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CONSTITUIÇÃO DO SER HUMANO GENÉTICA 2ª Avaliação sexta-feira, 5 de maio de 2017 Concordância Genética Aula 2 Quanto às características comportamentais dos seres humanos, elas podem estar no DNA? Para tentar responder a essa questão, alguns pesquisadores compararam pares de gêmeos idênticos e diferentes. Os gêmeos monozigóticos, popularmente chamados de idênticos, foram formados a partir de um único óvulo fecundado por um único espermatozoide. Nesse caso, os gêmeos foram formados a partir de uma única célula e, por isso, apresentam as mesmas informações genéticas. Já os gêmeos não idênticos, ou dizigóticos, foram formados a partir de células diferentes. Um óvulo fecundado por um espermatozoide dá origem a um dos irmãos, enquanto outro óvulo fecundado por outro espermatozoide dá origem ao outro irmão. Dessa forma, eles não possuem as mesmas informações em seu material genético, embora possam compartilhar várias delas pelo fato de serem filhos do mesmo pai e da mesma mãe. CONCORDÂNCIA GENÉTICA "1 CONSTITUIÇÃO DO SER HUMANO GENÉTICA As diferenças e semelhanças existentes entre os gêmeos dizigóticos são da mesma ordem de grandeza das que observamos entre irmãos que não são gêmeos. A única diferença é que nasceram na mesma data e conviveram, durante a gestação, dentro do mesmo útero. Uma das maneiras encontradas pelos pesquisadores para investigar se uma característica de interesse está ou não no DNA da espécie é avaliar a ocorrência dessa característica entre irmãos gêmeos monozigóticos e dizigóticos. Para analisar, por exemplo, as bases genéticas do tipo sanguíneo Rh, os pesquisadores determinam se o sangue de um dos irmãos é positivo ou negativo. Depois disso, se o outro irmão também tiver seu sangue determinado como do mesmo tipo, dizemos que essa característica apresenta concordância no par de gêmeos. Nesse caso, como o fator Rh apresenta determinação exclusivamente genética, podemos esperar que ocorra uma concordância de 100% entre os gêmeos monozigóticos e uma frequência inferior de concordância entre os gêmeos dizigóticos (de aproximadamente 65%). Dessa forma, sempre que um dos irmãos monozigóticos tiver sangue Rh positivo, o outro gêmeo do par também terá. Quando compararmos os gêmeos dizigóticos, eles podem ou não apresentar o mesmo tipo sanguíneo. Quando uma características é exclusivamente determinada pelos genes, os gêmeos monozigóticos sempre serão concordantes nessa característica, dado que compartilham as mesmas informações genéticas. Já os gêmeos dizigóticos, por serem filhos dos mesmos pais, possuem muitas semelhanças em seu DNA, mas também muitas diferenças. Por esse motivo, podem ser encontrados casos de concordância da característica, mas sempre em um frequência bem inferior à 100%. Em um estudo realizado com pessoas que apresentam alterações de humor com alternância de episódios de depressão e mania, o chamado transtorno afetivo bipolar, foram analisados 123 pares de gêmeos. Entre os monozigóticos, em 79% dos casos, quando um dos irmãos apresentava o transtorno bipolar, o outro também apresentava essa característica. Já no caso de um par de irmãos gêmeos dizigóticos, quando um deles apresentava o transtorno bipolar, o outro também apresentava em 19% dos casos. Esse resultado sugere fortemente que o transtorno afetivo bipolar tem uma base genética, mas não é determinado exclusivamente pelos genes. O fato de que a concordância entre os gêmeos monozigóticos não é de 100%, como no caso dos grupos sanguíneos, indica que existem outros fatores - chamados de ambientais - na determinação dessa característica. Comparando o cérebro dos portadores do transtorno bipolar com o cérebro de indivíduos com outras doenças psiquiátricas, os pesquisadores verificaram que alguns genes estão com a atividade alterada. TGF-B1, CASP8, ERBB2, PRKACA, PRKCB, MAPK1, DNAJB1 são os nomes de alguns dos genes identificados. A maior parte desses genes tem como função "ensinar" as células do cérebro a produzir proteínas