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Classificação de dar

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Classificação: Obrigação de dar, fazer e não fazer Gustavo Birenbaum
1. Introdução: Toda e qualquer função classificadora ocorre da necessidade de ordenação e clareza das ideias, e se dá através da organização, em categorias comuns, dos fenômenos que costumam surgir de maneira esparsa e desordenada no cotidiano. E a vasta disciplina do Direito das Obrigações, obviamente, não poderia estar de fora dessa necessidade de sistematização. Afinal, como já advertia Orosimbo Nonato, “o estudo das espécies de obrigações é o complemento natural do seu conceito, através dos traços e varrições nelas apresentados”.
	Presente a utilidade, tem-se que, tradicionalmente, elas são elas divididas, quanto ao seu objeto mediato, em obrigações positivas e negativas e, quando vista mais de perto a sua finalidade, em obrigações de dar (coisa certa ou incerta), e de fazer e não-fazer. Nos dizeres de Fernando Noronha, “a prestação debitória pode dizer respeito à entrega ou devolução de coisas, ou a meras ações ou omissões do devedor. No primeiro caso, fala-se em obrigações de prestação de coisa, no segundo, em obrigações de prestação de fato”. Há outras classificações, baseadas, e.g., nos sujeitos das obrigações, nas relações intrínsecas entre duas ou mais obrigações etc. tais classificações, todavia, não serão examinadas neste estudo. 
	Como dito, as obrigações se dividem, quanto ao seu objeto mediatamente considerado, em positivas e negativas. As obrigações de fazer e de dar são consideradas obrigações positivas, porque exigem um comportamento ativo do devedor, isto é, para o implemento da prestação a que se referem tais obrigações, é necessário que o devedor abandone o seu natural estado de inércia e efetivamente(positivamente) atue de modo a dar ou fazer algo em benefício do credor. Já as obrigações de não-fazer são consideradas negativas, uma vez que, neste caso, a prestação do devedor resulta de uma abstenção ou do não-exercício de alguma faculdade que, em tese, ele poderia desempenhar, não fosse a existência da obrigação negativa. 
	Vale também acrescer que as obrigações positivas, por sua própria natureza, admitem a mora, diversamente das obrigações de caráter negativo – estas uma vez descumpridas, não são mais passíveis de restabelecimento do estado de coisa anterior e, por isso, importam em imediato inadimplemento. Essa, inclusive, é a orientação contida no Código Civil italiano. 
	No presente estudo, analisaremos os principais aspectos das obrigações de dar, de fazer e de não-fazer, seja porque a divisão das obrigações em positivas e negativas apresenta diminuto interesse prático, seja porque essa é a classificação tradicionalmente adotada pelo nosso Código Civil ( o código de 2002 manteve, quanto a essa divisão das obrigações, o mesmo regime do código revogado), e seja ainda porque, como se verá, é profundamente diverso o regime jurídico dessas obrigações. 
	Traremos separadamente de cada uma dessas modalidades de obrigações – ou mais propriamente de prestações. 
2. A obrigação de dar - generalidades: Muito sinteticamente, a obrigação de dar é aquela cujo objeto consiste na entrega de uma coisa, com o fim de lhe transferir a propriedade(obrigação de dar stricto sensu), ceder-lhe a posse ou uso(obrigação de entregar), ou mesmo restituí-la(obrigação de restituir). Diferencia-se a obrigação de dar da de restituir, na medida em que, nesta última modalidade de prestação, o que se dá é de propriedade do credor, que cedeu seu uso, ou qualquer outra faculdade própria do domínio, ao devedor. 
	O legislador brasileiro, tanto do de 1916 quanto o de 2002 se absteve de definir a aobrigação de dar – no que andou bem, já que definições legislativas, não raras vezes, poder padecer de apuro técnico, acarretando sérios problemas aos operadores do Direito. O Código Civil argentino, no entanto, optou por definir essa modalidade de obrigação, descrevendo-a como aquela que “tene por objeto la entrega de uma cosa, mueble, inmueble, com el fin de constituir sobre ella derechos reales, o de transferir solamente el uso o ia tenência o de restiturla a su dueño”. De fato, a norma acima transcrita realça as características essenciais desse tipo de obrigação: por meio dela, se criam direitos reais ou se transfere o uso de determinada coisa.
