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Uso de medicamentos durante a gravidez Adriana Vieira Pereira Rodrigues luna do Curso de Graduação em Enfermagem. Lucilene Coelho Souza Terrengui Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora. RESUMORESUMORESUMORESUMORESUMO O uso de algumas classes medicamentosas durante a gestação pode gerar efeitos teratogênicos, induzindo à malformações congênitas levando até a morte fetal, fato que muitas vezes as gestantes desconhecem. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica cujo objetivo é verificar o uso de medicamentos na gestação, correlacionando com a assistência pré-natal. A base de dados utilizada foi LILACS, usando como expressão: “medicamentos”, “prescrição médica”, “auto-medicação”, “auto-prescrição”, “gravidez” e “assistência pré-natal”. Como resultado verificou-se que a incidência de auto-medicação é mais alta no primeiro trimestre da gestação antes da primeira consulta do pré-natal. Nos meses restantes as gestantes tendem a usar medicamentos sob prescrição médica. Conclui-se que a assistência de enfermagem à gestante, compartilhada com o profissional médico, e a identificação desta problemática exige conhecimento do enfermeiro para prestar melhor assistência. A informação é a principal forma de evitar que as gestantes usem medicamentos sem prescrição médica. Descritores: Uso de medicamentos; Enfermagem obstétrica; Assistência pré-natal. Rodrigues AVP, Terrengui LCS. Uso de medicamentos durante a gravidez. Rev Enferm UNISA 2006; 7: 9- 14. 9Rev Enferm UNISA 2006; 7: 9-14. INTRODUÇÃO O uso de medicamentos na gravidez é um fato real e de grande relevância na área da saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) medicamento é “a droga utilizada com fins médicos” e droga “toda substância que introduzida no organismo vivo pode modificar uma ou mais funções deste”(1). O uso de medicamentos pode proceder por três tipos: prescrição médica, automedicação e autoprescrição. A prescrição médica ou receita médica, pode ser definida pela prescrição de um determinado medicamento ou terapêutica de uso humano pelos profissionais devidamente habilitados(2). Houaiss define automedicação como o consumo de medicamentos sem prescrição médica, prática difundida em vários países, inclusive no Brasil constituindo um dos principais problemas na gestação(3). Autoprescrição consiste no uso de medicamentos cujo uso requer a prescrição do profissional e que apresentam, em sua embalagem, tarja (vermelha ou preta) indicativa da necessidade e do controle(5). Tal prática pode trazer sérias conseqüências para a saúde da gestante e seu concepto(6). A gravidez é um momento único na vida de uma mulher e o nascimento de uma criança saudável é a expectativa dos pais(7-8). Durante o período gestacional ocorrem profundas alterações fisiológicas no corpo materno envolvendo todos os sistemas. Tais alterações levam a ajustes funcionais em resposta a carga fisiológica aumentada(9). Até meados do século XX, conforme teoria de Hammon, considerava-se que o útero era inexpugnável, tendo no seu interior o concepto protegido contra qualquer efeito deletério de agentes externos. Todas as dismorfoses eram atribuídas a causas genéticas(10). Entretanto a gestação compreende uma situação única, na qual a exposição à determinada droga envolve dois organismos e a resposta fetal, diante da medicação, é diferente da observada no organismo materno(1). O uso de medicamentos nesta fase pode resultar em alterações morfofisiológicas no feto(1,8). Talidomida: um marco no uso de fármaco na gestação No anos 60 a tragédia da talidomida marcou uma época. Tratava-se de um sedativo popular na Europa e Japão, onde era prescrito para mulheres grávidas, como antiemético no alívio de enjôos matinais. Sintetizada na Alemanha Ocidental em 1953, foi usado para o tratamento de alergias, posteriormente foi lançada no mercado em 1956 como anti- gripal e em outubro de 1957 como sedativo(7,10-11). Utilizada por milhões de pessoas em 46 países, Rev Enferm UNISA 2006; 7: 9-14.10 convertendo-se num dos fármacos mais populares da década de 50. No início dos anos 60, os pesquisadores provaram ser ela, a responsável direta pelo nascimento de bebês com malformações congênitas. Estima-se que, cerca de 10 mil bebês, a maioria deles, alemães, apresentou malformações ou virtualmente inexistência de braços e pernas, em conseqüência da ingestão da Talidomida, por suas mães, nos três primeiros meses de gestação. O fármaco interrompia o