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legislação trabalhista

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Tema: Legislação Trabalhista do Atleta Profissional 
Este capítulo visa a apresentar um breve histórico e os principais pontos relativos 
a um dos mais importantes temas do direito desportivo: a legislação trabalhista do atleta 
profissional de futebol. 
A profissionalização do esporte na Europa nasce a partir da segunda metade do 
século XIX; os primeiros casos de profissionalismo no futebol remontam a 1876, com 
J.J. Lang e Peter Andrews no Sheffield’s Heeley Club. 
Mas a primeira decisão judicial inglesa a considerar os ludopedistas profissionais 
empregados das entidades de prática desportiva (EPDs), responsáveis por arcar com 
seus salários, foi prolatada somente em 1910, no célebre caso Walker contra Crystal 
Palace. Esta sentença tinha como principais fundamentos o fato de os atletas serem 
remunerados por suas equipes em troca do fornecimento de suas habilidades 
esportivas. 
O direito do trabalho brasileiro começou a ser regulamentado, de forma mais 
veemente, com a criação de leis sobre assuntos trabalhistas específicos, entre as quais 
as que versavam sobre o trabalho dos menores (em 1891), os sindicatos rurais (em 
1903) e os sindicatos urbanos (1907). 
Há uma lacuna temporal muito grande entre a publicação das primeiras leis 
trabalhistas e a constitucionalização de alguns aspectos a elas concernentes. 
A primeira Constituição Brasileira que tratou especificamente do Direito do 
Trabalho foi a de 1934, durante o governo Getúlio Vargas; o presidente, motivado pelas 
influências europeias que o país sofria, criou diversos direitos até então inexistentes no 
ordenamento pátrio. 
Há uma grande diferença, contudo, entre abordar questões trabalhistas de modo 
geral na Carta Magna e detalhar, na legislação ordinária, aspectos específicos do atleta 
profissional de futebol. 
A Resolução de 4 de novembro de 1942, expedida pelo Conselho Nacional do 
Desporto, o Decreto Lei de n° 5.342 de 1943, o Decreto n° 51.008, de 1961, e o Decreto 
n° 53.820, de 1964, trataram do desporto profissional antes que fosse criada uma lei 
que regulasse como um todo e de forma concisa o assunto. 
O Decreto-Lei 5.342/43, por exemplo, estipulou que os atletas profissionais 
deveriam ter carteira de atleta, registrada devidamente no Conselho Nacional de 
Desportos juntamente com os eventuais contratos celebrados entre os clubes e eles. 
Vizinhos e rivais nos campos esportivo, político, econômico e militar, Brasil e 
Argentina compartilharam, em períodos muito próximos, a mesma visão sobre a 
inserção do futebolista profissional na legislação trabalhista. 
Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que o futebol não poderia ser 
entendido como objeto da legislação trabalhista. Em 15 de abril 1952, a Câmara de 
Apelação do Trabalho da Argentina decidiu, por unanimidade de votos, que “entre o 
jogador profissional de futebol e o clube que o contratou não existe uma vinculação de 
caráter laboral”. 
O Decreto 51.008, de 20 de junho de 1961, foi confeccionado com base em 
argumentos climáticos e fisiológicos e destinava-se a evitar a sobrecarga e o desgaste 
físico excessivo dos atletas nas partidas de futebol.1 
Em 24 de março de 1964, foi publicado o Decreto 53.820, que instituiu ao atleta 
profissional de futebol alguns direitos, entre os quais: férias remuneradas; depósitos no 
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); participação do atleta no preço 
cobrado pelo respectivo “passe”, no montante de 15% sobre o valor total; e concessão 
do próprio “passe”, a partir dos 32 anos de idade. 
O Decreto 53.820 foi publicado sete dias antes do golpe de Estado que alijou do 
cargo o então presidente João Goulart. 
Todavia, somente a partir de 01 de março de 1977, com a entrada em vigor da 
Lei 6.354, de 1976,2 o jogador de futebol tornava-se oficialmente um trabalhador.3 A Lei 
6.354/76 foi completamente revogada pelas alterações na LGSD por meio da Lei 
12.395/2011. 
Atualmente, o arcabouço jurídico que regulamenta a legislação trabalhista dos 
atletas profissionais de futebol no Brasil é composto pelo Decreto-lei 5.452/43 
(Consolidação das Leis do Trabalho, a popular “CLT”), pela Lei 9.615/98 (“Lei Pelé”) e 
pelo seu respectivo regulamento, o Decreto 2.574/98. 
Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da 
Seguridade Social, ressalvadas as peculiaridades constantes da Lei Pelé.4 Portanto, aos 
atletas profissionais são aplicadas as normatizações específicas da profissão e, 
subsidiariamente, a legislação geral trabalhista. 
O registro histórico tem como principal finalidade conhecer a maneira por meio 
da qual foi construída a legislação aplicável aos ludopedistas profissionais. Entretanto, 
 
