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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.260.923 - RS (2011/0105856-1) RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RECORRIDO : MAURO GOMES DE MOURA E OUTROS ADVOGADO : RICARDO HANNA BERTELLI E OUTRO(S) - RS057124 EMENTA PROCESSO CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS. LICENCIAMENTO AMBIENTAL. ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL. PETIÇÃO INICIAL. RECEBIMENTO. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE COMETIMENTO DE ATO ÍMPROBO. IN DUBIO PRO SOCIETATE . RECURSO ESPECIAL PROVIDO. HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se de Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa (art. 11 da Lei 8.429/1992) ajuizada pelo Ministério Público Federal contra servidores da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) que concederam Licença Prévia à empresa Bunge Fertilizantes S/A para construir complexo industrial (indústria de fertilizantes, fábrica de ácido sulfúrico e terminal portuário de produtos químicos) em área de alta vulnerabilidade ambiental ("Estuário da Lagoa dos Patos"), sem o devido Estudo Prévio de Impacto Ambiental. 2. O Juiz de primeiro grau rejeitou a petição inicial e julgou extinto o processo sem resolução do mérito. O Tribunal a quo deu provimento aos Embargos Infringentes dos recorridos, mantendo a sentença. RECEBIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL 3. Incumbe a todo e qualquer servidor público zelar pela legalidade, integridade, honestidade, lealdade, publicidade e eficácia do licenciamento ambiental, instrumento por excelência de prevenção contra a degradação do meio ambiente e de realização, in concreto , do objetivo constitucional do desenvolvimento ecologicamente equilibrado. Infração ao due process ambiental – valor maior de ordem pública lastreado no princípio da legalidade estrita – implica reações jurídicas simultâneas mas independentes, nos campos civil (p. ex., responsabilidade pelo dano causado e improbidade administrativa), administrativo (p. ex., sanções disciplinares e, com efeitos ex tunc , nulidade absoluta do ato viciado, nos termos do art. 166 do Código Civil) e penal (p. ex. sanções estabelecidas nos arts. 66, 67 e 69-A da Lei 9.605/1998). 4. As normas ambientais encerram obrigações não só para quem usa recursos naturais, mas também para o administrador público que por eles deve velar. O agente do Estado que, com dolo genérico, descumpre, comissiva ou omissivamente, tais deveres de atuação positiva comete improbidade administrativa, nos termos do art. 11 da Lei 8.429/1992. 5. Como regra geral, o elemento subjetivo na Ação de Improbidade Administrativa deve, na sua plenitude, ser apreciado na instrução processual, após ampla produção de prova e máximo contraditório. Nos termos do art. 17, § 8º, da Lei 8.429/1992, a presença de indícios de cometimento de atos ilícitos Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 1 de 12 Superior Tribunal de Justiça autoriza o recebimento da petição inicial da Ação de Improbidade Administrativa, devendo prevalecer na fase inicial o princípio in dubio pro societate. Nesse sentido: REsp 1.065.213/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe 17.11.2008; AgRg no REsp 1.533.238/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 14.12.2015; AgRg no AREsp 674.126/PB, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 2.12.2015; AgRg no AREsp 491.041/BA, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 18.12.2015. 6. Assim, deve ser provido o Recurso Especial do Parquet Federal para que seja recebida a petição inicial. 7. Recurso Especial provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça: ""A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (Presidente) e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator." Brasília, 15 de dezembro de 2016(data do julgamento). MINISTRO HERMAN BENJAMIN Relator Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 2 de 12 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.260.923 - RS (2011/0105856-1) RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RECORRIDO : MAURO GOMES DE MOURA E OUTROS ADVOGADO : RICARDO HANNA BERTELLI E OUTRO(S) - RS057124 RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Trata-se de Recurso Especial interposto com fundamento no art. 105, III, "a" e "c", da CF. Na