crescimento das extremidades nos embriões humanos e aumentava a ocorrência de natimortos. A Síndrome da Talidomida representando os casos de crianças que sofreram os efeitos do fármaco no início da gestação, com malformações extremamente graves, não só dos membros, mas principalmente de órgãos internos, entre estas, má formação cardíaca(7,10-11). A partir de 1962, com o reconhecimento da Talidomida como o medicamento responsável pela síndrome, o Governo Federal, através do Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina e Farmácia (SNFMF), cassou a licença dos produtos contendo Talidomida. O fármaco foi retirado do mercado, transformando-se em um pesadelo, então chamado de “a droga maldita”. Os efeitos desastrosos da Talidomida despertaram a sociedade para os riscos dos medicamentos e a partir daí, métodos de pesquisa e políticas de aprovação de novos fármacos foram revistos com mais cuidado e critério Este é um exemplo perfeito de um fármaco pouco testado antes de sua aprovação(7,10-11). Além da talidomida, pode-se citar o uso do medicamento misoprostol, indicado para úlcera gástrica e comercializado como Cytotec, que age aumentando o tônus uterino e induzindo ao aborto. Outro ação deste e que possui grande efeito teratogênico. Sua fabricação e comercialização foi proibida no final de 2005 e tal fato trouxe nos dias atuais grande repercussão(5-7,9-10). A Food and Drug Administration (FDA), órgão que controla os medicamentos nos Estados Unidos (EUA), utiliza uma classificação em categoria de risco potencial para o feto ou o lactente. Em 1990, um estudo de Friedman et al, demonstrou que o uso inadvertido de drogas na gestação induz a malformações congênitas. Esses autores apontaram discrepâncias em relação à classificação da FDA, sendo alteradas as classificações no mesmo ano(7,10-11). Considerando este contexto, os efeitos da medicação na saúde materna e em seu concepto este estudo tem como objetivo verificar o uso de medicamentos na gestação por prescrição médica, automedicação e autoprescrição, seus efeitos e riscos correlacionando-as com as intervenções de enfermagem. METODOLOGIA Tratou-se se um estudo de revisão de literatura considerando artigos localizados nas bases de dados bibliográficos LILACS, SCIELO E BDENF, usando como expressão de pesquisa os unitermos “medicamentos”, “prescrição médica”, “automedicação”, “autoprescrição” e “gravidez”. Os limites estabelecidos ou critérios de inclusão estabelecidos, foram: recorte temporal de 1985 a 2005, idioma português e o tipo de publicação (artigo científico). Outros textos foram obtidos por meio de pesquisa não estruturada na biblioteca local em consulta a livros-texto na área de obstetrícia e farmacologia. Também foi pesquisado o assunto e em sites de órgãos na área de Saúde da Mulher. A análise dos textos foi procedida inicialmente pela leitura crítica dos resumos obtidos via pesquisa bibliográfica nas referidas bases de dados bibliográficos. De acordo com a pertinência do resumo com o tema da pesquisa, foi feita a recuperação eletrônica do material completo e após foi procedida à leitura e fichamento. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para compreender a ação dos medicamentos na gestação é importante conhecer as fases do desenvolvimento fetal e como esta influi de forma diferente na formação do feto. O desenvolvimento pré-natal do feto desde a fecundação até o fim da vida intra-uterina é dividido em três fases,a saber: fase pré-embrionária, embrionária e fetal compreendendo respectivamente o período que abrange as três primeiras semanas após a fecundação, o período da 4ª a 8ª semana e o período neonatal(8). De acordo com cada fase do período gestacional o uso de medicamentos na gravidez pode ter maior ou menor influência na formação do concepto. O uso dos mesmos durante a gestação é um desafio, pois a maioria das drogas atravessa a barreira placentária e são consideradas teratogênicas(7). A placenta é vital para a vida fetal sendo um órgão especial que se forma para servir ao feto. Esta possui circulação fetal e materna (8) e proporciona tudo o que é necessário para desenvolvimento e crescimento normal(6). Suas caracterís- ticas funcionais incluem diferentes atividades tais como: transporte de oxigênio e de metabólicos da mãe para o feto, eliminação de produtos degradados pelo feto para a circulação materna e a produção de hormônios protéicos e esteróides para as necessidades do feto e da gravidez. Medicamentos e teratogenicidade Teratologia é o estudo