Buscar

Educação Sócio Ambiental

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Seção 1 - Educação e Gestão Ambiental
Educação e gestão ambiental como estratégias para o desenvolvimento sustentável e suas relações com as realidades locais
“Um mundo mais sustentável requer somente bom senso. 
Basta que as pessoas reduzam o consumo, reutilizem as coisas e reciclem seus resíduos. 
Com isso já melhora muito!”
Claudio Corrêia
Segundo Sato; Carvalho (2008), a educação, e especialmente a educação ambiental, deve se apresentar sinceramente comprometidas com a edificação da “cidadania planetária” e por isso não pode deixar de ouvir e refletir sobre as diferentes vozes e silêncios, independente de onde venham. 
A educação deve incentivar a reflexão sobre as questões ambientais no sentido de formar cidadãos cada vez mais conscientes do seu papel social, envolvido com as questões ambientais locais que permeiam uma amplitude mundial, e nesse contexto, possibilitar mudanças de hábitos e atitudes que favoreça o desenvolvimento de uma sociedade ambientalmente sustentável.
O cidadão consciente desenvolve suas concepções sobre o mundo tanto na escala local como global e se reconhece como partícipe de uma cidadania ambiental ativa que extrapola as fronteiras locais ou nacionais, desenvolvendo ações que visam um mundo viável agora e para as próximas gerações, pois a realidade local é, apenas, parte de um contexto mundial. (ZUQUIM et al, 1997) 
Sobre a educação como elemento indispensável para a transformação da consciência ambiental os PCNs (1996) trazem a seguinte explanação:
Uma das principais conclusões e proposições assumidas em reuniões internacionais é a recomendação de investir numa mudança de mentalidade, conscientizando os grupos humanos da necessidade de adotar novos pontos de vista e novas posturas diante dos dilemas e das constatações feitas nessas reuniões.
Por ocasião da Conferência Internacional Rio/92, cidadãos representando instituições de mais de 170 países assinaram tratados nos quais se reconhece o papel central da educação para a “construção de um mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado”, o que requer “responsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e planetário”. E é isso o que se espera da Educação Ambiental no Brasil, assumida como obrigação nacional pela Constituição promulgada em 1988.
Todas as recomendações, decisões e tratados internacionais sobre o tema evidenciam a importância atribuída por lideranças de todo o mundo para a Educação Ambiental como meio indispensável para conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação sociedade/natureza e soluções para os problemas ambientais. Evidentemente, a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do planeta, mas certamente é condição necessária para isso.
Nesse contexto fica evidente a importância de educar os brasileiros para que ajam de modo responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro; saibam exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, tanto local como internacional; e se modifiquem tanto interiormente, como pessoas, quanto nas suas relações com o ambiente.
(...) Neste final de século, de acordo com o depoimento de vários especialistas que vêm participando de encontros nacionais e internacionais, o Brasil é considerado um dos países com maior variedade de experiências em Educação Ambiental com iniciativas originais que, muitas vezes, se associam a intervenções na realidade local. Portanto, qualquer política nacional, regional ou local que se estabeleça deve levar em consideração essa riqueza de experiências, investir nela, e não inibi-la ou descaracterizar sua diversidade.
É necessário ainda ressaltar que, embora recomendada por todas as conferências internacionais, exigida pela Constituição e declarada como prioritária por todas as instâncias de poder, a Educação Ambiental está longe de ser uma atividade tranqüilamente aceita e desenvolvida, porque ela implica mobilização por melhorias profundas do ambiente, e nada inócuas. Ao contrário, quando bem realizada, a Educação Ambiental leva a mudanças de comportamento pessoal e a atitudes e valores de cidadania que podem ter importantes conseqüências sociais.
O debate internacional de concepções e práticas em Educação Ambiental resultou na elaboração do “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”, de caráter não-oficial, durante o Fórum das Organizações Não-Governamentais (ONGs), na Rio/92. Nele, foram delineados princípios e diretrizes gerais para o desenvolvimento de trabalhos com a temática Meio Ambiente. Faz parte desse conjunto a idéia de que não se trata de ensinar de forma acrítica os conceitos da ciência da ecologia ou simplesmente reduzir a Educação Ambiental a uma visão esotérico-existencial. Essa dualidade constitui uma extrema simplificação. Trata-se então de desenvolver o processo educativo, contemplando tanto o conhecimento científico como os aspectos subjetivos da vida, que incluem as representações sociais, assim como o imaginário acerca da natureza e da relação do ser humano com ela. Isso significa trabalhar os vínculos de identidade com o entorno socioambiental. Só quando se inclui também a sensibilidade, a emoção, sentimentos e energias se obtêm mudanças significativas de comportamento. Nessa concepção, a educação ambiental é algo essencialmente oposto ao adestramento ou à simples transmissão de conhecimentos científicos, constituindo-se num espaço de troca desses conhecimentos, de experiências, de sentimentos e energia. É preciso então lidar com algo que nem sempre é fácil, na escola: o prazer. Entre outras coisas, o envolvimento e as relações de poder entre os atores do processo educativo são modificados.
Disponível em: portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf
Continuação: Educação e gestão ambiental...
Nesse contexto, Pádua e Tabanez (1998) asseguram que a Educação Ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudança de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente.
A partir da década de 70, a Gestão Ambiental surge da necessidade de produzir aliada à consciência de que era preciso preservar. Mas foi somente na década de 90 que ela começou a ser implantada de fato. Segundo Dias (2006), após a Eco 92 a construção de um arcabouço normativo institucional ambiental nos Estados-nações contribuiu para o surgimento de uma nova ordem mundial.
Em 1996, o Wordwatch Institute  defendeu a aplicação de um eco-imposto para enfrentar a crise ambiental. Segundo o instituto, os produtos que mais contribuíram para o aquecimento do planeta, desflorestamento, acumulo de lixo, diminuição da água potável, contaminação dos oceanos e das terras de cultivo seriam os mais tributados. Com esse informe, o objetivo do instituto era o controle do processo produtivo das empresas, tornando-se uma arma comercial de países na produção de mercados específicos. (SILVA; QUEIROZ, 2011, 169-170)
A gestão ambiental, segundo Leff (2001) diz respeito à maneira de gerir a utilização dos recursos naturais, com vistas a minimizar os impactos gerados pelo homem enquanto ser social. Considera-se que esses impactos gerados pelo homem se assentam sob três variáveis que estão inter-relacionadas: a diversidade dos recursos extraídos do ambiente natural, a velocidade de extração dos recursos, que permitem, ou não, sua reposição e as formas variadas e distintas na disposição e o tratamento dos resíduos produzidos.