relacionadas à comunicação com outras células. CONCORDÂNCIA GENÉTICA "2 CONSTITUIÇÃO DO SER HUMANO GENÉTICA Ainda assim, esses genes não apresentam um padrão de funcionamento característico e uniforme dentre os pacientes. Essa diversidade pode estar relacionada à variação da frequência e da intensidade dos quadros de depressão e mania ou aos fatores ambientais (nutricionais, escolares, familiares, sociais etc.). O transtorno afetivo bipolar é, dessa forma, determinado por um mecanismo multifatorial, ou seja, resultante da interação entre diversos fatores ambientais e genéticos. Dessa forma, é possível afirmar que o transtorno afetivo bipolar também está no DNA. Como o DNA pode determinar as características dos seres vivos? Uma característica determinada por um gene O DNA é uma molécula encontrada nas células de todos os seres vivos. Ela passa de uma geração para outra com as informações que determinam as características das espécies. Por exemplo, o seu tipo sanguíneo pode ser Rh positivo ou Rh negativo. Essa característica, o tipo sanguíneo, é determinada por um trecho do seu DNA conhecido como gene. Todas as células do seu corpo possuem esse mesmo gene. Contudo, apenas as células que irão gerar os componentes do sangue utilizam esse trecho específico do DNA para construir proteínas. O gene seria a receita utilizada pela célula na produção de proteínas. Se a receita que suas células possuem ensina a célula a construir uma proteína Rh, dizemos que você é Rh positivo. Se a receita que você possui não ensina a célula a construir essa proteína, dizemos que você é Rh negativo. Dessa forma, podemos dizer que o tipo sanguíneo é uma característica genética, ou seja, é determinada por um gene. Por isso, é possível afirmar que o tipo sanguíneo está no DNA. Uma característica determinada por dois genes Algumas características são genéticas, mas não são determinadas por um único gene. Por exemplo, a cor da pelagem dos cães labradores é determinada por dois genes. Dessa forma, dois CONCORDÂNCIA GENÉTICA "3 CONSTITUIÇÃO DO SER HUMANO GENÉTICA trechos diferentes do DNA são utilizados pelas células para a construção de proteínas que resultam nessa característica. Um desses genes determina o tipo de pigmento que a célula produzirá: eumelanina ou feomelanina. O outro gene determina se esses pigmentos serão depositados nos pelos dos animais. Dessa forma, ao observarmos um labrador com pelagem preta, podemos concluir que ele possui um trecho do DNA que faz com que a célula produza eumelanina e um outro trecho que ensina a célula a depositar esse pigmento nos pelos do animal. Já um labrador chocolate possui um trecho de DNA que faz com que a célula produza feomelanina e outro trecho que ensina a célula a depositar esse pigmento nos pelos do animal. Os labradores amarelos podem ter a receita para a feomelanina ou para a eumelanina, mas o que os torna amarelos é possuir a receita que impede a deposição do pigmento, seja ele qual for, nos pelos dos animais. A coloração dos pelos dos labradores é uma característica genética, pois é determinada por genes. Contudo, essa característica não é determinada por um único gene. Ainda assim, podemos afirmar que a cor do labrador está no DNA. Uma característica determinada por vários genes Outras características dos seres vivos são determinadas por um conjunto de genes em interação com fatores ambientais. Esse é o caso, por exemplo, da produtividade de frutos do tomateiro. Enquanto um gene ensina a célula a produzir maiores quantidades de vitamina E, outro trecho de DNA serve de receita para a célula produzir proteínas que transportam o açúcar das folhas para os frutos. Além desses e de outros genes, a produtividade do tomateirotambém é afetada por fatores ambientais, como a quantidade de luz, água e nutrientes disponíveis para a planta. Então, a produtividade de um tomateiro é multifatorial, pois é determinada geneticamente, mas também é afetada pelas condições ambientais. Dessa forma, podemos afirmar que a produtividade do tomateiro também está