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Tema: Legislação Trabalhista do Atleta Profissional Este capítulo visa a apresentar um breve histórico e os principais pontos relativos a um dos mais importantes temas do direito desportivo: a legislação trabalhista do atleta profissional de futebol. A profissionalização do esporte na Europa nasce a partir da segunda metade do século XIX; os primeiros casos de profissionalismo no futebol remontam a 1876, com J.J. Lang e Peter Andrews no Sheffield’s Heeley Club. Mas a primeira decisão judicial inglesa a considerar os ludopedistas profissionais empregados das entidades de prática desportiva (EPDs), responsáveis por arcar com seus salários, foi prolatada somente em 1910, no célebre caso Walker contra Crystal Palace. Esta sentença tinha como principais fundamentos o fato de os atletas serem remunerados por suas equipes em troca do fornecimento de suas habilidades esportivas. O direito do trabalho brasileiro começou a ser regulamentado, de forma mais veemente, com a criação de leis sobre assuntos trabalhistas específicos, entre as quais as que versavam sobre o trabalho dos menores (em 1891), os sindicatos rurais (em 1903) e os sindicatos urbanos (1907). Há uma lacuna temporal muito grande entre a publicação das primeiras leis trabalhistas e a constitucionalização de alguns aspectos a elas concernentes. A primeira Constituição Brasileira que tratou especificamente do Direito do Trabalho foi a de 1934, durante o governo Getúlio Vargas; o presidente, motivado pelas influências europeias que o país sofria, criou diversos direitos até então inexistentes no ordenamento pátrio. Há uma grande diferença, contudo, entre abordar questões trabalhistas de modo geral na Carta Magna e detalhar, na legislação ordinária, aspectos específicos do atleta profissional de futebol. A Resolução de 4 de novembro de 1942, expedida pelo Conselho Nacional do Desporto, o Decreto Lei de n° 5.342 de 1943, o Decreto n° 51.008, de 1961, e o Decreto n° 53.820, de 1964, trataram do desporto profissional antes que fosse criada uma lei que regulasse como um todo e de forma concisa o assunto. O Decreto-Lei 5.342/43, por exemplo, estipulou que os atletas profissionais deveriam ter carteira de atleta, registrada devidamente no Conselho Nacional de Desportos juntamente com os eventuais contratos celebrados entre os clubes e eles. Vizinhos e rivais nos campos esportivo, político, econômico e militar, Brasil e Argentina compartilharam, em períodos muito próximos, a mesma visão sobre a inserção do futebolista profissional na legislação trabalhista. Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que o futebol não poderia ser entendido como objeto da legislação trabalhista. Em 15 de abril 1952, a Câmara de Apelação do Trabalho da Argentina decidiu, por unanimidade de votos, que “entre o jogador profissional de futebol e o clube que o contratou não existe uma vinculação de caráter laboral”. O Decreto 51.008, de 20 de junho de 1961, foi confeccionado com base em argumentos climáticos e fisiológicos e destinava-se a evitar a sobrecarga e o desgaste físico excessivo dos atletas nas partidas de futebol.1 Em 24 de março de 1964, foi publicado o Decreto 53.820, que instituiu ao atleta profissional de futebol alguns direitos, entre os quais: férias remuneradas; depósitos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); participação do atleta no preço cobrado pelo respectivo “passe”, no montante de 15% sobre o valor total; e concessão do próprio “passe”, a partir dos 32 anos de idade. O Decreto 53.820 foi publicado sete dias antes do golpe de Estado que alijou do cargo o então presidente João Goulart. Todavia, somente a partir de 01 de março de 1977, com a entrada em vigor da Lei 6.354, de 1976,2 o jogador de futebol tornava-se oficialmente um trabalhador.3 A Lei 6.354/76 foi completamente revogada pelas alterações na LGSD por meio da Lei 12.395/2011. Atualmente, o arcabouço jurídico que regulamenta a legislação trabalhista dos atletas profissionais de futebol no Brasil é composto pelo Decreto-lei 5.452/43 (Consolidação das Leis do Trabalho, a popular “CLT”), pela Lei 9.615/98 (“Lei Pelé”) e pelo seu respectivo regulamento, o Decreto 2.574/98. Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da Seguridade Social, ressalvadas as peculiaridades constantes da Lei Pelé.4 Portanto, aos atletas profissionais são aplicadas as normatizações específicas da profissão e, subsidiariamente, a legislação geral trabalhista. O registro histórico tem como principal finalidade conhecer a maneira por meio da qual foi construída a legislação aplicável aos ludopedistas profissionais. Entretanto, 1 Soares, 2008 2 Brunoro; Afif, 1997 3 Soares, 2008 4 art. 28, § 4º, Lei 9.615/98 tem pouca valia como mecanismo capaz de fornecer conhecimentos necessário para lidar diuturnamente com o vasto leque de questões sobre esse assunto, o qual inunda a vida dos juristas. Por isso, faz-se mister conhecer, com profundidade, os temas mais pulsantes do universo jurídico que é a legislação laboral do atleta profissional de futebol. Em primeiro lugar, é necessário saber a diferença entre relação de emprego e relação de trabalho, assim como também é indispensável identificar quem é o empregado e quem é o empregador na relação laboral desportiva. Ademais, é de suma importância conhecer o contrato especial de trabalho desportivo e todos os seus elementos: conceito, capacidade, duração etc. Outro ponto de fulcral relevância é diferenciar os conceitos de vínculo empregatício e vínculo trabalhista. Da mesma sorte, é importante saber distinguir a cláusula indenizatória desportiva da cláusula compensatória desportiva. O correto estudo do direito laboral desportivo também requer de seu operador pleno conhecimento dos direitos e deveres do atleta e da entidade de prática desportiva em relação a férias, décimo-terceiro salário, FGTS, repouso semanal remunerado e demais assuntos concernentes a esses itens. Além desses temas, o presente capítulo objetiva abordar assuntos raramente estudados pelos doutrinadores, entre os quais o intervalo interjornada e o intervalo intrajornada de futebolistas profissionais. Em 2004, os cinco maiores mercados europeus de futebol (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália) arrecadaram US$ 6,9 bilhões, dos quais 60% desse montante foram destinados para pagamento de salários. O volume de dinheiro envolvido fornece uma boa noção da importância socioeconômica desse negócio. 1. Relação de Trabalho Relação de Trabalho é o gênero que compreende o trabalho autônomo, eventual, avulso etc. Relação individual de trabalho é a que “entrelaça um empregado a seu empregador, mediante direitos e obrigações recíprocas”. São sujeitos da relação jurídica de trabalho subordinado típico: a) o empregado, pessoa física que presta serviços de natureza não-eventual, e b) o empregador, destinatário da atividade e seus resultados, dirigindo-a em decorrência do poder de organização, de fiscalização e de disciplina que lhe é conferido. 2. Relação de emprego Relação de emprego é a que tem como objeto o trabalho subordinado, continuado e assalariado. A relação de emprego trata do trabalho subordinado do empregado em relação ao empregador. 3. Conceito de empregado e de empregador No caso da legislação trabalhista do atleta profissional de futebol, a caracterização das partes é bem simples: o atleta é o empregado e a entidade de prática desportiva (EPD) é o empregador. 4. Fundamentação Legal O arcabouço jurídico que regulamenta a atividade laboral do atleta profissional de futebol é composto pelos seguintes dispositivos legais: a) Decreto-lei 5.452/43 (Consolidação das Leis do Trabalho - “CLT”), Lei 9.615/98 (“Lei Pelé”) e Decreto 2.574/98. Aos atletas profissionais são aplicadas as normatizações específicas da profissão e, subsidiariamente, a legislação geral trabalhista. 