origem, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região deu provimento à Apelação do Ministério Público (fl. 516): AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EXTINÇÃO COM BASE NO ART. 17, § 80, DA LEI 8.429/92.INICIAL QUE, ROBUSTAMENTE INSTRUÍDA, ATRIBUI AOS RÉUS OMISSÕES ENQUADRADAS, EM TESE, NO ART. 11, CAPUT E INCISO II, DA LEI DE IMPROBIDADE. REJEIÇÃO DA INICIAL QUE SE CONDICIONA À COMPROVAÇÃO CABAL DA INEXISTÊNCIA DO ATO DE IMPROBIDADE, DA IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO OU DA INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. NOTIFICAÇÃO PREVIA. OBJETIVO DE EVITAR LIDES TEMERÁRIAS OU INFUNDADAS. PRECEDENTES DESSE E. TRIBUNAL. DISPENSA, POR SERVIDORES DA FEPAM, DE EIA/RIMA PARA A EMISSÃO DE LICENÇA PRÉVIA (LP) DESTINADA À CONSTRUÇÃO DE INDÚSTRIA DE FERTILIZANTES, FÁBRICA DE ÁCIDO SULFÚRICO E TERMINAL DE PRODUTOS QUÍMICOS NO PORTO DE RIO GRANDE. AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA ADMINISTRATIVA. ATIVIDADES MODIFICADORAS DO MEIO AMBIENTE EXPRESSAMENTE ARROLADAS NO ART. 20 DA RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001/86. SIGNIFICATIVO IMPACTO AMBIENTAL E ALTA VULNERABILIDADE DA ÁREA RECONHECIDOS PELOS PADRÕES DE CLASSIFICAÇÃO, DE ATIVIDADES DA FEPAM. DOLO SUFICIENTEMENTE DEMONSTRADO. DESNECESSIDADE DE OCORRÊNCIA DO DANO. ARTS. 21, 19 E 12, 111, DA LEI 8.429. RISCO DE DANO DECORRENTE DA EMISSÃO DA LP. Apelação conhecida e provida. Os Embargos de Declaração foram rejeitados (fls. 540-549), e os Infringentes, providos (fls. 625-643). Eis a ementa do acórdão destes: EMBARGOS INFRINGENTES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. IRREGULARIDADE. CONDUTAS ENQUADRADAS NO ART. 11 DA LEI No 8.429/92 . CONFIGURAÇÃO Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 3 de 12 Superior Tribunal de Justiça DO ATO ÍMPROBO. DOLO. NECESSIDADE. A configuração de ato de improbidade administrativa depende da verificação de elemento subjetivo - dolo no caso das condutas dos arts 9º e l1 da Lei n 8.429/92. O recorrente afirma que houve, além de divergência jurisprudencial, ofensa aos artigos 11, II, 12, III, e 17, § 8º, da Lei 8.429/1992. Contrarrazões às fls. 749-823. O MPF opinou pelo provimento do recurso às fls. 866-877. É o relatório. Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 4 de 12 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.260.923 - RS (2011/0105856-1) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Trata-se de Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público Federal, em petição inicial assinada pela ilustre Procuradora da República Anelise Becker, contra servidores da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) que concederam Licença Prévia à empresa Bunge Fertilizantes S/A para construir complexo industrial em área de alta vulnerabilidade ambiental, sem o devido Estudo Prévio de Impacto Ambiental. A competência da Justiça Federal está bem caracterizada, pois se trata, em tese, de improbidade administrativa prejudicial a bem federal, não devendo, aqui, haver confusão entre competência administrativa para o licenciamento ambiental e competênciajudicial para processar e julgar atos ímprobos. O Juiz de primeiro grau rejeitou a petição inicial e julgou extinto o processo sem resolução do mérito. O Tribunal a quo deu provimento aos Embargos Infringentes dos recorridos, mantendo a sentença. O Recurso Especial do Parquet Federal bem esclarece as questões em debate: 2. Em julgamento do recurso de apelação do Ministério Público Federal, a 4a Turma do Tribunal Regional Federal, por maioria, reformou a decisão singular que rejeitara a inicial pela ausência do agir doloso dos requeridos, adotando parecer ministerial, cujo acórdão recebeu a seguinte ementa: "AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EXTINÇAO COM BASE NO ART. 17, § 80, DA LEI 8.429/92. INICIAL QUE, ROBUSTAMENTE INSTRUÍDA, ATRIBUI AOS RÉUS OMISSÕES ENQUADRADAS, EM TESE, NO ART. 11, CAPUT E INCISO II, DA LEI DE IMPROBIDADE. REJEIÇÃO DA INICIAL QUE SE CONDICIONA À COMPROVAÇÃO CABAL DA INEXISTÊNCIA DO ATO DE IMPROBIDADE, Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 5 de 12 Superior Tribunal de Justiça DA IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO OU DA INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. NOTIFICAÇÃO PREVIA. OBJETIVO DE EVITAR LIDES TEMERÁRIAS OU INFUNDADAS. PRECEDENTES DESSE E. TRIBUNAL. DISPENSA, POR