Buscar

AULA 7 DE PSICOLOGIA JURIDICA

Prévia do material em texto

Aula 7 – Intervenções com adolescentes em conflito com a lei
O Código Criminal do Império, de 1830: Determinava que os menores de 14 anos de idade encontravam-se isentos da imputabilidade pelos atos praticados (que fossem considerados criminosos), porém os menores de 14 anos que tinham discernimento sobre o ato cometido deveriam ser recolhidos às Casas de Correção, até que completassem 17 anos, com base na Teoria da Ação com Discernimento (consciência em relação à prática da ação criminosa).
Entre os 14 e 17 anos, os menores seriam considerados cúmplices, sujeitos a pena de dois terços da que cabia ao adulto infrator, e os maiores de 17 e menores de 21 anos gozavam de atenuante da menoridade -Código Penal da República de 1890 
 
Declarou a irresponsabilidade de pleno direito dos menores de 9 anos de idade – não eram considerados criminosos (inimputáveis) e os maiores de 9 e menores de 14 anos que não tivessem discernimento – também eram inimputáveis, mas se tivessem praticado o ato com discernimento, seriam recolhidos em estabelecimentos disciplinares industriais, pelo tempo determinado pelo juiz, desde que não ultrapassasse os 17 anos de idade. 
Com discernimento = recolhidos estabelecimentos disciplinares industriais até os 17 anos;
 
Observação: A Lei 4.242/1921 eliminou o critério do discernimento e fixou em 14 anos a inimputabilidade.
Código Mello Matos de 1927: Conhecido como Código de Menores “Mello de Matos”, o decreto nº 17.943-A, de 12 de outubro de 1927, consolidou as leis de assistência e proteção aos menores.
O Código dividia os menores em duas categorias:
Os abandonados, que incluíam os vadios, mendigos e libertinos; eram os menores de 18 anos. 
Os delinquentes, desde que menores de 18 anos de idade, que estariam amparados e disciplinados pelas normas contidas no Código.
 
Aos 14 anos de idade era vedada a prisão comum, entretanto, eram submetidos a um processo especial de apuração de sua infração.
Código Penal 1940 (Código Penal Atual):  Responsabilidade penal aos 18 anos.
Código de Menores de 1979: “Menor em Situação Irregular” – Referia-se ao menor de 18 anos de idade que se encontrava abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral, desassistido juridicamente, com desvio de conduta e ainda o autor de infração penal. (Veronese, 1999).
 
O Código de Menores, no art. 14, apresentava seis medidas aplicáveis a todos os menores considerados em situação irregular, cabendo à autoridade judiciária adequá-las ao caso concreto.
I - Advertência;
II - Entrega aos pais ou responsável, ou a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade;
III - colocação em lar substituto;
IV - Imposição do regime de liberdade assistida;
V - Colocação em casa de semiliberdade;
VI-Internação em estabelecimento educacional, ocupacional, psicopedagógico, hospitalar, psiquiátrico ou outro adequado.
Praticada a infração penal ou uma conduta desviante, o juiz aplicava a medida, não na forma de pena, mas como forma de proteção, vigilância e prevenção. O juiz tinha a autoridade judiciária, a faculdade de escolher, entre as medidas arroladas, a que melhor atendesse ao caso concreto. (VERONESE, 1999).
Não obstante, as medidas aplicadas aos infratores menores de 18 anos guardavam caráter punitivo.
Os jovens entre 18 e 21 anos que eram submetidos a medidas de internação, não eram reinseridos em sociedade, por entender que ainda possuíam desvio de conduta, permanecendo, assim, sob os cuidados do Juízo de Menores, portanto, sujeitos, ainda, às previsões do Código de Menores (Constituição Federal de 1988.
 
