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Psicologia institucional e comunitária

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2~ 0,~~OS
~ ~
4’ ~ ~
¼~, ~
- V( HISTORICO E FUNDAMENTOS DA
~ PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO ~
- \ BRASIL~
Sílvia Tatiana Maurer Lane
Introdução
Uma revisão da psicologia comunitária no Brasil não
pode sere fora dó contexto econômico e político do
Brasil e da América Latina. Sem dúvida, o ~ niilitar de•
~~~tem muito a ver corno seu~
p~e~I9~Z~-) ye~os~ PQrí24o~ QX-.
trema repressão e violência, quabdo uma reuflião de cinco
pessoas lá era considerada subversão, ele fez com q~ue,i
individualmente, os profissionais de psicologia se questio-~
~dO~~
de qual seria o seu papel na sua ~~~scientiZaçãO e organi
zação.
~quan~
do a~
ensino e a academia, é desenvolvida urna ~fi~~Çtític~
qi~u~ r~cipalmente ç~p~5Ç5 do~
~~fldo que não podem se dar ao luxo de urna un~er~dad~
* Trata-se da 1 parte revista e ampliada de um artigo em co-autoria com Bader
~ enviado para publicação num livro sobre psicologia social comunitá
ria na América Latina, organizado por Sánchez, E. e Wiesen(eld, E., a s~r
publicado na Venezuela.
17
fechada ~ ‘~e~ dé’~iarfim”. Nest~ contexto, os pró- ~ r
fessores dos cursos de f~rmação profissional do psicólogo
q uestio~ U~ric ao mesmo_ten~ü~~flse
dapsicologj~çomodêricia está patente, em~i~aii~ti~L
q,uiat~ia abala os conce~os de doença mer~i~ de~jndo.
o problema para a questão da saúde mentaiep~ uma
possível aç~o~pr~ n~j~ junto à maioria da população -
pobre, oprimida e desatendida pelo Estado.
É nesse períocto também~Q~e surge nos Esjados Unidos
e em vários países da’,~mérica Latina a expressão “psicolQ
gia~unit[l~fe~ndo-se à atuação de profissionais
j~~o a populações carentes, porém a maioria dos trabalhos
dessa época tinham um forte cunho assistencial e manipu
j.~jyo, utilizando técnicas e procedimentos sem a necessá
ria análise crítica — a intenção era boa, porém não os
resultados obtidos.
Fora da~J~si~e médicos e psk~uiat~s prep~çu~
dos com a saúde pública e urna ação prevqn~jva~
década de 70, os centros ~unitários de~ú~~
qü~do~~Abi1~Andery (1981:12), o fazem numa
tentativa de superar os clássicos hospitais psiquiátricos, mas
também, nesse caso, as mudanças foram mais
do que estruturais.
Por outro ladd~Jí~j~cadjd ~60 urge uma preocu
pação com a educação po~l~ com a alfabet~ãode
~“ a~ui~os como~
~
vam diversos~sem
qualquer preocupação em definh e~ecificidade~ em ter
r~o~ de áreas de trabalho — eram_atividades inerentes à
~~vam os~cól~s, nadé
c~&de 70, a desenvolverem atividades em comunidades
~
~
~ ~ 5. ~.
- ~
Assim vamos encontrar, sob o rótulo de ~logi~_
social comunitária, uma prática voltada a:~prevenção da
saúde mental, unindo psicólogos, psiquiatras e assistentes
sociais e!~j~ educação popular com a participação de
pedagogos, psicólogos, sociólogos e assistentes sociais. No
encontro de(~í~s duas linhas se confundem. Também
n~ro~ma questão pouco discutida, mas neces
sária de ser aclarada, foi colocada:”Oqueéumacomuni
dade?” Ela é possível numa s ciedade capitalista baseada
na éia de eti ão? Ou ela é uma uto ia ue se
pr~tepc~tiggir algum dia?
Na nossa revisão utilizaremos dois referenciais: 1) o12
Encontro Regional de Psicologia ~p cQmunjd~de, realizado
em São Paulo em~.&I, com trabalhos reali~ados na déca
da de 70 e 2) o22 Encontro Regional, ocorrido em Belo
Horizonte em 1988, com relatos referentes a trabalhos da
década de 80. Ambos foram organizados pela Associação
Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSQ), tendo por obje
tivos a t~ p~rincia e, principalmente, o de não
cometer os mesmos erros. Em cada encontro foram apre
sentados em torno de 10 relatórios, para uma audiência de
mais de 100 profissionais, como psicólogos, assistentes
sociais, educadores, sociólogos etc. Podemos observar
nestes dois encontros o contraste entre preocupações com
a saúde mental e aqueles com a educação populai~ ambos
com objetivos diferentes.
O encontro de 1981 — À procura de uma compreensão
de uma psicologia social comunitária
O Projeto de Saúde Mental ComunitáHa do Jardim
~D~~ôi apresentado porH!~~o como
proposta que se origina na universidade ~~7,ma visão
do compromisso dela com a sociedadè. A equipe é forma-
~L: -~I 1.1
/c !i~ ~2’
— J
(~j~ 1~i~
~‘~•\
1
.2(:2
19
da por doj~professores de psicologia, uma socióloga e um
administrador que devem orientar alunos estagiários do
curso de psicologia.
O projeto é precedido por uma pesquisa que deverá
dizer o iF~1ccaiTo,elevand°ao aluguel de
uma sede própria em julho de 79, onde são prestados
1serviços como: atendimento psicológico individual e gru
paI, acompanhamen~to do clube de mães e grupo de jovens,
~ e promoção de reuniões da equipe com grupos do bairro
fim de se d~finix programas de ação. sençacons~ant~
(e fixa da e ui e no bairro faz com ue os ru os assem
La procura-la, tendo como referenc~ a casa~d~ sede.
Com o objetivo de atuar a nível da saúde mental, a
~equipe ~~da pppuk~ç~,
)além de questões como ausência de infra-estrutura, baixos
J salários, violência urbana, desgaste físico e psicológicõ, a
~
/ cj Eia er~~ç~_ç~nsidmp e~.~ppj~últJrr~o,
a ausência dè organização popular.
Da prática desenvolvida, o grupo profissional chega à
definição clara de seu objetivo que seria~
~
participação dos indivíduos em grJ1pos~que os levariam a
~ematividades que
visassem mudar o seu cotidiano.
Uma outra experiência é relatada por Pedro de C.
Pontual e Paulo Moldes (1981), realizada pelo centro de
Educação Popular do lnstitutoSedes Sapientiae — SP, cuja
proposta é de int~iy~flçiQ ç~t~c~~a ede prestação de~vio
nas áreas de saúde e~educ~ção, através de duas e ui es
~j~h~is as, psico ogos, sociólogos, assis
t~f~6ï~1s, teólogos, economistas, pedagogos, geógra
fos, engenheiros e arquitetos).
Os princípios básicos que norteiam as duas equipes~’)
são: a importância da org~oiz ãoJ~gf~Jfp~doS trabalhado
res por~J~s~nesrflQS; a importância do contro
dos .nio~m~n ~i~pSi a im~ortância do as.pecto.or~~~f
~e,o
profissional como dinamizador, como animador dos gru- 1
pos, nunca comoui~ tiÇa. É Pontual que afirma: “Nesse~j
sentido, o que identifica qualquer profissional ligado real
mente aos movimentos populares é o seu papel~
embora ele possa dar uma contribuição maior
n~~dëZó’~nhecimento em que ele seformou” (1981:30),
e continua dizendo que, enquanto sicólo
com a dinâmica de grupos_ç~~ncOntroS com uestõe J
metodoogicas e e avaliação, também devem lidar com as
~porem sem fazer
recortes — todos se identifica~ oeucadores popula
res.
Há ainda o relato da atuação da equipe junto à popu
lação visando dèfinir problemas prioritários que levam a
comunidade a_g~stionar-5e o quanto sabe sobre a própria
~
cii~ulgado, leva a um~~~léia_om obj!!!~~edi~Utir_L
oiíPsultad9~. da pesquisa
~ ou seja, creche, posto de saúde e coleta de lixo. A 1
discussão da creche, por sua vez, leva à produção de um
filme super 8 sobre as crianças do bairro, que, quando
exibido, mobiliza a população num movimento reivindica
tório por creche.
Um terceiro rêlato, nesse enc9ntro, referiu-se à utiliza
ção do psicodrarn~p~Ç~~ jçQ com mulheres na periferia,
apresentado por Maria Alice Vas~imon (1981 :39-45). É
colocado como objetivo a educação populaj~ auxiliando “o
grupo a perceber a sual 5jnareaidade, a sua própria
cultura” (Vassimon, 1981:41). O trabalho inicia-se com 60
20 21
mulheres á~ddas emdh3cutir problemas de seu co~djaoQ em
relação a filhos, maridos, casa, família etc., e a equipe
(também interdisciplinar) preocupa-se, durante dois anos,
~em “como tornar o grupo independente, e assumir a
~~própria história e seu próprio caminho” (1981:41).
Este grupo de mulheres ~_p clube de. mães,
aproxima-se da escola, organiza umafeira de arte e trabalha
rio~osto de saude dando curso para gestantes, cada vez
rnáisj~pendentes da eg~jp~ à qual recorrem quando
nec~ssário,necessidade essa que se espaça cada vez mais
ao longo do tempo.
O relato encerra-se com uma reflexão sobre o psico
drama como sendo “uma forma de aproximação extrema
mente saudável, porque não se fica falando, e, para o povo,
falar nem sempre é fácil (...) e para estimular uma libertação,
imprimir a direção a sua própria realidade (o psicodrama)
é muito importante” (1981 :48).
Brühl e Malheiros apresentaram suas reflexões sobre a
psicologia social comunitaria no Nordeste (Paraiba), agora
voltada para uma~Qrmaç~o uniy~~sit~çia a nível de mestra
do em psicologia na comunidade da Universidade Federal
da Paraíba.
Das observações ~ experiências realizadas, os autores
definem dois níveis de atuação: 1) desenvolvimento de
trabalho educacional visando a mobilização e organização
de grupos comunitários pára á busca de soluções de seus
problemas; 2) desenvolvimento de trabalho de assessora
mento a grupos já existentes.
E finalizam afirmando que a atuaçao do psicologo
“deve dar-se no sentido de que a resolução das situações
de crises individuais resulte na superação das contradições
ç~aIs q~ie geraram” (1981:102) atraves de um processo
deconsdentização.
Outras experiências em centros de saúde, em bairros,
com grupos de mulheres, de adolescentes, de teatro, e
outros, foram apresentados, sempre enfatizando o grupo
como condição básica tanto para a ação clínica, como
preventiva e educativa.