no DNA. CONCORDÂNCIA GENÉTICA "4 CONSTITUIÇÃO DO SER HUMANO GENÉTICA O gene gay Muitos estudos buscam identificar se a orientação sexual de uma pessoa é determinada por seus genes. Essa característica é extremamente complexa, pois um indivíduo pode sentir atração por pessoas do sexo oposto, enquanto outra pessoa pode sentir atração por pessoas do mesmo sexo por toda a sua vida. Para essas pessoas, é comum utilizarmos os termos "heterossexual" e "homossexual". O termo "bissexual" seria utilizado para pessoas que sentem atração por indivíduos do mesmo sexo e do sexo oposto. Ainda assim, essas três categorias não parecem suficientes para abarcar toda a diversidade de orientações sexuais existente, pois elas não levam em consideração a forma pela qual cada pessoa se identifica. Nem todas as pessoas que, ao nascerem, foram reconhecidas como mulheres se identificam com o gênero feminino. Da mesma forma, nem todos os que foram reconhecidos como homens se identificam com o gênero masculino. Quando consideramos o gênero nessa classificação, a diversidade de combinações possíveis aumenta ainda mais. De qualquer forma, as pesquisas existentes sobre a determinação genética da orientação sexual trazem informações interessantes, mesmo que seja utilizada apenas a classificação simplificada das pessoas em heterossexuais e homossexuais. Em um estudo realizado nos EUA com 756 pares de gêmeos do mesmo sexo, os pesquisadores identificaram que a concordância era de 32% entre os gêmeos monozigóticos e de 13% entre os dizigóticos. Entre os gêmeos monozigóticos, ou seja, os que possuem o mesmo material genético, a cada 100 pares de irmãos entrevistados, quando um afirmava que era homossexual, o outro afirmava que também o era em 32 dos casos. Dentre os gêmeos dizigóticos, ou seja, os que não possuem o material genético idêntico, a cada 100 pares de irmãos entrevistados, quando um afirmava que era homossexual, o outro afirmava que também era em 13 dos casos. Essa diferença sugere que irmãos que compartilham o mesmo material genético apresentam uma probabilidade maior de se reconhecerem com a mesma orientação homossexual. Contudo, essa característica não é determinada exclusivamente pelo DNA, pois se assim fosse, todos os pares de gêmeos monozigóticos apresentariam concordância quanto à orientação sexual. O fato de que há discordância entre parte dos gêmeos monozigóticos indica que também há outros fatores que definem a orientação sexual. Esse tipo de estudo não permite concluir que existe um único gene da orientação sexual, nem mesmo dois... mas sugere que existem elementos no material genético que, em conjunto com o ambiente, podem determinar a orientação sexual da pessoa. Por esse motivo, podemos dizer que sentir atração por pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto está no DNA. CONCORDÂNCIA GENÉTICA "5 CONSTITUIÇÃO DO SER HUMANO GENÉTICA Um pai inteligente vai gerar um filho inteligente? Estudos que buscam identificar se há uma base genética para certos tipos de deficiência mental têm revelado que há muitos genes cuja alteração pode levar à problemas cognitivos. Esses problemas podem ter outros tipos de causas genéticas, como grandes alterações estruturais e numéricas dos cromossomos e variações de pequeno tamanho do número de cópias de diversas regiões do DNA. Mas, o que dizer sobre a “eficiência cognitiva”? A inteligência é uma característica que pode ser passada de pai para filho? E como ocorre essa transmissão: pelos genes, como a cor dos olhos e outras características físicas, ou socialmente, pela convivência familiar? Estudos da década de 1960 já indicavam que pais com coeficiente de inteligência (QI) alto têm grande probabilidade de terem filhos com QI igualmente elevado. No entanto, é difícil determinar quanto deste resultado é devido aos genes ou aos fatores sociais e culturais. Uma pesquisa cujos resultados foram publicados em 2012 trouxe novamente à tona essa antiga discussão. Trata-se de um estudo que tenta associar diretamente alguns genes à inteligência