Art. 228 – São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
Estatuto da Criança e Adolescente de 1990
 
Ato Infracional (art. 103 ECA) – é a conduta descrita como crime ou contravenção penal praticado por crianças e adolescentes. 
Inimputabilidade Infanto-Juvenil (art. 104 ECA) – os menores de 18 anos, que estão sujeitos a medidas socioeducativas, considerando a idade do adolescente (12 anos completos até 18 anos incompletos) à data do fato.
Ato Infracional Praticado por Criança – Crianças até 12 anos de idade incompletos que cometerem infrações análogas às penais, o ECA as excluiu da aplicação de Medida Socioeducativa. O artigo 105 ECA determina que sejam aplicadas as medidas de proteção do artigo 101 ECA.
Medidas Socioeducativas (arts. 112 a 125 ECA) – São medidas com caráter pedagógico, visando a reintegração do jovem em conflito com a lei à vida social, assim como caráter sancionatório, como resposta à sociedade pela lesão provocada pelo adolescente.Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança.
Algumas informações sobre os Direitos da Criança e do adolescente e as práticas psicológicas referentes aos adolescentes em atos infracionais:
Início do Século XX
	Menores infratores
	Doutrina da Situação Irregular
	Doutrina da Proteção Integral
	Causalidade: moral 
	 Causalidade: presença de patologias 
	Causalidade: múltipla; deficiências institucionais.
	Critérios: verificação da situação moral dos jovens e familiares
	Critérios: avaliação de anomalias médicas, psicológicas e sociais
	 Critérios: avaliação segundo os direitos listados no ECA.
	Intervenção: reformatórios
	Intervenção: clínico-terapêutica 
	 Intervenção: socioeducativa, visando à promoção do desenvolvimento
	 Doutrina da Proteção Integral
	Fim do ciclo: sit. Irregular, patologias, med. terapêuticas (sem apoio à família).
	Sujeito de direitos = em desenvolvimento.
	 Educação para cidadania à Justificativa estruturante. 
	Suporte social para internalização das leis (humanização / domesticação).
	Direitos elencados: Convivência familiar e comunitária, educação, lazer etc. 
	Proposta de: pleno desenvolvimento dos menores de idade.
	Formação do sujeito social.
	Doutrina da Proteção Integral
	 Internação (art.124 – direitos do adolescente privado de liberdade).
	Art. 121 §2 – medida deve ser reavaliada.
	Intervenção educativa em substituição à autoridade parental. 
	Estratégias: não mais de adestramento e sim de conteúdo socioeducativo. 
	 Convivência familiar – desenvolvimento acompanhado pelos pais.
	Convivência comunitária – novos parceiros.
Basseto e Silva (s/d) em sua pesquisa abordam, sob uma ótica Fenomenológico-Existencial, os motivos que os adolescentes alegam para estarem em conflito com a lei. Em sua esquisa relatam pesquisas realizadas por Levisky (2000) e Gomide (1990) que dizem que o comportamento antissocial e ato delinquencial dos menores podem ser resultados de uma construção social, familiar (lares desfeitos, violência, álcool, drogas, negligência etc.), escolar e econômica. 
Entretanto, os próprios adolescentes não são questionados sobre os motivos que os impulsionaram a agir de tal modo. 
Os comportamentos de cada indivíduo não são resultantes de uma mesma condição, uma vez que os adolescentes são seres únicos, com histórias singulares e projetos de vida diferentes.
As autoras apresentam alguns dos motivos alegados pelos adolescentes:
Falta de dinheiro e/ou para ajudar a família;
Ideia de Destino, ou seja, foram coisas da vida, destino;
Falta de emprego;
Influência das amizades;
Olhar excludente da sociedade;
Noção de que a lei (no caso o ECA) os impede de atingir certos objetivos (ex: restrições ao emprego do trabalho de adolescentes; então, como não têm como trabalhar, eles roubam).
INTERVENÇÃOQuanto à intervenção propriamente dita, é inegável que existe uma carência de soluções de intervenção para adolescentes em conflitos com a lei, e o que se verifica na literatura brasileira é um número reduzido de programas voltados para o seu atendimento.