O Encontro de 1 981 se encerra como questionamento
se a atua ão do sicólogo se caracteriza por tarefas visando
~
que é específico da
psicologia e dos demais profissionais envolvidos nas mes
mas tarefas? E, qual o papel da universidade?” (1981:987).
O que vemos nesse momento é ainda uma visão do
psicólogo q define pelas técnicas que utiliza e não
~hu
~ na relã ~5~5rn os
outros~n~ç~seje~tode s~
Eainda uma visão fragmentada do indivíduo: aprendiza-l
gem, educação e um processo, terapia é outro, conscienti-~
zação é outro ainda. Parece que o único ponto constantej
é a relação grupal, é no encontro com os outros semelhan
tes que descobrimos a realidade, que descobrimos a mdi
vidualidade e a sociedade. As diferentes idéias são discu
tidas em torno de técnicas ao invés de considerarem a)
natureza do psiquismo humano e a natureza do indivídu~≤
que interage com outros.
Encontro de 1988: À procura da sistematização
No Encontro Mineiro de PsicoJogia Comunitária de
1988, os relatores procuraram definir~
da prática psicológica em comunidade, e grande ênfase é
dada às técnicas dedin~mi.ca de s°-’~o. como se pode
observar nos relatos de Elizabeth Bomfim (1988:200). É a
)
22 23
partir do conhecimento dos grupos e da institii1ç~~e
(~\~se c egaa or~anizaçao popu~j~- é a experiência que ela
e Manha N. da Mata Machado relatam sobre a favela de
Vila Acaba Mundo em Belo Horizonte. As atividades de
senvolvidas, além de propiciar o treinamento de estudantes
de psicologia, treinam os moradores em técnicas de auto-
organização, através de recursos que vão desde um vídeo
sobre a favela, de ir)formações sobre direitos que a comu
nidade tem para ir em busca de soluções, até uma prática
grupal — espaço de palavra livre —visando a auto-organiza
~A~ã~inicE
termos de análise e terapia da autodepreciação visando o
erguimento da auto-estima.
É ainda na Vila Acaba Mundo que Alayde M. Caifa de
Arantes (1 988:150) relata sua experiência com grupos de
adolescentes, onde “não se fala em psicólogos” mas se
trabalha em artesanato, visando, através do desenvolvimen
to grupal, a compreensão das relações sociais e das regras
necessárias para uma melhor convivência.
Elizabeth Bomfim sihtetiza o trabalho de seu grupo
afirmando a existência de úma relação estreita entre saúde
cabendo ao psicologo atuar no senti
do de que “as condições e modos de~~~vid~ precis~ ser
domi na~ sara ue h ája auton2rni~de_si4ei.to_p~ara exer
cêsuas~~JI88:202).
O trabalho apresentado por Angela Caniato é uma
avaliação da experiência realizada pela Universidade de
Maringá em uma comunidade atendida por posto de saú
de, e conclui que “o psicólogo esbarra nos lirnites~riços
e técnicos de sua forrnaç~o nayniy~rsidade, q~e~flãp,, lhe
permite responder às demandas de atendimento psicosso
cialmente colocadas pelas~
estõ~tõ~dtT~~TT80). E continua afirmando
que “o ~i~ãd~ desaparece sob o indivíduo doente que
procura o psicólogo para se tratar” (1988:181). Daí a
necessidade de se resgatar a individualidade e a subjetivi
dade-competência do psicólogo.
Por fim, William C.C. Pereir~ faz uma anáiise do indivi
dualismo como produto da modernidade, e, analisando o
filme “A classe operária vai ao paraíso”, conclui que a
grande vítima, mais do que o corpo do indivíduo, é a
subjetividade negada por um poder arbitrário.
Resgata ~ questão do poder que permeia as relações
sociais, apontando para a necessidade de se diferenciar
“poder~trabalho-s~~yiÇO” de “poder~dominaÇãO-aUtOritariS
mo”, o primeiro sendo um jogo de mútJ~infíiiências e o
segundo apenas um fetiche.
Concluindo o relato deste Encontro, podemos observar
~que seja uma a~ç~o~p
psicólogo em comunidades cabendo a ele desenvolver
\grupos ue se tornem conscientes e a tos a exercer um
\autocontro e e situa oes e vi a atraveS e ativi a es
(~cooperatlvas e or nizadas. Para tanto, o entendimento de
~es e poder que se constituem no cotidiano é de
grande importância para a compreei~são tanto da violência
arbit~ária quanto de uma~
ra.Por outro lado, o resgate da subjetividade que implica
na compreensão das representações do mundo em que
vive até às emoções e afetos que definem a sua individua
lidade única.
Além destes trabalhos apresentados nos Encontros, vá
rias universidades têm criado o que chamam de “serviço
~ te rar alunos e professore~~EíI~E
~
enesta linha a participação de psicólogos em trabalhos
connitários tem sido bastante significativa.
À guisa de exemplo gostaríamos de relatar o trabalho
desenvolvido na Universidade M~todista de Piracicaba —
24 25
SP..(i,,~NiM,~P), onde o serviço de extensão se origina pela
atu~~equipe~de psicólogos sociais liderada por Lucila
Reboredo, junto à população favelada da cidade, levando-a
a se constituir~
rn~lhorar sua condição de vida, chegando a um~pjçj~_to~de—
~
•~.unà~es~jçfade. E um trabalho q~1~i~T~fado e analisado por
Reboredo em sua tese de doutorado, o qual já se estende
por vários anos e se amplia para outras atividades, garantida
pela institucionalização do setor de extensão universitária
integrada ao ensino e à pesquisa.
Trabalhos comunitários na zona rural
Acreditamos ser importante ainda uma menção aos
trabalhos comunitários desenvolvidos na~~~j~al, prova
velmente os primeiros a falarem em comunidade, contando
com a participação de cientistas sociais, e que se estendeu
de forma semelhante Ipor vários países da América Latina.
Na década de 40 encontramos os chamados centros
sociais que derai~igem aos atuais centros comunitários.
Esses contavam com o apoio da igreja Católica, de assisten
tes sociais e órgãos governamentais, criando equipes itine
rantes interdisciplinares (médicos, agrônomos, assistentes
sociais e outros) que procuravam organizar grupos locais
que dessem continuidade aos trabalhos propostos — basi
camente educativos. Porém estes em pouco tempo se
desfaziam.
~‘——~>- Após a II Guerra Mundial a ONU desenvolve um
—.
programa de Desenvolvimento de comunidades que no
~do~Estadp5 Ynidos,~visan
~dpsist~ma c~pit~JJs~a. Em 1951 são
definidos os objetivos destes centros, entre eles, o de:
• “constituir-se uma organização democrática obedecendo
ao propósito de fomentar a solidariedade comunal, dispon
do, para tal fim, de um local onde possam se reunir, em pé
de igualdade, os residentes de um mesmo setor, para
participar de atividades sociais, recreativas e educativas”
(Apud Amman, 1985:38).As atividades desenvolvidas nestes centros se caracte1~
rizavam por serem ~ríticas e aclass[stas”, procurandoJ
através da ação comunitária desenvolver os indivíduos e,
conseqüentemente, a sociedade. O combate ao analfabe:
foi a primeira meta, seguida do ensino det~cnologias
aE~coIas, e, numa segunda etapa, criam-se instituiçoes que
visam uma maior integração social.
Em um seminário realizadoem 1960 foram estabeleci
dos rincí ios básicos para o desenvolvimento comunitá
~ií.que implicavam na aju a e cientistas sociais orien
tados pela perspectiva positivista de sociedade que levava
a uma postura essencialmentej~aternalista~mas cõm um
discurso desenvolvimentista. Trata~ã dearmonizar, atra
vés da participação de todos, os conflitos existentes, acre
ditando “que a igualdade social poderia~2~aL~autorna-
ticamente das estruturas econômicas sociais e políticas do
capitalismo n~o c~p~oiista” (Fernandes, F., “Prefácio” in Am
man, 1985:43).
Um destes centros comunitários foi estudado por Patri
cia Maria G.C. Mortara para a sua dissertação de mestrado,
defendida em setembro de 1989. Através de entrevistas
abertas e de análise das representações sociais de morado
res de um bairro da cidade de Amparo no interior do Estado
de São Paulo, Mortara estuda a consciência social de
participantes de atividades do centro comunitário que
congrega grande. parte dos moradores do bairro.
O centro comunitário foi criado er~j2~.,por fazendei
ros e lideranças locais (que o sustentam até hoje), visando
atuar na saúde preventiva e~
26 27
e informal, tendo por finalidade “promover o homem,
integrando-o no meio em que vive” (Mortara, 1989:72).
Atualmente, o centro desenvolve atividades tais como:
grupos de mães e jovens, atividades educativas desde
pré-escola até a integração escola-comunidade, serviços
ambul~toriais médicos e dentários, atendimento psicológi
co, cursos profissionalizantes e recreações sociais.
--~> Cabe observar que aqui o psicólo o é o rofissional
cj~jc~g~~tende paçi~ntes~ uer
participação mais ativa nas relações comunitárias, apenas
faz parte de uma equipe que presta serviços à população.
Ao analisar as representações de moradores participan
tes de atividades do centro, Mortara mostra com clareza
que os homens antes colonos, ora assaiariados, mantêm
uma relação afiliativa com os patrões que “são bons e não
pagam melhores salários porque não pódem”,a èulpa ~ciQ
governo~.. As mulheres cuidam dos afazeres domésticos e
dos filhos quando casadas, ou trabalham em atividades
femininas procurando sempre que possível ajudar os ou
tros. “A união entre os moradores do bairro é exaltada em
contraposição a outros locais” (Mortara, 1 989:1 62-1 63).
Em suma, este estudo mostra co’~i clareza a~xi~.tiada....
de trabalhos comunitários que, por sua origem paternalista
e ob~etivos assistenciais, levam a manu ençao e consciên
çj~fra~pentadas pelo i ealismo e individualism~ e, de
fatQ,imp.ediiado—qu.alq uer~~avanço~tantoaç4e-eemcrrra~
cQnsdência__~
Não podemos deixar de mencionar quealguns anos
antes (fins da década de4O e início de~.. em Minas
Gerais, uma psicóloga, ~ A~j~fLdefendia o princí
pio da educação~
aigp~colj~1i~iate_l~’LaJazendado Rosário ei a
criou um centro educacional onde qualqF6Fiança —
deficiente, abandonada, pobre ou rica, branca ou preta -
tinha seu lugar garantido. Criou, t~mbém, a Associ~~2J
Comunitária do Rosário, na qual psicóloga, e~F~ e
~em conjunto pela m~ia~s
~~condições de vida da população e poi sua autonomi~. Toda
esta história, tão brasileira nos seus contrastes, foi pesqui-~
sada por Regina Helena de F. Campos em sua tese deI
doutorado, e continua a ser pesquisada por seus alunos
(Campos, 1990). Os resultados destes trabalhos podem ser
vistosno museu dedicado a Helena Antipoff, na Secretaria 1
da Educação de Minas Gerais.
