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Patentes: Direito de Propriedade e Licença Compulsória

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ional, na qual são fixados a opção de modelo econômico e a forma como se deve operar 
. O direito de exclusividade sobre uma invenção, adquirido por meio de uma patente é um privilégio que o Estado concede ao seu inventor pelo benefício da divulgação de seu invento para a sociedade, contribuindo para o bem comum. 
O sistema de proteção patentária é de grande importância para propiciar o desenvolvimento econômico e social de um país, pois é um incentivo para a produção de inovações tecnológica, beneficiando o inventor e toda a coletividade com o progresso e desenvolvimento. 2323 Contudo, esse direito de exclusividade não é absoluto e implica em limitações estabelecidas pela legislação de propriedade industrial, a fim de evitar o abuso do poder econômico, a concorrência desleal e o monopólio do produto objeto do invento. Assim, nos dizeres de Umberto Pippia, citado por Soares (1998, p. 103), o direito do inventor não se pode confundir com o direito sobre o produto, que é o meio material sobre o qual se concretiza a invenção ou a descoberta: o direito do inventor tem por objeto a idéia inventiva. Constitui-se, porém, sempre em um direito de propriedade porquanto ‘sui generis’ sobre coisas imateriais: a sua característica essencial está no direito de impedir que outros reproduzam a invenção e a descoberta, porque é a reprodução e o aproveitamento do produto imaterial que constitui o conteúdo da propriedade O direito do inventor, segundo Gama Cerqueira (apud Soares, 1998, p. 108): ...é um direito privado patrimonial, de caráter real, constituindo uma propriedade temporária e resolúvel que tem por objeto um bem material – a invenção. O Código Civil equipara aos bens móveis o direito do autor. Portanto, a propriedade do inventor ou titular do direito de patente, que poderá ou não ser o inventor, possui caráter mobiliário, sujeito às normas de direito comum relativos à propriedade móvel e por ela se regulam quando for omissa a legislação especial. E, sendo assim, tal propriedade pode ser transmitida por ato “inter vivos” ou “causa mortis”, a título gratuito ou oneroso, pode constituir condomínio, ser penhorável em execução ou dado em penhor, pode ser objeto de usufruto, suscetível de “desapropriação”, nos casos legais (licença compulsória), é passível de reivindicação de propriedade, podendo ainda, sofrer, como já foi dito, restrições ao seu exercício de acordo com o interesse público. Importante salientar que a propriedade industrial não é suscetível de posse material, e, portanto, não poderá ser adquirida por prescrição, mas a inércia do titular do direito de propriedade, se não exercê-la no prazo de 3 (anos), fica sujeito a licença compulsória prevista no artigo 68, parágrafo 1º da LPI. 2324 A licença compulsória é uma licença obrigatória imposta pelo legislador na ocorrência de determinadas situações, e possui caráter sancionador pela inércia do titular da patente em sua exploração ou por sua utilização de forma abusiva, a fim de que se mantenha a finalidade social da propriedade em questão. Observe-se aqui, a preocupação do legislador com a função social do exercício dessa propriedade industrial, pois seu titular tem que explorar sua invenção e torná-la, assim, acessível à coletividade, pois caso não o faça, haverá a intervenção do Estado, na pessoa do Estado-Juiz para reprimir ou sancionar essa conduta, interferindo significativamente no seu direito de propriedade em prol da coletividade, do bem comum, objetivos do Estado Constitucional e Democrático de Direito. Nesse caso, o titular da patente ficará sujeito à licença compulsória se exercer os direitos decorrentes de sua titularidade, de forma abusiva ou a utilizar como meio de praticar abuso econômico, sendo que tais situações deverão ser comprovadas por decisão administrativa ou judicial. Nos dizeres de Gabriel Di Blasi (2005, p. 305) a licença compulsória ...