Segundo Seiffert (apud Silva; Queiroz, 2011, p.170), na esfera pública a gestão ambiental consiste na implementação pelo governo de sua política ambiental, mediante a definição de estratégias, ações, investimentos, providências institucionais e jurídicas com a finalidade de garantir a qualidade do meio ambiente, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável.
De acordo com Silva; Queiroz (2011, p.170) alguns instrumentos são utilizados pela gestão ambiental:
De controle ecomando - utilizados na esfera pública. São mecanismos do tipo repressivo e em caso de descumprimento, sofre penalização:
Leis, decretos, portarias, resoluções etc.
Mecanismo de autocontrole  - associados às esferas privadas:
As normas ISO
Instrumentos econômicos - chamados na União Europeia de “ecotaxas”. Estas influenciam o comportamento das pessoas e usam ações que podem representar benefícios ou adicionais de custos.
Nesse contexto, Silva; Queiroz (2011, p. 170) asseguram que há diversas espécies desses tributos, sendo as mais conhecidas:
Tributação sobre emissões que são encargos cobrados sobre a descarga de poluentes, geralmente calculados com base nas características dos poluentes e nas quantidades emitidas.
Tributação sobre a utilização de serviços públicos de coleta e tratamento de efluentes.
Tributação baseada em alíquotas diferenciadas sobre os produtos de acordo com seu grau de impacto ambiental, com o objetivo de induzir a produção e o consumo dos produtos mais benéficos ao meio ambiente. 
Tributação que incide  sobre os preços de produtos que geram poluição  ao  serem utilizados em processos produtivos ou pelo consumidor final, como as taxas cobradas sobre  derivados  de  petróleo,  carvão,  energia  elétrica,  baterias,  pneus,  produtos  que contém  enxofre, CFC's,  etc.
Os autores Silva; Queiroz (2011) informam que atualmente:
As corporações trabalham pela procura de produtos “menos Nocivos” ao meio ambiente, sendo um grande desafio no setor produtivo. Surge ai um novo modelo ou um indicativo de que a proteção ambiental está deixando de ser considerada responsabilidade apenas de órgão governamentais e de ambientalistas, mas sim passando a ser compartilhada por vários setores da sociedade. (SILVA; QUEIROZ, 2011, p.170)
A Gestão Ambiental também se fundamenta em atividade política voltada à formulação de princípios e diretrizes, à estruturação de sistemas gerenciais e à tomada de decisões. Dessa forma, com o objetivo estratégico de atingir o desenvolvimento sustentável, essa Gestão promove o inventário, uso, controle, proteção e conservação do ambiente de forma coordenada.
Nesse contexto, leia o que o autor Fernando Alcoforado, baiano, membro da Academia Baiana de educação e doutor em Planejamento Territorial, escreveu em 2015 sobre o maior acidente ecológico do Brasil, ocorrido no Distrito de Bento Rodrigues em Mariana, estado de Minas Gerais.
A prevenção e a precaução podem evitar desastres
O rompimento das barragens da Samarco em Mariana, Minas Gerais ocorrido 05 de novembro de 2015 que provocou a morte de dezenas de pessoas e fez com que a lama tóxica provocasse danos irreparáveis na fauna e flora atingindo o Rio Doce ao longo de todo o seu curso até o mar atravessando zonas protegidas de floresta de Mata Atlântica, além de provocar um efeito catastrófico imediato no abastecimento público de água de várias cidades no curso do Rio Doce demonstra a necessidade imperiosa de que haja planos de prevenção, de precaução e de gestão de riscos, além da intensificação da fiscalização. 
Em 2005, 168 países assinaram o Marco de Ações de Hyogo que é o instrumento mais importante para obter a redução do risco de desastres, adotado por países membros nas Nações Unidas. O objetivo é aumentar a resiliência das nações e comunidades diante de desastres, visando à redução considerável das perdas ocasionadas por desastres, de vidas humanas, bens sociais, econômicos e ambientais.  O governo brasileiro foi um dos signatários do Marco de Ações de Hyogo. Apesar disto, o governo do Brasil tem sido negligente na prevenção de acidentes. Isto explica porque ocorreu o rompimento das barragens da Samarco. Além do governo brasileiro não estar preparado para lidar com desastres naturais, a legislação brasileira não possui, também, uma resposta adequada na temática da proteção ambiental.
Para lidar com os riscos da atividade econômica é fundamental que sejam adotadas medidas de prevenção ou de precaução para evitar a ocorrência de eventos catastróficos. 
O Estudo Prévio de Impacto Ambiental é um importante instrumento para a formulação de planos de defesa civil haja vista que serve para avaliar, prever e evitar maiores danos à natureza, quando da realização de obras que modifiquem o meio ambiente. Sem dúvida nenhuma é um princípio que está ligado à ideia de prevenção, tendo por objetivo mensurar a viabilidade da realização ou não de uma obra. Cabe observar que as medidas de prevenção ou de precaução deveriam fundamentar as políticas de gestão de riscos e, sobretudo, estarem presentes nas propostas e nas ações da Defesa Civil.  A prevenção de desastres ainda é um gargalo no Brasil. Hoje apenas 6% dos municípios têm plano de defesa civil.
Prevenção e precaução são duas faces da prudência que se colocam frente a situações quando há a possibilidade de dano. Os princípios da prevenção e da precaução devem nortear toda política de proteção ambiental. Segundo Jean-Pierre Dupuy, professor de Filosofia Social e Política na Escola Politécnica de Paris, “a distinção entre risco potencial e risco comprovado funda a distinção paralela entre precaução e prevenção. A precaução é relativa a riscos potenciais e a prevenção a riscos comprovados” (DUPUY, Jean-Pierre. O tempo das catástrofes. São Paulo: Realizações Editora, 2011). O risco potencial corresponde a um acontecimento perigoso que pode ou não ocorrer  ao qual não se pode atribuir probabilidade. Os riscos comprovados podem ser atribuídos a acontecimentos com suas probabilidades de ocorrência. 
