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B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula 10 Direito das Coisas �Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→→ DIREITO DAS COISAS. Posse. Direitos Reais. Propriedade. Direitos Autorais. Superfície. Servidões. Usufruto. Uso. Habitação. Direito do promitente comprador. Direitos reais de garantia. Subitens →→→→ Posse: conceito, classificação, aquisição e perda. Efeito e proteção. Propriedade: aquisição e perda da propriedade móvel e imóvel. Direitos Autorais. Direitos reais sobre coisa alheia: Enfiteuse, Superfície. Servidão. Usufruto. Direito de Uso. Direito de Habitação. Penhor. Hipoteca. Anticrese e Alienação Fiduciária em Garantia. Concessão de uso especial para fim de moradia. Concessão de direito real de uso. �Legislação a ser consultada →→→→ Código Civil: arts. 1.196 até 1.510. Posse: (arts. 1.196 até 1.224). Propriedade (arts. 1.228 até 1.368). Direitos reais sobre coisa alheia (arts. 1.369 até 1.510). Lei dos Direitos Autorais (Lei n° 9.610/98). Índice Introdução, conceito, características, conteúdo ............................. 02 POSSE ........................................................................................... 05 Teorias sobre a Posse ............................................................... 05 Detenção ................................................................................... 06 Classificação ............................................................................. 07 Aquisição .................................................................................. 11 Efeitos ...................................................................................... 12 Perda ........................................................................................ 14 Composse ................................................................................. 14 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2 PROPRIEDADE ................................................................................ 15 Propriedade Resolúvel .............................................................. 18 Imóvel. Aquisição e Perda. Usucapião. ..................................... 19 Móvel. Aquisição e Perda .......................................................... 25 Condomínio ............................................................................... 27 Direitos de Vizinhança .............................................................. 34 Direitos Autorais ....................................................................... 38 DIREITO REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS ....................................... 40 Direitos Reais de Gozo ou Fruição ............................................. 41 Enfiteuse ............................................................................. 41 Superfície ............................................................................ 43 Servidão Predial .................................................................. 45 Usufruto .............................................................................. 48 Direito de Uso ...................................................................... 51 Direito de Habitação ............................................................ 52 Direitos Reais de Garantia ....................................................... 53 Penhor ................................................................................. 55 Hipoteca .............................................................................. 59 Anticrese.............................................................................. 63 Alienação Fiduciária em Garantia ........................................ 65 Direitos Reais de Aquisição ...................................................... 68 Compromisso Irretratável de Compra e Venda .................... 68 Direitos Reais de Interesse Social ............................................ 70 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ................................................... 71 Bibliografia Básica .......................................................................... 80 EXERCÍCIOS COMENTADOS ............................................................ 81 INTRODUÇÃO A doutrina costuma afirmar que o Direito Patrimonial se divide em Direito Obrigacional e Direito das Coisas. Nas aulas anteriores falamos sobre o Direito das Obrigações (a maior fonte das obrigações é o contrato), que compõe o chamado Direito Pessoal. Hoje veremos o Direito das Coisas. Com isso mudamos um pouco a ótica do Direito. No Direito das Obrigações estudamos as relações das pessoas entre si. Já no Direito das Coisas o relacionamento das pessoas deixa de ser foco principal. Agora passaremos a estudar a relação dos homens com as coisas, evidentemente que movida por um interesse econômico. Assim, iniciando nosso estudo e para deixar bem diferenciada esta dualidade do Direito Civil, apresentamos o seguinte quadro. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 3 QUADRO COMPARATIVO DIREITO PESSOAL DIREITO DAS COISAS 1. Relação entre Pessoas. Dualidade de sujeitos: a) Ativo: credor b) Passivo: devedor 1. Relação direta entre o homem e as coisas. Apenas um Sujeito: Ativo 2. Objeto: sempre uma prestação do devedor (dar, fazer ou não fazer). 