SERVIDORES DA FEPAM, DE EIA/RIMA PARA A EMISSÃO DE LICENÇA PRÉVIA (LP) DESTINADA À CONSTRUÇÃO DE INDÚSTRIA DE FERTILIZANTES, FÁBRICA DE ÁCIDO SULFÚRICO E TERMINAL DE PRODUTOS QUÍMICOS NO PORTO DE RIO GRANDE . AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA ADMINISTRATIVA. ATIVIDADES MODIFICADORAS DO MEIO AMBIENTE EXPRESSAMENTE ARROLADAS NO ART. 20 DA RESOLUÇÃO CONAMA NO 001/86. SIGNIFICATIVO IMPACTO AMBIENTAL E ALTA VULNERABILIDADE DA ÁREA RECONHECIDOS PELOS PADRÕES DE CLASSIFICAÇÃO DE ATIVIDADES DA FEPAM. DOLO SUFICIENTEMENTE DEMONSTRADO. DESNECESSIDADE DE OCORRÊNCIA DO DANO. ARTS. 21, 1, E 12, 111, DA LEI 8.429. RISCO DE DANO DECORRENTE DA EMISSÃO DA LP. Apelação conhecida e provida." (FI. 476). (fl. 649, grifei). (...) ação civil pública com pedido de condenação por ato de improbidade administrativa contra MAURO GOMES DE MOURA, DIEGO HOFEMEISTER, CLAUREN MOURA MARTINS, ROSEANE ADEGAS e RENATO DAS CHAGAS E SILVA, servidores do órgão ambiental do Estado do Rio Grande do Sul, FEPAM, pelo agir tipificado, no artigo 11, caput, e, inciso 11, com sanção prevista no 12, inciso III, ambos da Lei n.' 8.429/92, em razão da concessão de licença prévia à empresa BUNGE FERTILIZANTES S.A., permissiva da construção de complexo industrial, em área de alta vulnerabilidade ambiental , com desprezo a expressos normativos ambientais, no Porto Organizado de Rio Grande/RS (fls. 03/42). (fl. 655, grifei). A r. sentença (fl. 355) rejeitou a inicial julgando extinto o processo sem resolução do mérito (art. 267, inc. I, do CPC e art. 17, § 8º, da Lei n. 8.429/1992) (fl. 663, grifei). (...) impossibilidade de estancar-se a ação de improbidade na alegada ausência de dolo, se, suficiente, em fase preliminar, a Inicial roborada em procedimentos administrativos de investigação regulares, narrando fatos que encontram tipificação na lei de improbidade (fl. 666, grifei). Como bem informa o parecer do Ministério Público Federal (fls. 866-877), há indícios da presença do elemento subjetivo. Vejamos: 14. Como no caso em questão houve, por parte dos agentes Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 6 de 12 Superior Tribunal de Justiça públicos ambientais, omissão da prática do ato da ofício consistente na exigência do EIA/RIMA, uma vez que concederam licença ambiental à empresa BUNGE FERTILIZANTES S/A, sem exigir do empreendedor a elaboração de Estudo Prévio da Impacto Ambiental ou parecer técnico justificativo da sua não exigência. (...) 18. No caso in concreto, os Agente públicos Ambientais tinham a responsabilidade de impedir o resultado danoso ao meio ambiente, pois, tinham conhecimento de que a implantação daquele complexo industrial- portuário possui alta vulnerabilidade ambiental, mas mesmo assim expediram licença sem a devida observância às normas de proteção ambientais. (...) 24. A inicial descreve fatos graves que denotam a violação pelos réus, dos seus deveres funcionais , uma vez que a instalação de obra ou atividade que implique potencial degradação do meio ambiente, está sujeita à estudo prévio de impacto ambiental, existindo, portanto, embasamento jurídico, para apuração da improbidade administrativa exposta na inicial. (...) 26. Portanto, somente após o processamento e regular instrução probatória da ação, é qua haverá subsídios para emissão da um juízo para procedência ou não da ação de improbidade. 27. Dessa forma, não havendo dúvidas que foi precoce a extinção da ação de improbidade administrativa, porquanto, suficientemente demonstrado a conduta dos réus em desacordo com os princípios da legalidade e da imparcialidade, merecendo, portanto, investigação condizente com a sua gravidade (grifei). Ora, sabe-se que incumbe a todo e qualquer servidor público zelar pela legalidade, integridade, honestidade, lealdade, publicidade e eficácia do licenciamento ambiental, instrumento por excelência de prevenção contra a degradação do meio ambiente e de realização, in concreto , do objetivo constitucional do desenvolvimento ecologicamente equilibrado. Infração ao due process ambiental – valor maior de ordem pública lastreado no princípio da legalidade estrita – implica reações jurídicas simultâneas mas independentes, nos campos civil (p. ex., responsabilidade pelo dano causado e improbidade administrativa), administrativo (p. ex., sanções disciplinares e, com efeitos ex tunc , nulidade absoluta do ato viciado, nos