Se o estudo de Mortara caracteriza a maioria dos~
centros comunitários na zona rural, existem exceções onde 1
se procura desenvolver uma psidologia social comunitária
visando a organizaçao da o ulaçao para açoes com auto
~o~9~j~VJ3~
dos~
É o caso de trabalhos desenvolvidos no Estado dol
Ceará, a partir do serviço de extensão da Universidade1
Federal deste Estado, sob a coordenação do professor e
psicólogo Cézar Wagner de Lima Góis. São trabalhos pu-~
blicados*, que conhecemos em recente visita ao Ceará por
ocasião da 41 ~ Reunião Anual da SQçiedade Brasileira para~
o Progresso da Ciência. Portanto estaremos apresentandol
o relato oral do professor Wagner Góis e a visita que~
fizemos, em sua companhia, a uma aldeia de pescadores~
onde um grupo de psicólogos e edycadores atuam.
Um dos trabalhos relatados oco~ria junto a uma comu~
nidade agrícola-extrativa no “agreste” que se achava em sua~
fase final, ou seja, a retirad~ç1aeqLiipe universitária do local)
dado o desenvolvimento e autonomia orgar~zativa da po~
~\
28
29
* Em janeiro de 1990, a Revista Psicologia e Sociedade da ABRAPSO pubiicou q
primeiro trabalho relatado: “Pedra Branca: uma contribuição comunitária’~.
Ano V, n~ 8, novembro de 89 a março de 90, p. 95-1 18.
,~ pulação. Era um trabalho de alguns anos de ~ç~__,
~reque
- rida que atingia o seu objetivo: a consciência da~i~~ia
a~
p~jyéissokiç~es. Nesta fase fina, a a a equipe ao
município era esporádica, havendo mais uma intenção de
“reforço” do que de assessoria, para garantir um sentimento
de segurança e ao mesmo tempo algo como “se.precisarem
de nós, estamos aqui”.
A outra comunidade, na qual assistimos a um~reu.nião
aberta, era uma aldeia de pescaçiQres que estavam sendo
expulsos por industriais explorando o pescado em larga
escala, impedindo direta e indiretamente a sobrevivência
alimentar e econômica dos pescadores e suas famílias. A
reunião visava discutir..os dir lados e como agir para
defend~-Ios. As sugestões variaram desde a resistência
armada até o apelo às instituições governamentais, e as
estratégias propostas consideravam os mais diferentes ân
gulos, até chegarem à decisão de recorrer às instituições
legais, porém com a mobilização dos meios de comunica
ção de massa e sem deixar a vila desprotegida. A reunião
terminou com a designação de quem faria o quê. Pudemos
notar que a equipe da universidade, apesar de bastante
entrosada e querida pelos moradores do local, apenas
assistia à discussão, cbordenada por um deles, e só partici
pava quando solicitada para algum esclarecimento. Nota
mos a confiança no poder de decj~ç~~yp~-side--—
urna autonomia ernconstruçao.
Em busca de uma sistematização teórico-prática
Certamente não demos conta com estes relatos de
todas as experiências em psicologia social comunitária que
vêm ocorrendo no Brasil, porém acreditamos que eles
sejam significativos em termos de representatividade das
grandes questões teóricas e práticas que a caracterizam
hoje ém nosso país.
A partir desta revisão nos compete ainda uma sistema
tização teórico-prática, dentro dos. pressupostos que vêm
3rientando nossos trabalhos nestes últimos anos.
As diversas experiências comunitárias vêm apontando
para a importânda doí rupo orno condjç~o, por um lado,
para o conhecimento c~ re~l~d~dj comum, para a auto-rue
flexão e, por outro, para a ação conunta e or anizada. Em
outros termos, estamos fa ando da consciência e daativi
dade — categorias fundamentais do psiquismo humano, que
sistematizam muito do que se sabe sobre comportamento,
apréndizagem e cognição. Quando se procura resgatar a
esta implica necessariamente em dnti~dadç,
categoria que leva ao conhecimento da singularidade do
indivíduo que se exprime em termos afetivos, motivacio
nais, através das relações com os outros — ou seja, na vida
grupal.
A análise das três categorias fundamentais —atividade,
consciência e identidade — só se faz pelo registro de media
ões com a linguagem (e o pensamento), ferramenta essencial para as re açoes com os outros e que irá constituir os
conteúdos da consciência. E são também estas relações
sociais que se desenvolvem através de atividades que, por sua
vez, sofrem a mediação das emoções individuais, possivel
mente constituindo conteúdos inconscientes presentes tanto
na consciência como na atividade e na identidade.
Sintetizando, o psicólogo na comunidade trabalha fun
damentalmente com a_1in~pge ~e~presta ~~om f
r~ ~gcupa iac. essend ai en tre o ind ivíd uo ea
~da( -~
s~ tividaderparaexercer ~ nível da consciência,
~
dJ~iyçjiy~sda.d~ira comunida~de.,
A 1
30 31
E é Góis (1990:117) quem melhor define esta prática:
“Fazer psicologia comunitária é estudar as condições (in
ternas e externas) ao homem que o impedem de ser sujeito
e as condições que o fazem sujeito numa comunidade, ao
mesmo tempo que, no ato de compreender, trabalhar com
esse homem a partir dessas condições, na constru~o~..de
sua personalidade, de sua individualidade crítica, da cons
ciência de si (identidade) e de uma nova realidade social”.
Acreditamos que estes aspectos teóricos estão concre
tizados na pesquisa de Bader B. Sawaia, onde, através de
sua participação junto a mulheres de uma favela, analisa o
movimento de consciência imbricada nas atividades desèn
volvidas por elas ao longo de quatro anos. Sawaia demons
tra a importância metodológica da esquisa participan~7
como recurso científico, distinto da mi itanc!a, r5~ém sem
negar os cQmpromissos social e~polítiç~necessariamente,
envolvidos neste processo (Sawaia, 1 987).
Quando decidimos delinear nova visão histórica da psi
cologia comunitária no Brasil, pudemos observar que os
grupos, seja como recurso da pesquisa participante, seja
como referência teórica, são os espaços privilegiados para
uma análise teórico-prática dós avanços das consciências
individuais envolvidas no processo.
É no contexto gru ai ue nos identificamos com o
e
assim construímos~•sendo o grupo
condição para a sua~
Porém, é~
~
~cano~r&d~fjp}la. Há o poder do ‘i~Q,rnj~!a,~,!e” - aquele
que entende de tudo, e assim, impõe o seu pensamento
aos demais, como uma verdade absoluta. Neste jogo, o
participante “e~j~ssior~j~a” se sente perdido pois~~~Jo
outro) é es~d3c{o~, “ele sabe falar bem”, e “precisamos de
um líder”. E a conclusão acaba sendo: “deixa ele decidir...”
Desta forma cristalizamos a nossa identidade, nos subme
tendo a um poder autoritário e espúrio, esquecendo que
em um grupo, por princípio, somos todos iguais em direitbs
e deveres.
ABRAPSO. Anais do 1 Encontro de Psicologia na Comunicação,
São Paulo, 1981.
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comunidade, São Paulo, 1981, BaderBurihan Sawaia
Comunidade é conceito ausente na história das idéias
psicológicas. Aparece como referencial analítico apenas
nos anos 70, quando um ramo da psicologia social se
autoqualificou de comunitária. Assim fazendo, definiu in
tencionalidades e destinatários para apresentar-se como
ciência comprometida com a realidade estudada, especial
mente com os excluídos da cidadania.
A descoberta da comunidade não foi um processo
específico da psicologia social. Fez parte de um movimento
mais amplo de avaliação crítica do papel social das ciências
e, por conseguinte, do paradigma da neutralidade científi
ca, desencadeado nos anos 60 e culminado nas décadas
de 70 e 80, quando o conceito de comunidade invadiu,
literalmente, o discurso das ciências humanas e sociais,
especialmente as práticas na área da saúde mental.
Não há dúvidas de que a introdução deste conceito no
corpo teórico da psicologia social constituiu um aspecto
epistemológico importante, na medida que representou a
opção por uma teoria crítica que interpreta o mundo com
a intenção de transformá-lo (Heiler, 1984:289). Entretanto,
34 35
Nesta tarefa corresponde ao psicólogo avaliar os preconceitQse.aS
resi~tências, os medos à mudanç~, o estudo da mensagem em função dos
.result~dos que de~eja obt~, selecionar as pessQas a quem deve se ‘diHgir
de preferência: a comunidade total, profissionais, pessoas-chaves d~ co
munidade (professores, religiosos, policiais. juízes, presidentes de clu
bes, etc.). A forma de chegar ao pøblico ~ também um item que deve. -
ser cúidadosarnente considerado: contatos pessoais, imprensa, televisão,
etc. .
Devem-se ter também em conta as distorç&s e perigos que pode . -
originar uma. educaç~o ou uma propaganda sanitéria mal proc~ssada; ‘~ . .
entre eles, promover atitudes paranóides ou hipocondríacas na popu- . . . . .
laç~o. .~ . . . . . . PL~cOlogla institucloflal~’
~m continuaÇ~O ~e um seminári~ para graduados sobre higiene me~
,~‘ . . t~~proferido no ano de 1962 no Departamento de Psicologia da c~lai~de Filosofia e Letrasda Universidade de Bueno~ Aires, realizou-sQ em 1964
— também sob minha direç~o — ôutro sob o mesmo tema, ma~ que já s~
centrou totalmente ~na psicologia institucional; é .deste último due aqui s~
‘dá um resumo, O nexo entre ambos os temas é muito evidente e resi
de na perspectiva e nos delineaméritOs dentro dos qiJais desejamos ve~
se desenvolver’ a~ psicologia e a profiss~o do psicólogo; Esta própria pi~
bli~a~o~ contÍnua este propósito func~amental de criar inquiataÇ~O, e~
pecialmente nas novas promoÇ&S dê psicólogos atraindo a atenc~
dbs mesmos para ~nfoques menos~-lri~n~tadOs — ou mais amplos — qu
permitam sua melhor situação social um cumprimento mais eficaz
~
/ \ .~/ ‘
A’ posiç~O geral sustentada pode se resumir nas seguintes propos~- -~
ções, já dadas a conhecer anteriormente em outra publicaç~O~~O psicó- / ~-
logà corno profissional deve passar da atividade psicoterápica (doente e (
cura) à da psico higiene (população sadiaepromoÇ~Ode saude) ~5pa~a
.~~1 -. ~ ~— ~ ~.z~~‘ ~ ~ -‘~~\, ‘isso, impõ~ i~&~sagem dos enfoques individuais aos sociai~. O enf~
.1’) L_~ / , . qije social é duplo: por um lado, compreende bs modelos’ ~onceituais re~fl . j~ectivos e, por outra parte, a .amçiliaç~odo âmbito em que se4rabalh~L
-1 ~~cC•- VU. ~_e ~Para conseguir tudo isto é necessário o desenvolvirr~fltO de novos in~
- ~rumentos de trabalho: conhecimentOse técnicas que possam fazer viév~l
L ~~ a tarefa e frútiferos os princípios. Mas, por outra parte, estes inst.rument4s
~~ ,
só podem ser~paulatir~aménte a tarefa, porque
só nesta experiência viva podem ir-se gestando.
