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ALEGAÇÕES FINAIS NA FORMA DE MEMORIAL (1)

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE CURITIBA/PR
Processo nº ____________
SANDRA, já devidamente qualificada nos autos, que lhe move o Ministério Público, por suposta infração com base no artigo 184, § 2º, do Código Penal, por seu advogado que esta subscreve, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência apresentar suas ALEGAÇÕES FINAIS NA FORMA DE MEMORIAL, com fundamento no artigo 403 § 3º do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de Direito a seguir expostas.
I – DOS FATOS
	A Requerente, mãe de dois filhos menores, moradora de rua, catadora de papelão, foi presa em flagrante no dia 15 de fevereiro de 2017, no centro de Curitiba, quando expunha à venda CDs e DVDs piratas que trazia consigo.
	Durante a abordagem, foi encontrado com a Acusada um DVD do filme Os Dez Mandamentos e dois CDs do Luan Santana. A polícia Militar efetuou a prisão em flagrante da Ré, tendo a encaminhado para a Polícia Civil, que lavrou o respectivo auto. Em seguida, no prazo estabelecido no Código de Processo Penal, o delegado de polícia comunicou a prisão em flagrante ao juiz competente, assim como lhe remeteu cópia do Auto de Prisão em Flagrante.
	Considerando que o crime atribuído à Acusada possui pena máxima de quatro anos. O juiz homologou o flagrante e concedeu a liberdade provisória, aplicando-lhe a medida cautelar de comparecimento mensal em juízo para justificar as suas atividades.
	O inquérito policial foi concluído, tendo sido feita a realização de perícia na mercadoria apreendida, a qual resultou na conclusão de que se tratava de produto pirata.
	O Ministério Público do Estado do Paraná denunciou a acusada como incursa nas penas do artigo 184, § 2º, do Código Penal, incluindo ainda, a agravante do artigo 62, IV, do mesmo código, porque afirmou em seu interrogatório na fase policial que receberia de Jorge, pessoa que lhe entregava as mercadorias, a quantia de R$ 1,50 (um real e cinquenta centavos) por cada DVD ou CD vendido.
	A denúncia foi recebida no dia 02 de março de 2017. Citada no balcão do fórum por ocasião de seu comparecimento mensal para justificar suas atividades, a Ré deixou transcorrer o prazo sem apresentar a resposta à acusação, circunstância que ensejou a remessa dos autos à defesa.
II- DAS PRELIMINARES
DO CERCEAMENTO DA DEFESA
	Diante da situação de moradora de rua em que a Requerente encontrava-se não foi possível que seu defensor contatasse para que apresentasse resposta à acusação, impedindo que a defesa aduzisse suas testemunhas, que deveriam ser ouvidas na audiência de instrução e julgamento.
	Onde não foi permitido que a Acusada apresentasse seu rol de testemunhas em momento posterior. Assim, requer a Vossa Excelência, por meio de seu defensor que conceda uma nova oportunidade para que sejam apresentadas suas testemunhas de defesa, as quais comprovarão que a acusada, na condição de vendedora ambulante, não tinha ciência da ilicitude na venda dos produtos.
Por conseguinte, em dias atuais, de maneira geral não mais conceitua delito, mas algo completamente normal, a venda dos chamados “produtos piratas”.
III- DO DIREITO
De acordo com os fatos narrados, está mais que comprovado a justa a absolvição da Acusada em razão ao princípio da ADEQUAÇÃO SOCIAL, pois independentemente da conduta ser típica, ilícita e culpável trata-se de um comportamento em que a sociedade julga ser permissível, já que a própria sociedade acostumou-se com tais fatos. Desta forma alguns doutrinadores que defendem este princípio não consideram a conduta como um ilícito penal.
É inegável que a Ré estava vendendo produtos considerados “piratas”, quando foi detida sob acusação de vender produtos reproduzidos sem autorização dos autores das respectivas obras. Ocorre que, como já mencionado em juízo, a própria não acreditava que sua ação poderia ser considerada ilegal, entendimento de grande parte das pessoas que resultam de maneira semelhante todos os dias.
Além disso, a Acusada é quem leva o sustento familiar, ou seja, sem a sua colaboração, seus filhos menores não poderiam ter os meios necessários para seu crescimento, visto que só dispõe da proteção familiar materna, o que demonstra que a mesma agiu em estado de necessidade como dispões o artigo 24 do Código de Penal.