O princípio da prevenção é aplicável a impactos ambientais já conhecidos e dos quais se possa, com segurança, estabelecer um conjunto de nexos de causalidade que seja suficiente para a identificação dos impactos futuros mais prováveis; ou seja, que já se tenha uma história de informações sobre eles. O princípio da prevenção se destina, em sentido restrito a evitar perigos imediatos, iminentes e concretos, de acordo com uma lógica imediatista, como procura, em sentido amplo, afastar eventuais riscos futuros, mesmo que não ainda inteiramente determináveis, de acordo com uma lógica prospectiva, de antecipação de acontecimentos futuros. Em caso de certeza do dano ambiental, este deve ser prevenido, como preconiza o princípio da prevenção.
Em caso de dúvida ou de incerteza, é preciso agir também prevenindo  com base no princípio da precaução. Nesse processo, cumpre aferir em que medida é necessário evitar certa atividade.  Seu universo é incerto, exigindo ações particulares, avaliação de riscos, podendo haver ações para diminuí-los, com base na comparação entre diversas possibilidades para se optar por uma, de menor risco. A decisão de evitar o aumento da temperatura média do planeta Terra em 2 ºC que está sendo debatida na COP 21 em Paris se trata de uma precaução para evitar as consequências catastróficas do aquecimento global.
Deve-se atentar, portanto, para a distinção existente entre risco, de natureza futura, sobre o qual se assenta o princípio da precaução; e perigo, de cunho imediatista, associado à lógica da prevenção. Prevenção significa ato de antecipar-se e precaução, por sua vez, equivale à admissão antecipada de um cuidado. O cálculo econômico deve servir de base às decisões relacionadas com a prevenção e a precaução. Na tomada de decisão sobre as alternativas econômicas a serem adotadas, um fator que complica bastante a solução de um problema é a incerteza. Outro fator complicador é a insuficiência de informações.
É oportuno observar que a tomada de decisão é um processo de análise e escolha entre várias alternativas disponíveis, do curso de ação a ser seguida. O processo decisório, segundo Herbert Simon, é constituído de  6 etapas: 1)  Percepção da situação; 2)  Análise e definição do problema; 3) Definição dos objetivos; 4)  Procura de alternativas de solução; 5) Avaliação e  comparação dessas alternativas; 6) Escolha da alternativa mais adequada (Ver o artigo Processo Decisório – Herbert Simon disponível no website  <http://pdherbert.blogspot.com.br/2010/10/ou-podemos-definir-em-6-etapas-essa.html>).Diponível em: (http://fernando.alcoforado.zip.net)
Saiba mais
Fernando Alcoforado
A educação para o desenvolvimento sustentável (EDS) é uma dimensão particularmente importante da educação de qualidade. Ela fornece às pessoas de todos os níveis educacionais as habilidades, as competências e os conhecimentos necessários para transmitir valores indispensáveis para o comportamento e para práticas que conduzem ao desenvolvimento sustentável.  A educação para o desenvolvimento sustentável permite a todo ser humano adquirir conhecimento, habilidades, atitudes e valores necessários para formar um  futuro sustentável  nos planos local e global. A escala e a diversidade de seus recursos naturais fazem do Brasil um país de importância-chave em termos da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável.  
É fundamental preparar cidadãos para se adaptarem a um ambiente físico mutável e para abolir padrões de produção e de consumo insustentáveis, como os que acontecem no momento. A EDS deve ser fortalecida e promovida em todos os níveis e em todos os contextos educativos ao longo da vida dos cidadãos. Isso exige a integração da educação para o desenvolvimento sustentável nas políticas educacionais e nas práticas nacionais relevantes de educação, demanda o desenvolvimento de mecanismos eficazes para vincular os objetivos do aumento do mercado de trabalho verde à programas educativos, especialmente por meio da educação técnica e profissional e do treinamento vocacional, e exige a reforma formal e não formal dos sistemas educacionais a fim de preparar homens e mulheres para o mercado de trabalho verde e retreinar a força de trabalho existente.
A Assembleia Geral das Nações Unidas a proclamou a Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento Sustentável para o período 2005-2014. A proposta foi aprovada em dezembro de 2002, durante sua 57ª Sessão. A UNESCO é a agência líder da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS) para estabelecer padrões de qualidade para a educação voltada para o desenvolvimento sustentável. Seu principal objetivo é o de integrar os princípios, os valores e as práticas do desenvolvimento sustentável a todos os aspectos da educação e da aprendizagem. A educação para o futuro sustentável significa incluir questões-chave sobre o desenvolvimento sustentável no ensino e na aprendizagem como, por exemplo, mudança climática, redução de riscos de desastres, biodiversidade, redução da pobreza e consumo sustentável. Também requer métodos participativos de ensino e aprendizagem para motivar e empoderar alunos a mudar seus comportamentos e tomar atitude em favor do desenvolvimento sustentável. A Educação para o Desenvolvimento Sustentável promove competências como pensamento crítico, reflexão sobre cenários futuros e tomadas de decisão de forma colaborativa.
FACULDADE AGES - IX FÓRUM REGIONAL DE SUSTENTABILIDADE: desenvolvimento regional e educação para a paz. Conferência proferida em 21/11/2015. Leia o texto completo. Disponível em: (http://fernando.alcoforado.zip.net)
Seção 2 - Conceitos e princípios da conservação ambiental e do desenvolvimento sustentável
Conceitos e princípios da conservação ambiental e do desenvolvimento sustentável
É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve...
Victor Hugo
Em 1987, a Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento (Comissão Brundtland) elaborou uma publicação intitulada Our Common Future na qual surge a definição mais generalizada de “desenvolvimento sustentável” – desenvolvimento que tem em conta as necessidades do presente sem pôr em risco a capacidade das futuras gerações em satisfazer as suas próprias necessidades. (FERREIRA, 2005).
Segundo os PCN (1996) são formas de intervenção no meio ambiente:
Conservação: Conservação é a utilização racional de um recurso qualquer, para se obter um rendimento considerado bom, garantido-se, entretanto, sua renovação ou sua auto-sustentação. Analogamente, conservação ambiental quer dizer o uso apropriado do meio ambiente dentro dos limites capazes de manter sua qualidade e seu equilíbrio em níveis aceitáveis.
Para a legislação brasileira, “conservar” implica manejar, usar com cuidado, manter; enquanto “preservar” é mais restritivo: significa não usar ou não permitir qualquer intervenção humana significativa.
Proteção: No Brasil há várias leis estabelecendo Áreas de Proteção Ambiental (APAs), que são espaços do território brasileiro, assim definidos e delimitados pelo poder público (União, estado ou município), cuja proteção se faz necessária para garantir o bem-estar das populações presentes e futuras e o meio ambiente ecologicamente equilibrado. O uso dos recursos naturais nas APAs só pode se dar desde que “não comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção” (Constituição Federal, art. 225, § 1o, III).