1 Soares, 2008 
2 Brunoro; Afif, 1997 
3 Soares, 2008 
4 art. 28, § 4º, Lei 9.615/98 
tem pouca valia como mecanismo capaz de fornecer conhecimentos necessário para 
lidar diuturnamente com o vasto leque de questões sobre esse assunto, o qual inunda 
a vida dos juristas. 
Por isso, faz-se mister conhecer, com profundidade, os temas mais pulsantes do 
universo jurídico que é a legislação laboral do atleta profissional de futebol. 
Em primeiro lugar, é necessário saber a diferença entre relação de emprego e 
relação de trabalho, assim como também é indispensável identificar quem é o 
empregado e quem é o empregador na relação laboral desportiva. 
Ademais, é de suma importância conhecer o contrato especial de trabalho 
desportivo e todos os seus elementos: conceito, capacidade, duração etc. 
Outro ponto de fulcral relevância é diferenciar os conceitos de vínculo 
empregatício e vínculo trabalhista. Da mesma sorte, é importante saber distinguir a 
cláusula indenizatória desportiva da cláusula compensatória desportiva. 
O correto estudo do direito laboral desportivo também requer de seu operador 
pleno conhecimento dos direitos e deveres do atleta e da entidade de prática desportiva 
em relação a férias, décimo-terceiro salário, FGTS, repouso semanal remunerado e 
demais assuntos concernentes a esses itens. 
Além desses temas, o presente capítulo objetiva abordar assuntos raramente 
estudados pelos doutrinadores, entre os quais o intervalo interjornada e o intervalo 
intrajornada de futebolistas profissionais. 
Em 2004, os cinco maiores mercados europeus de futebol (Alemanha, Espanha, 
França, Inglaterra e Itália) arrecadaram US$ 6,9 bilhões, dos quais 60% desse montante 
foram destinados para pagamento de salários. O volume de dinheiro envolvido fornece 
uma boa noção da importância socioeconômica desse negócio. 
 
 
 
 
 
 
1. Relação de Trabalho 
Relação de Trabalho é o gênero que compreende o trabalho autônomo, eventual, 
avulso etc. Relação individual de trabalho é a que “entrelaça um empregado a seu 
empregador, mediante direitos e obrigações recíprocas”. São sujeitos da relação jurídica 
de trabalho subordinado típico: a) o empregado, pessoa física que presta serviços de 
natureza não-eventual, e b) o empregador, destinatário da atividade e seus resultados, 
dirigindo-a em decorrência do poder de organização, de fiscalização e de disciplina que 
lhe é conferido. 
2. Relação de emprego 
Relação de emprego é a que tem como objeto o trabalho subordinado, 
continuado e assalariado. A relação de emprego trata do trabalho subordinado do 
empregado em relação ao empregador. 
3. Conceito de empregado e de empregador 
No caso da legislação trabalhista do atleta profissional de futebol, a 
caracterização das partes é bem simples: o atleta é o empregado e a entidade de prática 
desportiva (EPD) é o empregador. 
4. Fundamentação Legal 
O arcabouço jurídico que regulamenta a atividade
laboral do atleta profissional 
de futebol é composto pelos seguintes dispositivos legais: a) Decreto-lei 5.452/43 
(Consolidação das Leis do Trabalho - “CLT”), Lei 9.615/98 (“Lei Pelé”) e Decreto 
2.574/98. Aos atletas profissionais são aplicadas as normatizações específicas da 
profissão e, subsidiariamente, a legislação geral trabalhista. 
5. Vínculo desportivo 
O vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva contratante 
constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho desportivo na entidade de 
administração do desporto.5 
O vínculo desportivo tem natureza acessória ao respectivo vínculo 
empregatício.6 Uma vez cessado o contrato de trabalho, não há mais nenhum liame 
entre o atleta e a EPD. 
 O vínculo desportivo do atleta autônomo com a entidade de prática desportiva 
resulta de inscrição para participar de competição e não implica reconhecimento de 
relação empregatícia.7 
 
