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8a Aula Apostila Estruturas e funções dos lipídios 2017.1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA
Apostila
A Química dos Lipídios
Prof: Paulo de Tarso Gonçalves Leopoldo
São Cristóvão,
 2017.
I - Tema Central: Estruturas e funções biológicas dos lipídios
II - Duração: Quatro horas/aulas
III - Estratégia: Aula Expositiva
IV - Meta
Introduzir o conhecimento das estruturas químicas dos lipídios, relacionando essas estruturas com as diversas funções biológicas que os lipídios exercem na natureza.
V Objetivos Específicos
Ao final desta aula você será capaz de:
5.1 Definir e classificar lipídios
5.2 Descrever e classificar os ácidos graxos
5.3 Descrever e classificar os triacilgliceróis
5.4 Enumerar algumas funções biológicas dos triacilgliceróis
5.5 Descrever a estrutura das ceras ou graxas
5.6 Citar algumas funções biológicas das ceras
5.7. Reconhecer os lipídios de membranas biológicas
5.8 Apresentar estruturas de glicerofosfolipídios ou fosfoglicerolipídios 
5.9. Descrever a estrutura dos esfingolipídios
5.10. Descreve as estruturas e funções biológicas de substâncias isoprenóides 
VI - Conteúdo Programático:
6.1 Introdução
6.1 Conceito e classificação dos lipídios
6.2 Química dos ácidos graxos
6.3 Estudo dos triacilgliceróis
6.4 Funções biológicas dos triacilgliceróis
6.5 Estrutura e funções biológicas das ceras ou graxas
6.7. Lipídios de membranas biológicas
6.8 Estruturas e funções de glicerofosfolipídios ou fosfoglicerolipídios
6.9. Estruturas e funções dos esfingolipídios
6.10. Estruturas e funções biológicas de substâncias isoprenóides 
Capítulo 08
A química dos lipídios
1. Introdução
Os lipídios formam uma classe de compostos estruturalmente diversos, mas que tem em comum sua natureza oleosa, como ainda sua solubilidade em solventes orgânicos apolares (como clorofórmio e benzeno) e insolubilidade em solventes polares (como etanol e água). As moléculas desta classe não formam estruturas poliméricas como as proteínas, os polissacarídeos e os ácidos nucléicos. Podem ligar-se a proteínas e carboidratos formando os glicoconjugados. Assim, quando lipídios ligam-se a proteínas, formam as lipoproteínas e quando ligados a carboidratos, mono ou oligossacarídeos, formam os glicolipídios. ). São encontrados em todos os tecidos de animais e vegetais. Nos tecidos animais são encontrados principalmente nas membranas celulares e nos adipócitos, células que armazenam triacilgliceróis (gordura).
2 Funções dos Lipídios
Embora apresentem estruturas químicas relativamente simples, as funções dos lipídios são complexas e diversas, atuando em diferentes etapas do metabolismo e na formação de diversas estruturas celulares, como as membranas biológicas.
Reserva energética dos animais e sementes oleaginosas. Os triacilgliceróis ou triglicerídeos são a principal forma de armazenamento de energia na célula. Portanto, cada grama de gordura oxidada a CO2 e H2O produz 9 kcal (1 g de gordura = 9 kcal). São combustíveis alternativos à glicose, pois produzem mais do que o dobro de ATP por grama de ácidos graxo oxidado, quando comparada à oxidação da glicose.;
São componentes estruturais das membranas biológicas. Tem função estrutural, participando como componentes não-protéicos de membranas biológicas. Os lipídios anfifílicos glicerofosfolipídios, esfingolipídios e colesterol compõem as membranas biológicas das células.
Ativadores de enzimas. Três enzimas microssomiais necessitam de micelas do glicerofosfolipídio fosfatidilcolina para serem ativadas. Alem das enzimas microssomiais, muitas outras enzimas necessitam de micelas lipídicas para ativação máxima;
Isolamento térmico e mecânico. Os triacilglicerois estão envolvido tanto na manutenção do calor interno do corpo de animais que vivem em regiões temperadas da Terra, como também formam camadas que envolvem órgãos internos, protegendo-os de atritos; 
Isolante elétrico. Permite a rápida propagação de ondas de despolarização ao longo dos nervos mielinizados. Esta função é atribuída à esfingomielinas, esfingolipídios da bainha de mielina; 
Precursores de moléculas mensageiras. Moléculas do ácido graxo ácido araquidônico são precursores de moléculas vasoativas como as prostaglandinas e os eicosanóides;
São vitaminas lipossolúveis. Exercem o papel de cofatores em reações enzimáticas. Como exemplo temos as vitaminas A, D, E, K;
Transporte de combustível metabólico. As lipoproteínas são conjugados de lipídios com proteínas, cuja função é a de transporte de colesterol e triacilglicerois na circulação sanguínea;
Transdução de sinal. O fosfatidilinositol e seus derivados fosforilados como fosfoinositol 4,5 bifosfato e inositol 1,4,5-trifosfato( IP3) são mensageiros intracelulares, agindo em diferentes níveis na regulação do metabolismo celular.
Imunomodulador. Regulador da resposta imunológica. Ex. Vitamina D.
2 Classificação dos lipídios
2.1 De acordo com suas estruturas químicas, os lipídios classificam-se em: 
Triacilgliceróis;
Ceras;
Glicerofosfolipídios;
Esfingolipídios e
Isoprenóides
2.2 Classificação dos lipídios em simples e complexos
2.2.1 Os lipídios simples são formados por ésteres de ácidos graxos com diferentes álcoois. Exemplos: Os triacilglicerois e as ceras.
2.2.1 Os lipídios complexos são formados por ésteres de ácidos graxos, contendo grupos químicos adicionais além de um álcool e um ácido graxo. Exemplos: Glicerofosfolipídios e esfingolipídios. Os glicerofosfolípidios são formados por duas moléculas de ácidos graxos, um ácido fosfórico e um grupo alcoólico ligado ao fosfato. Os esfingolipídios são formados por uma molécula de esfingosina, ácido graxo e um grupo polar ligado à esfingosina (glicolipídios) ou a um fosfato (fosfolipídios).
2.3 Classificação dos lipídios quanto à hidrólise alcalina
Quanto à reação com hidróxido de sódio os lipídios classificam-se em saponificáveis e não saponificáveis. Os lipídios saponificáveis tem ácidos graxos em suas estruturas, daí reagir com o hidróxido de sódio, sob aquecimento, produzindo sabões. Exemplos: Triacilgliceróis, Ceras, Glicerofosfolipídios e Esfingolipídios . Os lipídios não saponificáveis não tem ácidos graxos em suas estruturas e, portanto, não produzem sabões na hidrólise alcalina. Exemplo: Todos os lipídios da classe dos isoprenóides.
3. A química dos ácidos graxos
Os ácidos graxos são as unidades básicas da maioria dos lipídios. São ácidos monocarboxílicos com o grupo carboxila (–COOH) ligado a uma longa cadeia hidrocarbonada. A cadeia hidrocarbonada dos ácidos graxos tem de 4 a 36 carbonos, podendo ser saturada ou insaturada (Figura 1, Tabelas 1 e 2). Os ácidos graxos mais abundantes na natureza tem de 14 a 18 carbonos. Os ácidos graxos saturados não apresentam duplas ligações (Figuras 1a, 1b, 1c , 1d e 1e), enquanto os insaturados contêm uma ou mais duplas ligações em suas cadeias hidrocarbonadas (Figuras 1f. 1g e 1h). Os ácidos graxos que apresentam uma única ligação dupla são monoinsaturados, enquanto que os que apresentam duas ou mais ligações duplas são denominados poliinsaturados (Figuras 1g e 1h).
Figura 1. Estruturas dos ácidos graxos saturados e insaturados. (a) Representação estrutural do ácido palmítico, um ácido graxo saturado que contém 16 carbonos, em que se destacam as cadeia formada por hidrocarboneto (CH2)n-CH3 e do grupo carboxila (COOH). (b) Nesta representação, a cadeia do ácido palmítico está em sua conformação estendida, em que cada segmento de linha do ziguezague representa uma ligação simples entre os carbonos adjacentes. (c) Representação de van der Waals do ácido palmítico. Nesse modelo as esferas circuladas de azul representam o átomo de carbono, as esferas branca o hidrogênio e as vermelhas o oxigênio. (d e E) duas representações do ácido graxo esteárico, um ácido graxo saturado de 18 carbonos. (f, g e h) Apresentam estruturas dos ácidos graxos insaturados. (f) Ácido oléico, um ácido graxo de 18carbonos, monoinsaturado. A ligação dupla cis (vermelho) está entre os carbonos 9 e 10. Essa ligação restringe a rotação e introduz uma curva rígida na cauda de hidrocarbonetos. Todas as outras ligações na cadeia são livres para girar.(g) Ácido linoléico, também um ácido graxo com 18 carbonos, apresentando duas duplas ligações. (h) O ácido graxo α-linolênico de 18 carbonos e três duplas ligações. Os ácidos linoléico e o α-linolênico são poliinsaturados. 
Os ácidos graxos de ocorrência mais freqüente apresentam um número par de átomos de carbono em uma cadeia não ramificada de 12 a 18 carbonos (Tabelas 1 e 2). O número par de carbonos decorre da maneira como esses compostos são sintetizados, envolvendo a condensação de unidades de acetato (dois átomos de carbono). Os ácidos graxos com número ímpar de carbono são raros na natureza. Na tabela 1 encontram-se listados os ácidos graxos saturados mais abundantemente encontrados na natureza.
Tabela 1. Ácidos graxos saturados mais comuns.