5. Vínculo desportivo O vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva contratante constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho desportivo na entidade de administração do desporto.5 O vínculo desportivo tem natureza acessória ao respectivo vínculo empregatício.6 Uma vez cessado o contrato de trabalho, não há mais nenhum liame entre o atleta e a EPD. O vínculo desportivo do atleta autônomo com a entidade de prática desportiva resulta de inscrição para participar de competição e não implica reconhecimento de relação empregatícia.7 5 art. 28, § 5º, Lei 9.615/98 6 art. 28, § 5º, Lei 9.615/98 7 art. 28-A, § 1º, Lei 9.615/98 São nulos de pleno direito os contratos firmados pelo atleta ou por seu representante legal com agente desportivo, pessoa física ou jurídica, bem como as cláusulas contratuais ou de instrumentos procuratórios que resultem vínculo desportivo.8 O vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva, previsto no § 5º do art. 28 da Lei 9.615/98, não se confunde com o vínculo empregatício e não é condição para a caracterização da atividade de atleta profissional.9 6. Atleta profissional No Brasil, a atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, no qual deverá constar, obrigatoriamente:10 i. cláusula indenizatória desportiva, devida exclusivamente à entidade de prática desportiva à qual está vinculado o atleta, nas seguintes hipóteses:11 a) transferência do atleta para outra entidade, nacional ou estrangeira, durante a vigência do contrato especial de trabalho desportivo;12 ou b) por ocasião do retorno do atleta às atividades profissionais em outra entidade de prática desportiva, no prazo de até 30 (trinta) meses;13 e ii. cláusula compensatória desportiva, devida pela entidade de prática desportiva ao atleta, nas hipóteses dos incisos III a V do § 5º da Lei Pelé.14 Os atletas profissionais poderão ser representados em juízo por suas entidades sindicais em ações relativas aos contratos especiais de trabalho desportivo mantidos com as entidades de prática desportiva.15 7. Contrato de Trabalho Contrato individual de trabalho, em sentido estrito, é o negócio jurídico de direito privado pelo qual uma pessoa física (empregado) se obriga à prestação pessoal, subordinada e não eventual de serviço, colocando sua força de trabalho à disposição de outra pessoa, física ou jurídica, que assume os riscos de um empreendimento econômico (empregador) ou de quem é a este, legalmente, equiparado, e que se obriga a uma contraprestação (salário).16 8 art. 27-C, I, Lei 9.615/98 9 art. 44, §2º, Decreto 7984/2013 10 art. 28, caput, Lei 9.615/98 11 art. 28, I, Lei 9.615/98 12 art. 28, I, a, Lei 9.615/98 13 art. 28, I, b, Lei 9.615/98 14 art. 28, II, Lei 9.615/98 15 art. 90-D, caput, Lei 9.615/98 16 MARANHÃO, Délio; CARVALHO, Luiz Inácio Barbosa. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1993. O contrato de trabalho é um pacto de direito privado, sinalagmático, consensual, intuito personae (quanto ao empregado), de trato sucessivo e de atividade, oneroso e dotado de alteridade; pode também ser acompanhado de outros contratos acessórios.17 8. Contrato especial de trabalho desportivo Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da Seguridade Social, ressalvadas as peculiaridades constantes da Lei Pelé.18 8.1. Elementos jurídico-formais do contrato de trabalho do atleta profissional de futebol:19 a) capacidade das partes contratantes; b) consentimento; c) licitude do objeto contratado; d) forma contratual prescrita ou não proibida em lei; e) higidez na manifestação da vontade das partes. 8.2. Capacidade O futebolista poderá assinar seu primeiro contrato profissional a partir dos 16 anos de idade. 8.3. Duração Mínimo de três meses e máximo de cinco anos20. Quando o prazo do contrato especial de trabalho desportivo for inferior a doze meses, o atleta terá direito, por ocasião da rescisão contratual por culpa da entidade de prática desportiva empregadora, a tantos doze avos da remuneração mensal quantos forem os meses da vigência do contrato, referentes a férias, abono de férias e décimo terceiro salário21. 8.4. Acordo por escrito A forma escrita é necessária para provar a existência do contrato em si e garantir um nível mínimo de proteção aos atletas22. 