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13 Responsabilidade civil das Instituições Bancárias

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Disciplina: RESPONSABILIDADE CIVIL 1 Profa. Dra. Vera Lucia Gebrin Tema abordado: Responsabilidade Civil das Instituições Bancárias 
Desenvolvimento do assunto: É de conhecimento geral as inúmeras atividades desenvolvidas pelas Instituições Bancárias. 
Na preleção de Maria Helena Diniz em Curso de Direito Civil. Responsabilidade Civil. Vol. 7. São Paulo: Saraiva, 25ª edição, p. 392:
 O banco tem por fim realizar a mobilização do crédito, mediante o recebimento,
 em depósito, de capitais de terceiros, e o empréstimo de importância, em seu 
 próprio nome, aos que necessitam de capital.
 Para atingir essa finalidade, o banco realiza operações ativas( empréstimo,
 desconto, abertura de crédito, financiamento etc.) e passivas ( desconto e
 redesconto), mas além destas efetua operações acessórias (custódia de
 valores e aluguel de cofres) todas essas operações poderão ser consideradas 
 como contratos; logo, seu inadimplemento pode acarretar a responsabilidade
 contratual da casa bancária (os grifos são meus)
Fornece ainda às págs. 405, os princípios norteadores da responsabilidade civil do Banco:
 - Aplicação ao banqueiro das normas relativas ao mandato, depósito, mútuo.
 - Distinção da responsabilidade do banqueiro, concebido como banco ( pessoa 
 jurídica) da dos seus administradores (pessoas naturais).
 - As relações entre o banco e seus clientes são regidas pelos princípios de 
 responsabilidade objetiva do banqueiro fundada na ideia de risco profissional 
 e na assemelhação do banqueiro ao concessionário do serviço público.
 Nas relações em que o dever de ressarcir o dano recai sobre o diretor ou 
 administrador do banco, ter-se-á responsabilidade subjetiva.
 - Existência de dois fundamentos da responsabilidade civil da casa bancária:
 a culpa e o risco, conforme viu-se acima. (os grifos são meus) 
Sergio Cavallieri Filho, em seu livro Programa de Responsabilidade Civil, 10ª edição, São Paulo: Atlas, pág, 440, aduz que o art. 3º, § 2º, da Lei nº 8.078/90 
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(Cód. Defesa do Consumidor) incluiu expressamente a atividade bancária no conceito de serviço.
A responsabilidade contratual do banco é objetiva, por força do art. 14 do mesmo código. O banco responde.... independentemente de culpa, pela reparação dos danos causados a seus clientes por defeitos decorrentes dos serviços que lhes presta
O que ainda se discute quanto às operações bancárias é se o outro contratante é ou não consumidor, já que os seus contratos nem sempre são contratos de consumo, nos termos da definição do art. 2º, caput, do Cód. Def. Consumidor.
Na visão do autor , a Jurisprudência do STJ, ao lado da doutrina prestigiam também a aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas ‘operações bancárias, como se vê deste Aresto, do Eminente Ministro Ruy Rosado: “Os bancos como prestadores de serviços, especialmente contemplados no art. 3º, § 2º, estão submetidos às disposições do Cód. Def. Consumidor. 
A circunstância de o usuário dispor do bem recebido através da operação bancária, transferindo-o a terceiros em pagamento de outros bens ou serviços não o descaracteriza como consumidor dos serviços prestados pelo banco” (4ª T., REsp 57.974-0/RS). A questão está sumulada no Superior Tribunal de Justiça no Verbete nº 297: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às Instituições Financeiras” ( CAVALIERI FILHO, 2012, p. 443)
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consubstanciada na Sumula 28 firmou-se no sentido: “ O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva da vítima ou concorrente do correntista”. O Superior Tribunal de Justiça, a quem compete, agora, a matéria, manteve o entendimento do Supremo Tribunal Federal.
Sergio Cavalieri Filho, esclarece que em se tratando de relação de consumo, o banco sempre responderá objetivamente pelo fato do serviço, com fundamento no art. 14 do Cód. de Defesa do Consumidor, como nas hipóteses seguintes:
Cheque equivocadamente creditado na conta de outro correntista;
Conta corrente movimentada por pessoa não autorizada a fazê-lo;
Conta de poupança conjunta transformada em individual sem a autorização de ambos os titulares da conta, com saque de importância vultosa;
Inclusão indevida do nome do correntista no rol dos clientes negativos;
Extravio de títulos de crédito depositados para custódia e cobrança;
Furto de talão de cheque de cliente ou de cartão magnético quando ainda em poder do banco ( Ob. Cit., P. 445)
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O autor observa , a frequência de ações propostas contra bancos pleiteando indenização por danos morais e materiais decorrentes da indevida devolução de cheques por insuficiência de fundos.
Nessa situação, apesar da tempestiva reclamação do cliente, sua conta acaba sendo cancelada, o nome anotado no Serviço de Proteção ao Crédito SERASA impedindo-o de abrir conta em outro banco e de solicitar qualquer crédito.
