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Direito Administrativo Cap.12 Bens Públicos

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IOB – 2015 
Direito Administrativo – Irene Nohara 
 
CAPÍTULO 12: BENS PÚBLICOS 
 
1. Introdução 
O domínio sobre o Estado sobre os bens podem ser de domínio eminente, recaindo sobre 
todas as coisas que estão em seu território e de domínio público, sobre os bens do Estado. 
Dalmo de Abreu Dallari contempla quatro elementos do Estado: povo, soberania, território e 
finalidade. Povo é o aspecto humano do Estado. Soberania é o poder de autodeterminação 
plena. Território é o aspecto geográfico. O quarto elemento que Dallari acrescentou, segundo 
a definição tradicional da Teoria Geral do Estado, demonstra que a criação do Estado ocorre 
para a consecução de atividades voltadas ao bem comum. 
Nesse sentido, a finalidade do Estado é o elemento que legitima seus atos, prerrogativas e 
sujeições. Finalidade tem várias teorias: contratualista – contrato social; voluntarista – o ser 
humano é um animal social (político), unir-se é uma propensão natural. 
Se o Estado tem domínio eminente sobre tudo que está em seu território, logo, ele recai sobre 
todas as coisas nele presentes. 
Sobre todas as coisas que se encontram sobre o domínio eminente do Estado recairá o poder 
de polícia, envolvendo possíveis limitações ao exercício de direitos individuais. 
Vale destacar que existem limitações do Estado à propriedade privada. 
Os bens considerados de domínio público envolvem os bens do Estado (bens públicos). Os 
primeiros teóricos a tratarem desse assunto foram os franceses como Hauriou, que reconhece 
a propriedade pública, com algumas diferenças em relação à propriedade privada. Segundo 
Marçal Justen Filho, a propriedade pública deve vincular-se à sua natureza funcional. Esses 
bens públicos possuem regime jurídico especial: prerrogativas e restrições. 
São bens públicos os bens de domínio nacional pertencentes à União, aos Estados, ao Distrito 
Federal ou aos Municípios. CABM traz a concepção de que as autarquias e as fundações de 
direito público, assim como os que embora não pertencentes a tais pessoas estejam afetados à 
prestação de um serviço público também representam bens públicos. 
Mas em prova (objetiva principalmente), as bancas utilizam o conceito do CCB. De acordo com 
disposição do art. 98 do Código Civil, os bens públicos são os de domínio nacional 
pertencentes às pessoas jurídicas de direito interno; todos os outros são particulares, seja 
qual for a pessoa a quem pertencerem. Embora essa definição trazida pelo Código Civil seja 
insuficiente (não inclui a ideia de CABM), vale frisar que esse conceito será utilizado em 
questões de provas objetivas. 
Os bens públicos compreendem coisas corpóreas – bens móveis ou imóveis – e coisas 
incorpóreas – direitos, obrigações ou ações. 
O instituto da afetação tem o objetivo de consagrar um bem à produção efetiva de utilidade 
(finalidade) pública, é por esse mecanismo que um bem é incorporado ao uso e gozo públicos. 
A afetação pode ser expressa, quando resulta de ato administrativo ou lei contendo 
manifestação de vontade da Administração; ou tácita, quando há atuação da Administração, 
sem manifestação explícita de sua vontade, ou por fato da natureza. 
Em oposição à afetação há a desafetação, para que o bem público seja alienado (pois é em 
regra inalienável) ela precisa passar pela desafetação, o que significa retirar dele a destinação 
de utilidade pública. Para a doutrina, pode ser também expressa ou tácita. Porém, M.S.Z. Di 
Pietro não admite a desafetação tácita pelo não uso, porque isso gera incerteza quanto ao 
momento de cessação do domínio público (não é simplesmente por não usar o bem que isso 
significa que ele foi desafetado). Quer dizer, até se admite a desafetação tácita, mas não pelo 
não uso. 
 