é uma autorização forçada de patente, concedida pelo Estado a terceiros, alheia a vontade do titular da mesma, quando se caracteriza a prática de abuso dos direitos decorrentes das patentes por parte deste titular. A legislação dispõe, taxativamente, as situações que ensejarão a licença compulsória em seu artigo 68, parágrafo primeiro: Art. 68 Parágrafo 1º: “Ensejam, igualmente licença compulsória: I – a não exploração do objeto da patente no território brasileiro por falta de fabricação ou fabricação incompleta do produto, ou, ainda, a falta de uso integral do processo patenteado, ressalvados os caso de inviabilidade econômica, quando será admitida a importação, ou; II – a comercialização que não satisfizer ás necessidades do mercado. 2325 Essas hipóteses somente ensejarão o requerimento da licença compulsória após o decurso do prazo de 3 (três) anos da concessão da patente, prazo legal concedido ao titular para iniciar exploração da patente. A legitimidade para requerer a licença compulsória será daquele que possuir legítimo interesse e capacidade técnica e econômica para realizar a exploração efetiva, destinando-se ao mercado interno. A concessão da licença compulsória decorrente do abuso do poder econômico praticado pelo titular assegurará ao licenciado o prazo de 1 (um) ano para que proceda a importação do objeto da licença, quando for o caso, e inicie a sua exploração, desde que o objeto tenha sido colocado no mercado diretamente pelo titular ou com sua permissão. O pedido de licença compulsória deverá ser formulado ao titular da patente, indicando-se as condições oferecidas e deverá ser protocolizado no INPI. Ao pedido de licença compulsória feito pelo requerente, fundamentando-se em abuso de direitos patentários ou abuso do poder econômico, ou ainda, pela inércia do titular na fabricação do invento, deverá vir instruído de documentação que comprove todo o alegado. Caso o pedido se fundamente na falta de exploração, caberá ao titular da patente comprovar a sua exploração. O titular será então, intimado para manifestar-se no prazo de 60 (sessenta) dias, findo o qual, sem a manifestação do titular, será considerada aceita a proposta nas condições oferecidas. Se o titular da patente contestar o pedido, o INPI poderá realizar diligências, bem como designar comissão, podendo incluir especialistas que não façam parte da autarquia, com o escopo de subsidiar o arbitramento da remuneração, já que as partes não chegaram a um consenso. No arbitramento da remuneração considerar-se-á as circunstâncias peculiares de cada caso concreto, não podendo olvidar-se da ponderação sobre o valor econômico da licença concedida. Assim, instruído o processo, o INPI decidirá sobre a concessão no prazo de 60 (sessenta) dias, e decidindo pelo seu deferimento, determinará as condições em que vigorará a concessão da licença. A licença compulsória será sempre concedida sem exclusividade, portanto, não se admite o sublicenciamento. Admitir-se-á a cessão da concessão somente quando 2326 realizada conjuntamente com a cessão, alienação ou ar
A licença compulsória será sempre concedida sem exclusividade, portanto, não se admite o sublicenciamento. Admitir-se-á a cessão da concessão somente quando 2326 realizada conjuntamente com a cessão, alienação ou arrendamento da parte do empreendimento que explore a patente licenciada compulsoriamente. A decisão do INPI que decide o pedido de licença compulsória está sujeita a recurso que não terá efeito suspensivo. Concedida a licença compulsória, o licenciado deverá iniciar sua exploração no prazo de 1 (um) ano da data de concessão da licença, admitindo-se a interrupção por igual prazo. Não cumprindo tal condição, o titular da patente poderá pedir a cassação da licença. O licenciado fica investido de todos os poderes para agir em defesa da patente, quando necessário. Importante ressaltar, que nos casos de emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder Executivo Federal e desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a essa necessidade, poderá ser concedida, de ofício, licença compulsória, temporária e não exclusiva, para a exploração da patente,sem prejuízo dos direitos do respectivo titular. É a proteção da finalidade social da propriedade industrial prevalecendo sobre os interesses meramente individuais de seu titular, harmonizando-se com as diretrizes teóricas do ordenamento civil na contemporaneidade e com o texto constitucional que é seu informador. 
