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Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais

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31/10/2017 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
https://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=33415 1/79
Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações
Internacionais
MÓDULO I - CONCEITOS ELEMENTARES E CORRENTES
TEÓRICAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB
Curso: Relações Internacionais: Teoria e História - Turma 02 A
Livro: Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
Impresso por: Jordan Tavares de Souza
Data: Terça-feira, 31 Oct 2017, 23:00
31/10/2017 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
https://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=33415 2/79
Sumário
Módulo I - Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas
Pág. 2 - As Relações Internacionais no mundo contemporâneo
Pág. 3 - O Processo de Globalização
Pág. 4 - Dilemas da Globalização
Pág. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais
Pág. 6 - Importância do conhecimento de Relações Internacionais
Pág. 7 - As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira
Pág. 8 - O Poder Legislativo e as Relações Internacionais
Pág. 9 - O Estudo das Relações Internacionais
Pág. 10 - Relações Internacionais como disciplina independente
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais
Pág. 2 - Conceitos Fundamentais
Pág. 3 - Sociedade Internacional
Pág. 4 - Sociedade Internacional
Pág. 5 - Ator Internacional
Pág. 6 - Sistema Internacional
Pág. 7 - Forças Profundas
Pág. 8 - Potência
Pág. 9 - Potência
Pág. 10 - Potência
Pág. 11 - Hegemonia
Pág. 12 - Hegemonia
Pág. 13 - Hegemonia
Unidade 3 - Correntes teóricas das Relações Internacionais
Pág. 2 - Teorias de Relações Internacionais
Pág. 3 - A fase idealista
Pág. 4 - A fase idealista
Pág. 5 - A fase idealista
Pág. 6 - A fase realista
Pág. 7 - Behavioristas e pós-behavioristas
Pág. 8 - Realismo, Pluralismo e Globalismo
Pág. 9 - Pluralismo
Pág. 10 - Globalismo
Pág. 11 - Outras correntes teóricas
Pág. 12 - Idealismo x Realismo
Pág. 13 - Tradicionalistas x Científicos
Pág. 14 - A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais
Pág. 15 - A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais
Pág. 16 - Realistas x Pluralistas
Pág. 17 - Mudanças na Teoria das Relações Internacionais
Unidade 4 - O Realismo
Pág. 2 - O Realismo
Pág. 3 - O Realismo
Pág. 4 - O Realismo
Pág. 5 - O Realismo
Pág. 6 - O conflito e a questão da segurança
Pág. 7 - Críticas ao Realismo
Pág. 8 - O Neorrealismo
Pág. 9 - O Neorrealismo
Pág. 10 - Os Últimos Grandes Debates
Pág. 11 - Neorrealistas X Globalistas
Pág. 12 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência
Pág. 13 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência
Pág. 14 - Neorrealistas x Neoliberais e a Teoria da Interdependência
Pág. 15 - Conclusão
Unidade 5 - Sociedade Internacional: Aspectos Gerais
Pág. 2 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 3 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
31/10/2017 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
https://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=33415 3/79
Pág. 4 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 5 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 6 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 7 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 8 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 9 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 10 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 11 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 12 - Conclusão do Módulo I
Exercícios de Fixação - Módulo I
31/10/2017 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
https://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=33415 4/79
Módulo I - Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações
Internacionais
 
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais
Unidade 3 - Correntes Teóricas das Relações Internacionais
Unidade 4 - O Realismo
 
31/10/2017 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
https://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=33415 5/79
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo:
Dilemas e Perspectivas
 
 
Ao final desta Unidade inicial, o aluno deverá estar apto a:
identificar os principais pontos da agenda de relações
internacionais contemporâneas;
estabelecer o conceito e as características da Globalização;
estabelecer a importância das relações internacionais para o
Brasil;
 assinalar a evolução histórica e a importância de Relações
Internacionais como disciplina acadêmica.
 
 
 
Em um curso de educação a distância por meio da Internet, o estudante
tem um papel central no estabelecimento de uma relação de qualidade
com o conteúdo proposto. Portanto, procure organizar-se para ter o
melhor aproveitamento possível do curso.
 
31/10/2017 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
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Pág. 2 - As Relações Internacionais no mundo contemporâneo
 
Antes de iniciar os estudos desta unidade, assista ao primeiro vídeo educacional da
série: Conexão Mundo ("Aldeia Global - Mundo Digital"), disponível no youtube.
Aldeia Global Mundo Digital
 
Conexão Mundo é uma série de 20 programas sobre relações internacionais que oferece
informações necessárias à compreensão dos novos processos de intercâmbio entre as nações. Os
programas enfocam toda a história das relações entre os povos, os tratados e políticas para a nova
ordem internacional e procuram desvendar conceitos como o de “globalização”, “blocos econômicos”
etc.
 
As últimas décadas do século XX foram marcadas pela intensificação das relações entre os povos, de uma maneira como nunca
experimentada anteriormente. Cada vez mais, as distâncias estão menores, tempo e espaço perdem o significado que tinham
para nossos pais e avós, e as pessoas de diferentes locais do globo tomam consciência de que “a menor distância entre dois
pontos é uma tecla”. 
O século XXI chegou trazendo grandes conquistas: o mundo está menor, globalizado, interligado física e eletronicamente; pode-
se tomar café em Londres e almoçar em Washington; as fronteiras perdem sua importância; o sistema internacional vê-se cada
vez mais integrado; a tecnologia alcança milhões de pessoas, e não há limite ao conhecimento humano. O último século do
segundo milênio presenciou uma evolução tecnológica inimaginável!
 
 
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Pág. 3 - O Processo de Globalização
 
O termo globalização pode ser entendido como fenômeno de aceleração e intensificação de
mecanismos, processos e atividades, com vista à promoção de uma interdependência global e,
em última escala, à integração econômica e política em âmbito mundial. Trata-se de conceito
revolucionário, envolvendo aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos. Registre-se,
ademais, que essa é apenas uma das várias conceituações do fenômeno, o qual não é recente,
mas se acelerou a partir da segunda metade do século XX.
 
Um dos aspectos mais importantes da globalização envolve a ideia crescente do “mundo sem
fronteiras”. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e “economia global”. Poucos
lugares do mundo estão a mais de dez dias de viagem, e a comunicação através das fronteiras é
praticamente instantânea. 
Emnossos dias, com as economias interligadas, blocos se formam, com consequências que ultrapassam os benefícios
econômicos, pois as conquistas sociais e políticas de um membro do bloco logo deverão chegar aos territórios de todos os
outros. Princípios como a democracia e a prevalência dos direitos humanos podem ser defendidos e arguídos em troca de
benefícios econômicos. Cite-se, por exemplo, o caso de países como Grécia, Portugal e Espanha, que, para serem aceitos na
então Comunidade Europeia, tiveram que promover importantes mudanças econômicas, sociais e políticas. O mesmo se
aplica à Turquia, que aspira a tornar-se parte da moderna Europa. 
 
No caso do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), há a chamada "cláusula democrática", a qual estabelece que apenas
países sob regimes democráticos podem participar do bloco. Essa cláusula evita as alternativas autoritárias em alguns países
do Mercosul, em momentos de crise institucional. 
Assim, o atual processo de globalização envolve a integração econômica mundial em diversos níveis, com a redução das
distâncias em virtude do desenvolvimento de mecanismos de produção e distribuição de bens em escala global, e do
fortalecimento dos meios de comunicação. Nesse contexto, novos atores, como as organizações não governamentais, as
empresas transnacionais, a opinião pública e a mídia, ganham destaque ao influenciarem a conduta dos Estados.
 
 Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida,
“Contra a Antiglobalização”. 
 
