares, restaurantes, hotéis, pontos de taxi, postos de gasolina. Quando se pensa em toda a extensão territorial da cidade, podemos notar que a Praia de Iracema tornou-se o cenário histórico do turismo sexual na cidade. Como forma de advertir a população a respeito da importância dos canais de denúncia, a Fundação da Criança e da Família Cidadã, juntamente com a Secretaria Municipal do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, criaram a campanha “Fortaleza Contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescente” no mês de maio de 2016. No entanto, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará mostra que as estatísticas do ano de 2015 foram de 334 denúncias na Delegacia Especializada, sendo que o estupro de vulnerável o mais frequente, cerca de 84% dos registros. Quando entre os meses de janeiro e abril do ano de 2016, foram atendidos 67 casos do mesmo delito, ou seja, houve um aumento de 3,66% de denúncias de crimes contra crianças e adolescentes. Além disso, segundo o Conselhos Tutelares do Sistema de Informação para a Infância e a Adolescência, entre 2011 e 2015, houveram 313 casos de abuso sexual infanto-juvenil em todo o Ceará. Sendo que, 129 foram praticados por membros da própria família, 180 por pessoas ligadas ao mesmo ciclo social familiar e os demais por cuidadores. No entanto, os percentuais levantados no Observatório da Criança e do Adolescente juntamente com a Secretaria Especial de Direitos Humanos relatou que houve uma redução no número de denúncias feitas pelo disque 100, no Ceará, nos anos entre 2011 e 2015. Mas a presidente da Funci, Tânia Gurgel alerta que, “enquanto nós tivermos casos registrados, não podemos comemorar. Essas práticas são violações danosas aos direitos humanos da criança e do adolescente”. Faz-se necessário ressaltar que a questão abordada ainda é envolvida por tabus sociais, medos, omissões e até a indiferença por parte de várias outras categorias da sociedade atuante. O que dificulta ainda mais a ação estatal em cima do problema. 7. CAUSAS Que a exploração sexual de crianças e adolescentes é um fenômeno mundial, nós já sabemos. Mas o que nos remete é que constitui uma situação em que não está associada apenas à pobreza e a miséria. O que diverge do que grande parte da população pensa, mas a exploração sexual está presente em todas as classes sociais e está integralmente ligada aos aspectos culturais, onde há uma desigualdade ampla entre os homens e as mulheres, assim como, adultos e crianças. Além do desenvolvimento de vícios em drogas que introduzem muitas vezes as crianças nessas situações deploráveis e de grande necessidade de amparo para que não venham a cair nas imposições da dependência química que as conduzem a vender seus corpos para estranhos, em busca de meios para a compra de drogas. A família também é parte responsável no desenvolvimento do mercado exploratório, tendo em vista que algumas dessas famílias não possuem uma base familiar solida, e sofrem muitas vezes com os conflitos que existem no ambiente familiar, e com tal desamparo as crianças e adolescentes se encontram em condições precárias, buscando então, lugares que possam se agenciar a exploração sexual, como forma de tentativa de fugir ou se ver livre de tais opressões e maus tratos. Sendo que, a realidade brasileira mostra que a idade média de adolescentes submetidos a essa prática varia de 10 e 19 anos, podendo ser tanto do sexo feminino quanto do masculino, pertencentes a todas as classes sociais e étnicas. 8. EFEITOS DA OFENSA SEXUAL Vale salientar que as consequências na vida da criança e do adolescente varia: da vergonha ao sofrimento psíquico. O que nos auxilia a entender de forma mais clara a forma preocupante de que toda forma de “violência sexual contra crianças e adolescente” remete às vítimas, comprometendo o seu crescimento sexual e psíquico em desenvolvimento. “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons” (Martin Luther King). 9. RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGRESSORES A ausência de previsão legal (tipificação) para determinadas condutas configurava-se como grande empasse na responsabilização criminal dos exploradores. No entanto, o legislador brasileiro tem buscado melhorar as normas aplicáveis aos crimes de exploração sexual comercial. A edição da Lei 11.829/08, modificou o art. 241 e introduziu no ECA os arts. 241-“A”, “B”, “C”, “D”, “E”, relativos à pornografia e cenas de sexo explícito, sendo assim imprescindível para a punição dos indivíduos que utilizam da internet como meio de uso para seus finalidades ilícitos. Outra mudança importante foi a inserção no Código Penal, pela lei 12.015/09, do art. 218-B, onde fala sobre “Favorecimento da Prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável”. Em seu §2º, do referido dispositivo traz de forma expressa a conduta do sujeito ativo, dizendo que incide no crime “quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 anos, na situação descrita no caput do artigo”. Tal previsão põe fim a discussão em torno do art. 244-A, do ECA (tacitamente revogado no nosso entendimento), que levou muitos abusadores à impunidade, pois alguns entendimentos eram no sentido de que o sujeito que fazia o programa sexual não cometia o crime, uma vez que a expressão/verbo “submeter” compreendia apenas o terceiro que levava a vítima à exploração e não o cliente. Cabe ainda salientar que, de acordo com (NUCCI, 2009, p. 55), o sujeito passivo do crime previsto no citado art. 218-B, do Código Penal, “é o maior de 18 anos e menor de 14 anos (afinal, qualquer exploração sexual de menor de 14 anos, configura estupro de vulnerável, ainda que na forma de participação)”. O estupro de vulnerável está previsto no art. 217-A, do Código Penal e também foi pela Lei 12.015/09 CONCLUSÃO. Após todo o estudo e análises realizadas e apresentados, constata-se que cada vez mais se faz necessário o aprimoramento e avanço das garantias sociais para que as crianças e adolescente não continuem sendo ainda levados para a exploração sexual comercial. É natural que a população como um todo e, até mesmo profissionais ou estudantes do direito, que exponham ideias “milagrosas” ou soluções básicas de resolução do mérito da questão da violência infanto-juvenil. Muito embora, ao pararmos para fazer uma análise minuciosa sobre o tema e sobre os fatores contidos nesse tipo de violência, sabemos que, sem a aplicação de políticas públicas severas, integradas e comprometidas, pouco se pode fazer a respeito. Embora diversos autores afirmarem que a pobreza não é considerada uma causa determinante para que crianças e adolescentes sejam explorados, é certo que esse é justamente um dos fatores que tornam a população, como um todo, vulnerável à exploração, de modo que a práticasatisfaça as suas necessidades mais básicas e fundamentais: saúde, alimentação, laser, educação, etc., devendo estar sempre inseridas em qualquer projeto que venha a ter como finalidade a intervenção eficaz na exploração sexual comercial. Além da implementação de ações de cunho preventivo voltadas para a satisfação das necessidades básicas referidas e programas que tenham como objetivo dar todo o amparo e atenção integral desde a primeira infância. Uma vez que a prática abrange suas respectivas famílias, auxiliando-as para que as crianças possam ter suas necessidades afetivas e limites atendidos, assim como, com a atuação de profissionais das mais diversas áreas da saúde nas residências, detectando qualquer grau de violência (negligencia, abuso sexual, maus-tratos) e encaminhando-as para o seu devido tratamento, diminuindo os possíveis riscos de um ingresso na exploração. REFERÊNCIAS: ADOLESCENTE, Centro de Defesa da Criança e do. Monitoramento da politica de atendimento às vitimas de violência sexual. 2013. Disponível em: <http://www.cedecaceara.org.br/v2/wp-content/uploads/2013/12/Miolo- Monitoramento-da-política-de-atendimento-às-vítimas-de-violência-sexual.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2017. ASCOM. Ação de Combate ao Abuso e Exploração de Crianças e Adolescentes é realizada em Monteiro. 2016. Disponível em: <http://deolhonocariri.com.br/outros/acao-de-combate-ao-abuso-e-exploracao-de- criancas-e-adolescentes-e-realizada-em-monteiro>. Acesso em: 23 fev. 2017. BRASIL, Instituto Wcf -. Perfil do Caminhoneiro no Brasil. 2015. Disponível em: <http://www.namaocerta.org.br/pdf/perfildocaminhoneiro.pdf>. Acesso em: 04 mar. 2017. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8069 de 13/07/1990. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. BRASIL. Código Penal. 1940. BUARQUE, Christovam. Lugar da Criança e na Escola. Brasília/ GDF, 1998. CAMPOS, Luana Domingues. EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES. 2009. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/exploracao-sexual-de-criancas-e- adolescentes/23289>. Acesso em: 23 fev. 2017. FLORENTINO, Bruno Ricardo Bérgamo. As possíveis consequências do abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/fractal/v27n2/1984-0292-fractal-27-2-0139.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2017. MELQUIADES JÚNIOR,. Alerta contra abuso sexual. 2011. Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/alerta-contra-o-abuso- sexual-1.658571>. Acesso em: 23 fev. 2017. NORDESTE, Diário do. Violência sexual contra criança cresce no Estado. 2016. Disponível em: <http://www.miseria.com.br/?page=noticia&cod_not=171016>. Acesso em: 23 fev. 2017. OKARIRI. BARBALHA: Programação de combate a exploração sexual de crianças e adolescentes é desenvolvida. 2013. Disponível em: <http://www.okariri.com/cariri/barbalha-programacao-de-combate-a-exploracao-sexual- de-criancas-e-adolescentes-e-desenvolvida/>. Acesso em: 23 fev. 2017. RODRIGUES2, Eliete Matias. DESAFIOS NO COMBATE À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES. 2010. Disponível em: <https://www.mprs.mp.br/areas/infancia/arquivos/revista_digital/numero_04/revista_di gital_ed_04_3.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2017. SODRÉ, Juracy de Jesus Araújo. Artigo – A exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias. 2006. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/2006/12/b-artigo-b-a-exploracao-sexual-de-criancas-e- adolescentes-nas-rodovias/>. Acesso em: 23 fev. 2017. VARGAS, Mariana Silveira; COGOY, Eliana; GAVIRAGHI, Fabio Jardel. Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. 2001. Disponível em: <http://seer.unipampa.edu.br/index.php/siepe/article/view/3030>. Acesso em: 23 fev. 2017.
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