Dessa forma, nota-se, claramente a interferência do Estado na esfera privada para assegurar o respeito à função social da propriedade, ainda que na espécie de propriedade industrial. Ademais, essa intervenção estatal continua no que se refere também, aos contratos de propriedade industrial, através da atuação do Instituto Nacional de Propriedade Industrial na análise e aprovação desse tipo de contrato. Ao Instituto de Nacional de Propriedade Industrial cumpre analisar e aprovar os contratos, conforme determina a Lei n. 9.279/96, assim como a legislação tributária e de capital estrangeiro atribuem ao INPI a competência de atuar como assessor da Receita Federal e do Banco Central nas questões pertinentes as essas autoridades nas quais esteja envolvida a transferência de tecnologia. 
Ao INPI também cumpre observar a legalidade dos contratos, sendo-lhe atribuído o dever de suscitar a necessidade de pronunciamento do órgão de tutela de 2327 concorrência no caso de os contratos sob análise violarem as normas concorrências em vigor. A atuação da autarquia em questão dá-se durante o processo de averbação ou registro do contrato, durante o qual o departamento de Transferência de Tecnologia analisa as questões supracitadas, e confere sua decisão no prazo de 30 (trinta) dias, contados a partir do depósito regular do pedido de averbação ou registro, conforme o artigo 211 da LPI, decisão esta que poderá ser pela emissão do certificado de averbação, ou por fazer exigências que precisam ser sanadas ou ainda, poderá decidir pelo arquivamento ou indeferimento do pedido de averbação. Ressalte-se que da decisão do INPI caberá a formulação do pedido de reconsideração a Diretoria de Transferência e Tecnologia e também, a propositura de recurso ao Presidente do INPI. A averbação ou registro é de fundamental importância, pois, é condicionante para legitimar pagamentos feitos para o exterior, permitir a dedutibilidade fiscal dos pagamentos contratuais efetuados pela empresa cessionária, bem como, para que o contrato objeto de averbação ou registro tenha eficácia “erga omnes”, ou seja, seja oponível contra terceiros. Ressalte-se que a lei é omissa sobre a extensão dos efeitos da averbação prévia para a dedutibilidade fiscal quando os contratos forem celebrados entre brasileiros. Nesse caso, o INPI tem entendido que não é necessária a averbação prévia e tem recusado a averbação ou registro dos contratos celebrados nessas condições, ou seja, entre brasileiros. Contudo, essa matéria não é pacífica nos Tribunais, pois há entendimento que tal averbação prévia constitui requisito condicionante para a dedutibilidade fiscal, fundamentando-se no artigo 71 da Lei n. 3470/58, aplicando-se o princípio do parágrafo 2º da Lei de Introdução ao Código Civil, segundo o qual a lei nova que estabelece requisitos gerais ou especiais dispostos em lei anterior, mas não trata de maneira direta, não a revoga. De outro lado, há decisões que sustentam que não havendo norma legal que condicione a dedutibilidade das despesas ao prévio registro do respectivo contrato no INPI, não poderá haver a autuação fiscal, pois, estar-se-ia ferindo o princípio da 2328 legalidade. Assim, não há decisões judiciais e administrativas uniformes sobre a matéria. A Lei 9279/96 em seu artigo 240 reduziu significativamente a atuação do INPI nos contratos de propriedade industrial, limitando-o ao pronunciamento sobre tratados internacionais sobre a matéria e a execução das leis da propriedade industrial, tendo em vista o respeito aos princípios constitucionais que regem a área econômica. Não obstante essa limitação o INPI emitiu o Ato Normativo n. 135/97 que estabelece uma possibilidade mais abrangente de interferência nos contratos de transferência de tecnologia, a fim de verificar os termos e as condições contratuais aos dispositivos legais pertinentes: Lei de Propriedade Industrial (Lei n. 9279/96), Lei de controle de remessa de Lucros (Lei n. 4.131/62), Lei sobre Imposto de Renda (Lei n. 4.506/64 e Lei n. 8383/91 e normas regulamentares), Lei de Repressão ao Abuso do Poder Econômico (Lei n. 8.884/94), Lei de Franquia (Lei n. 8955/94) e Decreto que promulga a ata final que incorpora os resultados da Rodada