 
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Pág. 4 - Dilemas da Globalização
 
 
Entretanto, a globalização também é marcada por problemas em escala mundial. Nesse sentido, há a criminalidade, que
ultrapassa as fronteiras dos Estados, com organizações criminosas exercendo suas atividades ilícitas no âmbito internacional.
Crimes como o narcotráfico, o tráfico de armas, o tráfico de pessoas e de animais e a pirataria, todos esses há muito não são
problemas exclusivos de um ou outro país, mas questões globais que devem ser encaradas sistemicamente. E a base do crime
organizado é a lavagem de dinheiro, que movimenta cerca de um trilhão de dólares por ano no mundo, ou 4% do Produto
Interno Bruto (PIB) mundial, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). 
Assim, ao lado das grandes conquistas, há novos e grandes desafios: parte significativa da população mundial ainda permanece
no século XIX. Nações ricas e prósperas convivem com Estados que comportam milhões de miseráveis. Alguns locais do globo
ainda não saíram da Idade Média! Novas e antigas doenças afligem milhões. Cite-se, ainda, a parte significativa da raça humana
que sofre com a fome, a pobreza, as guerras. A sociedade internacional presencia crises econômicas, políticas, culturais e
sociais. E o destino da humanidade permanece uma grande incógnita. 
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Pág. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais
 
 
 
Outro importante tema de relações internacionais neste mundo globalizado envolve
os problemas ambientais. Cada vez mais a humanidade toma consciência de que o meio
ambiente não pode ser tratado como assunto interno dos Estados e que os danos
ambientais ultrapassam as fronteiras. A terra é um corpo único e seus recursos são
patrimônio de todos os seres humanos e das futuras gerações. Daí que os males causados
ao meio ambiente afetam toda a humanidade.
Convém registrar que, para
Relações Internacionais
como disciplina acadêmica
ou área do conhecimento,
empregaremos iniciais
maiúsculas, enquanto que,
quando nos referirmos ao
objeto de estudo, usaremos
o termo em minúsculas.
No último quartel do século XX, a proteção ao meio ambiente passou a ser uma das grandes preocupações da comunidade
internacional, não só na esfera de governo, mas também entre todos os habitantes do planeta. A Conferência do Rio de Janeiro
de 1992 exerceu essa salutar influência, e multiplicaram-se nas últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos ambientais,
tanto assim que se calcula em mais de mil os tratados internacionais assinados sobre o tema.
 
Também a proteção aos direitos humanos é um assunto em voga, sobretudo quando notícias de violações a esses direitos nos
chegam de todas as partes do planeta. No moderno sistema internacional, agressões contra uma pessoa devem ser consideradas
crimes contra toda a raça humana. O intenso trabalho das cortes internacionais de direitos humanos na Europa e no continente
americano refletem essa nova realidade.
 
Ademais, à medida que nos aproximamos uns dos outros, surgem também os conflitos, outro componente marcante da agenda
internacional desde sempre. E no extremo dos conflitos, temos a guerra, sob suas diferentes formas. Nesse sentido, o século XX
foi marcado por uma grande quantidade de guerras por todo o globo, inclusive com dois conflitos que envolveram praticamente
toda a sociedade internacional.
 
De fato, uma das grandes certezas do século XXI é que nele ainda presenciaremos o fenômeno da guerra. Entretanto, alguns
cogitam mesmo que a guerra, neste século, não será mais entre países, mas entre civilizações (HUNTINGTON, 1998).
 
 
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imagem do
olho humano
em close
pintado com
as cores da
bandeira
nacional
Pág. 6 - Importância do conhecimento de Relações Internacionais
 
Eis, portanto, o grande paradoxo global: ao lado de grandes conquistas, grandes desafios! E é nesse contexto que se percebe a
necessidade de conhecimento das relações internacionais. Atualmente, quem não estiver informado sobre o que ocorre no
mundo poderá ver-se bastante limitado, pessoal e profissionalmente.
 
Hoje, a sociedade internacional está tão interligada, tão integrada em um processo de globalização, que situações ocorridas na
China podem afetar a nós, brasileiros, do outro lado do planeta. Daí que o problema do outro passa a ser também um problema
nosso, e o bem-estar de cada homem passa a significar o bem-estar de toda a humanidade. Nesse contexto, se você não é parte
da solução, é parte do problema!
 
 
 
 
Assista à aula proferida pelo Professor Doutor Joanisval Brito Gonçalves, por ocasião de curso presencial ministrado no ILB.
Aumente o som de seu equipamento e bons estudos!
 
 
 
 
Duração: 5min29 
 
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O Brasil e as Relações Internacionacionais 
Como quinto maior país do globo em população e dimensão territorial, e estando entre as maiores economias
do planeta, com condições e pretensões de se tornar uma grande potência, o Brasil não pode se furtar a ter um
papel de destaque nas relações internacionais. As transformações e acontecimentos no mundo globalizado
farão cada vez mais parte de nosso dia a dia, em uma tendência praticamente irreversível.
 
Estamos estrategicamente localizados, temos fronteiras com praticamente todos os países sul-americanos, e
com o Atlântico, principal via para a Europa e a África. Ademais, somos uma nação tida como pacífica e
respeitadora do direito internacional e com incontestáveis atributos de liderança regional. Finalmente, não
devemos desconsiderar nossas maiores riquezas: os recursos naturais e um povo multiétnico, empreendedor e, nos dizeres de
Gilberto Freyre, com suas peculiares “características antropofágicas”.
 
Pouco significativa diante de suas potencialidades é a atuação brasileira no cenário internacional. Apenasnas últimas décadas do
século XX é que o Brasil começou a se fazer mais presente. Isso coincide com o surgimento e o desenvolvimento dos primeiros
cursos de Relações Internacionais no País e com o aumento do interesse nas questões internacionais por parte de diversos
setores da nossa sociedade.
 
É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de Relações Internacionais. Na Administração
Pública, essa demanda é mais evidente. No Poder Legislativo, é fundamental que aqueles que assessoram os legisladores
conheçam as principais linhas da política internacional tão bem quanto conhecem a política interna brasileira. Afinal, política
interna e política externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão afetadas por esta e vice-versa.
 
Um sítio interessante para o estudante e o profissional de Relações Internacionais é o Inforel, que
traz cobertura atualizada das questões gerais da área e também de defesa nacional, além de
artigos com análises interessantes. 
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Pág. 7 - As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira
 
 
A importância das relações internacionais também pode ser percebida na maneira como o tema é tratado na Constituição
Federal. A Carta Magna, já em seu Título I, referente aos “Princípios Fundamentais”, estabelece, no art. 4º, os princípios que
regem as relações internacionais do Brasil:
 
 
 
· independência nacional;
· prevalência dos direitos humanos;
· autodeterminação dos povos;
· não intervenção;
· igualdade entre os Estados;
· defesa da paz;
· solução pacífica dos conflitos;
· repúdio ao terrorismo e ao racismo;
· cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
· concessão de asilo político.
 
 
Ainda no que concerne à Lei Maior, também os direitos e garantias fundamentais estão intimamente relacionados às experiências
vivenciadas pela comunidade das nações ao longo de sua história. Foi graças às revoluções em países como a Inglaterra, a
França, os EUA e a Rússia, e à difusão desses princípios para além de suas fronteiras, que o mundo moldou uma cultura de
direitos fundamentais que hoje são inquestionáveis em todo o planeta. E a violação a esses direitos gera repulsa da comunidade
internacional.
A Constituição de 1988 inovou ao elencar, de forma sistemática, os princípios que regem nossas relações internacionais. Para
maior aprofundamento, sugerimos a leitura do artigo 'Os princípios das relações internacionais e os 25 anos da Constituição
Federal', do Professor Alexandre Pereira da Silva, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos complementares'.
 
Vereshchetin (1996), por exemplo, vê no que chama de “fator direitos humanos” um dos principais meios de retomada de uma
cultura mínima de proteção internacional no pós-Guerra. O relacionamento entre Estado e indivíduo, que tradicionalmente foi
objeto de preocupação de leis internas, não mais pode ser considerado uma questão puramente doméstica dos países.
 
A Constituição da Rússia de 1993, por exemplo, trouxe como princípio a incorporação das normas internacionais ao sistema
jurídico interno e a prevalência dos acordos internacionais dos quais a Federação Russa faça parte, caso estes estabeleçam
regras que difiram daquelas estipuladas em lei interna. Isso tem se mostrado uma tendência constitucional em vários países.
Quando não há dispositivos legais expressos, as cortes constitucionais têm dado o rumo da interpretação. 
Na década de 1990, as cortes constitucionais da Hungria e da Polônia, por exemplo, decidiram que a Constituição e as normas
internas deveriam ser interpretadas de tal forma que as normas internacionais geralmente aceitas tivessem força efetiva. 
Há, portanto, em todo o planeta, sinais de uma crescente interdependência até mesmo no campo jurídico, e o Tribunal Penal
Internacional nada mais é que uma expressão e consequência disso.
 
 
 
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https://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=33415 13/79
Pág. 8 - O Poder Legislativo e as Relações Internacionais
 
 
As relações internacionais do Brasil passam efetivamente pelo Poder Legislativo. Em nosso sistema jurídico-político, quaisquer
tratados que o Brasil celebre com outras nações ou com organizações internacionais devem necessariamente passar pelo aval do
Congresso Nacional antes de serem ratificados.
 