5 art. 28, § 5º, Lei 9.615/98 
6 art. 28, § 5º, Lei 9.615/98 
7 art. 28-A, § 1º, Lei 9.615/98 
São nulos de pleno direito os contratos firmados pelo atleta ou por seu 
representante legal com agente desportivo, pessoa física ou jurídica, bem como as 
cláusulas contratuais ou de instrumentos procuratórios que resultem vínculo desportivo.8 
O vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva, previsto no 
§ 5º do art. 28 da Lei 9.615/98, não se confunde com o vínculo empregatício e não é 
condição para a caracterização da atividade de atleta profissional.9 
6. Atleta profissional 
No Brasil, a atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração 
pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de prática 
desportiva, no qual deverá constar, obrigatoriamente:10 
i. cláusula indenizatória desportiva, devida exclusivamente à entidade de prática 
desportiva à qual está vinculado o atleta, nas seguintes hipóteses:11 
a) transferência do atleta para outra entidade, nacional ou estrangeira, durante 
a vigência do contrato especial de trabalho desportivo;12 ou 
b) por ocasião do retorno do atleta às atividades profissionais em outra entidade 
de prática desportiva, no prazo de até 30 (trinta) meses;13 e 
ii. cláusula compensatória desportiva, devida pela entidade de prática desportiva 
ao atleta, nas hipóteses dos incisos III a V do § 5º da Lei Pelé.14 
Os atletas profissionais poderão ser representados em juízo por suas entidades 
sindicais em ações relativas aos contratos especiais de trabalho desportivo mantidos 
com as entidades de prática desportiva.15 
7. Contrato de Trabalho 
Contrato individual de trabalho, em sentido estrito, é o negócio jurídico de direito 
privado pelo qual uma pessoa física (empregado) se obriga à prestação pessoal, 
subordinada e não eventual de serviço, colocando sua força de trabalho à disposição 
de outra pessoa, física ou jurídica, que assume os riscos de um empreendimento 
econômico (empregador) ou de quem é a este, legalmente, equiparado, e que se obriga 
a uma contraprestação (salário).16 
 
8 art. 27-C, I, Lei 9.615/98 
9 art. 44, §2º, Decreto 7984/2013 
10 art. 28, caput, Lei 9.615/98 
11 art. 28, I, Lei 9.615/98 
12 art. 28, I, a, Lei 9.615/98 
13 art. 28, I, b, Lei 9.615/98 
14 art. 28, II, Lei 9.615/98 
15 art. 90-D, caput, Lei 9.615/98 
16 MARANHÃO, Délio; CARVALHO, Luiz Inácio Barbosa. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1993. 
 
O contrato de trabalho é um pacto de direito privado, sinalagmático, consensual, 
intuito personae (quanto ao empregado), de trato sucessivo e de atividade, oneroso e 
dotado de alteridade; pode também ser acompanhado de outros contratos acessórios.17 
8. Contrato especial de trabalho desportivo 
Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da 
Seguridade Social, ressalvadas as peculiaridades constantes da Lei Pelé.18 
8.1. Elementos jurídico-formais do contrato de trabalho do atleta 
profissional de futebol:19 
a) capacidade das partes contratantes; 
b) consentimento; 
c) licitude do objeto contratado; 
d) forma contratual prescrita ou não proibida em lei; 
e) higidez na manifestação da vontade das partes. 
8.2. Capacidade 
O futebolista poderá assinar seu primeiro contrato profissional a partir dos 16 
anos de idade. 
8.3. Duração 
Mínimo de três meses e máximo de cinco anos20. 
Quando o prazo do contrato especial de trabalho desportivo for inferior a doze 
meses, o atleta terá direito, por ocasião da rescisão contratual por culpa da entidade de 
prática desportiva empregadora, a tantos doze avos da remuneração mensal quantos 
forem os meses da vigência do contrato, referentes a férias, abono de férias e décimo 
terceiro salário21. 
8.4. Acordo por escrito 
A forma escrita é necessária para provar a existência do contrato em si e garantir 
um nível mínimo de proteção aos atletas22. 
 
