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1 MOVIMENTO ESTRUTURALISTA SISTÊMICO Encontrar equilíbrio entre os elementos racionais e não racionais do comportamento humano constitui um ponto principal da vida, da sociedade e do pensamento moderno. Constitui também o problema central da teoria organizacional. O Movimento Estruturalista Sistêmico sucede o movimento anterior de Relações Humanas e suas ideias predominam no período entre 1950 e 1965 nos Estados Unidos. O Movimento da Racionalização do Trabalho estava preocupado com a ênfase nas tarefas e na estrutura organizacional, enquanto o Movimento de Relações Humanas tinha enfoque nas pessoas. Nota-se que os dois primeiros Movimentos têm ideias antagônicas. Para o estrututralismo é de especial importância o relacionamento das partes na constituição do todo, ou seja, o estruturalismo implica em totalidade e interdependência, já que exclui os conjuntos cujos elementos sejam relacionados por mera justaposição. Simplificando, os conjuntos que interessam ao estruturalista apresentam como característica básica o fato de que o todo é maior que a simples soma das partes. Entretanto, as duas tinham elemento comum: nenhuma delas via qualquer contradição básica ou dilema insolúvel nas relações entre a busca de racionalidade por parte da organização e a busca de felicidade de parte do indivíduo. A Administração Científica entendia que a organização mais eficiente seria também a organização mais satisfatória, uma vez que ela maximizaria tanto a produtividade como o pagamento do indivíduo... A abordagem das Relações Humanas entendia que a organização mais satisfatória seria também a mais eficiente. Ela sugeria que os trabalhadores não ficariam satisfeitos numa organização fria, formal, racional, que apenas satisfizesse suas necessidades econômicas... Nesse terceiro Movimento ocorre uma junção dos conceitos dos dois Movimentos anteriores, associação de aspectos formais (Escola Clássica) e aspectos informais (Escola de Relações Humanas). Portanto, o foco do movimento atual é a análise das organizações. Mas seu diálogo maior foi com a abordagem das Relações Humanas. Seus fundamentos são melhor compreendidos através do exame da crítica que ela levanta contra esta escola. É exatamente ao explorar a visão harmônica dos escritores da Escola de Relações Humanas, que os escritores Estruturalistas pela primeira vez reconheceram integralmente o dilema organizacional, ou seja: o inevitável conflito entre os objetivos organizacionais e as necessidades individuais, conflito esse que pode ser reduzido, mas não eliminado. A primeira fase deste terceiro Movimento é a influência do estruturalismo, o qual não é entendido como uma teoria de administração, mas sim um método analítico-comparativo, com a preocupação nos conceitos de estrutura e de característica totalizante. O método estruturalista foi aplicado em diversas disciplinas científicas. Visualizamos um triplo mérito no Estruturalismo: Em primeiro lugar, ele introduz uma nova lógica, integrativa e não dicotômica, para tratar da organização e do indivíduo. Com isso, o campo da análise administrativa torna-se muito mais rico, possibilitando uma melhor compreensão das organizações e de seu desempenho. Em segundo lugar, novos temas que antes recebiam pouca atenção — como conflito, alienação, poder — passaram a encontrar guarida na teoria organizacional. Não devemos esquecer que a contribuição estruturalista provém fundamentalmente dos sociólogos e que trazem para o campo da Administração a temática que lhes é peculiar. Em terceiro lugar, o estruturalismo passa a preocupar-se não apenas com as organizações industriais, mas abre um novo leque de opções: hospitais, prisões, escolas, universidades, clubes, exército, ordens religiosas, entre outras, são organizações que passaram a ser objeto de estudo por 2 parte dos estruturalistas. Uma sociedade organizacional é formada de uma variedade de organizações, detentoras de uma base comum e que, a partir do Estruturalismo, passaram a ser objeto de estudo da Teoria Organizacional. Cremos que a proposta da Abordagem Estruturalista (Figura 1) fica rigorosamente clara a partir das palavras do próprio Etzioni, na abertura de seu livro Organizações complexas. Afirma ele: “Encontrar um equilíbrio entre os elementos racionais e não racionais do comportamento humano é um problema essencial da vida moderna, da sociedade e do pensamento. É também o problema essencial da Teoria das Organizações.” Figura 1: Estruturalismo Assim, a análise organizacional ampliou suas preocupações para incluir: ✓ Tanto a organização formal quanto a informal, bem como suas interrelações; ✓ O objetivo e o alcance dos grupos informais e as relações desses grupos dentro e fora da organização; ✓ Tanto os níveis mais altos como os mais baixos na organização; ✓ Tanto as recompensas materiais como as não-materiais; ✓ A interação da organização com seu ambiente; Escola Clássica Formal Escola de Relações Humanas Informal Abordagem Estruturalista: uma junção dos aspectos formais e informais Variáveis Características Lógica predominante Integrativa e não dicotômica Ênfase Indivíduo e organização Abrangência Escola Clássica e Escola das Relações Humanas Dilema identificado Conflito inevitável entre objetivos organizacionais e necessidades individuais Organizações objetos de estudo Além das indústrias, também hospitais, universidades, presídios, clubes e exército, entre outras organizações Temática Introdução de novos tópicos para discussão: conflito, poder, alienação Quadro 1: Estruturalismo: Quadro-resumo 3 APRENDA MAIS!!! Organizações e instituições: PHILIP SELZNICK O fator mais óbvio e surpreendente de uma organização administrativa é seu sistema formal de regras e objetivos. Aqui, tarefas, poderes e normas de procedimento são estabelecidos de acordo com algum critério oficialmente aprovado. Esse critério implica anunciar a maneira pela qual o trabalho da organização deve ser levado a efeito, quer diga respeito à produção de aço, à conquista dos votos dos eleitores, ao ensino das crianças ou à salvação das almas. A organização assim delineada é um instrumento técnico para a mobilização das energias humanas, visando uma finalidade já estabelecida. Atribuímos tarefas, delegamos autoridade, encaminhamos as comunicações e encontramos algum modo de coordenar tudo o que foi dividido e parcelado... O termo organização sugere, assim, certa pobreza, uma insuficiência, não um sistema absurdo de coordenação consciente de atividades. Refere-se a um instrumento perecível e racional projetado para executar um serviço. Uma instituição é, no todo, o produto natural das pressões e necessidades sociais — um organismo adaptável e receptivo. Essa diferença é uma questão de análise, não de descrição direta. Não significa que uma determinada empresa tenha de ser uma ou outra. Se em casos extremos estamos próximos de ser uma organização ou instituição ideal, a maioria das associações existentes resiste a uma classificação tão simples. São misturas complexas do comportamento delineado e receptivo. Estudar a Standard Oil Company ou o Ministério da Agricultura como instituição é prestar certa atenção a sua história e lembrar como foram influenciadas pelo meio social. Assim, poderemos estar interessados em saber como sua organização se adapta aos centros