Uruguai de Negociações comerciais multilaterais do Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATT) – Decreto-Legislativo n. 30, de 30/12/1994, combinado com Decreto Presidencial n. 1.355 de mesma data. Assim, o INPI vem atuando de forma incisiva sobre os contratos de transferência de tecnologia, salientando-se duas situações mais comuns dessa atuação, verificadas nos processos de averbação dos respectivos contratos, quais sejam: a determinação de preço da contratação e a validade da cláusula de confidencialidade. No primeiro caso, a interferência fundamenta-se no artigo 50 da Lei 8.383/91 que dispõe que a remessa de remuneração deve estar sempre limitada aos índices estabelecidos pela Portaria do Ministério da Fazenda n. 436 de 30 de dezembro de 1958, mesmo que o contrato seja de fornecimento de tecnologia ou de assistência técnica. Mas, essa regra não se aplica aos contratos celebrados entre sociedades empresariais que não possuem vinculação societária
No segundo caso, a interferência do INPI se dá na interpretação restritiva no tratamento das cláusulas de confidencialidade nos contratos de transferência de tecnologia. Essas cláusulas de confidencialidade ad eternun são usuais nesses contratos e estabelecem a obrigatoriedade da manutenção da confidencialidade mesmo após a 2329 rescisão contratual ou empregatícia que a determinou, e é legalmente admitida pelo artigo 195, inciso XI da Lei 9279/96. Não obstante a legalidade dessa cláusula, o INPI não vem aceitando que tal obrigação ultrapasse o período de cinco anos, contados do término ou rescisão do contrato de tecnologia. Sustenta sua posição, fundamentando-se no fato de que tal cláusula ad eternum interrompe o processo de capacitação tecnológica dos licenciados locais, obstaculizando o desenvolvimento econômico e social. Gabriel Di Blasi (2005, p. 416) ressalta que: o aspecto mais importante desse assunto, é a inobservância do Instituto aos princípios que regem o direito público e garantem a eficácia dos atos administrativos, quais sejam, o Princípio da legalidade e o Princípio da competência. O Princípio da Legalidade resume-se na submissão do poder estatal aos mandamentos da Lei. As atividades da administração submetem-se e limitam-se à determinação da Lei, sendo que a atuação do poder público sem o encalço legal acarreta a ilegalidade do ato e está sujeita a nulidade. Embora não haja fundamento legal e competência básica para o INPI criar o próprio direito e impor comportamento a terceiros, a averbação dos contratos de transferência de tecnologia continua sendo influenciada significativamente pela atuação do INPI. Assim, podemos dizer que o princípio da função social da propriedade foi um instrumento utilizado pelo legislador, estabelecendo alguns requisitos legais a serem cumpridos pelos titulares de patentes, para que estas atendam as finalidades sociais, que é o motivo pelo qual o Estado confere ao inventor o direito de exclusividade temporário (“propriedade”) sobre sua invenção, mas em contrapartida, impede o uso ou não uso da patente, bem como reprime sua má utilização
CONSIDERAÇÕES FINAIS Procurou-se no presente estudo expor algumas considerações sobre a propriedade industrial e a observância do princípio da função social, consagrado 2330 constitucionalmente e ratificado pela legislação civilista, a qual tem na cláusula geral da Socialidade um de seus pilares estruturais. Verificou-se, assim, que a patente é considerada uma propriedade, embora represente, na verdade, um direito de exclusividadesobre a exploração de uma invenção, e assim sendo, uma oportunidade de comércio, mas nunca um monopólio. Trata-se de um benefício que o Estado concede ao inventor por divulgar sua invenção à sociedade e contribuir para seu desenvolvimento econômico e social. No transcorrer da explanação, procurou-se salientar que em consonância com o princípio da função social da propriedade, a propriedade industrial não é absoluta e implica em limitações impostas pelo legislador ao seu titular, pois ela terá que atender sua finalidade social, propiciando o desenvolvimento econômico, tecnológico e social da sociedade, e por isso, o legislador valora e tutela o interesse da coletividade sobre