O art. 49 da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer, logo nos dois primeiros incisos, as competências exclusivas do
Congresso Nacional: 
 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos
ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os
casos previstos em lei complementar;
(...)
E o Senado Federal, por sua vez, tem atribuições mais específicas, pois é a Casa Legislativa que avalia e aprova nossos
embaixadores, autoridades máximas das missões diplomáticas brasileiras, designados para representar o País no Exterior.
Compete também ao Senado autorizar as operações externas de natureza financeira dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios. 
 
Cada Casa Legislativa possui comissões encarregadas dos temas de relações exteriores e defesa nacional. No Senado Federal,
por exemplo, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), composta por 19 membros titulares e 19 suplentes, é
competente para tratar das questões que envolvam as relações internacionais do País.
 
A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos das relações internacionais. E quanto mais o
Brasil busque integrar-se na comunidade das nações e ocupar o seu devido papel de destaque, mais importante se faz o
conhecimento, na esfera do Legislativo, dos principais temas da área. 
 
 
 
31/10/2017 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
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Pág. 9 - O Estudo das Relações Internacionais
Antes de concluirmos a primeira Unidade, convém apresentar algumas considerações gerais sobre o estudo das relações
internacionais como disciplina, as áreas de atuação do profissional da área e a realidade brasileira.
 
O estudo de Relações Internacionais envolve conhecimentos gerais de Direito, Economia, Administração, História, Filosofia,
Sociologia, Antropologia, Estatística e, sobretudo, de questões internacionais contemporâneas.
 
O interesse por temas de relações internacionais aumentou mais ainda após os atentados terroristas de 11 de setembro de
2001. Ao assistirmos àqueles dramáticos acontecimentos em tempo real, alguns véus foram retirados, e aos poucos tomamos
consciência de que as distâncias físicas se estreitavam ao mesmo tempo em que as distâncias culturais e sociais aumentavam. O
terrorismo passa também a ser uma questão global, que afeta países nos hemisférios Norte e Sul, no Ocidente e no Oriente.
 
No campo profissional, as relações internacionais são aplicáveis em diversas áreas. No Brasil, há profissionais dessa área
atuando em vários setores da Administração Pública e da iniciativa privada.
 
Em termos de carreira, uma das mais conhecidas é a diplomacia. O diplomata é o legítimo
representante do Governo e da nação junto a outros povos e organizações internacionais.Para se tornar um diplomata no Brasil, é necessário o ingresso na carreira por meio de
concurso público, promovido pelo Instituto Rio Branco (IRBr) do Ministério das Relações
Exteriores. Aprovado no concurso, e, submetido a um período de treinamento no IRBr, o
diplomata inicia uma carreira como Terceiro Secretário, podendo chegar a Embaixador.
 
 
Palácio do Itamaraty 
Fonte:www.inforel.org
 
No serviço público, além da Chancelaria, o profissional de relações internacionais tem diante si alternativas de trabalho nos
vários órgãos da Administração Federal, Estadual e Municipal. Afinal, sempre há uma “assessoria internacional” em cada
ministério, secretaria, autarquia e empresas públicas. E o perfil do internacionalista se destaca. Constata-se a presença de
profissionais de relações internacionais nas principais carreiras de Estado.
 
Na iniciativa privada, outro leque de alternativas se abre aos que possuem formação na área. Além das grandes corporações
multinacionais e transnacionais, as empresas brasileiras de médio e grande porte já percebem a necessidade de atuarem em
uma economia globalizada. Assim, em um mundo cada vez mais integrado econômica e financeiramente, as empresas precisam
de profissionais que as auxiliem a se integrarem e a permanecerem no sistema internacional. Aquelas que desconsideram essa
percepção frequentemente acabam por sucumbir.
 
Além disso, há a possibilidade de trabalho nas centenas de Organizações Internacionais e Organizações Não Governamentais que
atuam no globo: ONU, OEA, OIT, OMC, OPEP, UNESCO, FAO, Greenpeace, WWF e outras. Brasília tem representação da maior
parte dos organismos internacionais dos quais o Brasil é membro e, com isso, o mercado do profissional de relações
internacionais se amplia na capital federal.
 
 
 
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Pág. 10 - Relações Internacionais como disciplina independente
 
 
Até o início do século XX, as relações internacionais não eram estudadas como disciplina independente. O estudo do tema estava
sempre sob o manto de outras ciências, como o Direito, a Economia, a Sociologia e a Ciência Política.
 
À medida que a sociedade internacional tornava-se mais complexa e as relações entre os Estados mais diversificadas, relações
estas que envolviam conflito e cooperação, e que muitas vezes culminavam em situações que interferiam diretamente no
cotidiano das pessoas e na política interna das nações, percebeu-se a crescente necessidade de teorias que explicassem a
conduta dos atores em um cenário internacional. Essas teorias e seu estudo deveriam constituir uma nova área do
conhecimento, independente e com autonomia para gerar suas próprias percepções da realidade. Daí o aparecimento das
primeiras cátedras de Relações Internacionais pelo mundo.
 
Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século XX, nas principais universidades europeias e norte-
americanas. Foram constituídos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se desenvolviam as relações
entre os Estados. Naquele contexto, as perguntas que impulsionariam o estudo estavam intimamente relacionadas ao grande
trauma da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito sem precedentes até então, que envolvera diversas nações do globo e
causara pesadas perdas, sobretudo no território europeu. Assim, os temas centrais eram: 
 
O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drástica?
O que leva os Estados à guerra?
É possível se evitar o conflito entre os povos?
Como agem os atores internacionais e quais forças que interferem na conduta desses entes?
Claro que, no decorrer do século XX, o estudo de Relações Internacionais diversificava-se à medida que os laços entre os povos
tornavam-se mais complexos e novos temas, como cooperação, desenvolvimento, integração, paz, direitos humanos e
globalização, vinham à baila. Atualmente, a disciplina é ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo, e evolui à medida
que também evolui a complexidade da sociedade internacional. De fato, hoje há cursos de Relações Internacionais nas principais
universidades do mundo e profissionais da área atuando nos mais variados segmentos dos setores público e privado. 
 
O primeiro curso de Relações Internacionais no Brasil foi instituído na Universidade de Brasília, na década de 1970, fazendo da
capital da República o referencial brasileiro em estudos internacionais. Até meados da década de 1990, havia apenas dois cursos
de Relações Internacionais no Brasil – na Universidade de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro). Hoje, são
dezenas de instituições que oferecem a graduação em Relações Internacionais por todo o País. Trata-se, portanto, de carreira de
grata expansão. Mesmo assim, a contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente, sobretudo para
um país que tem potencial para se tornar uma grande potência entre seus pares. 
Feitas essas primeiras considerações acerca do tema de nosso curso, realize as atividades propostas e, em seguida, passemos às
teorias e aos principais conceitos utilizados pelos profissionais e estudiosos das Relações Internacionais. 
 
 
31/10/2017 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
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Unidade 2 - Conceitos Fundamentais
 
 
Ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar e
definir os seguintes conceitos fundamentais de relações
internacionais: 
• Sociedade Internacional; 
• Atores; 
• Forças Profundas; 
• Sistema Internacional; 
• Potência; 
• Hegemonia.
 
Lembre-se sempre dos objetivos estabelecidos, que devem servir de guias para o 
estudo do conteúdo e para a autoavaliação do cursista. Tenha um bom 
aproveitamento!
 
 
 
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Pág. 2 - Conceitos Fundamentais
 
 
Essencial para o desenvolvimento de nosso curso é a compreensão de conceitos fundamentais de Relações Internacionais. Nesse
sentido, seria complicado tentar iniciar qualquer análise de Relações Internacionais sem as noções desses conceitos. Dentre eles
ressaltamos: 
Sociedade Internacional;
Atores;
Forças Profundas;
Sistema Internacional;
Potência;
Hegemonia.
 
Antes de iniciar o estudo desta unidade, sugerimos que assista atentamente aos dois vídeos
seguintes do Conexão Mundo, 
“Conceitos Fundamentais de Relações Internacionais”, disponíveis no Youtube. 
Conexão Mundo - Conceitos Fundamentais das Relações Interna…
 
Conexão Mundo - Conceitos Fundamentais das Relações Interna…
 
 
A seguir, vamos procurar identificar os elementos mais importantes desses conceitos.
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Sociedade Internacional
 
Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que inicia o estudo de Relações Internacionais refere-se à temática que
envolve a Sociedade Internacional. 
 