	Número de carbono 
	Nome comum 
	Nome sistemático 
	Fórmula 
	2:0 
	Acido acético 
	Acido etanóico 
	CH3COOH 
	4:0 
	Acido butírico 
	Acido butanóico 
	CH3(CH2)2COOH 
	6:0 
	Acido caproico 
	Ácido Hexanóico 
	CH3(CH2)4COOH 
	8:0 
	Acido caprílico 
	Acido octanóico 
	CH3(CH2)6COOH 
	10:0 
	Acido cáprico 
	Acido decanóico 
	CH3(CH2)8COOH 
	12:0 
	Acido láurico 
	Acido dodecanóico 
	CH3(CH2)10COOH 
	14:0 
	Acido mirístico 
	Acido tetradecanóico 
	CH3(CH2)12COOH 
	16:0 
	Acido palmítico 
	Acido hexadecanóico 
	CH3(CH2)14COOH 
	18:0 
	Acido esteárico 
	Acido octadecanóico 
	CH3(CH2)16COOH 
	20:0 
	Acido araquídico 
	Acido eicosanóico 
	CH3(CH2)18COOH 
	22:0 
	Acido behênico 
	Acido docosanóico 
	CH3(CH2)20COOH 
3.1. Nomenclatura dos ácidos graxos mais comuns
A maioria dos ácidos graxos tem nome comum associado a sua origem ou função. O ácido graxo de quatro carbonos, ácido butírico, é nomeado assim devido o termo butírico derivar do latim butyrum, significando manteiga. Esse ácido confere o odor e o sabor peculiares da manteiga rançosa, daí seu nome comum. A nomenclatura sistemática dos ácidos graxos segue a de derivados de ácido carboxílico, numerando a cadeia a partir do carbono carboxílico. Os nomes sistemáticos para a série de ácidos saturados de C1 a C22 são apresentados na Tabela 1 O sufixo -anóico do ácido saturado é alterado para -enóico, -dienóico, -trienoico, -tetraenoico, -pentaenóico e -hexaenóico para indicar a presença de uma a seis duplas, respectivamente (Tabela 2).
Tabela 2. Ácidos graxos insaturados mais comuns.
	Número de carbonos, de dupla ligação dupla e sua localização 
	Nome comum 
	Nome sistemático 
	16:1 (Δ9) 
	Ácido palmitoleico 
	cis-9-Hexadecenóico 
	18:1 (Δ9) 
	Ácido oleico 
	cis-9-Octadecenóico  
	18:1 (Δ9) 
	Ácido elaídico 
	trans 9- Octadecanóico  
	18:2 (Δ9,12) 
	Ácido linoleico 
	todo-cis-9,12-Octadecadienóico  
	18:3 (Δ6,9,12) 
	Ácido γ-linolênico 
	todo-cis-6,9,12-Octadecatrienóico  
	18:3 (Δ9.12,15) 
	Ácido α-linolênico 
	todo-cis-9,12,15 Octadecatrienóico  
	20:4 (Δ5,8.11, 14) 
	Ácido araquidônico 
	todo-cis-5,8,11,14-Eicosatetraenóico 
3.1.2 Representação química dos ácidos graxos saturados e insaturados
3.1.2.1 Para ácidos graxos saturados. Na representação dos ácidos graxos saturados, especifica-se o total de seus átomos de carbono (o comprimento da cadeia), seguido de dois pontos, após os quais se escreve o numeral zero. Assim, o ácido palmítico, que contém 16 carbonos e é saturado, é representado por 16:0 (Tabela 1). 
3.1.2.2 Para ácidos graxos insaturados. O ácido oleico com 18 carbonos e uma dupla ligação é representado por 18:1 (Figura 2), em que o numeral 18 representa o número de átomos de carbonos do ácido graxo e o numeral 1, a quantidade de dupla ligação (Tabela 2). Nos ácidos graxos monoinsaturados, como o ácido oleico, a primeira dupla ligação se encontra entre os C-9 e C10 (C-1 sendo o carbono carboxílico no sistema de representação delta, a ser explicado no tópico seguinte). 
3.1.2.3 Para ácidos graxos poliinsaturados. As posições de quaisquer duplas ligações são especificadas por números sobrescritos seguindo a letra grega (delta). Um ácido graxo com 20 carbonos que apresenta quatro duplas ligações (Tabela 2), sendo a primeira delas encontrada entre os C-5 e C-6 , a segunda entre os C-8 e C-9, a terceira entre os C-11 e C-12 e a quarta entre os C-14 e C-15 é representado 20:4(Δ5,8,11,13). Os ácidos graxos insaturados, geralmente, tem sua primeira dupla ligação entre os C-9 e C-10, as próximas duplas ligações nos ácidos graxos poliinsaturados localizam-se entre os C-12 e C-15. 
3.1.2.4 Configuração das duplas ligações dos ácidos graxos de ocorrência natural. As duplas ligações dos ácidos graxos insaturados não são conjugadas, mas alternadas, ou seja, alternando ligações simples e duplas, como na CHCHCHCH, separadas por um grupo metileno (--CHCHCH2CHCH). Na maioria dos ácidos graxos insaturados de ocorrência natural, as duplas ligações tem configuração cis. Essa configuração alternada das duplas ligações protege esses ácidos graxos de oxidação, quando da exposição ao oxigênio molecular. 
Figura 2. Representações das estruturas dos ácidos graxos saturados e insaturados.
3.2 Representação n-ômega (ω-n) dos ácidos graxos insaturados
Os ácidos graxos insaturados podem ser nomeados de acordo com a posição da dupla ligação a partir da extremidade metila em n-ômega ou n-ω (Tabela 3), em que o n representa o número de duplas ligações do ácido graxo e o símbolo ω a classe ômega a que esse ácido graxo pertence. O ácido α-linolênico é um exemplo de ácido graxo do tipo ômega-3, sendo representado por 3n-3, em que o símbolo 3n indica as três duplas ligações desse ácido graxo e o último 3 representa a classe ômega a que pertence, que é ômega 3. O ácido linoleico (representado por 3n-6) e o ácido araquidônico (representado por 4n-6) são ambos ácidos graxos ômega-6 (Tabela 3). Os ácidos ômega-3 são encontrados em nozes, peixes gordurosos, rúcula e nos óleos vegetais.
3.2.1 Exemplo de ácido graxo tipo ômega-3 - O ácido linolênico (18:3 n-3):
H3C-CH2-CH=CH-CH2-CH=CH-CH2-CH=CH-CH2-CH2-CH2-CH2-CH2-CH2-CH2-COOH
 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 
3.2.2 Exemplo de ácido graxo tipo ômega-6 - O ácido α-linoleico (18:3 n-6):
H3C-CH2-CH2-CH2-CH2-CH=CH-CH2-CH=CH-CH2-CH=CH-CH2-CH2-CH2-CH2-COOH
 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 
Tabela 3 . Representações dos ácidos graxos insaturados pelos sistemas delta (Δ ) e ômega (ω)
	Nome descritivo
	Nome sistemático
	Representação no sistema delta (Δ )
	Representação no sistema ômega (ω)
	Classe de ácidos graxos Poli-insaturados
	Palmitoleico
	Hexadecenóico
	16.1
	n-7
	ômega -7
	Oleico
	Octadecenóico
	18.1
	n-9
	ômega -9
	Linoleico
	Octadecadienóico
	18.2 (Δ9,12)
	2n-6
	ômega -6
	Linolênico
	Octadecatrienóico
	18.3 (Δ9,12,15)
	3n-3
	ômega -3
	Araquidônico
	Eicosatetraenóico
	20.4 (Δ5, 8,11,14)
	4n-6
	ômega -6
3.3 Os ácidos graxos trans elaídico e trans-vacênico
Os ácidos graxos trans podem ser encontrados em alimentos obtidos de animais ruminantes e em alimentos que contêm gordura vegetal parcialmente hidrogenada, como margarina e biscoitos. Devido à presença de insaturações, ou seja, carbonos ligados por dupla ligação, os ácidos graxos podem apresentar isomeria de posição e isomeria geométrica. Os ácidos graxos mais abundantes são encontrados naturalmente na forma cis, em que os átomos de menor peso molecular encontram-se paralelos (Figura 3) e na forma trans, em que os átomos de menor peso molecular estão dispostos de forma diagonal.
Os ácidos graxos trans são também formados durante o processo de hidrogenação catalítica de óleos vegetais para produzir margarinas. Issose dá devido à adição de átomos de hidrogênio a duplas ligações do ácido graxo. O ângulo das duplas ligações na posição trans é menor que seu isômero cis, daí suas cadeias hidrocarbonadas serem lineares, resultando em uma molécula mais rígida, com propriedades físicas diferentes, inclusive no que se refere à estabilidade termodinâmica.
Em óleos vegetais ou animais, o isômero cis é mais comumente encontrado. Porém, ácidos graxos insaturados ingeridos por ruminantes podem ser parcialmente hidrogenados por sistemas enzimáticos da flora microbiana intestinal desses animais. O primeiro passo da chamada bio-hidrogenação é a isomerização do ácido linoléico pela bactéria anaeróbica Butyrivibrio fibrisolvens e posterior formação de uma mistura que contém, principalmente, ácido trans-vacênico (18:1-∆11trans) e em menor proporção ácido elaídico (18:1-∆9trans). Dessa forma, leites, seus derivados e carnes contêm isômeros na forma cis e trans (Figura 3).
Figura 3. Representação do ácido graxo elaídico, o isômero trans do ácido oléico. Os ácidos graxos oléico e elaídico tem ambos 18 carbonos e uma dupla ligação no carbono 9. Enquanto a dupla ligação do ácido oléico tem configuração cis, a do ácido elaídico é trans. 
3.4 Ácidos graxos essenciais. O corpo humano pode produzir quase todos os ácidos graxos necessários para seu metabolismo, principalmente a partir da redução das duplas de ácido ômega-3, ômega-6 e ômega-9. Os ácidos linoleico e α-linolênico (Figura 4), ambos ácidos graxos essenciais, devem ser obtidos da alimentação, tendo em vista não poder ser sintetizados em células de mamíferos. No corpo, os ácidos graxos essenciais são primariamente usados para produzir substâncias como os hormônios, que irão regular uma grande quantidade de funções tais como pressão sanguínea, níveis de lipídios no sangue, as respostas imunológica e inflamatória a infecções de injúrias.