2. Objeto: sempre uma coisa (corpórea ou incorpórea). 3. Princípio básico: autonomia privada. 3. Princípio básico: regras de direito público. 4. Não taxativo: as modalidades podem estar previstas ou não em lei. 4. Taxatividade: espécies previstas expressamente em lei (numerus clausus); oponíveis erga omnes. 5. Violados: lesado pode ingressar com ação somente contra a outra a parte. 5. Violados: lesado pode ingressar com ação contra quem detiver a coisa. 6. Extingue-se pela inércia do interessado (prescrição). 6. Conserva-se até que haja uma situação contrária (usucapião). Ex.: contratos em geral Ex.: propriedade CONCEITO Baseado no quadro acima, podemos conceituar o Direito das Coisas como o conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos bens corpóreos (móveis ou imóveis) ou incorpóreos (direitos autorais, propriedade industrial), suscetíveis de apropriação pelo homem, segundo uma finalidade social. Abrange: aquisição, exercício, conservação e perda de poder sobre os bens. CARACTERÍSTICAS Tipicidade: a relação dos direitos reais é limitada, taxativa. Os direitos reais são somente aqueles que estão previstos na lei (numerus clausus). Absolutos: os direitos reais possuem eficácia erga omnes (repercutem socialmente, impondo respeito à todas as pessoas, que devem abter-se de molestar o titular). Sequela: o titular do direito real pode “perseguir a coisa” em poder de terceiros, onde quer que se encontre. Aderência (ou especialização): aderência do direito ao bem. Publicidade (ou visibilidade): os direitos reais sobre imóveis só se adquirem depois das transcrição no registrode imóveis; sobre móveis só depois da tradição. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 4 CONTEÚDO DO DIREITO DAS COISAS (RESUMO) O Direito das Coisas está inserido no Livro III da Parte Especial do Código Civil, abrangendo: I. Posse (art. 1.196, CC): exteriorização da propriedade. II. Direitos Reais (art. 1.225, CC): rol taxativo (numerus clausus) 1) Direito real sobre coisa própria (jus in re propria) a) Propriedade: é o único direito real sobre coisa própria, que confere o título de dono. É o mais amplo direito real. Normalmente a propriedade é plena ou ilimitada, conferindo poderes de posse, uso, gozo ou fruição, disposição e reivindicação. Se este direito sofrer alguma limitação surgem os chamados direitos reais sobre a coisa alheia. 2) Direitos reais sobre coisa alheia (jura in re aliena): é o desmembramento do direito real sobre coisa própria. Em regra é temporário, uma vez que pelo princípio da elasticidade a coisa tende a voltar à situação original: propriedade plena. Subdivide-se em: a) Gozo ou fruição: é o desmembramento em relação ao uso da coisa e gozo da coisa. Espécies: • Enfiteuse (prevista no Código Civil anterior e recepcionada pelo atual), superfície, servidão, usufruto, uso e habitação. b) Garantia: é o desmembramento em relação à disposição da coisa (limita o direito de dispor da coisa); se não cumprida a obrigação o credor irá dispor da coisa. Espécies: • penhor, hipoteca, anticrese e alienação fiduciária. c) Direito real de aquisição: é o desmembramento em relação ao direito de aquisição; o titular transmite a propriedade de forma paulatina. Espécies: • direito do promitente comprador do imóvel (promessa irretratável de compra e venda). d) Interesse social (Lei n° 11.481/07): Espécies: • concessão de uso especial para fins de moradia e concessão de direito real de uso. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 5 POSSE (arts. 1.196 a 1.227, CC) Posse é o exercício pleno ou não de alguns dos poderes inerentes à propriedade (usar, gozar ou fruir, dispor e reivindicar). Qual a importância do estudo da posse? Posse é a exteriorização da propriedade. Há uma presunção (relativa) de que o possuidor é também o proprietário da coisa (embora, muitas vezes isso não ocorra, pois pode-se ter a posse sem ser proprietário, como veremos logo mais adiante). Posse é uma situação de fato protegida pela lei para evitar a violência e assegurar a paz social. Atualmente a doutrina vem evoluindo, adotando novas concepções, dando maior ênfase ao caráter econômico e à função social da posse. Posse é um fato que está na natureza há muito tempo, enquanto a propriedade é algo criado pela sociedade. Os homens primitivos tinham a posse de terras e bens; já a propriedade só surgiu muito tempo depois, com a organização da sociedade e o desenvolvimento do direito. TEORIAS SOBRE A POSSE 1. Subjetiva (Savigny) Poder direto de se dispor fisicamente do bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo de terceiros. Posse consiste na conjugação dos seguintes elementos: Material (corpus): poder físico material sobre a coisa, ou possibilidade de exercer este contato. Intenção (animus domini): vontade de ter a coisa para si; de exercer sobre ela o direito de propriedade. 