17 Delgado, 1999 
18 art. 28, § 4º, Lei 9.615/98 
19OLIVEIRA, Jean Marcel Mariano de. O contrato de trabalho do atleta profissional de futebol. São Paulo: Ltr, 2009. 168 p. 
20 Art. 30, caput, Lei 9.615/98. 
21 Art. 28, § 9º, Lei 9.615/98. 
22 KLUWER LAW INTERNATIONAL. International Encyclopaedia of Laws - sports law: supplement 1 - Italy. Haia, 2004. 
Mas a ausência do instrumento contratual na forma escrita não impede a 
formação e o reconhecimento de vínculo empregatício. Se presentes os requisitos do 
artigo 3° da CLT, o atleta será considerado empregado23. 
8.5. Hipóteses de interrupção 
A interrupção do contrato de trabalho é a sustação temporária da principal 
obrigação do empregado no contrato de trabalho (prestação de trabalho e 
disponibilidade perante o empregador), em virtude de um fato juridicamente relevante, 
mantidas em vigor todas as demais cláusulas contratuais. A interrupção é computada 
como tempo de serviço. Enquanto vigorar a interrupção, o empregador é obrigado a 
pagar salários. 
8.6. Hipóteses de suspensão 
A entidade de prática desportiva poderá suspender o contrato especial de 
trabalho desportivo do atleta profissional, ficando dispensada do pagamento da 
remuneração nesse período, quando o atleta for impedido de atuar, por prazo 
ininterrupto superior a noventa dias, em decorrência de ato ou evento de sua exclusiva 
responsabilidade, desvinculado da atividade profissional, conforme previsto no referido 
contrato24. O contrato deverá conter cláusula expressa reguladora de sua prorrogação 
automática na ocorrência da hipótese prevista no § 7º deste artigo25. O tempo de 
suspensão será acrescentado ao tempo total de trabalho do atleta, que terá seu término 
prorrogado no exato número de dias da suspensão de vigência, mantidas todas as 
demais condições contratuais26. 
8.7. Hipóteses de cessação do contrato especial de trabalho desportivo 
O contrato de trabalho pode cessar por: 
a) decisão do empregador (com ou sem justa causa); 
b) decisão do empregado (demissão, rescisão indireta ou aposentadoria); 
c) mútuo consentimento entre os contratantes; 
d) advento do fim contratual; 
e) virtude de força maior; 
 
23 GRISARD, Luiz Antonio. Considerações sobre a relação entre contrato de trabalho de atleta profissional de futebol Curso básico 
de direito desportivo: principais temas e desafios e contrato de licença de uso de imagem. Jus Navigandi, Teresina, ano7, n. 60, 1 
nov. 2002. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/3490>. Acesso em:30 mar. 2011. 
24 Art. 28, § 7º, lei 9615/98. 
25 Art. 28, § 8º, lei 9.615/98. 
26
DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2006.. 
f) desaparecimento de uma das partes (morte do empregador ou do empregado 
ou a extinção da empresa); 
g) factum principis. 
A cessação da relação empregatícia pode ocorrer pela ação de uma ou de 
ambas as parte. Por uma das partes, pode ser ou por consentimento mútuo ou por 
consentimento unilateral. O consentimento mútuo acontece quando as partes por 
anuência mútua cessam as consequências da relação empregatícia. O segundo caso 
abrange demissão individual, demissão coletiva e desistência. 
A extinção da relação de trabalho pode ocorrer pela ação de uma parte, de 
ambas as partes ou da lei. A extinção pela ação de ambas as partes pode ser mútua ou 
unilateral. A extinção por consentimento mútuo ocorre quando as partes acordam em 
encerrar as consequências do término da relação laboral. A extinção unilateral engloba 
dispensa individual, dispensa coletiva e demissão. 
9. Repouso semanal remunerado 
Os atletas profissionais têm direito a repouso semanal remunerado de vinte e 
quatro horas, preferentemente em dia subsequente à participação do atleta na partida, 
prova ou equivalente, quando realizada no final de semana (art. 28, § 4º, IV, Lei 
9.615/98). 
10. Período de concentração. 
Se conveniente à entidade de prática desportiva, a concentração não poderá ser 
superior a 3 (três) dias consecutivos por semana, desde que esteja programada 
qualquer partida, prova ou equivalente, amistosa ou oficial, devendo o atleta ficar à 
disposição do empregador por ocasião da realização de competição fora da localidade 
onde tenha sua sede (art. 28, § 4º, I, Lei 9.615/98). 
O prazo de concentração poderá ser ampliado, independentemente de qualquer 
pagamento adicional, quando o atleta estiver à disposição da entidade de administração 
do desporto (art. 28, § 4º, II, Lei 9.615/98). 
Acréscimos remuneratórios são passíveis em razão de períodos de 
concentração, viagens, pré-temporada e participação do atleta em partida, prova ou 
equivalente, conforme previsão contratual (art. 28, § 4º, III, Lei 9.615/98). Para o art. 4º 
da CLT, considera-se período de serviço efetivo aquele em que o empregado está à 
disposição do empregador, aguardando ou executando ordens. 
11. Férias 
Todo empregado terá direito anualmente ao gozo de um período de férias, sem 
prejuízo da remuneração (art 129, CLT). Todo atleta profissional tem direito a férias 
anuais remuneradas de trinta dias, acrescidas do abono de férias, coincidentes com o 
recesso das atividades desportivas (art. 28, § 4º, V, Lei 9.615/98). 
A remuneração devida durante o descanso deverá observar o salário fixo, a 
média dos prêmios, as gratificações e as bonificações, incluindo os “bichos”. 
 