Figura 4. Ácidos graxos essenciais. Os ácidos linoleico e α-linolênico, ambos ácidos graxos essenciais, devem ser obtidos da alimentação, tendo em vista não poder ser sintetizados em células de mamíferos. 
Na célula, os ácidos graxos não são encontrados na forma livre, mas ligados covalentemente a uma molécula de álcool como o triálcool glicerol e o aminoálcol esfingosina, formando os diversos lipídios que serão estudados nas seções seguintes. Os ácidos graxos livres são uma importante fonte de energia para muitos tecidos, onde eles podem produzir quantidades relativamente altas de ATP, quando metabolizados. Muitas células podem usar a glicose e os ácidos graxos como fonte de combustível energético. Entretanto, o coração e os músculos utilizam os ácidos graxos na produção de ATP. As células nervosas, por sua vez, não metabolizam os ácidos graxos como fonte de energia, mas tão somente glicose ou os corpos cetônicos, estes produzidos no fígado pelo catabolismo dos ácidos graxos, quando o corpo é submetido a jejuns prolongados.
3.5 Propriedades físicas dos ácidos graxos
3.5.1 Insolubilidade em água. As propriedades físicas dos ácidos graxos, e dos compostos que os contêm, são principalmente determinadas pelo comprimento e grau de insaturação da cadeia de hidrocarboneto. A cadeia de hidrocarboneto apolar é a responsável pela pequena solubilidade de ácidos graxos em água. O ácido láurico (12:0), por exemplo, tem uma solubilidade em água de 0.063mg/g - muito menor do que a da glicose, que é de 1,100 mg/g. Quanto mais longa for a cadeia hidrocarbonada do ácido graxo, e menor o número de duplas ligações, mais baixa será a solubilidade em água. O grupo ácido carboxílico é responsável pela solubilidade em água de ácidos graxos de cadeia curta. 
3.5.2 Ponto de fusão. Os pontos de fusão dos ácidos graxos também são fortemente influenciados pelo comprimento e grau de insaturação da cadeia hidrocarbonada (Tabela 4). Sob temperatura de 25ºC, os ácidos graxos saturados de 12:0 a 24:0 apresentam altos pontos de fusão e consistência sólida, enquanto que os ácidos graxos insaturados de igual comprimento tem pontos de fusão mais baixos e são líquidos oleosos. 
Tabela 4. Pontos de fusão de alguns ácidos graxos saturados e insaturados
	Nome
	Representação
	Fórmula
	Ponto de fusão (Oc)
	Ácido láurico 
	12:0
	CH3(CH2)10COOH
	44,2
	Ácido mirístico 
	14:0
	CH3(CH2)12COOH
	53,9
	Ácido palmítico 
	16:0
	CH3(CH2)14COOH
	63,1
	Ácido esteárico 
	18:0
	CH3(CH2)16COOH
	69,6
	Ácido araquídico 
	20:0
	CH3(CH2)18COOH
	76,5
	Ácido palmitoléico 
	16.1 (Δ9)
	CH3(CH2)5CH=CH(CH2)7COOH 
	-0,5 
	Ácido oléico
	18.1 (Δ9)
	CH3(CH2)7CH=CH(CH2)7COOH 
	13,2 
	Ácido linoléico
	18.2 (Δ9,12) 
	CH3(CH2)4CH=CH(CH2)2(CH2)6COOH 
	-9 
	Ácido α-linolênico 
	18.3 (Δ9,12,15) 
	CH3(CH2)(CH=CHCH2)3(CH2)6COOH 
	-17 
	Ácido araquid ônico 
	20.4 (Δ5,8,11,14) 
	CH3(CH2)3(CH2-CH=CH)4(CH2)3 COOH 
	- 49,5 
Essas diferenças nos pontos de fusão se devem a diferentes graus de empacotamento das moléculas do ácido graxo. Nos compostos completamente saturados, a livre rotação de cada ligação carbono-carbono proporciona grande flexibilidade à cadeia de hidrocarboneto; resultando na conformação mais estável, que é a forma completamente estendida, na qual a interferência estérica dos átomos vizinhos é mínima (Figuras 5a). Essas moléculas podem se agrupar de forma compacta, formando arranjos quase cristalinos com os átomos ao longo de sua cadeia em contato de van der Waals com os átomos da cadeia vizinha. Nos ácidos graxos insaturados, uma dupla ligação em cis provoca uma curvatura na cadeia hidrocarbonada (Figura 5b). Os ácidos graxos com uma ou mais destas curvaturas não podem se agrupar de forma tão compacta como os ácidos saturados, daí as interações entre eles serem, portanto, mais fracas (Figuras 5b e 5c). Como se gasta menos energia térmica para desfazer estes arranjos fracamente ordenados de ácidos graxos insaturados, eles tem pontos de fusão consideravelmente mais baixos do que ácidos saturados com o mesmo comprimento de cadeia (Tabela 4).
Figura 5. (a) Grupos de ácidos graxos saturados e insaturados. Os ácidos graxos saturados apresentam carbonos ligados por ligação covalente simples, daí apresentarem caudas hidrocarbonadas (representada em amarelo) retas. Os insaturados, por sua vez, apresentam curvaturas em suas cadeias, devido à presença de dupla ligação. (b) O ácido esteárico (saturado) e o elaídico (insaturado do tipo trans) tem cadeias hidrocarbonadas cujos carbonos são flexíveis, apresentando cadeias retas, daí terem esses ácidos graxos pontos de fusão mais altos do que os ácidos graxos monoinsaturados com configuração cis de sua dupla ligação (ácido oléico), como também dos poliinsaturados (c), cujas cadeias apresentam mais curvaturas, o que proporciona associação frouxa entre esses ácidos graxos, como o ácido graxo linolênico.
De modo geral, os ácidos graxos saturados com até nove átomos de carbono são líquidos. Os ácidos graxos saturados com mais de nove átomos de carbonos são sólidos e, os ácidos graxos insaturados são líquidos. A solubilidade em água diminui com o aumento no tamanho da cadeia hidrocarbonada do ácido graxo. 
4. Triacilgliceróis
4.1 Estrutura química, classificação e funções biológicas. Os lipídios mais simples formados de ácidos graxos são os triacilgliceróis, também denominados triglicérides, triglicerídeos gorduras ou gorduras neutras. Os triacilgliceróis são formados por três moléculas de ácidos graxos que se ligam covalentemente a hidroxilas do glicerol por ligação éster (Figura 6).
Figura 6. Os triacilgliceróis são triésteres de ácidos graxos com glicerol, em três cadeias de ácido graxo (representados por R1, R2 e R3), ligam-se por meio de ligação covalente do tipo éster as OH dos C-1, C-2 e C-3 do triálcol glicerol.
4.2 Classificação dos Triacilgliceróis. Os triacilgliceróis se classificam em simples e mistos (Figura 7). Essa classificação baseia-se no tipo de ácido graxo que entra na formação dos triacilgliceróis. Os triacilgliceróis simples apresentamo mesmo tipo de ácido graxo ligado às três hidroxilas do glicerol, enquanto os mistos apresentam pelo menos dois ácidos graxos diferentes ligados à molécula de glicerol. Os triacilgliceróis simples são nomeados de acordo com o tamanho da cadeia do ácido graxo: triacilgliceróis contendo 16:0, 18:0 e 18:1, por exemplo, são denominados tripalmitina (Figura 7a), triestearina e trioleína, respectivamente. A maioria dos triacilgliceríois de ocorrência natural é do tipo misto. Para nomear os triacilgliceróis mistos sem ambigüidade, o nome e a posição de cada ácido graxo devem ser especificados (Figura 7b).
Figura 7. Triacilgliceróis simples e misto. (a) Um triacilglicerol simples é formada por cadeias do mesmo ácido graxo ligado ao glicerol. Neste triacilglicerol temos três unidades de ácido palmítico esterificado ao glicerol, daí ser nomeado tripalmitina. (b) O triacilglicerol misto tem três ácidos graxos diferentes ligados ao glicerol. Este triacilglicerol é formado por palmitoleico, oléico e esteárico, sendo nomeado 1-Palmitoleil, 2-linoleoil, 2-estearoil.
Como as hidroxilas polares do glicerol e os carboxilatos polares dos ácidos graxos estão unidos em ligações éster, os triacilgliceróis são moléculas, apolares, hidrofóbicas essencialmente insolúveis em água. Os lipídios apresentam uma densidade específica menor do que a água, daí por que as misturas de óleo e água se separam em duas fases: o óleo flutuando sobre a fase aquosa. (o mesmo ocorre em mistura de óleo-vinagre para tempero de saladas e molhos de carnes).
Na maioria das células eucarióticas, os triacilgliceróis formam uma fase separada de gotículas microscópicas de óleo no citoplasma aquoso, servindo como depósitos de combustível metabólico. Nos animais vertebrados os adipócitos, ou células gordurosas, armazenam grandes quantidades de triacilgliceróis como gotículas de gordura, que preenchem quase toda a célula. Os triacilgliceróis são também armazenados como óleos nas sementes de muitos tipos de plantas, fornecendo energia e precursores biossintéticos durante a germinação das sementes. Os adipócitos e sementes em germinação contêm lipases, enzimas que catalisam a hidrólise de triacilgliceróis armazenados, liberando ácidos graxos para exportação para células onde serão necessários como combustíveis energéticos.
Os triacilgliceróis são melhores reserva energética do que glicogênio e amido, devido a:
1. Os carbonos dos ácidos graxos são mais reduzidos do que os carbonos do glicogênio e amido, daí a oxidação dos ácidos graxos dos triacilgliceróis fornecer por grama dessa molécula oxidada, mais do que o dobro do número de ATP produzidos pela oxidação desses polissacarídeos. 
