Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO Profa. Katie Graciano O que é e porque estudar filosofia? O que é filosofia? Algumas visões do senso comum: Tirar os pés do chão. Ficar em devaneios. Conversa que não leva a lugar nenhum. Mas a Filosofia não é isto. Partindo da análise etimológica da palavra podemos entender melhor o seu significado: A palavra Filosofia é GREGA, composta por duas outras. PHILO Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. SOPHIA Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. Então, FILOSOFIA significa amor ao saber. Saber o que? http://blog.cancaonova.com/padreanderson Logo que esta questão é esclarecida, surge uma outra indagação... Para esclarecer esta pergunta devemos nos lembrar de que a Filosofia é a mãe de todas as ciências, uma “jovem” de aproximadamente 2.700 anos. Este saber envolve todos os assuntos possíveis de serem pensados e questionados em todas as áreas do conhecimento. A Filosofia busca entender o PORQUÊ das coisas. Possui como propósito a busca de perguntas, de questionamentos e de indagações. ESTUDAR FILOSOFIA É PROCURAR POR PERGUNTAS QUE NEM SEMPRE POSSUEM RESPOSTAS. Para que serve a Filosofia no Ensino? “ A nova legislação educacional brasileira parece reconhecer, afinal, o próprio sentido histórico da atividade filosófica e, por esse motivo, enfatiza a competência da filosofia para promover, sistematicamente, condições indispensáveis para a formação da cidadania plena.” . PENSA Reflexão Crítica CIDADÃO = Produção da Cidadania AGE + Ação CONHECE + Conhecimento Qual seria então a utilidade da Filosofia? I. Se abandonar a ingenuidade e os pré-conceitos do senso comum for útil; II. Se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; III. Se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; IV. Se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; V. Se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil... ... então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. CHAUÍ, Marilena A Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, Ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos; Quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além da verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a todos. RESUMO Texto: A Experiência Filosófica Conceitos e noções a partir do capítulo I do livro Filosofando : Introdução a Filosofia São traços da experiência filosófica: Estranhamento Espanto Admiração. A proposta fundamental da filosofia Pensar O mundo e a própria vida a fim de se aproximar da sabedoria, ou seja: Pensar Nossos pensamentos e nossas ações é = EXPERIENCIA FILOSÓFICA Buscar sentido nos pensamentos e ações , não aceitando certezas e soluções fáceis demais Filosofia de vida O termo "filosofia de vida", é a maneira livre de pensar baseada na opinião, e expressa uma certa maneira de pensar do homem comum. São indagações filosóficas (o que é o amor, fidelidade, amizade) porém não filosofia própriamente dita. A reflexão dos filósofos Os filósofos especialistas conhecem a história da filosofia e diante das questões filosóficas, elaboram conceitos e argumentos rigorosos. Os modos de saber Para o Filósofo espanhol Fernando Savater, é necessário fazer uma distinção entre três formas de saber: Informação: dada através de uma notícia Conhecimento: lançar mão do conhecimento para explicar a notícia (sociologia, psicologia, antropologia, biologia etc.) Sabedoria: Decisões refletidas que buscam caminho para o bem viver É possível definir filosofia? O filósofo alemão Edmund Husserl diz que ele sabe o que é filosofia, ao mesmo tempo em que não sabe. Isto é, a explicitação do que é a filosofia já é a uma questão filosófica. A primeira virtude do filósofo Para Platão e Aristóteles: A virtude do filósofo é a admiração, capaz de nos surpreender diante do óbvio e questionar ar verdades dadas O filósofo Kant e o filosofar Não é possível aprender a qualquer filosofia; só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, a partir de certas tentativas filosóficas já existentes. A reflexão filosófica para o filósofo brasileiro Demerval Saviane A reflexão filosófica deverá ser: Radical = busca a raiz, busca explicar os conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir Rigorosa = conceitos claramente definidos, o filósofo desenvolve um pensamento rigoroso, justificado por argumentos De conjunto = totalizante, o todo de tudo, a filosofia é um tipo de reflexão de conjunto, totalizante, porque examina os problemas relacionando os diversos aspectos entre si. Sócrates O filósofo Sócrates dialogava em praça pública na Grécia Antiga, uma maneira de dialogar do filósofo consistia em perguntar simulando não saber. A outra maneira de dialogar consistia na investigação de conceitos. Sócrates afirmava enquanto sua mãe fazia parto de corpos, ele ajudava a trazer à luz as ideias. Chamamos estas duas formas de dialogar de Sócrates da seguinte maneira: Ironia e Maiêutica. Texto: A missão da Filosofia E os processos do filosofar Principais tópicos 0 impulso original para filosofar nasce da admiração que se segue à indagação, incorpora a dúvida sobre a qualidade da resposta produzida e culmina na consciência dos limites deste ente que interroga. Sócrates chama atenção para a necessidade de falar o mesmo do mesmo, isto é, viver um pacto com a verdade. Este compromisso é difícil, muitas vezes ao longo da história dos homens a dissimulação prevaleceu e a mentira se sobrepôs à racionalidade. A Filosofia aparece, desde então, como uma forma de explicar o mundo de modo racional, sendo que a sabedoria filosófica tornou-se estratégia para lidar com a argumentação mendaz. O sentido revolucionário do filosofar A sabedoria ensinada por Sócrates é uma forma de racionalidade que propicia o desenvolvimento do espirito critico, E que ensinar a pensar é uma ameaça a ordens sociais injustas e aos privilégios dos poderosos, considerado conduta desviante pelos governantes, quase sempre, punível com a morte. 0 confronto com o passado da consciência humana é para o homem de hoje o alimento da reflexão. Filosofia não se separa dos problemas vividos e só podemos compreendê-la considerando a circunstância dos filósofos. O homem se tornou o centro da preocupação de nosso tempo. 0 existir passou a significar um modo especial de ser, o modo pelo qual o homem 6. E a partir da existência humana que se pode pensar o que tudo é A filosofia em nosso século se deparou com a existência e sua missãoconsistiu em esclarecer a situação do homem, em elucidar o seu modo de ser e a traçar novas bases do seu viver A consciência mítica e as funções do mito É uma narrativa na qual a palavra é usada para transmitir e comunicar coletivamente a tradição oral, preservando a sua memória e garantindo a continuidade da cultura. Expressam a capacidade inicial do ser humano de compreender o mundo, surgem modelos explicativos para satisfazer a curiosidade. Reforçam a coesão de social sob a forma de relatos agradáveis e fáceis de entender transmitidos de geração em geração. O mito é uma história tradicional, aceite como verdadeira, que incorpora as crenças tradicionais relativamente à criação do universo, aos deuses, aos homens, à vida e à morte. Aos deuses e às divindades míticas são atribuídos sentimentos, emoções e ambições humanas, como a imortalidade e a onipotência. O que é o mito? Mythos, em grego, significa "palavra", "o que se diz", "narrativa" O que é o mito? Como processo de compreensão da realidade, o mito não é lenda, pura fantasia, mas verdade. A verdade do mito resulta de uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam na emoção e na afetividade. O mito expressa o que desejamos ou tememos, como somos atraídos pelas coisas ou como delas nos afastamos. Outro componente – o mistério - , pois ele sempre é um enigma a ser decifrado. Os relatos míticos se sustentam na crença, na fé em forças superiores que protegem ou ameaçam, recompensam ou castigam. Os modelos de construção mítica são de natureza sobrenatural. Mythos, em grego, significa "palavra", "o que se diz", "narrativa" MODOS DE CONSCIÊNCIA: O ser humano se relaciona com a realidade através de múltiplos sentidos e múltiplas capacidades. Podemos destacar algumas maneiras de como o ser humano se relaciona e pretende conhecer o mundo: OBS: As maneiras que o ser humano inventou para conhecer as coisas coexistem em maior ou menor grau quando emitimos alguma crença sobre a realidade. 