a propriedade industrial em detrimento da visão capitalista e individualista do mercado e de seu titular. Dessa forma, o legislador reprime o abuso do poder econômico, a concorrência desleal, bem como a não utilização da invenção pelo seu titular, o que poderá ser sancionado com a licença compulsória, conforme já analisada, priorizando-se o interesse social sobre o invento ou invenção. O princípio da função social da propriedade é garantia constitucional que foi ratificada pelo Código Civil de 2002, com a adoção expressa da cláusula geral da Sociabilidade, mas já em 1996, data de entrada em vigor da Lei de Propriedade Industrial, de n. 9.279, o legislador já impõe uma finalidade social no instituto da propriedade industrial, tendo em vista que o sistema de patentes é um importante elemento para propiciar o desenvolvimento econômico, tecnológico e social de um país, e nesse sentido deverá harmonizar-se com os valores tutelados constitucionalmente, e com o ordenamento civil que se revela socializado, inaugurando um sistema éticojurídico em substituição ao sistema dogmático-formalista de outrora. Por fim, no tocante à propriedade industrial não podemos nos olvidar que além de sua finalidade social, ela também se caracteriza como um direito de grande importância no desenvolvimento econômico, tecnológico e social de um país, razão pela qual o interesse social é visualizado com freqüên
Abrangência e normas legais das patentes
Conheça a abrangência territorial de uma patente, assim como quais as leis que regem a proteção de invenções no Brasil.
A base do Princípio da Territorialidade estabelece que a proteção conferida pelo Estado pela patente ou desenho industrial tem validade somente dentro dos limites territoriais do país que concede a proteção. 
Desta forma, caso uma invenção seja patenteada em outro país, mas não no Brasil, ninguém pode obter a concessão em território brasileiro. 
Porém, qualquer interessado estará livre para explorá-la no país, não cabendo qualquer pagamento de royalties pela utilização daquela tecnologia.
Normas e legislação de Patentes no Brasil
1. Norma Constitucional: Constituição Federal – art. 5º
- Inciso XXVII: "Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar";
- Inciso XXIX: "A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresa e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País".
CONCEITO DE MARCA E SUA NATUREZA
Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável pelo registro de marcas no Brasil, define marca como “todo sinal distintivo, visualmente perceptível, que identifica e distingue  produtos  e  serviços  de  outros  análogos, de  procedência  diversa,  bem  como certifica  a conformidade dos mesmos com determinadas normas ou especificações técnicas."
Percebe-se, que em síntese, as marcas tem o objetivo de identificar, individualizar e distinguir determinados produtos e serviços dos demais existentes no mercado, servindo para atestar a origem destes.
Conforme o artigo 122 da Lei 9.279/96, são suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos, visualmente perceptíveis, não compreendidos dentre proibições legais. Como bem se vê a legislação nacional não traz o conceito de marca, apenas disciplina aquilo que não pode ser registrado marca, através do artigo 124 da Lei 9.279/96.
A marca, quanto à sua natureza, pode ser separada em de produto, de serviço, coletiva ou de certificação, conforme disciplina o artigo 123 e seus incisos, da Lei 9.279/96.
As marcas de produtos ou serviços possuem o mesmo objetivo, ou seja, são usadas para distinguir produto ou serviço, de igual natureza, de outros idênticos, semelhantes ou afins, de origem diversa (art. 1238, inciso I, Lei 9.279/96).
A marca coletiva possui uma finalidade diferente das marcas de produtos ou serviços, pois seu objetivo precípuo é indicar ao consumidor que aquele produto ou serviço provém de membros de uma determinada entidade. Ou seja, é aquela destinada a identificar e distinguir, no mercado, produto ou serviço proveniente de membros de uma pessoa jurídica representativa de uma coletividade, de outros produtos ou serviços iguais, semelhantes ou afins, de procedência diversa (art. 123,8 inciso III, Lei 9.279/96).