2. Bens Públicos e sua Classificação 
O bem desafetado será considerado desconsagrado ao domínio ou uso público. Já o bem 
afetado será considerado consagrado ao uso público. 
A tradicional classificação de bens encontra-se no art. 99 do Código Civil, tais como bens de 
uso comum do povo, de uso especial e dominicais. 
Art. 99. São bens públicos: 
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; 
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou 
estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, 
inclusive os de suas autarquias; 
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito 
público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. 
Os bens de uso comum do povo (“res communis omnium”) podem ser usados 
indiscriminadamente por todos e são abertos à utilização pública e fruição deste. Rios, mares, 
estradas, ruas, praças. 
Já os bens de uso especial são aqueles utilizados pela Administração Pública para a realização 
dos seus objetivos, tais como edifícios e repartições públicas, veículos oficiais, mercados 
públicos e delegacias. 
Os bens dominicais pertencem ao Estado na qualidade deste como proprietário; constituem o 
patrimônio privado das pessoas jurídicas de direito público. São desafetados e poderão ser 
utilizados para finalidades específicas e genéricas. Podem ser vendidos, cedidos, permutados. 
Essa desafetação dos bens dominicais, todavia, não os torna iguais aos bens de um particular 
(ainda permanecem algumas restrições). 
Quanto ao domínio público (bens de uso comum e de uso especial) e domínio privado 
(dominicais) do Estado, o primeiro implica em bens inalienáveis, conforme disposição do art. 
100 do Código Civil. 
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são 
inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei 
determinar. 
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as 
exigências da lei. 
Art. 102. Os bens públicos [todos] não estão sujeitos a usucapião. 
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, 
conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração 
pertencerem. 
As terras devolutas condizem aos bens dominicais de qualquer uma das entidades estatais, 
não sendo destinadas a fins específicos. 
Há uma presunção relativa (“juris tantum”) em favor do domínio público. Inicialmente, se sabe 
que a partir da colonização do Brasil houve uma apropriação pública dos bens por parte de 
Portugal seguida pelo sistema de sesmarias (Carta de Doação: dava propriedade). O que não 
foi doado continuou público (da Coroa). Em regra, as terras devolutas, por serem bens 
dominicais, são disponíveis, exceto as terras necessárias à proteção dos ecossistemas naturais 
(art.225 §5º CF). 
Exercício 72. (Notários – SP – 2008) Os bens públicos podem ser classificados, nos termos do 
art. 99 do Código Civil, em bens de uso comum do povo, bens de uso especial e bens 
dominicais. São bens públicos dominicais: [as assertivas são os incisos do art.99 CCB] 
a) Os rios, mares, estradas, ruas e praças. [uso comum] 
b) Os edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, 
estadual, serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou 
municipal, inclusive os de suas autarquias. [uso especial] 
c) Os adquiridos pelos delegados ou concessionários de serviço público, na vigência da 
delegação, com a utilização da correspondente remuneração. [conforme CABM: domínio 
público] 
Xd) Os que constituem patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de 
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. 
 
3. Regime Jurídico dos Bens Públicos 
O regime jurídico dos bens públicos dependerá de sua classificação ao que compete aos bens 
afetados (aqueles que se submetem aoregime jurídico público) e aos bens desafetados 
(aqueles considerados dominicais, de domínio privado do Estado – com derrogações: avaliação 
prévia e licitação). 
O regime jurídico público implica em 4 efeitos: inalienabilidade, se afetados; 
impenhorabilidade; imprescritibilidade; e impossibilidade de serem graváveis com direitos 
reais de garantia. 
A inalienabilidade está relacionada aos bens de uso comum do povo e aos bens de uso 
especial (os dominicais são alienáveis). Estes bens serão inalienáveis enquanto conservarem a 
qualificação de serem afetados à utilidade pública (art. 100 do Código Civil). Para a alienação, 
requisitos deverão ser observados, tais como: interesse público, prévia avaliação e quando for 
bem imóvel, haverá necessidade de autorização legislativa. Referidas disposições encontram-
se na Lei de Licitações – Lei nº 8.666/1993 (art.17: interesse público, prévia avaliação e, para 
imóvel, autorização legislativa). 
Quanto à impenhorabilidade, está relacionada aos bens públicos, tanto móveis quanto 
imóveis. A satisfação dos créditos contra o Poder Público é, em regra, efetivada por processo 
especial de execução denominado precatório. 
Já a imprescritibilidade relaciona-se à prescrição, ou seja, perde-se uma pretensão pelo 
decurso do prazo, já a prescrição aquisitiva se ganha algo pelo decurso do prazo. Os bens 
públicos não são passíveis de aquisição por usucapião (prescrição aquisitiva). Aqui uma 
importante ressalva: nem mesmo os bens dominicais são passíveis de usucapião. Súmula 340 
STF: “desde a vigência do Código Civil, os bens dominiais, como os demais bens públicos, não 
podem ser adquiridos por usucapião [nenhum tipo de usucapião]”. 
Os bens públicos não poderão ser graváveis com direitos reais de garantia (não 
onerabilidade) – hipoteca, penhor, anticrese – por serem destinados à realização de interesses 
públicos. Seria uma forma de gravar em garantia de adimplemento, sem que o devedor deixe 
de usufruir o bem. 
Exercício 73. (Procurador do Estado – PR – 2007) Não se pode afirmar que os bens públicos: 
a) São impenhoráveis, fazendo a Constituição Federal expressa previsão de processo especial 
de execução contra a Fazenda Pública. 
Xb) São inalienáveis, enquanto conservarem a qualificação de bens dominicais. [os bens 
dominicais podem ser alienados, apenas devem ser observados os requisitos] 
c) Não estão sujeitos a oneração, não sendo possível gravá-los com penhor, hipoteca ou 
anticrese. 
d) São imprescritíveis, não podendo ser adquiridos através da usucapião. 
e) Somente podem ser alienados quando desafetados. 
 