Preservação: O Código Florestal estabelece áreas de preservação permanente (APP), ao longo dos cursos d’água (margens de rios, lagos, nascentes e mananciais em geral), que ficam impedidas de qualquer uso. Essas áreas se destinam, em princípio, à vegetação ou mata ciliar especialmente importante para garantir a qualidade e a quantidade das águas, prevenindo assoreamento e contaminação. A Constituição brasileira impõe, também, a preservação do meio ambiente da Serra do Mar, da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do Pantanal Mato-Grossense e da Zona Costeira (Constituição Federal, art. 225, § 4o).
Recuperação: Recuperação, no vocabulário comum, é o ato de recobrar o perdido, de adquiri-lo novamente. O termo “recuperação ambiental” aplicado a uma área degradada pressupõe que nela se restabeleçam as características do ambiente original. Nem sempre isso é viável e às vezes pode não ser necessário, recomendando-se então uma reabilitação.
Uma área degradada pode ser reabilitada (tornar-se novamente habilitada) para diversas funções, como a cobertura por vegetação nativa local ou destinada a novos usos, semelhantes ou diferentes do uso anterior à degradação. A lei prevê, na maioria dos casos, que o investimento necessário à recuperação ou reabilitação seja assumido pelo agente degradador.
Degradação: Degradação ambiental consiste em alterações e desequilíbrios provocados no meio ambiente que prejudicam os seres vivos ou impedem os processos vitais existentes. Embora possa ser causada por efeitos naturais, a forma de degradação que mais preocupa governos e sociedades é aquela causada pela ação antrópica, que pode e deve ser regulamentada.
A atividade humana gera impactos ambientais que repercutem nos meios físico-biológicos e socioeconômicos, afetando os recursos naturais e a saúde humana, podendo causar desequilíbrios ambientais no ar, nas águas, no solo e no meio sociocultural. Algumas das formas mais conhecidas de degradação ambiental são: a desestruturação física (erosão,no caso de solos), a poluição e a contaminação.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf
A década do “Desenvolvimento Sustentável"
A década de 2005 a 2014 foi estabelecida pelas Nações Unidas como a década do “Desenvolvimento Sustentável”. Num documento produzido em 2005 sobre a “Educação para o Desenvolvimento Sustentável” é afirmado que o conceito de “desenvolvimento sustentável” continua a evoluir, mas que compreende três áreas chave – sociedade, ambiente e economia, sendo a cultura uma dimensão subjacente (FERREIRA, 2005).
Nesse contexto, Ferreira (2005) entende que:
A Sociedade: inclui a compreensão das instituições  sociais e o seu papel na mudança e no desenvolvimento, assim como os sistemas democráticos e de participação que permitem a expressão de opinião, a escolha dos governantes, a formação de consensos e a resolução das diferenças. 
Ambiente: inclui a compreensão da fragilidade do ambiente físico e dos recursos e os efeitos no ambiente da actividade humana e das decisões tomadas, e pressupõe empenho em considerar os efeitos das políticas de desenvolvimento social e econômicono ambiente. 
Economia: pressupõe uma sensibilidade em relação aos limites e potencialidades do crescimento econômico, e um empenhamento em avaliar os efeitos dos níveis de consumo pessoais e sociais no ambiente e na justiça social. 
A cultura é considerada como uma forma de estar, de relacionamento, de comportamento, de acreditar e de atuar das populações, que tem que ser tida sempre em conta, mas que está em constante processo de mudança. (FERREIRA, 2005).
 
SUSTENTABILIDADE
Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Meio Ambiente (1996), Sustentabilidade implica:
o uso dos recursos renováveis de forma qualitativamente adequada e em quantidades compatíveis com sua capacidade de renovação, em soluções economicamente viáveis de suprimento das necessidades, além de relações sociais que permitam qualidade adequada de vida para todos. PCNs (1996, p. 178)
De acordo com os PCNs (1996), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com o apoio da ONU e de diversas organizações não-governamentais, propôs, em 1991, princípios, ações e estratégias para a construção de uma sociedade sustentável. Assim, informa que:
Na formulação dessa proposta emprega-se a palavra “sustentável” em diversas expressões: desenvolvimento sustentável, economia sustentável, sociedade sustentável e uso sustentável. Parte-se do princípio de que “se uma atividade é sustentável, para todos os fins práticos ela pode continuar indefinidamente. Contudo, não pode haver garantia de sustentabilidade em longo prazo porque muitos fatores são desconhecidos ou imprevisíveis”.
Diante disso, propõe-se que as ações humanas ocorram dentro das técnicas e princípios conhecidos de conservação, estudando seus efeitos para que se aprenda rapidamente com os erros. Esse processo exige monitorização das decisões, avaliação e redirecionamento da ação e muito estudo.
Uma sociedade sustentável, segundo o mesmo Programa, é aquela que vive em harmonia com nove princípios interligados apresentados a seguir:
Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos (princípio fundamental);
Melhorar a qualidade da vida humana (critério de sustentabilidade);
Conservar a vitalidade e a diversidade do Planeta Terra (critério de sustentabilidade);
Minimizar o esgotamento de recursos não-renováveis (critério de sustentabilidade);
Permanecer nos limites de capacidade de suporte do planeta Terra (critério de sustentabilidade);
Modificar atitudes e práticas pessoais (meio para se chegar à sustentabilidade);
Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio ambiente (meio para se chegar à sustentabilidade);
Gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvolvimento e conservação (meio para se chegar à sustentabilidade);
Constituir uma aliança global (meio para se chegar à sustentabilidade).
Disponível em: portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf
 
Para Jacobi (1997, p. 196), a noção de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento.  O mesmo autor complementa afirmando que a sustentabilidade traz uma visão de desenvolvimento que busca superar o reducionismo e estimula um pensar e fazer sobre o ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, a participação e aos valores éticos como valores fundamentais para fortalecer a complexa interação entre sociedade e natureza. (JACOBI, 1997, p. 203).
Seção 3 - Os Movimentos Sociais e a Educação Ambiental
Os Movimentos Sociais e a Educação Ambiental
"Há que se cuidar do mundo, tomar conta da amizade, 
alegria e muito sonho, espalhados no caminho 
Verdes: planta e sentimento" 
Milton Nascimento 
("Coração de estudante")
 Na década de 1990, a questão ambiental ganha mais viabilidade. O Estado, as empresas privadas e a população passaram a exibir uma intensa preocupação com a preservação ambiental. O que antes era visto como um assunto característico dos movimentos ambientalistas, na atualidade cada vez mais passa a ter visibilidade pela sociedade, uma vez que a degradação ambiental também significa degradação da qualidade de vida da população, principalmente dos segmentos de baixa renda.