termos do art. 166 do Código Civil) e penal (p. ex. sanções estabelecidas nos arts. 66, 67 e 69-A da Lei 9.605/98). As normas ambientais encerram obrigações não só para quem usa recursos naturais, mas também para o administrador público que por eles deve velar. O Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 7 de 12 Superior Tribunal de Justiça agente do Estado que, com dolo genérico, descumpre, comissiva ou omissivamente, tais deveres de atuação positiva comete improbidade administrativa, nos termos do art. 11 da Lei 8.429/1992, sem prejuízo de outras sanções e da responsabilidade civil por eventual dano causado, previstas na legislação. Em tese, "Projeto de Compensação Ambiental" não substitui Estudo Prévio de Impacto Ambiental ou Relatório de Ausência de Impacto Ambiental Significativo , tanto mais porque resulta na supressão de garantia de audiência pública e de outros atos administrativos vinculados, típicos do devido processo ambiental . Saliente-se que, neste momento, nenhum juízo de valor é feito sobre o mérito da demanda, pois caberá à instância ordinária analisar, em profundidade, a caracterização ou não de improbidade administrativa. Como regra geral, o elemento subjetivo na Ação de Improbidade Administrativa deve, na sua plenitude, ser apreciado na instrução processual, após ampla produção de prova e máximo contraditório. Nos termos do art. 17, § 8º, da Lei 8.429/1992, a presença de indícios de cometimento de atos previstos na referida lei autoriza o recebimento da petição inicial da Ação de Improbidade Administrativa. Ademais, deve prevalecer na fase inicial o princípio in dubio pro societate. Nesse sentido: AÇÃO CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. REJEIÇÃO DA INICIAL. ARTIGO 17, § 8º, DA LEI Nº 8.429/92. RETORNO DOS AUTOS À INSTÂNCIA ORDINÁRIA. I - Trata-se de ação civil ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL visando apurar possível prática de ato administrativo consubstanciado no pagamentode "propinas" a Oficiais de Justiça em atividade no Poder Judiciário daquele Estado, mecanismo articulado por um escritório de advocacia. II - O acórdão recorrido manteve o entendimento monocrático no sentido da rejeição precoce da inicial sob os fundamentos de que a quantia era irrisória e que os demandados já respondem a processo administrativo e a ação penal pelo mesmo motivo. III - Tal fundamentação não pode ser enquadrada nos termos do artigo 17, § 8º, da Lei nº 8.429/92, que permite a rejeição da inicial de forma excepcional quando cabalmente verificadas a inexistência do ato, a improcedência da ação ou a inadequação da via eleita. Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 8 de 12 Superior Tribunal de Justiça IV - Pretensão acolhida, com a anulação das decisões e retorno dos autos à instância ordinária, para que a respectiva ação civil por improbidade administrativa tenha seu curso regular. V - Recurso provido. (REsp 1065213/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, DJe 17/11/2008) PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECEBIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 211/STJ E 282/STF. FUNDAMENTO AUTÔNOMO NÃO IMPUGNADO. SÚMULA 283/STF. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA EXPRESSAMENTE RECONHECIDOS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. É deficiente a fundamentação do recurso especial em que a alegação de ofensa aos art. 535 do CPC se faz de forma genérica, sem a demonstração exata dos pontos pelos quais o acórdão se fez omisso, contraditório ou obscuro. Aplica-se, na hipótese, o óbice da Súmula 284/STF. (...) 4. O Tribunal de origem, ao analisar a controvérsia, expressamente consignou que havendo"indícios da prática dos atos de improbidade, bem como do envolvimento da Requerida, a petição inicial deve ser recebida, aplicando-se, à semelhança do que ocorre no processo penal, por ocasião do recebimento da denúncia, o princípio do in dubio pro societate '" (fl. 11.941). (...) 7. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1533238/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 14/12/2015) PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDÍCIOS DE CONDUTA ÍMPROBA. SÚMULA 7/STJ. RAZÕES DE RECURSO QUE NÃO IMPUGNAM, ESPECIFICAMENTE, OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO, EM PARTE, E, NESSA PARTE, IMPROVIDO. I. Interposto Agravo Regimental, com razões que não impugnam, especificamente, os fundamentos da decisão agravada, mormente quanto à incidência da Súmula 7/STJ, não prospera o inconformismo, em face Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 9 de 12 Superior Tribunal de Justiça da Súmula 182 desta Corte. (...) III. O aresto impugnado está alinhado à jurisprudência do STJ, no sentido de que, existindo indícios de cometimento de atos de improbidade administrativa, a petição inicial deve ser recebida, fundamentadamente, pois, na fase inicial, prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e 9º da Lei 8.429/92, vale o princípio in dubio pro societate , inclusive para verificação da existência do elemento subjetivo, a fim de possibilitar o maior resguardo do interesse público. Precedentes do STJ: AgRg no AREsp 592.571/RJ, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (Desembargador Convocado do TRF/1ª Região), PRIMEIRA TURMA, DJe de 05/08/2015; AgRg no REsp 1.466.157/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 26/06/2015; AgRg no AREsp 660.396/PI, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de 25/06/2015; AgRg no AREsp 604.949/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 21/05/2015. IV. Agravo Regimental parcialmente conhecido, e, nessa parte, improvido. (AgRg no AREsp 674.126/PB, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, DJe 02/12/2015) (grifei). PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECEBIMENTO DA AÇÃO. INDÍCIOS DE PRÁTICA DE ATOS ÍMPROBOS. IN DUBIO PRO SOCIETATE . REALINHAMENTO DE VOTO. 1. Na hipótese, a Corte Regional entendeu que os fatos e fundamentos jurídicos não foram devidamente especificados pelo MPF, o que inviabilizaria a ação de improbidade administrativa. Desse modo, a decisão que rejeitou liminarmente a demanda (art. 17, § 6º, da Lei n. 8.429/92) em relação a todos os ora recorridos fora mantida. (...) 5. Nos termos do art. 17, § 8º, da Lei n. 8.429/1992, a ação de improbidade administrativa só deve ser rejeitada de plano se o órgão julgador se convencer da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita, de tal sorte que a presença de indícios da prática de atos ímprobos é suficiente ao recebimento e processamento da ação, uma vez que, nessa fase, impera o princípio do in dubio pro societate. Precedentes: AgRg no REsp 1.382.920/RS, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 5/12/2013, DJe 16/12/2013; AgRg no AREsp 318.511/DF, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 5/9/2013, DJe 17/9/2013. (...) 7. O feito deve ter sua regular instrução, porquanto há indícios de direcionamento do processo licitatório da motoniveladora, de modo que o Tribunal a quo se precipitou ao manter o indeferimento da inicial com base em documentos da CGU, sem que fosse dada oportunidade de processamento e instrução da ação de improbidade em relação à Volvo do Brasil Veículos Ltda., Movesa Máquinas Ltda. e Gilberto Mottin Filho. Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 1 0 de 12 Superior Tribunal de Justiça Agravo regimental parcialmente provido. (AgRg no AREsp 491.041/BA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 18/12/2015) (grifei). Assim, deve ser provido o Recurso Especial do Parquet Federal para que seja recebida a petição inicial. Por tudo isso, dou provimento ao Recurso Especial. É como voto. Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 1 1 de 12 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA Número Registro: 2011/0105856-1 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.260.923 / RS Números Origem: 200671010052260 201001788628 PAUTA: 15/12/2016 JULGADO: 15/12/2016 Relator Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN Presidente da Sessão Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra. SANDRA VERÔNICA CUREAU Secretária Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI AUTUAÇÃO RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RECORRIDO : MAURO GOMES DE MOURA E OUTROS ADVOGADO : RICARDO HANNA BERTELLI E OUTRO(S) - RS057124 ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Atos Administrativos - Improbidade Administrativa CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (Presidente) e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator. Documento: 1565500 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/04/2017 Página 1 2 de 12
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