4. Autorização, Permissão e Concessão de Uso 
Pela definição construída por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o uso privativo de bem público por 
particular implica em conjugar o uso comum do povo com os usos privativos exercidos por 
particulares para distintas finalidades. 
A autorização de uso do bem público remete-se a ser um ato negocial (o particular provoca a 
Administração buscando os seus efeitos jurídicos), unilateral e discricionário (dependerá da 
conveniência e da oportunidade da Administração). A Administração faculta, a título precário, 
que o particular utilize bem público com exclusividade (o particular usa para o seu próprio 
interesse). Exemplos: uso de terreno baldio para realizar um evento (feira). 
A permissão de uso de bem público também implicará em ato negocial, unilateral e 
discricionário, porém, a Administração Pública consentirá que o particular utilize-se de bem 
público no interesse próprio conjugado com o coletivo. A diferença para a autorização é 
justamente que na permissão o uso é no interesse próprio e coletivo (na autorização há 
apenas o interesse particular). Por isso, uma vez consentido o uso por permissão, o particular 
deverá utilizá-lo. Exemplos: quiosque, banca. Em regra a permissão é sem prazo, precária, pois 
pode ser revogada a qualquer tempo; mas se tiver prazo, será uma permissão qualificada. Sua 
precariedade é restringida (pois é dado um prazo), modificando sua natureza jurídica de ato 
para contrato (há mais direitos), demandando licitação. 
A concessão de uso de bem público é considerada como um contrato precedido de licitação, 
mediante o qual a Administração confere ao particular a utilização privativa de bem público, 
para que exerça de acordo com a sua destinação específica, sendo celebrado por tempo certo 
(em regra) ou indeterminado (exceção). Exemplo: concessão em um mercado público 
Autorização Permissão Concessão 
Ato negocial, unilateral, 
discricionário. 
Ato negocial, unilateral, 
discricionário. 
Contrato (licitação) 
Interesse do particular Interesse do particular e da 
coletividade (gera dever de 
utilizar) 
 
Precário Precário (regra); 
Prazo (licitação) 
Prazo (regra); sem prazo 
(exceção) 
 
Exercício 74. (Procurador TCE – AL – 2008) Em relação à concessão, permissão e autorização 
de uso de bem público, é correto afirmar: 
a) Concessão constitui ato administrativo precário, de natureza contratual, vez que veicula 
acordo de vontades entre administração pública e particular. 
b) Permissão constitui ato administrativo precário, de natureza contratual, vez que veicula 
acordo de vontades entre administração pública e particular. 
Xc) Autorização constitui ato administrativo unilateral e discricionário, concedido em favor do 
particular a título precário. 
d) Permissão constitui ato administrativo vinculado, que deve ser concedido em favor do 
particular por prazo determinado. 
e) Concessão constitui ato administrativo unilateral e vinculado. 
 