PsicoIogi~ institucional — tal como a entendo aqui — é um capítulo
recente no desenvolvimento da psicologia e ninguém pode, na atualidade,
ostentar nem se apoiar em uma vasta experiência. Tampouco posso eu; a
minha experiência pessoal direta é até agora limitada e inclui fundamental
e quase unicámente QJ~aJ ISITS ho~jaJareseeducacjL3nais; em outras ins
tituições minha’particjpaç~o foi, com grande freqüência, indireta, at’r~vés
da supervisão do trabalho de psicólogos. A necessidade de promover nbvas
inquietações e de orientar precocemente e adequadamente a situaç~o
profissional correta do psicólogo faz com que agora comunique esta
experiência e conhecimentos sobre o tema, tal como — em grande parte —
foram desenvolvidos e elaborados nos sem inários a que fiz reJ~erência e nos
quai~ contei com a colaboração inestimável de um grupo de~jpjprj~adosna
~~
~
damentais em que nos baseamos encontram-se as contribuiçoes de ~nrIque
~Elliot~~,~.para quem devemos deixar certeza’d~ r~~a
gratidão pela obra realizada neste sentido, O Dr. Enrique J. Pichon.’Riviêre
tem sido, também neste campo, um eficaz promotor de inquietações tal,
como o tem sido sempre em nosso país na totalidade da psicologia, da
psicanálise e da psiquiatria.
Até agora, sublinhei a psicologia institucional em relaçgo com o
psicólogo enquanto prOfissional e isto pode levar ao erro de supor que
estamos falando de uma •atividade~ subalterna, de uma “parte prática”,’
de aplicação da psicologia, enquanto que a “verdadeira” ciência psicoló
gica e a investigação psicológica’acham~se em outro lado. Tais presunções’
derivam de uma concepção abstrata e irreal dá tiência. A psicologia inst~
~ucional’se insere tanto na história das necessicJ~des sacia como aj~,
tória da psicologia e, dentro desta última, n~os~ trata só de um campo de
aplicaçao da psico ogia, mas, sim, fundaménta mente de um cam o de
~nêo há possibilidade e nen urna tarefá profissional correta
~em psico ia se n~o é, ao mesmo tempo, uma Investi~aç~o do quê es~té
~ocorrendo e do que está se fazen o. pra ica nêo é uma derivaç& subal-.
~ou centro, vital; e yes~~ia~~o
~~~ciências e atividades profissionais, tais como a medicina; nela, a ciência e a
investigaç~o est~o nos laboratórios, enquanto que a prática constitui a fun
ç~5o dôs médicos, que devérr~ aplicar as conseqüências de dita investigaçõo.
Este’ é um esqúema’ãlienãnte e de efeitos oú resultados altamente perni
ciosos; para ás médicos, os doentes, a soóiedade e a ciência, O éxperimen
to e o laboratório devem constituir um momento do processo total da in
vestigaç~o, que.é insépar~vel da própria prática, tanto como esta última
transforma-se, sem investigaç~o concomitante, em um empirismo gros
seiro.
.Cbm tudo isso quero assinalar claramente que a~
,~~‘‘l n~o é Um ramO da psicologia aplicada’, mas sim um c~ç~~’-’
~que pode significar em si mesmo um avanço extraordinário tanto
na investigaç~ío’corno no desenvolvimento’da psicologia como profiss~o.
Para di~ê-lo de outra maneira, penso que nêo se pode ser psicólogo se n~o
se é, ao mesmo tempo, um investigador dos fenômenos que se querem
modificar e nêo ,sê pode ser investigador se nêo se extraem os problemas
da própria prática’e da realidade social que se está vivendo em um dado
momento, ainda que transitoriamente e ‘por razões metodoló~ji~as da
~~investigaç~o isolem-se momentos do processo total.2 -
Pode-se dizer que a psicologia desenvolvê-se ~anli~ndo terreno da abs
traç~o e se, afirmando grad~,L~rggrossivamenfé no terreno do concreto;
‘desde uma psicologia inurr~ana do ~omem ~át’é uma psicologia que capte o
especificamente humano. Brevemente,, p demos expor as seguintes etapas:
a) Estudo de partes abstratas e abstraídas do, ser humano.’(atenç~o,
rr~emória, juízo, etc.);
~Estudo’do ser~humano como totalidade,, mas abstraído do contex
j~o soci~l’ (sistemas mecanicistas, energetistas,organicistas, etc.);
c) Estudo do ser ti~~m.ar~ como ~dad~j~a’õe~concretase
em seus vínculos interpessoais <presentes e passados). A partir deste’~ei
ro ~nfoque conceitual e metodológico,’ o desenvolvimento cumpriu-se,
ampliando os âmbitbs em forma progressiva:
a) âmbito psicossocial (indivíduos);
b) âmbito sócio-dinâmico (grupos); ,
1.— Toda a assim chamada psicologia aplicada tem em si uma alienaçêo como vício.
2 A~k~istoi’ç~o’aparece enquanto ditos momentos sao assumidos por pessoas distin
tas que se mantem isoladas entre si e enquanto se perde o caráter técnico que tem o
isolamento na investigaç& e se desemboca em uma perda ou carência da vis~o global
e da inte,’aç~o do processo. ‘
32
33
Figura 1
Âmbito da psicologia: a) psicossocial; b) sócio-dinâmico; -
c) Institucional; dl’ comunitário. As setas s~o explicadas
no texto.
o) âmbito institucional (instituições);
dl âmbito comunitário (comunidades).
Convém esclarecer e n~o s~o sinônimos e que, portanto, n~o coin
cidem sico ogia individu 1~bito ~ ocial tanto corno tampouco
boin’ci psicologia soci~!. com âmbito sócio-dinâmico; a diferença’entre
‘~ psicologia individual e~~jal n~o reside no âmbito particular que abarcam
ao Ôutra, mas c it
por exemp~o — com um modelo da psicologia individual, tanto’cqrn9.se
pode estudar o indivíduo (~mbito psicossocial) com um moãelo da psico
‘logla social Por isso eu dizia anteriormen4 que se impõe uma passagem
dos enfoques individuais aos sociais no d’uplo’sentido de reforma dos mo
delos cónceituais e ampliáçâ’o do ã’mbito de trabalho. A psicologia institu
cional requer e implica ambas as coisas.
Enquanto flmpliaç~o~ de âmbitos, o desenvolvimento da ~4icO!Ogia
seguiu o curso do sentido’•A (na figura 1), rnas.esta direç~o coincidiu, em
certa medida, com úma extensão dos modelos da psicologia individual a
todos os outros âmbitos. À medida que vamq~ ábarcando, na prática, no-
34
vos âmbitos e se es~ruturam novos modelos c~nceituais adequados, impõef
se o’ sentido 8 (da mesma figura); ~uer dizer, dévemos retomar o estud~
das instituições com modelos da psicologia da comunidade, o estudo d~
grupos com modelos da psicologia institucional e da comúnidade, e o estu~
do de indivíduos com os modelos da psicologia de grupos, comunidades e
lnstituições. Fíca, neste sentido, evidentemente, um~’~nde tarefa p~
realizar no desenvolvímento da psicologia. A rigor estè desenvolvimento
ape~as começou e é muito récente~ 4)
Quando falo de modelos da p~icologia individual, refiro-me~aofat~
de que os mesmos~por partir do
duo is&ado para explicar as agrupações hurnanás e aplicam aestasúIt~imj~
~s catègorias observ4v?~ e conceltuals qye correspondem ou seutilizaran’~
~ara o indivíduo isola~ (organismo; homeostase; libido, etc.) e, dest~
\ maneira, explicam-se,os grupàs, as instituições e a. comunidade, pela~) ‘características do indivíduo. Quando me refiro aos modelos da psicó~
\ logia social tenho em conta o fatô de utilizar categorias adequadas ao
caráter dos fenômenos;das agrup~ões humanas (com’unicaç~o, interaç~o~
\identificaçâo, etc.) que, em grande parte, têm que ser ainda descobertos
~riados.
O estudo das instituições abarca três capítulõs fundamentais em
estreita relaç~d e interdependência, mas que podem ser caracterizados d~
seguinte formá:
/‘. a) Estudo da estrutura’e dinâmica das instituições;
b) EstUdo da psicologia das instituições;
c) Estrátégia do trabalho em psicologia institucional.
Aqui n~o estudaremos a instituição em si mesma, quer dizer, sua es~
‘frtjtura e sua dinâmica e sim fundamentalmente a estratég6~’geral do ps~
cólogo r~o trabalho institucional; ainda que resenhemos brevemente ~
‘capítul9’ da psicologia das instituições, tampouco nos ocuparemos aqu~i
dos instrumentos específicos (as técnicas) para trabalhar em psicologia in~
titucion’al. - ‘ . ‘ ‘
Da ~nalis~ realizada em nossos s~min~rtos surgiu como o mais fun
damental ou urgem~1e neste momer~p o es~Udo do que chamamos de
—~s~~
3 L” o que a psicologia clássica considera como o’pontn de partida da psicoiogI~.
quer dizer o conhecimento do individuo, n~o pode se achar senro precisamente a~
finaL..” (POLITZERI
~ ~
~ ~ -~ 2Í~’~tL ~LQ’
~ s r ~- i j i )
~~
o
3
r~7~i~)
de. certasconstantes dentro das quais podem-se controlar as. variáveis do
fenômeno, pelo menos em certa medida. Dentro destas~~~nte que de
vem ser dadas pelo enquadramento, duas deles têm uma importância rele
vante, a saber:.) ~J a relaç~o do psicólogo com a instituiç~o na contratação, progra
~ maç~o e .realizaç~o do trabalho profissional;
os critérios que sustentam dita relação.