1- CONSCIÊNCIA MÍTICA: Através dos mitos (narrativas de lendas e crenças em entes sobrenaturais, como: deuses, semideuses), os povos primitivos do ocidente procuravam explicar a realidade e, a partir dessa explicação, criavam meios para se proteger dos males que os ameaçavam. 2- CONSCIÊNCIA RELIGIOSA:A consciência religiosa compartilha com a consciência mítica o elemento do sobrenatural, a crença em um poder superior inteligente, isto é, a divindade. No entanto, é uma consciência que, historicamente, conviveu, dialogou e debateu com a razão filosófica e cientifica. Sua diferença em relação a esses saberes esta na crença em verdades revelada pela fé religiosa enquanto a filosofia e a ciência se apoiam sobretudo na razão para alcançar o conhecimento.. Modos de consciência: 3- CONSCIÊNCIA INTUITIVA: é um saber imediato – insight. Diferenciando-se de um conhecimento formal, refletido que se dá a partir de argumentos. 4- CONSCIÊNCIA RACIONAL: Busca a compressão da realidade por meio de certos princípios estabelecidos pela razão, como, por exemplo o de causa e efeito (todo efeito deve ter sua causa). Essa busca racional se caracteriza por pretender alcançar uma adequação entre o pensamento e a realidade, isto é, entre explicação e aquilo que se procura explicar. Modos de consciência: Os rituais Uma das características do mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas. Desse modo, os gestos dos deuses são imitados nos rituais. Exemplos de rituais A maneira mágica pela qual os povos tribais agem sobre o mundo pode ser exemplificado pelos inúmeros mitos de passagem: do nascimento, da infância para a idade adulta, do casamento, da morte. RITO – ( RITUS) É uma celebração de um culto ou cerimônia feita de acordo com certas regras baseadas na tradição religiosa ou sociocultural de um povo ou grupo social. É o caso do tabu, termo que significa proibição, e que entre os povos tribais assume caráter sagrado. O mais primitivo tabu é o do incesto, mas há inúmeros outros. Exemplo: em algumas tribos indígenas as mulheres menstruadas não devem tocar nos utensílios masculinos porque, contaminados, provocariam males e desgraças; a vaca é ainda hoje um animal sagrado na Índia e não deve ser molestada. Quando nas tribos a proibição é transgredida, são feitos ritos de purificação. Outros procedimentos são os rituais de “bode expiatório”: após a transgressão ter provocado doença em um indivíduo ou o mal ter atingido toda a tribo, o sacrifício de animais ou de pessoas é um processo de “expiação”, ou seja, de purificação. Transgressão do tabu No universo em que predomina a consciência coletiva, a desobediência ultrapassa quem violou a proibição, podendo atingir a família, os amigos e, às vezes, toda a tribo. Teorias As funções do mito Exemplos: A origem da agricultura: segundo o mito indígena tupi, a mandioca nasce do túmulo de uma criança chamada Mandi; no mito grego, Perséfone é levada por Hades para seu castelo tenebroso, mas a pedido de sua mãe, Deméter, retorna em certos períodos: esse mito simboliza o trigo enterrado como semente e renascendo como planta. A fertilidade das mulheres: para os arunta, os espíritos dos mortos esperam a hora de renascer e penetram no ventre das mulheres quando elas passam por certos locais. O caráter mágico das danças e desenhos: quando os homens pré-históricos faziam pinturas nas paredes das cavernas talvez não pretendessem enfeitá-las nem apenas mostrar suas habilidades pictóricas, mas agir magicamente, para garantir de antemão o sucesso das caçadas. O caráter inconsciente do mito Sigmund Freud, fundador da psicanálise, e seu discípulo Carl Jung, acentuam o caráter existencial e inconsciente do mito, como revelador do sonho, da fantasia, dos desejos mais profundos do ser humano. Exemplo: ao analisar o mito de Édipo, Freud realça o amor e o ódio inconscientes que permeiam a relação familiar. O mito como estrutura Outra linha de interpretação do mito é a do antropólogo Lévi-Strauss, representante da corrente estruturalista. Trata-se de procurar a estrutura básica que explica os mais diversos mitos. Os elementos, por serem