5. Terras Devolutas e Terrenos Reservados 
As TERRAS DEVOLUTAS são tidas como aquelas vagas, devolvidas, desocupadas ou sem dono. Seu 
processamento se deu por meio de Carta de Doação, com a transmissão de posse (sistema das 
sesmarias). Sob o aspecto residual, são consideradas as áreas que não entram legitimamente 
no domínio particular e ainda não possuem destinação pública. 
São da União as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e 
construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas 
em lei (art. 20, II, da Constituição Federal). 
Todas as demais, que não são destinadas especificamente à União, pertencerão aos Estados, 
sob o caráter residual, conforme assim dispõe o art. 26, IV, da CF. 
A Lei nº 6.383/1973 traz a hipótese do processo discriminatório para identificação das terras 
devolutas pertencentes à União. Este processo discriminatório pode ser administrativo e 
judicial. Essa lei serve para separar terrar públicas das particulares, mediante verificação de 
título de domínio. Há presunção juris tantum em favor do domínio público. 
A natureza jurídica é disponível (bens dominicais), exceto aquelas necessárias às proteções do 
ecossistema (art. 255, § 5º, da CF). Também não serão passíveis de usucapião (arts. 183, § 3º, 
e 191, da CF). 
Os TERRENOS RESERVADOS são compreendidos como margens dos rios públicos que são 
reservadas com uma servidão de passagem, dependendo do ente federativo a que pertença o 
próprio rio, ou do título do particular. 
O objetivo é voltado a reservar uma servidão de trânsito. O art. 14 do Código de Águas traz a 
definição: terrenos reservados são os que, banhados pelas correntes navegáveis, fora do 
alcance das marés, vão até a distância de 15 metros para a parte da terra, contados desde o 
ponto médio das enchentes ordinárias. 
Porém, o STJ tem decisões reconhecendo que se houver na matrícula clara menção de que a 
propriedade imobiliária atinge as margens do rio, não há que se falar em terreno reservado. 
Pertencem aos Estados, salvo se, por título legítimo, forem de domínio federal,municipal ou 
particular (art. 31 do Código de Águas). 
Exercício 75. (Procurador Municipal – Vunesp – 2008) Terrenos reservados: 
a) São áreas que, banhadas pelas águas do mar ou dos rios navegáveis, em sua foz, se 
estendem à distância de 33 metros para área terrestre, contados da linha da preamar médio 
de 1831. 
b) São as áreas que, integrando o patrimônio das pessoas federativas, não são utilizadas para 
quaisquer finalidades públicas específicas. [terras devolutas] 
c) São áreas de 150 km de largura, que correm paralelamente à linha terrestre demarcatória 
da divisa entre o território nacional e países estrangeiros, consideradas fundamentais para a 
defesa do território nacional. [Faixa de fronteira] 
Xd) São aqueles que, banhados pelas correntes navegáveis, fora do alcance das marés, se 
estendem até a distância de 15 metros para a parte da terra, contados desde a linha média das 
enchentes ordinárias. 
 