O c~njunto.detodos estes fatores constitui a estratégia do trabalho
tanto como stiíteoria no campo da psicologiá institucional.
Este enfoque é o mais conveniente e o que mais corresponde utilizar
ao se tratar de profissionais psicólogos, como no caso dos seminários
realizados, dado que eles já pôssuem os instrumentos ou técnicas para tra
balhar tanto no âmbito psicossocialçomo no sócio-dinâmico, institucional
e da comunid~de (entrevistas, pesquisas, técnicas grupais, etc.); .bnquanto
que o que faz falta é o: limite dentro do qual ditastécnicas ygo ~er empre
gadas, quer dizer, a forma como se devem.adm!n!strar os conhecimentos
e técnicas. Este esclarecimento se faz necessário em função de que é pos
sível que para outros profissionais que tentam abarcar oú realizar tarefas
no âmbito, institucional pode ser necessário ou imprescindível outro tipo
de aproximação aó problema, distinto do aqui utilizado.
O fundamental do exposto até agora pode ser sintetizado da seguinte
maneira:
PSICOLOGIA INSTITUCIONAL
( A) Um êmLiitb especial, quér dizer, por um segmento da ex-
1 — Caracteriza-se ‘ tóns5o dos fenômenos
por B) Um modelo cQnceltua! pertencente à psicdlogia social
A) Estrutura e dinâmica das instituiçôes
B) Psicologia das histlt~iiçãe~
[‘. a)Fi~açêo,de
• constantes
2— Compreende o . 1 -1~ Enquadramento. ç:
estudo de- C) Estrar~g!á~ da t~refa. , ;-. b)Acimínittr’
~ iotralaIIio~ ‘~ [.:‘ da. conhec.
do psicólogo t4cnicas
2. Teoria do enquadramento
(3& . .~
1
O que é a psicologia institucional
Como já vimos, a psicologia-institucional caracteriza-se pelo âmbito
(as instituições) e por seus modelos conceituais; dentro de sua estratégia
inclui-se, como parte fundamental, o enaúad~ nto dã tqrej~,.c a admi
nist’r~ç~o dos recursos.
O âmbito, que compreende a extensao ou amplitude particular em
que os fenômenos 5g0 abarcados para seu estudo ou para a atividade pro
fissional, é, na psicologia institucional — por certo — a instituição Este
último termo tem diversos sentidos quê requerem ser, aqui, superficial-
mente examinados. Em seu Dicionário de sociologia, Fairchild inclui duas ——
acepções: 1 — “Configuração de conduta duradoura, completa, integrada
e õr~ànizada, mediante a qual se exerce o controle social e por méio da
c~iiãlse:satisfazem os desejos ‘e necessidades sociais fundamentais”; 2 —
“Ôi~iizaç~o de caráter público ou semipúblico que supõe um grupo d~
retório ê, comumente, um edifício ou estabelecimento físico de alguma
índole, destinada á servir a algum fim socialmente reconhecido e autori
zado. A esta categoria correspondem unidades tais como os asilos, univer
sidádes, orfanatos, hospitais, etc”. Em nossa definiç~o de psicologia ins
titucional, compreende-se a instituiç~o no segundo dos sentidos dados por
Fairchild e, dentro déste, inclui-se o estudo dos fator~s caracterizados na
primeira das acepções. P 212i.a.nsl±tlcional •abarca,en,t~o, QeQflJ!J.taO/
d~jjimQs de existénçia física concrët~, qu,gj,~jp um ‘certo çrawdLp~r-~ (
~~riê~c~ia em_j ao rifico-—a6~de--nidu- 1
mana; para estudar nél~ todos os fenômenos hurna~os gue~d~o em r~a-) 1
ç~’~om a estrUtura, a- dinân’Íica, funções e Objétivos da institui ~o. Com
es e iniçêo, quero su inhar que à psicologia institucional n~o corres- —
~ondém, por êxernplb, as leis enquanto instituiçaes e sim os organismos
em que concretamente se aplicam ou funcionam (trib~inãis, prisões, etc.) <~
ditas leis em sua forma específíca Em algúmas ocasiões, d~o-se certas ‘~
discrepâncias eht~e um e outro sentido, corno é o caso, por exemplo, da
família, que é uma instituiç~õ sociai, mas que, para o psicólogo, é ufti~gru
po enquanto organizaç~o concreta que enfrenta em sua tarefa profission~í.”
Da mesma forma, a religião é também uma instituiç~o social, mas a reli
gi~o de um grupo familiar n~o é uma instituiç~o; para a religião, as.insti
tuições que interessam à psicologia institucional s~o as de seus organismós
específicos (igreja, paróquia, etc.).
• Burgess (citàdo por Yung) menciona quatro tipos principais de ins
tituições: • •
~ ~vS~~
fll J) E • /
7/ ~1 ~
.1
a) instituições culturais básic~s (família, igreja, escola);
b) instituições comerciais (empresas comerciais e econômicas,
uniõe~de trabalhadores, empresas do Estado);
c) instituições recreativas (clubes atléticos e artísticos, parques, cam
pos de jogos, teatros, cinemas, salões de baile);
d) instituições de controle social formal (agências de serviçOs5ociaiS-~..
e governamentais).
A elas, Young acrescenta:
e) instituições sanitárias (hospitais, clínicas, campos e lugares para
convalescentes, que possam incluir-se ou não no grupo de agências de ser
viço social);
f) instituições de comunicação (agências de transporte, serviço pos
tal, telefones, jornais, revistas, rádios).
Incluo está blassificação a título mais bem ilustrativO da ampliti.~de
do trabalho profissional em psicologia institucional, mas, para nosso qbje
tivo presente, não se faz de maneira alguma imprescindível uma classif!c~
ção exaustiva ou rigorosa das instituições.
Dada uma institulç~O o psicologo centra sua atenção na ~tiv!r1ade
 humana em que ela tem lugar e no efeito da mesma, para aqueles qu~nela
desenvolvem dita atividade. Para is~b, impõe-se um mínimo de informa~ão
sobre a própria instituição que, por exemplo, inclui:
a) finalidade ou objetivq da instituição;
b) instalações e procedimentos câm as quais se satisfaz seu obje
tivo;
c)situação geográfica e relações com a comunidade;
d) relações com outras instituições;
e) origem e formaç~O;
f) evolução, história, crescimento, mudanças, flutuações; suas tra
a) toda tarefa deve ser empreendida e compreendida em função da
unidade e totalidade da instituiçãct;
b) o psicólogo deve considerar, muito particular~nente, a diferença
entre psicologia institucional e o trabalho psicológico em uma institui’
ção. *
• Em psicologia institucional, interessa-nos a instituição como tota1
~ l!~ jodemos_B0s~~Pa! de urna parte ~la, mas sempre em un~ao
1 t~ik1~e. Para isto, o psicólogo deduz sua tarefa de seu próprio estudo
-~ 1 ~ ‘) diagnóstico, ~~iferentementç do jsicólogQ que trabalha em uma institUi~5 4~,,, .~ ção, mas em funções qi~e lhe são fixadas pelos diretores da mesma ou por\ um corpo profissional, que não deixou lugar para que o psicólogodedUzis~
se sua tarefa de uma avaliação própria e técnica da instituição. No primeirc~ ~
caso o psicólogo éúm assessor ou consultor e,*no segundo, é um emprer
gado e a tarefa que concerne a psicolog!a institucional riao pode se realiza
~ 1~ em situação de empredado,4 mas sim na de assessor ou consultor; poiqu
‘a 1 há uma distância ótima na depençie~ncia econômica e na dependênciqprofissional, que é básica no manejo técnico das situações. Um psicólog4
empregado — por exemplo — para selecionar pessoal ou para aplicarteste~
aos integrantes ou sócks, não realiza uma tarefa dentrb do enquadrameflt
da psicologia institucional, porque a sua tare a não der’
L \ 1-~ ~ e diagn stico a situaçao, assim como não foi deduzidado que em seu luir
1 \ z~~1ZltlS~iTTafTUalTfl~1Tte corresponde realizar na instituição. A experiên
ciamostra, além disto, que na instituição que se estuda não se deve ter se
nWo um só papel; por exemplo, não se pode ser ~.psicólogo institucionaL
e?n um hospital i ao mesmo.tempo realizar, no mesmo lugar, uma tare4
de outra ordem .(assistencial.ou didática, por exemplo). O cumprir d6ir
ç~apéis diferentes no mesmo lugar implica uma superposição e confusã
de enqua~Iramento com situações que se fazem muito difíceis de avaliar
i~nanejar1
Ele ou os assessores podem ser contratados para o estudo de um prJ
bIÕr,ia definido proposto pela própria instituição, sem que ele, por si só,
invalide a condição de assessor, enquanto que o estudo se r tro dl~
totalidade e unidade da institulçao, valorizando o*peso e o significado do
~eos termos-e relaç~es d~
mesmo. •
Empregado refere-se, aqui, ao status no qual se realizam tarefas dispostas por ur~i
status superior, sem haver participado na pro~ratriaç~o. das r~iesmas; em outrc~s
terçnos só se cpmprem ordens.
39,
dições;
g) organização e normas que a regem;
h) contingente humano que nela intervém: sua estratificação social e
estratificação de tarefas;
i) avaliação dos resultados de seu funciànamento; resultado para a
instituição e para seus integrantes. Itens qu~ a própria iiistituição utiliza.
para isto.
Circunscrito o âmbito no qual corresponde trabalhar, o que caracte
riza especificamente a psicologia institucional é um_~a~a~efltQpart~,
cular da tarefa’ e • coÁtar, em.prirneiro
O realmente im~ohante e impreterível é que a dependência eco.
nômica do psicólogo institucional tem que ser fixada em termos tais
1 que ngo comprometem sua total í~~dependé’ncia profissionaI,~ todos os
detalhes que concernem à inclus~o do psicólogo em uma instituiçâ’o
têm ‘qUe ser recólhidos por ele cómo índices das características da ins
tituiç~o e das situaç6e~ que deverá enfrentar. A condição de ter um sa
lário fixo mensal e~uma obrigação no cumprimento de horários não in
valida por si pr6prii~ e só por este fator a condição de consultor ou as-. )
sessor, mas esta última .deve ser sempre especialmente ‘estipuladà’ e, de
pois, sempre defendida; A experiência aconselha, a fixar um horário glo
bala para uma primeira tàrefa diagnóstica que tem que ser previamente
delimitada em sua duração e, posteriormente, a fixar honorários, assim
como as horas diárias ou semanais a dedicar à instituição, ao mesmo
tempó que a’,estabelecer o horárió e dias de trabalho, qué logo’ têm que
se respeitar rigorosamente. Os horários devem ser fixados em função
do número de pessoas que vão intervir na tarefa, tendo em conta o
cômputo do tempo que vai se dedicar, fora da própria instituição, ao
estudo do material recolhido ou à redação de protocolos e relatórios.