 
 
12. Décimo-terceiro salário 
Os atletas profissionais de futebol têm direito ao décimo-terceiro salário. 
O décimo terceiro salário poderá ser pago em duas parcelas durante o ano. A 
primeira parcela, metade do valor total devido, deverá ser paga entre fevereiro a 
novembro de cada ano (art. 2˚, Lei 4.749/65). Mas o adiantamento será pago ao ensejo 
das férias do empregado, sempre que este o requerer no mês de janeiro do 
correspondente ano (art. 2˚, parágrafo 2˚, Lei 4.749/65). A segunda parcela será paga 
pelo empregador até o dia 20 de dezembro de cada ano, compensada a importância 
que, a título de adiantamento, o empregado já houver recebido (art. 1˚, Lei 4.749/65). 
 
13. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) 
O atleta profissional de futebol tem direito ao Fundo de Garantia do Tempo de 
Serviço (FGTS). O FGTS é constituído de contas vinculadas, abertas em nome de cada 
trabalhador, quando o empregador efetua o primeiro depósito. O saldo da conta 
vinculada é formado pelos depósitos mensais efetivados pelo empregador, equivalentes 
a 8,0% (oito por cento) do salário pago ao empregado, acrescido de atualização 
monetária e juros. (http://www.fgts.gov.br/trabalhador/index.asp, acessado em 26 de 
setembro de 2012) 
14. “Bichos” 
 
Os “bichos” são uma espécie de premiação efetuada a atletas profissionais de 
futebol em razão de resultado em uma partida ou até mesmo de determinada colocação 
em um campeonato. Há vasta jurisprudência que considera os “bichos” como algo de 
natureza salarial. 
 
15. Luvas 
 
São parcelas pagas pela EPD ao atleta, em reconhecimento à sua qualidade; 
podem ser pagas em espécie ou em bens, entre eles automóveis e imóveis. Nos termos 
da Consolidação das Leis do Trabalho: 
 
Art. 457. Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os 
efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como 
contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. 
 
§1º. Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as 
comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos 
pelo empregador. 
 
Em regra, os tribunais têm entendido que as luvas possuem, sim, caráter 
remuneratório, razão pela qual devem ser consideradas como salário, para todos os 
efeitos legais. 
 
16. Intervalo intrajornada 
É o destinado a repouso e alimentação. Como a Lei 9.615/98 não possui nenhum 
dispositivo que estabeleça uma norma especial para os atletas a respeito do intervalo 
intrajornada, aplicam-se a eles as normas constantes na CLT. 
 
O intervalo intrajornada está disposto no art. 71 da CLT e pode variar de dez 
minutos a duas horas, dependendo da jornada de trabalho. O intervalo de quinze 
minutos durante as partidas de futebol é típico da prática desportiva, razão pela qual 
não pode ser considerado intervalo intrajornada. 
 