2. Objetiva (Ihering) Exerce posse aquele que se comporta objetivamente, como se fosse proprietário, imprimindo destinação econômica à coisa (usando, gozando, fruindo, etc.). Basta a disposição física ou possibilidade de exercer o contato sobre a coisa (dispensa-se a intenção de ser dono). Posse é a exteriorização do domínio; o que importa é a destinação econômica do bem. Elemento: Corpus: único elemento visível e suscetível de comprovação. TEORIA ADOTADA PELO BRASIL Nosso Código adotou a Teoria Objetiva de forma parcial, apresentando-se como uma relação entre pessoa e coisa, tendo em vista a função socioeconômica desta. Segundo o art. 1.196, CC, considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Portanto, locatário e comodatário são B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 6 considerados possuidores, podendo usar as ações possessórias, até mesmo contra o próprio proprietário em certas situações. DETENÇÃO (fâmulo de posse: art. 1.198, CC) Em algumas situações, ainda que uma pessoa exerça alguns poderes de fato sobre a coisa, a lei não o considera como possuidor, mas sim, um simples detentor da coisa (trata-se de um estado de fato inferior à posse). Isso decorre da situação de dependência econômica ou de vínculo de subordinação em relação à outra pessoa. Estabelece o art. 1.198, CC que considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Exemplo clássico: caseiro de um sítio. Outros exemplos: motorista particular em relação ao carro do dono, bibliotecário em relação aos livros da biblioteca, zelador de prédio, etc. Observem que estas pessoas não são possuidoras (no sentido legal do termo) uma vez que apenas conservam a posse em nome de outra pessoa, tendo com esta uma relação de dependência econômica. O detentor tem apenas posse natural, não podendo invocar as ações possessórias muito menos a usucapião. A detenção, ainda que prolongada, não enseja direitos de possuidor. Os atos de mera permissão ou tolerância representam indulgência pela prática do ato (ex.: amigo que permite que você vá pescar em um lago que fica em sua propriedade), não induzindo posse, nem conferindo direitos (art. 1.208, 1ª parte, CC). Resumindo: o possuidor exerce um poder de fato em razão de um interesse próprio. Já o detentor exerce no interesse de outrem, não podendo invocar as ações possessórias. Obs.: Há entendimento no STJ no sentido de que a ocupação de área pública consiste mera detenção. NATUREZA JURÍDICA DA POSSE � Questão Polêmica � A doutrina se divide em basicamente três correntes. Cada uma com famosos e ferrenhos defensores. A primeira afirma que a posse é simplesmente um fato. A segunda corrente afirma que é um fato e um direito ao mesmo tempo. Se for considerada em si mesma é um fato. Mas se considerada em relação aos efeitos que gera (usucapião e ações possessórias), ela se apresenta como um direito. A terceira correte afirma que é um direito. Ou, como prefere a doutrina, “um interesse juridicamente protegido”, uma vez que é condição da econômica utilização da propriedade. A grande maioria de nossos civilistas entende que a posse é um Direito. Portanto se algo desse gênero cair na prova oriento a optar pela alternativa que a classifica a posse como Direito. Mas o maior problema seria: Direito Pessoal ou Direito Real? A doutrina é bem dividida! Renomados autores, como a professora Maria Helena Diniz, entendem que a posse é Direito Real, uma vez que ela é a B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 02 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 7 “visibilidade ou desmembramento da propriedade”. Na posse encontram-se todos os caracteres dos direitos reais, tais como: a) exercício direto, sem intermediário; b) oponibilidade erga omnes (contra todos); c) incidência em objeto obrigatoriamente determinado. Esta é a corrente mais seguida pela doutrina. Porém outro renomados autores entendem que seria Direito Pessoal, uma vez que a posse não figura na enumeração taxativa do art. 1.225, CC. Ora, como os Direitos Reais são taxativos (numerus clausus) e a posse não se encaixa nesse rol, a posse seria um Direito Pessoal. Esta é a corrente mais seguida pela jurisprudência. ���� ATENÇÃO ���� Como disse o tema é muito controvertido e não deveria cair em provas objetivas. Mas já vi cair algumas vezes (todas elas pelo CESPE), sendo que a banca entendeu que não se trata de um direito real. ELEMENTOS DA POSSE Capacidade (pessoa natural ou jurídica), objeto lícito e possível (coisa corpórea ou incorpórea), forma livre e relação dominante entre o sujeito e o objeto. OBJETO Todas as coisas que possam ser objeto de propriedade (excluem-se as que estão fora do comércio): bens corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, principais ou acessórios (se puderem ser destacadas da principal sem alteração de sua substância), etc. FUNDAMENTO Jus possessionis (posse formal): apPessoa se instala no imóvel e se mantém de forma mansa e pacífica. Cria-se situação possessória que proporciona proteção à posse (contra terceiros e, em algumas hipóteses, contra o proprietário), independentemente de qualquer título. É fundado no fato da posse. Jus possidendi (posse causal ou titulada): há uma causa justificando a posse. A pessoa possui um título ou outro direito real transcrito (enfiteuse, usufruto, etc.), ou contrato (locação, comodato, etc.). CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 1) Quanto à extensão da garantia possessória a) Posse Direta (ou imediata): exercida por quem detém materialmente a coisa; a pessoa mantém o contato direto com a coisa (poder físico