dos processos biológicos e causas do desenvolvimento anormal e defeitos de nascimento. Um teratogêno é qualquer agente, incluindo fatores ambientais, que causa desenvolvimento fetal anormal. O termo terato vem da palavra grega que significa monstro. O termo mais preciso para defeitos de nascimento é “malformação congênita”. Uma concepção equivocada comum sobre teratogenecidade e de que ela envolve apenas defeitos físicos. Na verdade, muitos efeitos teratogênicos são funcionais e comportamentais e não se tornam evidentes até que a criança tenha idade na qual essas funções ou comportamentos se apresentam. Um termo mais abrangente para defeitos de nascimento que leva em conta defeitos funcionais ou comportamentais é “anomalias congênitas”(13). Medicamentos teratogênicos são aqueles considerados capazes de não só ultrapassar a barreira placentária e causar modificações morfológicas e neurológicas no feto, mas como aquele que pode agir na ocasião da concepção e implantação 11Rev Enferm UNISA 2006; 7: 9-14. do óvulo. Podem causar aborto espontâneo, anormalidades congênitas, retardo do crescimento intra-uterino, retardo mental, carcinogênese e mutagênese. A exposição a fármacos na primeira fase do desenvolvimento embrionário pode matar o feto e a mulher nunca saber que ficou grávida(13,14). Inicialmente as drogas são incorporadas ao organismo materno através da corrente sanguínea a após alcançam o ser em formação. O concepto atua como um recipiente, e a placenta, interposta entre os dois organismos, atua como órgão regulador destas trocas, participando ativa ou passivamente no processo(13,14). Os fármacos capazes de ultrapassar a barreira placentária, atuam de forma distinta e com maior ou menor grau de teratogenicidade dependendo da idade gestacional do feto(10). De acordo com o tempo de ocorrência das malformações, designam-se os defeitos como ocorridos no: - Período pré-concepcional: quando a droga atua sobre os gametas ensejando o aparecimento de concepto com defeitos; - Tempo ovular: sucedendo desde a formação do blastócito e seu período de pré-implantação, até a formação somitos; - Tempo embrionário: os defeitos determinados pelas drogas atuam na 3ª a 8ª semana; - Tempo fetal: quando a ação teratogênica ocorre no início da 9ª até a 40ª semana da vida intra-uterina(10). Neste estudo utilizou-se a classificação segundo o FDA, que categoriza os medicamentos conforme o risco para o feto ou lactente (Quadro 1). Por falta de dados, a maioria é classificada na categoria C. Informações do medicamento, indicações e contra-indicações, devem constar na bula (10,11). Uso de medicamentos na gestação Em uma pesquisa publicada em 2001 estão apresentadas as freqüências dos medicamentos prescritos segundo a classificação da FDA, seguida dos três medicamentos mais prescritos dentro de cada uma delas. Foram escolhidas as quatro primeiras categorias como amostra da pesquisa. - Classe A: Sulfato ferroso, Ferro e Vitamina A – 37,5% - Classe B: Paracetamol, Nistatina, Cefalexina – 57,5% - Classe C: Hioscina, Hidróxido de alumínio, Vitamina B6 – 26,6% - Classe D: Iodeto de potássio, Tetraciclina (assoc), Indometacina – 1,5% Pode-se observar maior prevalência do uso nos medicamentos de categoria B de risco ao feto, ou seja, não demonstram risco de malformações. Essa pesquisa torna-se importante uma vez que o uso foi através de prescrição médica, em uma unidade do Sistema Único de Saúde (SUS)(15). A indicação do uso de um medicamento pode proceder por diversas formas, porém sem o conhecimento do poder teratogênico durante o período gestacional. Normatização de medicações no Pré Natal de baixo risco Uma das atribuições do enfermeiro na atenção básica de saúde é o acompanhamento compartilhado com o médico do pré-natal de baixo risco. Tendo como parâmetro o Manual de Pré-natal do Ministério da Saúde (MS), este normatiza a utilização de quatro medicações descritas no Quadro 2 pelo pre-natalista seja ele médico ou enfermeiro. A justificativa do uso de tal medicações é para promover melhor estado físico materno-fetal(16). Sabe-se que o uso excessivo dos medicamentos expostos na figura acima não é recomendado, para não causar possível toxicidade. È necessário informar a gestantes o risco da super dosagem, expondo o que pode vir a acontecer ao feto. A deficiência de alguns nutrientes pode gerar problemas no desenvolvimento da gestação. Entre estes pode-se citar a deficiência ferropriva, onde cerca de 300mg de ferro da mãe são transferidos para o feto e para a