17. Intervalo interjornada 
Em suma, é o intervalo destinado ao descanso. Idem ao que ocorre com o 
intervalo intrajornada, não há, na legislação específica, nenhum dispositivo que conceda 
um tratamento diferenciado aos desportistas a respeito do intervalo interjornada, motivo 
pelo qual aplica-se a norma geral da CLT: 
Art. 66. Entre duas jornadas de trabalho haverá um período mínimo de onze 
horas consecutivas para descanso. 
 
 
18. Cessão temporária (“empréstimo”) 
Qualquer cessão ou transferência de atleta profissional depende de sua formal 
e expressa anuência (art. 38, caput, Lei 9.615/98). A cessão a que se refere este artigo 
também pode ser temporária, comumente denominada de “contrato de empréstimo”. O 
contrato de cessão temporária é acessório ao contrato principal. 
O art. 39, caput, da Lei 9.615/98, estipula que atleta cedido temporariamente a 
outra entidade de prática desportiva que tiver os salários em atraso, no todo ou em parte, 
por mais de 2 (dois) meses, notificará a entidade de prática desportiva cedente para, 
querendo, purgar a mora, no prazo de 15 (quinze) dias, não se aplicando, nesse caso, 
o disposto no caput do art. 31 da Lei Pelé. 
O art. 39, § 1º, Lei 9.615/98, assevera que o não pagamento ao atleta de salário 
e contribuições previstas em lei por parte da entidade de prática desportiva 
cessionária, por 2 (dois) meses, implicará a rescisão do contrato de empréstimo e a 
incidência da cláusula compensatória desportiva nele prevista, a ser paga ao atleta pela 
entidade de prática desportiva cessionária. 
O art. 39, § 2º, da Lei 9.615/98, estipula que, ocorrendo a rescisão mencionada 
no § 1º do artigo 39 da lei Pelé, o atleta deverá retornar à entidade de prática desportiva 
cedente para cumprir o antigo contrato especial de trabalho desportivo. 
O art. 40, caput, da Lei 9.615/98, determina que na cessão ou transferência de 
atleta profissional para entidade de prática desportiva estrangeira observar-se-ão as 
instruções expedidas
pela entidade nacional de título. 
O art. 40, § 1º, da Lei 9.615/98, afirma que as condições para transferência do 
atleta profissional para o exterior deverão integrar obrigatoriamente os contratos de 
trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva brasileira que o contratou. 
19. Convocação para seleção nacional 
O art. 41, caput, da Lei 9.615/98, afirma que a participação de atletas 
profissionais em seleções será estabelecida na forma como acordarem a entidade de 
administração convocante e a entidade de prática desportiva cedente. 
O art. 41, § 1º, Lei 9.615/98, estabelece que a entidade convocadora indenizará 
a cedente dos encargos previstos no contrato de trabalho, pelo período em que durar a 
convocação do atleta, sem prejuízo de eventuais ajustes celebrados entre este e a 
entidade convocadora. 
O art. 41, § 2o, da Lei 9.615/98, afirma que o período de convocação estender-
se-á até a reintegração do atleta à entidade que o cedeu, apto a exercer sua atividade. 
 
20. Atleta autônomo 
Caracteriza-se como autônomo o atleta maior de dezesseis anos que não 
mantém relação empregatícia com entidade de prática desportiva, auferindo 
rendimentos por conta e por meio de contrato de natureza civil.27 
O vínculo desportivo do atleta autônomo com a entidade de prática desportiva 
resulta de inscrição para participar de competição e não implica reconhecimento de 
relação empregatícia.28 
 A filiação ou a vinculação de atleta autônomo a entidade de administração ou a 
sua integração a delegações brasileiras partícipes de competições internacionais não 
caracteriza vínculo empregatício.29 
O disposto neste artigo não se aplica às modalidades desportivas coletivas.30 
Portanto, somente pode ser enquadrado como atleta autônomo quem se dedica à prática 
desportiva de modalidade individual.31 
A atividade econômica do atleta autônomo é caracterizada quando há: 
a) remuneração decorrente de contrato de natureza civil firmado entre o atleta e 
a entidade de prática desportiva;32 
b) premiação recebida pela participação em competição desportiva;33 ou 
c) incentivo financeiro proveniente de divulgação de marcas ou produtos do 
patrocinador.34 
O atleta autônomo enquadra-se como contribuinte individual no Regime Geral 
de Previdência Social - RGPS.35 
O atleta não profissional que perceba incentivos materiais na forma de bolsa, 
conforme disposto no art. 4º, parágrafo único, da lei Pelé, não será considerado 
contribuinte obrigatório do RGPS.36 
 