Em seu relato, a defesa do banco defende-se alegando inexistência de culpa de sua parte, atribuindo a uma falha do sistema de processamento de dados. 
Em face da redação do § 3º do art. 14 do Código Defesa do Consumidor o banco só poderia afastar o dever de indenizar os danos causados ao cliente, inclusive morais, pela indevida devolução do cheque se provar que: a) o defeito não existiu ou então; b) a culpa exclusiva do cliente ou de terceiro. 
A falha do sistema, configura defeito de serviço do banco, e enseja a obrigação indenizatória, portanto, a questão fica restrita à prova, cujo ônus é do autor da ação. Para ele, os Tribunais tem sido liberais quanto à prova do dano moral, ao considerar que este, está ínsito no próprio ato ilícito, dada a sua gravidade, cabendo ao julgador apenas dimensiona-lo ( Ibidem, p. 445) 
Maria Helena Diniz, leciona que há dois fundamentos da responsabilidade civil da casa bancária: a culpa e o risco. 
Em sua visão, as relações entre banqueiro e cliente, ou terceiro, são regidas pelo risco profissional, porrazões de equidade e justiça.
Leciona ela em sua magistral obra sobre Responsabilidade Civil, 25ª edição, 2015, p. 395 e seguintes: 
A responsabilidade objetiva do banco ocorre havendo:
Abertura de conta corrente através de ato fraudulento, consistente na utilização de carteira de identidade, que havia sido perdida pelo titular do documento, sem o seu conhecimento ou participação, que acabou por culminar no protesto de cheques, impõe ao banco o dever de indenizar os danos morais e materiais, decorrendo sua responsabilidade em virtude do risco profissional (RT, 799:216);
Falha do serviço ocasionadora de devolução de cheque por insuficiência de fundos de um cliente que tinha saldo na conta corrente (RT, 779:351)
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Inscrição irregular de excorrentista em cadastro de devedor inadimplente (RT, 778:377);
Troca de cartão magnético do usuário no interior das dependências da instituição bancária, levando-o a sofrer desfalques em seu crédito em conta corrente (RT, 781:395); (Ob., Cit., p. 395)
Para a autora citada, haverá culpa reciproca proporcional se houver fraude em transferência de valores via INTERNET por fornecimento de senha pelo cliente a suposto preposto da agencia, porque o fato de haver transferido para a conta do fraudador quantia superior ao limite diário estabelecido evidencia a responsabilidade do banco, a quem cabe a supervisão das operações disponibilizadas aos clientes por meio eletrônico sendo tal prática incluída entre aquelas cujo risco profissional envolve a atividade bancária (RTDCiv, 2:179) (p. 395) os grifos são meus
Adverte ainda: 
 As relações entre bancos destinadas a formar sindicatos de empréstimos bancários
 internacionais ou consórcios bancários, que visam a consecução de projetos ou 
 a concessão de financiamentos; entre instituições financeiras e Estados; ou entre
 empresas multinacionais, ante a igualdade das partes, ficam sobre a égide da teoria 
 da culpa. 
 Nestas relações tem-se admitido amplamente as cláusulas de não indenizar, válidas 
 desde que a conduta dos contraentes não esteja caracterizada pela culpa grave ou
 dolo. Assim sendo, havendo culpa grave ou dolo, a indenização será sempre devida, 
 apesar da existência daquela cláusula contratual. (p. 395) (Os grifos são meus) 
 O banco é responsável, objetivamente, por prejuízo causado a cliente em assalto ocorrido em s/ agencia se este se der por falta de segurança
Ou não (STJ, 4ª T., J. 14-05-2001; RT, 779:393, 781:366; CC, art. 927, § único)
O banco responderá por informação falsa que der ao cliente por ex., sobre a idoneidade financeira da pessoa com que ele vem a negociar (RT, 410:379)
Afirma ainda que haverá responsabilidade do banco que, como mandatário ou depositário: (p. 396 e seguintes)
Receber do devedor valor inferior ao devido ou debitar valor pago a mais em conta do correntista sem seu consenso, sob pena de devolver ao cliente o valor sacado da conta-corrente, devidamente atualizado, e de pagar indenização por dano moral;
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 Causar dano ao cliente pela falência de seu devedor se, na cobrança de certos títulos, consentiu em prorrogar o prazo do pagamento sem anuência de seu cliente ou retardou indevidamente o protesto de duplicata; 
 Descontar cheque falsificado (CDC, art. 14, § único) ; Sumula 28; RT, 835:236. 773:405; salvo prova:
De culpa exclusiva do depositante, que foi negligente na guarda dos cheques, hipótese em que não haverá indenização. Assim, sacador que se vê furtado de talões de cheques e não comunica a ocorrência, imediatamente ao banco e Polícia fazendo-o tão somente decorridos alguns dias após ter conhecimento do fato, agirá com culpa evidente e exclusiva, mormente quando os ditos cheques falsos foram emitidos nesse lapso de tempo;
De culpa concorrente do depositante ou correntista. Assim, se o cliente concorreu por sua culpa para aquela falsificação, mas esta poderia ter sido descoberta pela casa bancária, haverá concorrência de culpas: a do correntista e a do banco, de forma que a indenização será dividida ou por metade, ou proporcionalmente às respectivas culpas (RF, 68:718; RT, 800:267; CC, art. 945)
Se a falsificação do cheque for grosseira, de modo que o dano foi produzido por negligencia do banco, é inegável a culpa do estabelecimento bancário que deve empregar diligencia ordinária, visto que ao aceitar o depósito do cliente assumiu o compromisso de vigilância. (p.397) ( os grifos são meus)
O banco tem obrigação de conferir a legitimidade do endossante sempre que receber cheques endossados. Deve apurar a autenticidade da assinatura e a regularidade formal do endosso. (p. 398)
Atrasar na remessa dos fundos determinados pelo cliente.