imediato). Ex.: posse exercida pelo proprietário, locatário, comodatário, etc. b) Posse Indireta (ou mediata): exercida por meio de outra pessoa que não mantém contato direto com a coisa, pois ela cedeu o uso da coisa para outrem. Ex.: proprietário que tem a posse através do inquilino. Nesse caso há duas posses paralelas, sendo que uma não anula a outra: a) possuidor B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 8 indireto (proprietário ou locador: é o que cede o uso do bem); b) possuidor direto (inquilino ou locatário: é o recebe o bem em virtude do contrato). Portanto, na locação, o locatário tem posse direta e o locador posse indireta, temporária e derivada. Uma posse não anula a outra: ambas convivem no tempo e no espaço. Ambos podem ingressar com as ações possessórias contra uma eventual e injusta perturbação de terceiro. Art. 1.197, CC: A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. Exemplo: “A” é proprietário de um apartamento e o alugou para “B”. Durante a vigência do contrato, “A” invadiu o imóvel, trocou as chaves da porta e impediu o acesso de “B”. Nesse caso, “B”, na condição de inquilino e possuidor direto, pode defender sua posse contra o possuidor indireto, que é o proprietário-locador. ����Atenção! ���� Embora o art. 1.197, CC regule apenas a possibilidade do possuidor direto defender a sua posse do indireto, a recíproca também é verdadeira, pois o dono de uma coisa (possuidor indireto) pode ingressar com ação contra o possuidor direto para reaver coisa que lhe pertence (ex.: ação reivindicatória). Assim, a pretensão possessória pode decorrer tanto da posse imediata ou direta sobre o bem (incide imediatamente sobre a coisa corpórea), como a mediata ou indireta (decorrente de uma relação jurídica de direito real ou pessoal). Concluindo Tanto o possuidor direto como o indireto podem defender a posse um contra o outro, reciprocamente, bem como ambos contra terceiros. Isso porque a pretensão possessória decorre da posse mediata ou imediata sobre o bem. Assim, tanto a posse direta (que incide imediatamente sobre a coisa), como a indireta (decorrente de uma relação jurídica de direito real ou pessoal), merecem proteção jurídica. 2) Quanto aos vícios objetivos a) Justa: exercida de forma mansa e pacífica, pública e contínua. Isenta de vícios originais (art. 1.200, CC): não é violenta, clandestina ou precária. Possuidor legítimo é o proprietário ou alguém por ele autorizado ao exercício das faculdades do domínio. b) Injusta: diz respeito à lesão do direito de propriedade; sua aquisição fundou-se em um dos vícios possessórios. A saber: • Violência: obtida por meio de força física (vis absoluta) ou moral (vis compulsiva) contra o legítimo possuidor. Ex.: esbulho possessório. • Clandestinidade: obtida de forma que o antigo possuidor sequer se deu conta do ato aquisitivo; às escondidas, às ocultas, de forma traiçoeira, sub-reptícia ou sorrateira. • Precariedade: obtida com abuso de confiança; tem origem no descumprimento da obrigação de restituir, com a quebra da relação de confiança havida na origem do desdobramento da posse (ex.: B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 9 locatário ou comodatário que não devolve o bem ao final do contrato). Ela ocorre quando o possuidor direto passa a exercer a posse não mais de acordo com os interesses do proprietário, mas sim de acordo com seus próprios interesses, com a mudança do animus. Ou seja, ela é justa em sua origem, mas se torna injusta quando da não devolução. Observações • Esbulho: é o ato pelo qual a pessoa é despojada, injustamente, daquilo que lhe pertence ou estava em sua posse, por violência, clandestinidade ou abuso de confiança. Turbação: é ato injusto ou abusivo que embaraça o livre exercício da posse. • Os vícios da posse não produzem efeitos erga omnes, ou seja, só podem ser alegados pelo possuidor ofendido contra o agressor. • A posse, ainda que considerada injusta, continua sendo posse, podendo ser defendida contra terceiros, mas não contra aquele de quem se a tirou. Nesta hipótese a regra é que se presumem (presunção juris tantum: admite prova em contrário) continuarem os mesmos vícios nas mãos dos sucessores do adquirente, ainda que estes a recebam de boa-fé (art. 1.203, CC). Tem-se a exceção no caso em que o adquirente a título clandestino ou violento prova que a sua clandestinidade ou violência cessaram há mais de ano e dia (art. 1.208, CC). O mesmo não ocorre com a precariedade, pois esta nunca cessa. 3) Quanto ao elemento psicológico (subjetividade) a) Boa-fé (art. 1.201, parágrafo único, CC): o possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que lhe impedem a aquisição da coisa. Há a convicção de que a coisa lhe pertence e que está agindo de acordo com a lei. Trata-se da boa- fé subjetiva. Art. 1.201, CC: É de boa-fé a posse, se opossuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. b) Má-fé (art. 1.202, CC): o possuidor tem ciência da ilegitimidade de seu direito de posse em razão dos vícios impeditivos de sua aquisição: violência, clandestinidade ou precariedade. Art. 1.202: A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. Observações A importância da distinção entre a posse de boa-fé e má-fé reside na indenização das benfeitorias, no direito de retenção e indenização de deterioração da coisa. A posse de boa-fé perdura até o momento em que o possuidor toma conhecimento do vício inicial à aquisição da posse. Toda posse de má-fé é injusta, mas nem toda posse injusta é de má-fé. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 10 Para a doutrina clássica o justo título seria o ato formalizado e hábil à transferência da posse e da propriedade (ex.: formal de partilha registrado). Todavia, a doutrina moderna, à luz do princípio da função social mitiga este entendimento, sendo desnecessária a exigência de uma escritura formal. Enunciado 303, da IV Jornada de Direito Civil do STJ: Considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse. 4) Quanto à idade a) Nova: menos de um ano e um dia. b) Velha: é a que conta com um ano e um dia ou mais. Observação. Esta classificação não está mais no Código Civil. A importância dela reside no Direito Processual Civil. Fala-se agora em “ação de força nova” ou “ação de força velha”. Para a caracterização de uma ou outra deve-se levar em conta o tempo decorrido entre a ocorrência da turbação ou do esbulho e a reação do lesado (turbado ou esbulhado). Se ele reagiu dentro do prazo de ano e dia, poderá pleitear a concessão de liminar (ação de força nova) para desocupação imediata, nos termos do art. 924, CPC. Passado esse prazo, o lesado deve se valer do procedimento ordinário (sem direito à liminar). Por outro lado, neste caso, o possuidor, ainda que injusto, posse ser mantido na posse até a decisão final do Judiciário. ����Cuidado! ���� Costuma-se afirmar: “passado o prazo de um ano e dia, a posse não é mais injusta”. Isso é errado! Passado esse prazo, a posse continua injusta, o que ocorre é que o proprietário-vítima não terá mais direito à liminar na ação possessória. 5) Quanto aos seus efeitos a) Ad interdicta: quando molestada pode ser defendida pelas ações possessórias, mas impede a aquisição da propriedade por usucapião. Ex.: locatário pode defender a posse de turbação ou esbulho, mas não tem direito a usucapião contra o proprietário da coisa, em razão do contrato firmado. b) Ad usucapionem: prolonga-se por determinado lapso temporal previsto em lei, admitindo a aquisição do domínio pela usucapião, desde que obedecidos os requisitos legais (que veremos mais adiante). 6) Quanto à produtividade a) Produtiva (posse-trabalho ou pro labore): prática de atos que possibilitam o exercício da função social da propriedade (moradia ou investimentos econômicos). b) Improdutiva: o imóvel não é explorado, tornando-se inútil. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 AQUISIÇÃO DA POSSE Adquire-se a posse no momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos direitos inerentes à propriedade (art. 1.204, CC). 1. Aquisição Originária: decorre unicamente da vontade do adquirente (ato unilateral). Não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. Espécies: a) Apreensão: apossamento unilateral; deslocamento da coisa para o domínio do possuidor, ou pelo uso da coisa se for imóvel. Aplica-se: • nas coisas de ninguém (res nullius) e abandonadas (res derelictae). • nos bens retirados de outrem sem permissão (embora injusta, considera-se posse). b) Exercício de direito: utilização econômica do direito. Ex.: linha telefônica, servidão de aqueduto passada por terreno alheio sem oposição, etc. 2. Aquisição Derivada: há transmissão da posse do antigo possuidor ao novo (ato bilateral), em razão de um título jurídico, conservando o caráter anterior. Pode ser inter vivos (compra e venda) ou causa mortis (sucessão hereditária). a) Tradição (entrega da coisa): acordo de vontades entre o tradens (quem entrega) e o accipiens (quem recebe), podendo ser gratuito (doação) ou oneroso (compra e venda). Espécies: real, simbólica e consensual, que serão analisadas mais adiante. b) Constituto possessório (cláusula constituti): ato pelo qual alguém, que possuía um bem (móvel ou imóvel) em nome próprio, passa a possuí-lo em nome alheio (art. 1.267, parágrafo único, CC). Ex.: pessoa vende uma casa e o comprador permite que o vendedor continue nela residindo, como inquilino ou comodatário. Não se presume; a disposição deve estar expressa no contrato. c) Acessão temporal: A posse pode ser continuada somando-se o tempo do atual possuidor com o dos seus antecessores, facilitando a usucapião. Abrange a união (compra e venda, doação) e a sucessão (herdeiros continuam a posse em lugar do falecido). Art. 1.206, CC: A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres. Art. 1.207, CC: O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. ����Observação. Segundo jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não é possível a posse de bem público, constituindo a sua ocupação sem aquiescência formal do titular do domínio mera detenção de natureza precária. Quem pode adquirir a posse (art. 1.205, CC) • a própria pessoa que a pretende (desde que capaz) ou seu representante: legal (pais, tutores e curadores) ou convencional com poderes especiais (mandatário). B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 12 • terceiro, mesmo sem mandato, dependendo de ratificação posterior (gestor de negócios). EFEITOS DA POSSE São as consequências jurídicas produzidas pela posse: 1. Faculdade