	Um ponto marcante no sistema obrigacional brasileiro, em especial no tocante às obrigações de prestação de coisa, reside no fato de que, entre nós, a obrigação de dar apenas cria em favor do credor um direito pessoal, de crédito, exercitável contra o devedor, de modo a compeli-lo a entregar a coisa. Ela não gera para o beneficiário da prestação qualquer direito real sobre a coisa objeto da obrigação. Esse direito de natureza real somente se configura, em nosso sistema, através da tradição do bem, ou da transcrição do negócio jurídico no Registro de Imóveis, conforme se trate de bens móveis ou imóveis, respectivamente. Vale dizer: no sistema brasileiro, a só existência de negócio jurídico criando uma obrigação de dar não é capaz, sozinha, de criar um direito erga omnes, no que o nosso sistema muito se aproxima das fontes romanas e até, de certo modo, do direito germânico.
	Como acentua Clovis do Couto e Silva, “a distinção entre a fase do nascimento e desenvolvimento dos deveres e do adimplemento adquire, entretanto, sua máxima relevância (...) quando o adimplemento importa em transmissão da propriedade. A fase do adimplemento se desloca, então para o plano do direito das coisas” 
	Quando essa distinção entre os planos de direito pessoal e de direito real é absoluta, tem-se o negócio jurídico abstrato, isto é, negócio em que a causa deixa de ter relevância. Esse é o traço marcante do sistema germânico de aquisição da propriedade. O nosso sistema, no entanto, não chegou a esse ponto. Entre nós, embora a fase do adimplemento da obrigação de dar esteja realmente situada no plano dos direitos reais, nãos se faz completa abstração da causa do negócio translativo da propriedade. De todo modo, fica registrada, no estudo das obrigações de dar, a chamada separação dos plano de direito pessoa(no momento da constituição e desenvolvimento do vínculo obrigacional) e de direito real(quando do seu adimplemento via tradição ou transcrição no Registro Imobiliário). 
	Frise-se, ainda, que autores tradicionais costumam afirmar que a obrigação de dar se diferencia da obrigação de fazer porque a inexecução desta resultaria apenas na possibilidade de reparação de danos, ao passo que o descumprimento da obrigação de dar tornaria possível ao credor 0obter o bem objeto da presta manu militare, mediante apreensão da coisa. Como se verá mais adiante, porém, modernamente, a tendência é a de se possibilitar a execução específica de ambas as modalidades de obrigações, ressalvadas certas hipóteses. 
3. A obrigação de dar coisa certa: A obrigação de dar pode se referir a uma coisa certa ou incerta. É certa a coisa quando esta é individualizada, de modo que somente ela possui as características apontadas no título, tornando-a inconfundível com quaisquer outras, ainda que pertencentes ao mesmo gênero. É a prestação chamada tradicionalmente de certum corpus, ou prestação de corpo certo.
	De acordo com o artigo 233 do Código Civil, a obrigação de dar coisa certa abrange a obrigação de transferir os respectivos acessórios, salvo estipulação em contrário. Soa um tanto despicienda a regra do artigo 233, já que, de acordo com o princípio geral da acessão, salvo disposição especial em contrário, a coisa acessória sempre segue a sorte da coisa principal. Tal princípio inclusive se encontrava expresso no artigo 59 do código revogado, mas foi deixado de lado na codificação de 2002.
	Aspecto de especial relevância no trato das obrigações de dar coisa certa é o referente à teoria dos riscos. Noutras palavras: quem deve suportar os riscos pela perda ou deterioração do bem objeto da prestação de dar coisa certa? Ou o que acontece em caso de perda total de um bem que, por ser único, não pode sersubstituído por outro? 
	O ponto de partida dessa análise é investigar se a coisa se perdeu ou se deteriorou em razão de conduta culposa do devedor. O artigo 234 do código estabelece que, se a coisa certa se perde antes da tradição ou pendente condição suspensiva, desde que sem culpa do devedor, tem-se por resolvida a obrigação para ambas as partes, cabendo ao devedor inclusive devolver o que tiver recebido do credor. Contrariamente, se a perda resultar de culpa do devedor, estará igualmente resolvida a obrigação, sendo que este responderá ao credor pelo equivalente à coisa perdida( em dinheiro, já que se trata de coisa certa) mais perdas e danos. 
