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1 UNIDADE 1 DIVERSIDADE E CIDADANIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • compreender o conceito de diversidade e desigualdade social; • pensar como as ações afirmativas podem contribuir para contemplar a di- versidade cultural na sociedade e na educação; • reconhecer a representação de identidade e alteridade. Esta unidade está organizada em três tópicos. Em cada um deles você encontrará dicas, textos complementares, observações e atividades que lhe darão uma maior compreensão dos temas a serem abordados. TÓPICO 1 – DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO TÓPICO 2 – DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE TÓPICO 3 – DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA Assista ao vídeo desta unidade. 2 3 TÓPICO 1UNIDADE 1 DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO 1 INTRODUÇÃO Os direitos humanos foram criados para garantir aos cidadãos uma vida plena, ou seja, os direitos humanos garantem, pelo reconhecimento das leis, dos Estados e do povo, a cidadania através dos direitos civis, políticos e sociais. Dentre os direitos humanos está o direito à diversidade. O reconhecimento da diversidade social, cultural e econômica é uma parcela fundamental na construção da cidadania. Para compreender o direito à diversidade, este tópico será dedicado ao debate sobre a diversidade, as desigualdades e a inclusão no contexto da cidadania e da educação. 2 DIVERSIDADE E CIDADANIA Caro acadêmico, você já se perguntou quais características garantem a um cidadão o acesso aos direitos humanos? Ou ainda, quais são as barreiras que precisamos superar para garantir a todos o acesso aos direitos humanos? Observe a charge a seguir e reflita sobre essas questões. FIGURA 1 - DIREITOS E CIDADANIA FONTE: Disponível em: <https://blogdofialho.files. wordpress.com/2012/02/charge2011-titulo_de_ cidadao.jpg>. Acesso em: 20 ago. 2016. UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 4 A garantia dos direitos humanos requer um movimento de transformação social no sentido da construção de uma postura ética e da promoção da igualdade e respeito às diversidades. A ética emancipatória dos direitos humanos demanda transformação social, a fim de que cada pessoa possa exercer, em sua plenitude, suas potencialidades, sem violência e discriminação. É a ética que vê no outro um ser merecedor de igual consideração e profundo respeito, dotado do direito de desenvolver as potencialidades humanas, de forma livre, autônoma e plena. Enquanto um construído histórico, os direitos humanos não traduzem uma história linear, não compõem uma marcha triunfal, e tampouco uma causa perdida. Mas refletem, a todo tempo, a história de um combate, mediante processos que abrem e consolidam espaços de luta pela dignidade humana (PIOVESAN, 2008, p. 887). A igualdade e a postura ética, tão almejadas quando falamos em respeito aos direitos humanos, passam por diferentes níveis que demandam nossa atenção e reconhecimento. Podemos observar, no contexto social, que as diversidades se constituem em diferentes níveis. Dessa forma, a concepção de igualdade pode ser dividida em: igualdade formal; igualdade material em relação à justiça social; e igualdade material em relação ao respeito das diversidades. Destacam-se, assim, três vertentes no que tange à concepção da igualdade: a) a igualdade formal, reduzida à fórmula ‘todos são iguais perante a lei’ (que, ao seu tempo, foi crucial para abolição de privilégios); b) a igualdade material, correspondente ao ideal de justiça social e distributiva (igualdade orientada pelo critério socioeconômico); e c) a igualdade material, correspondente ao ideal de justiça enquanto reconhecimento de identidades (igualdade orientada pelos critérios de gênero, orientação sexual, idade, raça, etnia e demais critérios (PIOVESAN, 2008, p. 888). Caro(a) acadêmico(a), observe a interação dessas noções na figura a seguir. A promoção da igualdade requer atenção aos diferentes níveis, pois ela não se justifica por um único motivo. Especialmente no espaço da educação, os professores vivenciam diariamente em sala de aula experiências com sujeitos diversos – pela cultura, etnia, gênero, religião, classe social. Por essa razão, garantir a igualdade diante de tamanha diversidade é um desafio contínuo. TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO 5 FIGURA 2 - DIMENSÕES DA CONCEPÇÃO DE IGUALDADE FONTE: A autora Para alcançarmos tais ideais é essencial reconhecer a justiça em seu caráter bidimensional, que representa a redistribuição e o reconhecimento. A redistribuição representa a superação de desigualdades econômicas e o reconhecimento representa a superação dos padrões culturais de preconceitos e exclusão social em relação à diversidade (PIOVESAN, 2008). Em um contexto social que promova um movimento em direção à redistribuição e ao reconhecimento, as práticas devem incorporar e naturalizar as diferenças. Esse reconhecimento da diferença deve alimentar a postura igualitária e não reproduzir as desigualdades vigentes na sociedade (PIOVESAN, 2008). Visando as transformações mencionadas acima, se consolida no âmbito dos direitos humanos o universo das ações afirmativas. Essas ações propõem formas de reorganização social tendo como finalidade a promoção da igualdade e da justiça social em áreas em que predominam padrões de exclusão e desigualdade. Os debates e lutas direcionados aos direitos humanos remetem ao século XVII, porém, se consolidaram através da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 6 A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento marco na história dos direitos humanos. Elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, a Declaração foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, através da Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral, como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações. Ela estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos. FONTE: A Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http:// www.dudh.org.br/declaracao/>. Acesso em: 28 ago. 2016. O direito à educação é reconhecido internacionalmente através da Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu vigésimo sexto artigo. Além de garantir o acesso gratuito – pelo menos no Ensino Fundamental –, a declaração prevê como objetivos da educação promover a expansão da personalidade humana, de sua liberdade e da compreensão, tolerância e amizade entre todas as nações. FIGURA 3 - ARTIGO 26º DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS FONTE: Adaptado de <http://www.humanrights.com/pt/what-are-human-rights/ universal-declaration-of-human-rights/articles-21-30.html>. Acesso em: 8 ago. 2016. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 prevê no artigo 205 a educação como direito de todos e dever do Estado; no artigo 206 o direito à inclusão e à educação infantil; e em seu artigo 208 prevê as garantias atribuídas como papel do Estado. IMPORTANT E Toda pessoa tem direita à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado, o acesso aos estudos superioresdeve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao esforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. Os pais têm um direito preferencial para escolher o tipo de educação que será dadas aos seus filhos. TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO 7 FIGURA 4 - ARTIGOS 205, 206 E 208 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL FONTE: Adaptado de: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=430-constituicao-de- 1988&Itemid=30192>. Acesso em: 10 ago. 2016. Como reflexo da legislação vigente e do posicionamento do Estado brasileiro em relação à garantia da cidadania, as políticas educacionais brasileiras preveem o direito à diversidade e à inclusão. Tais direitos são reforçados nos documentos que orientam a elaboração dos currículos e as práticas educacionais no país. Estão presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), nas Diretrizes Nacionais para Educação (DCN) e na Política de Inclusão Social. Os PCN possuem um volume dedicado à pluralidade cultural e à orientação sexual. O volume apresenta a relevância dessas temáticas para a formação da cidadania e inclui a discussão sobre pluralidade cultural e orientação sexual como parte do currículo das escolas brasileiras. O direito à educação pública e de qualidade faz parte do legado das lutas sociais pela garantia dos direitos humanos. No cotidiano das escolas brasileiras, o acesso à educação de qualidade e sem distinção permanece cada vez mais presente nos discursos, avança em muitas práticas, porém está distante de alcançar os parâmetros estabelecidos pela legislação. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: III atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola [...] UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 8 3 DIREITOS E CIDADANIA A garantia dos direitos civis, políticos e sociais na legislação, infelizmente, não reflete a realidade da grande maioria da população. Direitos são, na verdade, privilégios em uma sociedade em que a diversidade se converte em desigualdade e exclusão. Portanto, atualmente é possível afirmar que cidadania formal está distante da real. A cidadania ganhou espaço no debate social com a luta pelos direitos civis nos séculos XVII e XVIII. Os direitos civis estavam ligados à garantia da liberdade de expressão, da liberdade religiosa, de ir e vir, da propriedade privada e escolha de emprego. Os direitos passaram a ser incluídos nas legislações europeias, porém, a noção de cidadania vigente amparava as elites em detrimento do restante da população (MARSHALL, 1967). FIGURA 5 - MARTIN LUTHER KING – LIDERANÇA RECONHECIDA MUNDIALMENTE PELA LUTA PELOS DIREITOS CIVIS NOS ESTADOS UNIDOS FONTE: Disponível em: <https://umapalavra.files.wordpress. com/2008/04/mking.jpg>. Acesso em: 20 ago. 2016. Os direitos políticos foram consolidados ao longo do processo de formação do Estado moderno e a expansão da democracia. Podem ser vistos como desdobramentos da conquista dos direitos civis no século XVII, contudo, chegaram a boa parte dos países apenas no decorrer do século XX (MARSHALL, 1967). TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO 9 FIGURA 6 - MOVIMENTO DIRETAS JÁ! – REPRESENTA LUTA PELAS ELEIÇÕES DIRETAS NO BRASIL FONTE: Disponível em: <http://i0.statig.com.br/ bancodeimagens/bo/y3/65/ boy365zqjzk10prnc80q6kjer.jpg>. Acesso em: 20 ago. 2016. Por fim, apenas no século XX os direitos sociais passam a integrar o universo da cidadania através da garantia do acesso à saúde, educação, habitação, previdência, transporte coletivo, acesso ao Judiciário, lazer, entre outros (MARSHALL, 1967). FIGURA 7 - MOVIMENTO “REMOÇÃO – MEGAEVENTOS E MILITARIZAÇÃO” - LUTA PELO DIREITO À MORADIANO BRASIL FONTE: Disponível em: <https://memorialatinacupula.files. wordpress.com/2013/07/004.jpg?w=470&h=313>. Acesso em: 20 ago. 2016. Caro acadêmico, como mencionado no início do texto, a cidadania real está distante da realidade da grande maioria da população. Bittar (2004) descreve essa realidade ao avaliar a presença da cidadania na América Latina na virada do século XX para o XXI, pois a camada mais pobre da população não tem acesso pleno aos direitos civis e sociais. Em outras palavras: [...] a real identidade da palavra cidadania, com o acento que se quer conferir ao termo, reflete exatamente essas preocupações, significando, portanto, algo mais que simplesmente direitos e deveres políticos, e ganhando a dimensão de sentido segundo a qual é possível identificar nas questões ligadas à cidadania as preocupações em torno do acesso às UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 10 condições dignas de vida. Nessa perspectiva conceitual, o que se quer ver é que não é possível pensar em um povo capaz de exercer a sua cidadania de modo integral (no sentido político-jurídico) em que ela (no conceito aqui assumido) esteja plenamente alcançada e realizada em suas instâncias mais elementares de formação e implementação de estruturas garantidoras de bens, serviços, direitos, instituições e instrumentos de garantia da existência da vida e da dignidade (BITTAR, 2004, p. 18). É preciso, ainda, ressaltar a visão de senso comum da luta pela cidadania como garantia de privilégios àqueles que pela meritocracia não os alcançaram. Essa visão ignora as desigualdades promovidas pela estratificação social e as dívidas históricas, por exemplo, em relação à escravidão e questão dos afrodescendentes no Brasil. 4 A INCLUSÃO COMO PROMOÇÃO DA CIDADANIA E RESPEITO À DIVERSIDADE A diversidade representa muito mais que as múltiplas culturas, diferentes classes sociais e orientações sexuais. O debate sobre diversidade trouxe para as escolas de ensino regular novos sujeitos, até então restritos a outros espaços escolares. A política de inclusão tornou mais desafiador para educadores e gestores levar o discurso do respeito à diversidade para a prática. Contudo, a política de inclusão por si só não garante a inclusão como realidade nas escolas brasileiras. O caminho a ser percorrido coloca diante de nós, educadores, a superação de barreiras construídas ao longo de anos de exclusão e preconceito social. É importante uma parada para reflexão. A charge a seguir mostra que nossa sociedade não está preparada para a plena inclusão social. Quais são os desafios que você observa para a inclusão em nosso país, no seu estado, no município e no seu bairro? FIGURA 8 - INCLUSÃO SOCIAL FONTE: Disponível em: <https://linhaslivres.files. wordpress.com/2013/10/charge-do-rico- inclusc3a3o-social.jpg>.Acesso em: 25 ago. 2016. TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO 11 A inclusão escolar é um tema polêmico, especialmente quando consideramos a responsabilidade delegada ao professor em relação à inclusão. Mesmo que prevista na legislação e garantida na escola através das políticas educacionais, a inclusão permanece uma fonte de constantes discussões. Questionamentos a respeito do tema atravessam diálogos entre professores nos mais diversos momentos: como planejar para uma turma com sujeitos tão diferentes? Como atender tantos alunos ao mesmo tempo e incluir os alunos especiais? Tratar o aluno especial igual aos demais? Ou dar atenção especial a esses alunos? Simplesmente permitir que o aluno frequente a escola é o mesmo que incluir? No Brasil, há uma política de inclusão que norteia esses processos nas escolas, a concepção da política inclusiva aponta para a necessidade de superar a visão excludente do sujeito com necessidades especiais. Para alcançar esse propósito a inclusão é entendida como uma forma de repensar a educação e transformar a sociedade, ou seja, a inclusão é social, não é tarefa apenas para o professor em sala de aula, mas para toda a sociedade. A educação inclusiva deve atender a todos através de uma pedagogia voltada para a criança. O princípio é que as escolas devem acolher a todas as crianças, incluindo crianças com deficiências, superdotadas, de rua, que trabalham, de populações distantes, nômades, pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, de outros grupos desfavorecidos ou marginalizados. Para isso, sugere que se desenvolva uma pedagogia centrada na relação com a criança, capaz de educar com sucesso a todos, atendendo às necessidades de cada um, considerando as diferenças existentes entre elas (MEC, 2005 apud PAULON; FREITAS; PINHO, 2005, p. 20). Dessa forma, a inclusão é fundamental para compreender a questão da diversidade na educação. Afinal, compreender a diversidade exige reconhecê-la em suas mais variadas expressões e incorporá-la ao cotidiano escolar numa prática pedagógica voltada para a construção da cidadania. LEITURA COMPLEMENTAR Pluralidade Cultural nos PCN Justificativa É sabido que, apresentando heterogeneidade notável em sua composição populacional, o Brasil desconhece a si mesmo. Na relação do país consigo mesmo, é comum prevalecerem vários estereótipos, tanto regionais quanto em relação a grupos étnicos, sociais e culturais. Historicamente, registra-se dificuldade para se lidar com a temática do preconceito e da discriminação racial/étnica. O país evitou o tema por muito tempo, sendo marcado por “mitos” que veicularam uma imagem de um Brasil homogêneo, sem diferenças, ou, em outra hipótese, promotor de uma suposta “democracia racial”. Na escola, muitas vezes, há UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 12 manifestações de racismo, discriminação social e étnica, por parte de professores, de alunos, da equipe escolar, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente. Essas atitudes representam violação dos direitos dos alunos, professores e funcionários discriminados, trazendo consigo obstáculos ao processo educacional, pelo sofrimento e constrangimento a que essas pessoas se veem expostas. Movimentos sociais, vinculados a diferentes comunidades étnicas, desenvolveram uma história de resistência a padrões culturais que estabeleciam e sedimentavam injustiças. Gradativamente conquistou-se uma legislação antidiscriminatória, culminando com o estabelecimento, na Constituição Federal de 1988, da discriminação racial como crime. Mais ainda, há mecanismos de proteção e promoção de identidades étnicas, como a garantia, a todos, do pleno exercício dos direitos culturais, assim como apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações [...] Mesmo em regiões onde não se apresente uma diversidade cultural tão acentuada, o conhecimento dessa característica plural do Brasil é extremamente relevante, pois, ao permitir o conhecimento mútuo entre regiões, grupos e indivíduos, consolida o espírito democrático. Da mesma forma, tratar de aspectos referentes à discriminação social mesmo em locais onde as situações de exclusão não se manifestam diretamente ou pelo menos não de maneira dramática, permitirá formar a criança e o adolescente para a responsabilidade social de cidadão que participa dos destinos do país como um todo, direcionando a proposta para a busca de soluções. A demanda social existe há muito tempo, a urgência é inadiável [...]