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Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Felipe Augusto de Toledo Moreira Rafael de Arruda Alvim Pinto BREVÍSSIMAS NOTAS AO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 2ª Edição 2015 Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 NOTA À 2ª EDIÇÃO É com muita alegria que lançamos a 2ª edição desse E-book contendo brevíssimas notas ao Novo Código de Processo Civil (Lei Federal nº 13.105/2015), que entrará em vigor no dia 18 de março de 2016. A primeira edição deste trabalho foi disponibilizada como bônus àqueles que adquiriram os acessos para um dos dois Encontros Online que foram organizados e promovidos pelo Instituto de Direito Contemporâneo – IDC nos meses de Agosto/2014 e Março/2015, respectivamente. Considerando as inúmeras mensagens e sugestões que diariamente recebemos dos nossos leitores, bem como a necessidade de compilar e ampliar as sucintas análises que temos feito semanalmente de alguns temas que entendemos relevantes do Novo Código, decidimos preparar e publicar esta 2ª edição. Este trabalho pretende ser claro, objetivo e extremamente prático, envolvendo algumas citações doutrinárias e jurisprudenciais que entendemos necessárias para o debate de alguns pontos, sem, entretanto, perder de vista a sua finalidade primeira: formar, com certo grau de profundidade teórica, um manual didático, honesto e resoluto sobre os principais pontos do Novo Código de Processo Civil. Muito embora ainda existam muitos outros temas a tratar (bem como a tratar com maior profundidade), o formato digital nos permite oferecer aos que nos acompanham uma forma muito simples de atualização até a entrada em vigor do NCPC (quando se terá uma versão final completa e atualizadíssima): os que adquiriram o acesso a este produto, automaticamente também obterão o direito ao acesso posterior gratuito a todas as próximas edições deste E-book, sem qualquer custo adicional. Boa leitura! Os Autores. Junho de 2015. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 6 VETOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA .................................................................................. 9 ESTRUTURAÇÃO GERAL DO NOVO CÓDIGO .......................................................................... 11 PARTE GERAL ........................................................................................................................ 13 NORMAS FUNDAMENTAIS E O MODELO CONSTITUCIONAL DO PROCESSO CIVIL ............................ 13 BOA-‐FÉ OBJETIVA NO ÂMBITO PROCESSUAL .................................................................................. 15 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ..................................................................................................... 17 A ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO E JULGAMENTO ............................................................ 20 APLICAÇÃO SUPLETIVA E SUBSIDIÁRIA DO NCPC AOS PROCESSOS ELEITORAIS, TRABALHISTAS E ADMINISTRATIVOS ......................................................................................................................... 23 CONDIÇÕES DA AÇÃO ..................................................................................................................... 26 JURISDIÇÃO INTERNACIONAL CONCORRENTE ................................................................................ 28 COMPETÊNCIA INTERNA ................................................................................................................. 31 CONCILIAÇÃO, MEDIAÇÃO E OUTROS MÉTODOS DE SOLUÇÃO CONSENSUAL DE CONFLITOS ......... 33 PROCESSO “EM TRÂNSITO” -‐ TRASLATIO IUDICI ............................................................................. 34 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS ............................................................................. 35 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ......................................................................................................... 38 ASSISTÊNCIA SIMPLES E LITISCONSORCIAL ..................................................................................... 39 DENUNCIAÇÃO DA LIDE .................................................................................................................. 41 CHAMAMENTO AO PROCESSO ....................................................................................................... 45 INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ................................................. 46 AMICUS CURIAE ............................................................................................................................. 48 NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS .............................................................................................. 51 PRAZOS PROCESSUAIS E “FÉRIAS FORENSES” ................................................................................. 55 NULIDADES PROCESSUAIS .............................................................................................................. 56 TUTELA PROVISÓRIA ...................................................................................................................... 58 TUTELAS PROVISÓRIAS DE URGÊNCIA EM CARÁTER ANTECEDENTE ................................................ 61 Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 5 TUTELA DA EVIDÊNCIA ................................................................................................................... 65 PARTE ESPECIAL .................................................................................................................... 68 PROCEDIMENTO COMUM E INCIDENTES PROCESSUAIS .................................................................. 68 SANEAMENTO COMPARTILHADO ................................................................................................... 69 ATA NOTARIAL COMO MEIO DE PROVA TÍPICO .............................................................................. 71 DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA ............................................................................. 73 PROVA EMPRESTADA ..................................................................................................................... 76 PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA .............................................................................................. 78 DEPOIMENTO PESSOAL .................................................................................................................. 80 CONFISSÃO ....................................................................................................................................82 EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO OU COISA ............................................................................................ 84 PROVA DOCUMENTAL .................................................................................................................... 86 PROVA TESTEMUNHAL ................................................................................................................... 89 PROVA PERICIAL E INSPEÇÃO JUDICIAL ........................................................................................... 91 MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS ........................................................................................... 94 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ....................................................................................................... 98 SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO .............................................................................................................. 101 PROCESSO DE EXECUÇÃO ............................................................................................................. 103 PRECEDENTES .............................................................................................................................. 105 INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS .............................................................. 108 SISTEMA RECURSAL ...................................................................................................................... 110 APELAÇÃO .................................................................................................................................... 111 AGRAVO DE INSTRUMENTO ......................................................................................................... 