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. 
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. 
Dessa forma, conta-se que a justiça não condenará uma cidadã em situação de vulnerabilidade, que visando ganhar dinheiro para garantir o sustento de toda a sua família, sem consciência plena de que estava praticando um crime, mas, contrariamente, com a convicção de que estava a praticar um trabalho digno e honesto.
No mesmo sentido o doutrinador LUIGI FERRAJOLI diz que a intervenção do direito penal deve se dar apenas nas ações reprováveis por “seus efeitos” lesivos a terceiros:
“A lei penal tem o dever de prevenir os mais graves custos individuais e sociais representados por estes efeitos lesivos e somente eles podem justificar o custo das penas e proibições. Não se pode e nem se deve pedir mais ao direito penal.” [FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. Prefácio de Norberto Bobbio. Tradução de Ana Paula Zomer, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flávio Gomes. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais., 2002-págs. 372/382].
O importante princípio da intervenção mínima do Estado vem diminuir as condutas a serem recriminadas pelo Direito Penal, que deve cuidar apenas daquelas que efetivamente são causadoras de lesões importantes a bens jurídicos relevantes.
A jurisprudência dos tribunais tem admitido a absolvição dos acusados de “pirataria” com fulcro no princípio da adequação social:
DIREITO AUTORAL - ARTIGO 184, § 2O, CP -VIOLAÇÃO - CD'S E DVD'S - AUTORIA EVIDENCIADA -CONDENAÇÃO IMPOSTA - AUSÊNCIA DO ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO PENAL - NÃO IDENTIFICAÇÃO DAS OBRAS CONTRAFEITAS - CONDUTA CRIMINAL NÃO CONFIGURADA - ABSOLVIÇÃO DECRETADA - RECURSO PROVIDO PARA ESSE FIM - (VOTO 11759). (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. JULGAMENTO: 12/04/2011. DATA DO REGISTRO: 29/04/2011. ÓRGÃO JULGADOR 16ª CÂMARA CRIMINAL. RELATOR: EXMO. DES. NEWTON NEVES).
“Fato notório de que em todo o Estado do Rio de Janeiro, e talvez em todo o Brasil, CDs e DVDs são vendidos em grandes quantidades, por ambulantes, e por preços módicos; sobretudo, devido ao alto custo para a grande maioria da população. Fato também notório de que pessoas, mesmo de condição social média, média para elevada, e elevada, através da Internet, obtém cópias de filmes e de obras musicais, relegando ao oblívio os ditos direitos de autor. Positivação de que o réu; operário de “lava-jato”; com baixíssima renda, a complementava com tal atividade, por certo ilícita, porém muito menos lesiva à sociedade do que o comércio de drogas ou a investida violenta ao patrimônio alheio. Rigor de o julgador estar atento à sofrida realidade social deste país, a qual assim continua; embora de pouco alterada nos últimos tempos. Tipicidade que existe no sentido próprio, mas que é afastada in casu pela aceitação social da mesma conduta; e que apenas cessará por medidas sólidas, de governantes e legisladores, combatendo pelas reais origens. ” (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Data da sessão: 02/02/2010. Órgão julgador: Sexta Câmara Criminal. Relator: Des. Luiz Felipe da Silva Haddad).
IV- DO PEDIDO
Diante do exposto, requer: 
Reconheça e decrete, liminarmente, nos termos do artigo 61 do Código de Processo Penal, a extinção da punibilidade e, via de consequência, absolva a ré nos termos do artigo 397, IV deste mesmocódigo;
 Requer a defesa, tendo em conta à aceitação da sociedade a ação praticada pela ré se enquadre ao princípio da adequação social - não devendo ser tratado pelo direito penal e sim por outros ramos do direito;
Julgue improcedente a pretensão constante na denúncia e, em consequência, com fundamento no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, ABSOLVA a acusada das acusações que lhe são feitas nestes autos.
Que leve em conta que a ré é primária, tem bons antecedentes, confessou a autoria da conduta que lhe foi imputada, a qual exercia como meio de sustentar a si e a família, presumindo não mais tratar-se de atividade proibida por lei, aplicando-lhe a pena mínima.
Nestes termos,
Pede deferimento.
 
 Curitiba/PR, de___ de ____________ de ______.
Advogado
OAB/UF

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