17 Delgado, 1999 18 art. 28, § 4º, Lei 9.615/98 19OLIVEIRA, Jean Marcel Mariano de. O contrato de trabalho do atleta profissional de futebol. São Paulo: Ltr, 2009. 168 p. 20 Art. 30, caput, Lei 9.615/98. 21 Art. 28, § 9º, Lei 9.615/98. 22 KLUWER LAW INTERNATIONAL. International Encyclopaedia of Laws - sports law: supplement 1 - Italy. Haia, 2004. Mas a ausência do instrumento contratual na forma escrita não impede a formação e o reconhecimento de vínculo empregatício. Se presentes os requisitos do artigo 3° da CLT, o atleta será considerado empregado23. 8.5. Hipóteses de interrupção A interrupção do contrato de trabalho é a sustação temporária da principal obrigação do empregado no contrato de trabalho (prestação de trabalho e disponibilidade perante o empregador), em virtude de um fato juridicamente relevante, mantidas em vigor todas as demais cláusulas contratuais. A interrupção é computada como tempo de serviço. Enquanto vigorar a interrupção, o empregador é obrigado a pagar salários. 8.6. Hipóteses de suspensão A entidade de prática desportiva poderá suspender o contrato especial de trabalho desportivo do atleta profissional, ficando dispensada do pagamento da remuneração nesse período, quando o atleta for impedido de atuar, por prazo ininterrupto superior a noventa dias, em decorrência de ato ou evento de sua exclusiva responsabilidade, desvinculado da atividade profissional, conforme previsto no referido contrato24. O contrato deverá conter cláusula expressa reguladora de sua prorrogação automática na ocorrência da hipótese prevista no § 7º deste artigo25. O tempo de suspensão será acrescentado ao tempo total de trabalho do atleta, que terá seu término prorrogado no exato número de dias da suspensão de vigência, mantidas todas as demais condições contratuais26. 8.7. Hipóteses de cessação do contrato especial de trabalho desportivo O contrato de trabalho pode cessar por: a) decisão do empregador (com ou sem justa causa); b) decisão do empregado (demissão, rescisão indireta ou aposentadoria); c) mútuo consentimento entre os contratantes; d) advento do fim contratual; e) virtude de força maior; 23 GRISARD, Luiz Antonio. Considerações sobre a relação entre contrato de trabalho de atleta profissional de futebol Curso básico de direito desportivo: principais temas e desafios e contrato de licença de uso de imagem. Jus Navigandi, Teresina, ano7, n. 60, 1 nov. 2002. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/3490>. Acesso em:30 mar. 2011. 24 Art. 28, § 7º, lei 9615/98. 25 Art. 28, § 8º, lei 9.615/98. 26 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2006.. f) desaparecimento de uma das partes (morte do empregador ou do empregado ou a extinção da empresa); g) factum principis. A cessação da relação empregatícia pode ocorrer pela ação de uma ou de ambas as parte. Por uma das partes, pode ser ou por consentimento mútuo ou por consentimento unilateral. O consentimento mútuo acontece quando as partes por anuência mútua cessam as consequências da relação empregatícia. O segundo caso abrange demissão individual, demissão coletiva e desistência. A extinção da relação de trabalho pode ocorrer pela ação de uma parte, de ambas as partes ou da lei. A extinção pela ação de ambas as partes pode ser mútua ou unilateral. A extinção por consentimento mútuo ocorre quando as partes acordam em encerrar as consequências do término da relação laboral. A extinção unilateral engloba dispensa individual, dispensa coletiva e demissão. 9. Repouso semanal remunerado Os atletas profissionais têm direito a repouso semanal remunerado de vinte e quatro horas, preferentemente em dia subsequente à participação do atleta na partida, prova ou equivalente, quando realizada no final de semana (art. 28, § 4º, IV, Lei 9.615/98). 