2. Os triacilgliceróis são hidrofóbicos e, portanto não hidratados. O organismo que armazena gordura como combustível não acumula o peso extra da água de hidratação, que está associado aos polissacarídeos armazenados (2g por grama de polissacarídeo). 
Nos seres humanos o tecido adiposo é composto principalmente de adipócitos que ocorrem sob a pele, na cavidade abdominal e nas glândulas mamárias. Pessoas moderadamente obesas, com 15 a 20 kg de triacilgliceróis depositados em seus adipócitos, poderiam obter suas necessidades energéticas durante meses, valendo-se dessas reservas energéticas. Por outro lado, as reservas de glicogênio do corpo humano armazenam menos do que o suprimento energético necessário para um dia. Os carboidratos como glicose e glicogênio oferecem certas vantagens como uma fonte rápida de energia metabólica, uma delas sendo sua imediata solubilidade em água.
4.3 Óleos, azeites, gorduras, margarinas e manteigas
Os óleos vegetais e animais, azeites, gorduras animais e manteigas são misturas complexas de triacilgliceróis simples e mistos. Eles contêm uma variedade de ácidos graxos que diferem quanto ao comprimento da cadeia e grau de saturação (Tabela 5). As gorduras são sólidas a temperaturas abaixo de 20 ° C; enquanto os óleos são líquidos a tais temperaturas. Os azeites também são como óleos, diferenciando apenas da fonte onde são obtidos. Enquanto os óleos são obtidos de grãos ou sementes de oleaginosas, os azeites são obtidos por prensas dos frutos, como o azeite de oliva obtido do fruto da oliveira. 
Os óleos vegetais, como os óleos de milho e azeite de oliva são mais abundantes em triacilgliceróis contendo ácidos graxos insaturados e, são, daí serem líquidos à temperatura ambiente. Eles são convertidos industrialmente em margarinas por hidrogenação catalítica, que reduz algumas de suas duplas ligações à ligações simples. As gorduras animais são formadas em sua maior composição por triacilgliceróis contendo ácidos graxos saturados. Exemplo dessas temos a triestearina, encontrada abundantemente em gordura bovina, que é um sólido branco e gorduroso à temperatura ambiente (Tabela 5). Os pontos de fusão das gorduras - e, portanto, seu estado físico à temperatura ambiente (25 ° C) - são uma função direta da sua composição de ácidos graxos. O azeite tem uma alta proporção de ácidos graxos insaturados de cadeia longa (C16 e C18), que explica o seu estado líquido a 25 ° C. A maior proporção de ácidos graxos saturados de cadeia longa (C16 e C18) na manteiga aumenta o seu ponto de fusão, de modo que a manteiga é um sólido macio à temperatura ambiente.
O óleo de coco e o óleo de palma (Tabela 5) diferem dos outros óleos devido ao alto teor de ácido láurico (C12). O óleo é extraído por prensagem , seguido de extração de solvente. Eles também são fonte dos ácidos graxos com 8 e 10 carbonos. Esses óleos diferem ligeiramente um do outro principalmente porque o óleo de coco é mais rico nos ácidos 6: 0 a 10: 0 e o óleo de palma é mais rico em ácidos graxos de 18 carbonos insaturados.
Quando alimentos ricos em lipídios são expostos longamente ao oxigênio do ar podem deteriorar e se tornar rançosos. O gosto e o cheiro desagradáveis associados à rancificação resulta da clivagem oxidativa de duplas ligações em ácidos insaturados, produzindo aldeídos e ácidos carboxílicos de cadeia mais curta e, portanto com maior volatilidade.
Tabela 5. Comparação dos percentuais de ácidos graxos saturados em óleos, gorduras e azeite
	Produto
	Ácido graxo saturado
	Ácido graxo poliinsaturado
	Ácido graxo monoinsaturado
	Azeite de Oliva
	14
	09
	77
	Óleo de canola
	06
	36
	58
	Óleo de cártamo
	09
	78
	13
	Óleo de girassol
	11
	69
	20
	Óleo de milho
	13
	62
	25
	Óleo de soja
	15
	61
	24
	Óleo de algodão
	27
	54
	19
	Gordura bovina
	41
	12
	47
	Azeite de dendê (Óleo da Palma)
	51
	10
	39
	Manteiga
	66
	04
	30
	Óleo de côco
	92
	02
	06
	Óleo de amendoim
	18
	34
	48
4.4 Papel dos triacilgliceróis na flutuação do cachalote
Estudos com espermacete de baleias ou cachalotes permitiram atribuir aos triacilgliceróis papel importante na adaptação desses mamíferos à flutuação. A cabeça da baleia é muito grande, compreendendo mais ou menos um terço do seu peso corporal. Aproximadamente 90% do peso da cabeça é do órgão do espermacete, uma massa esponjosa que contêm aproximadamente 18.000kg (mais ou menos 4 toneladas) de óleo de espermacete, uma mistura de triacilgliceróis e ceras contendo uma abundância de ácidos graxos insaturados (figura 8). Essa mistura é líquida na temperatura normal de repouso do corpo da baleia, aproximadamente 37ºC, mas ela começa a cristalizar ao redor de 31ºC e se torna sólida quando a temperatura cai vários graus abaixo.
A provável função biológica do óleo de espermacete foi deduzida a partir de pesquisa anatômica e de hábitos de alimentação do cachalote. Estes mamíferos se alimentam quase exclusivamente de lulas em águas muito profundas. Em seus mergulhos alimentares, eles descem 1,000 metros ou mais; a maior profundidade registrada em mergulho foi de 3,000 metros (quase 2 milhas). Para que um animal marinho possa permanecer a uma dada profundidade sem um constante esforço natatório, ele deve ter a mesma densidade que a água dos arredores. O espermacetesofre mudanças na sua flutuação para se ajustar à densidade do ambiente que a cerca da superfície do oceano tropical para as grandes profundidades onde a água é muito mais fria e, portanto mais densa. A chave é o ponto de fusão do óleo de espermacete. Quando a temperatura do óleo baixa vários graus em um mergulho profundo, ele congela, ou cristaliza e se torna mais denso. Assim, a flutuação da baleia muda para se ajustar à densidade da água do mar. Vários mecanismos fisiológicos promovem o rápido resfriamento do óleo durante o mergulho. Durante o retorno à superfície, o óleo de espermacete congelado se aquece e funde, diminuindo sua densidade para se adequar à água da superfície. Assim, vemos na baleia do espermacete, uma notável adaptação anatômica e bioquímica. Os triacilgliceróis e ceras sintetizados pelo cachalote contêm ácidos graxos com adequado número de carbonos na cadeia e grau de insaturação para dar ao óleo de espermacete o ponto de fusão adequado para os hábitos de mergulho do animal. Assim, o cacholote espera tranqüilamente a passagem dos cardumes de lulas.
Figura 8. Representação do órgão espermacete, localizado na região da cabeça do cachalote. O espermacete é formado por uma mistura de triacilglerois compostos por ácidos graxos saturados e insaturados, bem como por ceras.
5. Ceras
As ceras biológicas são ésteres de ácidos graxos saturados e insaturados de cadeia longa (com 14 a 36 átomos de carbonos), com álcoois de cadeia longa, contendo de 16 a 30 carbonos (Figura 9a). As temperaturas de fusão das ceras variam de 60 a 100o C, bem mais altas do que as dos triacilgliceróis.
 
5.1 Funções biológicas das ceras.
As ceras apresentam diversas funções na natureza, devido às suas propriedades repelentes a água e sua consistência firme como:
5.1.1 Reserva energética. No plancto, constituído por microrganismos marinhos flutuando livremente e no fundo da cadeia alimentar, as ceras são a principal forma de armazenamento de combustível metabólico.
5.1.2 Impermebializante. Certas glândulas da pele de vertebrados secretam ceras para proteger o pêlo e a pele e mantê-los flexíveis, lubrificados e à prova de água. Os pássaros, particularmente os pássaros marinhos, secretam ceras de suas glândulas para manter suas penas repelentes à água. 
5.1.3 Proteção contra evaporação e ataque de parasitas. As folhas lustrosas de azevinhos, rododentros, marfim venenoso e muitas outras plantas tropicais são cobertas por uma grossa camada de cera, que impede a evaporação excessiva da água e protege a planta contra o ataque de parasitas.
As ceras biológicas encontram uma variedade de aplicações na indústria farmacêutica, de cosméticos e outras. A lanolina (da lã de carneiro), cera de abelha (Figura 9b), cera de carnaúba (uma palmeira brasileira) e a cera extraída do óleo de espermacete (de baleias) são largamente usadas na manufatura de loções, pomadas e polidores.
Figura 9. Estrutura química das ceras. (a) As ceras são éster de um ácido graxo de cadeia longa com um álcool de cadeia longa Rrepresentação da estrutura química da cera da abelha, formada pelo ácido graxo palmítico e pelo álcool de 30 carbonos, 1-Triacontanol. (b) Abelhas impermeabilizando suas colméia com ceras.
6. Lipídios de membranas biológicas
As membranas biológicas são formadas por um bicamada lipídica (Figura 10), que atua como uma barreira, impedindo a passagem de moléculas polares e íons do meio intracelular para o extracelular e vice-versa. Os lipídios que entram na composição de membranas biológicas são moléculas anfifílicas ou anfpáticas, em que o pólo apolar é representado pela cadeia hidrocarbonada do lipídio e o polar pelos grupos hidrofílicos que se associam a essas moléculas como álcoois, açúcares, entre outros. Essa estrutura em bicamada é estabilizada por interações química não covalentes tais como van der Waals e hidrofóbica, que ocorre com a associação das caudas apolares desses lipídios, e as interações hidrofílicas, como pontes de hidrogênio, que ocorrem com os grupos polares e a água.