humana. A pesquisa avaliou imagens de ressonância magnética funcional e amostras de DNA de mais de 20 mil pessoas. Os pesquisadores identificaram uma versão do gene HMGA2 associada a um maior volume intracraniano, particularmente na massa cinzenta. Os cientistas observaram, ainda, que essa variação estrutural está correlacionada a um desempenho levemente superior em testes de QI, da ordem de 1,29 pontos. Os testes usados para avaliar o coeficiente de inteligência estimam a capacidade intelectual e o valor médio é de 100 pontos. Ou seja, o efeito observado, embora mensurável, é muito pequeno - tanto que demandou uma amostragem muito ampla para ser identificado. Assim, em vez de indicar um “gene da inteligência”, o estudo acabou corroborando os achados anteriores de que a base genética do desempenho cognitivo está associada à ação de um conjunto de genes. Mais que isso, trata-se de outro caso de herança multifatorial, em que o contexto, ou seja, o ambiente desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da característica. Podemos dizer, então, que a formação de um bom escritor pode depender mais do acesso a uma boa biblioteca durante sua formação que de seu genoma em si. E faz mesmo todo o sentido que assim seja se formos pensar num significado mais amplo para o conceito de inteligência, que não se refere somente ao raciocínio lógico. A inteligência é uma função cognitiva ampla que, entre outros aspectos, envolve a capacidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar abstratamente, compreender ideias complexas e aprender com a experiência. Por esse motivo, dizemos que ela é multifatorial, pois depende de diversos estímulos ambientais, mas também está no DNA. CONCORDÂNCIA GENÉTICA "6 CONSTITUIÇÃO DO SER HUMANO GENÉTICA O DNA da habilidade esportiva Em uma partida de futebol, não basta chutar bem em direção ao gol. Bons jogadores correm muito ao longo de toda a partida e percebem como os outros jogadores de seu time ou do time adversário estão distribuídos pelo campo. Além disso, enquanto correm com a bola, devem ser ágeis para desviar dos adversários e avaliar se chutam em direção ao gol ou passam a bola para um outro jogador. Essas habilidades envolvem o pleno funcionamento de inúmeros órgãos do nosso corpo. Olhos, pulmões, ossos, o coração, os músculos da perna e, principalmente, o cérebro devem funcionar muito bem para que esse superatleta consiga atingir o seu alvo: o gol. Futebol, vôlei, natação, alpinismo, maratona etc., não importa a modalidade esportiva, todas elas exigem inúmeras características em um máximo de desempenho. Esse excelente desempenho esportivo está no DNA? Por ser muito difícil estudar simultaneamente tantas características que resultam em um excelente jogador, os pesquisadores observam alguns aspectos separadamente. Por exemplo, ao analisarem o gene da proteína conversora de angiotensina (gene da ACE ou ECA), os pesquisadores perceberam que a maioria dos não atletas apresenta uma versão do gene diferente da apresentada pela maior parte dos maratonistas, pessoas que correm longas distâncias por longos períodos de tempo. Em outro estudo, os pesquisadores analisaram outro gene, o da actina 3 (gene ACTN3), responsável pela produção de uma proteína importante para a contração muscular. Quando comparam atletas de explosão, ou seja, que correm muito rápido por um curto período de tempo, compessoas que não são atletas, eles observam uma frequência mais elevada de uma versão específica do gene ACTN3 dentre a maior parte dos esportistas. Não são essas versões campeãs dos genes ACE e ACTN3 que levam um atleta ao pódio. Além de uma alimentação adequada, esses atletas apresentam uma intensa rotina de treinamentos. Esses vários fatores ambientais, interagindo com as diversas variações genéticas, resultam na habilidade esportiva de uma pessoa. De qualquer modo, podemos afirmar que ser um excelente atleta é uma característica multifatorial e está no DNA. CONCORDÂNCIA GENÉTICA "7
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