Atualmente, observa-se que os movimentos sociais expressam-se por diversas formas: movimentos de classe, de gêneros, grupos raciais, ambientalistas, entre outros. Os movimentos ambientalistas são formados pela articulação de diversos atores e fatores como os sociais, econômicos e políticos, dentro de uma conjuntura nacional e internacional. (GEHLEN & BRYON, 1995).
A diversidade é colocada por Jacobi (2003, p. 200) como sendo uma das características mais marcantes do movimento ambientalista, o autor afirma que suas ações congregam valores como: equidade, justiça, cidadania, democracia e conservação ambiental. Acrescenta ainda que as questões tratadas pelo ambientalismo 
estão hoje muito associadas às necessidades de constituição de uma cidadania para os desiguais, à ênfase dos direitos sociais, ao impacto da degradação das condições de vida decorrentes da degradação socioambiental, notadamente nos grandes centros urbanos, e à necessidade de ampliar a assimilação, pela sociedade, do reforço a práticas centradas na sustentabilidade por meio da educação ambiental (JACOBI 2003, p. 201).
Nesse contexto, Brandão (2005) entende que os movimentos sociais almejam diluir o poder do Estado e, conseguintemente, o poder das empresas capitalistas, as quais emprestam ao Estado o seu poder. Afirma ainda, que os movimentos sociais são seguimentos autônomos que atuam fundamentalmente em ações sociais, mesmo que sejam por meios de ações políticas. No entendimento de (LAYRARGUES, 2004; LIMA, 2002), os movimentos sociais são sujeitos protagonistas do processo educativo ambiental.
Em 1988, a Constituição Federal consagra o meio ambiente como direito de todos, um bem de uso comum essencial para uma boa qualidade de vida.  Atribui a responsabilidade pela preservação e defesa deste ao Poder Público e a coletividade como um todo. A partir desse período os movimentos sociais encontram nesta cena a sua área de intervenção, debruçando-se em esforços para solucionar os problemas. A população, além de vir assumindo a sua responsabilidade junto ao Estado pela preservação e defesa do meio ambiente, vem atuando através dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada e preza pelo resguardo e vigência dos direitos sociais.
Disponível em: http://www.fundaj.gov.br.
Para Muller, apud Gehlen (1995), os movimentos sociais urbanos e os movimentos ambientalistas são, basicamente, movimentos complementares. Assim, destacam que ambos são de caráter defensivo diante da degradação social e ambiental e se inspiram na necessidade de autopreservação na medida em que buscam preservar homens, mulheres e a natureza, pois é nesta que se desenvolvem as ações, a vida.
Os mesmos autores complementam ainda que para mudar a postura encontrada no Brasil, que, na maioria das vezes, valoriza o econômico justificada pela gravidade da questão social em detrimento do problema ambiental, como ocorria nos anos 1960, ainda torna-se necessário um trabalho mais específico dos atores políticos. Estes precisam traduzir a linguagem da sociedade em linguagem de ação política, e não apenas formulando o problema numa linguagem aceita pelas elites políticas.
Continuação: Os Movimentos Sociais e a Educação Ambiental
Ao se pensar a educação ambiental, considerando os movimentos sociais e as implicações políticas destes, se agregam ao processo instaurado: os conflitos socioambientais, os problemas decorrentes do uso e apropriações da natureza, os interesses e necessidades em disputa, as visões societárias antagônicas, a configuração política institucional, as mobilizações sociais, enfim,os agentes sociais concretos em suas relações constitutivas na dinâmica contraditória da sociedade (ACSELRAD, et. al. 2004). Essa visão do autor coaduna com os princípios e objetivo da educação ambiental defendidos pela PolíticaNacional de Educação Ambiental.
A visão de realidade defendida por Layrargues (2004) e Lima, (2002) é a de que nem sempre a relação entre a educação ambiental e os movimentos sociais foi de colaboração, ocorrendo desconfianças e críticas mútuas. O que significa que nem toda intervenção dos movimentos sociais na questão ambiental traz o compromisso definido com a educação ambiental.
Fontes (2006, apud LOREIRO, 2008) assegura que no Brasil os movimentos sociais populares se rearticulam tardiamente (somente em 1980) e destaca que suas formas de organização se voltaram para a luta contra a ditadura cuja ênfase se localizava no enfrentamento aos interesses do Estado de exploração do trabalho, desigualdade social e no obstáculo à democracia. Analisando fora de uma visão reducionista e levando-se em consideração o contexto histórico e a ordem econômica adotada durante a ditadura militar, pode-se admitir que ações com esse propósito foram de grande valia para a construção de sociedades sustentáveis que garantam a preservação da diversidade cultural e biológica.
Na concepção de Higuchi; Moreira (2009), enquanto campos de ação social, tanto a Educação Ambiental quanto os Movimentos Sociais têm em sua estrutura de organização
metas de atuação integradoras que se distinguem de padrões vigentes, notadamente divisores. Portanto, está no âmago dessas proposições um caráter transformador das relações das pessoas com o mundo humano e geofísico. Ademais, ambos se mostram como processos estratégicos na formação de uma consciência crítica e de emancipação dos indivíduos. (HIGUCHI; MOREIRA, 2009).
Para que a Educação Ambiental e os Movimentos Sociais possam mediar a apropriação do conhecimento científico pela sociedade e a transformação necessária Reigota (1994, apud Higuchi; Moreira, 2009) propõe uma educação política de modo a preparar as pessoas para intervenções sociais na intenção de mudar as relações dos seres humanos entre si e destes com o meio ambiente para a construção de uma sociedade sustentável.
O compromisso político inerente à Educação Ambiental considera que a liberdade e a justiça são as bases inegociáveis da sustentabilidade e não pode ser confundido com filiação partidária (REIGOTA, 2005). 
Nesse contexto, Higuchi; Moreira (2009) asseguram que
ao integrar-se às forças emancipatórias sensíveis às lutas socioambientais, a Educação Ambiental  incorpora os processos decisórios participativos como um valor fundamental na proteção ambiental. Tem-se desse modo o desafio de criar as condições para a participação nas políticas públicas, bem como para a sua ampliação, em qualquer momento e em qualquer que seja a gestão partidária.  