. A criança na escola convive com a diversidade e poderá aprender com ela. Frequentemente, contudo, as escolas acabam repercutindo, sem qualquer reflexão, as contradições que a habitam. A escola no Brasil, durante muito tempo e até hoje, disseminou preconceito de formas diversas. Conteúdos indevidos e até errados, notadamente presentes em livros que têm sofrido críticas fundamentadas, constituem assunto que merece constante atenção. Também contribuía para essa disseminação de preconceitos certa mentalidade que vinha privilegiar certa cultura, apresentada como a única aceitável e correta, como também aquela que hierarquizava culturas entre si, como se isso fosse possível, sem prejuízo da dignidade dos diferentes grupos produtores de cultura. Amparada pelo consenso daquilo que se impôs como se fosse verdadeiro, o chamado, criticamente, “mito da democracia racial”, a escola muitas vezes silencia diante de situações que fazem seus alunos alvo de discriminação, transformando-se facilmente em espaço de consolidação de estigmas [...]. O reconhecimento da complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica é o primeiro passo. Tal reconhecimento aponta a necessidade de a escola instrumentalizar-se para fornecer informações mais precisas para questões que vêm sendo indevidamente respondidas pelo senso comum, quando não ignoradas por um silencioso constrangimento [...] Do ponto de vista educacional, o que se busca é sobretudo a transformação de atitudes, e não a repetição de slogans. Do ponto de vista social, este tema vem TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO 13 das forças sociais e para elas retorna na possibilidade de parceria e recriação da proposta. Espera-se com isso colaborar na consolidação democrática do Brasil, prestando uma homenagem àqueles que constituíram e constituem este país, com suas vidas e seus trabalhos, suas histórias de sofrimentos e lutas, de conquistas e perdas, ressaltando que o patrimônio humano da nação é o bem maior a ser cuidado, protegido e promovido. FONTE: Parâmetros Curriculares Nacionais – vol. 10 Pluralidade Cultural. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro101.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2015. Orientação Sexual no PCN Justificativa A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no currículo das escolas de primeiro e segundo graus tem se intensificado a partir da década de 70 por ser considerada importante na formação global do indivíduo. Com diferentes enfoques e ênfases há registros de discussões e de trabalhos em escolas desde a década de 20. A retomada contemporânea dessa questão deu-se juntamente com os movimentos sociais que se propunham, com a abertura política, a repensar sobre o papel da escola e dos conteúdos por ela trabalhados. Mesmo assim não foram muitas as iniciativas, tanto na rede pública como na rede privada de ensino [...] As manifestações de sexualidade afloram em todas as faixas etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir são as respostas mais habituais dadas pelos profissionais da escola.Essas práticas se fundamentam na ideia de que o tema deva ser tratado exclusivamente pela família. De fato, toda família realiza a educação sexual de suas crianças e jovens, mesmo aquelas que nunca falam abertamente sobre isso. O comportamento dos pais entre si, na relação com os filhos, no tipo de “cuidados” recomendados, nas expressões, gestos e proibições que estabelecem são carregados de determinados valores associados à sexualidade que a criança apreende [...] Não é apenas em portas de banheiros, muros e paredes que se inscreve a sexualidade no espaço escolar; ela “invade” a escola por meio das atitudes dos alunos em sala de aula e da convivência social entre eles [...] Sabe-se que as curiosidades das crianças a respeito da sexualidade são questões muito significativas para a subjetividade, na medida em que se relacionam com o conhecimento das origens de cada um e com o desejo de saber. A satisfação dessas curiosidades contribui para que o desejo de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto a não satisfação gera ansiedade e tensão. A oferta, por parte da escola, de um espaço em que as crianças possam esclarecer suas dúvidas e continuar formulando novas questões contribui para o alívio das ansiedades que muitas vezes interferem no aprendizado dos conteúdos escolares. Se a escola que se deseja deve ter uma visão integrada das experiências vividas pelos alunos, buscando desenvolver o prazer pelo conhecimento, é necessário que ela reconheça que desempenha um papel importante na educação para uma sexualidade ligada à vida, à saúde, ao prazer e ao bem-estar que integra as diversas dimensões do UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 14 ser humano envolvidas nesse aspecto. O trabalho sistemático e sistematizado de Orientação Sexual dentro da escola articula-se, portanto, com a promoção da saúde das crianças e dos adolescentes [...]. O trabalho de Orientação Sexual também contribui para a prevenção de problemas graves, como o abuso sexual e a gravidez indesejada. As informações corretas aliadas ao trabalho de autoconhecimento e de reflexão sobre a própria sexualidade ampliam a consciência sobre os cuidados necessários para a prevenção desses problemas. Finalmente, pode-se afirmar que a implantação de Orientação Sexual nas escolas contribui para o bem-estar das crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e futura. FONTE: Parâmetros Curriculares Nacionais. v. 10 Orientação Sexual. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro102.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2015. Educação com qualidade social nas DNC Construir a qualidade social pressupõe conhecimento dos interesses sociais da comunidade escolar para que seja possível educar e cuidar mediante interação efetivada entre princípios e finalidades educacionais, objetivos, conhecimentos e concepções curriculares. Isso abarca mais que o exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa, ou seja, efetiva-se não apenas mediante participação de todos os sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, funcionário, coordenador –, mas também, mediante aquisição e utilização adequada dos objetos e espaços (laboratórios, equipamentos, mobiliário, salas-ambiente, biblioteca, videoteca, ateliê, oficina, área para práticas esportivas e culturais, entre outros) requeridos para responder ao projeto político- pedagógico pactuado, vinculados às condições/disponibilidades mínimas para se instaurar a primazia da aquisição e do desenvolvimento de hábitos investigatórios para construção do conhecimento. A escola de qualidade social adota como centralidade o diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens [...] A qualidade social da educação brasileira é uma conquista a ser construída coletivamente, de forma negociada, pois significa algo que se concretiza a partir da qualidade da relação entre todos os sujeitos que nela atuam direta e indiretamente. Significa compreender que a educação é um processo de produção e socialização da cultura da vida, no qual se constroem, se mantêm e se transformam conhecimentos e valores. Produzir e socializar a cultura inclui garantir a presença dos sujeitos das aprendizagens na escola. Assim, a qualidade social da educação escolar supõe encontrar alternativas políticas, administrativas e pedagógicas que garantam o acesso, a permanência e o sucesso do indivíduo no sistema escolar, não apenas pela redução da evasão, da repetência e da distorção idade-ano/série, mas também pelo aprendizado efetivo. FONTE: Diretrizes Curriculares Nacionais. Educação com qualidade social. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=15547-diretrizes-curiculares-nacionais-2013-pdf- 1&Itemid=30192>. Acesso em: 15 ago. 2016. 15 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • A conquista dos direitos humanos é resultado da luta de movimentos sociais que buscaram garantir o acesso de todos à cidadania. • A garantia dos direitos humanos requer o respeito às diversidades. • A igualdade pode ser concebida em três níveis: a igualdade formal, a igualdade material em relação à justiça social e a igualdade material em relação ao reconhecimento das identidades. • O direito à educação é reconhecido internacionalmente através do artigo 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. • O direito à educação no Brasil é previsto na Constituição Federal de 1988 como direito do cidadão e dever do Estado. • As políticas educacionais brasileiras preveem o direito à diversidade e à inclusão de todos os cidadãos. • A inclusão social é fundamental para o exercício da cidadania. • A educação inclusiva deve atender a todos através de uma pedagogia centrada no sujeito. 