Torna-se totalmente inadequada, e contra-indicada, a fixação de horá
rios em função e em proporção das utilidades que vai trazer o trab?lho
cio psicólogo à instituição. Não deye ser deixado sem esclarecimento
‘prévio nenhum detalhe do enquadramento da tarefa; tampouco se de
ve dar lugar à ambigüidade ou aos ~ube~tendido~ tá~j,~~’ que devem
ser sempre explicitados. N5o é tampouco útil, a partir do ponto de
vista da tarefa, a realização de estudos diagnósticos com ocompromis
se de não cobrar ou de fixar honorários a posterior!; iSto induz geral
mente a uma desvalorização da função do psicólogo ou ~o ‘co(oca na si-
- tuação de desvantagem de ter qu~ “vender” seu assessoraniento~; Quan
do assinalo que estas situações ~ são uteis ou são desvantajbsas isto
se refere basicamente ao fato c~e~q~ compromete a~ independer1c~a pro
fissiorial do psicólogo e com, isto seu hianejo técnico correto das’situàç6es.
Se se vai realizar’uma tarefa gratuitamente, isto também deve ser expli
citado e não deixar a situaçêo indecisa, nem menos ainda a critério da
instituição.
Nunca vi omo favorável ou positivo o ingresso numa instituição
como empregado (no sentido definido na nota de rodapé da página 39),
‘mas com a intenção secreta de “convencer” e se transformar gradualmente
em psicólogo institucional da mesma. Esta atitude vicia totalmente o en
quadramento da tarefa.
Dentro do enquadramento da tarefa conta-se tâmbém o problema
dos objetivos do psicólogo e da psicologia institucional, que devem ser
considerados cuidadosamente.
Õbjetivos da irIstituiç~o e objetivos do psicólogo
Cada instituição tem seus objetivos específicos e~ a sua própríã
organização, com a tiual tende a satisfazer ditos objetivos. Ambos (fins ~
meios) têm que ser perfeitamente conhecidos pelo ou pelos psicólogos, co~
mo ponto de partida para decidir seu ingresso como profissional na ins
tituição.
Toda instituição tem objetivos explícitos tanto como objetivos im:
p1 feitos ou, em outros termos, conteúdos manifestos e conteúdos latentes.
Estes devem ser valorizados de forma seperada dos efeitos laterais que uma
instituição pode produzir. À criação de uma indústria, por exemplo, faz-
se para produzir — manifestamente — determinada mercadoria ou matéria
prima, mas seu conteúdo lâtente pode ser o de povoar uma região por
razões políticas ou militares; é distinto do caso em que a dita indústria te
nha como efeità colateral o enraizamento’e aumento da popuiação das zo
nas vizin[ias. Se bem que é certo que o efeito colateral pode se transformar
posteriormente num conteúdo latente, até que isto ocorra o seu peso é
totalmente distinto. Pode ocorrer que coexistam,conteúdos latentes e ma
r1ifestos que se equilibrem em’ sua gravitação e até entrem em cofitradição
d pode também acontecer que o conteúdo latente ulti~passe, em sua força,
d conteúdo explícito. Assirh;’ por exemplo (e para utilizar um muito sim
pies), numa sala de um hospital uma situaç~o.’conflituosa deste caráter
al3~reçeu atrás do;m’otivo dai cOnsulta, que foi formulado como uma de
sorganização crônk~a qdesate~i.ção da assistência profissional aos doentes; o
pro~le~na residia’, em parte, em que a equipe profissional, formada tptal
mente por gente muito jovem, tinha primõrdialmente propósitos ou obje-’.
tivos de aprendizagem, nos quais se viam totalmente frustrados. Q,~ic~”
o motivo de uma corisultanãoéoproblernae
Se bem que é certo que se torna de grande utilidade para o psicólogo
conhpcer os obetivos ex lÍcitos de u~ jns~~j,~o para decidir e realizar
~ profissiona , ríão é menos certo que os latentes ou implícitos às
s ~
40 41
vezes só aparecem como conseqüência do estudo diagnóstico que realiza
~~ psicólogo. -
.Alem do estudo destes objetivos e de si~a dinêrrllca e cOn5equefl~laS
devem também ser valorizados as finalidadeSOu objêtivo&qUe a instity~ç~O
tem para solicitar a colaboração profissional de um psicólogo e aqui~pdiV
tam tanto os objetivos explicitados como aqueles que formam pa~1q das....
fantasias da instituição, que podem, por outra parte, ser totalmente incàns
cientes. Um serviço hospitalar solicita o assessoramento de um psicólQgO,.
mas entorpece total e pêrmanentemente sua atividade; o exame da sittiaç~o
descobre o fato de que o interesse da jnstituiç~o reside basicamente em os
tentar urna organização progressiva e científica frente a outros servjços
hospitalareS competidores, mas a atividade do psicólogo ~ na realidade,
temida. . .
Estes fatos h~o invalidam, n~ó impossibilitam a funÇ~O do psicólo
go, a sim que ~ s~o as circunstâncias. sob~e ?~ quais’ justamente se tem
que agir. Este deve saber que a sua partiçipaç~o numa instItuiç~o promo~e
ansiedades de tipos e graus diferenteS e que o manejo das resjStênCias, -
“~ contradições e ambiguidades forma parte infalivelmente de sua tarefa E
que, alémdisso, tem que contar com estas resistências ainda na parte ou
no setor da instjtuiç~o que promove ou alenta a sua contratação ou Ii~iclu
,/SgO. Quando o psicólogo se encontra com dois bandos, um que o açeita
e oütro que o rejeita, deve saber que ambos s~o partes de uma divisão es
~ quisoide,e1~&~deVe tom~jartido de nenhum ~Jm clube incorporou~.im
‘\ conjunto~de psicólogos,- aos.quais of~recéu todas as possibilidades de tra
balho, organizando para eles. uma ceia de homenagem na sede social. Os
psicólogos sõo declarados em disponibilidade casualmente depois de
realizadas as eleições para renovar as autoridades integrantes da~c~miS
s~o diretora: uma auspiciosa recepção foi inconscientemeflte parta deiima
estratégia el~itor~l.5 . .
.—~ Para que uma instituiç~o solicite e aceite o assessoramento deum
psicólogo enquanto psicólogo institucional, a institU~Ç~O tem que haver
chegado a um certo grau de maturidade ou insight de seus problemas ou
de sua situaç~o conflituosa, mas a função do psicólogo conduz também a
que se tome maior consciência de sua necessidade.
Os objetivos da instituição que consideramos referem-se, ~ a
dois aspectos diferentes; um, a seuspr~pr!OS cLj’etívos (exp os.m
5 — N~o corresponde desenvolver, mas.sim assinalar que foi um erro participar cio
banquete tanto corno aceitá-lo,
42
pliçito~)~QL!tro, aoá objetivos para os quais se solicita ou aceita o trabalho
do psic6logo~ A isto temos agora que acrescentar a consideraç~o dos obje
tivos do próprio psicólogo aos objetivos da psicologia institucional. Sabe
mo~ qp~ a firlalidad? ou o objetivo que1se deseja alcançar orienta a aç~O
forma,kk~Part~ do enquadramefltü44 tarefa No que concerne ao psico
logo e se~i4 ~óprios ~bjetivos esse de~ie jesolver acerca de
Z ,-&~~) ‘d~rï~rca~&dOs objetivos ge~âis ou mediatos de sua tarefa;
o~oun~o dos objetivos da instituiç~O e/ou dos meiosque està utiliza para alcançá-los; .
.~diagnóstico dos objetivos particulares, imediatos ou específicos.
A demarcaç~o dos objetivos medilatos ou gerais da tarefa coin~
plenamente com os objetivos da psicologia institucional que opsicól
deve ter perfeitamellte e~clarecidos e n~o admitir sobre eles nenhi
de equívocos. Em ‘t etivo do psicólogo no
~ ~/ ins~u~j≤m o sico-hi iene cQfl~guir a me ~rrn -
~ c~LL.aas—a~n~1 — e tendem - — bem estar d~. inte
Q psicoloç~o institucional pode se definir nestE
~yÇfido, como um técnico da relação interpessõal ou como um técnico~
e — pelo que veremos depois — pode se dizer~
também que é o ~Øcnico d~ ~imp~çitP. A ajuda a comprei
ender os problémas e todas as variáveis possíveis dos mesmos, mas ele
P próprio nâ’o decide, nio resolve nem executa. ~ papel de assessor ou
~_—~~-‘ sultor deve ser rigorosamente mantido, deixando a solução e execução
-~ m~os dos organismos próprios da instituiç~o: o psicólogo n~o deve sernenhúm caso nem um administrador nem um diretor nem um execul
nem deve sobrepor-se nainstituiç~o como um novo organismo.
O psicóLogo n5o é o profissional da alienação nem da expi
)nem da submiss~ô ou coerção, •nem da desumaniZaç~O. O ser hi
~ ,~1/ stia saúde, sua íntegraç~o e plenitude constituem o objetivo de seu
balho profissional, aos quais nffo deve renunciar eni~neflhUm caso.
1 função tampouco deve ser confundida co9’l~a educaciot4al, no sentido coirente que tem este último termo. ‘
Uni psicólogo foi chamado para trabalhar em uma instituição
(clube~ com os aspirantes da mesróa (um.grupo~de mar ores de doze
L para conseguir que estes “melhorem seu .~ comportamektá”; odiagnóstico levou à conclusão de que até este setor derivavam-se 5~
de conflito no corpo direto~, pelo que o psicólogo l~evçu a esclarecer
queixa como um sintoma e a atendera verdadeira situaç~o confli
De outra maneira, o psicólogo teria agido como agente de coerç~o,
R’
/ instrumento dos adultos e como agente de manutençêb de um sintoma;
// e. o psicólogo ii~o deve agir nunca como agente de coerção, nem ainda
_7’ com meios psicológicos. A educaç5o se vale aqui, fundarnentaIrnente~ da
~\ J aprendizagem (Ieam,ng) que capacita a rnst~tuiç~o a enfrentar situações
re poder refletir sobre elas como primeiro passô p~ir~ cjualquer solução. O
~ ~squema que inicialmente se oferece ~d psic~ólogo como causa de um pro
~blema nao e, geralmente, outra coisa senao um preconceito.
