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1 CINÉTICA QUÍMICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Faculdade de Engenharia Química Profa Carla Eponina Hori 2 UNIDADE 2 CINÉTICA DE REAÇÕES NÃO-ELEMENTARES Quando a lei de velocidade de uma reação química não segue a estequiometria da reação, diz-se que a reação é não elementar. Por exemplo, a decomposição do acetaldeído a 500 oC, em fase homogênea: CH3CHO CH4 + CO A lei de velocidade dessa reação é: - rCH3CHO = k [CCH3CHO] 3/2 Outro exemplo é a formação de iodeto de hidrogênio: H2 + I2 2HI A lei de velocidade dessa reação é: rHI = k1 k3 CI2 CH2 k2 + k3 CH2 3 Para esses tipos de reações quando o denominador também é função das concentrações das espécies presentes, é difícil atribuir uma ordem de reação. Geralmente, essas leis de velocidade mais complexas aparecem quando a reação global é o resultado de um mecanismo de reação que consiste em uma série de etapas de reação. No nosso estudo, vamos admitir que todas as etapas (ou passos) da reação são reações elementares. Exemplo 1: Decomposição do Azometano (AZO) em etano e nitrogênio (CH3)2N2 C2H6 + N2 Observações experimentais: 1) Para altas concentrações de AZO: rN2 a CAZO 2) Para baixas concentrações de AZO: rN2 a [CAZO] 0,5 Essa aparente mudança na ordem de reação pode ser explicada por uma teoria desenvolvida por Lindemann (1922). 4 Em uma primeira etapa, uma molécula ativada [(CH3)2N2]*, que vamos chamar também de AZO*, é formada pela colisão de duas moléculas de AZO. 1) (CH3)2N2 + (CH3)2N2 (CH3)2N2 + [(CH3)2N2]* rAZO* na reação 1 = k1[CAZO] 2 Esse intermediário ativo (complexo ativado) pode se decompor de duas formas. A primeira seria pela colisão com uma outra molécula de AZO (que é a reversa da reação 1) 2) [(CH3)2N2]* + (CH3)2N2 (CH3)2N2 +(CH3)2N2 rAZO* na reação 2 = - k2[CAZO*] [CAZO] Outra opção é o intermediário ativo se decompor espontaneamente formando etano e nitrogênio 3) [(CH3)2N2]* C2H6 + N2 rAZO* na reação 3 = - k3[CAZO*] k1 k2 k3 5 A velocidade global de formação do intermediário AZO* é a soma da velocidade de formação dele em cada uma das etapas da reação: rj = S rj i r azo* = r azo* (1) + r azo* (2) + r azo* (3) r azo* = k1[CAZO] 2 - k2[CAZO*] [CAZO] - k3[CAZO*] Mas como AZO* é um intermediário ativo muito instável, não é possível mensurar a sua concentração no meio reacional. Vai ser necessário expressar [CAZO*] em termos de espécies estáveis. A molécula do intermediário ativo tem uma vida muito curta devido à sua alta reatividade. Assim, ela é formada e consumida rapidamente, e então pode-se considerar que a sua concentração é baixa no meio reacional. Essas considerações levam à HIPÓTESE DO ESTADO PSEUDO-ESTACIONÁRIO (HEPE) i=1 m 6 A HIPÓTESE DO ESTADO PSEUDO-ESTACIONÁRIO (HEPE) assume que a velocidade de formação de um intermediário ativo é igual à sua velocidade de desaparecimento. Em outras palavras a HEPE assume que a velocidade global de formação de um intermediário ativo é nula: r* = 0 Assim, voltando ao problema da formação de etano e nitrogênio a partir do Azometano: A taxa de formação de nitrogênio: rN2 = k3[CAZO*] Vai ser necessário eliminar [CAZO*] dessa expressão, pois não é possível medir essa concentração do intermediário ativo. 7 Mas a equação global de formação de AZO* era: r azo* = k1[CAZO] 2 - k2[CAZO*] [CAZO] - k3[CAZO*] E adotando a HEPE: r azo* = 0 Isolando [CAZO*] temos: [Cazo*] = k1[CAZO] 2 /{k2[CAZO] + k3} Substituindo na equação de formação de N2 temos: rN2 = k3[CAZO*] = k3 k1[CAZO] 2 /{k2[CAZO] + k3} Para altas [CAZO]: k2[CAZO] >> k3 e o denominador tende a k2[CAZO] Assim: rN2 = k3 k1[CAZO] /k2 = k[CAZO] Para baixas [CAZO]: k2[CAZO] << k3 e o denominador tende a k3 Assim, rN2 = k1[CAZO] 2 Consistente com as observações experimentais. 8 REAÇÕES EM CADEIA Geralmente, as reações em cadeia consistem em uma sequência de passos: • Iniciação: Formação de um intermediário ativo • Propagação ou transferência em cadeia: Interação do intermediário ativo com o reagente ou produto para produzir outro intermediário ativo • Término: Desativação do intermediário ativo. 9 Exemplo 2: Craqueamento térmico do etano. O craqueamento térmico do etano forma metano, etileno e butano. As seguintes reações foram propostas para descrever o mecanismo de craqueamento térmico do etano. Iniciação: 1) C2H5 2CH3* (k1) Propagação: 2) CH3* + C2H5 CH4 + C2H5* (k2) 3) C2H5* C2H4 + H* (k3) 4) H* + C2H6 C2H5* + H2 (k4) Término: 5) 2C2H5* C4H10 (k5) Escreva a lei de velocidade para a formação do etileno em função de espécies estáveis 10 Exemplo 3: Formação de HBr: H2 + Br2 2HBr. As seguintes reações foram propostas para descrever o mecanismo de craqueamento térmico do etano. Iniciação: 1) Br2 2Br* (k1) Propagação: 2) Br* + H2 HBr + H* (k2) 3) H* + Br2 HBr + Br* (k3) 4) H* + HBr Br* + H2 (k4) Término: 5) 2Br* Br2 (k5) Escreva a lei de velocidade para a formação do HBr em função de espécies estáveis.