relativos, só tem valor de acordo com a posição que encontram na estrutura a que pertencem. O mito nas civilizações antigas Nas civilizações antigas o mito era componente importante da cultura, mas as instituições religiosas provocaram a separação entre o espaço sagrado dos santuários e o espaço profano da vida cotidiana. O culto exigia monumentos grandiosos, como os templos e as pirâmides, onde eram sepultados os reis. Os deuses gregos A civilização grega teve início por volta do século XX a.C. Nessa época a Grécia ainda se chamava Hélade e era constituída por diversas regiões autônomas, mas mantiveram a língua e a unidade cultural. A religião dos gregos era politeísta. Os deuses, habitantes do monte Olimpo, eram imortais, embora tivessem comportamentos semelhantes aos dos homens. “Mas Zeus acrescenta ou diminui o valor dos homens, conforme lhe apraz, pois ele é o mais poderoso de todos” (Homero, Ilíada) Tal como todas as culturas antigas, também a cultura grega assentava no mito, transmitido e ensinado pelos poetas educadores do povo. Homero e Hesíodo, os representantes máximos da poesia grega, registaram por escrito os mitos da antiga Grécia. Homero (Ilíada) e Hesíodo (Teogonia), são os últimos representantes do pensamento mítico. Homero Hesíodo O mito hoje Augusto Comte, fundador do positivismo, defende que o pensar reflexivo decretou a morte da consciência mítica. No entanto, ao criticar o mito e exaltar a ciência, contraditoriamente o positivismo fez nascer o mito do cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como única forma de saber possível. O mito ainda é uma expressão fundamental do viver humano, o ponto de partida para a compreensão do ser. Tudo o que pensamos e queremos se situa inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial serve de base para todo trabalho posterior da razão. Personalidades como artistas, políticos e esportistas, que os meios de comunicação se incumbem de transformar em imagens exemplares, passam a representar todo tipo de anseios: sucesso, poder, liderança, atração sexual, etc. Nas histórias em quadrinhos, o maniqueísmo exprime o arquétipo da luta entre o bem e o mal, enquanto a dupla personalidade do super-herói atinge em cheio o desejo da pessoa comum de superar a própria inexpressividade e impotência, tornando-se excepcional e poderosa. O nosso comportamento é permeado de rituais, mesmo que secularizados: comemorações de nascimentos, casamentos e aniversários, a entrada do ano-novo, as festas de formatura, os trotes de calouro nos fazem lembrar ritos de passagem. Aspectos sombrios do mito Por exemplo: quando as ideias de Hitler encontraram eco naqueles que acreditavam na ideia da raça ariana como raça pura, desencadeando movimentos apaixonados de perseguição que culminaram no genocídio de judeus, ciganos e homossexuais. Fatores que propiciaram o nascimento da filosofia e os primeiros filósofos O que perguntavam os primeiros filósofos Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes? árvore → árvore, cão → cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes? dia → noite, inverno → primavera, um objeto escuro clareia → tempo, um objeto claro escurece → tempo? O que perguntavam os primeiros filósofos Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no outono, até ressecar-se e retorcer-se no inverno. Por que um dia luminoso e ensolarado, de céu azul e brisa suave, repentinamente, se torna sombrio, coberto de nuvens, varrido por ventos furiosos, tomado pela tempestade, pelos raios e trovões? O que perguntavam os primeiros filósofos Por que nada permanece idêntico a si mesmo? De onde vêm os seres? Para onde vão, quando desaparecem? Por que se transformam? Foram perguntas como essas que os primeiros filósofos fizeram e para elas buscaram respostas. a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas: da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. O nascimento da filosofia Filosofia também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e logia, que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Assim, a Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da natureza, donde, cosmologia. Situando no tempo Periodização da