Como definir Sociedade Internacional? Quais os elementos constitutivos desse conceito?
A ideia de Sociedade Internacional – termo cunhado por Hugo Grócio no século XVII – permite
direcionar a atenção para a atuação padronizada dos Estados. Apesar da ausência de uma
autoridade central no cenário internacional, os Estados exibem padrões de atuação que estão
sujeitos a, e constituídos por, restrições de diversas naturezas – históricas, sistêmicas, legais e
morais, entre outras.
Num primeiro momento, podemos relacionar SociedadeInternacional à evolução histórica das
relações entre os grupos, povos e, mais tarde, Estados-nações organizados em âmbito espacial
determinado. Podemos identificar a evolução da Sociedade Internacional a partir das relações
entre os grupos primitivos da Antiguidade, passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade
Contemporânea, com a ascensão do Estado nacional e soberano nos séculos XVIII e XIX e o seu declínio, no século XX, frente a
um sistema cada vez mais globalizado e interdependente.
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Pág. 3 - Sociedade Internacional
 
Podemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formação dos Estados nacionais, que só se deu, nos moldes como os
concebemos hoje (compostos de povo, território e soberania), há dois séculos. Mesmo que não houvesse consciência dos povos a
esse respeito, não há como negar a existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antiguidade. Afinal, a partir do
momento em que surgem os primeiros grupos independentes e diferenciados, exercendo relações políticas, culturais ou
comerciais entre si, tem-se uma Sociedade Internacional embrionária. Das tribos passaram-se aos reinos, às cidades-estados e
aos impérios, e estes, vistos em um contexto macro e nas relações entre si, formavam a Sociedade Internacional do mundo
antigo.
 
Claro que o primeiro modelo de Sociedade Internacional, inserido em um Sistema Internacional da Antiguidade, refletia mais um
conjunto de sociedades regionais localizadas, muitas vezes sem qualquer contato entre si e até sem consciência da existência
umas das outras. Era uma época em que as forças naturais limitavam a comunicação entre Oriente e Ocidente, e a “Sociedade
Internacional do sistema grego” mantinha pouco contato com a “Sociedade Internacional do extremo oriente” – na qual o
império dinástico chinês era o principal ator.
 
Somente com as grandes navegações e o expansionismo europeu pelo planeta é que se estrutura uma Sociedade Internacional
global. Assim, desde o século XVI, o mundo vai-se tornando cada vez mais integrado, seja pela força da economia e do
comércio, seja pela força dos canhões e das conquistas coloniais europeias. Paul Kennedy, em sua obra já clássica Ascensão e
Queda das Grandes Potências, analisa, com clareza, como o extremo oeste do continente euro-asiático, conhecido como Europa,
com uma diversidade de povos e reinos autônomos e marcado por conflitos regionais e fratricidas, consegue expandir-se pelo
mundo e, em pouco mais de dois séculos, tornar-se o centro de uma sociedade global, subjugando forças tradicionais como a
China e o Império Otomano. 
 
O termo “internacional” foi utilizado pela primeira vez em 1780, pelo filósofo inglês Jeremias
Bentham, em sua obra Princípios de Moral e Legislação. Essa é a época do apogeu dos Estados
nacionais, com o início do declínio do absolutismo no continente europeu. Era um período em que a
ideia de nação ainda estava muito ligada à figura do soberano. A Sociedade Internacional representava,
para os europeus, a “Cristandade”, com seus paradigmas e princípios seculares. O Estado soberano era
o principal ator internacional.
 
Foi com a Revolução Francesa que o conceito de nação deixou de ter caráter puramente simbólico e
passou a relacionar-se diretamente à questão da soberania. Esta passou a residir essencialmente na
nação, onde o súdito tornou-se cidadão e as relações entre os Estados, até então simbolizados e conduzidos pelos monarcas,
estenderam-se às relações entre os povos. O século XX esclarece essa nova perspectiva: as relações entre nações não são
necessariamente relações entre os Estados, muito pelo contrário.
 
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Pág. 4 - Sociedade Internacional
 
Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua evolução diretamente relacionada à evolução dos
grupos, povos, reinos, Estados, Impérios e nações, enfim, de todos os atores que a compõem ou a compuseram e das forças que
influenciam a sua atuação.
 
Qual é, então, o conceito de sociedade internacional? 
A resposta para essa pergunta é percebida de maneira diferenciada pelos teóricos das Relações Internacionais, que podem ser
reunidos em três grandes grupos (CERVERA, 1991).
Para os teóricos do primeiro grupo, é simplesmente impossível definir Sociedade Internacional. Limitam-se, assim, ao estudo dos
componentes da Sociedade Internacional e à evolução das relações entre eles.
 
Os teóricos do segundo grupo dedicam-se a analisar a Sociedade Internacional em contraposição a outros grupos sociais. Por
essa ótica, a pergunta que se busca responder é “Como é a Sociedade Internacional?” É irrelevante, portanto, para esses
autores, a formulação de um conceito teórico para Sociedade Internacional. De qualquer maneira, eles não deixam de apresentar
sua definição de Sociedade Internacional, mas apenas para instrumentalizar suas explicações, como veremos adiante.
 
O terceiro grupo, majoritário, afirma não só ser possível, mas também necessário, proceder à definição do termo “Sociedade
Internacional”, para que se possa tratar com mais propriedade o estudo dos fenômenos internacionais e das relações que se
desenvolvem em seu meio. Uma vez que concordamos com essa percepção, apresentaremos nosso conceito de Sociedade
Internacional. Antes, porém, vejamos alguns conceitos de autores renomados.
 
Colliard (1978) afirma que Sociedade Internacional é o “conjunto de seres humanos que vivem sobre a terra”. Percebemos
uma definição genérica e abrangente, que põe completamente de lado as estruturas em que os seres humanos estão agrupados,
como as nações ou os Estados nacionais. Para o autor, o conceito de Sociedade Internacional confunde-se com o de
“humanidade”. Chega-se a perceber mesmo uma concepção idealista, pois a Sociedade Internacional teria em primeiro plano o
indivíduo, independentemente de suas origens e do grupo ou povo a que pertence.
Hedley Bull (2002), com base em uma análise sistêmica, definiu Sociedade Internacional como um “grupo de comunidades
políticas independentes que não formam um sistema simples”.
Juan Carlos Pereira (2001) apresenta uma definição mais precisa e completa: “um âmbito espacial e global em que se
desenvolve um amplo conjunto de relações entre grupos humanos diferenciados, territorialmente ou geograficamente
organizados e com poder de decisão.” O autor acredita que a Sociedade Internacional estaria evoluindo para uma Comunidade
Internacional.
Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como “aquela sociedade global (macrossociedade) que
compreende os grupos com um poder social autônomo, entre os quais se destacam os Estados, que mantêm entre si relações
recíprocas, intensas, duradouras e desiguais sobre as quais é assentada certa ordem comum”.
Por fim, cabe apresentar nossa própria conceituação de Sociedade Internacional, que é baseada na corrente historiográfica, pela
qual buscamos reunir elementos que consideramos essenciais para a compreensão do termo e de sua evolução desde a
Antiguidade. A nosso ver, Sociedade Internacional pode ser definida como o conjunto de entes que interagem de maneira
sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas.
Desmembremos esse conceito para melhor compreensão.
 
 
 
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Pág. 5 - Ator Internacional
 
A primeira parte de nosso conceito de Sociedade Internacional trata de um conjunto de entes. Esses entes nada mais são do que
os Atores internacionais. Ator internacional é toda autoridade, organização,grupo ou pessoa que representa ou pode vir a
representar um papel de destaque na Sociedade Internacional. A percepção desses atores varia conforme o tempo e a corrente
teórica que os identifica, mas podemos destacar aqueles que, na atualidade, podem ser considerados os mais importantes: os
Estados nacionais, os atores governamentais interestatais (as organizações internacionais), os atores não governamentais
interestatais (i.e., organizações não governamentais e empresas multi- e transnacionais, entre outros) e os indivíduos.
 
Não são todas as pessoas, grupos ou organizações que podem ser identificados como Ator Internacional. Para nossa
classificação, é necessário que a atuação desses entes tenha destaque em escala global. Por exemplo, uma associação
estabelecida dentro de determinado país e voltada em suas atividades e interesses prioritariamente ao âmbito interno daquele
país não é um Ator internacional.
 
Não obstante, qualquer grupo, organização ou indivíduo pode vir a tornar-se Ator internacional. Grandes empresas
transnacionais de hoje foram, no passado, pequenas organizações comerciais, algumas de natureza familiar, que atuavam
exclusivamente no interior de seu país de origem, não sendo à época Atores internacionais. À medida que essas empresas
cresceram, expandiram-se para além das fronteiras de seus Estados de origem e começaram a atuar e influir na Sociedade
Internacional, tornaram-se Atores internacionais.
 