de poder existentes na comunidade, em geral de maneira inconsciente; de que camada da sociedade origina-se sua liderança e de que maneira isso afeta a política; como sua existência se explica ideologicamente. Poderemos perguntar quais as necessidades ocultas dentro da grande comunidade que, nãonecessariamente expressas ou reconhecidas pelas pessoas envolvidas, são preenchidas pela organização ou por algumas de suas realizações. Portanto, a expressão como uma instituição social sugere uma ênfase em problemas e experiências que escapam a um treinamento adequado dentro de uma estrutura minuciosa da análise administrativa. Abordagem estruturalista hoje Chegamos neste momento a uma abordagem que fez verdadeira "ponte" entre clássicos e humanistas. Com o rótulo de estruturalista, esse novo estágio da evolução do pensamento administrativo chegou a ser conhecido por escola quantitativa, por se tratar de um período em que percebemos seu desenvolvimento através de uma crescente e complexa tecnologia muito bem representada pelos computadores e seus até miraculosos outputs (saídas, resultados). A abordagem estruturalista, que não pode ser considerada exatamente inovadora, veio para conciliar as ideias das abordagens antes estudadas. Como dissemos anteriormente, era para os estruturalistas importante visualizar a influência das pessoas da organização em seu desempenho. Mas, ao mesmo tempo, não se poderiam condenar os incentivos monetários. E fato que melhor entendemos isso quando pensamos na prática; portanto, imagine que você é um trabalhador de uma fábrica qualquer. Você trabalha muito bem, mas jamais, em momento algum, alguém lhe falou isso ou lhe ofereceu uma remuneração por tal eficiência. Ou seja, você nunca foi reconhecido por tal feito. Daí, o rapaz ou a moça que se limita a executar o trabalho dele (a) tem os mesmos benefícios que você. Pergunta-se: será que você, caso receba uma proposta, não irá estudá-la com carinho? Ou, mesmo se não receber, será que você não se sentirá desmotivado em seu trabalho e vai procurar uma posição numa empresa que atenda melhor a suas necessidades não só de cunho financeiro? Para refletir sobre os pensamentos estruturalistas nem é preciso que se penetre numa empresa industrial, pois, como diz Amitai Etzioni (1973), o grande idealizador desta abordagem, "nascemos 4 em organizações, somos educados por organizações, e quase todos nós passamos a vida a trabalhar para organizações". Portanto, imagine você em sua instituição de ensino e a professora passa um trabalho complicadíssimo para fazer. Preocupada, assim que põe os pés em casa, entra na Internet e recolhe tudo o que consegue do assunto. Terminando o trabalho no final da noite, sente-se feliz e satisfeita com o resultado. Afinal de contas você é considerada uma aluna "nota 10". Agora só falta entregá-lo. Eis então a tragédia. Primeiro a professora faz elogios, mas na hora de dar a nota lhe "tasca" um 7. Ou, pior, ela não fala nada e lança um 7. Ou ainda não fala nada e lhe lança um 10. Dessa forma, fica claro que a recompensa "monetária", no caso a nota, não tem tanto valor isoladamente. É preciso que haja um reconhecimento junto com a recompensa. Ou seja, é exatamente uma das ligações feitas pela corrente agora em estudo. Nos dias de hoje, a abordagem estruturalista é útil no sentido de facilitar sua visualização em qualquer tipo de organização e sempre com um único foco, envolvendo as duas abordagens anteriores - a clássica e a de relações humanas -, com uma incrível vantagem adicional: a de não conceder à escola clássica o privilégio único de ser instrumento, também, único na procura da excelência nos negócios. A inclusão da abordagem de relações humanas dá alternativas às empresas de compor a melhor organização e, adicionando elementos da abordagem estruturalista, oferecer condições de desempenho excepcional. Hoje, entendemos que a organização formal (dada pelo organograma) e a informal (dada pelo relacionamento entre pessoas duma organização sem que haja, obrigatoriamente, vinculação hierárquica) apontam para a organização como um todo que atua de forma fechada, é bem verdade, mas já na trajetória inexorável das empresas como parte de um sistema social e não apenas de uma empresa cuidando apenas de seu negócio. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Como você interpreta a síntese entre Escola Clássica e a Escola de Relações Humanas, que resulta no Estruturalismo? Que fatores integram essa síntese? 2. Qual o dilema percebido pelo Estruturalismo e não pelas duas abordagens que o antecederam? 3. Qual a vantagem de operarmos com uma teoria mais rica, isto é, que contemple um maior número de variáveis? 4. Usando a Abordagem Estruturalista, que perguntas você, pessoalmente, faria para melhor entender a organização em que trabalha? Formule pelo menos três questões. 5. Você julga que uma lógica integrativa do tipo isto e aquilo é superior a uma lógica dicotômica, estilo ou...ou ? Pense em exemplos de uma e de outra, produtos de sua vivência pessoal. 5 TEORIA GERAL DOS SISTEMAS Um segundo momento dentro desse Movimento é a influência da Teoria Geral dos Sistemas, com a popularização da abordagem totalizante, pensamento sistêmico, método sintético, apresentando foco no todo (as partes e suas interpelações) e a eficácia do todo; tais conceitos foram apresentados pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy, que buscou entender certas características similares em todas as ciências. Esses dois métodos, estruturalismo e sistemas, contribuíram com importante conceito: de ambiente externo; assim, o entendimento de sistema fechado (Movimentos da Racionalização e das Relações Humanas) dá lugar ao de sistema aberto em permanente relação com o ambiente. A teoria dos sistemas, logo, rompe com os pressupostos de que a organização seja um sistema fechado. A teoria dos sistemas entende que todo sistema, como uma organização, é aberto e interage com outos sistemas, por exemplo, com outras organizações, associações, o governo etc. Após descobrir a verdadeira dimensão do ser humano dentro das organizações, como adaptá-lo à máquina (empresa) e vice-versa, chegamos à compreensão mais adequada da relação empresa/ambiente, um novo e significativo estágio na evolução dos estudos organizacionais, qual seja, um aprofundamento da importância do ambiente no dia-a-dia das organizações. Isso quer dizer que o ambiente passa a ter relevância estupenda, tanto que desse momento para os dias de hoje, ou seja, mais de 30 anos passados, não houve nenhuma nova orientação nos estudos e esforços de natureza prática que relegassem a um plano inferior a questão ambiental. Tudo o mais que foi projetado tem o ambiente como, diríamos, default (sempre presente) de uma possível nova abordagem. Mesmo a abordagem contingencial, que aparece mais à frente, tem o ambiente como vital para as organizações. A você empreendedor (a) pergunta-se: como montar sua organização de acordo com o ambiente que ela pretende ou no qual está inserida? Ao empresário, com uma organização já de razoável complexidade, como entender as incríveis e numerosas variáveis externas que afetam seu negócio? E como passar o que é preciso pensar e fazer, via seus executivos das gerências superiores? E ao executivo (a): como garantir a sobrevivência da empresa e atender aos pedidos