16 AUTOATIVIDADE 1 A política de inclusão é responsável por orientar as práticas pedagógicas voltadas para o respeito da diversidade e o exercício da cidadania. Considerando essa política, analise as afirmações e assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A política de inclusão manteve o curso das ações pedagógicas existentes no país. b) ( ) A inclusão é uma forma de pensar a educação visando transformar o universo da escola. c) ( ) A inclusão é de responsabilidade do professor e deve ocorrer no espaço da sala de aula. d) ( ) A educação inclusiva supera a visão excludente do sujeito com necessidades especiais. 2 Os direitos humanos são contemplados pela cidadania formal e são garantidos pela legislação, porém, sua conquista foi resultado da luta de diversos movimentos sociais em diferentes momentos da história. Considerando os diferentes tipos de direitos humanos, classifique as afirmações utilizando o código a seguir: I – Direitos civis. II – Direitos políticos. III – Direitos sociais. ( ) Direitos consolidados no século XX, garantem o acesso à saúde, educação, moradia, previdência etc. ( ) Direitos ligados à liberdade de expressão conquistados ao longo dos séculos XVII e XVIII. ( ) Direitos consolidados ao longo da formação do Estado moderno a partir do século XVII, porém, chegaram à maioria dos países no século XX. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta: a) ( ) I – III – II. b) ( ) III – I – II. c) ( ) II – III – I. d) ( ) III – II – I. 3 A igualdade pode ser considerada a partir de três categorias que representam o reconhecimento das diversidades e a superação das desigualdades e da exclusão social. A partir dessas categorias, analise as afirmações e classifique V para verdadeiras e F para falsas: 17 ( ) A igualdade material representa a fórmula todos são iguais perante a lei. ( ) A justiça social e distributiva representa aigualdade formal. ( ) A igualdade formal representou o fim de privilégios sociais. ( ) A igualdade material representa o reconhecimento das identidades. ( ) Os critérios de raça, etnia e gênero dizem respeito à igualdade material. Agora, assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – V – V. b) ( ) F – V – F – F – V. c) ( ) V – F – V – F – F. d) ( ) V – V – F – F – V. Assista ao vídeo de resolução da questão 2 Assista ao vídeo de resolução da questão 3 18 19 TÓPICO 2 DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O termo diversidade ganha espaço em diferentes abordagens e contextos sociais. A multiplicidade das relações sociais se constituiu ao longo do tempo como um campo fértil para debates teóricos e lutas dos movimentos sociais em busca de direitos e reconhecimento de suas identidades. Neste tópico você será apresentado às noções de diversidade e identidade em diversos contextos sociais e às principais categorias de diversidade – cultural, social, política, econômica, étnica, de gênero – que compõem o debate sobre educação e diversidade na atualidade. 2 DIVERSIDADE: CONCEITOS E ABORDAGENS Você já deve ter se deparado e feito uso do termo diversidade inúmeras vezes em seu cotidiano. Contudo, como compreender o conceito de diversidade? Qual o papel da diversidade na sociedade atual? Quais relações sociais são representadas pelos conceitos e abordagens que se referem à diversidade? Variadas são as reflexões que surgem diante de nós quando nos deparamos com a ideia de diversidade. FIGURA 9 - DIVERSIDADE FONTE: Disponível em: <http://semanadabiologiauffs. blogspot.com.br/p/minicursos-diversa.html>. Acesso em: 9 jul. 2016. UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 20 Podemos identificar no campo conceitual abordagens que remetem à diversidade a partir das noções de cultura, gênero, etnia, religião, deficiências, questões econômicas, entre outras. No Dicionário Aurélio o termo diversidade se refere à: “1. qualidade do diverso. 2. variedade (em oposição à identidade); multiplicidade”. Considerando o significado do termo é fundamental reconhecer que a sociedade é formada por indivíduos diversos e cabe à educação reconhecer e respeitar a diversidade, além de formar a cidadania baseada nesse princípio. Inicialmente, é importante destacar que debater a questão da diversidade não é tarefa simples. Nosso contexto social, seja pela legislação vigente, seja pelas consequências da globalização, apresenta-se num universo variado de indivíduos e relações sociais. Para iniciar nossos estudos, vamos observar como o antropólogo Clifford Geertz apresenta o debate da diversidade no cenário das mudanças sociais no âmbito da cultura, reconhecendo que os usos do conceito são desafiadores. Os usos da diversidade cultural, de seu estudo, sua descrição, análise e compreensão dependem menos de separarmos nós mesmos dos outros e os outros de nós para defesa da integridade do grupo e manutenção da lealdade do grupo do que de definir o terreno a ser percorrido pela razão se as suas modestas recompensas tiverem de ser alcançadas e apreciadas. Esse terreno é desigual, cheio de falhas repentinas e passagens perigosas onde acidentes podem acontecer e acontecem, e cruzá-lo, ou tentar, pouco ou nada faz para torná-lo seguro, nivelado e sem barrancos, mas apenas torna visível seus contornos e fissuras (GEERTZ, 1999, p. 29). Partindo da reflexão de Geertz (1999), sobre a cultura, reconhecemos os desafios de adentrar às discussões sobre diversidade e, ao mesmo tempo, a necessidade de seguir esse caminho para reconstruir as relações sociais em uma perspectiva inclusiva. A diversidade se apresenta de diferentes formas, podemos reconhecer elementos da diversidade nas relações sociais que envolvem cultura, identidade, gênero e estratificação social, por exemplo. A cultura é uma das noções mais presentes nas ciências humanas e podemos definir cultura como: As formas de vida dos membros de uma sociedade ou de grupos dentro da sociedade [...] aqueles aspectos da cultura que são antes aprendidos do que herdados. Esses elementos culturais são compartilhados por membros da sociedade e tornam possível a cooperação e a comunicação. Formam um contexto comum em que os indivíduos numa sociedade vivem suas vidas. A cultura de uma sociedade compreende tanto aspectos intangíveis – as crenças, as ideias e os valores que formam o conteúdo da cultura –, como também aspectos tangíveis – como objetos, os símbolos ou a tecnologia que representam esse conteúdo (GIDDENS, 2005, p. 38). A diversidade cultural encontra-se nas variações das práticas e dos comportamentos humanos, ou seja, vai além da variedade de elementos que TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE 21 compõem a cultura de um determinado grupo social. Além disso, é importante ressaltar que a cultura tem simultaneamente o papel de perpetuar os elementos culturais e promover a criatividade e as mudanças desses elementos (GIDDENS, 2005). Meu nome é Khan (2010). Direção de Karan Johar. O filme “My Name is Khan” conta a história de Rizvan Khan, um indiano com síndrome de Asperger, um tipo de autismo. Depois que se muda para os Estados Unidos, Khan se apaixona por Mandira, uma cabeleireira separada que vive com o filho Sameer (Sam). Khan é maometano e Mandira, hindu, mas suas diferenças religiosas não impedem que se casem. Os problemas começam com o 11 de setembro, quando passam a ser atacados por sua origem étnica e devido a generalizações preconceituosas. Depois de sofrer bullying por parte de colegas, Sam é morto em uma briga, e Mandira, revoltada, culpa o marido, e lhe diz que ele só poderia voltar depois que dissesse ao presidente da república que ele não é um terrorista, e que o filho dela também não era. Rizvan interpreta isso literalmente, e empreende uma peregrinação para ter sua esposa de volta. FONTE: Psicologia e cinema. Disponível em: <http://www.psicologiaecinema. com/2012/02/meu-nome-e-khanhtml>.Acesso em: 13 ago. 2016. DICAS UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 22 A boa mentira (2014). Direção de Phillipe Falardeau. Entre 1983 e 2005, durante os terríveis anos da Guerra Civil que assolou o Sudão, estima-se que mais de dois milhões de pessoas tenham perdido a vida. Em busca de abrigo, um sem-número de famílias deixou as suas casas e seguiu em direção a campos de refugiados. Devido à situação caótica em que viviam, perto de 27 mil crianças foram separadas dos pais, fazendo o trajeto sozinhas. Eram estes os "lost boys/girls", crianças de todas as idades que, fugindo aos perigos e, muitas vezes, acompanhadas pelos irmãos, percorriam milhares de quilômetros para alcançar os campos. Alguns anos mais tarde, um esforço humanitário levou para os EUA algumas destas crianças. 