	Clóvis do Couto e Silva sustenta, combatendo (a nosso ver com razão) os ensinamentos de Pontes de Miranda, que, com ou sem culpa do devedor, a obrigação fica resolvida em caso de perda total do bem, uma vez que o negocio ficou sem objeto, não havendo possibilidade de o credor exigir a prestação primária. Nas suas palavras, “não tem o credor o direito de resolver aquilo que já não existe, mas apenas pretensão para receber o que já tiver prestado”. Acrescente-se que, em caso de perda do objeto por culpa do devedor, oi credor terá o direito de exigir as perdas e danos devidas. 
	Já em caso de deterioração da coisa, que se diferencia da perda, o Código oferece outras soluções, justamente porque o negócio nessa hipótese, não perdeu o seu objeto por completo – este apenas sofreu alguma modificação. Também aqui será fundamental perquirir se o devedor obrou ou não com culpa. Nesse sentido, o artigo 235 estabelece que “deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. 
	Nota-se aqui uma sutil, mas importante, diferença com relação à disciplina da perda da coisa. É que, pelo artigo acima transcrito, passa ao credor a escolha quanto a resolver o negócio, exercendo o chamado direito formativo de resolução, ou manter viva a prestação, adaptando-a em termos de valor à realidade derivada da modificação da coisa. Na perda da coisa, regulada pelo artigo 234, a resolução dá-se ex vilegis, diante da superveniente perda do objeto da obrigação, sem a necessidade de exercício pelo credor de qualquer direito formativo. 
	Já na hipótese de culpa do devedor pela deterioração da coisa, é facultado ao credor, na forma do artigo 236, “exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”. 
	 A obrigação de dar coisa certa é marcada pelo princípio da identidade da coisa devida, pelo qual o devedor não se desobriga com a entrega da coisa diversa da que foi pactuada, ainda qua mais valiosa, porque o credor não é obrigado a recebe-la. De fato, o artigo 313 do Código de 2002, embora esteja inserido no capítulo sobre pagamento, estatui que “o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.
	O risco recai sobre os ombros do devedor até a tradição da coisa (se móve) ou a inscrição do título no Registro de Imóveis( se imóvel). Após esses eventos, passa ao credor o risco sobre a coisa. Essa, a interpretação que se tem dado ao artigo 237 do Código de 2002, de redação praticamente idêntica à do artigo 868 do código revogado. Cumpre, porém, diferenciar se se trata de contrato bilateral ou unilateral, como a doação, por exemplo. É que, neste atos, porque unilaterais, o risco deve ser sempre do credor, que a nada se obriga. Indaga-se o que acontece se a coisa se perder estando nas mãos do comprador, porém sob reserva de domínio, ou em venda a contento. Clóvis do Couto e Silva leciona que, nessas hipóteses, com a só transferência da posse pela tradição (já que a propriedade é transferida ou ratificada ulteriormente), já se transfere ao comprador o risco da coisa. E isso significa que, mesmo perdida a coisa, ele não ficará livre da obrigação de pagar o preço ao devedor. 
	Ainda de acordo com o artigo 23 do Código, se a coisa recebe, antes da tradição, melhoramentos ou acréscimos atribuídos ao devedor, é facultado a este exigir aumento proporcional do preço. Não aceita a majoração pelo credor, pode o devedor dar por resolvida a obrigação. 
	Embora o Código nada diga a respeito, é de se entender que tais melhorias, para serem indenizadas devem ter-se revelado úteis ou necessárias, e realizadas de boa-fé, de forma muito assemelhada com o que se passa no âmbito das benfeitorias. Cumpre ter em mente, a propósito, a perspicaz advertência de Orosimbo Nonato, segundo a qual “será necessário ao juiz, sempre, na aplicação do art. 868 [atual 237], verificar a ocorrência de boa ou má-fé da parte do devedor e cercear quaisquer atos deste suscitados solertemente para forçar a solução do débito”. De igual modo, mas por outro prisma, tem-se também a lição de Clóvis do Couto e Silva, segundo a qual “se o aumento ou melhoramento ocorreu sem despesa ou trabalho, o credor receberá o acréscimo sem indenização”. As advertências de tão renomados autores indicam que a regra do artigo 237 deve ser examinada com o devido temperamento, sempre tomando em consideração a cláusula geral de boa-fé e também as circunstâncias do caso. 