de propor ações possessórias (interditos): tem a finalidade de defender e proteger a posse. A doutrina classifica as ações em: A) Típicas (stricto sensu): a causa de pedir é a própria posse e o requisito fundamental é a prova da posse (direta ou indireta). Exige-se a condição de possuidor, mesmo que não tenha título. O detentor não tem essa faculdade. • Interdito proibitório (arts. 1.210, 2a parte, CC e 932 e 933, CPC) – Proteção preventiva da posse, ante a ameaça de turbação ou esbulho, desde que haja justo e fundado receio de que estas possam ocorrer. Se a ameaça se concretizar no curso do processo a ação se transformaráem manutenção ou reintegração. • Manutenção da posse (arts. 1.210, CC e 926 a 931, CPC) – Quando há turbação, ou seja, ato que atrapalhe, incomode, moleste o livre exercício da posse, causando ou não danos (não há perda da posse). Ex.: rompimento de cercas, abertura de “picadas”, penetração para extração de lenha, etc. A turbação pode ser direta (exercida imediatamente sobre o bem) ou indireta (praticada externamente, mas que repercute sobre a coisa, como colocação de areia, cascalho ou obstáculos de forma geral em frente à entrada do imóvel, impedindo o possuidor de nela ingressar). Também pode ser positiva (resulta da prática de atos materiais sobre a coisa) ou negativa (apenas dificulta ou embaraça o livre exercício da posse). • Reintegração de posse (arts. 1.210 e 1.212, CC e 926 a 931, CPC) – Quando há esbulho. O possuidor perde a posse contra a sua vontade (violência, clandestinidade ou precariedade). Visa à recuperação da posse. Ex.: estranho que invade a casa deixada pelo inquilino; comodatário que não devolve a coisa após o término do contrato. Observações A distinção básica entre as ações repousa na intensidade da agressão: ameaça, turbação ou esbulho. Em todas elas é possível cumular o pedido possessório com o de condenação em perdas e danos e a cominação de multa em caso de transgressão da ordem, ou em caso de reincidência na turbação ou no esbulho (art. 921, CC). Se a ação for ajuizada no prazo de um ano e um dia da turbação ou do esbulho, a ação possessória é considerada como “força nova espoliativa”, cabendo a concessão de liminar inaudita altera parte. Após este prazo a ação será de “força velha espoliativa”. Neste caso na cabe liminar e o eventual esbulhador permanece na posse até a decisão do juiz no final do processo. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 13 Quando mais de uma pessoa se disserem possuidoras, será mantida provisoriamente aquela que tiver a coisa em suas mãos, se não a obteve de forma injusta. Havendo perecimento ou deterioração considerável da coisa, o possuidor somente terá direito à indenização. Fungibilidade: A propositura de uma ação possessória (típica) ao invés de outra não obstará que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos requisitos estejam provados (art. 920, CPC). Caráter dúplice: se o autor ingressar com uma ação possessória e o réu alegar que foi ele o ofendido em sua posse, poderá formular na própria contestação os pedidos que tiver contra o autor. Ou seja, não é necessário ingressar com a reconvenção (art. 922, CPC). B) Atípicas (lato sensu): a posse é tutelada de forma indireta. Estão relacionadas com a posse, mas são mais ligadas à propriedade e ao direito de vizinhança, analisadas pelo Direito Processual Civil. Alguns autores não reconhecem nelas qualquer natureza possessória. • Nunciação (ou embargo) de obra nova (art. 934 a 940, CPC): impede a continuação de obras no terreno vizinho prejudiciais ou em desacordo com a lei ou regulamentos administrativos. Ex.: vizinho que desvia curso de rio ou o represa; que abre janela a menos de um metro e meio da linha divisória, etc. O objetivo é embargar a obra (impedir sua construção). Não será cabível se já estiver pronta ou em fase de conclusão. • Dano infecto (arts. 826 a 838, CPC e arts. 1.277, CC): medida preventiva baseada no justo receio de que a ruína, vícios de construção ou demolição de imóvel vizinho venha a lhe causar prejuízos. Obtém do vizinho caução por futuros e eventuais danos. • Embargos de terceiro (art. 1.046 a 1.054, CPC): remédio jurídico adequado para aquele que não era parte do processo, mas veio a sofrer apreensão judicial de seus bens (penhora), pois os mesmos estavam em poder de outrem. • Imissão de posse: era regulada pelo CPC de 1939. Embora não mencionada pela atual legislação, mas entende-se possível seu ajuizamento. Se alguém compra um imóvel, obtendo a escritura pública definitiva, mas não recebe a posse, em tese não pode ingressar com a reintegração (se nunca teve posse do bem não pode ser reintegrado) e nem com ação de despejo, pois o ocupante não é locatário. A saída seria ingressar com esta ação, pois a pessoa tem o domínio e também deseja a posse. 2. Autotutela da Posse (art. 1.210, §1°, CC). O Direito, de uma forma geral, impede que se faça “justiça com as próprias mãos”. No entanto, admite-se exercer, segundo o princípio da proporcionalidade a autodefesa em duas hipóteses: B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 14 a) Legítima defesa: possuidor molestado pode reagir incontinenti contra o agressor, empregando meios estritamente necessários para manter-se na posse. b) Desforço imediato: possuidor pode recuperar a posse perdida, empregando meios moderados, agindo pessoalmente ou sendo ajudado por amigos ou serviçais. ����Observação: os atos de defesa ou de desforço são exceções e devem ser usados somente em situações especiais. Não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse. Os meios empregados devem ser proporcionais à agressão. Eventual excesso acarreta indenização pelos danos causados. 