Já a marca de certificação é aquela usada atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas, padrões ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada (art. 1238, inciso II, Lei 9.279/96). O seu objetivo principal é informar o consumidor que o produto ou serviço distinguido por esta marca está de acordo com as normas e padrões técnicos específicos. Ex. INMETRO.
Quanto à sua apresentação, a marca é classificada entre marcas nominativas, nos quais são aquelas formadas e identificadas apenas por palavras que não tragam consigo nenhuma forma particular ou diferenciada de suas letras ou combinação de letras; figurativas, conhecidas como logotipos, pois são apresentadas através de um desenho, ou até mesmo por letras ou números, desde que escritos de maneira diferenciada e original; mistas, quando em uma mesma marca há formas figurativas e nominativas juntas; e tridimensionais, são aquelas representadas pelo formato característicos, não funcional e particular que é dado ao próprio produto ou seu recipiente, ex. frasco da Coca-Cola.
No ordenamento jurídico Brasileiro, conforme artigo 129, Lei 9.279/96, adquire-se a propriedade da marca através do registro validamente expedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, adotando o sistema atributivo, originário do direito francês, visto que é o registro que atribui a propriedade de uma marca ao requerente.
PRINCÍPIOS E REQUISITOS DO REGISTRO DE MARCA
Depois de feita a conceituação e dada a natureza de marca, cabe agora demonstrar os princípios e requisitos que regem o registro de marca no ordenamento jurídico pátrio.
Os principais princípios adotados pelo INPI no processo de registro de marca são os da territorialidade, especialidade ou especificidade, e veracidade.
O princípio da territorialidade é extraído através do artigo 129 da Lei 9.279/96, quando prescreve “a propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, conforme as disposições desta lei,  sendo assegurado ao titular  seu uso exclusivo em todo o território nacional (...)”. Sendo assim, a proteção conferida pelo registro da marca não transcende os limites territoriais do País e somente nestes limites é reconhecido o direito de propriedade e exclusividade de uso da marca registrada.
Segundo José Roberto Gusmão, “o princípio da territorialidade inerente ao direito de propriedade industrial, em geral, deriva do princípio maior da territorialidade das leis, segundo o qual as leis de determinado Estado são aplicáveis única e exclusivamente no território daquele Estado.”
A partir destas afirmações, conclui-se que a propriedade de uma marca, conferida pelo registro, produz efeitos somente no território do País em que foi registrada, não ultrapassando suas fronteiras.Aqueles que possuem uma marca registrada em outro país, deverão proceder o registro em todos os demais países em que tenham o interesse de protegê-la.
A única exceção ao princípio de territorialidade é a proteção conferida à marca notoriamente conhecida nos termos do artigo 6 bis da Convenção da União de Paris (CUP).
Sendo o Brasil signatário da CUP, compromete-se a recusar ou invalidar o registro de sinal que constitua usurpação de marca regularmente protegida, via depósito ou registro, em outro país também membro da Convenção, quando esta for notoriamente conhecida no País, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil. Tal regra foi introduzida na legislação brasileira através do artigo 126, da Lei 9.279/96.
Para que seja reconhecida a notoriedade, a marca implantada no mercado deve ir além das expectativas normais de conhecimento por parte do consumidor. Portanto a notoriedade da marca representa uma circunstancia em que a marca conquista grande reconhecimento do público.
Já o princípio da especialidade assegura que proteção da marca recaia sobre os produtos ou serviços correspondentes à atividade do requerente, visando diferenciá-lo de outros idênticos ou similares, de origem diversa. Este princípio tem o objetivo de evitar a confusão entre os consumidores acerca dos produtos ou serviços disponíveis no mercado.