	Já pelo parágrafo único do mesmo artigo 237, tem-se que os frutos percebidos pertencem ao devedor, ao passo que os pendentes caberão ao credor. Tal norma é plenamente coerente com a natureza dos frutos. De fato, se constituem os frutos “um acréscimo natural e espontâneo, e nada mais são do que acessões internas, já que produzidos pela coisa”, nada mais natural do que atribuí-los àqueles que esteja na posse da coisa no momento da efetiva disponibilidade desses acréscimos naturais. 
	Quando se trata de obrigação de restituir, em que a prestação consiste na devolução de determinado objeto à posse do titular do domínio respectivo, a chamada teoria dos riscos assume outras feições. Pelo artigo 238, “se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”. A diferença de tratamento conferida ao credor na obrigação de dar coisa certa e na de restituir coisa certa se explica pelo mesmo princípio: res perit domino. Nos dizeres de Washington de Barros Monteiro, “na obrigação de dar coisa certa, antes da tradição, o objeto pertence ainda ao devedorç se ele perece, sofre prejuízo. Res perit domino é sempre regra, quer para uma, quer para outra modalidade de obrigação”. As disposições que se seguem em relação à teoria dos riscos na obrigação de restituir coisa certa seguem essa orientação. 
	Indaga-se, finalmente, o que pode ser postulado pelo credor em caso de recusa do devedor em dar a coisa certa. Esclarece Sílvio de Salvo Venosa que, “na obrigação de restituir, o problema não se põe, porque a coisa pertence ao próprio credor” e por isso possui meios processuais hábeis para reavê-la (tais como a reintegração de posse, o despejo, ou mesmo a busca e apreensão). Já o descumprimento da obrigação de dar coisa certa propriamente dita traz consigo questionamentos mais delicados. Como visto, até o momento da tradição da coisa certa ou da transcrição do título no cartório imobiliário, o bem continua a pertencer ao devedor. Sendo ela ainda passível de apropriação, deve-se possibilitar ao credor a execução específica, também chamada execução in natura. Somente quando a entrega fopr impossível, ou se resultar em constrangimento físico à pessoa do devedor (o que dificilmente ocorrerá nesse tipo de obrigação), recorre-se à via (quase sempre insuficiente, demorada e custosa) das perdas e danos. caso contrário, a execução é específica, permitindo inclusive a expedição de mandados de imissão na posse da coisa ou de busca e apreensão, na forma dos artigos 621 e seguintes do Código de Processo Civil. 
4. A obrigação de dar coisa incerta: Sabe-se que a prestação obrigacional deve ser determinada ou, no mínimo, determinável, istoé, passível de determinação após algum evento. É exatamente isso o que se passa com as chamadas obrigações de dar coisa incerta. Nos termos do artigo 243 do Código, a obrigação de dar coisa incerta, também chamada obrigação genérica, é aquela cujo objeto é identificado pelo seu gênero e quantidade.
	O gênero é o agrupamento de indivíduos que apresentam características comuns, e a quantidade é representada por números, pesos, medidas, enfim, grandezas. Tem-se aqui a aplicação, no campo obrigacional, da noção de bem fungível. 
	Embora não se possa conhecer de antemão os aspectos individuais da coisa a ser prestada, tem-se por suficiente a indicação do gênero e da quantidade, ficando a individualização da coisa para um momento posterior ao da constituição do vínculo obrigacional, que em regra é o momento em que a prestação tiver de ser cumprida, tendo-se aqui um ponto crucial dessa modalidade de obrigação: o momento da indicação da coisa antes referida apenas pelo seu gênero e sua quantidade; o momento em que a prestação deixa de ter por objeto uma coisa incerta e passa a se identificar com uma coisa certa. A esse momento se dá o nome de concentração do débito e a partir desse marco a obrigação passa a ser regida pelas normas das obrigações de dar coisa certa (CC, art. 245). Pelo art. 244, tem-se como regra geral, que a escolha da coisa certa pertence ao devedor, exceto se o contrário estiver disposto no título da obrigação. Entende-se a razão de ser de a escolha competir ao devedor resido no fato de que o credor poderia ter se expressado de modo claro, mas não o fez. Daí ter que se submeter à escolha do devedor. Não é raro, entretanto, a escolha caber a terceiros, que podem atuar como “arbítrios”, ou mesmo ficar a cargo de fatores externos, sem a interferência da vontade das partes, quando a escolha couber ao devedor, ele não poderá optar por entregar a coisa pior, assim como não está obrigado a presta a melhor, nem o melhor e nem o pior. 