 
 
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Pág. 6 - Sistema Internacional
 
O segundo aspecto de nosso conceito de Sociedade Internacional refere-se à atuação sistêmica na esfera internacional.
Adotamos uma abordagem sistêmica, em que o aspecto relacional é importante. Sistema pode ser conceituado como “conjunto
de elementos e instituições entre os quais se possa encontrar alguma relação” ou, ainda, “conjunto ordenado de meios de ação
ou de ideias, tendente a um resultado”. A abordagem sistêmica em relações internacionais vê o conjunto de inter-relações entre
os Atores internacionais como sujeito a padrões e normas – enfim, a forças profundas –, que remetem ao conjunto mais amplo,
o sistema internacional como um todo.
 
As primeiras considerações a respeito do modelo sistêmico para explicar as Relações Internacionais tomaram por base
referências da Biologia e da Química. Nesse sentido, pode-se associar a noção de sistema ao corpo humano, no qual vários
subsistemas – circulatório, nervoso etc. – são compostos de órgãos que se relacionam e dependem uns dos outros. A ideia de
sistema, portanto, está relacionada a um ordenamento nas relações entre componentes e à interdependência entre esses
componentes. 
Raymond Aron, em sua obra clássica Paz e Guerra entre as Nações, recorreu ao conceito de sistema para
evocar a dinâmica das relações internacionais. Assim, a Sociedade Internacional tem características
suficientemente estáveis para que possamos percebê-la como um sistema onde os Atores conduzem suas
relações dentro de certos padrões. 
Cabe aqui, também, apresentar um conceito de Sistema Internacional, de acordo com Frederic S. Pearson
e J. Martin Rochester (2000, p. 641): 
Sistema Internacional. Conjunto de relações em âmbito mundial nas áreas política, econômica, social e
tecnológica, em torno do qual ocorrem as relações internacionais em um dado momento.
Há ainda autores que separam as noções de Sociedade Internacional e de Sistema Internacional para identificar certos períodos
históricos. Por exemplo, Sociedade Internacional teria como substrato a ideia de concerto e harmonia internacional, que alguns
defendem corresponder, por exemplo, à Europa do pós-1815. Em contrapartida, Sistema Internacional traduziria a existência de
vários polos de poder que interagem entre si e não necessariamente se harmonizam no todo, o que alguns autores defendem
corresponder ao mundo pós-1945.
 
 
 
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Pág. 7 - Forças Profundas
 
Finalmente, de acordo com a nossa concepção de Sociedade Internacional, o terceiro elemento fundamental são as “forças
profundas”. A ideia de “forças profundas” origina-se da corrente historiográfica das Relações Internacionais cujos principais
expoentes foram Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle. De acordo com esses historiadores, as forças profundas nada mais
seriam que determinados fatores que influenciariam as ações das coletividades.
 
As condições geográficas, os movimentos demográficos, os interesses econômicos e financeiros, os traços da mentalidade
coletiva, as grandes correntes sentimentais – todas essas forças profundas formaram o quadro das relações entre os grupos
humanos e, em grande parte, lhes determinaram o caráter. O homem de Estado, nas suas decisões ou nos seus projetos, não
pode negligenciá-las; sofre-lhes a influência e é obrigado a constatar os limites que elas impõem à sua ação. Todavia, quando
ele possui quer dons intelectuais, quer firmeza de caráter, quer temperamento que o levam a transpor aqueles limites, pode
tentar modificar o jogo de semelhantes forças e utilizá-las para seus próprios fins.
 
Juan Carlos Pereira denomina tais forças profundas de “fatores condicionantes” (PEREIRA, 2001, p. 44). Identifica alguns
desses fatores: fator geográfico, fator demográfico, fator econômico, fator tecnológico, fator ideológico/sistema de valores,
fator político-jurídico e fator militar-estratégico. 
 
Portanto, a Sociedade Internacional é composta de entes – Estados, organizações internacionais, organizações não
governamentais, empresas transnacionais, indivíduos, entre outros – que são influenciados pelas forças profundas – fatores
geográficos, demográficos, migratórios, políticos, econômicos e financeiros, ideológicos, religiosos, tecnológicos etc. – em suas
ações sistêmicas na esfera internacional.
 
Uma leitura complementar recomendada é a do texto sobre Rio Branco e as Forças Profundas, de
Arno Wehling:
Visão de Rio Branco – o homem de estado e os fundamentos de sua política. 
 
 
Além do clássico Histoire des Rélations Internationales, obra-mestra da 
historiografia francesa das relações internacionais, caberia destacar dois livros de 
Renouvin e Duroselle já traduzidos para o português: Introdução à História das 
Relações Internacionais – publicada em 1967 pela Difusão Europeia do Livro, de 
São Paulo – e Todo Império Perecerá – um dos últimos grandes trabalhos de 
Duroselle, lançado no Brasil em 2000.
 
 
 
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Pág. 8 - Potência
 
Além dos conceitos já tratados, cabem, neste curso introdutório, algumas observações – ainda que sem aprofundamento – a
respeito de outros conceitos essenciais para viabilizar nosso entendimento dos temas tratados no decorrer das próximas
unidades. Passemos a eles.
 
 
Potência
 
O Sistema Internacional é composto por uma diversidade de atores. Nesse contexto, o Estado ocupa papel de destaque, mas
existem diferenças marcantes entre os Estados na esfera internacional e o grau de influência (poder) que eles exercem. Assim,
importante para a compreensão das relações internacionais é a ideia de Potência e das diferentes gradações dessa classificação.
 
Há inúmeras definições para Potência.
 
Segundo Martin Wight (2002), Potência é “um Estado moderno e soberano em seu aspecto externo, e quase pode ser definido
como a lealdade máxima em defesa da qual os homens hoje irão lutar”.
 
Rafael Calduch Cervera (1991), por sua vez, cita o conceito de Potência Internacional segundo C. M. Smouts, ou seja, como
aquele Estado “mais ou menospoderoso segundo sua capacidade de controlar as regras do jogo em um ou mais âmbitos-
chaves da disputa internacional e segundo sua habilidade de relacionar tais âmbitos para alcançar uma vantagem”.
 
Ao tratar da capacidade dos Estados de influenciarem a Sociedade Internacional, Martin Wight relaciona Potências Dominantes,
Grandes Potências, Potências Mundiais e Potências Menores. Potências Dominantes e Potências Mundiais seriam subdivisões do
gênero Grande Potência, uma vez que ambas as categorias se referem a Estados com interesses globais e capacidade de
influência significativa no Sistema Internacional. Em última análise, a diferenciação poderia ser restringida a Grandes Potências
e Potências Menores. 
 
Wight define Potência Dominante como aquela capaz de medir forças contra todos os rivais
juntos. E cita exemplos ao longo dos séculos, como Atenas, à época das Guerras do
Peloponeso, o Império Romano, a Espanha de Carlos V e de Filipe II, a França de Luís XIV, a
Grã-Bretanha no século XIX e os EUA no século XX.
 
Outro termo muito utilizado e cujas características vão além da Potência Dominante,
conforme definida por Wight, é o de Superpotência. Esse termo, cunhado com o advento da
Guerra Fria, designava exclusivamente URSS e EUA. Esses países, em virtude de suas
capacidades nucleares – com poder de destruição global –, inúmeras vezes associadas ao
poderio militar convencional e à influência político-ideológica mundial, tinham status único na
comunidade das nações.
 
Gounelle (1992) indica quatro características das Superpotências: 
têm capacidade de intervir em qualquer parte do globo;
dispõem de amplo arsenal, capaz de causar danos diferenciados dos armamentos convencionais e composto tanto de armas
nucleares quanto de outros meios de destruição em massa;
assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do Pacto de Varsóvia);
pretendem oferecer um modelo universal de sociedade.
 
Convém lembrar que a ideia de Superpotência ultrapassa em muito o poderio exclusivamente militar. De fato, a capacidade de
destruição massiva do planeta é o elemento central do conceito de Superpotência, mas o aspecto de liderança de um bloco de
nações e de pretensões de estabelecimento de uma sociedade universal em seus moldes político-econômico-ideológico-sociais
não pode ser desconsiderado.
 