Protestar cambial, embora advertido da falsidade da assinatura do
devedor.
Pagar ao portador de cheque assinado a rogo de analfabetos, sem exigência do mandatário a indispensável procuração escrita, com poderes especiais e expressos;
Descurar-se da vigilância em seu estacionamento, respondendo por furto de motocicleta ou automóveis (Sumula 130)
Reduzir sem justificativa plausível o limite de cheque especial sem comunicação prévia ao cliente, que emite cheque, sendo este devolvido, causando-lhe transtornos.
Enviar talão de cheque, sem tomar cuidado para que a remessa seja eficiente e segura ou entregar talonário a terceiro sem autorização do titular da conta
Quebrar sigilo bancário (RT, 780:544, 776:160), exceto nos casos 
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Previstos pela lei complementar n. 105/2001, em que as informações podem ser dadas à Secretaria da Receita Federal ( Decreto n. 3.724/2001, que regulamenta o artigo 6º da Lei complementar n. 105/2001 (p. 403)
Cancelar cheque especial sem avisar cliente (STJ, REsp. 412.651, 3ª T.)
Pagar cheque havendo: contraordem (RT, 577:90)
Entregar ao devedor título não pago (RT, 563:190)
Abrir conta corrente sem anuência do cliente que, com a desvalorização, veio a sofrer prejuízo (RTJSP, 67:106), ou permitir abertura de conta corrente mediante apresentação de documento falso
Transferir indevidamente, numerário para a conta de terceiro ( RT, 505:209). Com base no art. 927 do código civil, firmou-se também entendimento no sentido de que, nos casos em que o dinheiro é indevidamente sacado da conta do cliente por pessoa estranha, o banco é responsável pela reposição de seu valor. O cliente não é obrigado a comprovar que não foi ele quem retirou o dinheiro da conta (prova negativa).Pelo contrário, compete ao banco provar que foi o cliente quem promoveu os saques, e se essa prova não é feita, o banco deve ser responsabilizado pelos prejuízos sofridos pelo correntista
Reter cliente em porta giratória sem prudência, havendo por parte de seus vigilantes e funcionários uma atitude de escárnio, humilhando a vitima (RT, 836:324, 823:187, 803:365; STJ, 4ª turma, REsp 551.857
Causar por falha em caixa eletrônico, a retenção do cartão magnético com posterior saque de quantia em dinheiro, não autorizada pelo correntista (RT, 789:266) 
PROTESTO INDEVIDO DE TÍTULO_Alguns autores entendem agir o banco” no exercício regular de direito” em caso de protesto de título, mesmo tendo ciência da nulidade ou da falsidade da assinatura do suposto devedor. Sustenta-se que, uma vez transferido o título por endosso (1), “o título fica purificado, não podendo o suposto sacado (ou emitente) exercer contra o endossatário defesa fundada no negócio jurídico subjacente, isto é, não pode alegar a inexistência de causa debendi, nem a sua nulidade” ( CAVALIERI FILHO, 2012, p. 454)
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Acadêmico de Direito. 2ª edição. São Paulo: Juridica Brasileira. 2000, p. 318: Do latim in dorsum nas costas. Assinatura do endossante aposta no verso em branco do título, que tem por efeito transferir a propriedade deste, remanescente o endossante como um coobrigado solidário no cumprimento da obrigação. O endosso pode ser dado em branco ou em preto, também chamado pleno. O endosso permite que o título seja negociado livremente, transferindo-se de pessoa para pessoa. P/ Plácido e Silva “o endosso se distingue do aval pois este é dado particularmente a um dos coobrigados do título ou para todos eles, pois esta é uma de suas funções, ao passo que o endosso promove a solidariedade somente em relação ao seu endossatário, e aos que sucederem a este, por seu endosso” (Vocabulário Jurídico, Rio de Janeiro: Forense, 2º vol., 1982, p. 167). Assim, o endosso não vincula o endossante àqueles que intervieram na letra anteriormente, mas vincula-os aos endossantes que se seguirem a ele.
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