placenta, podendo gerar anemia a mãe e consequentemente para o feto ao nascer (8). A prescrição de sais de ferro está recomendada pela OMS, que devida às altas taxas de anemia nos países de terceiro mundo, deve-se ministrar tais medicamentos a todas as mulheres nos últimos quatro a cinco meses de gravidez. Devido a má absorção do sal, as preparações de ferro frequentemente podem causar alterações gastrointestinais Quadro 1. Classificação da FDA em categorias de risco para o uso de drogas na gravidez(11). Classe Risco gestacional A Estudos controlados em mulheres não demonstraram risco fetal no primeiro trimestre. Não há evidencia de riscos nos últimos trimestres. A possibilidade de dano fetal parece remota. B Estudos em animais em reprodução não demonstram risco fetal, mas não existem estudos controlados em mulheres grávidas ou estudos em animais em reprodução mostram efeito adverso (que não há diminuição da fertilidade) que não foram confirmados em estudos controlados em gestantes no primeiro trimestre (e não há evidencia de riscos nos últimos trimestres) C Estudos em animais revela efeitos adversos no feto (efeitos teratogênico, embriocidas ou outros) e não existem estudos controlados em mulheres. Essas drogas só devem ser administradas se o beneficio potencial justifica o risco potencial para o feto D Há evidencia positiva fetal humano, mas os benefícios do uso em gestantes podem ser aceitáveisapresar do risco (p.ex; se a droga for necessária em uma situação de risco de vida ou para uma doença grave drogas mais seguras não podem ser usadas ou são ineficazes). Haverá uma recomendação apropriada na secção de avisos da bula. X Estudos em animais ou seres humanos demonstram anormalidades fetais ou há evidencia de risco fetal baseado em experiência humana ou em ambos, e o risco de utilizar a droga em gestante claramente sobrepuja qualquer possível beneficio. A droga esta contra-indicada para mulheres que estão ou podem estar grávidas. Haverá uma recomendação especial na secção de contra-indicação da bula. Rev Enferm UNISA 2006; 7: 9-14.12 e estudos sugerem propriedades teratogênicas quando da sua ingestão no primeiro trimestre de gravidez(15). Em relaçãoao ácido fólico, vitamina hidrossolúvel do complexo B, sabe-se que a deficiência materna ou a utilização de medicamentos antagonistas do seu metabolismo no período periconcepcional, fase compreendida entre um a dois meses antes do último período menstrual, estão associados a um aumento do risco de defeitos no tubo neural (DTN). Considerando a dose diária recomendada nota-se que uma grande porcentagem das gestantes usam dose superior. Vale ressaltar que até a concentração de 0,8mg/ dia, o ácido fólico é considerado categoria A de risco ao feto e acima disto passa a ser categoria C. Referente a Vitamina A doses acima de 10 mil UI de Vitamina diárias são consideradas categoria X, portanto de risco ao feto(15). Como pode-se constatar nas citações acima, a dosagem de qualquer medicamento pode mudar a sua categoria de risco e esta vir a ser teratogênico. Portanto, teratogenicidade Quadro 2. Medicamentos indicados na gestação(6,16). Medicamento Classe Terapêutica Indicações Dose Fator de risco Ácido Fólico Vitamina Anemia 5mg comp/dia até 14ª sem A Sulfato Ferroso Vitamina Anemia De acordo com Hb 300mg 30 min antes da refeição, com suco cítrico. A Vitamina A Vitamina Formação óssea - A Vitamina B12 Vitamina Anemia - Quadro 3. Relação das doenças pré-existentes mais comums, medicamentos mais usados segundo o seu fator de risco segundo a FDA e o risco fetal existente. Doença Medicamento Fator de risco (FDA) Risco fetal HAS Hidroclorotiazida D Anomalias , hipogligemia, trombocitopenia Asma Prednisona B Imunossupressão, depressão respiratória e hiperbilirrubinemia Epilepsia Fenitoína C Malformações geniturinárias, defeitos nos olhos e ouvidos, hipospádia, síndromes, hérnia inguinal. Arritmias cardíacas Metildopa C Diminuição do vol Intracraniano, Diminuição da PS, cardiopatia congênita Diabetes Diabenese D Anomalias de mãos e dedos, estenose do íleo inferior, óbito, micorcefalia. Quadro 4. O uso de medicamentos das seis classes mais utilizadas, medicamentos e modificações morfofisiológicas fetais relacionadas. Classe terapêutica Medicamento Alterações Morfofisiológicas Analgésicos Dipirona Paracetamol Ácido acetilsalicílico HIC em prematuros, diminuição da capacidade de ligação da albumina, pequena hemorragia no RN. Antiespasmódicos Butilescolopolamina Metoclopramina Taquicardia, diminuição e