114 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ....................................................................................................... 117 RECURSOS AOS TRIBUNAIS SUPERIORES ...................................................................................... 121 USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL ......................................................................................................... 122 BREVES CONCLUSÕES ......................................................................................................... 124 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 125 REMESSA NECESSÁRIA .............................................................................................................. 96 Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 6 INTRODUÇÃO Enfim publicada a Lei Federal nº 13.105, de 16 de março de 2015, instituindo o Novo “Código de Processo Civil”, que entrará em vigor no dia 18 de março de 2016 (um ano de vacatio legis – NCPC, art. 1.045). Uma das discussões que se têm travado na doutrina é no sentido de saber se esse “Novo Código” é novo mesmo ou se não se trata, pura e simplesmente, de mais uma reforma do que está em vigor. Aos olhos de parte dos estudiosos do direito do país, trata-se de uma reforma do CPC vigente, porque não há grandes alterações, não há mudança de paradigmas. No entanto, outros entendem que, no campo do direito, as alterações devem ser lentas, porque devem acompanhar as necessidades sentidas na sociedade. E, como se sabe, as sociedades se modificam lentamente. Segundo essa parcela de estudiosos, a alteração do direito não se dá apenas com “boas ideias”, mas com ideias que, além de boas, possam ser assimiladas e bem utilizadas pelos operadores, para que gerem resultados positivos para a sociedade. Trata-se, assim, de uma perspectiva pragmática. Nesse sentido, é bom lembrar a advertência: “Não se quis, com o novo Código, ‘zerar’ o direito processual, fazer ‘tábula rasa’ de tudo o que existe. Quis-se, sim, inovar, a partir do que já existe, respeitando as conquistas. Dando-se passos à frente. Assim é que devem ocorrer as mudanças das ciências ditas sociais, da lei, da jurisprudência: devagar. Porque também devagar mudam as sociedades. Nada de mudanças bruscas, que não correspondem àquilo que se quer, que assustam, atordoam e normalmente não são satisfatoriamente assimiladas. Não há razão para não se manter tudo o que de positivo já tínhamos concebido. Nada como se engendrar um novo sistema, de forma equilibrada, entre conservação e inovação.” (Teresa Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 7 Arruda Alvim WAMBIER, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO e Rogério Licastro Torres de MELLO. Primeiros comentários ao Novo CPC: artigo por artigo, p. 51). De fato, o Novo Código pretende encerrar muitas discussões doutrinário-jurisprudenciais, tomando posições firmes acerca de determinados temas ainda polêmicos, além de inovar em matérias não positivadas, como é o caso, por exemplo, da disciplina própria para o amicus curiae, agora visto como uma das formas de intervenção de terceiros (NCPC, art. 138). Portanto, ainda segundo essa óptica, as alterações trazidas pelo novo CPC, que são muitas, não inovam mais do que de deveriam inovar. Parece que, de fato, o que há de novo no CPC já estava de certa maneira potencialmente presente nas críticas da doutrina, nas queixas dos juízes, dos advogados, naquilo que já estava sendo objeto de discussões em congressos, cursos e encontros de processualistas. Vamos a mais alguns exemplos. O sistema está mais organizado, o que facilita seu manuseio. O Novo Código tem uma Parte Geral (NCPC, arts. 1º a 317) – o que acaba com as discussões sobre se determinado instituto, que hoje está na parte do Código que trata do processo de conhecimento, por exemplo, aplica-se ou não à execução. Todas as espécies de tutela que podem ser concedidas com base em cognição não completa – tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, ou de evidência – estão tratadas conjuntamente (NCPC, arts. 294 a 311). Hoje a tutela antecipada está separada da tutela cautelar. Alguns procedimentos especiais foram extintos, porque, à luz da versão atual do CPC – depois de todas as reformas por que passou – nada mais tinham de especiais. Em contrapartida, se prevê a possibilidade de as Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 8 partes e o juiz construírem, em certa medida, o procedimento, adaptando-o às peculiaridades do caso concreto (NCPC, art. 190). As alterações, quanto aos recursos, não foram no sentido de diminuir drasticamente as espécies. Não há mais agravo retido, mas se alterou o regime da preclusão (NCPC, art. 1.009, §1º). Portanto, a extinção desse recurso não muda nada para a parte. O único recurso que foi, de fato, excluído do rol, foram os embargos infringentes (NCPC, art. 994). Os recursos especial e extraordinário sofreram alterações que os tornam mais eficientes (NCPC, arts. 1.029 a 1.041). Com isso, quer-se dizer que há modificações interessantes, todas com o objetivo de fazê-los gerar decisões de mérito, como, por exemplo, dispositivos que desencorajam a jurisprudência excessivamente rigorosa quanto à admissibilidade, dita “defensiva”. Deu-se ênfase às formas extrajudiciais de resolução de conflito,tendo- se, por exemplo, criado uma audiência – em que pode haver mediação ou conciliação – na qual as partes devem comparecer caso não se expressem, ambas, no sentido de não o quererem, antes mesmo de ser apresentada a contestação (NCPC, art. 334). Proibiram-se as decisões-surpresa: mesmo que se trate de matéria de ordem pública, deve o juiz sempre proporcionar às partes a possibilidade de se manifestar antes da decisão (NCPC, art. 10). Enfim, nada há de “outro planeta”. Mas isso, segundo a grande maioria dos doutrinadores, é muito bom! Até porque, como se sabe, alterações da lei não têm o condão de, sozinhas, fazer operar milagres. Para que a lei produza bons resultados, é necessário que seja interpretada e aplicada por homens que a compreendam e que, com boa vontade, queiram extrair dela todo o seu verdadeiro potencial. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 9 VETOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Após análise por parte da Presidência da República, a Mensagem nº 56, de 16 de março de 2015, trouxe as razões para os vetos em relação a 07 dispositivos do Novo Código, todos fundamentados na contrariedade ao interesse público, nos termos do artigo 66, §1º, da Constituição Federal. De forma esquematizada, temos: NORMA VETADA TEXTO DA NORMA RAZÕES DO VETO Art. 35 “Art. 35. Dar-se-á por meio de carta rogatória o pedido de cooperação entre órgão jurisdicional brasileiro e órgão jurisdicional estrangeiro para prática de ato de citação, intimação, notificação judicial, colheita de provas, obtenção de informações e cumprimento de decisão interlocutória, sempre que o ato estrangeiro constituir decisão a ser executada no Brasil.”. “Consultados o Ministério Público Federal e o Superior Tribunal de Justiça, entendeu-se que o dispositivo impõe que determinados atos sejam praticados exclusivamente por meio de carta rogatória, o que afetaria a celeridade e efetividade da cooperação jurídica internacional que, nesses casos, poderia ser processada pela via do auxílio direto.”. Arts. 333 e 1.015, inciso XII Todo o capítulo que tratava da conversão da ação individual em ação coletiva; e “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: (...)XII - conversão da ação individual em ação coletiva;” “Da forma como foi redigido, o dispositivo poderia levar à conversão de ação individual em ação coletiva de maneira pouco criteriosa, inclusive em detrimento do interesse das partes. O tema exige disciplina própria para garantir a plena eficácia do instituto. Além disso, o novo Código já contempla mecanismos para tratar demandas repetitivas. No sentido do veto manifestou-se também a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB.”. Art. 515, inciso X Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo “Ao atribuir natureza de título executivo judicial às Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 10 cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: (...) X - o acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo quando do julgamento de acidentes e fatos da navegação.”. decisões do Tribunal Marítimo, o controle de suas decisões poderia ser afastado do Poder Judiciário, possibilitando a interpretação de que tal colegiado administrativo passaria a dispor de natureza judicial.”