 
 
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Pág. 9 - Potência
Atualmente, com o colapso da URSS, restou, no planeta, apenas uma Superpotência: os EUA. Alguns autores vislumbram a
possibilidade de a China vir a ocupar, na segunda metade do século XXI, o lugar da URSS. Entretanto, ainda não há que se falar
na China como Superpotência, uma vez que esta, além de não dispor de arsenais nucleares capazes de fazer frente ao poderio
de Estados como EUA e Rússia, não tem pretensões – nem condições – de projetar um modelo sócio-político-cultural-ideológico
seu para o mundo. A Rússia, por sua vez, apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição massiva do
planeta, não pode ser chamada de Superpotência, exatamente porque também não tem condições de aspirar a qualquer
pretensão hegemônica no sistema internacional, como fazia a URSS. Assim, os EUA, considerados os vencedores da Guerra
Fria, são hoje o único Estado com as características básicas da superpotência, e, de fato, essa nação tem-se tornado tão
poderosa que já se cunha o conceito de Hiperpotência, algo sem precedentes na História.
 
A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências juntas. Esse aparato não se resume ao acervo
das armas de destruição em massa, mas inclui armamento convencional significativo e capacidade de operação militar em mais
de um teatro no globo. Ademais, trata-se de uma Economia de peso diante do sistema, sua influência na política internacional é
marcante e, ainda, consegue projetar seu modelo sócio-cultural e político para outras regiões do planeta.
 
Assim, os EUA não encontram, no início do século XXI, adversários militares à altura, e são a Grande Potência econômica e a
liderança mundial. Do ponto de vista econômico, por exemplo, apenas a coalizão das grandes economias europeias pode fazer
frente aos EUA, o mesmo se podendo dizer das economias asiáticas. A projeção de poder dos norte-americanos no mundo não
encontra precedentes, e alguns analistas já começam a analisar a política externa estadunidense como uma política de império.
De qualquer maneira, o conceito de Hiperpotência ainda encontra-se em desenvolvimento.
 
O conceito de Wight para Potência Dominante tem grande proximidade com a ideia de hegemon, ou seja, uma potência tão
poderosa que seria necessária uma coalizão de todas as demais nações para contê-la. A concepção de hegemon ultrapassa a
esfera exclusivamente político-militar, de modo que o Estado que detém esse título influencia a Sociedade Internacional em
esferas diversas, como a cultura, a estrutura social interna, a Economia e até o Direito. Além disso, essa influência
do hegemon não ocorre necessariamente de maneira impositiva. De fato, a hegemonia, como veremos a seguir, envolve um
misto de coerção e consenso. Finalmente, convém lembrar que o hegemon continua influenciando a Sociedade Internacional
mesmo após perder esse status. 
Interessante observar que a hegemonia dos EUA hoje é mantida mais por outros meios – o que alguns autores chamam de soft
power (poder suave) –, como a presença marcante na compilação e divulgação de notícias e diversões, na produção de bens
de consumo, nas inúmeras formas de cultura popular e sua identificação com a liberdade política e de mercado, do que
propriamente por meio do hard power (poder militar). 
Além da potência hegemônica, há outros atores estatais com capacidade significativa de influência na Sociedade Internacional.
Esses são as Grandes Potências, as quais, inclusive, disputam a hegemonia entre si e aspiram tornar-se a potência dominante,
chegando, muitas vezes, a alcançar esse objetivo. De fato, as relações internacionais seriam um grande tabuleiro onde essas
Potências disputariam poder em um jogo de influência. Como exemplos atuais de Grandes Potências teríamos China, França,
Rússia, Alemanha, Japão e Grã-Bretanha.
 
As potências menores constituem a maioria. Seu grau de influência no sistema varia significativamente. Nesse grupo, poderiam
ser relacionadas desde as Potências Mundiais menores – como Espanha e Índia – até as Potências Regionais – Argentina e
Egito, por exemplo. Vale destacar que uma Potência Menor hoje pode vir a tornar-se uma Grande Potência e até a Potência
Dominante. Os EUA são um bom exemplo disso.
 
 
 
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Pág. 10 - Potência
Max Gounelle (1992) comenta que, à medida que dispõe de capacidade de influenciar de maneira significativa os outros entes
da Sociedade Internacional em prol de seus interesses particulares, um Estado pode ser classificado como Microestado,
Potência Local, Potência Média, Grande Potência ou Superpotência. 
Os microestados são aquelas pequenas soberanias que persistem em nossos dias e que, em sua maioria, tiveram origem na
formação histórica dos Estados nacionais europeus ou no processo de descolonização. Encontram-se constantemente sob amplo
grau de dependência frente a uma Potência e integram-se a grupos de Estados organizados no seio de organizações
internacionais. Conviria exemplificar nessa categoria países como o Principado de Mônaco e a República de San Marino, diversos
Estados-arquipélagos no Pacífico ou até algumas Repúblicas da América Central e Caribe. Apesar de minimamente influentes na
Sociedade Internacional, esses entes ganham força quando se associam e se fazem representarem organismos internacionais
onde tenham poder de voto igual ao de outros Estados.
 
As Potências Locais são as mais numerosas. Participantes das atividades comuns da vida internacional, esses entes têm como
objetivos principais sua própria sobrevivência e a defesa de sua soberania territorial. De maneira geral, não têm grandes
pretensões internacionais de projeção de poder e acabam também associados às Grandes Potências ou a Potências Regionais.
Como exemplos para essa categoria, temos países como Bolívia, Paraguai, Camboja, Albânia e Moçambique.
 
São classificados como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados aptos a representarem certo papel de destaque em
grandes áreas geopolíticas. Egito, Síria, Nigéria, Brasil, Argentina e Irã são exemplos de Potências Regionais ou Médias. Esses
países exercem influência em virtude de suas aptidões de liderança sob certos limites geográficos, fundadas em seus potenciais
materiais ou demográficos, sua envergadura ideológicas ou seu peso militar, econômico e até social.
 
Gounelle, no entanto, diferencia Potências Regionais de Potências Médias ao afirmar que estas últimas têm ambições mundiais
restritas às suas próprias capacidades. Tais pretensões poderiam ser limitadas a domínios específicos (nuclear, cultural,
econômico, diplomático). A França, a Alemanha, a China e o Japão estariam nessa categoria. De fato, o que Gounelle relaciona
como Potências Médias seria o que se costuma chamar mais apropriadamente de Grandes Potências, ou seja, Potências com
interesses globais e capacidade de influenciar a Sociedade Internacional em diferentes domínios. Ao chamar Potências como
China e Grã-Bretanha de Potências Médias, Gounelle o faz comparando-as às Superpotências – à época, URSS e EUA.
 
 
 
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Pág. 11 - Hegemonia
 
Tomamos como base para o conceito de Hegemonia a
obra International Relations: the Key Concepts, de Martin
Griffiths e Terry O’Callaghan (London: Routledge, 2002).
 
 
Hegemonia, em grego, significa “liderança”. Em sentido amplo, portanto, em Relações Internacionais, o hegemon é o líder – ou
o Estado líder – de um grupo de nações.
 
Para que os conceitos de hegemonia e de hegemon sejam aplicáveis, presume-se que haja uma certa ordem na Sociedade
Internacional. Daí que, apesar de ser o Estado mais poderoso no cenário internacional, o hegemon só pode exercer sua
liderança (hegemonia) se houver relações de poder entre entes em um meio internacional. 
Hegemonia consiste, então, no exercício de uma liderança ou comando em uma sociedade, com base em recursos de poder.
Esses recursos fundamentam-se em dois aspectos: coerção e consenso. Assim, toda relação de poder tem por base os graus de
coerção e consenso exercidos por um ente ou mais de um sobre os demais. À medida que é alterada essa relação, muda
também a liderança no grupo. 
Para o exercício da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de consenso e coerção. Uma relação que
se baseie apenas na coerção – por meio de recursos de força militar ou econômica – não pode ser verdadeiramente
hegemônica, da mesma maneira que é impossível a liderança da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos
demais atores.
 
As relações internacionais têm sido marcadas pela disputa, por parte das Potências, da hegemonia na Sociedade Internacional.
Essa hegemonia, além de política, pode ser militar, econômica, cultural ou ideológica. Pode ser regional ou global. Um Estado
que seja a Potência hegemônica em uma dessas áreas muito provavelmente o será na maioria das outras. É claro que tal
liderança pode ter diferentes gradações e que uma grande Potência econômica em nossos dias pode não ter o mesmo poder de
influência cultural ou até militar no cenário internacional.
 
A Sociedade Internacional será sempre marcada por um hegemon, cujo interesse é manter o status quo do sistema, diante de
outras Potências que não pouparão esforços para se tornar o hegemon. De acordo com a teoria da estabilidade hegemônica,
o hegemon tem que ter capacidade de garantir a ordem do sistema, ordem que deve ser percebida pelos demais entes da
comunidade como positiva a seus interesses. Para isso, o hegemon deveria dispor de alguns atributos: liderança em um setor
econômico ou tecnológico e poder político baseado no poder militar. Podemos acrescentar a esses atributos a capacidade de
obter consenso sobre sua liderança.
 