Pelo princípio da especialidade a marca deve ser registrada na classe correspondente aos serviços por ela prestada ou aos produtos por ela comercializados. O Brasil adota a Classificação Internacional de Produtos e Serviços de Nice, que possui uma lista de 45 classes, 34 de produtos e 11 de serviços, com informação sobre os diversos tipos de produtos e serviços e o que pertence a cada classe, segundo a qual cada pedido de registro deverá enquadrar-se a uma única classe de produtos ou serviços.
Desta forma a proteção da marca “se vincula diretamente ao produto ou serviço assinalado pelo titular. Logo um signo “X” registrado para determinado produto ou serviço não mais poderá ser utilizado por outrem que queira explorar produto ou serviço do mesmo gênero.”
Em tese, o registro da marca em apenas um das classes não o direito ao titular de exigir o impedimento de registro de marca semelhante ou idêntica em outras classes, a não ser que haja estreita relação com a sua atividade.
A única exceção a este princípio é a marca de alto renome, que se depreende do artigo 125, da Lei 9.279/96, onde observa que “à marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em todos os ramos de atividade.”
Quanto ao princípio da veracidade, se pode extraí-lo da leitura conjunta dos incisos V e X do artigo 124 da Lei 9.279/9:
Art. 124. Não são registráveis como marca: 
V - reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos;
X - sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina;
Desta forma, “o princípio da veracidade visa atestar a origem da marca em correspondência com o fabricante ou aquele que comercializa o produto no mercado. Portanto, embora a veracidade seja requisito para o registro da marca, configura também garantia ao consumidor que ao adquirir o produto ou serviço não será induzido em erro a respeito de sua origem e, ou, procedência.”
Neste sentido o INPI cita que a função do princípio da veracidade é proibir “o registro de caráter enganoso, assim entendido qualquer sinal, seja sob a forma de apresentação nominativa, figurativa ou mista, que induza o público a erro quanto à origem, procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que.”
Decorrentes destes princípios são extraídos os requisitos indispensáveis para a obtenção do registro da marca perante o INPI.
Segundo Fábio Ulhoa Coelho “o registro de marca está sujeito a três condições: a) novidade relativa; b) não-colidência com marca notória; c) desimpedimento.”
A novidade relativa é exigida que a marca cumpra sua finalidade de identificar o produto ou serviço, diferenciando-se dos seus concorrentes, não sendo nova a marca não atenderá sua finalidade. Contudo não se exige que a marca represente novidade absoluta, não é necessário que o requerente tenha criado um novo sinal ou expressão linguística. O que deve ser nova é a utilização daquela marca nos produtos ou serviços comercializados.
Quanto à distintividade do sinal, cabe utilizar a explicação do INPI:
"A distintividade é uma das condições de fundo para validade de uma marca. E quando a lei faz referência a sinais distintivos (art. 122 da LPI), é mister concluir que tal exigência se relaciona com a própria função da marca, consistente em distinguir o objeto por ela assinalado,  de maneira que seja possível sua individualização de outros de mesmo gênero, natureza ou espécie. Na aferição do caráter distintivo do sinal, devem ser consideradas todas as circunstâncias de fato, tal como a duração de uso da marca."
Ou seja, a marca deve ter cunho distintivo, isto é, deve ser diferente das existentes em outros produtos e serviços existentes no mercado.
Quanto a não-colidência com marca notória, conforme já exposto, este tipo de marca possui uma proteção especial, que independe de registro no INPI, sendo assim, por força do artigo 126, da Lei 9.279/96, e do artigo 6 bis, da Convenção da União de Paris, se alguém pretender apropriar-se de marca que não lhe pertence, o seu pedido de registro deverá ser indeferido pelo INPI.
O principal objetivo deste requisito é a repressão à contrafação de marcas, essa prática ilícita consiste em pedir o registro de marcas ainda não registradas e exploradas, pelos seus titulares, no Brasil, porém já utilizadas em outros países.
O desimpedimento, por fim, é o último requisito para o registro de marca.
A marca a ser registrada deverá ser licita, ou seja, não poderá ter nenhum impedimento legal para o seu registro. O sinal não poderá ser contrário à moral, aos bons costumes, à ordem pública, ou proibido por lei. 