10. Período de concentração. Se conveniente à entidade de prática desportiva, a concentração não poderá ser superior a 3 (três) dias consecutivos por semana, desde que esteja programada qualquer partida, prova ou equivalente, amistosa ou oficial, devendo o atleta ficar à disposição do empregador por ocasião da realização de competição fora da localidade onde tenha sua sede (art. 28, § 4º, I, Lei 9.615/98). O prazo de concentração poderá ser ampliado, independentemente de qualquer pagamento adicional, quando o atleta estiver à disposição da entidade de administração do desporto (art. 28, § 4º, II, Lei 9.615/98). Acréscimos remuneratórios são passíveis em razão de períodos de concentração, viagens, pré-temporada e participação do atleta em partida, prova ou equivalente, conforme previsão contratual (art. 28, § 4º, III, Lei 9.615/98). Para o art. 4º da CLT, considera-se período de serviço efetivo aquele em que o empregado está à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens. 11. Férias Todo empregado terá direito anualmente ao gozo de um período de férias, sem prejuízo da remuneração (art 129, CLT). Todo atleta profissional tem direito a férias anuais remuneradas de trinta dias, acrescidas do abono de férias, coincidentes com o recesso das atividades desportivas (art. 28, § 4º, V, Lei 9.615/98). A remuneração devida durante o descanso deverá observar o salário fixo, a média dos prêmios, as gratificações e as bonificações, incluindo os “bichos”. 12. Décimo-terceiro salário Os atletas profissionais de futebol têm direito ao décimo-terceiro salário. O décimo terceiro salário poderá ser pago em duas parcelas durante o ano. A primeira parcela, metade do valor total devido, deverá ser paga entre fevereiro a novembro de cada ano (art. 2˚, Lei 4.749/65). Mas o adiantamento será pago ao ensejo das férias do empregado, sempre que este o requerer no mês de janeiro do correspondente ano (art. 2˚, parágrafo 2˚, Lei 4.749/65). A segunda parcela será paga pelo empregador até o dia 20 de dezembro de cada ano, compensada a importância que, a título de adiantamento, o empregado já houver recebido (art. 1˚, Lei 4.749/65). 13. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) O atleta profissional de futebol tem direito ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O FGTS é constituído de contas vinculadas, abertas em nome de cada trabalhador, quando o empregador efetua o primeiro depósito. O saldo da conta vinculada é formado pelos depósitos mensais efetivados pelo empregador, equivalentes a 8,0% (oito por cento) do salário pago ao empregado, acrescido de atualização monetária e juros. (http://www.fgts.gov.br/trabalhador/index.asp, acessado em 26 de setembro de 2012) 14. “Bichos” Os “bichos” são uma espécie de premiação efetuada a atletas profissionais de futebol em razão de resultado em uma partida ou até mesmo de determinada colocação em um campeonato. Há vasta jurisprudência que considera os “bichos” como algo de natureza salarial. 15. Luvas São parcelas pagas pela EPD ao atleta, em reconhecimento à sua qualidade; podem ser pagas em espécie ou em bens, entre eles automóveis e imóveis. Nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho: Art. 457. Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. §1º. Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador. Em regra, os tribunais têm entendido que as luvas possuem, sim, caráter remuneratório, razão pela qual devem ser consideradas como salário, para todos os efeitos legais. 16. Intervalo intrajornada É o destinado a repouso e alimentação. Como a Lei 9.615/98 não possui nenhum dispositivo que estabeleça uma norma especial para os atletas a respeito do intervalo intrajornada, aplicam-se a eles as normas constantes na CLT. O intervalo intrajornada está disposto no art. 71 da CLT e pode variar de dez minutos a duas horas, dependendo da jornada de trabalho. O intervalo de quinze minutos durante as partidas de futebol é típico da prática desportiva, razão pela qual não pode ser considerado intervalo intrajornada. 