6. Faixa de Fronteira – Terrenos de Marinha – Plataforma Continental 
A FAIXA DE FRONTEIRA é delimitada em 150 km de largura, paralela à linha divisória terrestre 
(marítima não). A sua finalidade é definida como a defesa do território nacional. As limitações 
são impostas para a defesa do Estado. 
A faixa de fronteira, por ser muito extensa, é claro que possui bens particulares. O art. 20, II, da 
Constituição Federal apenas afirma que “são bens da União as terras devolutas indispensáveis 
à defesa das fronteiras”. Então, pertencem à União apenas as terras devolutas e indispensáveis 
à defesa das fronteiras que se encontrarem dentro da faixa de fronteira. 
O órgão responsável para regular e estabelecer os critérios para a faixa de fronteira é o 
Conselho de Defesa Nacional. A faixa de fronteira é fundamental à defesa do Território 
Nacional e sua ocupação e utilização (alienação e construção), estão reguladas pela Lei nº 
6.634/1979. 
A Súmula nº 477 do STF ressalta a concessão de uso: caso seja uma terra do domínio público, 
não haverá possibilidade de aquisição por usucapião. O mesmo valerá para área de domínio da 
União. 
Súmula 477 - As concessões de terras devolutas situadas na faixa de fronteira, 
feitas pelos Estados, autorizam, apenas, o uso, permanecendo o domínio com a 
União, ainda que se mantenha inerte ou tolerante, em relação aos possuidores. 
Quer dizer, mesmo que haja concessão de uso, ou mesmo que haja posseiro na 
terra, e ainda que a União não se insurja, não ocorrerá usucapião. A União 
mantém o domínio sobre a terra. 
Os TERRENOS DE MARINHA são aqueles banhados pelas águas do mar ou dos rios navegáveis. 
Vão até a distância de 15 braças craveiras (que equivalem a 33 metros) para a parte da terra 
contados desde o ponto do preamar médio [Em prova gostam de confundir com os 15m dos 
terrenos reservados] 
Existe grande discussão acerca desse critério do “preamar médio”, em razão da influência das 
marés; a linha de jundu é a linha da vegetação, mas isso é muito criticado porque é arbitrário e 
impreciso. Também porque existem muitas oscilações em terrenos de marinha em razão das 
marés e em beira de rios em razão das enchentes. 
Pelo art. 20, VII, da CF são bens da União. Sua natureza é de bens dominicais. 
A utilização pelo particular se dá por regime de aforamento ou enfiteuse: para a União, será 
considerado domínio direto; para o titular será considerado domínio útil. O CCB2002 não trata 
da enfiteuse, mas os autores de direito administrativo consideram que o instituto permanece. 
Quando o particular quiser alienar o domínio útil, ele deve dar direito de preferencia à União e 
pagar o laudêmio. 
A PLATAFORMA CONTINENTAL consiste em uma planície submarina que se estende ao longo das 
costas, inclinando-se natural e gradualmente até grande distância do litoral. É na disposição do 
art. 11 da Lei nº 8.617/1993 e pertence à União. O governo federal brasileiro tem o direito de 
autorizar e regulamentar as perfurações, quaisquer que sejam os seus fins. 
Art. 11. A plataforma continental do Brasil compreende o leito e o subsolo das 
áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a 
extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo 
exterior da margem continental, ou até uma distância de duzentas milhas 
marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar 
territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja 
essa distância. 
Exercício 76. (Esaf – MP/SPU – 2006) São considerados bens públicos de uso especial, exceto: 
a) Edifícios das repartições públicas. 
Xb) Os terrenos de marinha. [bens dominicais] 
c) As escolas públicas. 
d) Os matadouros públicos. 
e) Os mercados municipais. 
 
7. Terras Ocupadas pelos Índios 
O art. 231 da Carta Magna reconhece aos índios a sua organização social, seus costumes, 
línguas, crenças e tradições. Atualmente, faz-se necessária a tratativa de questões indígenas, 
tais como a reformulação da política integracionista que influenciou a elaboração do Estatuto 
do Índio – Lei nº 6.001/1973 – bem como quanto às terras indígenas, onde o ponto central da 
problemática consiste na avaliação dos recursos naturais concentrados por essas terras, 
amplamente disputados. 
As terras tradicionalmente ocupadas são assim definidas no inciso XI do art. 20 da Constituição 
Federal: quanto à posse permanente e quanto ao usufruto exclusivo das riquezas do solo. 
Atualmente, essas terras são consideradas bens inalienáveis, indisponíveis e não admissíveis à 
aquisição por usucapião (art. 231, § 1º, da CF). 
No que se refere à posse atual ou recente, a Súmula nº 650 do STF definiu que “os incisos I e XI 
do art. 20 da Constituição não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupados 
por indígenas em passados remotos”. Isso porque a UF queria ter propriedade dos terrenos 
que já haviam pertencido há muito tempo aos índios, mas que agora já tinham particulares. 
Constituição Federal 1988: 
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, 
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente 
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os 
seus bens. 
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em 
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as 
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-
estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, 
costumes e tradições. 
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse 
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos 
lagos nelas existentes. 
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a 
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser 
efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades 
afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma 
da lei. 
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos 
sobre elas, imprescritíveis. 
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad 
referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que 
ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após 
deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno 
imediato logo que cesse o risco. 
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por 
objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a 
exploração das riquezasnaturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, 
ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei 
complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a 
ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da 
ocupação de boa fé. 
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º. 
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para 
ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério 
Público em todos os atos do processo. 
Exercício 77. (PGE-PB – Cespe – Procurador do Estado – 2008) As terras tradicionalmente 
ocupadas pelos índios em caráter permanente, utilizadas para suas atividades produtivas e 
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e às 
necessidades de sua reprodução física e cultural são consideradas bens: 
Xa) Públicos de uso especial, pertencentes à União. [art.20, XI, CF] 
b) Públicos de uso especial, pertencentes ao estado em que se localizem. 
c) Públicos de uso especial, pertencentes ao município em que se localizem. 
d) Públicos dominicais, pertencentes à União. 
e) Particulares, pertencentes à comunidade indígena respectiva. 
 