A lei vigente dispõe sobre a proibição de registro de determinados sinais em função da sua própria constituição, seja por sua forma, seja pelo seu não enquadramento na categoria de sinais visualmente perceptíveis. O artigo 124 da Lei 9.279/96, através dos seus vinte e três incisos, apresenta uma extensa lista de signos que não são registráveis como marca.
Desta forma, se a marca seguir os princípios do registro de marca e cumprir todos os seus requisitos, ela poderá ser registrada perante ao INPI, sendo que o proprietário do registro (titular da marca) gozará do direito de uso exclusivo da marca em todo o território nacional.
Layon Lopes da Silva, advogado especialista em Direito Empresarial, membro do Instituto Brasileiro de Direito Empresarial (IBRADEMP), pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direito & Economia - Novas Fronteiras do Direito Empresarial (PUCRS) e fundador do escritório Silva | Lopes Advogados.
O PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE NA PROTEÇÃO DE PATENTES
28-Sep-2012
Por Paula Cristiane da Silva*
 
Baseada na recente divulgação estatística de que o Brasil aumentou em 17% o número de depósitos de patentes no exterior no ano de 2011**, ocorreu-me fazer algumas considerações acerca do assunto. 
Já é de conhecimento de grande parte da população e da maioria dos inovadores que a patente é um título provisório, concedido pelo Estado, para que o seu inventor possa ser ressarcido dos valores despendidos com a sua criação, explorando-a com exclusividade. 
Provisório, porque, ao final do período de exclusividade, (que no Brasil é de 20 anos para Privilégios de Invenção, 15 anos para Modelos de Utilidade e 25 anos para Desenhos Industriais) a invenção, antes patenteada, é devolvida, por assim dizer, ao patrimônio do país como forma de contribuir para o seu desenvolvimento tecnológico e econômico.Mas um inventor, ao criar um produto no Brasil e requerer para ele a proteção por meio de uma patente, terá a garantia de que seu produto não será copiado, ou, se copiado, poderá utilizar sua Carta-Patente para impedir esta cópia? A resposta é: depende do território geográfico ao qual a proteção seja estendida. 
A Lei da Propriedade Industrial nº 9.279/96 garante ao inventor o privilégio de explorar sozinho a sua invenção, dentro do território nacional brasileiro. Significa dizer que ao requerer uma patente brasileira, seu inventor terá a exclusividade apenas no Brasil e que, portanto, sua invenção poderá ser explorada por terceiros no exterior, fator bastante prejudicial nesses tempos de globalização. 
Para a garantia da exclusividade no exterior é necessário o requerimento da patente diretamente em cada país, por grupo de países (caso do Euro PCT para a Comunidade Europeia) ou ainda, através um PCT (Patent Cooperation Treaty). 
A extensão da proteção no aspecto territorial é garantida pela Convenção da União de Paris, assinada em 1883, da qual o Brasil é um dos signatários originais. Este tratado regula, dentre outras questões, os prazos para extensão dos direitos de patente a todos os países dele signatários. 
Assim, um inventor que teve seu pedido de patente requerido no Brasil poderá estendê-lo aos demais países que fazem parte da CUP, dentro dos prazos estabelecidos por ela, sem correr o risco de que seu produto seja alvo de fabricação indevida no exterior. 
A principal vantagem para países signatários da CUP é a garantia de que a patente possa ser protegida no exterior com a manutenção da data de depósito do seu país de origem, tratada como Prioridade Unionista. 
Os 572 pedidos de patentes brasileiras no exterior feitos no ano passado mostram um crescimento significativo, que garantiu ao País a 24ª posição no ranking mundial, embora ainda muito distante dos cerca de 48.000 pedidos feitos pelos Estados Unidos no mesmo ano. 
** Dados da estimativa divulgada pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) em março/2012, abrangendo depósitos de PCT e excluindo aqueles feitos diretamente nos Órgãos de proteção de cada país.
 
* Paula Cristiane da Silva é sócia da Cesar Peres Propriedade Intelectual 
 
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