da direção maior que muitas vezes tem entendimento diferente da estrutura gerencial logo abaixo na escala hierárquica? E o consultor (a), como se posicionar a fim de mostrar caminhos e soluções para a(s) empresa (s) onde empresta sua experiência profissional? Já em 1918, Mary Parker Follett falava na necessidade de os gestores considerarem a "situação total". Essa pioneira imaginava um modelo holístico de gerência, que incluía não apenas os indivíduos e os grupos, mas também os efeitos de fatores ambientais, como política, economia e biologia. Temos uma nova leitura nos estudos das organizações: as organizações vivem num ambiente ou vivem em diversos ambientes, logo nãopodem ser tratadas, estudadas de forma isolada, como acontecia nas abordagens anteriores e mesmo na abordagem estruturalista que tem o mérito de abrir a organização "para fora" dela mesma. A base das indagações não seria apenas o interior das organizações ou mesmo a forma mais adequada de encaminhar problemas e estudos em geral. Os estudiosos buscavam as influências do ambiente externo nas organizações. Note que neste momento não há uma preocupação de se adaptar ao ambiente, mas de entendê-lo. As mudanças, frutos de adaptações ao ambiente externo, ainda não ocorriam dentro das organizações se considerarmos as abordagens anteriores. Figura 2: O ambiente e as organizações. Observe que algumas organizações se interligam por uma linha branca, o que significa que atuam no mesmo ramo de negócios. Este seria um exemplo da importância da consideração do ambiente nas organizações. 6 Após esta primeira leitura, você deve estar se perguntando o porquê do rótulo "abordagem sistêmica" e não algo como "abordagem ambiental" ou qualquer coisa do gênero, já que há grande preocupação em entender o ambiente externo à organização. Que tal começar, então, pela definição do que vem a ser um sistema? Aliás, é muito comum que as pessoas façam uma breve ligação aos sistemas do corpo humano, como o sistema nervoso ou o respiratório, por exemplo, quando se discute uma definição para tal. O que não é errado. Se você pensar com atenção, será possível perceber que a organização é um verdadeiro sistema, ou seja, é um conjunto de partes coordenadas para realizar um número expressivo de atividades; ou melhor, segundo Stoner e Freeman, 1999: "Ao invés de lidar separadamente com os vários segmentos de uma organização, a abordagem sistêmica vê a organização como um sistema unificado e propositado, composto de partes inter-relacionadas. Essa abordagem permite que os administradores vejam a organização como um todo e como parte de um sistema maior, o ambiente externo." Dessa maneira, a abordagem sistêmica, que é essencialmente uma forma de pensar sobre a organização - suas metas, objetivos e finalidades - e sobre a relação entre suas partes, é fundamentada em três objetivos: 1. Definir relações tanto internas como externas à organização; 2. Verificar o padrão dessas relações; e 3. Verificar o propósito comum dessas relações. Ainda seguindo esta linha de raciocínio, Talcott Parsons, no início da década de 60, foi o primeiro a utilizar a abordagem de sistemas abertos no estudo das estruturas sociais ao escrever sobre o subsistema institucional que cuidaria unicamente das relações da empresa com seu ambiente. Em outras palavras, a abordagem dá ênfase à relação entre a estrutura (organização) e o meio que lhe dá suporte, pois sem entradas contínuas a estrutura termina por se deteriorar. A forma de manter essa estrutura aberta é fortalecer sua principal fonte motivadora: as pessoas da organização. Para tanto, os autores idealizaram as principais características dos sistemas abertos: • Importação de energia (input): os sistemas abertos importam alguma forma de energia do ambiente externo. O corpo absorve oxigênio do ar e alimento do mundo exterior. Da mesma forma, as organizações precisam de suprimentos de energia de outras organizações, pessoas ou do meio ambiente material. Um exemplo: a universidade importa futuras (os) alunas (os) de seus cursos que ajudarão em sua sobrevivência; • Transformação: os sistemas abertos transformam a energia disponível, como, por exemplo, o processamento de materiais, na consecução de um novo produto ou serviço. Continuando o exemplo: a universidade transforma as (os) alunas (os), processa de tal forma que as (os) prepara para a vida profissional; • Saída (output): os sistemas abertos exportam certos produtos para o meio ambiente, da mesma forma que o corpo humano "exporta" produtos fisiológicos como o dióxido de carbono. Ainda no exemplo: a universidade "exporta" para o mundo as (os) graduadas (os) em seus vários cursos; • Entropia: é a tendência que têm os organismos, quaisquer que sejam, no sentido da desagregação. Os sistemas físicos, fechados, estão sujeitos à força da entropia, que aumenta até que, em determinado momento, o sistema inteiro pare. Um exemplo esclarecedor é o da máquina que pelo uso tende a deteriorar-se. Entretanto, no sistema biológico ou social, aberto, a entropia pode ser interrompida, transformando-se no que chamamos de entropia negativa, ou homeostase. Isso significa que nos sistemas abertos os (material, energia, informação), provenientes do ambiente externo, permitem que o sistema busque novos rumos e se desenvolva. 7 Obviamente, para o sistema biológico, este processo de entropia negativa nunca é perfeito. O organismo vive e cresce durante um período de tempo, mas está sujeito à deterioração e morte. A organização planejada, ou social, que pode continuar a importar novos componentes humanos e outros recursos de forma a continuar seu funcionamento, pode ser capaz de compensar indefinidamente o processo de entropia. Entretanto, a única maneira pela qual a organização pode compensar a entropia é através da contínua importação de material, energia e informação de uma forma ou de outra, transformando-os e redistribuindo recursos para o meio ambiente. • Homeostase: é o oposto da entropia. No organismo humano, o processo homeostático faz-se presente, automaticamente, sempre que há um distúrbio no sistema. Assim, sempre que um fator de perturbação (doença) atinge o sistema, o organismo tende a gerar anticorpos, de forma a reequilibrar o sistema. Nas organizações, entretanto, o processo homeostático não apresenta o mesmo caráter: ele não é automático. É preciso que a organização crie dispositivos corretivos para o reequilíbrio. Isso significa que é necessária uma ação direta e consciente de parte dos executivos sempre que algo não está de acordo com o previsto. • Decomposição do sistema em subsistema: Os elementos constituintes de determinado sistema podem considerar-se como subsistemas, cujos elementos, por sua vez, podem ser subsistemas de ordem inferior. Assim, a empresa considerada como sistema é composta de vários subsistemas — os departamentos —, que por sua vez são compostos de outros subsistemas — as seções — e assim por diante. Em consequência, há uma hierarquia dos componentes no sistema. As grandes organizações são quase sempre hierárquicas em sua estrutura. As pessoas são organizadas em grupo, os grupos são organizados em departamentos, os quais são organizados em divisões, que por sua vez são organizadas em companhias, que fazem parte de uma indústria e de uma economia. Muitos autores ligados ao estudo dos sistemas