8. Ilhas – Águas Públicas – Jazidas – Minas 
Ilha é porção de terra cercada de águas de todos os lados. A classificação se divide em: 
marítimas, fluviais e lacustres. As ilhas marítimas se dividem em: 
– costeiras: resultam do relevo continental ou da plataforma submarina; e 
– oceânicas: afastadas da costa, possuem origem diversa das ilhas costeiras. Exemplo: 
Fernando de Noronha. 
As ilhas podem ser bens dominicais ou bens de uso comum do povo; podem pertencer à 
União, Estados, municípios ou particulares. 
Art.20. São bens da União: 
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias 
marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham 
a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a 
unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela 
Emenda Constitucional nº 46, de 2005) 
Ilhas da União: 1) fluviais e lacustres em zonas limítrofes com outros países; 2) 
oceânicas e costeiras (salvo se sede de município) 
Ilhas de município: que contem sede do próprio município (Florianópolis) 
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: [critério residual] 
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, 
excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; 
Pertence ao Estado a ilha oceânica ou costeira que não pertencer à UF ou 
município. 
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; 
Pertence ao Estado a ilha fluvial ou lacustre que não pertencer à UF. 
E ainda, as fluviais e lacustres formadas em águas particulares, a estes pertencem, art. 23 do 
Código das Águas. 
Águas públicas são bens da União: art. 20, III e VI: 
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou 
que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se 
estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos 
marginais e as praias fluviais; 
VI - o mar territorial; 
Jazidas e minas constituem propriedade distinta da do solo, para efeitos de exploração ou 
aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto 
da lavra. 
Art.20. § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no 
resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins 
de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo 
território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou 
compensação financeira por essa exploração. 
O proprietário do solo terá participação nos resultados da lavra, na forma e no valor 
determinado por lei (art. 176, § 2º, da CF). 
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais 
de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de 
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao 
concessionário a propriedade do produto da lavra. 
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a 
que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante 
autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou 
empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração 
no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas 
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas. 
§ 2º É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra, na 
forma e no valor que dispuser a lei. 
§ 3º A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as 
autorizações e concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou 
transferidas, total ou parcialmente, sem prévia anuência do poder concedente. 
§ 4º Não dependerá de autorização ou concessão o aproveitamento do potencial 
de energia renovável de capacidade reduzida. 
- Jazida: é toda massa individualizada de substância mineral ou fóssil, aflorando à superfície ou 
existente no interior da terra e que tenha valor econômico. 
- Mina: é a jazida em lavra, isto é, já com atividades de aproveitamento econômico. (Essa 
distinção é trazida por M.S.Z. Di Pietro) 
Exercício 78. (Procurador da República) A propósito do regime jurídico dos recursos minerais, 
assinale o item incorreto: 
a) Por serem bens da União, a competência legislativa para regular os recursos minerais e seu 
aproveitamento é federal, muito embora, no que concerne à competência material, a Carta de 
1988 tenha-a conferido aos outros níveis de Governo. 
Xb) As jazidas e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem 
propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à 
União, garantidas ao concessionário e ao proprietário do solo partes iguais do produto da 
lavra. [A CF garante ao concessionário a propriedade do produto da lavra e ao proprietário 
do solo, uma participação no resultado na forma e valor determinados em lei; art.176 caput 
e §2º] 
c) De acordo com o texto constitucional, é lícito afirmar que juridicamente há intensidades 
diversas entre recursos, reservas e riquezas minerais. 
d) Entende-se por jazida a massa de substâncias minerais, ou fósseis, existentes no interior ou 
na superfície da terra e que sejam ou venham a ser valiosas pela indústria, enquanto a mina 
corresponde à jazida na extensão concedida. [Di Pietro]

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