história da Grécia Antiga: Civilização micênica – sécs. XX a XII a.C. – desenvolveu-se desde o início do segundo milênio a.C. Tem esse nome pela importância da cidade de Micenas, onde por volta de 1250 a.C. partiram Agamêmnon, Aquiles e Ulisses para sitiar e conquistar Troia. Período clássico – sécs. V e IV a.C. – auge da civilização grega; na política, o apogeu da democracia ateniense; desenvolvimento das artes, literatura e filosofia; época em que viveram os sofistas e os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. Período helenístico – sécs. III e II a.C. – decadência política, domínio macedônico e conquista da Grécia pelos romanos; culturalmente, significativa influência das civilizações orientais; florescimento das filosofias estoicas e epicuristas. Tempos homéricos – sécs. XII a VIII a.C. – na transição de um mundo essencialmente rural, os senhores enriquecidos formaram a aristocracia proprietária de terras, que fez recrudescer o sistema escravista. Período arcaico - sécs. VIII a VI a.C. – com a formação das cidades-estados (poleis), ocorreram grandes alterações sociais e políticas, bem como o desenvolvimento do comércio e a expansão da colonização grega. No início desse período teria vivido Hesíodo. No final do século VII e durante o século VI a.C. surgiram os primeiros filósofos. Uma nova ordem humana nascera por transformações que os gregos operaram na sabedoria oriental (egípcia, persa, caldeia e babilônica). Os sábios que viveram no Oriente no século VI a.C. foram: Confúcio e Lao- Tsé na China; Gautama Buda na Índia; Zaratustra na Pérsia. Platão e Aristóteles afirmavam a origem oriental da Filosofia. Os gregos, diziam eles, povo comerciante e navegante, descobriram, através das viagens: • a agrimensura dos egípcios (usada para medir as terras, após as cheias do Nilo), • a astrologia dos caldeus e dos babilônios (usada para prever grandes guerras, subida e queda de reis, catástrofes como peste, fome, furacões), • as genealogias dos persas (usadas para dar continuidade às linhagens e dinastias dos governantes), • os mistérios religiosos orientais referentes aos rituais de purificação da alma (para livrá-la da reencarnação contínua e garantir-lhe o descanso eterno), etc. A Filosofia teria nascido pelas transformações que os gregos impuseram a esses conhecimentos. No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada “orientalista”, e muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar na Filosofia como sendo o “milagre grego”. Seria dizer que: • os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes e nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a Filosofia, • como foram os únicos a criar as ciências e a dar às artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu, nem antes e nem depois deles. Nem oriental, nem milagre Final do século XIX da nossa era e durante o século XX, estudos históricos, arqueológicos, linguísticos, literários e artísticos corrigiram os exageros das duas teses, isto é, tanto a redução da Filosofia à sua origem oriental, quanto o “milagre grego ” Sim um processo gestado ao longo do tempo. O nascimento da filosofia costuma interpretar-se como um processo de progressiva libertação da consciência racional relativamente às explicações mitológicas. Condições históricas para o surgimento da Filosofia as viagens marítimas a invenção do calendário a invenção da moeda o surgimento da vida urbana a invenção da escrita alfabética a invenção da política (a lei e a polis, os discursos públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos.) A invenção da escrita Mesmo após o surgimento da escrita, a mesma reserva-se aos privilegiados, sacerdotes e reis e geralmente mantém o caráter mágico. Na Grécia a escrita era restrita aos escribas que exerciam funções administrativas. Com a invasão dórica, no século XII a.C. a escrita desapareceu junto com a civilização micênica, ressurgindo apenas no final do séc. IX ou VIII a.C. por influência dos fenícios. Passa a não sofrer mais influênciareligiosa, sendo utilizada para formas mais democráticas de exercício do poder. Dessacralização da escrita. Como a escrita fixa a palavra para além de quem a proferiu, exige