gerais concluem que essa relação hierárquica é predominante em todos os tipos de sistemas. Em termos esquemáticos, podemos representar os componentes e características de um sistema conforme a Figura 3. Figura 3: A empresa como sistema 8 A teoria dos sistemas e a administração Você viu que até agora as teorias administrativas e organizacionais estudadas focam os aspectos internos da organização. Nenhuma delas observa as relações que a organização estabelece com o contexto no qual se insere nem a influência desse contexto em seu desempenho. Em função disso, essas teorias esperavam que, com a melhoria dos processos internos, a organização tivesse sucesso. Todas as teorias que analisamos têm uma visão simplificada acerca da organização. Elas não conseguem perceber a complexidade e o pluralismo que podem existir no interior da organização nem em sua relação com o exterior. Geralmente, seu foco de análise recai apenas em um aspecto da organização,como a motivação de seus empregados, por exemplo, e não leva em conta outras considerações mais complexas e interligadas. A teoria dos sistemas enxerga a organização de uma forma mais complexa e contribui para abrir as visões interna e externa que se tinha dela. Essa abordagem entende a organização como um sistema unificado e direcionado, constituído por partes (ou sistemas) inter-relacionadas. Assim, a organização é vista como um todo composto por partes, cujas atividades afetam a atividade de toda a organização. Ao mesmo tempo, a organização é considerada uma parte de um sistema maior, que é o ambiente externo que a envolve. É um sistema aberto, dependente dos insumos do contexto no qual se insere (matérias-primas, recursos humanos, capital, informação etc.) e ao qual oferece seus produtos ou serviços. Desse ponto de vista, a organização é um conjunto de elementos que forma um todo unitário ou complexo, que interage de forma dinâmica com seu ambiente. Vale destacar que um sistema organizacional rígido e fechado não poderá sobreviver na medida em que não conseguir responder eficazmente às mudanças contínuas e rápidas do ambiente. O sistema fechado tende a se concentrar em regras de funcionamento interno, a reverenciar o controle como critério primeiro da viabilidade organizacional e, por conseguinte, na ênfase em procedimentos e não em programas. O sistema fechado foi uma realidade até a chegada da abordagem estruturalista, que advertiu para a ampla necessidade de pensar as organizações de forma aberta, em constante relação com o ambiente. A abordagem que agora apresentamos afastou de vez as análises exclusivamente para dentro das organizações. O fim da década de 60 do século passado é um extraordinário marco no estudo das organizações em boa parte do mundo ocidental. A organização na teoria dos sistemas Entendeu todos os conceitos? Vamos então examinar a organização com base neles. Já dissemos que, nas teorias anteriores, os subsistemas organizacionais eram analisados separadamente. A administração científica enfocava os processos de trabalho, enquanto as teorias de motivação e liderança lidavam com o subsistema psicossocial. Na verdade, cada uma dessas teorias trouxe importantes contribuições em termos de partes da organização, perdendo de vista seu funcionamento holístico. Para a teoria dos sistemas, a organização é um sistema complexo, composto por diversos subsistemas em contínua sinergia. Subsistemas de natureza técnica, estrutural, psicossocial, valorativa etc. interagem e compõem a organização. Essa perspectiva ajuda a integrar as diversas abordagens de administração que já estudamos. E qual o trabalho do administrador nessa nova concepção? O administrador tem a função de coordenar todas as partes da organização de modo a alcançar os objetivos organizacionais. É importante que ele monitore as atividades de forma a ter feedback para manter a homeostase da organização. A teoria dos sistemas também ajuda a compreender a organização em uma contínua relação com o ambiente em que está inserida. Não pense que as organizações são autossuficientes. Veja, é vital para elas que haja fluxos de entrada e saída. Os insumos dos quais precisam estão no ambiente, e os resultados produzidos vão para fora de suas fronteiras. Os diversos elementos que fazem parte do sistema da organização ou o representam (acionistas, fornecedores, consumidores, comunidades locais, agências reguladoras e outros) devem ser observados e analisados. Uma rede de relacionamentos contribui bastante para uma organização atingir seus objetivos. 9 Abordagem sistêmica hoje Como visto, a abordagem sistêmica chama a atenção para a influência definitiva do ambiente externo nos processos organizacionais. Se você, porém, ainda não acredita nesta hipótese, reflita acerca de momentos lastimáveis, como calamidades, catástrofes que vivenciamos com alguma frequência - terremotos, miséria extrema, guerras, terrorismo, epidemias e violências mundo afora e de toda ordem - e através do texto a seguir: "A teoria de sistemas chama a atenção para a natureza dinâmica e interrelacionada das organizações e da tarefa de administrar. Com isso, proporciona um arcabouço com o qual podemos planejar ações e prever tanto as consequências imediatas quanto as de longo alcance, ao mesmo tempo em que nos permite compreender as consequências não-previstas à medida que elas vão aparecendo. Com uma perspectiva sistêmica, os gerentes gerais podem manter mais facilmente um equilíbrio entre as necessidades das várias partes da empresa e as necessidades e metas da firma como um todo". Imagine, então, que você possui um pequeno bar nas dependências frontais de sua casa. Afinal de contas, toda organização tende à morte (entropia) e com seu negócio não é diferente. Basta pensar que vivemos num mundo globalizado e hoje pequeno, e se o mercado se movimenta não temos como não participar ou, no mínimo, estar envolvidos de uma forma ou de outra. É como uma grande onda: se não a pegamos, nos afogamos e o pior pode acontecer... De forma mais clara e objetiva, digamos que nesse seu pequeno empreendimento há venda de cerveja que é importada para o Brasil. Claro que você não é um importador mas compra de grandes atacadistas ou pequenos distribuidores, estes sim têm o contato direto (ou quase) com a importação, mas você possui um contato indireto, e por causa de uma calamidade, há necessidade cada vez maior de capital para investir. Desta forma, cria-se um grande gap (lacuna) entre os recursos que entram e os que saem do(s) país (es) envolvido (s) direta ou indiretamente. Portanto, toda essa movimentação pode ocasionar aumento no custo e em seu preço final da cerveja, a fim de que mais recursos sejam captados e investidos nesse evento calamitoso. Contudo, os atacadistas e distribuidores (seus fornece- dores, que mantêm contato direto com o país em estado calamitoso) serão obrigados a repassar esse aumento de preço, ou deixar de vender tal produto, se for o caso. Você precisa decidir o mesmo - prova de que episódios promovidos pelo ser humano de forma odiosa, catástrofes e, em nosso exemplo, calamidades, influenciam sua empresa independentemente de seu porte. Fica claro, portanto, que a abordagem sistêmica "integra as funções universais da administração, a abordagem das funções do administrador e o planejamento estratégico, levando em conta fatores