Figura 10. As cadeias de ácidos graxos no interior da membrana (marrom) formam uma região hidrofóbica fluida. Seus grupos polares (azul) separam dois ambientes aquosos: o citossol da matriz extracelular. As proteínas integrais flutuam neste mar de lípídios, realizada por interações hidrofóbicas com suas cadeias laterais de aminoácidos não-polares..
6.1 Classificação dos lipídios de membranas biológicas
Os lipídios de membranas biológicas são agrupados em três classes, a saber: glicerofosfolipídios, esfingolipídios e esteróides. Os grupos hidrofílicos desses lipídios anfipáticos podem ser um grupo hidroxila (OH ) como ocorre entre os esteróides, em que uma OH se liga a uma das extremidades do sistema de anéis dos esteróis, ou podem ser grupos com estruturas tão complexas como serão vistos posteriormente nas estruturas da cardiolipina e gangliosídeos. Alguns lipídios de membranas ainda se agrupam em duas subclasses: fosfolipídios e glicolipídios. Os fosfolipídios são lipídios de membranas que apresentam fosfato em suas estruturas, em que o grupo polar se liga a um grupo fosfato por uma ligação fosfodiéster. Os glicolipídios são os lipídios que apresentam como grupo polar um monossacarídeo ou oligossacarídeos (Figura 11). A enorme diversidade de estruturas químicas que se observa nas classes dos lipídios de membranas decorre das diversas possibilidades de combinações das cadeias hidrocarbonadas dos ácidos graxos e dos grupos químicos que podem formar as cabeças polares. 
Figura 11. Representação esquemática das estruturas dos lipídios de membranas biológicas, agrupados em dois grupos: fosfolipídios (os que apresentam fosfato em suas estruturas) e os glicolipídios (lipídios glicoconjugados, cujo grupo polar é de natureza de carboidrato). Entre os fosfolipídios destacam-se os glicerofosfolipídios e e os esfingolipídio esfingomielina. Os glicolipidios são os esfingolipídios.
6.2 Glicerofosfolipídios
Formação estrutural dos glicerofosfolipídios. Os glicerofosfolipídios ou fosfoglicerídios são os lipídios de membranas mais abundantes. Todos os lipídios dessa classe são derivados do ácido fosfatídico, molécula formada de glicerol em que dois ácidos graxos estão unidos em ligação éster às hidroxilas do primeiro e do segundo carbono do glicerol e um grupo fosfato ligado a OH do terceiro carbono (Figura 12) 
Todos os glicerofosfolipídios são denominados como derivados do composto precursor ácido fosfatídico (Figuras 12a e 12b), de acordo com o álcool polar no seu grupo cabeça (Figura 12c). Por exemplo, fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina têm colina e etanolamina nos seus grupos cabeça polares. Em todos estes compostos, o grupo cabeça está ligado ao glicerol por um fosfodiéster, no qual o grupo fosfato leva uma carga negativa em pH 7,0. O álcool polar pode estar negativamente carregado (como no fosfatidilinositol 4,5-bifosfato) , neutro (fosfatidilserina) ou positivamente carregado ( fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina). 
Figura 12. (a) Estrutura do ácido fosfatídico, precursor de todos os glicerofosfolipídios. As cadeias de ácidos graxos R1 e R2 se ligam nos C1 e C2 do glicerol, enquanto o grupo fosfato está ligado em C3. e X é o átomo de H, que pode ser substituído pelo grupo polar. (b) Representação esquemática do ácido fosfatídico. (c) Representação esquemática de um glicerofosfolipídio.
6.3Tipos de glicerofosfolipídios. Os glicerofosfolipídeos são classificados de acordo com o álcool esterificado ao grupo fosfato em: fosfatidilcolina (lecitina), fosfatidiletanolamina (cefalina), fosfatidilglicerol e fosfatidilserina (Figura 13). Os ácidos graxos freqüentemente encontrados nos glicerofosfolipídeos tem entre 16 e 20 átomos de carbono. Os ácidos graxos saturados ligam-se geralmente no C1 do glicerol e a posição C-2 é freqüentemente ocupada por ácidos graxos insaturados. 
Figura 13. Estruturas químicas dos glicerofosfolipídios fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina,fosfatidilglicerol e fosfatidilserina.Todos os glicerofosfoliídios apresentados apresentam uma molécula de glicerol, cujas hidroxilas (OH) dos C-1 e C-2 ligam a ácidos graxos (R) e um grupo fosfato na 3-OH. Ao grupo fosfato liga-se o grupo polar, que na fosfatidilcolina é a amina quaternária alcoólica, colina; na fosfatidiletanolamina o etanolamino; no fosfatidilglicerol é o triálcool glicerol e na fosfatidilserina o aminoácido serina.
6.4 Glicerofosfolipídio com função na transdução de sinal. O fosfatidilinositol e seus derivados fosforilados como fosfoinositol 4,5 bifosfato e inositol 1,4,5-trifosfato( IP3) agem em diferentes níveis para regular a estrutura e o metabolismo celular. O fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato no lado citossólico (interno) da membrana plasmática funciona como um sítio de ligação específico para certas proteínas do citoesqueleto e para algumas proteínas solúveis envolvidas em fusão de membranas durante a exocitose. O composto também serve como reservatório de moléculas mensageiras que são liberadas dentro da célula, em resposta a sinais extracelulares, interagindo com receptores específicos na superfície externa da membrana plasmática. Os sinais ocorrem por meio de uma série de etapas que começam com a remoção enzimática de um grupo polar fosfolipídico e termina com a ativação da enzima proteína cinase C. Quando o hormônio vasopressina se liga à receptores da membrana plasmática de células epiteliais do ducto coletor renal, uma fosfolipase C específica é ativada. A Fosfolipase C hidrolisa a ligação entre glicerol e fosfato no fosfoinositol 4,5 bifosfato liberando dois produtos: inositol 1,4,5-trifosfato( IP3), que é solúvel em água, e diacilglicerol, que permanece associado à membrana plasmática. O IP3 provoca a liberação de íons Ca2+ do retículo endoplasmático, e a combinação de diacilglicerol e Ca2+ citossólico elevado ativa a enzima proteína cinase C. Essa enzima catalisa a transferência de um fosforil de ATP para um resíduo específico em uma ou mais proteínas alvo, assim, alterando sua atividade e o metabolismo da célula. Esfingolipídios de membrana podem também servir como fontes de mensageiros intracelulares; ambas, ceramida e esfingomielina são potentes reguladores de proteína cinases.
7. Esfingolipídios. Diferentemente dos glicerofosfolipídios, os esfingolipídios não tem em suas estruturas a molécula de glicerol, mas sim, uma molécula de esfingosina (4-esfingenina) ou diidroesfingosina, ambas aminoalcóois (Figura 12). A esfingosina é mais comumente encontrada nos esfingolipídios do que a diidroesfingosina. Os carbonos, C-1, C-2 e C-3 da molécula dessas moléculas (esfingosina e diidroesfingosina) são estruturalmente análogos aos três grupos hidroxila do glicerol, diferindo apenas que no C-2 em vez de uma OH é encontrado um grupo amino (NH2). Quando o ácido graxo está ligado ao –NH2 no C-2, o composto resultante é uma ceramida. A ceramida é o precursor estrutural de todos os esfingolipídios (Figura 10).
Os esfingolipídios, todos derivados da ceramida, se classificam em duas classes a saber: esfingomielinas e glicoesfingolipídios. Os glicoesfingolipídios por sua vez se subdividem em, globosídeos, cerebrosídeos e gangliosídeos (Figura 14).
Figura 14. Estrutura geral e tipos de esfingolipídios. (a) Estrutura geral dos esfingolipídios. Os três primeiros carbonos na extremidade polar da esfingosina são análogos aos três carbonos de glicerol nos glicerofosfolipídios. O grupo amino em C-2 liga-se a um ácido graxo por meio de uma ligação amida, formando a ceramida, o derivado de todos os esfingolipídios. O ácido graxo dos esfingolipídios é geralmente saturado ou monoinsaturado, com 16, 18, 22 ou 24 átomos de carbono. (b) classe de esfingolipídios. Os esfingolípidos diferem no grupo da cabeça polar (X) anexado em C-1. As esfingomielinas tem um grupo fosfocolina ou fosfoetanolamina ligado à ceramida. O cerebrosídeo glicosilcerebrosídeo tem como grupo polar uma unidade de glicose. Os globosídeos, como o lactosilcerebrosídeo tem como grupo polar uma unidade do dissacarídeo lactose.Os gangliosídeos têm grupos de oligossacarídeos muito complexos, sendo que uma das unidades de monossacarídeos é o ácido siálico.
7.1.1. Esfingomielinas. As esfingomielinas possuem fosfocolina ou fosfoetanolamina como grupo polar, que se liga a OH do C-1 (Figura 15). Estão presentes no folheto externo das membranas plasmáticas de células animais. A bainha de mielina que envolve e isola os axônios dos neurônios é rica em esfingomielinas.
Figura 15. Estruturas das esfingomielinas. (a) Estrutura da ceramida. A ceramida é formada por um molécula de 18 carbonos, a esfingosina (4-esfingenina), que tem ligado uma molécula de ácido graxo insaturado ao grupo amino do C-2. Essa é uma ligação covalente do tipo amida (b) Estrutura da esfingomielina. As esfingomielinas são formadas por uma ceramida ligada a um grupo polar fosfocolina (como destacado na figura 11b) ou fosfoetanolamina.
7.1.2. Glicoesfingolipídios. Os glicoesfingolipídios possuem uma ou mais unidades de monossacarídeos como grupo polar ligado à hidroxila do C-1 da ceramida. São considerados lipídios complexos e podem ser classificados em cerebrosídeos, sulfatídeos, globosídeos e gangliosídeos. Todos os lipídios desta classe são glicoconjugados do tipo glicolipídio.
7.1.2.1 Os cerebrosídeos. São glicoesfingolipídios que tem como grupo polar uma unidade de monossacarídeo ligado à ceramida(Figura 16a). Os cerebrosídeos de galactose são encontrados na membrana plasmática de células dos tecidos neurais (galactocerebrosídeo) e os de glicose são encontrados em membranas de tecidos não neurais (glicocerebrosídeo). 