O segundo i3onto, o da aceitaç~o por parte do psicólogo dos objeti
vos da institui?~o, cõloca problemas profissionais e éticos de primeira
magnitude e da maior gravidade. Em primeiro lugar, n~o se deve aceitar
em nenhum caso o trabalho numa.instituiç~o com cujos objetivos o psi
cólogo n~o esteja de acordo ou entre em. conflito; seja com os objetivos
ou seja com os meios que a instituição tem para levá-los a cabo. Em
‘/~ f psicologia, a ética coincide com a técnica ou, melhor dito, a átiéa formão) ~ parte do enquadramento da tarefa, já que rienhumatarefa pode ser levada
a cabo corretamente se o psicólogo rejeita a instituição (seja em seus objefr
tivos ou em seus meios ou procediínentos). Se um psicólogo, por exemplo.,
é chamado para cumprir suas funções numa instituiç5o coopërativa;este
n5o deve aceitar a tarefa se reJeltai(por qualquer motivo) o’movimerifo
cooperativista Em segundo lugar t~r~pouco pode o psjcologo apeita~ urna
[larefa profissional se está demasiaciõ incluído oU partici~a ná õrg1i~aç~o
ou no movimepto ideológico da instituição; uma afinidade ou identidade
ideológica n~o deve, no entanto, ser tomada êm si mesma como uma
contra-indicação absoluta, e a decisão depende da c~pacidade do psicólogo
1 para estabelecer uma certa distância opérativa e instrumental em seu tra
balho profissional, de tal maneira que, ~dentro deste, põssa trabalhar como
psicólogo e r~o como proselitista oU político (em qualquer dos sehtidos
[deste termo). N~o está vedada ao psicólogo uma intervenç~o ativa em qual
quer movimento ideológico ou político, mas nest&caso ngo atua profis
sionalmente neste setor. Deve-se, entender claramente, que o psicólogo n~o
V~em por que se exigir neutralidade nem passividade, mas, sim, tem que se
1 exigir em sua tarefa profissionaL um enquadramento que lhe permita tra
balhara operar como psicólogo.
Em terceiro lugar, o psicólogo n~o pode nem deve aceitar trabalho
em qualquer instituiç~o a qual reje.ita, com o ânimo oculto de torcer seus
objetivos ou seus procedimentos.
Em quarto termo — e n~o menos importante — conta-se o fato de
que aceitar o trabalho, aceitando os objetivos de uma instituiç~o, significa~
Lsomente uma condiç~õ para o enquadramento de sua tarefa, mas os obje
tivos da !nstítuíçffo pio rio seus objetivos pra fissíonais O psicólogo t~riT7
obje~dvosaos qi~iais n~o deve renunciar em nnhum caso.
Os objetivas particulares, imediatos ou específicos se referem a
aspectos do problema central, mas estudados e manejados em funç~o da
unidade e totalidadé da instituição. O psicólogo n~o pode trabalhar com
todos os integrantes ou todos os organismos da instituição ao mesmo tem
po nem tampouco isto~ó..de desejâr;por isso, devem-se examinar~
~~~ê~ia” sobre os i~uaís intervir como objetivos imediatos. Este
esclarecimento sbre os objetivos diferencia nitidamente, já desde o pon
5 to de partida; o psicólogo trablhando em uma instituição do psicólogo
trabalhando no âmbito da psicologia institucional. O primeiro realiza uma
tarefa que se lhe encomenda realizar; o segundo diagnostica a situaç~o e se
propõe agir sobre os níveis ou fatores que detecta como sendo realmente
de necessidade para a instituiçõo. O primeiro serve, com freqüência, de
fãtor tranqüilizante (“há um. psicólogo trabalhando”), enquanto que o se
gundo n~o aceka dito~ papel U é, ba~icaiiiente, um agente de mudança.
O primeiro 4 um.empregado; o segundo é ur?~ assessor ou i-i~Jitor co~n
total independência profissional. . .. —“i
‘Cbmo é.’fácil entender, os objetivoS mediatos tampouco 5g0 fixos ou
imÓvdis,esim que podem e cl~vern mudar à medida que se desenvolve a
tarefaj”’ ~ .
Método do trabalho institucional
É possível que se possâm enumerar distintos métodos ou diferêntes
procedimentos e enquadramentos para o trabalho em ~sicoÍogia institu
cio~ial. Aqui desenvçlvemos que. cremos mais de acordo com nossos obje
tivos e descartamos tudo o que possa. significar uma obrigação, exigência
ou urgência em obter rêsuliados práticos imediatos, no sentido de que ~âo
interessa desenvolver um ehljirismb com certas técnicas ou regras estereo: - -
tipadas que nos distanciam dos fins qu~ persegúimõs: os da psico-higiene.
~ Des~Útamos igualmente toda contaminãç~o messiânica~âifl~tT~V\
j~ cólogo e a psicologia cornd “salvadores” de qtialquer espécie.
Por sua vez, vemos como impretérível o fato de que o objetivo ou
finalidadê que fixamos para a psicologia instituçional seja realizado çom
o caráter de uma investigaç& cientfficasubmetida aum método que de-~
44
vamos conseguir que seja progressivamente mais rigoroso. O objetivo que
queremos alcançar e para o qual tendemos formar parte do enquadramento
• da tarefa e o maio de alcançá-lo ~ atrav4s da investigação.. Não se trata, em
psicologia institucional, de um campo rio qual há que “aplicar” a psicolo
4 gia, mas sim de um campo no qual há que investigar os fenóflE!~flOsi1Sh~ló
• ffgicos que nele têm lugar. Nenhuma investig~ção pode ser realizada sem
~lt.~ ,..11jobietivos — explicitos ou implicitos e; mas os objetivos constituem parte
j~~do enquadramento, uma espécie de tela de fundo e, a rigor, ternos que nos
atar estritamente à própria investigação.
O trabalho em psicologia instituciona! requer ainda uma irivest~ga
ção mais ampla e profunda que a realizada até agora; que nos permita
configurar mais claramente as técnicas e critérios a empregar, tanto como o
caráter do problema que temos que ~nfrentár.
Todos osj nàssos objetivós, o dá tarefa e o da investigaçã~ (invest~ç~o .~
de fatos e técnicas) só podem ser abarcados, em nossO entender, cOrri a 4-.,
utilização do método clínico. Desta maneira, o que vamos ~esenvoIver:áq~Ji
pode-se resumir, dizendo que se refere fundamentalmente ao empre~jó ~1o
metodo cbnico no âmbito da psicologia institucional e dentro do’rqetodo
clinico guiamo nos pela sistemática do enquadramento introdu~idq ~éla
técnica psicanalítica, adaptado às necessidades deste âmbito e aãs.~t~ble~
•~mas que aqui temos que enfrentar.
Sem ânimo de explicar aqui o método clínico, recordemos que o
mesmo se caracteriza por uma observ~~ detalhada,~yidadOSae comple
ta, realizada em um enquadramento rigoroso~~e enquadramento pode-se
definir como o c njunto das co~diç5es nas quais se realiza a observação e
constitui uma fixação dé variáveis ou — dito de oi.itra maneira — uma eli
minação de parte das variáveis ou uma limitação das mesmas, ou a fixação
de um conjunto de constantes; que tanto no~ serve como meio c~e padro
nização como de sistema de referência do observado. Seria aqui muito inte
ressante e importante poder estabelecer as semelhanças, diferenças e rela
ções do método clínicà com os chamados métodos ou procedimentos
epidemiológicos.
O modelo do enquadramento psicanalítico se estende à moda
lidade da observação que se leva a cabo, que não consiste somente num
registro cuidadoso, detalhado e completo dos acontecimentos, mas sim
numa ihdagaçffo operativa, cujo~ passos podem se sistematizar as
sim:
a) observação de acontecimentos e seUs detalhes, com a continuida
de ou sucessão em que os mesmos se dão; .
• S~J~-~ c~c~’~
b) compr~nsãbdo si~nificado dos aco5 eda forma com~
eles se rèÍacionarn ou integram;
c) incluir ris resultados de dita compreensão, no momento oportu-~
no, em forma de interpretação, assinalamento ou reflexão;
d) considerar o passo anterior como uma hipótese que, ao ser emi
tida, inclui-se como uma nova variável, e o registro de seu efeito — tal co-~
mo no passo (a) — leva a uma verificação, ratificação, correção, enrique-~
cimento da hipótese ou a uma nova; com isto, volta-se a reiniciar o proces-~
so no passo (a), com uma interação pçrmanente entre observação; compre-~
j, ensão e ação:
O mais importante que ocorre é que não somente podem se escla~
recer e corrigir problemas e situações, rn~ sim que gradualmente tem,
lugar uma rneta-apréndiza~gem que consiste em que os implicados na ta~
• refa aprendem á observ,ar e reflátir sobre os acontecimentos e a encontra~
• seu sentido, seus efeitos e integrações~ Para o próprio psicólogo não se tra~
ta de uma “aplicação~’ da psíco~ogia — que conduz rapidamente a estereo~
tipos —, mas sim a ?de úma conjqr~ção de sua coridiçãó de profissional e
• investigador. A investigação :‘~odifica à investigador- e o objeto de estudo
o que, por sua vez, é investigado na nova condição modificada. Com isso~
dá-se uma práxis na qual o investigar é, ao mesmo tempo, operar e d
agir se torna ur~4a experiência enriquecedorae enriqueciç~,a com a reflexãc~
e a compreensão. •
~ 1. •
• • • Técnicas do enquadramento -.
• ---~- —.