externos". Existem autores que defendem a abordagem como essencial para a sobrevivência dos negócios. No Brasil, é considerável o número de organizações que vivem "sacando sobre o passado", e, por terem alcançado realizações de vulto, por oferecerem respostas importantes para o ambiente em determinado momento, acomodam-se e passam a viver do passado. A abordagem sistêmica, derivada da abordagem dos sistemas abertos, tem valor excepcional nos dias de hoje. É bastante atual e qualquer texto relativo à abordagem pode ser lido, mesmo que tenha sido editado no final dos anos 60 do século passado. Não pode existir uma empresa saudável que não tenha cuidados redobrados com o ambiente onde atua, com as constantes incertezas, turbulências e pequenas ou grandes alterações na ação de seus principais stakeholders (pessoas, investidores, acionistas, governo, empresas ou instituições públicas, em geral com algum interesse na empresa) e mais seus consumidores atuais e potenciais. Entende que empresas selecionam as variáveis ambientais que interessam à estrutura da organização. Também podemos entender que há contingências ambientais criadas ou fomentadas por uma organização com o propósito de obter alguma vantagem competitiva. Assim, ela não agiria - ou reagiria - em cima de contingências não controladas,que é o que pregam os favoráveis a essa corrente de estudo, mas agiria conforme as contingências não controladas por ela e conforme contingências que ela, empresa, "controlaria", se é que assim poderíamos melhor explicar tais ações. 10 Contudo, acreditamos que pode existir uma tendência de rotular de pós-contingenciais variações da abordagem contingencial, mas ainda prevalece o argumento que dá relevância excepcional ao ambiente, que exige cautelas extremas no estamento superior das organizações. De forma geral, algumas críticas gerais do Movimento Estruturalista Sistêmico são a formulação teórica abstrata da organização, pouca atenção às ciências do comportamento e o perigo do uso acrítico das analogias. Koontz critica o Movimento dizendo que na verdade não se trata de uma nova teoria aplicada à administração, mas um método de estudo. Os principais autores de influência estruturalista são Robert K. Merton, Philip Selznick, Alvin W. Gouldner, Michel Blau e Amitai Etzioni. Os autores sistêmicos na administração são Eric L. Trist, Rensis Likert, Robert L. Kahn, Daniel Katz, James E. Rosenzweig e Fremont E. Kast. Escolas do Movimento Estruturalista Sistêmico Escola Comportamental. Os autores dessa Escola são Abraham Maslow, Douglas McGregor e Frederick Herzberg. Essa Escola advém da Escola de Relações Humanas. Ela busca uma adaptação das necessidades e aspirações dos seres humanos junto às metas e exigências da organização. Maslow apresenta a teoria da motivação humana com uma pirâmide dividida em uma hierarquia das necessi- dades humanas, constituindo-se em um grande marco comportamental. McGregor apresenta as teorias XeY, que são um conjunto de pressupostos relativos à natureza humana.27 Escola da Racionalidade Limitada. Tem como autores Herbert Simon, James March e Richard Cyert. Simon apresenta a noção de racionalidade limitada, em que os indivíduos não têm um comportamento racional objetivo, tendo limites para desenvolver seus pensamentos. A partir do momento em que as limitações são removidas, a organização tende a ser mais eficiente. O autor aponta também que estímulos externos, como fatores interpessoais, podem influenciar o indivíduo e seu comportamento. Essa Escola prega que o processo de tomada de decisão não inclui uma análise sistemática dos processos interpessoais e que as empresas buscam alcançar resultados satisfatórios ao invés de maximizar. Escola Matemática da Administração. Tem autores como John F. Magee, David W. Miller, Martin K. Star e Elwood S. Buffa. Deriva da Escola da Administração Científica. A utilização dessa Escola para a resolução de problemas administrativos é conhecida como Pesquisa Operacional (PO). Os temas mais tratados são operações, serviços, estratégia das operações, tecnologia, processo decisório, decisões programáveis e computador. A Escola Matemática da Administração é uma teoria da decisão aplicada. Sendo assim, utiliza a matemática e a lógica para resolução de problemas que acontecem quando o executivo procura uma solução lógica ou um raciocínio eficaz para tomar a sua decisão. Escola do Processo Administrativo. Tem autores como Harold Koontz, William H. Newman e Peter F. Drucker. Surge a partir dos pensamentos da Escola Clássica da Administração como crítica à Escola Matemática da Administração pelo fato de ser uma abordagem "matemática, objetiva, quantificativa e reducionista".4 Koontz popularizou as funções gerenciais nesse período. Drucker também foi outro importante autor dessa escola com contribuições sobre a prática administrativa. Ele também foi responsável pelo conceito de Administração por Objetivos (APO), em que a organização deve ser guiada por objetivos de desempenho. 11 MOVIMENTO DA CONTINGÊNCIA O Movimento da Contingência tem ideias predominantes no período entre 1965 e 1980 nos Estados Unidos. A principal diferença com as ideias administrativas do Movimento anterior são que não existe apenas uma teoria organizacional que se aplique a qualquer tipo de organização social. O contexto histórico de surgimento é o acontecimento da 3â Revolução Industrial (microeletrônica), que afetou a produção e a informação, mudança na estrutura de trabalho, como a rotação de funções da IBM e os grupos semiautônomos na Volvo, crises do petróleo em 1973 e 1979, que afetaram a indústria mundial, bons resultados da indústria japonesa, mudança na formação e expectativa da mão de obra e inúmeros protestos da década de 1960. O trabalho da pesquisadora britânica Joan Woodward é considerado o primeiro enfoque da Contingência. A partir de seus estudos foi possível classificar as organizações pela complexidade da tecnologia utilizada na produção de bens e verificou-se como isso influenciava a estrutura organizacional. A sua classificação variava de menos complexa para mais avançada com: l) sistema de produção unitária (em pequena quantidade com personalização); 2) produção em massa; e 3) produção de processo contínuo (indústria química). Como conclusão, Woodward chegou a dois tipos de definição sobre a autoridade. O primeiro grupo, que contempla os tipos de empresa 1 e 3, delega mais autoridade, coloca menos ênfase na descrição do trabalho, é mais flexível com a descrição do trabalho e tem equipes mais frouxamente organizadas. Assim apresenta mais flexibilidade organizacional. O segundo grupo, que contempla apenas o tipo 2 de empresa, tende a usar o tipo "chefia e assessoria", supervisão mais rigorosa do pessoal, técnicas de controle mais elaboradas e comunicação mais formal e padronizada.27 Portanto, a autora afirma que não há uma melhor maneira de se administrar. Os trabalhos de Burns e Stalker afirmaram que a escolha da estrutura organizacional depende da situação do ambiente. O ambiente varia dos extremos de estabilidade até turbulência, com a estrutura variando da forma mecânica até a forma orgânica. Assim, o ambiente estável favorece a estrutura mecânica (rígida) e o ambiente turbulento favorece a estrutura orgânica (flexível). O modelo mecânico apresenta uma divisão administrativa com desenho