Ao falar das ONGs, Jacobi (2003, p. 201) afirma que seus pontos fortes estão na sua credibilidade e capital ético; na sua eficiência quanto à intervenção na microrrealidade social (grupos e comunidades), o que lhes permite formular aspirações e propor estratégias para atendê-las; na maior eficiência quanto à aplicação de recursos e agilidade na implementação de projetos que têm a marca da inovação e da articulação da sustentabilidade com a equidade social.
Segundo Jacobi (2003, p. 201-202), apesar da maior parte das entidades ser baseada na militância voluntária não remunerada, nos últimos anos está ocorrendo um crescente esforço de profissionalização, ainda que em um número restrito de entidades. O autor acrescenta que apesar do pequeno reconhecimento do papel das ONGs, do que decorre reduzido interesse da sociedade brasileira em financiar de forma voluntária suas organizações da sociedade civil, observa-se um aumento da sua legitimidade e da sua institucionalidade.
Sobre o momento atual Jacobi (2003, p. 203) assegura que este
exige que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para assumir um caráter mais propositivo, assim como para poder questionar de forma concreta a falta de iniciativa dos governos para implementar políticas pautadas pelo binômio sustentabilidade e desenvolvimento num contexto de crescentes dificuldades para promover a inclusão social. Para tanto é importante o fortalecimento das organizações sociais e comunitárias, a redistribuição de recursos mediante parcerias, de informação e capacitação para participar crescentemente dos espaços públicos de decisão e para a construção de instituições pautadas por uma lógica de sustentabilidade (JACOBI, 2003, p. 203).
Saiba mais
Conceitos e vicissitudes dos movimentos sociais no Brasil pós-ditadura 
Augusto Infanti Ribeiro da Costa, Helena Vieira Cardoso e  Patrick James Medina
No decurso da história nacional, sempre houve, em decorrência de contradições, conflitos e insatisfações de determinadas parcelas da sociedade, a existência de mobilizações sociais. Como fruto de uma convocação de vontades de atores da sociedade civil em determinado contexto, os movimentos sociais se reconfiguram ao longo dos anos, adequando-se a novas demandas e a novos valores. 
Para fins de análise das vicissitudes na dinâmica das manifestações coletivas, desenvolveu-se, em meados da década de 1960, uma teoria sociológica voltada especificamente para este tema. A Teoria dos Movimentos Sociais, influenciada pelos acontecimentos da década como, por exemplo, os eventos de 1968 na Europa, subdividiu-se em duas vertentes distintas de abordagem. A Teoria da Mobilização de Recursos (TMR), fundamentada em uma corrente de pensamento funcional-estruturalista, enxerga a ação coletiva em sua expressão mais racional e estratégica. Tal corrente enfatiza a relação dos indivíduos com o Estado, e suas demandas por maior distribuição de bens coletivos e participação política. A TMR visualiza o ator social de modo instrumental e renega o emocional e as ideologias coletivas. Por outro lado, a Teoria dos Novos Movimentos Sociais (TNMS), com um viés neomarxista, traz o foco de sua discussão ao poder transformador dos indivíduos e ao “caráter não ou anti-institucional destes atores, fundada no fato de que estes buscam a construção de uma autoidentificação ou defesa de uma identidade específica” (SELL, 2006, p. 189). A TNMS, em contraposição à TMR, se fundamenta como uma teoria de mudanças nas estruturas culturais e na vida coletiva, considerando aspectos simbólicos e de agnição. 
No Brasil, a teoria dos novos movimentos sociais ganhou destaque especial, principalmente no que concerne à análise das mobilizações após o regime militar, cuja extinção possibilitou a reorganização da sociedade, na qual cidadania e participação política passaram a ser sinônimos e na qual “novos sujeitos e atores em movimento, embora com objetivos e perspectivas diferenciadas, juntavam-se em prol da garantia dos direitos e em contraposição à cultura autoritária” (JEZINE, 2006, p. 89). Dentre os movimentos que ganharam destaque nessa época, ressalta-se o movimento sindical e os movimentos populares. Em contraste com o movimento estudantil e guerrilheiro de resistência ao regime militar, os quais atuavam, em grande parte, na clandestinidade e “longe da política formal” (SELL, 2006, p. 197), ainda que o enfoque fosse essencialmente político, os movimentos pós-ditadura demandam a garantia e manutenção dos princípios democráticos, bem como uma postura mais ativa do Estado, no que concerne à resolução dos problemas sociais. Toda a repressão vivida durante a ditadura  se esvai em novas possibilidades de solução dos problemas, tais como sindicatos e associações comunitárias, às quais o indivíduo pode voltar-se para resolver determinadas adversidades.  
Com o avanço da democratização, as mobilizações sociais passaram a interagir ainda mais com o governo, fato que aponta para uma possível “institucionalização” dos movimentos. Essas ações coletivas seriam estruturadas e obedeceriam a alguma lógica de racionalidade. A partir da década de 1990, passou a ocorrer uma gradual profissionalização das atividades de entidades ligadas à mediação dos conflitos sociais. Como exemplo clássico dessa situação, temos o caso das Organizações Não-Governamentais (ONGs), inicialmente atreladasaos programas de educação básica nas periferias das grandes cidades. Após o ECO-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento) no Rio de Janeiro, as ONGs passaram a buscar maior autonomia e “interação com as agências estatais” (SELL, 2006, p.199). 
Característica peculiar desse período é a forma de planejamento das mobilizações sociais, organizadas como redes de movimentos sociais não hierárquicas e pouco formalizadas entre parcelas ou grupos das sociedades unidos em prol de uma solidariedade comum. Tem-se, como exemplo, o “movimento pela  ética na política”, ocorrido em 1992, o qual culminou no 
impeachment  do então Presidente Fernando Collor de Mello. Ademais, as movimentações sociais da última década do século XX, como representantes dos anseios da sociedade, passaram a atuar de forma positiva junto ao Estado. Conselhos e fóruns foram criados com o intuito de incluir as entidades de mobilização na idealização e no desenvolvimento de políticas públicas. Dessa forma, os movimentos sociais acabam por criar uma “dupla face”. 
Ao passo que continuam a pressionar o governo com as demandas da população, tendo mais abertura de participação e ocupando um lugar importante na formulação de políticas públicas, também sofrem certo processo de “burocratização”, que, sob o ponto de vista de uma crítica neomarxista, acarreta em “sua adequação às propostas do neoliberalismo” (JEZINE, op. cit., p. 92). 