Portanto, este é ainda um dos temas que merece a maior atenção por parte do psicólogo que atua junto ao judiciário, principalmente nas instituições destinadas aos adolescentes em conflito com a lei.
Os serviços psicológicos oferecidos e praticados nas Varas de Infância e Juventude:
Atendimento – individual e em grupo, aos adolescentes e seus familiares visando avaliar, orientar, estimular a reflexão e, quando necessário, encaminhar para tratamento especializado. 
A presença da família é fundamental na compreensão da história do adolescente e oportunamente a equipe técnica atua facilitando a integração familiar.
Os estudos de caso e avaliações são realizados a pedido do Juiz, anteriormente à audiência ou do plantão interdisciplinar, quando há necessidade de esclarecimento ou parecer psicológico.
O primeiro contato dos adolescentes é por meio da dinâmica do grupo de recepção. Nesta ocasião, os psicólogos explicitam as formas de atendimento e as possibilidades de encaminhamentos possíveis, dentro e fora do Juízo.
O Serviço de Psicologia acompanha diretamente os seguintes projetos sociais:
Curso Antidrogas;
Programa Especial para Usuário de Drogas – Proud;
Grupo de Pais em conjunto com o Serviço Social;
Grupo de Pais (Junto com o Serviço Social).
Constitui-se em um espaço de reflexão, orientação e troca de experiências entre os responsáveis pelos adolescentes atendidos neste Juízo. 
Tem como objetivos:
Discutir temas relacionados com a adolescência e as imbricações no cotidiano da família; 
Fornecer informações e orientações sobre os procedimentos judiciais e as medidas legais; 
Estimular a participação da família no processo socioeducativo visando a redução da reincidência dos atos infracionais. 
Os participantes são convidados a integrar a atividade ou são inscritos por determinação judicial.
A Vara tem como parceiros neste programa – a Defensoria Pública e a AMÃES – Associação de Mães com Filhos em Conflito com a Lei.
*Curso Antidrogas – Tem como objetivo trabalhar a motivação do adolescente para seu engajamento ao tratamento da dependência química.
Programa Especial para Usuário de Drogas – PROUD -É uma unidade de Justiça Terapêutica – oferece a possibilidade do tratamento compulsório em alternativa ao processo e à ação socioeducativa propriamente dita – cujo ato infracional sem violência, tenha vinculação com o uso ou dependência de drogas ou alguma relação com o consumo. 
O ingresso no PROUD, que deve ser voluntário, é precedido por uma avaliação da equipe técnica com vistas a verificar se os adolescentes possuem o perfil necessário para a inserção no Programa. Sua equipe é composta por um médico, psicólogos, assistentes sociais e um conselheiro em dependência química. 
Tratamento compulsório para adolescentes usuários de drogas e o PROUD
Citado anteriormente
O provimento 20/2001 da Corregedoria de Justiça/RJ trouxe grandes modificações para a prática psico-jurídica nos tribunais do estado.
A ordem de serviço número 02/01, editada pela 2ª Vara da Infância e Juventude dispõe, entre outras coisas, sobre o Programa especial para Usuários de Drogas (PROUD RJ), em seu art. 4º que:
O Programa Especial para Usuários de Drogas, além da supervisão judicial, proporcionará tratamento médico, psicológico e de assistência social de adolescentes usuários de drogas e suas família.
§1º - exige-se do integrante do Programa comparecimento regular às audiências, conforme determinação judicial, frequência às sessões de terapia individual, familiar ou em grupo, realização de testes periódicos e aleatórios para detecção de substâncias ilícitas e comparecimento às reuniões de grupo de ajuda mútua (AI-Anon, NA, Nar-Anon etc.).
§2º - os participantes do Programa deverão receber treinamento profissionalizante, educação regular e ajuda para inserção no mercado de trabalho.

Continue navegando