rígido da tarefa, uma hierarquia clara de controle, valorização da comunicação vertical e reforço dos controles burocráticos. Já o modelo orgânico apresenta um ajuste contínuo e redefinições de tarefas, ambiente voltado para inovações e criatividade, administração descentralizada com relações informais e possibilidade de interações e comunicações a qualquer nível. Lawrence e Lorsch demonstraram que as diferenças internas das empresas estavam relacionadas com diferenças nos ambientes. A estrutura dependia de fatores ambientais, tais como: mudança das condições ambientais, certeza da informação disponível e feedback dos resultados das decisões tomadas. Descobriram que as empresas mais bem-sucedidas se adaptavam ao ambiente imediato. As empresas utilizavam uma estrutura compatível com o ambiente em busca do sucesso. Aparece a proposição se-então. Se o ambiente é turbulento, então a solução mais eficaz é uma estrutura flexível. E se o ambiente é estável, a solução mais eficaz é uma estrutura rígida. Críticas ao movimento são que alguns autores levam ao extremo a influência do ambiente, com determinação ambiental nas práticas administrativas, ocasionando que não há escolha e o papel do administrador é passivo ao ambiente. Assim, obscureceu a constatação das relações interorganizacionais, ou seja, as influências que uma organização exerce sobre a outra. Escolas do Movimento da Contingência Escola do Desenvolvimento Organizacional. Tem como autores: Chris Ar-gyris, Danei Katz, Robert L. Kahn e Keith Davis. É uma atualização dos pensamentos da Escola Comportamental. Essa escola,ao ser conceituada, trabalha com três eixos: l) estratégia educacional, 2) mudança planejada e 3) comportamento baseado na experiência. Katz e Kahn abordam o conceito de equilíbrio dinâmico ao pensar em novos tipos de estabilidade que atendam à necessidade de mudança. 12 Escola dos Processos de Decisão. Tem como autores Herbert Simon, James March e Victor Vroom. Essa escola aparece como atualização da Escola da Racionalidade Limitada. Assim, atualiza o pensamento sobre as condições organizacionais e sociais do processo decisório. Agora se entende que as pessoas se distanciam e têm autonomia com relação às atitudes, normas e valores pelas experiências já vividas, apesar de terem sido afetadas por fatores afetivos e inconscientes do processo de socialização. Escola do Sistema de Produção (Tecnologia). Tem como autores principais Joan Woodward, Paul Lawrence eJayLorsch e Tom Burns e George M. Stalker. Surge a partir dos pensamentos da Escola Matemática da Administração. Essa escola estuda as consequências para as estruturas organizacionais do uso de certa tecnologia. Além disso, a escola mostra que não há uma melhor maneira de se administrar. Assim, dependendo do tipo de objetivo e de ambiente, é feita a escolha de uma organização mais adequada. Outro ponto da Escola do Sistema de Produção é que existe mais de uma maneira de se atingir um objetivo proposto. Escola do Planejamento Estratégico. Os autores dessa corrente de pensamento são Alfred D. Chandler, Igor AnsoíFe Keneth Andrews. Essa escola surge como atualização da Escola do Processo Administrativo. Sua característica é entender a estratégia como processo deliberado, realizado pela alta administração, que visa o posicionamento da organização. Chandler aborda como elementos-chave os objetivos de longo prazo e os cursos de ação. Ansoff disseca acerca de utilização de recursos empresariais, objetivos, cursos e programa de ação. Por fim, Andrews trabalha sobre padrões de decisões, metas, políticas e planos. 13 Abordagem contingencial hoje Ao estudar a abordagem contingencial e alguma visão pós-contingencial que comentamos, percebe-se que suas características marcantes são a diferenciação e a integração, também conhecidas por modelo diferenciação-integração. Em outras palavras, percebe-se a importância do ambiente externo no momento em que este gera transformações intra-organizacionais, ao mesmo tempo em que se percebe a dificuldade de chegar a um equilíbrio nesses conceitos que são antagônicos. Na verdade, essa abordagem acredita que quem dirige a organização é o ambiente, e é complicado ignorar sua existência ou apenas ter consciência de sua preponderância sobre a organização. Note que se pode fazer julgamento de valor entre as diversas abordagens estudadas, pois não há abordagem certa ou abordagem errada. O que pode acontecer é existirem abordagens que sejam mais adequadas a cada tipo de realidade organizacional. Em exemplos práticos, é difícil imaginar um bar que funcione ignorando qualquer acontecimento do ambiente em que está inserido, como crescente insegurança, uma guerra ou uma epidemia, por exemplo. Isso ocorre porque durante picos de insegurança é comum que as pessoas não saiam de casa a não ser para trabalhar, de forma que o dono do bar, que pode ser você, deve verificar essa realidade e buscar formas alternativas de trabalhar sua clientela. Você precisa descobrir o que as pessoas buscam quando vão a seu estabelecimento, o que pode gerar uma mudança radical em seu negócio. Assim, a única forma de descobrir tal necessidade do ambiente acaba forçando sua organização a criar um setor de pesquisa ou mesmo segmentar o já existente (diferenciação) para que se gere um vínculo com o mercado. Porém, os objetivos organizacionais não podem ser esquecidos (busca pela integração). No entanto, se você não entende nada de bar, pense na influência dos fatores ambientais nas organizações. Pense por exemplo em regiões extremas do Brasil (foco desta obra) como o Norte (clima predominante: quente) e o Sul (clima predominante: frio). Imagine agora uma fábrica de cobertores que simplesmente fabrica seu produto e distribui sem se preocupar com o clima predominante na região a ser comercializada. Neste caso, é bem provável que haja encalhes de cobertores no Norte e escassez no Sul, o que gera perda de vendas e aumento no custo dos estoques para o (a) empresário (a). Que tal, então, distribuir maior quantidade no Sul do que no Norte? Talvez esta seja a solução, mas para saber isso foi preciso ter conhecimento do clima regional, o que prova a premissa de que é o ambiente externo quem dirige a organização. A historinha é bem simples e difícil de acontecer, por ser tão simples e de procedimentos organizacionais, mas acontece. 