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Página 2 de 13 Este material de apoio foi especialmente preparado por monitores capacitados com base na aula ministrada. No entanto, não se trata de uma transcrição da aula e não isenta o aluno de complementar seus estudos com livros e pesquisas de jurisprudência. MÓDULO I AULA 15 (NULIDADES DO PROCESSO E DA SENTENÇA) PROFESSOR JOSÉ ALEXANDRE MANZANO OLIANI ESCLARECIMENTOS INTRODUTÓRIOS: no sistema do CPC/73, a matéria está tratada nos arts. 243 a 250. No NCPC, o tema aparece nos arts. 276 a 283. DAS NULIDADES CPC/73 CPC/15 Art. 243. Quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa. Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade. Art. 245. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão. Parágrafo único. Não se aplica esta disposição às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão, provando a parte legítimo impedimento. Art. 246. É nulo o processo, quando o Ministério Público não for intimado a acompanhar o feito em que deva intervir. Parágrafo único. Se o processo tiver corrido, Art. 276. Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa. Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade. Art. 278. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no caput às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão provando a parte legítimo impedimento. Art. 279. É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado a acompanhar o feito em que deva intervir. §1º Se o processo tiver tramitado sem Página 3 de 13 sem conhecimento do Ministério Público, o juiz o anulará a partir do momento em que o órgão devia ter sido intimado. Art. 247. As citações e as intimações serão nulas, quando feitas sem observância das prescrições legais. Art. 248. Anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os subseqüentes, que dele dependam; todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras, que dela sejam independentes. Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos, ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou retificados. §1º O ato não se repetirá nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte. §2º Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta. Art. 250. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo praticar-se os que forem necessários, a fim de se observarem, quanto possível, as prescrições legais. Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não resulte prejuízo à defesa. conhecimento do membro do Ministério Público, o juiz invalidará os atos praticados a partir do momento em que ele deveria ter sido intimado. §2º A nulidade só pode ser decretada após a intimação do Ministério Público, que se manifestará sobre a existência ou a inexistência de prejuízo. Art. 280. As citações e as intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais. Art. 281. Anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os subsequentes que dele dependam, todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras que dela sejam independentes. Art. 282. Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e ordenará as providências necessárias a fim de que sejam repetidos ou retificados. §1º O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não prejudicar a parte. §2º Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta. Art. 283. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se observarem as prescrições legais. Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte. Para a boa compreensão das questões ligadas às nulidades do processo e da sentença, é preciso, antes, falar dos atos processuais e da sua forma (CPC/73, arts. 154 a 171; e NCPC, arts. 188 a 193). Página 4 de 13 CPC/73: Art. 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. Parágrafo único. Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disciplinar a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP - Brasil. §2º Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos, transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrônico, na forma da lei. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006). Art. 155. Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de justiça os processos: I - em que o exigir o interesse público; II - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores. Parágrafo único. O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultante do desquite. Art. 156. Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo. Art. 157. Só poderá ser junto aos autos documento redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado. (...) NCPC: Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos: I - em que o exija o interesse público ou social; II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; Página 5 de 13 IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. §1º O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores. §2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação.Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso. §1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados. §2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário. Art. 192. Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso da língua portuguesa. Parágrafo único. O documento redigido em língua estrangeira somente poderá ser juntado aos autos quando acompanhado de versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado. Art. 193. Os atos processuais podem ser total ou parcialmente digitais, de forma a permitir que sejam produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio eletrônico, na forma da lei. Parágrafo único. O disposto nesta Seção aplica-se, no que for cabível, à prática de atos notariais e de registro. (...) FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS: quando se fala em forma dos atos processuais, a referência ocorre em relação a algumas solenidades, a alguns requisitos ou condições de tempo, lugar e espaço nos quais o ato processual deve ser praticado. O respeito à forma é essencial para manter alguma organização e permitir que o processo tenha começo, meio e fim. Entretanto, no curso do processo, pode ocorrer alguma desconformidade, Página 6 de 13 alguma desobediência à forma. O estudo das nulidades compreende, nesse aspecto, a investigação sobre essas situações específicas de desrespeito à forma e a conclusão sobre quais nulidades devem ou não ser decretadas. REGIME JURÍDICO DAS NULIDADES PROCESSUAIS: a doutrina já vem se debruçando sobre este tema há algum tempo (destaques para as seguintes obras: “Nulidades do processo e da sentença”, da Professora Teresa Arruda Alvim; “Da invalidade no processo civil”, de Roque Komatsu; e “Pressupostos processuais e nulidades no processo civil”, de José Maria Tesheiner). Muito embora utilizem nomenclaturas distintas para os mesmos fenômenos jurídicos, há certa uniformidade no tratamento do regime jurídico das nulidades processuais. Existem, portanto, três categorias (ou três regimes jurídicos) de vícios processuais, quais sejam: (i) anulabilidades (doutrina clássica): são vícios fracos, de menor importância, também chamados de nulidades relativas (Teresa Arruda Alvim) ou vícios preclusivos (Tesheiner). Caso não alegados na primeira oportunidade pela parte prejudicada, serão automaticamente “sanados” pela ocorrência da preclusão; (ii) nulidades absolutas (doutrina clássica): são defeitos fortes, também conhecidos como nulidades de fundo ou vícios rescisórios (Tesheiner). Não se sujeitam à preclusão, podem ser alegados em qualquer tempo e grau de jurisdição, bem como reconhecidos de ofício pelo juiz. Também sobrevivem à coisa julgada material, somente podendo ser combatidos com a desconstituição da sentença por meio de ação rescisória. Transcorrido o biênio rescisório, ocorreria um saneamento geral desses vícios mais graves; e (iii) inexistências (Teresa Arruda Alvim): também chamadas de vícios transrescisórios (Tesheiner). Impedem a própria formação da coisa julgada material, tornando o ato, e mesmo o processo em determinadas situações, juridicamente inexistente. Podem ser também alegados a qualquer tempo e grau de jurisdição, bem como reconhecidos de ofício pelo magistrado. Podem ser alegados incidentalmente (ex.: impugnação ao cumprimento de sentença) ou por ação autônoma (querela nullitatis – ação declaratória da inexistência jurídica). Deve-se destacar que inexistência jurídica não se confunde com inexistência fática. Embora não haja grande disputa doutrinária sobre o regime jurídico dessa categoria, existe divergência acerca dos vícios processuais que podem ser classificados como inexistentes. Um bom exemplo sobre o qual há certa uniformidade se refere à ausência (ou nulidade) de citação somada à revelia, que redundará numa inexistência jurídica. Outro exemplo claro é o da sentença proferida por quem não é juiz (a non judice – ex.: juiz já aposentado que ainda profere sentença). Alguns autores, como a Professora Teresa Arruda Alvim, numa posição atualmente quase que isolada, ampliam o rol das inexistências e incluem nelas os casos de ausência de uma das condições da ação, por exemplo (legitimidade, interesse e possibilidade jurídica do pedido, segundo o CPC/73). Página 7 de 13 SISTEMA TRAZIDO PELO NCPC: segundo o Novo Código, pode-se dizer que existirá apenas um regime jurídico para qualquer dos vícios processuais, sejam anulabilidades, nulidades ou inexistências, qual seja: TODAS AS NULIDADES SÃO SANÁVEIS, sejam elas fracas, médias ou fortes. Mesmo a inexistência jurídica pode ser sanável, desde que não traga prejuízo. E o exemplo mais claro disso é o da sentença liminar de improcedência do pedido (art. 332). Sempre que não houver prejuízo, o ato processual deve ser aproveitado. Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. §1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. §2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241. §3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias. §4º Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias. O foco do NCPC é na performance (no desempenho) do processo, isto é, no cumprimento de sua função social, que é a pacificação dos conflitos. É altamente indesejável que seja proferida uma sentença terminativa, uma sentença sem resolução de mérito, porque isso significa que foram envidados esforços, foram gastos recursos públicos e privados para uma demanda que não gerou resultado social útil nenhum, que não resolveu um conflito de interesses que permanecerá vivo na sociedade. Nesse sentido, existe no Novo Código uma tentativa de busca incessante pela resolução de mérito das causas, com a extinção de muitas “armadilhas processuais” para o advogado, que também ficaram conhecidas como “jurisprudência defensiva”. Vamos ao estudo específico de cada um dos artigos do Novo Código. Página 8 de 13 O art. 276 do NCPC reproduz o art. 243 do CPC/73. Não há grandes novidades em relação a isso. Não se pode ser beneficiado alegando a nulidade de um ato processualque tenha dado causa. Em Direito Civil, costuma-se mencionar que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Art. 276. Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa. O art. 277 traz uma novidade, qual seja: eliminou-se a expressão “sem cominação de nulidade” do art. 244 do CPC/73, dando maior “rendimento” ao princípio da instrumentalidade das formas, já que para o novo sistema, como já dito e agora reforçado, todas as nulidades são sanáveis. Alcançando, o ato processual, ainda que por outro modo, a sua finalidade, sem causar prejuízo, ele será considerado válido e deverá ser aproveitado. Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade. E esta regra deve ser aplicada no processo em qualquer grau de jurisdição, a fim de eliminar todo e qualquer obstáculo formal que impeça o processo de chegar ao seu objetivo, qual seja: resolver a lide, o conflito social levado para análise do Poder Judiciário. Exemplo disso é a regra dos arts. 932, parágrafo único e 1.017, § 3º em relação ao agravo de instrumento. Art. 932. (...) Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. Art. 1.017. (...) §3º Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o disposto no art. 932, parágrafo único. (...) Outro exemplo muito interessante dessa busca pelo máximo desempenho do processo está na regra do art. 321 do NCPC, que exige do juiz, ao determinar a emenda da petição inicial, que também indique na decisão, com precisão, o que deve ser corrigido ou completado. Página 9 de 13 Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. O art. 278 do Novo Código, por sua vez, traz o regime jurídico das nulidades relativas, daqueles defeitos mais fracos, geralmente relacionados à forma dos atos processuais, que estão sujeitos à preclusão (exs.: citação em língua estrangeira numa petição; despacho do juiz com caneta de tinta clara, mas indelével e cuja grafia possa ser perfeitamente compreendida). Art. 278. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no caput às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão provando a parte legítimo impedimento. Também há uma novidade muito interessante no art. 279, que trata da nulidade decorrente da ausência de intimação do membro do Ministério Público em demanda na qual deva intervir obrigatoriamente. Pela nova sistemática processual civil, a nulidade somente poderá ser decretada nesses casos se o representante do Parquet, após intimado, manifestar-se pela ocorrência de prejuízo (§ 2º). Do contrário, isto é, havendo manifestação do Ministério Público no sentido de que, inobstante a ausência de sua participação na demanda, não houve prejuízo, não haverá nulidade a ser declarada. Art. 279. É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado a acompanhar o feito em que deva intervir. §1º Se o processo tiver tramitado sem conhecimento do membro do Ministério Público, o juiz invalidará os atos praticados a partir do momento em que ele deveria ter sido intimado. §2º A nulidade só pode ser decretada após a intimação do Ministério Público, que se manifestará sobre a existência ou a inexistência de prejuízo. Os atos de comunicação processuais (citações e intimações) são importantíssimos, pois são eles que permitem às partes tomar ciência dos atos processuais e participar ativamente influenciando na formação do convencimento do juiz (contraditório e ampla defesa). Esta a ideia presente nos arts. 10 e 280 do NCPC. Mas, do mesmo modo, a Página 10 de 13 nulidade somente será decretada se houver efetivo prejuízo. Do contrário, os atos processuais praticados serão aproveitados (ex.: não há nulidade da citação em demanda cuja sentença foi de total improcedência dos pedidos). Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Art. 280. As citações e as intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais. O art. 281 trata do princípio da causalidade ou da concatenação, que se manifesta tanto entre atos processuais distintos, como entre as partes de um mesmo ato processual. Nesse sentido, havendo dependência entre os atos ou entre as partes de um ato, decretada a nulidade do “ato-premissa”, nenhum efeito terão os atos ou as partes do ato que sejam subsequentes. Haverá uma “contaminação” dos “atos-dependentes” (a doutrina italiana fala em “efeito expansivo externo”: a declaração de nulidade de um ato atinge os subsequentes que dele sejam dependentes). Em se tratando de atos ou partes independentes, por outro lado, a nulidade decretada não os afetará. Art. 281. Anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os subsequentes que dele dependam, todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras que dela sejam independentes. Os parágrafos do art. 282 corroboram a ideia inicialmente exposta no sentido de que não há nulidade sem prejuízo. Art. 282. Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e ordenará as providências necessárias a fim de que sejam repetidos ou retificados. §1º O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não prejudicar a parte. §2º Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta. Da mesma forma, o art. 283, mais uma vez, repete este princípio segundo o qual sem prejuízo, não há nulidade a ser decretada. Página 11 de 13 Art. 283. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se observarem as prescrições legais. Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte. NULIDADES DA SENTENÇA: a sentença é um ato processual solene, que deve sempre conter três elementos, quais sejam: relatório, fundamentação (ou motivação) e dispositivo. Nesse sentido, os vícios da sentença podem ser intrínsecos (da própria sentença – ex.: falta de fundamentação da sentença – CF, art. 93, IX) ou extrínsecos (do processo na qual foi proferida – ex.: sentença íntegra proferida em processo nulo ou inexistente). CF: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casosnos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. (...) A sentença não se sujeita a uma nulidade relativa, pois no momento de sua prolação o sistema de preclusões processuais já sanou todas as nulidades relativas. A sentença, portanto, estará sujeita a uma nulidade absoluta (exs.: falta de fundamentação; ser proferida por juiz absolutamente incompetente ou que se corrompeu; etc. – todas as causas de rescisão do art. 966 do NCPC) ou a uma inexistência jurídica (ex.: ser proferida por quem não é juiz ou em processo juridicamente inexistente – citação nula ou inexistente e revelia do réu). Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar manifestamente norma jurídica; VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; Página 12 de 13 VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. §1º Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. §2º Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: I - nova propositura da demanda; ou II - admissibilidade do recurso correspondente. §3º A ação rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da decisão. §4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei. Doutrina e jurisprudência em alguma medida já absorveram a expressão “capítulos de sentença”, que designam as partes distintas da fundamentação ou do dispositivo da sentença (ex.: ação declaratória de paternidade cumulada com alimentos – a sentença conterá partes distintas, na fundamentação e no dispositivo, para resolver a declaração de paternidade, o direito a alimentos e a sucumbência). Ressalte-se que a doutrina existente sobre o tema admite apenas a subdivisão do dispositivo, sob o argumento de que a divisão da fundamentação não é útil para resolver os problemas do processo civil. O Professor José Alexandre Oliani não concorda com essa conclusão, uma vez que considera importante considerar a correlação existente entre os capítulos do dispositivo e os seus respectivos capítulos da fundamentação. De nada adianta existir um capítulo do dispositivo sem o correspondente capítulo da fundamentação. Sendo independentes, a nulidade de um capítulo não alcança os demais. Há uma continuação polêmica e interessante dessa questão. Vejamos. Na teoria dos recursos, é sabido que se pode ter um recurso total (envolvendo toda a decisão) ou parcial (envolvendo parcela, ou capítulo, da decisão). Nesse sentido, por exemplo, a apelação pode ser total ou parcial. Imagine-se, então, a hipótese de interposição de uma apelação parcial. Apenas se devolverá ao tribunal a análise de parte da decisão impugnada (tantum devolutum quantum appellatum). A consequência disso é o trânsito em julgado imediato dos demais capítulos não impugnados (princípio da aquiescência). Mas e se o tribunal observa a existência de um vício no processo que atinge um capítulo não impugnado, por exemplo? A decretação dessa nulidade poderá superar o óbice da Página 13 de 13 coisa julgada? A resposta dependerá da gravidade do vício identificado pelo tribunal. Se se tratar de um vício rescisório, a coisa julgada acobertará aquela parte não impugnada da decisão e a decretação de nulidade pelo tribunal não poderá atingi-lo (mas tão somente o capítulo impugnado). Se, por outro lado, o vício for de inexistência jurídica e, portanto, muito mais grave, não só o capítulo impugnado, mas todos aqueles não impugnados serão afetados pela decretação do vício processual. Isto porque, conforme visto anteriormente, a inexistência jurídica é um vício que impede a formação da coisa julgada material. CONCLUSÃO: surge um novo sistema no qual, repita-se, TODAS AS NULIDADES SÃO SANÁVEIS, desde que o ato processual atinja a sua finalidade e não haja prejuízo a ser alegado. E isso vai ao encontro de toda a lógica da nova sistemática processual civil, qual seja: permitir que o processo alcance o seu objetivo, que é a resolução de mérito dos conflitos sociais submetidos ao crivo do Poder Judiciário. É indesejável e todos os esforços devem ser envidados para que não haja extinção do processo sem resolução de mérito.
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