 
Não acumule dúvidas. Procure saná-las logo que apareçam.
 
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Pág. 12 - Hegemonia
Para Robert Gilpin, a estabilidade internacional depende da existência de uma hegemonia, que tenha tanto capacidade quanto
vontade de fornecer “bens públicos” internacionais, como lei, ordem e moeda estável. Conforme didática explicação de Griffiths
(2004, p. 26-27):
 
(...) os mercados não podem crescer em produção e distribuição de bens e serviços se não houver um
Estado que forneça certos pré-requisitos. Por definição, os mercados dependem da transferência, por
meio de um mecanismo de preço eficiente, de bens e serviços que possam ser comprados e vendidos
entre os principais agentes particulares que permutam direitos de posse. Mas os mercados dependem do
Estado para lhes dar, por coerção, regulamentos, taxas e certos “bens públicos” que eles sozinhos não
podem gerar. Isto inclui uma infraestrutura legal de direitos e leis de propriedade para fazer contratos,
uma infraestrutura coerciva que assegure a obediência à lei, além de um meio de permuta estável
(dinheiro) que assegure um padrão de avaliação dos bens e serviços. Dentro das fronteiras territoriais do
Estado, os governos fornecem tais bens. É claro que, internacionalmente, não existe Estado no mundo
capaz de multiplicar sua provisão em escala global. Baseando-se na obra de Charles Kindleberger e na
análise de E. H. Carr sobre o papel da Grã-Bretanha na economia internacional no século XIX, Gilpin
argumenta que a estabilidade e a “liberalização” da permuta internacional dependem da existência de
uma “hegemonia”, que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais,
como lei, ordem e uma moeda estável para o comércio financeiro.
 
Em termos gerais, essa é a Teoria da Estabilidade Hegemônica. 
 
É uma teoria importante e voltaremos a ela na Unidade 4, ao tratarmos do debate teórico travado
entre neorrealistas e neoliberais. 
 
As Potências hegemônicas são as Grandes Potências na concepção de Wight, e o hegemon nada mais é que a Potência
Dominante. A hegemonia político-ideológica no planeta, por exemplo, era disputada pelas Superpotências no contexto da Guerra
Fria, mas a URSS dificilmente poderia ser caracterizada como ameaça à hegemonia econômica dos EUA.
 
Deve-se esclarecer, todavia, que, durante a maior parte da
Guerra Fria, imaginava-se que a União Soviética se tornaria uma
grande potência econômica. 
Isso é especialmente válido para os anos 30: enquanto as
economias ocidentais agonizavam por causa da crise de 1929, a
economia soviética crescia a taxas espantosamente altas. 
 
 
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Pág. 13 - Hegemonia
 
Complementando os estudos sobre o conceito de Hegemonia, atente para esta aula do Professor Joanisval. 
 
 
Hegemonia
 
Duração: 2min55
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Essas observações introdutórias são suficientes e fundamentaispara a compreensão das unidades seguintes e para a
discussão dos temas tratados neste curso. 
 
 
 
Artigo interessante para concluir os estudos desta Unidade é o texto de João Marques de Almeida,
sobre Hegemonia Americana e Multilateralismo.
 
 
 
 
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Unidade 3 - Correntes teóricas das Relações Internacionais
 
Ao final da unidade, o aluno deverá ser capaz de:
indicar e caracterizar as principais correntes teóricas das Relações
Internacionais no Século XX;
identificar os principais debates teóricos da disciplina
 
Esperamos que você tenha excelente aproveitamento em seus estudos!
 
 
 
 
 
 
 
 
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Pág. 2 - Teorias de Relações Internacionais
 
 
O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se pretende conhecer mediante a formação de
teorias e a utilização de um método científico (CERVERA, 1991). A teorização sobre as Relações Internacionais surgiu quando se
buscou explicar a existência e as condutas dos entes internacionais. É na Grécia Antiga, com a obra de Tucídides, História da
Guerra do Peloponeso, que se tem a primeira manifestação embrionária de uma teoria de Relações Internacionais.
 
Há algo que as ciências naturais e as ciências sociais, conforme Karl Popper, certamente têm em comum: a necessidade da
teoria para se desenvolverem. Nas palavras de Tomassini (1989, p. 55): 
"A ciência exige algo mais do que fatos e descrições de fatos. Exige uma explicação de por que ocorreram, que efeitos causaram
e algumas predições (ou, no caso das ciências sociais, conjecturas) sobre seu comportamento provável no futuro, uma mescla de
causalidade, teleologia e prospecção. No campo das ciências sociais, como em outras ciências, a teoria é chamada a ministrar
essas explicações, pondo ordem ao mundo heterogêneo e muitas vezes incompreensível dos fatos isolados, e a arriscar algumas
predições."
A Teoria do Equilíbrio de Poder 
 
Começamos por essa teoria por uma razão simples: para muitos estudiosos da política
internacional, a Teoria do Equilíbrio de Poder, também conhecida como Teoria do
Balanço de Poder, é o que mais próximo existe de uma teoria política das relações
internacionais. Arnold Toynbee, conhecido historiador, chegou mesmo a dizer que tal
teoria constituía uma “lei” da História. 
 
Na era moderna, com o surgimento e desenvolvimento do Estado-nação, multiplicaram-
se também as teorizações a respeito das relações internacionais. Em um contexto de
anarquia internacional e de conflito entre os Estados, as práticas dos agentes e dos
atores na Sociedade Internacional levaram à formulação de uma teoria que pode ser
considerada a precursora da análise convencional realista das relações internacionais, a
Teoria do Equilíbrio de Poder.
 
A Teoria do Equilíbrio de Poder percebe o cenário internacional em uma situação de
equilíbrio, no qual o poder é distribuído entre os diversos Estados. Quando um Estado
começa a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente aos demais, há uma
perturbação no equilíbrio, e faz-se necessária uma coalizão das Potências para conter o
Estado “pretensioso” e restaurar a ordem. Assim, pressupondo o Estado como um ator
racional, a teoria defende que o balanço ou o equilíbrio de poder é a escolha preferível e, portanto, a tendência do sistema
internacional. A Teoria orientou as relações internacionais nos quatro séculos compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos
(1618-1648) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Foi útil para justificar as condutas dos Estados e ações de governantes
em um contexto anárquico e conflituoso, como será visto nas Unidades 2 e 3 do módulo seguinte deste nosso curso.
 
Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço deliberado para prevenir predominância,
hegemonia) e como um padrão da política internacional (em que a interação entre os Estados tende a limitar ou frear a busca
por hegemonia e, como resultado, resulta num equilíbrio geral).
 
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e as consequentes mudanças no cenário internacional e no equilíbrio de forças, em virtude
dos traumas causados pelo conflito e do desenvolvimento do discurso pacifista junto à opinião pública internacional, a Teoria do
Equilíbrio de Poder foi questionada. Sob o argumento de que essa doutrina não poderia perdurar em um sistema em que a
guerra deveria ser evitada a qualquer custo, o imediato pós-guerra foi marcado por novas concepções sobre as relações
internacionais, baseadas em uma nova corrente teórica, a qual se fundamentava no Direito Internacional, na solução pacífica das
controvérsias e na busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz: o Idealismo das Relações Internacionais.
 
Foi, portanto, na primeira metade do século XX que os primeiros teóricos de Relações Internacionais começaram a desenvolver
suas explicações sobre o tema em um contexto de disciplina autônoma. Claro que, em virtude de um objeto de estudo tão
complexo, diversas foram as correntes teóricas instituídas nas últimas décadas. Como não é este um curso de teoria,
pretendemos apresentar apenas as linhas gerais das correntes mais reconhecidas.
 
 
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Pág. 3 - A fase idealista
 
 
O Idealismo, como ficou conhecida a primeira grande corrente teórica de Relações Internacionais, surge em um contexto do final
de um conflito muito marcante, a Primeira Guerra Mundial, e reflete a crescente preocupação daqueles que então começavam a
teorizar sobre as relações internacionais: 
 
Como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional, ou melhor, como evitar o conflito, sobretudo bélico, entre os Estados?
No que se refere ao contexto internacional, lembra Arenal (1984), o clima nunca poderia ter sido mais favorável ao Idealismo. A
Grande Guerra havia demonstrado a fragilidade da tradicional diplomacia europeia como meio para assegurar a ordem e a paz
internacional. As enormes perdas humanas e materiais produzidas pelo conflito foram responsáveis, também, pelo advento de
uma opinião comum universal segundo a qual a guerra deveria ser erradicada como instrumento de política dos Estados.
Pregava-se, ademais, o estabelecimento de um modelo de segurança coletiva capaz de evitar novas contendas.
 