desaceleração cardíaca e letargia ----- Antiinfecciosos e anti-sépticos ginecológicos Nistatina Metronidazol Miconazol Hidrocele e luxação congênita (quando utilizado no início da gestação) ----- Antianêmicos Sulfato ferroso Ácido fólico Defeitos no tubo neural (DTN) Antiácidos Sais de cálcio Sais de Magnésio Sais de alumínio Antimicrobianos Ampicilina Cefalexina Penicilina G benzatina ----- Ciclopia (quando usado em doses elevadas) 13Rev Enferm UNISA 2006; 7: 9-14. está correlacionada com o tipo da droga e sua dosagem também. Em pesquisa realizada em 2002 na qual entrevistou 1000 puérperas foi encontrada a prevalência de 8,6% de doenças crônicas. As patologias mais freqüentes eram hipertensão arterial sistêmica (30,2%), asma (11,6%), epilepsia (9,3%), arritmias cardíacas (5,8%) e diabetes (4,6%). Modificaram ou interromperam o uso desses medicamentos somente 47,7% quando identificaram que estavam grávidas, situações graves, pois as medicações utilizadas predsnisona, hidroclorotiazida e fenitoína, são classificadas respectiva- mente como fator de risco B, C e D (Quadro 3). Das pacientes portadoras de doenças crônicas fazendo uso regular de medicamentos, 32,5% apresentavam em sua historia gestacional abortamento espontâneo e 11,6%, fetos natimortos (17). É importante o prenatalista considerar o estado de saúde da mulher antes da gravidez, doenças pré-existentes e história gestacional, pois tais dados podem alterar o risco da gestação. A utilização de medicamentos por gestantes deve ser considerada um problema de saúde pública, pois existem inúmeras lacunas sobre suas conseqüências ao feto e à gestante(15). O uso de medicamentos é um risco real a saúde do binômio mãe/feto, e os esclarecimentos sobre suas conseqüências são pouco divulgados nos dias de hoje. O Quadro 4 demonstra quais são as seis classes terapêuticas mais utilizadas pelas gestantes segundo a literatura brasileira. CONCLUSÃO De acordo com os dados que expostos no trabalho o uso de medicamentos seja por prescrição médica, automedicação ou autoprescrição possui uma grande incidência entre a população de gestantes. A realização deste estudo permitiu agregar um corpo de conhecimento teórico sobre a terapêutica medicamentosa na gestação apontando esta ser como um problema de saúde pública. As gestantes apresentam desconhecimento dos riscos da automedicação e autoprescrição neste período. A enfermagem tem um papel importante no que se refere a orientação à gestante sobre o uso de medicamentos no período gestacional, o que exige do profissional conhecimentos sobre a gestação e o uso de fármacos, bem como contra-indicações e reações possíveis. Entre as gestantes os medicamentos usados geralmente por autoprescrição é mais comum no início da gravidez, antes mesmo do diagnóstico clínico da mesma. No primeiro trimestre o uso diminui quando já houve a primeira consulta de pré-natal. A automedicação é a ultima opção de escolha das gestantes Embora haja pouca publicação cientifica pela enfermagem abrangendo este assunto a mesma possui um compromisso nesse particular, visto a consulta de pré-natal ser alternada com o profissional médico como é preconizado pelo Programa de Pré-natal (MS). Observa-se então a necessidade de se publicar sobre o assunto. Há necessidade de uma olhar mais criterioso e minucioso sobre a problemática do uso de medicação na gestação visto estudos apontarem abortamento espontâneo, efeitos teratogênicos e natimortos. Tais fatos nos remetem a reflexão de que o enfermeiro que atua no pré-natal e na assistência à mulher deve estar alerta para os dados do histórico da mulher na tentativa de correlacionar o uso de medicação na gestação. Se os profissionais desenvolvessem esta crítica poderia ser minimizado muito destes problemas, pois assim seria apontado para a indústria farmacêutica e verdadeiro efeito das drogas no período gestacional, classificando-a de forma correta. REFERÊNCIAS 1. Gomes KRO, Moron AF, Silva RS, Siqueira AAF. Prevalência do uso de medicamentos na gravidez e relações com características maternas. Rev Saúde Pública 1999; 33(3). 2. Ordem dos médicos. Site; 2006. [citado em: 30 jun 2006]. Disponível em: URL: http://www.ordemdosmedicos.pt 3. Houaiss A, Villar MS. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 1a ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva; 2001. 4. Gomes MJVM, Reis AMM. Ciências farmacêuticas: Uma abordagem em farmácia hospitalar. 1ºed. São Paulo: Atheneu; 2003. 5. 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