1993. Mamere e Theo são filhos do chefe de uma pequena aldeia no Sul do Sudão. Quando um ataque das milícias destrói toda a aldeia e lhes mata os pais, Theo é forçado a liderar um grupo de jovens sobreviventes e levá-los para um lugar seguro. Nesse árduo percurso, vão encontrando outras crianças em fuga. Entre elas está Jeremiah, de 13 anos, um rapaz inteligente e destemido que os ajuda a chegar com vida ao campo de refugiados de Kakuma, no Quênia. Anos mais tarde, Mamere, Theo e Jeremiah têm a oportunidade de deixar o campo e de se estabelecerem na América. Ao chegarem a Kansas City, no Missouri, são recebidos por Carrie Davis, que foi incumbida de os ajudar a retomar as suas vidas. Paraela, esta será uma oportunidade de perceber como a generosidade e o despojamento podem fazer realmente a diferença na vida de alguém. FONTE: Cinecartaz. Disponível em: <http://cinecartaz.publico.pt/Filme/338964_a- boa-mentira>. Acesso em: 13 ago. 2016. As variações culturais remetem à formação de diferentes características que formam as identidades sociais. A identidade social refere-se às características que são atribuídas a um indivíduo pelos outros. Elas podem ser vistas como marcadores que indicam quem, em um sentido básico, essa pessoa é. Ao mesmo tempo, esses marcadores posicionam essa pessoa em relação a outros indivíduos que compartilham dos mesmos atributos (GIDDENS, 2005, p. 44, grifos do original). A identidade social pode ser reconhecida através de várias características do sujeito. São exemplos de identidade social o estudante, a mãe, o advogado, o católico, o sem-teto, o asiático, o disléxico, o casado e assim por diante. Muitos indivíduos têm identidades sociais que compreendem mais do que um atributo. Uma pessoa poderia ser simultaneamente uma mãe, uma engenheira, muçulmana e uma vereadora (GIDDENS, 2005, p. 44). DICAS TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE 23 Diante do exposto, fica claro o desafio que essas relações significam para a educação. E, ao mesmo tempo, como a educação e a produção do conhecimento só podem ser construídas através do diálogo e do contato com o outro, com a dúvida e com as necessidades sociais que promovem as inovações. 3 OS DESAFIOS DA DIVERSIDADE NA ATUALIDADE As características que compõem as identidades sociais refletem as multiplicidades e as pluralidades sociais. Diante dessa pluralidade, grupos com identidades próximas se organizam pelas características comuns. Os movimentos sociais configuram uma poderosa forma de organização capaz de formar significados. Múltiplas identidades sociais refletem as muitas dimensões das vidas das pessoas. [...] As identidades sociais, portanto, envolvem uma dimensão coletiva. Elas marcam as formas pelas quais os indivíduos são ‘o mesmo’ que os outros. As identidades compartilhadas – baseadas em um conjunto de objetivos comuns, de valores ou de experiências – podem formar uma base importante para os movimentos sociais (GIDDENS, 2005, p. 44). Entretanto, a diversidade cultural e o reconhecimento das diversas identidades não significam que as relações sociais sejam harmônicas em nossa sociedade. Muito pelo contrário, diariamente observamos em nosso cotidiano ou nos noticiários situações de desigualdades, violência e conflitos sociais decorrentes do preconceito e da perspectiva etnocêntrica. O que é etnocentrismo? Etnocentrismo é uma visão do mundo em que o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia a dia das nossas vidas. Assim, a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, enfim, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós. Este problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade. Como NOTA UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 24 uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. FONTE: ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo? Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense: 1988. As desigualdades raciais fazem parte da formação histórica da sociedade brasileira. O modelo de desenvolvimento econômico, aliado à escravidão no período colonial, configuraram um padrão de exclusão social dos negros persistente até os dias de hoje. Podemos observar que tal padrão foi reproduzido mesmo diante da expansão da modernidade e do capitalismo no país (FERNANDES, 1973). Ainda segundo Fernandes (2008), há um mito da democracia racial no Brasil, pois a ideia de uma democracia racial foi utilizada para reafirmar uma idealizada relação harmoniosa entre brancos e não brancos. Esse mito fez com que a crença na meritocracia se consolidasse em relação à questão racial. Seguindo esse pensamento, cabe ao negro superar com seu esforço pessoal as contradições sociais. O contexto apresentado acima pode ser compreendido através da análise dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que demonstram a persistência da desigualdade racial apesar das conquistas sociais das últimas décadas. IBGE: mesmo com conquistas, desigualdade racial é alta Novos dados do Censo Demográfico 2010 divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira, dia 17, mostram que a desigualdade racial diminuiu pouco no Brasil no que se refere à educação e renda. Os brancos, assim como no Censo de 2000, seguem recebendo salários mais altos e estudando mais que os negros (pretos e pardos). Essa realidade é mais acentuada na região Sudeste do país, onde os rendimentos recebidos pelos brancos correspondem ao dobro dos pagos aos pretos. A menor diferença é observada na região Sul, onde a população branca ganha 70% mais que aquela que se autodeclarou preta. A pesquisa mostra também que os brancos dominam o Ensino Superior no país e que ainda há diferenças relevantes na taxa de analfabetismo entre as categorias de cor e raça. Enquanto para o total da população a taxa de analfabetismo é de 9,6%, entre os brancos esse índice cai para 5,9%. Já entre pardos e pretos a taxa sobe para 13% e 14,4%, respectivamente. IMPORTANT E TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE 25 Outro dado revelado mostra que cerca de 70% da população brasileira tem relacionamentos amorosos com pessoas do mesmo grupo de cor ou raça. Entre os brancos, grupo mais “fechado”, 69,3% se unem a pessoas da mesma cor. Eles são seguidos pelos pardos, com 68,5%, indígenas (65%) e pretos (45,1%). Quanto à escolha de parceiros relacionada ao grau de escolaridade, a pesquisa revela que a maioria dos homens (82,9%) e das mulheres (85,3%) sem instrução ou com Ensino Fundamental incompleto se relacionam com pessoas com a mesma situação educacional. Em números gerais, 68,2% das pessoas uniram-se a outras de mesmo nível de instrução (em 2000, esse percentualera de 63%), sendo que 47% dos homens com diploma universitário escolhem parceiras com o mesmo grau de escolaridade. No caso das mulheres, o índice sobe para 51,2%. FONTE: Revista Brasileiros. IBGE: mesmo com conquistas, desigualdade racial é alta. Disponível em: <http://brasileiros.com.br/2012/10/ibge-mesmo-com- conquistas-desigualdade-racial-e-alta/>. Acesso em: 20 ago. 2016. A diversidade de gênero também é foco de estudo nas ciências humanas e, atualmente, o debate sobre a presença de tal temática nos currículos escolares vem ganhando espaço e gerando polêmica, em todo o Brasil. Essa temática será retomada na Unidade 3 – O ESPAÇO DA DIVERSIDADE NO COTIDIANO ESCOLAR – do caderno de estudos. A noção de gênero é socialmente construída e são atribuídos papéis e identidades diferentes para homens e mulheres na sociedade. Contudo, as divisões de gênero são carregadas de intencionalidade, dificilmente são concepções neutras, pois na grande maioria das sociedades representam formas de estratificação social: O gênero é um fator crucial na estruturação dos tipos de oportunidades e de chances de vida enfrentadas pelos indivíduos e por grupos, influenciando fortemente os papéis que eles representam dentro das instituições sociais, desde os serviços domésticos até o Estado. Embora os papéis de homens e mulheres variem de cultura para cultura, não há nenhuma instância conhecida de uma sociedade em que as mulheres são mais poderosas que os homens (GIDDENS, 2005, p. 107). A divisão entre homens e mulheres ainda permanece como característica marcante nos debates sobre diversidade. Observamos avanços consideráveis nas últimas décadas na luta pela igualdade de gênero. Porém, mesmo diante desses avanços, a desigualdade de gênero permanece como base para as desigualdades sociais (GIDDENS, 2005). ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 26 A reflexão de gênero incorpora a dimensão da sexualidade e das influências sociais nos padrões de sexualidade. A heterossexualidade é o padrão de envolvimento emocional para a maioria das sociedades e configura, nesses casos, o fundamento do casamento e da família. Por outro lado, a homossexualidade faz parte de relações afetivas em todas as culturas (GIDDENS, 2005). Teoria Queer, o que é isso? Queer é uma palavra inglesa, usada por anglófonos há quase 400 anos. Na Inglaterra havia até uma “Queer Street”, onde viviam, em Londres, os vagabundos, os endividados, as prostitutas e todos os tipos de pervertidos e devassos que aquela sociedade poderia permitir. O termo ganhou o sentido de “viadinho, sapatão, mariconha, marimacho” com a prisão de Oscar Wilde, o primeiro ilustre a ser chamado de “queer”. Desde então, o termo passou a ser usado como ofensa, tanto para homossexuais, quanto para travestis, transexuais e todas as pessoas que desviavam da norma cis-heterossexual. Queer era o termo para os “desviantes”. Não há em português um sinônimo claro. Talvez, como propõe a professora Berenice Bento, possamos pensar o queer como “transviado”. Para saber mais sobre a teoria queer e suas implicações nas discussões de gênero, leia a reportagem completa no link abaixo. FONTE: Teoria Queer, o que é isso? Disponível em: <http://www.revistaforum. com.br/osentendidos/2015/06/07/teoria-queer-o-que-e-isso-tensoes-entre- vivencias-e-universidade/>. Acesso em: 12 ago. 2016. Diante desse contexto, observamos atitudes de intolerância em relação à homossexualidade construídas socialmente desde o passado. Somente nos últimos anos podemos observar que tabus vêm sendo desconstruídos: “a homossexualidade não é uma doença e não está distintamente associada com quaisquer formas de distúrbios psiquiátricos. Os homossexuais masculinos não estão limitados a nenhum setor ocupacional específico, como o de cabeleireiro, da decoração de interiores e das artes” (GIDDENS, 2005, p. 122). No entanto, persistem preconceitos em relação à questão de gênero e à sexualidade, por exemplo: “[...] como termos racismo e sexismo, o heterossexismo refere-se ao processo pelo qual as pessoas não heterossexuais são categorizadas e discriminadas em função de sua orientação sexual. A homofobia descreve um temor aos indivíduos homossexuais e também o desdém por eles” (GIDDENS, 2005, p. 122). A luta pela garantia de direitos e pelo reconhecimento legal permitiu uma maior normalização da homossexualidade. Tais lutas garantiram o reconhecimento em vários países da união homoafetiva reconhecida pelo Estado. Contudo, a luta da maior parte dos ativistas é pelo reconhecimento da normalidade, o direito de serem reconhecidos como pessoas normais (GIDDENS, 2005). DICAS TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE 27 Hoje eu quero voltar sozinho (2014). Direção de Daniel Ribeiro. O premiado filme de Daniel Ribeiro poderia ser apenas mais uma obra sobre o despertar da sexualidade na adolescência, se não fosse por duas importantes variantes: Léo, o protagonista, é cego e começa a gostar de Gabriel, um estudante de sua sala, de quem se torna amigo. Claudia Mogadouro selecionou o filme em sua lista de 15 filmes nacionais para crianças e adolescentes verem em cada momento do desenvolvimento. Segundo a especialista, é uma boa obra para passar para estudantes do Ensino Médio. “O tema da homossexualidade pode trazer nervosismo e, com isso, piadas de mau gosto. Sem reprimi-las, sugere-se que as aproveite para discutir a homofobia em nossa cultura. O filme também trata do desejo de autonomia em relação aos pais, o que é comum entre os adolescentes. Mas a deficiência visual de Léo potencializa esse problema, dando a oportunidade de se discutir a relativa e crescente autonomia que os adolescentes vão conquistando à medida que amadurecem”. FONTE: 13 filmes para debater diversidade sexual e de gênero. Disponível em: <http://educacaointegral.org.br/ noticias/filmes-para-debater- diversidade-sexual-de-genero/>. Acesso em: 12 ago. 2016. A estratificação social e, consequentemente a diversidade, podem ser configuradas pela situação econômica de um determinado grupo. As classes sociais são responsáveis pela estratificação econômica em nossa sociedade (GIDDENS, 2005). Podemos definir uma classe como um agrupamento, em larga escala, de pessoas que compartilham recursos econômicos em comum, os quais influenciam profundamente o tipo de estilo de vida que podem levar. A posse de riquezas, juntamente com a profissão, são as bases principais das diferenças de classe (GIDDENS, 2005, p. 234). A divisão da sociedade capitalista em classes, comumente conhecida como classe alta, classe média e classe baixa, conforma uma realidade de exclusão social dos mais pobres. A exclusão social diz respeito às formas pelas quais os indivíduos podem acabar isolados, sem um envolvimento integral na sociedade mais ampla. DICAS UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 28 Mais abrangente que o conceito de classe baixa, tem ainda vantagem de enfatizar os processos – mecanismo de exclusão. Por exemplo, pessoas que moram em um conjunto habitacional dilapidado, com escolas de baixa qualidade e poucas chances de emprego no local, podem não encontrar efetivamente as oportunidades de autoaperfeiçoamento da maioria das pessoas na sociedade (GIDDENS, 2005, p. 265). Além da diferenciação em relação ao termo classe baixa, a noção de exclusão social também contribui para identificar relações além da noção de pobreza: “Também é diferente da pobreza propriamente dita, concentrando sua atenção sobre uma ampla variedade de fatores que impedem que os indivíduos ou os grupos tenham asmesmas oportunidades que estão abertas para a maioria da população” (GIDDENS, 2005, p. 234). A exclusão social pode ser consequência de diferentes relações sociais. As relações de exclusão e inclusão podem ser compreendidas como econômicas, políticas ou sociais. FIGURA 10 - TIPOS DE EXCLUSÃO SOCIAL FONTE: Giddens (2005, p. 265-267) Exclusão econômica: Indivíduos e comunidades podem ser excluídos da economia no que diz respeito à produção e ao consumo. Quanto ao aspecto da produção, o emprego e a participação no mercado de trabalho são centrais para a inclusão. [...] A exclusão da economia também pode se dar em termos de padrões de consumo, ou seja, com relação ao que as pessoas adquirem, consomem e utilizam na sua vida diária. Exclusão política: A participação popular e contínua na política é o alicerce dos estados democráticos liberais. Os cidadãos são estimulados a manterem uma atitude consciente quanto às questões políticas, a levantarem sua voz em apoio ou em protesto, a contarem com seus representantes eleitos para assuntos importantes, e a participarem do processo político em todos os níveis. Porém, uma participação política ativa pode estar fora do alcance dos indivíduos socialmente excluídos, a quem podem faltar informações, as oportunidades e os recursos necessários para o envolvimento no processo político. Exclusão social: A exclusão também pode ser sentida no domínio da vida social e comunitária. Áreas que sofram de um alto grau de exclusão social podem contar com instalações comunitárias limitadas, como parques, quadras de esportes, centros culturais e teatros. Os níveis de participação cívica são muitas vezes baixos. Além disso, famílias e indivíduos excluídos podem ter menos oportunidades de lazer, viagens e atividades fora de casa. A exclusão social também pode significar uma rede social limitada ou frágil, que leva ao isolamento e ao contato mínimo com os outros. TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE 29 A exclusão social no Brasil decorre de um contexto mais amplo que compõe a origem do povo brasileiro, pois nossa formação histórica é resultado de um processo de exclusão social construído pela imigração europeia, pela escravidão e tráfico dos escravos. Essas características tornaram problemática a dimensão da cidadania no país (BITTAR, 2004). Podemos observar que as relações sociais que fomentam as desigualdades descritas até esse momento refletem as formas como diferentes indivíduos se relacionam e como veem o outro. Preste atenção na música a seguir, analise a mensagem que ela transfere. O Homem Que Não Tinha Nada (part. Negra Li) - Projota O homem que não tinha nada acordou bem cedo Com a luz do Sol já que não tem despertador Ele não tinha nada, então também não tinha medo E foi ‘pra’ luta como faz um bom trabalhador O homem que não tinha nada enfrentou o trem lotado Às sete horas da manhã com sorriso no rosto Se despediu de sua mulher com um beijo molhado ‘Pra’ provar do seu amor e pra marcar seu posto O homem que não tinha nada tinha de tudo Artrose, artrite, diabetes e o que mais tiver Mas tinha dentro da sua alma muito conteúdo E mesmo sem ter quase nada ele ainda tinha fé O homem que não tinha nada tinha um trabalho Com um esfregão limpando aquele chão sem fim Mesmo que alguém sujasse de propósito o assoalho Ele sorria alegremente, e dizia assim O ser humano é falho, hoje mesmo eu falhei Ninguém nasce sabendo, então me deixe tentar (me deixe tentar) O ser humano é falho, hoje mesmo eu falhei Ninguém nasce sabendo (ninguém), então me deixe tentar O homem que não tinha nada tinha Marizete Maria Flor, Marina, Mário, que era o seu menor Um tinha nove, uma doze, outra dezessete A de quarenta sempre foi o seu amor maior O homem que não tinha nada tinha um problema Um dia antes mesmo foi cortada a sua luz Subiu no poste experiente, fez o seu esquema Mas à noite reforçou o pedido ‘pra’ Jesus ATENCAO UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 30 O homem que não tinha nada seguiu a sua trilha Mesmo caminho, mesmo horário, mas foi diferente Ligou ‘pra’ casa ‘pra’ dizer que amava sua família Achou que ali já pressentia o que vinha na frente O homem que não tinha nada Encontrou outro homem que não tinha nada Mas este tinha uma faca Queria o pouco que ele tinha, ou seja, nada Na paranoia, ‘noia’ que não ganha te ataca O homem que não tinha nada agora já não tinha vida Deixou ‘pra’ trás três filhos e sua mulher O povo queimou pneu, fechou a avenida E escreveu no asfalto "saudade do Josué" O ser humano é falho, hoje mesmo eu falhei Ninguém nasce sabendo, então me deixe tentar (me deixe tentar) O ser humano é falho, hoje mesmo eu falhei Ninguém nasce sabendo (ninguém), então me deixe tentar Então me deixe tentar Então me deixe tentar Então me deixe tentar Além disso, frequentemente, as ações sociais têm sido marcadas por discursos que formam imperativos antiéticos, como: 1. “você deve concorrer e ser vencedor, preferencialmente o melhor, eliminando os demais”; 2. “você deve agir segundo seus interesses individuais, pois nunca compensa pensar nos interesses alheios”; 3. “você deve tomar cuidado com estranhos, desconhecidos e não identificados”; 4. “você deve lutar muito para se afirmar em sociedade”; 5. “você deve se relacionar somente com gente fina”; 6. “você deve ter dinheiro para ter liberdade de fazer o que quiser”; 7. “você deve se adequar ao mercado de trabalho cada vez mais competitivo”; 8. “nesta sociedade, só vencem os melhores” etc. (BITTAR, 2004, p. 7-8). Observamos, até esse momento, que as expressões da diversidade são múltiplas, e em decorrência de nossa formação histórica e de elementos que compõem nossa cultura, o diferente acaba por delimitar a exclusão social. TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE 31 LEITURA COMPLEMENTAR Educação e desigualdade A luta por uma educação pública e igualitária deve estar na pauta das lutas políticas nos mesmos níveis das demais lutas sociais e econômicas Otaviano Helene* Uma das características mais perversas da sociedade brasileira é a desigualdade de renda. Nas últimas décadas, chegamos a ocupar a pior posição entre todos os países. Mesmo considerando certa melhoria mais recentemente, ainda estamos entre os 12 países mais desiguais do mundo, juntamente com a África do Sul, o Chile, o Paraguai, o Haiti, Honduras, entre outros. Enquanto entre nós os 10% mais ricos têm uma renda média (familiar per capita) mais do que 50 vezes maior que os 10% mais pobres, nos antigos países socialistas que ainda preservam algumas conquistas sociais (Eslováquia, República Checa e Hungria entre eles) ou nos países que têm ou tiveram recentemente influências socialistas relativamente fortes (como os países nórdicos, por exemplo), essa mesma relação é da ordem de cinco vezes. Mesmo nos países de economia fortemente liberal, EUA entre eles, essa relação está na faixa de 10 e 20 vezes. O que ocorre aqui é simplesmente escandaloso. Muitos fatores estão na origem dessa situação, entre eles o sistema econômico, a ausência de uma reforma agrária real e efetiva, as heranças do escravagismo, a repressão aos movimentos sociais organizados, o monopólio dos meios de comunicação usados para propaganda das “verdades” que interessam às elites e as políticas educacionais excludentes. De fato, a educação tem sido um importante instrumento para a reprodução das desigualdades. Vejamos alguns dados que ilustram como e com que intensidadeisso ocorre. Atualmente, três em cada dez crianças abandonam a escola, em definitivo, antes de completar o Ensino Fundamental e praticamente a totalidade delas vem dos setores economicamente mais desfavorecidos. Como o investimento anual na educação dessas crianças está na casa dos dois ou três mil reais, todo o investimento ao longo da vida pode não exceder os dez ou vinte mil reais. No outro extremo, onde estão os mais ricos, o investimento por criança e por ano pode exceder – e em muito, se considerarmos as escolas de elite e incluirmos cursos de línguas, aulas particulares, material didático, viagens culturais etc. – os trinta mil reais por ano. Ao longo de toda a vida escolar esse investimento pode chegar a meio milhão de reais, ou ainda muito mais que isso. Essa perversa desigualdade na formação educacional, quando combinada com a dependência da renda de uma pessoa adulta com seu nível de escolarização, fecha um círculo vicioso extremamente perverso. Em valores aproximados, UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA 32 segundo vários levantamentos feitos por especialistas, cada ano de escolaridade a mais de uma pessoa implica em um aumento de renda da ordem de 10% a 20% (variação essa devida à época, à sistemática adotada no levantamento dos dados e aos níveis escolares considerados). A qualidade da educação, por sua vez, medida, por exemplo, pelo nível escolar do professor, pode contribuir com uma diferença de cerca de 50% na renda de pessoas com mesmos níveis de formação educacional. Assim, ao escolarizar mal as crianças e jovens mais desfavorecidos, nosso sistema educacional está contribuindo para preservar ou mesmo acirrar nossas desigualdades econômicas, respondendo aos desígnios das elites econômicas, que consideram inaceitável qualquer destinação de recursos públicos para fins sociais, inclusive para a educação pública. Programas como o Bolsa Família e sua extensão, o Brasil Sem Miséria, ainda que sejam importantes instrumentos de distribuição de renda, têm efeitos apenas nos casos de pauperização extrema, pouco contribuindo para combater as raízes do problema da distribuição de renda. Para isso, seriam necessários instrumentos mais permanentes e mais sólidos, que viabilizassem a desconcentração de renda em longo prazo. E a educação é um deles. A luta por uma educação pública e igualitária deve estar na pauta das lutas políticas nos mesmos níveis das demais lutas sociais e econômicas, como a reforma agrária, a luta por moradia, a defesa do setor público e a luta por salários dignos. Se não rompermos com a atual situação educacional – e esse rompimento só será possível por meio de uma ampla luta social – jamais construiremos bases realmente sólidas para superarmos nossa desigualdade. *Otaviano Helene é professor associado do Instituto de Física, presidiu a Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo) de julho de 2007 a junho de 2009. Foi presidente do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). FONTE: Brasil de Fato. Disponível em: <http://antigo.brasildefato.com.br/node/7045>. Acesso em: 15 ago. 2016. 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O termo diversidade envolve um universo múltiplo de indivíduos e suas relações sociais. • O desafio em relação à diversidade remete à compreensão das relações sociais com uma visão que reconheça a multiplicidade e a inclusão. • A diversidade cultural compreende variações das práticas e comportamentos que compõem a cultura de um determinado grupo social. • As variações culturais formam as identidades sociais que refletem multiplicidades e pluralidade. • O etnocentrismo é uma visão de mundo na qual as noções do nosso grupo social ocupam posição de centralidade. • As desigualdades raciais no Brasil são sobrepostas ao mito da democracia racial e à formação social brasileira. • A noção de gênero é socialmente construída e representa papéis e identidades de homens e mulheres, porém, tais concepções não são neutras e representam formas de estratificação social. • A estratificação social pode ser delimitada por critérios econômicos. • A exclusão pelas classes sociais tem implicações em aspectos econômicos, políticos e sociais. 34 1 As relações sociais que configuram a exclusão social são diferentes e podem ser consideradas a partir da divisão dessas relações em três níveis. Considerando esses níveis, classifique as afirmações usando o seguinte código: I – Exclusão econômica. II – Exclusão política. III – Exclusão social. ( ) Os cidadãos são estimulados a manterem uma atitude consciente quanto às questões políticas, a levantarem sua voz em apoio ou em protesto. ( ) Quanto ao aspecto da produção, o emprego e a participação no mercado de trabalho são centrais para a inclusão. ( ) Áreas que sofram de um alto grau de exclusão social podem contar com instalações comunitárias limitadas, como parques, quadras de esportes, centros culturais e teatros. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) II – I – III. b) ( ) III – II – I. c) ( ) I – II – III. d) ( ) II – III – I. 2 As desigualdades sociais fazem parte da formação histórica, geográfica, política e cultural do Brasil. Porém, acredita-se que as desigualdades foram convertidas de exclusão para inclusão, no que chamamos de mito da democracia racial. Partindo desse pressuposto, disserte sobre o mito da democracia racial no Brasil. 3 As lutas voltadas para a garantia dos direitos dos homossexuais e as discussões de gênero vêm ganhando força e espaço na sociedade nos últimos anos. Contudo, o preconceito persiste em nossa sociedade. Comente os avanços conquistados em relação a essas lutas e os desafios que persistem. AUTOATIVIDADE Assista ao vídeo de resolução da questão 1 35 TÓPICO 3 DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A compreensão da diversidade visando transformar nossa prática na educação é um grande desafio, para tanto você terá contato, neste tópico, com teorias que elaboram esse desafio propondo caminhos para construir uma educação pautada no respeito à diversidade. Neste tópico, você acompanhará o desdobramento teórico das discussões sobre diversidade. Inicialmente nossos estudos concentram-se nos conceitos de alteridade. Em um segundo momento, serão apresentadas as teorias do multiculturalismo com foco para o reflexo dessas questões no âmbito da educação. E, por fim, abordaremos os desafios da gestão democrática em relação à inclusão, respeito à diversidade e promoção da democracia na escola. 