Atualmente, o debate acerca dos movimentos sociais ganhou dois novos pressupostos que influenciam largamente a maneira como são compreendidos: a globalização e a perpetuação de condutas pós-materialistas inspiradas pelo processo de modernização. Quanto à globalização, leva-se em conta não apenas as mudanças de perspectiva econômica, mas todas as alterações nas esferas religiosas, culturais e políticas. Criam-se novos atores políticos que ultrapassam as fronteiras nacionais e pretendem ter a chance de influir na dinâmica global em questões como os direitos humanos e a defesa do meio ambiente, característica ainda mais aguçada pelas frequentes conferências mundiais e o rápido desenvolvimento das redes de comunicação virtual. Juntamente com a questão da globalização, outra modificação profunda e gradual contribuiu para a reinvenção das práticas de ação coletiva e individual: a modernização e, com ela, os ecos na vida pública de concepções pós-materialistas adotadas no âmbito da vida particular. O desenvolvimento individual de valores pós-materialistas referentes à emergência por uma maior autoexpressão, autonomia e apuração de uma identidade estaria instigando alterações no conjunto de valores sociais, na cultura e, inclusive, na política. Essa evolução individual estaria gerando cidadãos mais críticos e participativos, bem como pessoas mais tolerantes com as diferenças e intolerantes a diversas formas de preconceito e subjugação. 
Disponível em: http://cienciassociais.ufsc.br/files/2015/03/Texto-14-Na-Rede-Social.pdf
Seção 4 - Concepções, Valores e Princípios de Conservação do Ambiente Urbano
Concepções, valores e princípios de conservação do ambiente urbano, considerando os aspectos socioeconômicos e culturais
"Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais 
e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente."
                                                                                    Carlos Queiroz
De acordo com Jacobi (2000, p. 14), o modelo de desenvolvimento que caracteriza a nossa civilização nos últimos séculos tem provocado degradação ambiental nas cidades. O autor acrescenta que o impacto da urbanização predatória sobre o ecossistema se aprofunda com intensidade devido à ausência de políticas que atenue o déficit habitacional. Jacobi (1995) assegura que:
a dinâmica urbana excludente e segregadora determina uma paisagem cada vez mais marcada pela prevalência de estratégias de sobrevivência que destroem a cobertura vegetal e privilegiam práticas de deterioração do meio ambiente urbano (JACOBI, 1995).
O ambiente urbano nas cidades contemporâneas, segundo Ferreira e Ballarotti (2010), tem trazido muitas incertezas e insegurança, além de apresentar uma enorme complexidade na sua gestão, tanto pública como privada. Os autores afirmam ainda que, ultimamente, as cidades têm sofrido uma série de transtornos ambientais e socioeconômicos, influindo na qualidade de vida da população, independentemente do seu tamanho urbano.
Segundo os PCNs (1996), é preocupante a forma como os recursos naturais e culturais brasileiros vem sendo tratados. E adverte:
Poucos produtores conhecem ou dão valor ao conhecimento do ambiente em que atuam. Muitas vezes, para utilizar um recurso natural, perde-se outro de maior valor, como tem sido o caso da formação de pastos em certas áreas da Amazônia. Com freqüência, também, a extração de um bem (minérios, por exemplo) traz lucros somente para um pequeno grupo de pessoas, que muitas vezes não são habitantes da região e levam a riqueza para longe e até para fora do país. A falta de articulação entre ações sistemáticas de fiscalização, legislação e implantação de programas específicos que caracterizariam uma política ambiental adequada, além da falta de valorização por parte de todos, induz esses grupos a deixar essas áreas devastadas, o que custará caro à saúde da população e aos cofres públicos. (PCNs, Meio Ambiente, 1996, p.175).
Com as áreas urbanas, nas quais se inserem a maior parte da população brasileira, não tem sido diferente: a fome, a miséria, a injustiça social, a violência e a baixa qualidade de vida de grande parte da população brasileira são fatores fortemente relacionados ao modelo de desenvolvimento excludente e concentrador de renda que gera implicação, tais como: esgotamento do solo, contaminação da água e crescente violência nos centros urbanos (PCNs 1996).
A conservação integrada se associou de vez às questões ambientais e sociais a partir da 2ª Conferência Mundial do Meio Ambiente - ECO 92, Rio de Janeiro. No evento foi elaborada a Agenda 21, plano de ação abrangente e complexo elaborado por cada país. No Brasil, a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável (CPDS) e a Agenda 21 Nacional coordenam as discussões que levam a repensar o planejamento. Este documento apresenta como traço característico o reconhecimento de que o desenvolvimento econômico não pode ser visto sem o desenvolvimento social e ambiental. Zancheti (2000, p. 98) afirma que a consciência ambiental modificou e ampliou a concepção de conservação integrada e alerta que, hoje, o tema tradicional dos monumentos, dos sítios e dos centros históricos é inserido no conceito de território histórico e cultural. 
A criação do Ministério das Cidades (2003) foi um dos importantes passos para viabilizar a conservação integrada no Brasil e tem o objetivo de garantir o direito à cidade, transformando-a em espaço mais humanizado, assim como proporcionar à população o acesso à moradia, ao saneamento básico, transporte e desenvolvimento urbano. A essa pasta cabe ainda a promoção de ações na área ambiental. Apreciando uma antiga reivindicação dos movimentos sociais de luta pela reforma urbana.
Desenvolvimento urbano, meio ambiente e ações de sustentabilidade
De acordo com Theis; Alburquerque (2005, p.6) pode-se dizer que desenvolvimento urbano  se trata do processo de acumulação que tem lugar no espaço de uma cidade; em outra análise, por desenvolvimento urbano se entende o processo localizado de mudança social que tem como propósito último o progresso permanente de uma comunidade e seus respectivos membros que vivem num determinador espaço urbano.
O espaço é o palco das relações entre a economia e o meio ambiente e se apresentam cada vez mais complexas. No contexto do capitalismo, o processo de acumulação, fundado na produção de valores de troca, provoca mudanças radicais no espaço urbano e resulta em graves danos ao meio ambiente. (THEIS; ALBURQUERQUE, 2005, p.6).
Silva (2003) assegura que o meio ambiente artificialou urbano é “constituído pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral: espaço urbano aberto)”.
O meio ambiente urbano é tutelado pelo artigo 182, caput, da Carta Magna de 1988, que integra o capítulo da política urbana, e especifica: 
 "Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes." 