3. Frutos e benfeitorias a) Possuidor de boa-fé: tem direito de usar e fruir a coisa e aos frutos percebidos. Cessando a boa-fé não tem direito aos frutos pendentes; se colhê-los antecipadamente, deve restituí-los, deduzidas as despesas de produção e custeio. Deve ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis. Caso não o seja, pode reter o bem até o valor destas. Pode levantar (jus tollendi) as voluptuárias, desde que não danifique a coisa. Obs.: Súmula 335 STJ: “Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção”. b) Possuidor de má-fé: responde pela perda ou deterioração da coisa, ainda que acidental, salvo se provar que de igual modo se teria dado estando a coisa na posse do reivindicante. É responsável pelos frutos colhidos e percebidos e pelos que, por sua culpa, se perderam. Tem direito às despesas de produção e custeio (evitando-se o enriquecimento sem causa) e a indenização somente pelas benfeitorias necessárias, nada podendo reter ou levantar. PERDA DA POSSE Ocorre quando cessa, mesmo contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem (art. 1.223, CC). Hipóteses: 1. Abandono: intenção de largar voluntariamente a coisa (renúncia da posse). 2. Tradição (entrega): intenção definitiva de transferir a coisa a outrem. Ao mesmo tempo em que é meio aquisitivo da posse para o adquirente, implica em perda para o alienante. 3. Perda da coisa: impossibilidade absoluta de encontrar o bem (anel que cai em um rio profundo e caudaloso). 4. Destruição da coisa: inutilização total decorrente de evento natural (inundação, incêndio); perecendo o objeto, extingue-se o direito. COMPOSSE (ou compossessão) Duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a coisa. A posse em comum pode decorrer de contrato (ato inter vivos) B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br15 ou herança (causa mortis). Ex.: adquirentes de coisa comum; marido e mulher em regime de comunhão de bens, coerdeiros antes da partilha, etc. Requisitos: pluralidade de sujeitos e coisa indivisa. Estabelece o art. 1.199, CC: Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. Espécies: • Pro diviso: embora não haja uma divisão de direito (a coisa permanece juridicamente indivisa), há uma divisão de fato para o uso da coisa. Cada compossuidor possui uma parte certa e específica. Todos sabem onde se inicia e termina sua parte na coisa. Assim, exercem poderes apenas sobre parte da coisa definida. • Pro indiviso: os compossuidores têm uma parte ideal do bem, sem que se saiba qual a parte que compete a cada um. Todos exercem ao mesmo tempo os poderes de fato sobre a totalidade da coisa. ����Atenção ���� Não confundir posse em comum (composse), em que todos têm os mesmos direitos, com a concorrência de posses (posses de natureza distintas: posse direta e indireta sobre o mesmo bem). PROPRIEDADE (arts. 1.228 a 1.360, CC) É o direito que a pessoa física ou jurídica tem de usar, gozar, dispor de um bem (corpóreo ou incorpóreo) ou reavê-lo de quem injustamente o possua ou detenha. É o mais completo dos direitos subjetivos, sendo o centro do direito das coisas. O atual Código reafirma a função social da propriedade acolhida nos arts. 5°, XXIII e 170, III da Constituição Federal. Elementos – Direitos (art. 1.228, CC) • Uso (jus utendi): faculdade do dono de servir-se da coisa e utilizá-la da maneira que entender mais conveniente, sem modificação em sua substância e sem causar danos ou incômodos a terceiros (ex.: morar em uma casa). • Gozo ou fruição (jus fruendi): recebimento dos frutos (naturais ou civis) e utilização dos produtos da coisa (ex.: aluguel). • Disposição (jus abutendi ou disponendi): poder de se desfazer da coisa a título oneroso (venda) ou gratuito (doação), abrangendo o poder de consumi-la ou gravá-la de ônus (penhor, hipoteca). • Reivindicação (rei vindicatio): possibilidade de mover ações para reaver o bem de quem injustamente o detenha ou possua. Limitações O direito de propriedade não é mais considerado absoluto; vem se transformando gradativamente em finalidade social, encontrando limites no B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 16 direito dos outros e em medidas restritivas impostas pelo Estado em favor do interesse público. 