	O ato de concentração se dá, em regra, no memento da efetiva entrega da coisa, isto é, da execução da obrigação. É facultado as partes, contudo, estabelecer a especificação da coisa(concentração) para momento diverso do da entrega. Pode-se considerar realizada a escolha quando o devedor pratica atos tendentes à entregada coisa, como por exemplo, notificar o credor acerca da eleição feita. 
	Num ponto a obrigação de dar coisa incerta se diferencia sobremodo da de dar coisa certa: em matéria de riscos, tem-se que, enquanto não é feita a concentração da coisa, o ônus da integridade da coisa incube ao devedor. Com efeito, pela regra do art. 246, imputa-se ao devedor, independentemente de força maior ou caso fortuito o risco pela perda ou deterioração da coisa, se isso ocorrer antes da especificação da coisa, se isso ocorrer antes da especificação da coisa. 
	Há, contudo, algumas exceções a essa regra. Pense-se na hipótese em que uma determinada mercadoria, objeto de obrigação genérica, deixa de ser fabricada num momento entre a celebração do negócio e a concentração, de fato, nesse caso, a impossibilidade da prestação se passa de modo quase idêntico à impossibilidade da prestação na obrigação de dar coisa certa, porquanto não soa justo o devedor ser obrigado a prestar o impossível. Por isso que, salvo culpa do devedor, a obrigação nesta hipótese excepcional, fica resolvida sem perdas e danos. Cabe esclarecer que a obrigação de dar coisa incerta não se confunde com a obrigação alternativa. Nesta, há a opção entre duas ou mais coisas individualizadas, e que não necessariamente pertencem a um mesmo gênero, uma das quais será objeto de escolha. Já nas obrigações de dar coisa incerta, a escolha recai sobre uma só coisa, que simplesmente é indicada de modo genérico no título. Esclarecer então se se trata de obrigação genérica ou de obrigação alternativa constituirá questão de fato, dependente da interpretação do contrato. 
	Registre-se, por fim, que a obrigação pecuniária – entrega ao credor de certa quantidade em moeda - constitui um gênero à parte de obrigação de dar, não sendo a priori qualificável nem como obrigação da dar coisa certa e nem como obrigação de dar coisa incerta. De fato, o objeto desse tipo de obrigação é o dinheiro – coisa fungível por excelência. Na dívida pecuniária, a prestação não é de coisas, ainda quando tenha por objeto determinada espécie monetária. 
5. A obrigação de fazer: Entre as chamadas obrigações positivas, destaca-se também a obrigação de fazer. Nesta, a prestação recai sobre uma determinada atividade humana, diversamente do que se passa com as prestações das obrigações de dar, que se caracterizam pela atribuição patrimonial ao credor de determinado bem ou direito que já existe. Por exclusão, pode-se mesmo dizer que na obrigação de fazer, o objeto da prestação é toda e qualquer atividade pessoal do devedor diversa da de dar ou entregar alguma coisa. Esta prestação de fazer algo, também chamada prestação de fato, pode dar-se sob a forma de se praticar um ato material ou um ato jurídico, de modo que, tanto num quanto noutro, a execução da obrigação implica a realização de um ato jurídico em sentido estrito, visto qure ela sempre emana da vontade daquele que presta o fato. 
	Contestação recorrente no estudo dessa modalidade obrigacional é a de que a prestação que tenha por objeto um dar representa, também, numa relação gênero-espécie, uma obrigação de fazer algo. Afinal, dar pertence ao gênero fazer. Para sanar essa aparente dificuldade, pode-se dizer que, quando o dar é consequência do fazer, se está diante de uma obrigação de fazer e vice-versa. 
	Diversamente do que se passa com as obrigações de dar, que sempre admitem o adimplemento por terceiros interessados na extinção do vínculo, nas obrigações de fazer, não raras vezes, apenas um único devedor pode validamente honrar a obrigação. Diz-se ai que a obrigação é infungível. Contrapõe-se a estas as obrigações fungíveis, que admitem execução por pessoa diversa da do devedor. 