. Art. 895, §3º “Art. 895. (...) § 3o As prestações, que poderão ser pagas por meio eletrônico, serão corrigidas mensalmente pelo índice oficial de atualização financeira, a ser informado, se for o caso, para a operadora do cartão de crédito.”. “O dispositivo institui correção monetária mensal por um índice oficial de preços, o que caracteriza indexação. Sua introdução potencializaria a memória inflacionária, culminando em uma indesejada inflação inercial.”. Art. 937, inciso VII “Art. 937. Na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo relator, o presidente dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente, ao recorrido e, nos casos de sua intervenção, ao membro do Ministério Público, pelo prazo improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um, a fim de sustentarem suas razões, nas seguintes hipóteses, nos termos da parte final do caput do art. 1.021: (...)VII - no agravo interno originário de recurso de apelação, de recurso ordinário, de recurso especial ou de recurso extraordinário;”. “A previsão de sustentação oral para todos os casos de agravo interno resultaria em perda de celeridade processual, princípio norteador do novo Código, provocando ainda sobrecarga nos Tribunais.”. Art. 1.055 “Art. 1.055. O devedor ou arrendatário não se exime da obrigação de pagamento dos tributos, das multas e das taxas incidentes sobre os bens vinculados e de outros encargos previstos em contrato, exceto se a obrigação de pagar não for de sua responsabilidade, conforme contrato, ou for objeto de suspensão em tutela provisória.”. “Ao converter em artigo autônomo o § 2o do art. 285-B do Código de Processo Civil de 1973, as hipóteses de sua aplicação, hoje restritas, ficariam imprecisas e ensejariam interpretações equivocadas, tais como possibilitar a transferência de responsabilidade tributária por meio de contrato.”. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 11 ESTRUTURAÇÃO GERAL DO NOVO CÓDIGO Conforme já se apontou, atendendo a um antigo reclamo da doutrina, o Novo Código de Processo Civil tem uma Parte Geral, a consolidar as normas (princípios e regras) fundamentais do processo civil (arts. 1º a 12), e uma Parte Especial, a cuidar especialmente do processo de conhecimento, do cumprimento de sentença, do processo de execução e dos meios de impugnação das decisões judiciais. A aludida Parte Geral do CPC de 2015 possui 06 Livros distintos, que tratam, respectivamente, “Das Normas Processuais Civis” (arts. 1º a 15), “Da Função Jurisdicional” (arts. 16 a 69), “Dos Sujeitos do Processo” (arts. 70 a 187), “Dos Atos Processuais” (arts. 188 a 293), “Da Tutela Provisória” (arts. 294 a 311) e “Da Formação, Suspensão e Extinção do Processo” (arts. 312 a 317). A Parte Especial, por sua vez, apesar de mais extensa, possui apenas 03 Livros: “Do Processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença” (arts. 318 a 770); “Do Processo de Execução” (arts. 771 a 925); e “Dos Processos nos Tribunais e Dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais” (arts. 926 a 1.044). Por fim, cabe ressaltar que o Novo Código também possui um Livro Complementar a fim de tratar “Das Disposições Finais e Transitórias” (arts. 1.045 a 1.072), entre as quais se destacam os dispositivos sobre a vacatio legis (art. 1.045), o direito intertemporal (art. 1.046), a prioridade de tramitação processual (art. 1.048), as alterações em relação aos Juizados Especiais (arts. 1.062 a 1.066), a uniformização do procedimento para a oposição de embargos de declaração no Código Eleitoral (art. 1.067), a necessidade de o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promover pesquisas periódicas a fim de avaliar a efetividade das normas processuais (art. 1.069) Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 12 e a previsão da usucapião administrativa na Lei de Registros Públicos (art. 1.071). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 1425072070513 PARTE GERAL NORMAS FUNDAMENTAIS E O MODELO CONSTITUCIONAL DO PROCESSO CIVIL A par de consagrar o modelo constitucional do processo civil, repetindo normas constitucionais que tratam, por exemplo, da inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV e NCPC, art. 3º, caput), da razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII e NCPC, art. 4º, caput), do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5º, LV e NCPC, art. 7º), da proteção à dignidade da pessoa humana e dos princípios da legalidade, publicidade e eficiência (CF, art. 1º, III e 37, caput, e NCPC, art. 8º) e da fundamentação das decisões judiciais (CF, art. 93, IX e NCPC, art. 11), a Parte Geral do Novo Código (o “espírito” do CPC de 2015) também inova, especificando e aclarando a verdadeira finalidade social do processo civil: a pacificação social. Nesse sentido é que, ao repetir a norma constitucional que trata da razoável duração do processo, o Novo Código vai além, ressaltando que se deve buscar, em prazo razoável, “a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa” (art. 4º). Ao tratar do princípio da cooperação processual, novamente se tem o mesmo destaque: “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva” (art. 6º). Percebe-se, portanto, que a resolução do mérito passa a ser sinônimo de efetividade, pois é o que, de fato, resolve a questão de direito material e contribui para a pacificação social (acabando com a antiga crítica do “ganha mas não leva”). No entanto, contraditoriamente, por muito tempo o processo vem sendo utilizado como subterfúgio para não conhecer o mérito, Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 14 invertendo a lógica e destoando das aclamadas instrumentalidade e efetividade processuais. Essa posição política, por assim dizer, do CPC de 2015 fica muito clara em inúmeros outros dispositivos, que exigem uma postura proativa do magistrado, buscando sanar nulidades e julgar o mérito da demanda (NCPC, arts. 76, 139, inciso IX, 317, 321, 357, inciso IV, 370, 932, parágrafo único, 938, §1º, 1.007, §7º, 1.017, §3º e 1.029, §3º). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 15 BOA-FÉ OBJETIVA NO ÂMBITO PROCESSUAL Sobre o instituto da boa-fé, que aparece expressamente no CPC vigente apenas em seu artigo 14, inciso II, tratando dos deveres dos sujeitos processuais, cabe fazer algumas observações específicas, dada a sua importância para a nova Teoria Geral do Processo. No texto do NCPC, a expressão é referida em pelo menos três dispositivos distintos, quais sejam: i) artigo 5º – como dever de todo e qualquer sujeito do processo; ii) artigo 322, §2º – como princípio norteador da interpretação do pedido formulado; e iii) artigo 489, §3º – como princípio norteador da interpretação das decisões judiciais. Dessa forma, verifica-se que a boa-fé objetiva, seus deveres anexos (deveres de respeito, confiança, lealdade, cooperação, honestidade, razoabilidade etc.) e seus conceitos parcelares (supressio, surrectio, tu quoque, exceptio doli, venire contra factum proprium non potest e duty to mitigate the loss), muito caros aos civilistas (cf. Flávio TARTUCE. Manual de Direito Civil, p. 587), ganham importância central também para a Teoria Geral do Processo. Sobretudo a partir da publicação do Código Civil de 2002, os tribunais brasileiros passaram a prestigiar a boa-fé no campo do direito material, posicionando-a como tema principal dentro da teoria geral dos contratos. Eis o Enunciado nº 26 da I Jornada de Direito Civil do STJ/CJF: “A cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como exigência de comportamento leal dos contratantes.”. No campo do direito processual, também já se encontram decisões recentes do Superior Tribunal de Justiça utilizando o princípio da boa-fé para interpretar a conduta das partes (STJ, AgRg no REsp 1.439.136 e REsp 1.119.361). Nesse sentido, é dever dos sujeitos processuais se comportar Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 16 conforme a boa-fé, expressando a verdade em suas manifestações, colaborando para com a rápida solução do litígio (v. NCPC, art. 6º) e utilizando sem abuso seus poderes processuais. A litigância de má-fé permanecerá com as mesmas hipóteses já existentes no vigente artigo 17 (v. NCPC, artigo 80, I a VII). O teto para a multa, entretanto, em vez do atual 1% do valor da causa, irá para 10% do valor corrigido da causa (ou 10 salários mínimos nos casos de valor da causa irrisório ou inestimável), além da possível indenização para a parte prejudicada (NCPC, art. 81). Por fim, cabe ressaltar que o NCPC vai além, trazendo o princípio da boa-fé também para o campo hermenêutico, a nortear a interpretação dos pedidos formulados perante o Judiciário e das próprias decisões judiciais. Isso trará efeitos práticos sobretudo no âmbito recursal, no qual o tribunal deverá decidir desde logo o mérito quando, por exemplo, interposta a apelação e a causa estiver em condições de imediato julgamento, decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir (v. NCPC, art. 1013, §3º, II). Também para a hipótese de ajuizamento de ação rescisória fundada em violação manifesta de norma jurídica (v. NCPC, art. 966, V), o princípio da boa-fé, como norma jurídica que é, poderá ser invocado como fundamento para a rescisão. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 17 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO Se você digitar a palavra “contraditório” no instrumento de busca dentro do texto do CPC vigente, irá encontrar apenas uma ocorrência, qual seja: no atual artigo 536, que trata dos embargos de declaração, os quais deverão ser “opostos, no prazo de 05 dias, em petição dirigida ao juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não estando sujeitos a preparo”. Como se percebe, dentro desse contexto, o termo “contraditório” aparece em seu sentido adjetivo, e não substantivo. Não há, portanto, menção expressa ao princípio do contraditório no CPC de 1973, talvez pelo momento histórico que se passava à época. No texto do NCPC a situação se inverte: no artigo dedicado aos embargos declaratórios, utiliza-se a expressão “eliminar contradição” (art. 1.022, I); e o termo “contraditório” é utilizado apenas em seu sentido substantivo, em todas as 07 situações nas quais aparece. Vejamos cada uma delas. Logo no início do texto, no artigo 7º, é ressaltada a igualdade entre as partes, a paridade de tratamento e de armas para o litígio, devendo o juiz zelar pelo efetivo contraditório. Oportuna e adequada a consagração do princípio do contraditório na Parte Geral do NCPC, no papel de norma informadora de toda a nova sistemática processual, a demonstrar também conformidade em relação ao Texto Constitucional de 1988. No artigo 98, §1º, inciso VIII, que trata da gratuidade da justiça, é destacado que ela compreende também os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório. A parte final do dispositivo deixa claro, pois, de forma feliz, que se tratade um rol meramente exemplificativo, a exigir dos operadores do direito, e Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 18 principalmente do magistrado, sensibilidade em relação aos que, de fato, têm direito à gratuidade. Tratando dos vícios da sentença de mérito proferida sem a integração do contraditório, o artigo 115 do NCPC distingue situações de nulidade e ineficácia, a depender do tipo de litisconsórcio necessário existente: se unitário (no qual a decisão deve ser uniforme em relação a todos os litisconsortes), a sentença será nula; se simples, ineficaz apenas em relação ao que não foi citado. No artigo 329, inciso II, o NCPC indica a forma de respeito ao princípio do contraditório: até a fase de saneamento do processo, o autor poderá, com o consentimento do réu, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, ocasião na qual, em obediência ao contraditório, o réu poderá se manifestar no prazo mínimo de 15 dias e ainda requerer prova suplementar. No dispositivo dedicado à conhecida prova emprestada também há expressa menção à necessidade de respeito ao princípio do contraditório: “O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório” (art. 372). Ao tratar da coisa julgada material, o artigo 503 dispõe que: “A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida”. O parágrafo primeiro, por sua vez, acrescenta que a questão prejudicial, decidida expressa e incidentalmente no processo, também terá eficácia de coisa julgada material quando reunir os seguintes requisitos: i) dessa resolução depender o julgamento do mérito; ii) a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; e iii) o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. Mais uma vez o contraditório em sentido substantivo aparece expressamente no texto do Novo Estatuto Processual. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 19 Por fim, a última situação na qual aparece expressamente a menção ao princípio do contraditório no texto do NCPC é no artigo 962, §2º, que trata da execução da tutela de urgência concedida por decisão estrangeira. Assim, o referido dispositivo esclarece que isso deverá ser feito no Brasil por meio de carta rogatória e que a aludida tutela de urgência poderá ser executada mesmo se concedida sem a oitiva do réu, desde que isso seja garantido posteriormente, em obediência ao princípio do contraditório. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 20 A ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO E JULGAMENTO A ordem cronológica de conclusão e julgamento foi consagrada no debatido artigo 12 do CPC de 2015, que assim estabelece no caput: “Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão”. Segundo Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogério Licastro Torres de Mello: “Este artigo tem em vista privilegiar o aspecto da transparência em relação à atividade do Poder Judiciário, bem como favorecer a aplicação da máxima da razoável duração do processo, sob a ótica individual. Em seu desfavor, há a dificuldade, que a regra gera, no sentido de que os juízes administrem seus processos, seu cartório. De fato, há processos mais simples, outros mais complexos, e é comum que os juízes prefiram passar na frente os mais simples. Esta regra não permite a utilização deste critério e pode ocorrer que o julgamento de uma causa complexa represe dezenas, centenas de outras ações cuja solução poderia ser rapidamente concebida. Espera-se que a lista de exceções previstas pelo próprio NCPC minimize esse efeito, que dificulta, sob este aspecto, a atividade do juiz. Entendeu-se, todavia, que a regra traria mais vantagens do que desvantagens.” (Primeiros comentários ao Novo CPC: artigo por artigo, p. 70). O mesmo dispositivo conta ainda com seis parágrafos, que detalham algumas regras específicas sobre o tema. A primeira delas é de que a lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores (§1º). O parágrafo segundo, por sua vez, estabelece 09 exceções, isto é, nove hipóteses nas quais juízes e tribunais não precisarão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. Dentre elas Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 21 estão: as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido (I); o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos (II); o julgamento de recursos repetitivos ou incidentes de resolução de demandas repetitivas (III); as sentenças terminativas (IV); o julgamento de embargos de declaração e agravo interno (V e VI); entre outras. Interessante notar que também estarão excluídas da regra geral as preferências legais e as metas do Conselho Nacional de Justiça – CJN (VII), bem como qualquer causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada (IX). Essa última hipótese parece representar, em verdade, uma “norma de encerramento” (“norme di chiusura”), a permitir que o órgão julgador “tire da fila” qualquer demanda que seja reconhecida urgente por decisão fundamentada (rol meramente exemplificativo). Por um lado, é uma regra muito importante, tendo em vista que não há como prever todas as hipóteses de urgência. Por outro lado, trata-se de decisão, numa primeira análise, irrecorrível, dando poderes para o Juiz, Desembargador ou Ministro, ainda que por decisão fundamentada, a seu critério, “passar na frente” qualquer demanda judicial que repute urgente. Assim, é salutar que exista, portanto, algum tipo de controle dessas decisões, sob pena de desvirtuamento de toda a ideia de igualdade que há por trás do artigo 12 do Novo Código de Processo Civil. Além disso, cabe ressaltar que o requerimento feito pela parte não altera a ordem de sua demanda na “fila”, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência (§§4º e 5º). Ainda, duas serão as situações nas quais a demanda ocupará necessariamente o primeiro lugar na lista (§6º): quando tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 22 diligência ou complementação da instrução; e também se se enquadrar na hipótese do artigo 1.040, inciso II (reexame da demanda pelo órgão julgador de origem após a publicação do acórdão paradigma nos casos de julgamento de recurso especial ou extraordinário repetitivo). Por fim, cabe a reflexão sobre a necessária compatibilização desse dispositivo com o chamado “calendário processual” trazido pelo artigo 191 do CPC de 2015 (negócio processual típico). Dessa forma, caso as partes e o juiz fixem datas para a prática dos atos processuais, a prolação da sentença deverá obediência à ordem cronológica e às suas exceções. Assim, caso seja proferida em audiência, por exemplo, estará abarcada pela exceção previstano artigo 12, §2º, inciso I. Caso contrário, o calendário processual deverá necessariamente “terminar” antes da fase decisória, a fim de que a demanda ocupe o seu devido lugar na “fila de conclusão e julgamento”. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 23 APLICAÇÃO SUPLETIVA E SUBSIDIÁRIA DO NCPC AOS PROCESSOS ELEITORAIS, TRABALHISTAS E ADMINISTRATIVOS Muitas dúvidas giram em torno da aplicação supletiva e subsidiária do NCPC aos demais ramos do Direito. Nesse sentido, sem a pretensão de detalhar todas as nuances que esse amplo tema envolve, não se pode deixar de registrar algumas observações acerca do artigo 15 do CPC de 2015, que assim dispõe expressamente: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.”. De início, cumpre destacar a pertinente observação de Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogério Licastro Torres de Mello: “O legislador disse menos do que queria. Não se trata somente de aplicar as normas processuais aos processos administrativos, trabalhistas e eleitorais quando não houver normas, nestes ramos do direito, que resolvam a situação. A aplicação subsidiária ocorre também em situações nas quais não há omissão. Trata-se, como sugere a expressão ‘subsidiária’, de uma possibilidade de enriquecimento, de leitura de um dispositivo sob outro viés, de extrair-se da norma processual eleitoral, trabalhista ou administrativa um sentido diferente, iluminado pelos princípios fundamentais do processo civil. A aplicação supletiva é que supõe omissão. Aliás, o legislador, deixando de lado a preocupação com a própria expressão, precisão da linguagem, serve-se das duas expressões. Não deve ter suposto que significam a mesma coisa, se não, não teria usado as duas. Mas como empregou também a mais rica, mais abrangente, deve o intérprete entender que é disso que se trata.” (Primeiros comentários ao Novo CPC: artigo por artigo, p. 75). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 24 Superada essa questão terminológica de clara influência pragmática, insta ressaltar que a autorização expressa para a aplicação supletiva e subsidiária do CPC já existe, por exemplo, no artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho, bem como no artigo 3º do Código de Processo Penal. Como não houve previsão expressa no NCPC em relação ao processo penal, ressalta-se o comentário de Cássio Scarpinella Bueno: “A questão, pertinentíssima, é saber se, não obstante esse silêncio, a aplicação continua a ser autorizada pelo art. 3º do CPP. A melhor resposta parece ser a positiva, o que se justifica até mesmo pela amplitude do texto da referida regra processual penal. De resto, nos casos em que o Código de Processo Penal faz expressa remissão ao Código de Processo Civil (art. 139 [depósito e administração de bens arrestados]; art. 362 [citação por hora certa]; e art. 790 [homologação de sentença estrangeira]), é irrecusável o prevalecimento da disciplina trazida pelo novo CPC.” (Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 52). Em relação aos processos eleitorais, importantíssimo o papel do CPC, por exemplo, nos procedimentos voltados à tutela cautelar (agora tutela de urgência de natureza cautelar) e nos recursos eleitorais, conforme decisões do TSE nesse sentido (REspe 4221719.2008/RN e AgR-AI 692.2011/MG). No âmbito do processo do trabalho, destacam-se também os artigos 836 (ação rescisória), 896, §3º (dever de uniformização da jurisprudência por parte dos TRTs), 896-B (recursos de revista repetitivos), 896-C, §§8º (amicus curiae na Justiça do Trabalho) e 14 (recurso extraordinário interposto perante o TST), todos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Por fim, quanto ao processo administrativo, inegável a aplicação dos dispositivos relacionados às modalidades de intervenção de terceiros (com as necessárias adaptações) e também das garantias processuais, Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 25 notadamente em relação aos processos administrativos disciplinares (cf. STJ, RMS 29.036/ES). Não há dúvidas de que a Parte Geral do NCPC, ao tratar das “Normas Fundamentais do Processo Civil”, pretende-se mais abrangente e direcionada, em muitos pontos, à conformação de premissas de uma Teoria Geral do Processo revisitada, que certamente encontrará espaço em todos os “tipos” de processos, até por razões de uniformidade e respeito aos ditames constitucionais pertinentes. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 26 CONDIÇÕES DA AÇÃO Sem entrar nos detalhamentos doutrinários em torno da extinção ou não da categoria processual das “condições da ação” (principalmente em função da supressão dessa expressão no CPC de 2015 – v. CPC de 1973, art. 267, VI), fato é que o Novo Código é expresso ao declarar que “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade” (art. 17). Além disso, no dispositivo que trata da extinção do processo sem resolução do mérito, uma das hipóteses é “a ausência de legitimidade ou de interesse processual” (art. 485, VI). Observa-se, portanto, que a possibilidade jurídica do pedido desaparece desse campo, por se tratar nitidamente de questão de mérito que implica na solução definitiva da demanda, conforme há muito a doutrina já preconizava: “se o juiz, ao examinar a inicial, verifica existir vedação expressa no ordenamento jurídico material ao pedido do autor, deve indeferi-la liminarmente por impossibilidade jurídica, extinguindo o processo. Esse resultado, todavia, implica solução definitiva da crise de direito material. Embora tal conclusão seja possível mediante simples exame da inicial, o julgamento põe fim ao litígio, pois o autor não tem o direito afirmado. Pedido juridicamente impossível equivale substancialmente ao julgamento antecipado com fundamento no art. 330, I, do CPC. A pretensão deduzida pelo autor não encontra amparo no ordenamento jurídico e, por isso, deve ser rejeitada. Tanto faz que essa conclusão seja possível desde logo, porque manifesta a inadmissibilidade, ou dependa de reflexão maior por parte do juiz sobre a questão de direito.” (José Roberto dos Santos BEDAQUE, Efetividade do processo e técnica processual, p. 270). Não há dúvidas também que o magistrado, ao analisar a legitimidade e o interesse processual, adentre nos elementos de mérito da demanda. No entanto, nesses casos, diferentemente do que ocorre com a possibilidade Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 27 jurídica do pedido, a atividade jurisdicional não se esgota nesse momento, tendo em vista que ainda haverá uma crise de direito material a ser resolvida. Pelos mesmos motivos que a conhecida “carência da ação” (v. CPC de 1973, art. 301, X) também desaparece do Novo Código, sendo substituída, nos dispositivos que tratam das matérias a serem alegadas em preliminar de contestação, por “ausência de legitimidade ou de interesse processual” (NCPC, art. 337, XI). Em boa hora, pois, retomar-se-ão os estudos acerca de importantes questões da Teoria Geral do Processo. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 28JURISDIÇÃO INTERNACIONAL CONCORRENTE O Capítulo I (“Dos Limites da Jurisdição Nacional”), do Título II, do Livro II, da Parte Geral do Novo CPC traz oportuna adequação da nomenclatura, pois prefere a expressão “jurisdição”, em vez de “competência”, ao tratar das hipóteses nas quais a autoridade brasileira terá o poder jurisdicional para solucionar a lide em caráter definitivo, de maneira exclusiva ou concorrente, não delimitando quais órgãos exercerão a atribuição jurisdicional brasileira. Para determinar as fronteiras de atuação do Poder Judiciário Brasileiro, ordinariamente, recorre-se ao princípio da aderência, segundo o qual a jurisdição deve guardar correlação com o território no qual ela será exercida, até por razões de soberania nacional (NCPC, art. 21). Porém, em algumas hipóteses, ainda que as lesões a direitos não tenham se dado no território brasileiro (o que não exclui o poder jurisdicional de outro Estado soberano), o juiz nacional também processará e julgará o litígio por interesse no julgamento ou na efetividade da prestação jurisdicional (o país tem condições de fazer valer a sua decisão), com vistas à consecução da paz social, bem como pelo princípio da submissão (valoriza- se a vontade das partes no sentido de definir ou afastar a jurisdição de um país). Com base nesses critérios usualmente empregados no Direito Internacional, o NCPC acresceu 03 novas hipóteses em que a autoridade