2 ALTERIDADE E O RECONHECIMENTO DO OUTRO Você já ouviu falar do termo alteridade? Por acaso já se perguntou como construímos nossa identidade? Como descobrimos o diferente? Como nos relacionamos com o outro e as diferenças na sociedade? FIGURA 11 – ALTERIDADE FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot. com/_N616RsBs8LM/SltTvvwdv6I/ AAAAAAAAAUA/w6Q-zJC4mdo/s1600/ alteridade.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2016. 36 UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA O conceito de alteridade pode ser compreendido em diversos contextos, usualmente, no universo de estudo da antropologia e filosofia, e remete à construção da identidade individual em relação ao outro. Devido a essas características, conhecer mais sobre esse tema nos auxilia a responder às questões levantadas acima. O que é Alteridade: Alteridade é um substantivo feminino que expressa a qualidade ou estado do que é outro ou do que é diferente. É um termo abordado pela Filosofia e pela Antropologia. Um dos princípios fundamentais da alteridade é que o homem, na sua vertente social,tem uma relação de interação e dependência com o outro. Por esse motivo, o "eu" na sua forma individual só pode existir através de um contato com o "outro". Quando é possível verificar a alteridade, uma cultura não tem como objetivo a extinção de uma outra. Isto porque a alteridade implica que um indivíduo seja capaz de se colocar no lugar do outro, em uma relação baseada no diálogo e valorização das diferenças existentes. Alteridade na Filosofia No âmbito da Filosofia, alteridade é o contrário de identidade. Apresentada por Platão (no Sofista) como um dos cinco "gêneros supremos", ele recusa a identificação do ser como identidade e vê um atributo do ser na multiplicidade das ideias, entre as quais existe a relação de alteridade recíproca. A alteridade tem também papel de relevo na lógica de Hegel: o "qualquer coisa", o ser determinado qualitativamente, está em uma relação de negatividade com o "outro" (nisso reside a sua limitação), mas está destinado a se tornar em outro, a se "alterar", incessantemente, mudando as próprias qualidades (as coisas materiais nos processos químicos). O uso do termo também surge na filosofia do século XX (existencialismo), mas com significados não equivalentes. Alteridade na Antropologia A Antropologia é conhecida como a ciência da alteridade, porque tem como objetivo o estudo do Homem na sua plenitude e dos fenômenos que o envolvem. Com um objeto de estudo tão vasto e complexo, é imperativo poder estudar as diferenças entre várias culturas e etnias. Como a alteridade é o estudo das diferenças e o estudo do outro, ela assume um papel essencial na Antropologia. FONTE: Significados. Disponível em: <http://www.significados.com.br/alteridade/>. Acesso em: 10 ago. 2016. O conceito de alteridade levanta as discussões acerca das relações de construção de identidade diante do reconhecimento da identidade do outro. Provoca a busca por novos olhares: Desfragmentando a dualidade no sujeito, entendemos que os olhos não são apenas atributos do corpo, mas também da alma; e, nesta dimensão religada, o ‘eu’ pelo olhar – independentemente por qual olho se manifesta a natureza e cultura – encontra-se com o Outro pelos caminhos que a alma e o corpo se constroem ao caminhar. Nesse percurso de raízes abertas ao mundo, em meio à crise do pensamento que se IMPORTANT E TÓPICO 3 | DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA 37 instaurou nas concepções do ontem, afetando contundentemente o hoje, ressignificamos o passado e o presente continuamente. Em meio a essas ressignificações complexas, a lucidez de estar no mundo nos sugere que, mesmo temendo olhar para o inesperado, antes interrogarmos não somente o ontem e o hoje para se viver, mas também o próprio sujeito para se conviver, do que tentar pôr um ponto final nisso e continuarmos a fragmentá-lo (MARQUES; JESUS, 2015, p. 116). Nesse sentido, educar na diversidade coloca diante de nós o desafio cotidiano de superar a fragmentação e construir novos significados no contato com o outro. No processo de ressignificar nossas relações com o outro é possível compreender o passado e construir o presente. O reconhecimento das diferenças faz parte do cotidiano da educação. Segundo Guérios e Stoltz (2010), a educação vai além da transmissão de conhecimentos, educar requer preparar o sujeito em diferentes sentidos, como o autoconhecimento, e em diferentes níveis, como o corpóreo, o mental e o espiritual. Para tanto, o desenvolvimento do aprendizado passa pelo seu relacionamento com o outro. Aprendemos quando estamos em contato com outros sujeitos, aprendemos através de relações com sujeitos de características, contextos e culturas diferentes. Colegas (2012). Direção de Marcelo Galvão. Stallone, Aninha e Márcio eram grandes amigos e viviam juntos em um instituto para pessoas com síndrome de Down. Certo dia, surge a ideia de realizar o sonho individual de cada um, e para isso, fogem com o carro do jardineiro. A imprensa começa a cobrir o caso e a polícia sai à procura dos fujões, delegando para o trabalho dois policiais trapalhões. Os jovens, que só querem realizar seus sonhos, estão dispostos a viver uma grande aventura, que vai se revelar repleta de momentos inesquecíveis. FONTE: Filmes especiais. Disponível: <https://educacaoespecialinclusiva. wordpress.com/filmes-especiais/>. Acesso em: 25 ago. 2016. DICAS 38 UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA Aprender é olhar além das relações com as quais estamos habituados em nosso cotidiano. A experiência com alteridades conduz-nos a ver aquilo que jamais poderíamos imaginar e nem sequer sonhar por estarmos demasiado fixados no que consideramos como evidente e relacionado com o cotidiano. É essa experiência que permite a consciência de nós mesmos, o espiar-se e o surpreender-se (GUÉRIOS; STOLTZ, 2010, p. 11). Os novos olhares que direcionamos aos outros nos levam a novos olhares que podem conformar e transformar a nós mesmos. Cabe à educação apresentar o diferente e, mais além, promover a vivência da diferença. Tais momentos podem ocorrer nas interações sociais e também nas interações com a natureza (GUÉRIOS; STOLTZ, 2010). Nesse sentido, educação, cultura e subjetividade compõem o mesmo cenário: Partindo do visível sensível, a educação deve nos levar ao invisível vidente. Isso implica o reconhecimento da intersubjetividade como base para a subjetividade. Somos visíveis a nós mesmos pelos olhos dos outros. A cultura está, assim, na raiz do que somos, porque a intersubjetividade ocorre em um mundo sensível onde eu e os outros estamos situados e inter-relacionados. Esse movimento é vivido por meio do corpo, pois não é possível ser vidente sem ser ao mesmo tempo visível (GUÉRIOS; STOLTZ, 2010, p. 12). Na alteridade a minha perspectiva e a do outro são igualmente importantes e estão em relação continuamente. É preciso, então, repensar a divisão entre sujeito e objeto. Essa tarefa perpassa pela emancipação do indivíduo e na educação tal tarefa é possível (GUÉRIOS; STOLTZ, 2010). Caro acadêmico, as obras de Edgar Morin trazem para o debate elementos ligados à complexidade, tais elementos demonstram a relevância da compreensão das complexas e diversas relações que compõem nossa sociedade e, consequentemente, o espaço da educação. Acompanhe na reportagem a seguir as principais características de Morin e suas contribuições para o pensamento crítico em educação e diversidade. Edgar Morin, o arquiteto da complexidade Sociólogo francês propõe a religação dos saberes com novas concepções sobre o conhecimento e a educação. Mudanças profundas ocorreram em escala mundial nas últimas décadas do século 20, entre elas o avanço da tecnologia de informação, a globalização econômica e o fim da polarização ideológica entre capitalismo e comunismo nas relações internacionais. Diante desse cenário, o sociólogo francês Edgar Morin, hoje com 87 anos, percebeu que a maior urgência no campo das ideias não é rever doutrinas e métodos, mas elaborar uma nova concepção do próprio conhecimento. No lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, Morin propõe o conceito de complexidade. TÓPICO 3 | DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA 39 Ela é a ideia-chave de O Método, a obra principal do sociólogo, que se compõe de seis volumes, publicados a partir de 1977. A palavra é tomada em seu sentido etimológico latino, "aquilo que é tecido em conjunto". O pensamento complexo, segundo Morin, tem como fundamento formulações surgidas no campo das ciências exatas e naturais, como as
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