	A distinção das obrigações de fazer em fungíveis ou infungíveis está longe de constituir frívolo academicismo. Tal diferenciação se revela extremamente relevante e repleta de utilidade prática no momento em que se dá o inadimplemento culposos por parte do devedor. De fato, estabelece o artigo 247 do Código Civil que “incorre na obrigação de pagar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível”. 
	Para as prestações fungíveis, porém, aplica-se a regra do artigo 249: “se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor manda-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”. O Código de 2002, porém, traz uma interessante inovação a esse respeito. No parágrafo único do artigo 249, estatui que “em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido”. 
	Resta ainda examinar a teoria dos riscos no âmbito da obrigação de fazer. De acordo com o artigo 248 do Código Civil, “se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos”. Em se tratando de impossibilidade, é necessário distinguir se esta se deu desde o início da constituição do vínculo ou de modo superveniente. Situação diversa é a que se passa quando o devedor da obrigação de prestar fato deixa de cumprir a sua prestação culposamente, respondendo por perdas e danos que causar o credor. 
6. A obrigação de não fazer: nesta modalidade obrigacional, a prestação do devedor apresenta um conteúdo negativo. Constitui geralmente em abster-se da prática de algum ato, de permitir-se ou tolerar-se um determinado estado de coisas. Em suma, por essa modalidade de obrigação, o devedor se obriga a deixar de praticar um ato que, não fosse a obrigação por ele contraída, poderia legitimamente praticar. 
	A obrigação de não-fazer, assim como a de fazer, interfere enormemente na liberdade individualda pessoa. Por isso mesmo, não se pode validamente criar uma obrigação dessa natureza com conteúdo genérico, tampouco por prazo e alcance indeterminados. Tais obrigações, ademais, assim como as obrigações positivas, são em princípio passíveis de transmissão, surgindo dessa forma de dever anexo a outras obrigações, como as de dar pou de restituir, que se extinguem instantaneamente com o pagamento a que visam. 
	Uma peculiaridade da obrigação de não fazer reside no fato de que, quase sempre, uma vez descumprida, não é mais possível ao credor perseguir o adimplemento devido pelo sujeito passivo da relação. 
	A impossibilidade do cumprimento de um dever de abstenção, quase sempre, decorre de atos de império, emanados do Poder Público, como aqueles derivados da imposição de cumprimento, pela propriedade urbana, da sua função social.
	Em caso de ter o devedor agido culposamente, prescreve o artigo 251 que “praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos”. Essa solução é praticamente a mesma daquela preconizada para os casos de descumprimento culposo das obrigações de fazer, pelo artigo 249 do Código. Embora referido dispositivo não o diga expressamente, entendemos que, não sendo mais possível ou conveniente para o credor a prestação negativa, poderá ele cobrar do devedor o pagamento das perdas e danos que o inadimplemento deste tiver ocasionado àquele. E mais: ainda que o credor opte pelo desfazimento, realizado pelo próprio devedor ou por terceiro, ainda assim, poderá ele cobrar perdas e danos do devedor, acaso verificadas. 
	Uma última observação, mercê ser feita com relação à possibilidade, prevista no parágrafo único do artigo 251 do Código, de o credor desfazer por sua própria conta, ou mandar desfazer, à custa do devedor, o ato a que o devedor deveria se abster. 
	Em princípio, somente após a recusa do devedor em desfazer o ato, poderá o credor requerer ao juiz que mande um terceiro desfazê-lo, à custa do devedor. O que esse parágrafo traz de inovador é justamente a possibilidade de o credor, em caso de urgência, desfazer ou mandar desfazer o ato praticado, independentemente de autorização judicial nesse sentido. E aqui cabe a advertência de que “a juridicidade da conduta do credor que, com fundamento no art. 251, parágrafo único, exerce a autotutela, praticando atos de desfazimento do ato proibido, será aferida segundo uma ponderação dos interesses em conflito, tornando-o responsável quando se verificar a ocorrência de abuso, sempre que a satisfação do seu direito não deva prevalecer sobre o direito do devedor, à luz dos princípios constitucionais que regem o ordenamento”.

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