14 CONCLUSÕES A história da administração revela diversas maneiras de administrar as organizações que, diferentemente do que se pensava há algumas décadas, não são antagônicas, mas complementares. O conhecimento dessas várias abordagens funciona como aprendizado e ensina os administradores. As abordagens das chamadas teorias originadas do pensamento administrativo chegaram até nossos dias com algumas características interessantes: 1. o movimento inicial permanece passados mais de 100 anos. Não podemos negar a presença em nossos diversos "Brasis", porque temos um país de dimensões continentais e o Brasil do Rio Grande do Sul é um e o do Rio Grande do Norte é outro. E ambos diferentes do Brasil do Centro-Oeste, e por aí vai. O taylorismo foi o movimento que marcou o início efetivo da administração tentativamente científica. Como o taylorismo "falava de perto" em produção, esteve e está mais presente do que a abrangência da proposta fayolista. Em certo sentido, o estudo de Fayol teria sido muito mais importante do que o de Taylor, mas prevaleceu o foco na zona de produtividade e, ainda hoje, temos algumas convicções da escola clássica, como a de se pagar mais a quem produzir mais, pois esse é o único caminho para a satisfação do operariado. Produzindo mais e ganhando mais, o operário seguirá com tranquilidade sua trajetória profissional; 2. o movimento das relações humanas foi revolucionário... para a época. Havia um clamor público contra os favoráveis à administração científica de Taylor e seguidores e os pesquisadores e cientistas sociais, em geral, buscavam meios e modos de reformular, de alterar ou mesmo eliminar a dureza dos procedimentos da área produtiva. Foi revolucionário na época, mas deixou marcas importantes e dali partiram, por exemplo, os primeiros estudos de liderança, hoje, reconhecidamente, um aspecto diferenciador em empresas que buscam crescimento em suas competências essenciais. E fácil afirmar e comprovar a existência de uma literatura expressiva voltada quase exclusivamente para o compor- tamento humano até os anos 70, ou seja, a abordagem das relações humanas frutificou por mais de 50 anos com publicações de excelente nível e bastante compreensão sobre a natureza humana nas organizações. Ainda hoje há obras importantes e não será difícil, por sua quantidade e qualidade, encontrar o que se deseja em bibliotecas ou mesmo sites da Internet; 3. o estruturalismo foi um movimento com o mérito de alertar os estudiosos para a convergência possível entre o movimento clássico e o movimento revolucionário das relações humanas. A partir de Amitai Etzioni, criador da abordagem, a literatura pouco alterou a trajetória traçada por seu criador e avançou para o movimento que a seguir comentamos. A inclusão de igrejas, prisões, hospitais nos estudos científicos passou de mero esforço de alguns para um incremento expressivo em publicaçõesde toda ordem: livros, artigos e revistas especializadas. No Brasil, escolas que só tinham o compromisso de oferecer aulas de administração para administradores passaram a oferecer aulas para os mais variados públicos e não apenas para os que tinham alguma formação em administração ou eram gerentes, chefes, supervisores. Nos dias de hoje, temos um número incalculável de cursos para médicos, químicos, engenheiros, economistas, para citar algumas profissões. Seria inimaginável, algum tempo atrás, olhar os jornais e ver anúncios de cursos de administração customizados para esses profissionais; 4. a abordagem de sistemas abertos abriu um leque excepcional para qualquer tipo de organização no Brasil. Os idealizadores da abordagem foram muito bem-sucedidos na obra que originou esse movimento que permanece inteiro e reconhecido em todo o mundo ocidental. O livro Psicologia social das organizações, de Robert Katz e Daniel Kahn, abriu um novo mundo de análise e compreensão do todo organizacional com a inclusão das organizações como parte integrante do sis- tema social e não apenas como empresas que buscam lucros em determinado segmento da sociedade. Você já sabe que é impossível dissociar organização de ambiente, graças à contribuição dos dois psicólogos no final da década de 70 do século passado; e 5. finalmente, o movimento da abordagem contingencial, mais recente e presente em nossos dias, permitiu-nos compreender que há vários caminhos para o alcance da excelência nos negócios e não 15 apenas um único, como ocorria nos estudos anteriores. O argumento era apoiado no ambiente e nas turbulências, pouco frequentes nas sociedades estáveis, mas frequentes nas sociedades emergentes, como a nossa sociedade é identificada mundo afora. Portanto, as contingências, quase sempre não controladas, é que servem de entrada para o processamento e saídas para o ambiente e não um plano, com complexidades ou não, elaborado por profissionais de alto nível mas que não considere a influência determinística das circunstâncias originadas do ambiente. Houve um movimento que esteve por se transformar em outra abordagem, mas passou a ser considerado apenas como integrante da abordagem contingencial. Trata-se do movimento de alguns autores no sentido de qualificar a pós-contingência, sendo o pós-originado do eventual controle por parte de organizações que poderiam mesmo criar contingências ambientais, mas sob seu controle. Em curtas palavras, a pós-contingência derivaria de turbulências ambientais provocadas e controladas por uma ou mais organizações. Ou seja, seria contingencial para muitas organizações, mas não para os provocadores da situação contingencial. As pessoas que futuramente irão desenvolver ações empreendedoras ou como empresárias, ou ainda atuar em consultorias ou nas funções executivas típicas têm diante de si um número significativo de contribuições à prática nas organizações. O importante é considerar todas as abordagens (incluindo as contemporâneas, que veremos a seguir) e compará-las, compulsá-las. É certo que o executivo e o consultor são os que devem desenvolver tais estudos, cabendo aos empreendedores, empresários, decidir. A decisão, para ser adequadamente tomada, deve estar alicerçada em conhecimento e não apenas em intuições. A intuição ajuda, mas depende de nosso estoque de conhecimento e de experiência. E aqui surge a figura feminina raramente considerada pela maioria esmagadora dos pensadores da administração. Fato que é apenas razoavelmente justificado na primeira abordagem, quando a mulher não tinha conquistado os direitos naturais de um ser humano até a segunda ou terceira década do século XX. Contudo, os muitos movimentos, principalmente o Movimento das Relações Humanas, produziram notáveis estudiosas do sexo feminino. Podemos citar Mary Parker Follet como belo exemplo e, mais modernamente, Joan Woodward. É sabido que a intuição feminina é mais aguçada do que a intuição masculina. Essa característica termina por diferenciar os sexos, mas é pouco explorada na literatura que fala de teorizações e utilização de técnicas gerenciais modernas. Para a maioria dos autores só existe o executivo, o consultor, o empreendedor, o empresário. O argumento que afirma que, por exemplo, o executivo é uma palavra que serve para ambos os sexos não resiste a um primeiro comentário: então, por que não a executiva como palavra determinante para ambos os sexos? Enfim, voltando aos empreendedores e empresários: mais e mais o conhecimento é considerado estratégico para o sucesso empresarial. Hoje já temos um número bastante expressivo de empresários - e mesmo empreendedores -, que se cercam de profissionais detentores do saber e, supostamente, em condições de enfrentar as incertezas de mercado e, por via de consequência, contornar dificuldades limitadoras de resultados operacionais mais favoráveis. É vital que empresários, sobretudo, reconheçam que hoje, mais do que num passado recente, saber o que acontece no mundo fora dos limites da empresa é atividade mandatória. É certo que estamos nos repetindo ao insistir nesse domínio quase pleno dos acontecimentos que podem ou não ser de interesse de uma empresa, mas é porque sabemos de empresários que permanecem com comportamentos difusos ou mesmo negativos quando executivos de sua empresa, por exemplo, solicitam inclusão em programas de educação continuada, tais como os conhecidos MBA à moda brasileira, ou mesmo programas de desenvolvimento de menor duração. Esses pedidos refletem a demanda por incorporação progressiva de conhecimento. A seguir serão brevemente mostradas as muitas abordagens contemporâneas, a rigor, uma exigência para os profissionais de hoje, não importando suas posições na estrutura organizacional e é, claramente, uma continuação das abordagens que vimos anteriormente. 