maior rigor e clareza, estimulando assim o espírito crítico. A Lei Escrita: Legisladores como Drácon (séc. VII a.C.), Sólon e Clístenes (séc. VI a.C.) sinalizaram uma nova era: a justiça, até então dependente da interpretação da vontade divina ou da arbitrariedade dos reis, tornou-se codificada numa legislação escrita. O surgimento da moeda Entre os séculos VIII e VI a.C., deu-se o desenvolvimento do comércio marítimo. A moeda, inventada na Lídia – região da atual Turquia -, apareceu na Grécia por volta do século XII a.C., facilitando os negócios e impulsionando o comércio. Os produtos que antes se restringiam ao valor de uso passaram a ter valor de troca, transformando-os em mercadorias. A moeda representa uma convenção humana, noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes. A invenção da moeda desempenha papel revolucionário, por vincular-se ao nascimento do pensamento racional crítico. A polis buscava garantir a isonomia, do mesmo modo que a isegoria, a igualdade do direito da palavra na assembleia. O cidadão da polis A originalidade da polis é que ela estava centralizada na ágora, espaço onde se debatiam os problemas de interesse comum. A polis se fez pela autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos e, portanto, comum a todos, mas a palavra humana do conflito, da discussão, da argumentação. Expressar-se por meio da palavra, fez nascer a política. Da instauração da ordem humana surgiu o cidadão da pólis, figura inexistente no mundo da comunidade tribal e das aristocracias rurais. A invenção da política A consolidação da democracia Embora os regimes oligárquicos não tenham sido extirpados, em muitas poleis consolidam-se os ideais democráticos. Entre elas, Atenas é um modelo clássico. O apogeu da democracia ateniense ocorreu no século V a.C., quando Péricles governava. Os cidadãos livres, ricos ou pobres, tinham acesso à assembleia. Tratava-se da democracia direta, em que não eram escolhidos representantes, mas cada cidadão participava ele mesmo das decisões de interesse comum. No entanto, a maior parte da população ateniense estava excluída do processo político. Excluídos os estrangeiros, as mulheres, as crianças e escravos, restavam entre 10 a 14% de cidadãos propriamente ditos capacitados para participar das discussões na ágora e decidir por todos. Os primeiros filósofos Os primeiros filósofos viveram por volta dos séculos VII e VI a.C. e, mais tarde, foram classificados como pré-socráticos, quando a divisão da filosofia grega centralizou-se na figura de Sócrates. Os escritos desses filósofos desapareceram com o tempo, e só nos restam alguns fragmentos ou referências de filósofos posteriores. Os primeiros pensadores centraram a atenção na natureza e elaboraram diversas concepções de cosmologia – com a procura da racionalidade constitutiva do Universo. O princípio de todas as coisas Ao perguntarem como seria possível emergir o cosmo do caos, os pré-socráticos buscam o princípio (em grego, a arkhé) de todas as coisas – entendido como fundamento do ser. As respostas dos filósofos à questão do fundamento das coisas, da unidade que pode explicar a multiplicidade, são as mais variadas. No estudo da história da filosofia, os primeiros filósofos são chamados de pré-socráticos. Apesar de passar a ideia de que existiram antes de Sócrates, o termo pré-socrático indica uma tendência de pensamento, estando relacionado também com filósofos que viveram na mesma época de Sócrates e até mesmo depois dele. Filósofos pré-socráticos Aquilo que une os filósofos pré-socráticos é a preocupação em perguntar e compreender a natureza do mundo (a physis). Queriam entender a origem, o que originou todas as coisas, o princípio delas. Por isso observavam o mundo e buscavam explicações lógicas (racionais) para compreendê-lo. Essas explicações se contrapunham ao conhecimento religioso comumente aceito pelos gregos antigos. Tales de Mileto (640-548 a.C) “A água é o princípio de todas as coisas” Para Tales a água é o princípio (arché) de todas as coisas. Porquê? Porque a água é vida e princípio de vida, é a substância de que provêm todas as coisas e a ela retornam. Astrônomo, matemático e primeiro filósofo Anaximandro (610-547 a.C.) “O ilimitado é a origem dos seres” Anaximandro foi discípulo de tales, mas questionava as resposta de seu mestre. Dizia que o princípio de todas as coisas não pode ser uma coisa determinada como a água ou o fogo. A origem de tudo deve ser algo indeterminado e indefinido: o ápeiron Ápeiron significa infinito e representa a ideia de que a totalidade da existência é composta de seus contrários (quente-frio, bem-mal, seco-úmido) Foi matemático, astrônomo E filósofo Anaxímenes (588-524 a.C.) Anaxímenes também foi astrônomo e foi o primeiro a afirmar que a luz da Lua vinha do Sol Dizia que o princípio de todas as coisas é o Ar. O Ar está eternamente em movimento A alma humana é feita de Ar. Empédocles (483-430 a.C.) A mistura dos quatro elementos: terra, água, ar e fogo, em diferentes proporções, teriam dado início a todas as coisas do Universo. Empédocles foi filósofo, médico, legislador, professor e profeta. Defendia a ideia de que o mundo é construído a partir da relação de quatro elementos: água, terra, fogo e ar Viajou para muitos lugares e foi um grande defensor da democracia Parmênides de Eleia (544-450 a.C.) e Heráclito de Éfeso (séc. VI-V a.C.) Desenvolveram teorias que entraram em conflito e instigaram os filósofos do período clássico. Enquanto para Parmênides o ser é imóvel, imutável e o movimento é uma ilusão, para Heráclito tudo flui e tudo o que é fixo é ilusão: “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio”. Heráclito era conhecido como filósofo “obscuro” e no fim de sua via se isolou nas montanhas e se alimentava só de frutas Parménides foi admirado por seus contemporâneos por levar uma vida regrada e exemplar. Esteve em Atenas aos 65 anos e tornou-se amigo do jovem Sócrates Ele propôs que tudo o que existe é eterno, imutável e indestrutível Anaxágoras (499-428 a.C) Nascido em Clazômena, mudou-se para Atenas, onde foi mestre de Péricles. Sustentava que as “sementes” de todas as coisas foram ordenadas por um princípio inteligente, uma Inteligência cósmica. Em um fio de cabelo, por menor que seja a partícula que o divide, nela contém todos os elementos do universo. “Tudo está em tudo” Leucipo (séc. V a.C.) e Demócrito (460-370 a.C.) São atomistas, por considerarem o elemento primordial constituído por átomos, partículas indivisíveis. Como para eles também a alma era formada por átomos, estamos diante de uma concepção materialista e determinista. Os atomistas são precursores da ciência moderna. O seu sistema pode sintetizar-se da seguinte maneira: a realidade é composta por átomos indivisíveis que se movem no vazio. Pitágoras (séc. VI a.C.) Filósofo e matemático, o número é a essência de tudo; todo o cosmo é harmonia, porque é ordenado pelos números. O pitagorismo foi uma escola de sábios e filósofos que acreditava que os princípios matemáticos explicavam o universo. O número é o modelo originário das coisas e tudo é constituído por proporções matemáticas. Esta concepção matemática do universo influenciou o pensamento moderno. Tambémse dedicou ao estudo da geometria dos triângulos. Formulou o famoso teorema de Pitágoras: “em todo triângulo retângulo, a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa” Pensamentos de Pitágoras: - Educai as crianças e não será preciso punir os jovens; - Não é livre quem não tem domínio sobre si - Todas as coisas são números - A evolução é a lei da vida, o número é a lei do universo, a unidade é a lei de deus - A sabedoria plena e completa pertence a deus, mas os homens podem desejá-la e amá-la tornando-se filósofos - Anima-te por teres de suportar as injustiças; a verdadeira desgraça está em cometê-las Mito e filosofia: continuidade e ruptura Apesar das diferenças entre o pensamento mítico e a filosofia nascente, para alguns estudiosos o pensamento filosófico ainda apresentava vinculações com o mito. Contrapondo-se a esse pensamento, outros estudiosos afirmam existir uma ruptura entre mito e filosofia, pois enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e convida à discussão. A filosofia busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos; organiza-se em doutrina e surge, portanto, como pensamento abstrato.
Compartilhar