17. Intervalo interjornada Em suma, é o intervalo destinado ao descanso. Idem ao que ocorre com o intervalo intrajornada, não há, na legislação específica, nenhum dispositivo que conceda um tratamento diferenciado aos desportistas a respeito do intervalo interjornada, motivo pelo qual aplica-se a norma geral da CLT: Art. 66. Entre duas jornadas de trabalho haverá um período mínimo de onze horas consecutivas para descanso. 18. Cessão temporária (“empréstimo”) Qualquer cessão ou transferência de atleta profissional depende de sua formal e expressa anuência (art. 38, caput, Lei 9.615/98). A cessão a que se refere este artigo também pode ser temporária, comumente denominada de “contrato de empréstimo”. O contrato de cessão temporária é acessório ao contrato principal. O art. 39, caput, da Lei 9.615/98, estipula que atleta cedido temporariamente a outra entidade de prática desportiva que tiver os salários em atraso, no todo ou em parte, por mais de 2 (dois) meses, notificará a entidade de prática desportiva cedente para, querendo, purgar a mora, no prazo de 15 (quinze) dias, não se aplicando, nesse caso, o disposto no caput do art. 31 da Lei Pelé. O art. 39, § 1º, Lei 9.615/98, assevera que o não pagamento ao atleta de salário e contribuições previstas em lei por parte da entidade de prática desportiva cessionária, por 2 (dois) meses, implicará a rescisão do contrato de empréstimo e a incidência da cláusula compensatória desportiva nele prevista, a ser paga ao atleta pela entidade de prática desportiva cessionária. O art. 39, § 2º, da Lei 9.615/98, estipula que, ocorrendo a rescisão mencionada no § 1º do artigo 39 da lei Pelé, o atleta deverá retornar à entidade de prática desportiva cedente para cumprir o antigo contrato especial de trabalho desportivo. O art. 40, caput, da Lei 9.615/98, determina que na cessão ou transferência de atleta profissional para entidade de prática desportiva estrangeira observar-se-ão as instruções expedidas pela entidade nacional de título. O art. 40, § 1º, da Lei 9.615/98, afirma que as condições para transferência do atleta profissional para o exterior deverão integrar obrigatoriamente os contratos de trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva brasileira que o contratou. 19. Convocação para seleção nacional O art. 41, caput, da Lei 9.615/98, afirma que a participação de atletas profissionais em seleções será estabelecida na forma como acordarem a entidade de administração convocante e a entidade de prática desportiva cedente. O art. 41, § 1º, Lei 9.615/98, estabelece que a entidade convocadora indenizará a cedente dos encargos previstos no contrato de trabalho, pelo período em que durar a convocação do atleta, sem prejuízo de eventuais ajustes celebrados entre este e a entidade convocadora. O art. 41, § 2o, da Lei 9.615/98, afirma que o período de convocação estender- se-á até a reintegração do atleta à entidade que o cedeu, apto a exercer sua atividade. 20. Atleta autônomo Caracteriza-se como autônomo o atleta maior de dezesseis anos que não mantém relação empregatícia com entidade de prática desportiva, auferindo rendimentos por conta e por meio de contrato de natureza civil.27 O vínculo desportivo do atleta autônomo com a entidade de prática desportiva resulta de inscrição para participar de competição e não implica reconhecimento de relação empregatícia.28 A filiação ou a vinculação de atleta autônomo a entidade de administração ou a sua integração a delegações brasileiras partícipes de competições internacionais não caracteriza vínculo empregatício.29 O disposto neste artigo não se aplica às modalidades desportivas coletivas.30 Portanto, somente pode ser enquadrado como atleta autônomo quem se dedica à prática desportiva de modalidade individual.31 A atividade econômica do atleta autônomo é caracterizada quando há: a) remuneração decorrente de contrato de natureza civil firmado entre o atleta e a entidade de prática desportiva;32 b) premiação recebida pela participação em competição desportiva;33 ou c) incentivo financeiro proveniente de divulgação de marcas ou produtos do patrocinador.34 O atleta autônomo enquadra-se como contribuinte individual no Regime Geral de Previdência Social - RGPS.35 O atleta não profissional que perceba incentivos materiais na forma de bolsa, conforme disposto no art. 4º, parágrafo único, da lei Pelé, não será considerado contribuinte obrigatório do RGPS.36 27 art. 28-A, caput, Lei 9.615/98 28 art. 28-A, § 1º, Lei 9.615/98 29 art. 28-A, § 2º, Lei 9.615/98 30 art. 28-A, § 3º, Lei 9.615/98 31 art. 47, caput, Decreto 7984/2013 32 art. 47, § 1º, I, Decreto 7984/2013 33 art. 47, § 1º, II, Decreto 7984/2013 34 art. 47, § 1º, III, Decreto 7984/2013 35 art. 47, § 2º, Decreto 7984/2013 36 art. 61, caput, Decreto 7984/2013 Tema: Legislação Trabalhista do Atleta Profissional Questões 1. Assinale a alternativa correta: a) Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que somente o futebol praticado pelos homens poderia ser havido como objeto da legislação trabalhista, razão pela qual o futebol feminino foi considerado “amador” até 1984. b) Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que o futebol não poderia ser havido como objeto da legislação trabalhista. c) Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que o futebol poderia ser havido como objeto da legislação trabalhista. d) Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que o futebol poderia ser havido como objeto da legislação trabalhista somente no caso de o atleta permanecer por mais de duas temporadas consecutivas na mesma entidade de prática desportiva. 2. Assinale a alternativa correta: a) O Decreto 53.820, 24 de março de 1964, vedava ao atleta profissional de futebol o direito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). b) O Decreto 53.820, 24 de março de 1964, vedava ao atleta profissional de futebol o direito a férias remuneradas. c) O Decreto 53.820, 24 de março de 1964, instituiu ao atleta profissional de futebol alguns direitos, entre os quais: férias remuneradas; depósitos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); participação do atleta no preço cobrado pelo respectivo “passe”, no montante de 15% sobre o valor total; e concessão do próprio “passe”, a partir dos 32 anos de idade. d) O Decreto 53.820, 24 de março de 1964, instituiu ao atleta profissional de futebol alguns direitos, entre os quais: férias remuneradas e depósitos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), mas foi omisso em relação a questões concernentes ao “passe” dos atletas. 3. Assinale a alternativa correta: a) a Lei 6.354/76 foi completamente revogada pelas alterações na LGSD acontecidas por meio da Lei 12.395/2011. b) apenas os aspectos da lei 6.354/76 relacionados ao “passe” ainda estão em vigor. c) a Lei 12.395/2011 não revogou a Lei 6.354/76, apenas a complementou. d) apesar da edição de diversas leis posteriores, entre as quais a Lei Pelé, a principal norma que regulamenta a atividade do atleta profissional de futebol continua sendo a Lei 6.354/76. 4. O arcabouço jurídico que regulamenta a legislação trabalhista dos atletas profissionais de futebol no Brasil é composto: a) pelo Decreto-lei 5.452/43 (Consolidação das Leis do Trabalho), pela Lei 9.615/98 (“Lei Pelé”) e por seu respectivo regulamento, o Decreto 2.574/98. b) apenas pela Carta Magna de 1988 e pela Lei 9.615/98 (“Lei Pelé”). c) apenas pela 9.615/98 (“Lei Pelé”). d) apenas pelo Decreto-lei 5.452/43 (Consolidação das Leis do Trabalho). 5. Assinale a alternativa correta: a) o vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva contratante constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho desportivo na entidade de administração do desporto. b) o vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva contratante constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho desportivo no Ministério do Trabalho. c) o vínculo empregatício tem natureza acessória ao respectivo vínculo desportivo. d) o vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva previsto no § 5º do art. 28 da Lei 9.615/98 é condição para a caracterização da atividade de atleta profissional. Gabarito 1. B 2. C 3. A 4. A 5. A
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