16 MOVIMENTO CONTEMPORÂNEO As ideias desse movimento são predominantes no período entre 1980 e os dias de hoje nos Estados Unidos. As principais diferenças desse Movimento para o período anterior são de introduzir novos aspectos administrativos ao se pensar a administração com a qualidade, reestruturação e conhecimento. O contexto de surgimento desse movimento envolve o fim do mundo socialista liderado pela União Soviética, ideologia neoliberal do mundo capitalista de desregulamentação dos mercados, intensa e ampla aplicação da tecnologia com a microeletrônica e reestruturação dos mercados e das empresas. Também acontecem a globalização e a disseminação do uso da Internet. A primeira fase: qualidade total como filosofia administrativa. A qualidade total se iniciou com Kaoru Ishikawa, que percebeu que o controle de qualidade abrangia princípios de administração e tinha um forte elemento social e humano a ser considerado. Outros nomes importantes foram Deming, sobre técnicas de controle de qualidade, e Juran, sobre que o "controle de qualidade deveria ser uma ferramenta de administração e parte do processo produtivo" mais do que "simples questão de estatística e qualidade". Juran também repensou a metodologia e a forma de utilizar a qualidade, bem como estratégias de difusão de conhecimento nas organizações. A gestão da qualidade total é um comprometimento amplo da organização para infundir qualidade em toda atividade através do aperfeiçoamento contínuo. Dentre as técnicas utilizadas na gestão da qualidade total estão: círculos de qualidade; benchmarking; seis sigma; melhoria contínua.7 Assim, a qualidade total aparece como uma filosofia de gestão de uma organização, centrada na qualidade, com participação de todos os seus membros, visando ao sucesso do cliente e beneficiando os membros da organização e a sociedade. A segunda fase: reengenhariacomo filosofia administrativa. A reengenharia surge com os conceitos de Hammer e aparecem palavras-chave para seu entendimento: fundamental, ignorando o que existe e concentrando-se no que deveria existir (o que fazer); radical, desconsiderando todas as estruturas e procedimentos existentes e inventando formas completamente novas de realizar o trabalho (como fazer); drástica, realizando a destruição do antigo e a sua substituição por algo novo (quanto fazer); e orientada para processos e não para tarefas, serviços, pessoas ou estruturas (onde fazer). A reengenharia segundo Hammer e Champy é repensar e redesenhar os processos empresariais para gerar melhorias no desempenho. O termo processo implica em uma visão horizontal do negócio, envolvendo toda a organização. Além disso, as três forças que estão mudando a empresa são: os clientes assumindo a empresa, a concorrência se acirrando e a mudança se tornando constante. Além disso, a reengenharia está preocupada com os processos organizacionais, a melhoria do desempenho, a quebra de tradições e o uso de novas tecnologias da informação. A terceira fase: gestão do conhecimento como filosofia administrativa. Surge uma nova filosofia de administração com a valorização do capital intelectual como um ativo intangível capaz de proporcionar vantagem competitiva. Nesse momento em que o capital intelectual tem maior influência sobre o desempenho organizacional do que o capital financeiro, surgem conceitos relacionados à gestão do conhecimento e à aprendizagem organizacional. Os processos de obtenção, transferência, criação e uso de conhecimento são sistematizados buscando vantagem competitiva e melhores resultados organizacionais. Com mesmo intuito, as técnicas de aprendizagem passam a ser estudadas e praticadas dentro das organizações. Os principais autores da fase qualidade são W. Edwards Deming, Joseph M. Ju-ran, Kaoru Ishikawa, Armand V. Feienbaum e Genichi Taguchi. Da reengenharia, James Champy, Michael Hammer e Thomas H. Davenport. E da gestão do conhecimento são: Thomas Stewart, Peter Senge, Ikujiro Nonaka, Hirotaka Takeuchi. Escola do Comportamento Organizacional. Tem como principais autores: Karl E. Weick, Warren Bennis e John Kotter. Atualiza o pensamento da Escola do Desenvolvimento Organizacional. Essa escola assume o lado humano da liderança. Kotter traz a ideia de que o líder não pode agir sozinho, identificando três atividades do processo de liderança: estabelecer uma direção, alinhar as pessoas e 17 motivar e inspirar. Bennis trabalhou com o ponto de que a liderança é uma habilidade que pode ser aprendida e desenvolvida, chegando a quatro competências de que o gerente necessita: gerência da atenção, gerência do significado, gerência da confiança e gerência de si próprio. Escola da Aprendizagem Organizacional. Tem como autores Henry Mintzberg, Chris Argyris, Donald Schon e Peter Senge. Essa Escola é uma atualização da Escola dos Processos de Decisão. Estabelece o questionamento e a mudança dos padrões de ações e formas de comportamento nas organizações a fim de buscar a inovação. Argyris e Schon entendem que as pessoas agem de acordo com suas crenças e pressupostos, que podem ser modificados pela ação e pelo comportamento dessas pessoas, a partir da aprendizagem. Escola da Administração de Operações. Tem como autores Robert H. Hayes e Steven C. Wheelwright, W. Edwards Deming e Taiichi Ohno. Essa Escola atualiza a corrente de pensamento da Escola do Sistema de Produção (Tecnologia). A Escola da Administração de Operações se liga à administração científica, buscando eliminar erros do sistema. A corrente de pensamento tem grande influência também do modelo de recuperação econômica e industrial japonês no período pós-Segunda Guerra Mundial. A meta era a redução da variação por meio do aprimoramento contínuo (Kaizen), verificando o que escapava ao controle. Deming buscou eliminar erros do sistema com o interesse pela administração da qualidade. Aparece também o grande interesse pelo controle estatístico da qualidade. Escola da Administração Estratégica. Os principais autores são Robert S. Kaplan e David Norton, Michael Porter e C. K Prahalad e Gary Hamel. Atualiza a Escola do Planejamento Estratégico. Essa corrente de pensamento entende a estratégia com ações formuladas para a estabilidade à organização com equilíbrio entre forças internas e externas. A estratégia também estaria presente em todos os níveis organizacionais.2 Kaplan e Norton desenvolveram uma ferramenta para gestão estratégica, com quatro perspectivas (financeira, cliente, processos internos e inovação e aprendizado), denominada Balanced Scorecard (BSC). Porter desenvolveu o modelo de cinco forças, considerado o mais influente modelo analítico de estratégia. As cinco forças seriam fornecedores, novos entran-tes, compradores, substitutos e concorrentes. Por fim, Prahalad e Hamel trabalham a ideia de objetivo estratégico, assumindo uma visão; ao assumir essa visão, a organização deve despender esforços para atingir o objetivo preestabelecido.
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