7.1.2.2 Os Sulfatídeos são galactocerebrosídeos que contêm um grupo sulfato esterificado a OH do C-3 da galactose. Os sulfatídeos apresentam carga negativa líquida no pH fisiológico (pH 7,0).
7.1.2.3 Os globosídeos. São glicoesfingolipídios formados por duas ou mais unidades de monossacarídeos, normalmente di, tri e tetrassacarídeos. Os monossacarídeos que entram na composição desses lipídios são D-glicose, D-galactose ou N-acetil-D-galactosamina. Os globosídeos são encontrados na face externa da membrana plasmática, voltando-se para a matriz extracelular (Figura 16b). 
	
	
	Figura 16. Estruturas dos cerebrosídeos e globosídeos. (a) O cerebrosídeo são gangliosídeos que tem uma unidade de monossacarídeo (grupo polar) ligado à ceramida. O galactocerebrosídeo tem como grupo polar glicose (b) Os globosídeos tem uma unidade de oligossacarídeo, normalmente um di, tri ou tetrassacarídeo ligado à ceramida..
	
7.1.2.4 Gangliosídeos. Os gangliosídeos são glicoesfingolipídios que apresentam em sua estrutura uma unidade de oligossacarídeo ligada a OH do C-1 da ceramida (Figura 17), sendo que um dos monossacarídeos característicos desse oligossacarídeo o ácido siálico (um derivado ácido de monossacarídeo, contendo nove átomos de carbonos). O ácido siálico mais comumente encontrado nas estruturas dos gangliosídeos é o N-acetil-neuramínico. O ácido siálico liga-se a uma unidade de galactose da cadeia oligossacarídica através de uma ligação glicosídica (α2→3), ou ainda a outros resíduos de ácido siálico (nesse caso por uma ligação α2→8).
A nomenclatura mais utilizada para designar os diferentes tipos de gangliosídios foi proposta por Svennerholm, denominando-os pela letra G, seguida de letra maiúscula (M, D, T, Q, P, H ou S) que designa o número de resíduos de ácido siálico na molécula (monossialo-, dissialo-, trissialo-, tetrassialo-, pentassialo, hexassialo- ou heptassialo-, respectivamente), seguido de um número que, por convenção, é a subtração da quantidade de resíduos de açúcares neutros presentes na molécula, do número 5.
 O que diferencia os gangliosídeos dos globosídeos é que uma ou mais unidades de monossacarídeos são de ácidos N-acetilneuramínico (ácido siálico). Os gangliosídeos estão presentes em cerca de 6% da massa cinzenta e em menores quantidades em tecidos não neurais. 
Figura 17.Estrutura dos Gangliosídeos. Os gangliosídeos tem uma unidade de oligossacarídeo ligado à ceramida, sendo que uma das unidades de monossacarídeo que os caracateriza uma unidade do ácido siálico, um derivado de monossacarídeo ácido com 9 carbonos. única unidade de ácido siálico. Os gangliosídeos do tipo GM tem em suas estruturas uma única unidade de ácido siálico.
8 Funções biológicas dos esfingolipídios.
Os esfingolipídios estão envolvidos em diversos eventos de reconhecimento molecular na superfície celular. Por exemplo, os globosídeos são os determinantes dos grupos sanguíneos A, B, O em humanos (Figura 18). Embora os gangliosídeos atuem em múltiplas funções celulares, ainda são escassos os estudos detalhados sobre o papel biológico desses glicoesfingolipídios na fisiologia celular. Evidências demonstram que os eventos iniciais da transdução de sinal ocorrem em microdomínios da membrana plasmática denominados lipid rafts, que são formados por agrupamentos de glicoesfingolipídios, colesterol e certas proteínas da membrana plasmática. 
O gangliosídeo GM1 é o ponto de reconhecimento da toxina da cólera, quando ela ataca a célula animal. A síntese e a degradação dos esfingolipídios são reguladas. Desordens no metabolismo celular de cerebrosídeos e gangliosídeos promovem uma série de efeitos, que podem ocorrer com o acúmulo desses compostos ou de seus derivados que são responsáveis por várias doenças que causam retardamento mental, paralisia e morte, como por exemplo, doença de Niemann-Pick e Tay-Sachs. 
Figura 18 Estrutura dos determinantes dos grupos sanguíneos ABO. Nessa representação GalNac é (N-acetil-D-galactosamina); Gal (galactose); fuc (fucose); Glic, (glicose).
9 As membranas biológicas são assimétricas. Os folhetos interno e externo das membranas biológicas diferem quanto à composição de seus lipídios, por isso mesmo são assimétricos neste aspecto. Assim, a fosfatidilcolina (glicerofosfolipídi) e a esfingomielina (esfingolipídio) são os fosfolipídios mais abundantes no folheto externo da membrana plasmática de eritrócitos (Figura 19). As membranas da mielina e da matéria cinzenta do tecido nervoso são particularmente enriquecidas na esfingomielina em seus folheto externo. Fosfatidiletanolamina, fosfatidilserina, fosfatidilinositol, fosfatidilinositol-4-fosfato, fosfatidilinositol-4,5-fosfato e ácido fosfatídico predominam no folheto interno (Figura 19). A fosfatidilserina é um marcador molecular de apoptose, morte celular programada. A fosfatidilserina é abundantemente encontrada no folheto interno da bicamada lipídica, virado para o citossol. Nas células que estão entrando em apoptose, a fosfatidilserina é translocada para o folheto externo da bicamada. Essa mudança ativa os macrófagos a remover essas células, pois envelhecidas e sem função biológica. As hemácias tem um tempo de vida de 120 dias, após o qual são eliminadas por apoptosis.
Figura 19. Distribuição dos fosfolipídios na membrana plasmática do eritrócito . As membranas da células é assimétrica quanto à composição de seus lipídios. No folheto externo dos eritrócitos, voltado para a matriz extracellular predominam os fosfolipídios fosfocolina e esfingomielinas. . Fosfatidiletanolamina, fosfatidilserina, fosfatidilinositol, fosfatidilinositol-4-fosfato, fosfatidilinositol-4,5-fosfato e ácido fosfatídico predominam no seu folheto interno.
10. Estruturas e funções biológicas das substância isoprenóides.
Os isoprenóides formam um grupo diversificado de substâncias naturais derivados do 2-metil-butadieno, isopreno (Figura 20) . De acordo com o número de unidades de isopreno presentes os isoprenóides são classificados como:C5:hemiterpenos; C10:monoterpenos; C15: sesquiterpenos e de C20 até C40: diterpenos . Do ponto de vista químico, são hidrocarbonetos, compostos apenas por carbono e hidrogénio.Nesta classe de lipídios temos os esteróis e seus derivados esteróides, vitaminas lipossolúveis A, D, E e K, os ácidos biliares, os hormônios sexuais feminino e masculino, a coenzima Q ou ubiquinona Q, um lipídio de membrana com função no transporte de elétrons na cadeia respiratória.
Figura 20. Estrutura do 2,metil butadieno, unidade formadora dos isoprenóides
10.1 Esteróis e esteróides. Os esteróis são isoprenoides formados pelo núcleo do ciclo pentano peridrofenantreno e são mais reduzidos quando comparados aos esteroides. Os esteróide são derivados oxidados do esterol. O núcleo esterol (como também dos esteróides) é formado por quatro anéis fundidos, denominado ciclopentanoperidrofenantreno (figura 20a). Esse núcleo é quase planar e relativamente rígido, em que esses quatro anéis fusionados não permitem rotação ao redor das ligações carbono-carbono (C-C). Esses lipídios não apresentam ácidos graxos em suas estruturas. O colesterol é o principal esterol nos tecidos animais, não sendo encontrado em membranas de células vegetais. O colesterol é uma molécula anfifílica, cujo grupo polar é uma hidroxila que se liga ao C-3 do anel A. o grupo apolar do colesterol é tanto o núcleo esteróide quanto a longa cadeia hidrocarbonada que se liga ao carbono 17 do anel D (figura 20b). 
Figura 20. (a). Núcleo dos esteróis, ou ciclopentanoperidrofenantreno. (b) Estrutura do Colesterol.
10.1.2 Colesterol. O colesterol é uma substância isoprenóide do tipo esterol (álcool de esterol). O núcleo de anéis fusionados (ciclopentano peridrofenantreno) e a cadeia lateral alifática conferem um caráter apolar ao colesterol, enquanto a OH confere um caráter polar, fazendo do colesterol um molécula anfifílica. O colesterol é também um importante constituinte das membranas biológicas, como também é o precursor na biossíntese dos esteróides biologicamente ativos, como os hormônios sexuais, a vitamina D, os ácidos e sais biliares, entre outros. O excesso de colesterol no sangue é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças das artérias coronarianas, principalmente o infarto agudo do miocárdio. Os esteróides apresentam uma variedade muito grande de atividades biológicas.
As plantas não apresentam colesterol em suas membranas biológicas. Os esteróides mais comuns nas membranas dos tecidos vegetais são o estigmasterol e o β-sitosterol, que diferem do colesterol por suas cadeias laterais alifáticas. As leveduras e os fungos possuem outros esteróides de membrana, como ergosterol, que apresenta uma dupla ligação entre o C7 e o C8.
10.1.3 Os ácidos biliares são isoprenóides do tipo esteróides formados a partir do colesterol. Exemplo desse lipídio é ácido taurocólico (Figura 21), cuja cadeia lateral no C-17 é hidrofílica. O ácido taurocólico atua como detergentes no intestino, emulsificando as gorduras provenientes da dieta. Dessa forma, a ação dos agentes emulsificantes facilita a ação das lipases digestivas. A variedade de hormônios esteróides é também produzida pela oxidação da cadeia lateral no C-17 do colesterol.