Urç(a vez caracterizado o método a seguir (incluídos os critérios deI
~ivados do objetivo da tarefa); que consta fundamentaln~nte de um enqua1
dramen~LrlgfrnSO e de uma~nbs~~vaçãO operativa, faz-se agora necessário
•fixar a(técnica do enquadramento) quer dizer, o conjunto de operações
condiç&s que çppd e~ est~~Iecer o enc ~ntoeqc en~
t~ih~m tima pai dQ, mes~,o . Já expostos o critério e a-teoria que susj
• tentam o enquadramento que desejamos, podemos eSpor sua técnica en1
forma de regras que cbmentaremos suscintamente. •
• a) A primeira condição do enquadramento se refe~ ao próprio psí1
côlogo, que dávé cumprir com •que chamaremos tia atitude clínica, que
consiste ~ manejo de um certo grau de dissociação i~ manta que lh~
permita, por um lado, identificar-se com os acontecimentos ou pessoas,
mas que, por outro lado, lhe possibilite manter com eles uma certa distân
cia que faça com que n~o se veja pessoalmente implicado nos acontecimen
tos que deveí’n ser estudados e que seu papel específico n~o seja abandona
do. A atitude clínica forma. parte do papel do psicólogo e o mantê-lo
permanentemente em sua tarefa é uma das exigências fundamentais do
enquadramento.
b) Estabelecimento de relações explícitas e claras em tudo o que
corresponde à função protissional e que abarca o tempo de dedicaç~o à
tarefa, honorários, dependência econômica e independência profissional,
de tal maneira que há de se constituir num assessor ou consultor e ‘n~o
num empregado.
e) Esclarecimento do caráter da tarefa profissional a se realizar, elu
díndo totalmente o ver-se comprometido com exigências (~xplícitas ou
implícitas) que n~o se possam cumprir ou que est5o fora da tarefa profis
sional.
d) Realizar urna tarefa de esclarecimento sobre o cai-áter da tarefa
profission~l~m todos os grupos, secções ou níveis nos quais se dêsejé agir,
alcançando a ~ceítaçâo explícita do profissional e da tarefa. Dita aceita
ç~o deve n~o só ser explícita como também livre,, sem coerç~o e derivada
exclusjvamente do esclarecimento correspondente, e n~o realizar nenhuma
tarefa com aqueles grupos, seções ou níveis da instituiçgo que ngo manifes
tam a aceitaç~o correspondente. O tempo que isto custa n&i deve ser con
siderado como tempo perdido, mas sim um tempo no qual já se está cum
prindo parte da tarefa atraves do esclarecimento d da inforn~iaç~o ampla e
detalhada, mas recolhendo elerne~ntos de observ~ç~o•~ ~s~aracter(s
‘ ‘ ‘ ‘:~
ticas do grupo, seção ou nível ~e 4~ suas tensões cbnflitos tipos de comu
nlcaç~o, lideranças, etc 1 :
e) Estabelecer em fôrma j~rática, definida é clâra ô caráter da ‘infor
maç~o dos r?sl.~~ados, tanto como os ‘grupos e pessoas a quem será dirigida
dita informação e as situações em que dita informaç~o. será submetida; que
n~o deve ser nunca fora do contexto institucionalnem fora da tarefa.pro
fissionaJ. N~o admitir, imposições nem sugestões~
da informaçao. ,
f) Segredo profissional e lealdade estritamente observadas,, no-sen
tido de’ que o que corresponde a cada grupo, seção ou nível não será trata
do senão com Sele ou eles d0 forma exclusiva. Tratar em forma aberta e
franca tudo’ ~uilo que possa transcender e tudo aquilo sobre o qual a
pessoa, o gruØ’o ou os níveis implicados desejem ou acedam que trans-
r
cenda, respeitando totalmente suas decisõés; um relat6rió’ psicológico não
deve ser apresentado enquanto tudo o que em dito relatório possa constar
não r’ha sido previamente submetido à elaboração dó grupo oh da seção
dé qu~é trate. Todo rélatôrio ou interpretaçãO deve respeitar o “ritmo”
(tín~)~~1~:elaboração dos’dados. De nenhuma maneira.a dependência eco
nômic~ obiiga a apresentar dito relatóH9 ,~s diri~entês deuma instithii
~que cõncerne dito relatório se opõe a~sto. Se o psicôlogo
está~aapt ~ntar dito relatório a outros seto
res ~ iiistituição, deve ãzê-l aben ‘ e começar a trabalhar com
um grupo ou com urna seça
g) Limitar os contatos extra-’profissidnais ao i’nínimo ou, no pos
sível, excluí-los totalmente; no caso de que ditos contatos não possam ser
eludid~s ou excluídos, eles rãó devam implicar nenhuma informação
nem i~nhum cõmëntário sobre ã tarefa ou o curso da mesma. O manejo
da ínforhiàçio nâo é só ürn problema ótico, mas sím, ao mesmo tempo, um
Instrumento técnico.
h) Ser abstinente e não tomar partido prdfissionalmente por nenhum
setor nem posição da ,instituiç~o.
i) Limitar-se ao ssessoram’ento e à atividade profissional, não assu
mindo nenhuma função diretora, a ministrativa nem executiva. O psicó
logo não ‘dirige, não educa, n~O decide, n~6 executa decis~es;ajudaacom
preender os problemas qtie existem e ajuda a problernatizar as situações
‘NKo transformar uma instÍtulç’a’~ci’ èín’ ur ‘a (nica di’conduta. Não tratar
probiemas pessoais de forma individual õu grupal. Centrar o trabalho jisi
cológico na tarifa ou funçâ’o qué se realiza e em como se a realiza.
“Jx.o psicólogo deve’ compartilhar responsabilidades na parte em que
os ~éfeitos de uma medid~ e urna mu ança epen em ae seu assésso
ramen{de de sua a+u~ç~o mas r~ião deve assumir responsabilidades alheias
‘~‘~k)~N~o forn~,a~iperesjtnituras que desgostõm ou ‘se sobreponham
com’ às ‘autoridades Ou’ lídér~s da orgànização fOrmal ou informal da ins
tituição, Tomar em’ conta a parte em que as autoridades de uma institui
ção sintam-se ‘afetadas ou menosprezadas por ter que recorrer~ outro p,r.o-’
fissional.
1) Não fomentar a dependência psicológica (intra ou intergrupal),
mas sim todo o contrário: ajudar a r~solvê-la.
m) Estrito controle e limitação da informação, no sentido de que a
mesma não ultrapasse o que realmente se conhece ou deduz cientificamen
te. Neste sentido, um critério fundamental é o do con,trq,lç dos traços da
~l~Pria on~otência, em não agir nem admitir a auréola de mago nem de,
48 49
“pode-tudo”. A função é a de um estudo científico dbs problemas para
transmitir o conhecido num dado momento.
n) Não tomar como (ncjice de avaliação da tarefa:prOfiSSióOP.!9
gresso da instituição em seus objetivos e sim o grau de “compreensão”
(!nsight), de independência e de me!horamento das relações; quer dizer, o
progresso nos objetivos da psicologia institucional.
: o) A única forma de operar é através dá ~ubministraÇ&~ de informa
ç~o~ A operatividade da mesma neo só depende de seu.grau de veracidade
como também dot!mhig (momento e ‘dada éde sua quantifica
ção (graduação da mesma . Em última inst~ncia, não se trata de informar
e sim de fazer compreender os fatores em jogo; em outros termos, da
tomada de ins!ght.
p) O psicólogo deve contar sempre com a presença deistênÇ~a
(expl(clta ou implícita), ainda que da parte daqueles que manifeStarfl~~~
o aceitam. O investigar a resistência forma parte funçlamental da tarefa
profissional e, a~ investigá-la, o psicólogo constitui-Se infalivelmente e só
por este fato em um agente de mudànça, que pode incrementar ou promo
ver resistências.
q) Uma instituição não deve ser considerada sadia ou normal6 quan
do nela não existem conflitos, esim quando a instituição pode estar em) condições de explicitar seus conflitos e possuir os meios oua possibilidadede arbitrar medidas para sua resolução.
r) Não aceitar prazos fixos para tarefas e resultados, esim somente
para o caso de um ~elatÓ~iodiagl1ó5tico. Não aceitar tampouco exigênCiaS
de s~luções urgentes (que são evasões do ins!ght).
1 nserç~o do psicólogo na institUiÇ~O
Os contatos e~as relações que o profissional toma com a instituição
constituem, desde o primeiro momento, o material que o psicólogo deve
• recolher e avaliar. Isto lhe dará a possibilidade de conhecer, já desde o
começo, tanto situações vitais da instituição como os fatores negativos e
6 — Os termos “saúde ou normalidade”, suo, mais adiante, sób~titu (dos pela expres
s~o “grau de dinâmica”, que entendemos mais adequada para nos referirmos a estes
conceitos, ao tratar de lnstitulçêes.
50
positivos que terá que enfrentar, já que a forma como a instituição se
~ relaciona com o psicólogo é um índice do grau deinsight de seus pro
blemas, das defesas e resistências frente aos mesmos, dos esforços e
direções em que se tentou a solução ou encobrimento até este momento.
Convém que o psicólogo tome nota e escreva cuidadosamente todos~
os detalhes dos primeiros contatos é das primeiras entrevistas, porque o es-~
tudo deste protocolo e ainda sua mera redação darão a oportunidade de
•~ avaliar melhor e levar em conta detalhes que passam facilmente inadvefl
tidos, mas que s~o significativos: tudo isto fará com que o psicólogo poSS~
organizar melhor os passos SUCeSSIVOS que tem que dar. Quanto melhor se
maneje o método clínico e seus instrumentos, quanto mais seguro se sint
ta no estabelecimento do enquádramento, tanto melhor o psicólog9
poderá tratar com as distintas alternativas de sua inserção no campo de
trabalho, que segue sendo sempre uma etapa difícil e, ao mesmo tempO~
uma etapa geralmente decisiva de todo o enquadramento posterior. A par~
tir deste ponto de vista convém, pelo menos nas primeiras etapas da tare~
fa, solicitar a supervis~O de um càlega que, pelo mero fato de estar fora
ou não estar tão comprometido na situação, poderá sempre resultar d~
~ grande utilidade.
Os primeiros contatos que o psicólogo estabelece com a institu~
ção devem levar o propósito definido de estabelecer o enquadramento da
tarefa, o conhecimento das ansiedades frente à mudança (intensidade ~
qualidade, mecanismos de defesa), o grau de aceitação ou rejeição do
psicólogo, as dissocia~õeS entre grupos que aceitam e outros que rejeitanj~
as fantasias que se projetam sobre o psicólogo, o grau de realidade e ade
quação das espectativaS, etc. Todos os primeiros contatos já conduzer~1
a uma impressão preliminar de caráter diagnóstico, para o qual se de~e
conhecer também a história da instituição e — pelo menos os grandes l~
neamentos de suas características.
“Grau de dinâmica” da instItUiÇ~O7
O melhor “grau de dinâmica” de uma instituição não é dado pela
ausência de conflitos, mas sim pela possibilidade de explicitá-los, manej~
7 — Ver nota de rodapé da pégina 50.
1
51
los e resolvê-los dentro do limite institucional, quer dizer, pelo grau em
que são realmente assumidos por seus atores e interessados no curso de
suas tarefas ou funções. O conflito é um elemento normal e imprescind(
vel no desenvolvimento e em qualquer manifestação humana: a patologia
do conflito se relaciona, mais do que com a existência do próprio conflito,
com a ausência dos recursos necessários para resolvê-los ou dinamizá-los~
A estereotipia é uma das defesas institucionais frente ao conflito,
mas se transforma, assim mesmo, em um problema atrás do qual é necessá-

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