judiciária brasileira também poderá processar e julgar a causa, sem prejuízo da atribuição jurisdicional de outros países soberanos (art. 22), quais sejam: quando o credor de alimentos tiver domicílio ou residência no Brasil (positivando regra de direito internacional mais protetiva ao alimentado – vulnerável); ou quando o réu na ação de alimentos (alimentante) mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 29 renda ou obtenção de benefícios econômicos, pois a apreensão e penhora desses ativos será feita com mais viabilidade pela autoridade brasileira (inciso I); as ações decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil (inciso II – é regra de grande importância para definir a jurisdicional nacional nas causas em que o consumidor adquire produtos pela internet de fornecedores sem domicílio no território nacional e não recebe a mercadoria, sendo que o Brasil tem interesse no julgamento do litígio); em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional (inciso III – princípio da submissão). Trata-se de cláusula de eleição de foro em contrato internacional, com opção das partes negociantes pelo Judiciário Brasileiro. Essa cláusula só produzirá efeitos se constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico (NCPC, art. 63, §1°), além de versar sobre hipótese de jurisdição internacional concorrente (art. 25, §2°). Por simetria, ressalvadas as hipóteses de exclusividade da jurisdição brasileira, o art. 25, caput, do Novo Código também positivou a possibilidade de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, que somente será eficaz se arguida pelo réu na sua contestação. O art. 23, por sua vez, disciplinará a jurisdição brasileira exclusiva (não aceita que nenhum outro país julgue por questão de soberania nacional), ampliando para três as hipóteses legais, quais sejam: conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil (inciso I); em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional (inciso II – portanto, a transmissão mortis causa de quaisquer bens situados no Brasil será feita exclusivamente pelo Judiciário Brasileiro, ainda que ele aplique, no caso concreto, a lei estrangeira mais benéfica ao cônjuge ou filhos brasileiros, nos termos da Constituição Federal, Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 30 art. 5°, XXI); em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional (inciso III). Esse último inciso gera polêmica, pois parcela da doutrina entende que a autoridade brasileira será a única competente para decidir o divórcio, separação judicial ou dissolução da união estável, além da partilha de bens deles decorrente (cf. Cássio Scarpinella BUENO, Novo Código de Processo Civil Anotado, p. 60); enquanto outra corrente defende que o divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável poderão ser realizados em qualquer país, porém, a partilha de bens situados no Brasil será de jurisdição exclusiva brasileira (cf. Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO e Rogério Licastro Torres de MELLO. Primeiros comentários ao Novo CPC: artigo por artigo, p. 91). Por fim, se eventual decisão estrangeira for proferida nas hipóteses de jurisdicional nacional exclusiva, ela não será idônea para ser homologada pelo STJ (CF, art. 105, I, i) e, portanto, não terá aptidão para produzir efeitos no Brasil. Por outro lado, fora dessas hipóteses, “a pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil” (NCPC, art. 24, parágrafo único). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 31 COMPETÊNCIA INTERNA Nessa seara, trazendo regras de atribuição do poder jurisdicional aos órgãos do Poder Judiciário Brasileiro e, portanto, delimitando a sua competência, foi formulado o Título III, do Livro II, da Parte Geral do CPC de 2015: “Da competência interna”, composto pelos artigos 42 a 64. Com destaque à atuação do Poder Público em juízo, foram positivadas as seguintes regras de competência: i) quando a União, Estado ou Distrito Federal forem autores da demanda, o foro competente será o do domicílio do réu (NCPC, arts. 51 e 52, caput); ii) já quando a União, Estado ou Distrito Federal forem réus da demanda, o foro de competência concorrente será o do domicílio do autor, o lugar do ato ou fato que originou a demanda, o local de situação da coisa ou no Distrito Federal (se a União) ou na capital do respectivo ente federado (arts. 51, parágrafo único, e 52, parágrafo único). Trata-se, em verdade, de verdadeira regra de simetria que estende aos demais entes políticos a regra constitucional do art. 109, §2°, referente às demandas movidas em face da União. Os citados dispositivos não deixam claro se essa regra também será aplicada às demais pessoas jurídicas de direito público nas respectivas esferas federativas, mas essa nos parece a interpretação mais adequada. A regra geral de competência territorial permanece a mesma, qual seja: as ações fundadas em direito pessoal e real sobre móveis serão propostas, a princípio, no foro do domicílio do réu (NCPC, art. 46). Destacam-se, por outro turno, as modificações mais relevantes sobre as regras especiais de competência interna (art. 53): i) abandonou-se a regra da residência da mulher para as ações de separação, divórcio e anulação do casamento (art. 100, I, do CPC/73), fixando a competência para a ação de divórcio, separação,anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável no foro (em ordem de preferência legal): a) do Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 32 domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) do domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; ii) positivou-se na legislação processual civil norma já contida no art. 80 da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso), que estabelece o foro de residência do idoso como competente para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto (art. 53, III, “e”); iii) fixou-se competente o foro da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício (art. 53, III, “f”); iv) e, ainda, acrescentou-se que as ações de reparação de dano sofridos em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves, serão de competência do foro do domicílio do autor ou do local do fato. Por fim, ampliaram-se as hipóteses de conexão como forma de modificação da competência relativa (positivando entendimento jurisprudencial consolidado), que não mais se resume à identidade parcial dos elementos da ação (NCPC, art. 55, caput), podendo se dar também quando presente relação de prejudicialidade entre as demandas (a execução de título extrajudicial e a ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico; as execuções fundadas no mesmo título executivo – art. 55, §2º) ou, até mesmo, por afinidade, quando há risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias, devendo-se reunir os processos para julgamento conjunto, a exemplo da ação de usucapião e a reintegração de posse sobre o mesmo imóvel (art. 55, §3°). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 33 CONCILIAÇÃO, MEDIAÇÃO E OUTROS MÉTODOS DE SOLUÇÃO CONSENSUAL DE CONFLITOS O Novo Código de Processo Civil deixa claro o que já era evidente para a doutrina: o juiz pode e deve sempre indicar para as partes soluções consensuais de solução de conflitos. Trata-se de norma-diretriz tanto para as políticas públicas do Estado (NCPC, arts. 3º, §2º, 165 e 174), como para os magistrados, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público (arts. 3º, §3º e 359). Em resumo: todos devem buscar, primeiro, a solução consensual do conflito. Relembrando a frase de Washington de Barros Monteiro: “mais vale um mau acordo que uma boa demanda (melhor est certa pax quam sperata victoria). Ou, como dizem os italianos, ‘è meglio um magro accordo che una grassa sentenza’.” (Curso de direito civil, V. 5, p. 395). Tradicionalmente, sempre se entendeu que o juiz poderia e deveria propor que as partes entrassem num acordo na audiência, ou em qualquer momento do processo que estimasse oportuno. Mas agora o legislador vai mais longe: se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz deverá designar audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 dias de antecedência (NCPC, art. 334). Há norma legal expressa no sentido de que a “autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo” (art. 515, §2º). Em outras palavras, é dizer que o acordo judicial, ao qual as partes eventualmente venham a chegar no curso de uma demanda, pode abranger pontos que não estavam originariamente deduzidos – nem na petição inicial, nem na contestação – e pode também envolver pessoas diferentes das partes – terceiros. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 34 PROCESSO “EM TRÂNSITO” - TRASLATIO IUDICI Conforme já ressaltado, o CPC de 2015 resolve muitos problemas que os advogados enfrentam hoje. Esse foi um aspecto levado em conta pelo legislador: um Novo Código é, sem dúvida, uma oportunidade para que se ponha um fim a discussões intermináveis, que geram doutrina discordante e jurisprudência dividida. Nesse sentido, o Novo Código adotou expressamente o princípio da translatio iudici, que indica a forma de resolver a situação quando o processo está, por assim dizer, em trânsito (NCPC, art. 64, §4º). Por exemplo, quando fica decidido ser, determinada causa, que tramita perante a justiça estadual, da competência da justiça federal, os autos vão da Justiça estadual para a federal. A dúvida que surge: o que acontece, com a liminar proferida pelo juiz estadual enquanto o processo não chega na federal? É automaticamente revogada? O novo Código diz que não. Ela conserva seus efeitos até que o novo juiz reveja a situação. A liminar, então, poderá ser mantida ou cassada pelo magistrado competente. Assim, a decisão proferida pelo juízo incompetente se manterá incólume até que o juízo competente decida novamente e, caso silencie a respeito, seus efeitos permanecerão conservados. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 35 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS O Novo Código de Processo Civil revolucionou no campo dos honorários advocatícios sucumbenciais, definindo novos parâmetros, preenchendo diversas lacunas existentes na lei e solucionando antigas disputas doutrinário-jurisprudenciais. Uma das maiores conquistas da advocacia, ao lado da contagem dos prazos processuais apenas em dias úteis (v. NCPC, art. 219) e das “férias forenses” (suspensão dos prazos no período compreendido entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro de cada ano – v. NCPC, art. 220), sem dúvida está a nova regulamentação da fixação de honorários sucumbenciais (v. NCPC, art. 85). Tentaremos sintetizar as principais novidades. Os honorários sucumbenciais serão devidos, cumulativamente (§1º): • Na reconvenção; • No cumprimento de sentença, provisório ou definitivo; • Na execução, resistida ou não; • Nos recursos interpostos. O percentual de fixação será de 10 a 20% sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá- lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos, ainda, os seguintes parâmetros: o grau de zelo do profissional; o lugar de prestação do serviço; a natureza e a importância da causa; e o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço (§2º). Nas demandas nas quais a Fazenda Pública for parte (autora ou ré), os limites serão fixados em cinco “faixas” distintas (§3º): Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 36 PERCENTUAL DE HONORÁRIOS VALOR DA CONDENAÇÃO OU DO PROVEITO ECONÔMICO OBTIDO 10 a 20% Até 200 salários mínimos 08 a 10% Acima de 200 até 2.000 salários mínimos 05 a 08% Acima de 2.000 até 20.000 salários mínimos 03 a 05% Acima de 20.000 até 100.000 salários mínimos 01 a 03% Acima de 100.000 salários mínimos Ainda nesses casos, existe a ressalva de que, quando o valor da condenação ou do proveito econômico obtido ultrapassar 200 salários mínimos, que é a primeira “faixa”, a fixação do percentual de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa subsequente, e assim sucessivamente (§5º). Nesse sentido, se houver, por exemplo, um valor de proveito econômico obtido da ordem de 3.000 salários mínimos, o juiz deveráutilizar os seguintes parâmetros para a fixação de honorários: 10-20% para 200 salários mínimos (primeira “faixa”); 08-10% para 1.800 salários mínimos (segunda “faixa”); e 05-08% para os restantes 1.000 salários mínimos (terceira “faixa”). Na ação de indenização por ato ilícito contra pessoa, o percentual de honorários incidirá sobre a soma das prestações vencidas com mais doze prestações vincendas (§9º). Nos casos de perda do objeto, os honorários serão devidos por quem deu causa ao processo (§10). Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 37 trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial (§14). Nesse sentido, cabe destacar que houve uma opção legislativa expressa pela titularidade da verba honorária fixada judicialmente em favor do advogado da parte vencedora, bem como, por via de consequência, pela impossibilidade de compensação dos honorários sucumbenciais nos casos de sucumbência parcial (NCPC, arts. 85, caput e §14 e 86). Não restará, pois, mais amparo legal para o Enunciado nº 306 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça que já poderia ser cancelada inclusive antes da entrada em vigor do Novo Código. O advogado pode requerer que o pagamento dos honorários que lhe caibam seja efetuado em favor da sociedade de advogados que integra na qualidade de sócio, aplicando-se à hipótese o disposto no §14 (§15). Os honorários serão devidos quando o advogado atuar em causa própria (§17). Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e cobrança (§18). Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei (§19). Essas, portanto, as principais alterações no tocante aos honorários sucumbenciais no texto do NCPC. Dentre elas, deve-se destacar a fixação de honorários na fase recursal, regra que poderá diminuir consideravelmente a interposição de recursos protelatórios e que prestigia o trabalho do bom profissional numa etapa procedimental mais complexa. Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 38 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS No Título que trata “Da Intervenção de Terceiros”, o CPC de 2015 simplificou as modalidades, finalmente incluindo a assistência (arts. 119 a 124 – que no CPC/73 está fora do capítulo que trata da intervenção de terceiros), mantendo a denunciação da lide (arts. 125 a 129) e o chamamento ao processo (arts. 130 a 132), e acrescentando o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137) e o amicus curiae (art. 138). A oposição, por sua vez, tornou-se procedimento especial (NCPC, arts. 682 a 686) e a nomeação à autoria foi reposicionada no plano da correção da legitimidade passiva, possibilitando-se ao autor, no prazo de 15 dias após a contestação na qual o réu alega não ser parte legítima ou não ser o responsável pelo prejuízo alegado, alterar a petição inicial a fim de substituir o réu ou incluir o sujeito indicado como litisconsorte passivo (art. 338 e 339, §2°). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 39 ASSISTÊNCIA SIMPLES E LITISCONSORCIAL A figura da assistência não teve modificações substanciais no CPC de 2015, mas alguns pontos de aperfeiçoamento. Optou-se por trazer “disposições comuns” da assistência (arts. 119 e 120), além de regramento próprio da assistência simples (arts. 121 a 123) e litisconsorcial (art. 124). Desse modo, o assistente é o terceiro que ingressa, de forma voluntária, em processo pendente para aderir à pretensão de uma das partes, buscando uma decisão que lhe seja favorável e beneficiando-se, com mais ou menos intensidade, dos efeitos dessa decisão (por isso, juridicamente interessado). Assim, pacificando controvérsia doutrinária, o NCPC positivou que a assistência deve ser admitida em qualquer procedimento (comum, especial, de jurisdição voluntária etc.) e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre (art. 119, parágrafo único). Por fim, quanto às “disposições comuns”, foram alteradas duas regras procedimentais, quais sejam: i) não sendo o caso de indeferimento liminar do requerimento de assistência, o juiz intimará as partes para manifestação acerca do pedido dentro do prazo comum de 15 dias (NCPC, art. 120 – e não mais 05 dias, como prevê o art. 51 do CPC/73); e ii) ainda que as partes formulem impugnações ao pedido de intervenção, ele será decidido incidentalmente nos autos principais (NCPC, art. 120, parágrafo único – e não mais são criados autos apensos como na sistemática do art. 51, inciso I, do CPC/73), prestigiando a celeridade e simplificação processual. No que concerne à atuação processual do assistente simples, o Novo Código deixou claro que, nos casos de omissão do assistido, o assistente poderá atuar na qualidade de substituto processual (e não “gestor de negócios” – CPC/73, art. 52, parágrafo único), de modo que poderá praticar Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 40 todos os atos de tutela do interesse jurídico do assistido (a menos que esse venha a se manifestar de modo contrário, mas, nesse caso, deixará de ser omisso), inclusive a interposição de recurso (NCPC, art. 121, parágrafo único). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 41 DENUNCIAÇÃO DA LIDE Especificamente sobre o instituto da denunciação da lide, mister se faz destacar três importantes inovações do NCPC sobre o assunto, quais sejam: fim da obrigatoriedade da denunciação da lide, limitação da denunciação da lide sucessiva e proibição da denunciação da lide per saltum. O caput do artigo 125 do Novo Código é expresso ao dispor que “é admissível a denunciação da lide (...)”, e não obrigatória como faz o vigente artigo 70 do CPC de 1973, confirmando o entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritário que atualmente advoga pela facultatividade da denunciação da lide mesmo na hipótese de evicção (v. Daniel Amorim Assumpção NEVES, Novo Código de Processo Civil: inovações, alterações e supressões comentadas, p. 129 e STJ, REsp 1.332.112-GO). Ainda, esse entendimento é reafirmado pelo NCPC no mesmo artigo 125, em seu parágrafo 1º, ao destacar que “O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida.”. No tocante à denunciação da lide sucessiva, destaca-se a opção legislativa por mantê-la, mas limitá-la a uma única vez, isto é, o denunciado poderá promover nova denunciação contra o seu alienante imediato ou o responsável por indenizá-lo, mas este último não poderá promover nova denunciação sucessiva (caberá a ele ação autônoma para exercer o seu direito de regresso). Essa regra aparece clara no parágrafo 2º do artigo 125 do NCPC: “Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.”. Licenciadopara Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 42 Por fim, a denunciação da lide per saltum, ou seja, aquela feita não ao alienante imediato, mas a qualquer um dos alienantes anteriores, desaparece do sistema jurídico brasileiro, notadamente pela opção legislativa contida no artigo 1.072, inciso II, do NCPC, que revogou expressamente o artigo 456 do Código Civil Brasileiro, suporte atual para o entendimento majoritário no sentido de que seria possível a referida forma de denunciação. Nas lições de Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogério Licastro Torres de Mello: “(...) A questão sempre foi controvertida porque, ao se admitir a denunciação per saltum, estar-se-á permitindo que o denunciante se volte contra quem não mantém relação jurídica de direito material. Para a doutrina majoritária e jurisprudência, a denunciação per saltum estaria autorizada pelo art. 456 do CC, segundo o qual ‘Para poder exercitar o direito que da evicção resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo’. Estar-se-ia em face de hipótese de legitimação extraordinária, em que ‘o alienante mediato estaria em juízo discutindo relação jurídica do alienante imediato’ (Fredie DIDIER JR., Curso de processo civil, vol. 1, p. 396). Para outros, porém, a denunciação per saltum não seria cabível, vez que o próprio art. 456 do CC previa que o adquirente deveria ‘notificar’ o alienante ‘como lhe determinarem as leis do processo’, sendo que, de acordo com estas, a regra é da denunciação ao alienante imediato. Filiamo-nos a essa corrente porque, além de romper com a regra de que parte legítima para ação regressiva é aquela com quem o denunciante mantém relação de direito material direta, a denunciação per saltum permite, conforme salienta Flávio Yarshell, ‘que um dos alienantes – qualquer um deles, a considerar, provavelmente, a respectiva capacidade de arcar com a indenização do adquirente/denunciante – poderia responder por Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 43 diferentes indenizações, de diferentes adquirentes’ (Três temas de direito processual no âmbito das obrigações e dos contratos. In.: O Código Civil e sua interdisciplinaridade. Coord. José Geraldo Brito Filomeno, Luiz Guilherme da Costa Wagner Junior e Renato Afonso Gonçalves. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, n. 4, p. 314). O legislador do NCPC seguiu essa orientação, tanto que, por meio do seu art. 1.072, II, revogou o art. 456 do CC.” (Primeiros comentários ao Novo CPC: artigo por artigo, p. 230-231). Sob o aspecto procedimental, há pontuais modificações que também merecem destaque, quais sejam: i) quando requerida pelo réu, a denunciação deverá ser feita na contestação (NCPC, art. 126, caput – e não no “prazo para contestação” – CPC/73, art. 71); ii) autor e réu terão 30 dias (e não 10 dias – CPC/73, art. 72, §1º, “a”) para promover a citação do denunciado que residir naquela comarca ou 02 meses (NCPC, arts. 126 e 131, caput e parágrafo único – e não 30 dias – CPC/ 73, art. 72, §1º, “b”) para providenciar a citação do denunciado que residir em outra comarca, seção ou subjeção judiciárias, ou em lugar incerto, sob pena da denunciação ficar sem efeito. Ademais, as possíveis condutas do denunciante e denunciado frente à provocação feita pelo réu também foram aperfeiçoadas (NCPC, art. 128): se o denunciado contestar o pedido formulado pelo autor, o processo seguirá tendo, na ação principal, em litisconsórcio, denunciante e denunciado (NCPC, art. 128, inciso I – não será necessária a “aceitação” da denunciação pelo denunciado para que se torne litisconsorte – CPC/73, art. 75, I); se o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de prosseguir com a sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva (NCPC, art. 128, inciso II – diferentemente do art. 75, II do CPC/73, que impunha ao denunciante o dever de prosseguir com a sua defesa até final); e se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na ação principal, o denunciante poderá prosseguir com a sua defesa Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 44 ou, aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência da ação de regresso (NCPC, art. 128, inciso III – em comparação com o art. 75, III do CPC/73, o NCPC confere ao denunciante a possibilidade de aderir ao reconhecimento do pedido formulado na ação principal, concentrando a sua pretensão na ação regressiva). Por derradeiro, o art. 128, parágrafo único, do Novo Código, positivou entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), conferindo ao autor a prerrogativa de requerer o cumprimento da sentença também contra o denunciado, respeitados os limites da condenação na ação de regresso (cf. REsp 1.294.029/SC, Rel. Min. Nancy Andrigui, 3ª Turma, j. 15/12/2011). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 Voltar ao sumário 45 CHAMAMENTO AO PROCESSO O chamamento ao processo é disciplinado nos artigos 130 a 132 do NCPC, que mantém as hipóteses clássicas de seu cabimento: a fiança e a solidariedade entre os devedores. Sobre o tema, importante apontamento de Cássio Scarpinella Bueno: “o que é de se lamentar é que a versão final do novo CPC, acolhendo, no particular o Projeto da Câmara, tenha eliminado o inciso IV proposto pelo Projeto do Senado que ampliava sobremaneira o instituto, adaptando-o suficientemente bem a determinadas (e diversas) hipóteses previstas no Código Civil de 2002 e que, na perspectiva do direito material, não são assimiláveis à fiança nem à solidariedade e, tampouco, justificadoras da denunciação da lide.” (Novo Código de Processo Civil anotado, p. 131). É o caso, por exemplo, da polêmica hipótese de chamamento ao processo do parente de grau imediato na ação de alimentos, quando o demandado (alimentante) não tiver condições de arcar com a totalidade da prestação de alimentos (CC, art. 1.698, primeira parte). Há peculiares diferenciações no procedimento do chamamento ao processo, quais sejam: i) o réu deverá requerer o chamamento na contestação pela sistemática do art. 131, caput, do NCPC (e não no “prazo para contestação” – art. 78 do CPC/73), deixando claro que se pretende contestar deverá fazê-lo na mesma peça em que fará o chamamento; ii) assim, em regra, terá 30 dias (e não 10 dias – art. 72, §1º, “a”, do CPC/73) para promover a citação do chamado, sob pena de ficar sem efeito, salvo quando ele residir em outra comarca, seção ou subjeção judiciárias, ou em lugar incerto, quando terá o prazo de 02 meses (e não 30 dias – art. 72, §1º, “b”, do CPC/73) para fazê-lo (NCPC, art. 131, caput e parágrafo único). Licenciado para Andressa Vila Flor Pingituro, E-mail: andressa.pingituro@hotmail.com, CPF: 14250720705 46 INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA A desconsideração da personalidade jurídica ganha tratamento procedimental específico e detalhado no NCPC, na forma de um incidente processual próprio, que será instaurado a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo (arts. 133, caput e 795, §4º). O que se pretende com o novo regramento é evitar arbitrariedades e exigir amplo contraditório nas situações que ensejam a desconsideração
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