Assim, sob os auspícios do discurso idealista e moralizante do presidente estadunidense Woodrow Wilson, foi criada a Sociedade
(ou Liga) das Nações (SDN), com o objetivo de ser a organização central de um sistema de segurança coletiva e um fórum em
que os Estados pudessem resolver suas contendas de maneira pacífica. A SDN, portanto, contribuía para acentuar o otimismo
frente ao futuro da Sociedade Internacional e estabelecia os fundamentos de um sistema dirigido para preservar a paz. Nesse
contexto, a teoria internacional dominante se orientava pelos caminhos do Idealismo, dos projetos de organização internacional,
do estabelecimento de mecanismos tendentes à solução pacífica e de propostas de desarmamento. Importância significativa foi
dada pelos idealistas ao Direito Internacional e às instituições jurídico-normativas que garantissem a ordem nas relações entre
os Estados: ganhava força o institucionalismo nas relações internacionais.
 
 
Anarquia internacional não significa “desordem”, mas, sim, ausência de um governo central
superior aos Estados (que são soberanos e só prestam contasa si mesmos e a outros Atores do
sistema). Anarquia é, portanto, ausência de governo. 
 
 
O Idealismo partia do princípio de que as relações internacionais encontram-se em estado de natureza, ou seja, de anarquia
internacional. As nações devem buscar, destarte, superar essa anarquia e estabelecer um contrato social em âmbito internacional
que ordene as relações entre os povos. Os Estados, acreditavam os idealistas, deveriam portar-se de acordo com os mesmos
princípios morais que guiam a conduta do indivíduo. Para estimular ou obrigar esses Estados a seguir tais princípios, seria
fundamental que se institucionalizasse, em escala mundial, o interesse comum de todos os povos em alcançar a paz e a
prosperidade. O estudo de Relações Internacionais, como disciplina autônoma, mostrou-se como uma ciência da paz. 
 
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Pág. 4 - A fase idealista
O Realismo e o Idealismo encerram, na verdade, duas visões de mundo opostas, em que o ponto de partida é a dicotomia
anarquia x ordem. Apesar de Tucídides, com História da Guerra do Peloponeso, antes mesmo de surgirem os conceitos de
soberania e a tese do estado de natureza, já ter iniciado a moldar uma concepção anárquica do mundo, é com Thomas Hobbes,
em Leviatã, e, em seguida, com John Locke, em O Estado de Guerra (Capítulo III da obra Segundo Tratado do Governo Civil),
em que se explora, pela primeira vez, o estado de natureza anárquico a respeito das relações internacionais. 
Segundo Lijphart (1982), as noções de soberania e de anarquia internacional inspiraram três teorias interligadas: a do governo
mundial, a do equilíbrio de poder (ou balanço do poder) e a da segurança coletiva.
 
Segundo a teoria do governo mundial, dado que a anarquia é responsável pela tensão internacional, é necessário celebrar um
contrato social internacional para instituir um governo mundial soberano e único, para pôr fim à anarquia.
 
A teoria do equilíbrio de poder, ao contrário, defende que a luta pelo poder entre os Estados soberanos tende a gerar um
equilíbrio, o qual não alimenta uma tensão perpétua, mas cria uma ordem internacional.
 
Para a teoria da segurança coletiva, o melhor seria que os Estados se empenhassem em tomar medidas coletivas contra todo
agressor, o que acabaria atenuando a anarquia internacional.
 
Todas essas teorias aceitam a tese de que a anarquia reina entre os Estados soberanos. Segundo Inis L. Claude, citado por
Lijphart, essas três teorias correspondem a estágios sucessivos de uma progressão em direção a uma centralização cada vez
mais repleta de autoridade e poder (no sentido balanço de poder > segurança coletiva > governo mundial). O mundo nunca
passou do segundo estágio, o qual foi, na verdade, o foco da maior parte dos autores idealistas.
 
Historicamente, no desenvolvimento do sistema de Estados da Europa, 
soberania é normalmente associada aos trabalhos de Jean Bodin e Thomas 
Hobbes, nos quais significava o direito de exercer poder irrestrito. Todavia, a 
história do sistema de Estados modernos, do século XVII em diante, é uma 
tentativa de se distanciar da rigidez dessa concepção original em busca da ideia 
de igualdade formal.
 
Para as Relações Internacionais, é particularmente importante a visão construída por Hugo Grócio sobre a sociedade
internacional a partir da teoria do contrato. Grócio, considerado o pai do Direito Internacional, defendeu ser o direito um
conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus societatis. A base da doutrina de Grócio é a solidariedade, ou
potencial solidariedade, entre os Estados em relação à aplicação da lei internacional, e procura estabelecer uma ordem mundial
restringindo os direitos dos Estados de irem para a guerra por motivações políticas e promover a ideia de que a força só pode ser
legitimamente usada em nome dos objetivos e anseios da comunidade internacional como um todo. 
 
Grócio, como se observa, apresenta uma hipótese inversa à do equilíbrio de poder. Para ele, existe um fundamento comum de
normas morais e jurídicas, e o mundo é uma sociedade composta de Estados onde reina um consenso normativo suficientemente
amplo e intimidador para que a noção de estado de natureza e de anarquia internacional não seja aplicável. A tese de Grócio
parte da noção de anarquia, mas a minimiza para efeitos de teorização, desconsiderando a relação necessária entre anarquia e
guerra, relação esta reduzida a mera “hipótese” (e não a um “dado” ou “premissa”, como fazem os realistas).
 
 
 
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Pág. 5 - A fase idealista
A teoria e a prática das relações internacionais desde a Primeira Guerra Mundial, principalmente com o Pacto da Liga das Nações
(o Pacto de Paris), a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Carta do Tribunal Internacional de Nuremberg, derivam
da fórmula grociana, que concebe a sociedade internacional de forma ordenada, fruto da analogia com a alegoria da sociedade
doméstica usada pelos teóricos do contrato social dos séculos XVII e XVIII.
 
Edward Hallett Carr, autor do clássico Vinte Anos de Crise: 1919-1939, cuja primeira edição foi lançada logo após o
desencadeamento da Segunda Guerra Mundial, em 1939, analisa a dicotomia entre uma perspectiva utópica e a prática realista
dos Estados e ilustra bem a maneira como os idealistas viam as relações internacionais e os argumentos que utilizavam ao
tratarem das interações entre os povos: 
O aspecto teleológico da ciência da política internacional tem estado evidente desde o princípio. Surgiu de uma grande e
desastrosa guerra; e o objetivo-mestre que inspirou os pioneiros da nova ciência foi o de evitar a recidiva dessa doença do corpo
internacional. O desejo passional de evitar a guerra determinou todo o curso e direção iniciais do estudo. Como outras ciências
na infância, a ciência política internacional tem sido marcada e francamente utópica. Ela se encontra no estágio inicial, no qual o
desejo prevalece sobre o pensamento, a generalização sobre a observação, e poucas tentativas são efetuadas de uma análise
crítica dos fatos existentes e dos meios disponíveis. Neste estágio, a atenção está concentrada quase exclusivamente no fim a
ser alcançado. 
Carr cita, ainda, o discurso do Presidente Wilson – que refletia o pensamento idealista geral e que continha a resposta de Wilson:
“se não funcionar, teremos que fazê-lo funcionar!”, quando indagado se aquele modelo moralizante e pacifista funcionaria – e
esclarece: 
"O advogado de um plano para uma força de polícia internacional, ou para a ‘segurança coletiva’, ou de algum outro
projeto para uma ordem internacional, geralmente responde à crítica, não com um argumento destinado a mostrar
como e por que ele pensa que seu plano funcionaria, mas sim, ou com uma declaração de que ele tem que ser posto a
funcionar porque as consequências de sua ausência de funcionamento seriam desastrosas, ou com a demanda por
alguma panaceia alternativa."
Após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações foi um esforço específico da política internacional de substituir o princípio do
equilíbrio de poder pelo princípio da segurança coletiva. Tal princípio, que sustentou a criação daquela Organização, foi elaborado
para remover a necessidade de equilíbrio ou balanço. Para os realistas, essa sua remoção no período entreguerras teria sido
justamente a causa da Segunda Guerra Mundial. Como resultado, o sistema internacional pós-1945 deixou de ser explicado em
termos do princípio idealista da segurança coletiva, e noções de bipolaridade e multipolaridade,

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