Figura 21. Ácido taurocólico, um ácido biliar da classe dos esteróide, constituinte da bile.
10.1.4. Os hormônios sexuais e do córtex da glândula adrenal são lipídios isoprenóides da classe dos esteróides (Figura 22). A estosterona, o hormônio sexual masculino, é produzida nos testículos. O estradiol, um dos hormônios sexuais femininos, é produzido nos ovários e na placenta. O cortisol e a aldosterona são hormônios sintetizados no córtex da glândula (Figura 22).
 
Figura 22. Hormônios da supra renal e os hormônios sexuais. a) Cortisol. O cortisol é um hormônio esteroidal produzido na glândula supra renal; é um derivado oxidado do colesterol. b) A Aldosterona é produzido também na glândula supra renal, é um esteróide, um derivado oxidado do colesterol. C) β-estradiol, é o principal hormônio sexual feminino. É importante na regulação do ciclo estral e do ciclo menstrual. O estradiol é essencial para o desenvolvimento e manutenção dos tecidos reprodutivos femininos. d)Testosterona, produzida nos testículos, é o hormônio sexual masculino. É um esteróide, um derivado oxidado do esterol.10.1.5 Vitaminas Lipossolúveis A, D, E e K
10.1.5.1 Vitamina D. As vitaminas D são grupo de substâncias isoprenóides derivados do colesterol, portanto, um esteróide. A vitamina D3 (colecalciferol) pode ser sintetizada pelos seres humanos na pele após a exposição à radiação ultravioleta-B (UVB) da luz solar, ou pode ser obtida a partir da dieta. Quando a exposição à radiação UVB é insuficiente para a síntese de quantidades adequadas de vitamina D3 na pele, a ingestão adequada de vitamina D da dieta é essencial para a saúde. As plantas sintetizam ergosterol, que é convertido em vitamina D2 (Ergocalciferol) por luz ultravioleta.
10.1.5.1.1 Ativação da vitamina D. Em resposta à radiação ultravioleta da pele, uma clivagem fotoquímica resulta na formação de vitamina D a partir de 7-desidro colesterol (Figura 23). A vitamina D entra na circulação e é transportada para o fígado. No fígado, a vitamina D é hidroxilada para formar 25-hidroxivitamina D (calcidiol, 25-hidroxivitamina D), a principal forma circulante da vitamina D. A concentração sérica de 25-hidroxivitamina D é um indicador útil do estado nutricional da vitamina D. No rim, A enzima 25-hidroxivitamina D3-1-hidroxilase catalisa uma segunda hidroxilação de 25-hidroxivitamina D, resultando na formação de 1,25-dihidroxivitamina D (calcitriol, 1alfa, 25-dihidroxivitamina D) - a forma mais potente de vitamina D. A maioria dos efeitos fisiológicos da vitamina D no organismo estão relacionados à atividade da 1,25-dihidroxivitamina D (Figura 23)
Figura 23. (1) Ativação da vitamina D. Produzida pela ação da luz solar sobre 7-deidrocolesterol na pele ou Ergocalciferol (vitamina D2). O ercalciferol é encontrado em plantas, fungos, leveduras. Ambas vitaminas D (D2 e D3) são estruturalmente semelhantes e derivadas da radiação UV de sobre o 7-deidrocolesterol (Provitamina D). (2) Tanto a vitamina D3 quanto a Vitamina D2 são hidroxiladas no carbono 25 no fígado, produzindo 25-hidroxicolecalciferol (Calcidiol). (3) Nos rins, o calcidiol é hidroxilado mais uma vez na posição α do C-1, produzindo o 1,25-diidroxicolecalciferol, que desempenham as seguintes funções (4): estimula a absorção intestinal de Ca2+ e Pi por mecanismos independentes, estimula o transporte de Ca2+ (acompanhado por Pi) do compartimento do fluido ósseo para o fluido extracelular e facilita a reabsorção renal de fosfato e Ca2+.
10.1.5.2 Vitamina K Três compostos têm a atividade biológica de vitamina K, filoquinona (Vitamina K1), a fonte dietética normal, encontrada em vegetais verdes; Menaquinona (vitamina K2), sintetizadas por bactérias intestinais, com diferentes comprimentos da cadeia lateral; e menadiona e menadiol, compostos sintéticos que podem ser metabolizados em filoquinona (Figura 24).
Figura 24. Família de vitamina K são derivados de naftoquinona. As filoquinonas e menaquinonas, ambos têm uma longa cadeia lateral isoprenóide, diferindo no comprimento da cadeia lateral difere. A filoquinona tem uma cadeia lateral com 20 C, enquanto as menaquinonas possuem uma cadeia lateral com 30 C. A cadeia isoprenóide torna essas vitaminas hidrofóbicas ou lipofílicas. A vitamina K3 sintética (menadiona) tem apenas um átomo de hidrogênio na cadeia lateral isoprenóide, que torna essas vitaminas solúveis em água.
10.1.5.2.1 Papel da vitamina K na coagulação. A vitamina K é a coenzima para carboxilação de glutamato na modificação pós-sintética de proteínas de ligação ao cálcio. O único papel biológico conhecido de vitamina K é como um cofator para uma enzima (carboxilase) que catalisa a carboxilação do aminoácido, ácido glutâmico, resultando na sua conversão em ácido gamma-carboxi glutâmico (Gla). Embora a gamma-carboxilação dependente da vitamina K ocorra apenas em resíduos específicos de ácido glutâmico em um pequeno número de proteínas dependentes de vitamina K, é fundamental para a função de ligação ao cálcio dessas proteínas. A capacidade de ligar íons de cálcio (Ca2 +) é adquirida pela ativação dos fatores de coagulação dependentes de vitamina K, ou proteínas, na cascata de coagulação. Os fatores II (protrombina), VII, IX e X formam o núcleo da cascata de coagulação. Esses fatores são sintetizados no fígado na forma inativa. Eles são submetidos a modificações pós-tradução, carboxilação gama de resíduos de ácido glutâmico. Este processo de carboxilação gama de resíduos de ácido glutâmico confere outra carga negativa, de modo a promover a ligação eficaz destes fatores / proteínas aos íon cálcio.
10.1.5.3 Vitamina A. A vitamina A é uma vitamina lipossolúvel, isoprenóide, requerida para a visão, reparação, reprodução, crescimento e diferenciação de tecidos. Dois grupos de compostos possuem atividade de vitamina A: Os retinoides e os carotenóides (Figura 25). A vitamina A, no sentido mais estrito, refere-se ao retinol, a forma alcoólica do retinoide. No entanto, os metabolitos oxidados, retinaldeído (um aldeído) e o ácido retinoico (um ácido carboxílico), são também compostos biologicamente ativos (Figura 25). 
O termo retinoides inclui todas as moléculas (incluindo moléculas sintéticas) que são quimicamente relacionadas ao retinol. Existem mais de 600 carotenóides na natureza, e aproximadamente 50 deles podem ser metabolizados em vitamina A. O β-caroteno é o carotenóide mais prevalente no suprimento de alimentos que tem atividade provitamina A (Figura 25). Nos seres humanos, as frações significativas de carotenóides são absorvidas intactas e armazenadas em fígado e gordura. Os α, β, γ-carotenos e criptoxantina são quantitativamente os carotenóides de provitamina A mais importantes.
Figura 25. Vitamina A: Carotenoides e retinoides.
	10.1.5.3 Vitamina E. A vitamina E compreende um grupo de oito substâncias semelhantes derivados de isoprenóides, denominadas tocoferóis, sendo a mais importante o alfa-tocoferol (Figura 26). Essa vitamina foi descoberta no ano de 1922 por Evans e Bichop, quando foi observado em um experimento com ratas que, na ausência de determinada substância, as fêmeas prenhes não conseguiam manter a gestação. Também foram observadas reações nos testículos dos ratos com deficiência dessa substância, considerada como sendo anti esterilidade, daí o nome de vitamina E.
	Figura 26. Estrutura do α-Tocoferol, vitamina E.
A vitamina E é o antioxidante mais importante na célula. Localizada na porção lipídica das membranas celulares, protege os fosfolipídios insaturados da membrana da degeneração oxidativa por Espécies Reativas do Oxigênio ( EROS). O conteúdo de vitamina E determina a suscetibilidade das membranas sofrerem com o dano provocado pelos radicais livres. A ação antioxidante da vitamina E é explicada pelo fato de fornecer H+ para as membranas celulares, impedindo as reações em cadeias que se propagam neste ambiente. 
11. Lipoproteínas. Os triacilgliceróis, o colesterol e os ésteres de colesteril são insolúveis em água e não podem ser transportados na circulação como moléculas livres. Em lugar disso, essas moléculas se agregam com os fosfolipídios e proteínas anfipáticas para formar partículas esféricas macromoleculares conhecidas como lipoproteínas. As lipoproteínas têm núcleo hidrofóbico contendo triacilgliceróis e ésteres de colesteril, e camada superficial externa hidrofílica que consiste de uma camada de moléculas anfipáticas: colesterol, fosfolipídios e proteínas (apoproteínas ou apolipoproteínas). As lipoproteínas são classificadas de acordo com sua densidade em: quilomícrons, lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), lipoproteínas de densidade baixa (LDL) e lipoproteínas de densidade alta (HDL).
11.1. Quilomícrons. Transportam os lipídeos da dieta por meio da linfa e sangue do intestino para o tecido muscular (para obtenção de energia por oxidação) e adiposo (para armazenamento). Os quilomícrons estão presentes no sangue somente após a refeição (Tabela 6). Os quilomícrons remanescentes ricos em colesterol, que já perderam a maioria de seu triacilgliceróis pela ação da lipoproteína-lipase capilar, são captados pelo fígado por endocitose.11.2. Lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL). São sintetizadas no fígado. Transportam triacilgliceróis e colesterol endógenos para os tecidos extra hepáticos. No transporte das VLDL através do organismo, os triacilgliceróis são hidrolisados progressivamente pela lipoproteína-lipase até ácidos graxos livres e glicerol. Alguns ácidos graxos livres retornam a circulação, ligados à albumina, porém a maior parte é transportada para o interior das células. Eventualmente, as lipoproteínas VLDL remanescentes, depletadas de triacilgliceróis são captadas pelo fígado ou convertidas em lipoproteínas de densidade baixa (LDL). A VLDL é precursora da IDL (lipoproteína de densidade intermediária), que por sua vez é precursora da LDL (Tabela 6). 