Puglisi (2006, p. 56) assegura que, em atendimento ao disposto acima, em 2001 surge o Estatuto da Cidade que tem por objetivo estabelecer as diretrizes gerais da política urbana que, entre outras, estipula:
(inciso XII) - a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;
(inciso VIII) - a adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental;
(inciso XIII) - a audiência do Poder Público Municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população.
Puglisi (2006, p. 60) afirma que a defesa do meio ambiente, que é um dos princípios da ordem econômica a qual visa assegurar a todos uma existência digna conforme os ditames da justiça social, também é considerada uma diretriz geral da política urbana já que o Estatuto da Cidade faz referência à preservação, recuperação e proteção ambiental.
O Brasil é hoje um país urbano, com mais de 80% da sua população morando nas cidades. A falta de planejamento por parte do poder público durante o processo de urbanização, que ocorreu de forma rápida, contribuiu para a realidade de segregação espacial e desigualdade social vivenciadas nas grandes cidades brasileiras. Os problemas urbanos se acumulam como: falta de saneamento básico, poluição atmosférica, tratamento do lixo e violência. Essa realidade que se impõe ao meio urbano, aliada à falta de educação ambiental, contribue para a degradação do meio ambiente urbano que, por sua vez, acarreta na diminuição da qualidade de vida da população.
De acordo com Jacobi (2003, p. 200), a dificuldade de manter a qualidade de vida nas cidades e regiões exige o fortalecimento dos padrões ambientais adequados e estimula uma crescente consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, numa perspectiva orientada para o desenvolvimento sustentável. O autor adverte ainda que a generalização de práticas ambientais só será possível se estiver inserida no contexto de valores sociais, mesmo que se refira a mudanças de hábitos cotidianos.
Para Maclaren (2004, apud Ferreira 2005) “sustentabilidade urbana” é o conjunto de condições desejadas: ambientais, socioeconômicas, políticas e culturais que persistem ao longo do tempo e “desenvolvimento urbano sustentável” é o processo de acordo com o qual a “sustentabilidade urbana” pode ser atingida.
Apesar de diferentes comunidades desenvolvem concepções mais ou menos diversas de “sustentabilidade urbana”, a qual depende das suas atuais condições econômicas, ambientais e sociais e dos seus juízos de valor, a autora Maclaren (2004, apud Ferreira 2005), defende que alguns indicadores sejam  selecionados para medir o progresso no que diz respeito aos objetivos da “sustentabilidade” e propõe que sejam integradores, isto é, que reflitam as relações existentes entre as dimensões econômicas, ambientais e sociais da “sustentabilidade”. Aliado à isso, precisam ter em conta o futuro, pois devem atender aos princípios da equidade intergeracional, terem em conta a equidade intrageracional e ainda serem estabelecidos mediante a contribuição de muitos membros da comunidade.
Segundo as autoras Ferreira, (2002) e Ferreira, et all, (2000) o “desenvolvimento sustentável:
constitui uma prioridade do século XXI e  implica que os membros de uma comunidade, os cidadãos, adquiram conhecimentos que contribuam para melhorar as suas percepções em relação aos problemas ambientais, sociais e econômicos, modifiquem as suas atitudes face ao ambiente e demonstrem empenho em práticas de cidadania ativa, a diferentes níveis do local ao global, para um mundo mais igualitário e sustentável.  O “desenvolvimento sustentável” implica ainda que os cidadãos adquiram conhecimentos, valores e competências necessárias a uma participação nas decisões acerca da forma como atuamos local e globalmente, para melhorar a qualidade de vida hoje, sem pôr em risco o futuro do planeta. (FERREIRA, M. M., 2002; FERREIRA, M. M. et all, 2000).
Ao falar de desenvolvimento urbano sustentável Ferreira (2005) adverte que:
O “desenvolvimento urbano sustentável” tem aspectos ambientais, sociais e econômicos comuns a todas as comunidades urbanas, mas dadas as diferentes condições em que se processa o desenvolvimento dessas comunidades e as diferenças culturais que apresentam, o desenvolvimento urbano sustentável possui também aspectos que são específicos de uma determinada comunidade. Os cidadãos necessitam conhecer as realidades e os problemas inerentes a um desenvolvimento sustentável a diferentes escalas, da local à global e desenvolver um certo número de competências, atitudes e valores que lhes permitam exercer individualmente e em conjunto uma cidadania ativa em prol de um desenvolvimento que tenha em conta não só as necessidades atuais mas as necessidades das gerações futuras. (FERREIRA, 2005)
Nesse contexto, Puglisi (2006, p. 146) sugere que, além da importância da participação popular para se minimizar os problemas ambientais urbanos existentes nos grandes centros, restaurando-se a qualidade de vida das pessoas que ali vivem, faz-se necessário a integração entre as políticas públicas federais, estaduais e municipais relativas ao desenvolvimento urbano. Acrescenta ainda que a sociedade civil deve fazer uso das atribuições do Estatuto da Cidade, participando ativamente da política pública urbana, com a finalidade de contribuir para que o atual estado degradação do meio ambiente urbano seja revertido, e para que a sua qualidade de vida  seja garantida e vivenciada.
O autor Genebaldo Freire Dias em seu livro “40 CONTRIBUIÇÕES PESSOAIS PARA A SUSTENTABILIDADE” entre outras ações sugere:
Não se omita – sempre que um crime ambiental esteja sendo cometido em sua presença, aja! Quando você se cala. Se torna cúmplice.
Conheça a Legislação ambiental – as leis ambientais brasileiras são consideradas as mais modernas e avançadas do mundo. São um poderoso instrumento de ação, indispensáveis para exercermos os nossos direitos.
Mantenha-se informados sobre a questão ambiental – O analfabetismo ambiental é a maior ameaça à sustentabilidade da espécie humana na Terra.
Forme e/ou participe de associações comunitárias – as comunidades precisam se organizar para fazer valer o seu direito.
Promova a dimensão ambiental – no seu trabalho, na sua empresa, na escola e em sua casa, estimule a abordagem ambiental.
Promova os 5R: Reduzir, reutilizar, Reciclar e Preciclar, Reeducar, Replanejar.
Reduzir o seu consumo e a sua produção de resíduos – Reduzir é ainda a melhor estratégia para evitar danos anbientais.
Reutilize materiais – desenvolva a cultura da reutilização. 
O autor traz outras sugestões que valem a pena serem analisadas e praticadas. Dias (2004, p. 2- 6)

Outros materiais