 
27 art. 28-A, caput, Lei 9.615/98 
28 art. 28-A, § 1º, Lei 9.615/98 
29 art. 28-A, § 2º, Lei 9.615/98 
30 art. 28-A, § 3º, Lei 9.615/98 
31 art. 47, caput, Decreto 7984/2013 
32 art. 47, § 1º, I, Decreto 7984/2013 
33 art. 47, § 1º, II, Decreto 7984/2013 
34 art. 47, § 1º, III, Decreto 7984/2013 
35 art. 47, § 2º, Decreto 7984/2013 
36 art. 61, caput, Decreto 7984/2013 
Tema: Legislação Trabalhista do Atleta Profissional 
Questões 
1. Assinale a alternativa correta: 
a) Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que somente o futebol 
praticado pelos homens poderia ser havido como objeto da legislação trabalhista, razão 
pela qual o futebol feminino foi considerado “amador” até 1984. 
b) Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que o futebol não poderia 
ser havido como objeto da legislação trabalhista. 
c) Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que o futebol poderia ser 
havido como objeto da legislação trabalhista. 
d) Em 1950, a Corte Suprema do Brasil entendeu que o futebol poderia ser 
havido como objeto da legislação trabalhista somente no caso de o atleta permanecer 
por mais de duas temporadas consecutivas na mesma entidade de prática desportiva. 
 
2. Assinale a alternativa correta: 
a) O Decreto 53.820, 24 de março de 1964, vedava ao atleta profissional de 
futebol o direito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). 
b) O Decreto 53.820, 24 de março de 1964, vedava ao atleta profissional de 
futebol o direito a férias remuneradas. 
c) O Decreto 53.820, 24 de março de 1964, instituiu ao atleta profissional de 
futebol alguns direitos, entre os quais: férias remuneradas; depósitos no Fundo de 
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); participação do atleta no preço cobrado pelo 
respectivo “passe”, no montante de 15% sobre o valor total; e concessão do próprio 
“passe”, a partir dos 32 anos de idade. 
d) O Decreto 53.820, 24 de março de 1964, instituiu ao atleta profissional de 
futebol alguns direitos, entre os quais: férias remuneradas e depósitos no Fundo de 
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), mas foi omisso em relação a questões 
concernentes ao “passe” dos atletas. 
 
3. Assinale a alternativa correta: 
a) a Lei 6.354/76 foi completamente revogada pelas alterações na LGSD 
acontecidas por meio da Lei 12.395/2011. 
b) apenas os aspectos da lei 6.354/76 relacionados ao “passe” ainda estão 
em vigor. 
c) a Lei 12.395/2011 não revogou a Lei 6.354/76, apenas a complementou. 
d) apesar da edição de diversas leis posteriores, entre as quais a Lei Pelé, 
a principal norma que regulamenta a atividade do atleta profissional de futebol continua 
sendo a Lei 6.354/76. 
 
4. O arcabouço jurídico que regulamenta a legislação trabalhista dos 
atletas profissionais de futebol no Brasil é composto: 
a) pelo Decreto-lei 5.452/43 (Consolidação das Leis do Trabalho), pela Lei 
9.615/98 (“Lei Pelé”) e por seu respectivo regulamento, o Decreto 2.574/98. 
b) apenas pela Carta Magna de 1988 e pela Lei 9.615/98 (“Lei Pelé”). 
c) apenas pela 9.615/98 (“Lei Pelé”). 
d) apenas pelo Decreto-lei 5.452/43 (Consolidação das Leis do Trabalho). 
 
 
5. Assinale a alternativa correta: 
a) o vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva 
contratante constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho desportivo na 
entidade de administração do desporto. 
b) o vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva 
contratante constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho desportivo no 
Ministério do Trabalho. 
c) o vínculo empregatício tem natureza acessória ao respectivo vínculo 
desportivo. 
d) o vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva 
previsto no § 5º do art. 28 da Lei 9.615/98 é condição para a caracterização da atividade 
de atleta profissional. 
 
Gabarito 
1. B 
2. C 
3. A 
4. A 
5. A

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