11.3. Lipoproteínas de densidade baixa (LDL). As partículas de LDL são formadas a partir das VLDL. As lipoproteínas LDL enriquecidas de colesterol e ésteres de colesteril transportam esses lipídeos para os tecidos periféricos. A remoção de LDL da circulação é mediada por receptores de LDL (sítios específicos de ligação) encontrados tanto no fígado como em tecidos extra-hepáticos. Um complexo formado entre a LDL e o receptor celular entra na célula por endocitose. As lípases dos lisossomos e proteases degradam as LDL. O colesterol liberado é incorporado nas membranas celulares ou armazenado como ésteres de colesteril. A deficiência de receptores celulares para as LDL desenvolve hipercolesterolemia familiar, na qual o colesterol acumula no sangue e é depositado na pele e artérias (Tabela 6).
11.4. Lipoproteínas de densidade alta (HDL). As HDL removem o colesterol do plasma e dos tecidos extra-hepático, transportando-o para o fígado. Na superfície hepática, a HDL se liga ao receptor SRB1 e transfere o colesterol e os ésteres de colesteril para o interior do hepatócito. A partícula de HDL com menor conteúdo de lipídios retorna ao plasma. No fígado o colesterol pode ser convertido em sais biliares, que são excretados na vesícula. O risco de aterosclerose (depósito de colesterol nas artérias) diminui com a elevação dos níveis de HDL e aumenta com a elevação da concentração das LDL (Tabela 6).
Tabela 6:Classificação, propriedades e composição das lipoproteínas humanas.
	Parâmetro 
	Quilomícrons 
	VLDL 
	LDL 
	HDL 
	Densidade (g/mL) 
	<0,95 
	0,95−1,006 
	1,019–1,063 
	1,063–1,21 
	Diâmetro (nm) 
	>70 
	30–80 
	18–28 
	5–12 
	Colesterol livre (%) 
	2%
	5–8 
	13 
	6 
	Colesterol esterificado (%)
	5 
	11–14 
	39 
	13 
	Fosfolipídeos (%)
	7 
	20–23 
	17 
	28 
	Triglicerídeos (%)
	84 
	44–60 
	11 
	3 
	Proteínas (%)
	2 
	4–11 
	20 
	50 
	Local de síntese
	Intestino 
	Intestino, fígado 
	Intravascular 
	Intestino, fígado 
12. Conclusão
Os lipídios são biomoléculas com uma ampla variedade estrutural. Essas biomoléculas não se caracterizam por apresentar um grupo químico comum a todos eles, mas por sua solubilidade em solventes apolares. Classificam-se em triacilgliceróis, ceras, glicerofosfolipídios, esfingolipídios e esteróides. Os ácidos graxos são ácidos orgânicos mono carboxílico que entram na formação da maioria dos lipídios. Dentre os lipídios formados por ácidos graxos encontram-se os triacilgliceróis, que são ésteres de glicerol com três moléculas de ácidos graxos. As ceras ou graxas são ésteres de ácidos graxos de cadeia longa com álcool de cadeia longa. Duas outras classes de lipídios formadas por ácidos graxos são os glicerofosfolipídios e os esfingolipídios. Enquanto os glicerofosfolipídios são derivados do ácido fosfatídico, os esfingolipídios são derivados da ceramida. Os lipídios dessas duas classes são moléculas anfipáticas e entram na formação das membranas celulares. Os esteróides são lipídios que não apresentam ácidos graxos em suas estruturas. São formados por um núcleo de esteróide, comum a todos os lipídios dessa classe.
13.Resumo 
Os lipídios são uma classe bastante complexa de biomoléculas, que se caracterizam por sua solubilidade em solventes orgânicos apolares. São encontrados em tecidos de animais e vegetais. Nos animais, os lipídios são mais abundantes nas membranas celulares e nos adipócitos (células que armazenam triacilgliceróis ou gorduras). Eles desempenham diversas funções na natureza: atuam como reserva energética dos animais e plantas; são componentes estruturais das membranas biológicas; conferem isolamento térmico, elétrico e mecânico para células e órgãos e, ainda, são precursores de moléculas mensageiras, como hormônios e prostaglandinas. Os lipídios são classificados em triacilgliceróis, ceras (ou graxas), glicerofosfolipídios (ou fosfoglicerídeos), esfingolipídios e esteróides. A maioria dos lipídios é formada por ácidos graxos, cujo grupo carboxila se liga a uma longa cadeia hidrocarbonada. A cadeia hidrocarbonada dos ácidos graxos varia de tamanho, apresentado de 4 a 36 átomos carbonos e podem ser saturada ou insaturada. Os triacilgliceróis são lipídios apolares formados por uma unidade de glicerol e três unidades de ácidos graxos, desempenhando função de reserva energética, isolante térmico e participam na adaptação da flutuação da baleia cachalote. As ceras ou graxas são formadas por uma longa cadeia de ácido graxo e um álcool de cadeia longa. As ceras apresentam diversas funções, especialmente atuando como impermebializante, reserva energética e na proteção de plantas contra evaporação e ataque de predadores. Os lipídios que compõem as membranas das células são moléculas anfipáticas. São agrupados em três classes: glicerofosfolipídios, esfingolipídios e esteróides. Os glicerofosfolipídios ou fosfoglicerídios são derivados do ácido fosfatídico e são classificados de acordo com o álcool esterificado ao grupo fosfato em: fosfatidilcolina (lecitina), fosfatidiletanolamina (cefalina), fosfatidilglicerol e fosfatidilserina. Os esfingolipídios, todos derivados da ceramida, se classificam em duas classes: esfingomielinas e glicoesfingolipídios. Os glicoesfingolipídios, por sua vez, são subdivididos em globosídeos, cerebrosídeos e gangliosídeos. Os esteróides são lipídios que se caracterizam por conter o núcleo esteróide, que consiste de quatro anéis fundidos. O colesterol, ácidos biliares, os hormônios sexuais e do córtex da glândula adrenal, são exemplos de lipídios da classe dos esteróides.
Exercícios
1. Explique porque o conceito de lipídios não os define com precisão nem os caracteriza como uma classe de biomoléculas
2. Dados os ácidos graxos abaixo:
I) CH3(CH2)16COOH		II) CH3(CH2)27CH=CH(CH2)7COOH
 ácido esteárico			ácido oleico
III) CH3(CH2)4CH=CHCH2)2(CH2)6COOH 
		 (ácido linoleico)
a. Qual deles vai apresentar a sua cadeia hidrocarbonada mais dobrada? Por quê?
b. Qual deles vai apresentar o ponto de fusão mais elevado? Por quê?
c. Qual deles é sólido e qual deles é líquido a temperatura ambiente?
d. Qual, ou quais, deles é o mais abundante em gordura animal e qual é o mais abundante em gorduras vegetais? Por quê?
3. Descreva a estrutura dos seguintes ácidos graxos:
a) 12:0		b) 18:0	c) 18:2 Δ9,12		d)16:1 (9 trans) 	e) 18:3 Δ9,12,15
4. Como são classificados os ácidos graxos polinsaturados de acordo com a posição dupla ligação em relação ao grupo metil?
5. Descreva a estrutura dos triacilgliceróis e cite suas principais funções biológicas.
6. Como podem ser hidrolisados os triacilgliceróis? Descreva a reação da saponificação.
7. Produtos intermediários da síntese de triacilgliceróis, o mono e o diacilglicerol são valiosos na indústria de alimentos, por que eles são usados como agentes emulsificantes. Por que os triacilgliceróis não podem ser agentes emulsificantes enquanto monoacil e diacilglicerol o são ?
8. Descreva a estrutura das ceras e suas funções biológicas.
9. Quais são lipídios polares ou lipídios de membranas biológicas?
10. O que são lipídios anfipáticos?
11. Descreva a estrutura geral dos glicerofosfolipídios.
12. Descreva a estrutura da cardiolipina e cite a sua ocorrência.
13. Descreva a estruturageral dos esfingolipídios.
14. Em que aspectos estruturais os esfingolipídios se diferenciam dos glicerofosfolipídios?
15. O que são esfingomielinas? Por que ela pode ser considerada um fosfolipídio?
16. O que são glicolipídios? Exemplifique-os.
17. O que são cerebrosídeos? Quais as suas funções biológicas? Exemplifique-os.
18. O que são gangliosídeos? Quais as suas funções biológicas? Onde são encontrados?
19. O que são esteróides? Exemplifique-os.
20. Quais as funções biológicas de esteróides?
21. O que são isoprenoides e que funções exercem nas células?Referências: 
BERG, J. M, TYMOCZKO, J. L., STRYER, L. Bioquímica. 5a edição, Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2004.
CHAMPE, P., C., HARVEY, R. A. Bioquímica Ilustrada, 2a Edição, Editora Artes Médicas, 1997.
KOOLMAN, J. RÖHM, KLAUS-HEINRICH. Bioquímica. 3a Edição, Porto Alegre, Editora Artmed, 2005.
4. NELSON, D.L, COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. 2. Edição, São Paulo, Sarvier, 1995.
5. NELSON, D.L, COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. 3. Edição, São Paulo, Sarvier, 2002. 
6. STRYER, L. Bioquímica. 4ª edição, Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 1996.
7. VOET, D, VOET, J. G, PRATT , C W. Fundamentos de Bioquímica. 1a Edição, Porto Alegre, Editora Artmed, 2000.

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