1. Constitucionais a) O espaço aéreo e o subsolo pertencem ao proprietário do solo, até a altura e profundidade que lhes seja útil, dentro das limitações legais. O dono do solo é também o dono do subsolo, para construção de passagens, garagens subterrâneas, porões, adegas, etc. Prevê o art. 176, CF/88 que os recursos minerais e hidráulicos constituirão propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, ficando sob o domínio da União. A pesquisa e a lavra de recursos minerais (jazidas, minas, etc.) e o aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica e monumentos arqueológicos, somente podem ser efetuados com autorização ou concessão da União. Garante-se ao dono do solo a participação nos resultados da lavra. b) Desapropriação por necessidade ou utilidade pública e por interesse social (art. 5°, XIV e art. 184, CF), mediante prévia e justa indenização em dinheiro. c) Requisição: uso da propriedade alheia em caso de perigo iminente (art. 5°, XXV, CF) ou em circunstâncias especiais, assegurando-se ao proprietário o pagamento de indenização posterior, se houver dano. d) Confisco de terras onde se cultivem ilegalmente plantas psicotrópicas (art. 243, CF). e) Os arts. 216, I a V, §§1° a 5°; 23, III e IV e 24, VII , CF/88 colocam sob proteção especial do poder público os documentos, obras e locais de valor histórico ou artístico, os monumentos e as paisagens naturais notáveis, e as jazidas arqueológicas (o proprietário tem o uso e gozo da coisa, mas não a disponibilidade, uma vez que sua alienação depende de autorização do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). f) Proteção do bem ambiental (art. 225, CF/88 e art. 1.228, §1°, CC). O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as finalidades econômicas e sociais, de modo que sejam preservadas a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como seja evitada a poluição do ar e das águas. 2. Administrativas a) Coisas tombadas. b) Ocupação de terrenos vizinhos às jazidas. c) Restrição sobre floresta (Código Florestal): certas árvores, devido à beleza e raridade são imunes ao corte. d) Restrições sobre alinhamento ou altura de construções, por razões estéticas, urbanísticas ou higiênicas; obrigação de murar terrenos, calçar passeios, etc. e) Zona de proteção dos aeroportos: proibição de construir acima de certa altura, dentro do setor de aproximação de aviões. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 17 3. Militares a) Requisição de móveis e imóveis necessários às Forças Armadas e à defesa do povo. b) Faixa de até 150 km de largura ao longo das fronteiras (art. 20, §2o, CF). 4. Civil. Direito de vizinhança (impede que o vizinho seja prejudicado quanto à segurança, sossego, saúde), passagem forçada para imóvel encravado, etc. (veremos adiante). CLASSIFICAÇÃO 1. Plena: a pessoa possui todos os elementos da propriedade em suas mãos, sem que terceiros tenham quaisquer direitos sobre o bem. 2. Limitada (restrita): recai algum ônus (hipoteca, usufruto) ou é resolúvel. A pessoa abre mão de um ou alguns dos poderes da propriedade em favor de outrem. Divide-se em duas partes destacáveis: a) Nua propriedade (domínio direto): corresponde à titularidade; ao fato de ser proprietário e ter o bem em seu nome (nu proprietário, senhorio ou proprietário direto). b) Domínio útil: direito de usar, gozar e dispor da coisa. Uma pessoa é o titular do bem (nu proprietário), mas outra tem o direito de usar, gozar e até dispor daquele bem (usufrutuário, enfiteuta, etc.). Caracteres da Propriedade 1. Absoluto: o titular pode utilizar o bem como quiser, sujeitando-se apenas às limitações legais ou à coexistência do direito de propriedade de outros titulares. Tem natureza absoluta, comparado com os direitos pessoais puros. Relativiza-se quanto aos direitos da personalidade, aos direitos difusos e os interesses da coletividade. 2. Exclusivo: uma mesma coisa não pode pertencer com exclusividade (portanto ressalvado o condomínio, que recai sobre a parte ideal) e simultaneamente a duas ou mais pessoas. 3. Perpétuo: subsiste independente de seu exercício; a propriedade não se extingue pelo fato do titular não utilizar a coisa. Só deixa de existir quando ocorrer causa extintiva, legal ou voluntária. 4. Elástico: pode ser distendida ou contraída no seu exercício, conforme lhe adicionem ou subtraiam poderes destacáveis (nua propriedade e domínio útil). Objeto Tudo o que não for excluído pela lei: bens móveis e imóveis, corpóreos e incorpóreos, etc., desde que tenham valor econômico determinado e sejam aproveitáveis pelo homem. Proteção – Ações 1. Ação Reivindicatória(art. 95, CPC): retomada da coisa, quando terceiros a detenham, dizendo-se donos. Só pode ser usada pelo B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 18 proprietário, ainda que não seja pleno. É a ação do proprietário contra o possuidor sem título ou suporte jurídico, mesmo que de boa-fé. O autor deve provar: a) o domínio (prova da propriedade: registro); b) individualização da coisa: descrição do imóvel com seus corretos e limites e confrontações, de maneira a possibilitar sua perfeita localização: c) demonstração que a coisa reivindicada está na posse injusta do réu. Efeito →→→→ faz com que o possuidor restitua o bem com todos os acessórios. Se impossível essa devolução por ter perecido a coisa, o proprietário terá direito de receber o valor da coisa. 2. Ação Negatória: defesa do domínio quando o proprietário sofre turbação no exercício de seu direito (empregada nos conflitos de vizinhança). 3. Ação Declaratória: dissipa dúvidas a respeito do domínio. 4. Ação de indenização proveniente de ato ilícito (ex.: destruição da casa em razão de danos provocados por um caminhão desgovernado). 5. Ação de indenização proveniente de ato lícito (ex.: desapropriação). PROPRIEDADE RESOLÚVEL A propriedade, em regra, tem duração ilimitada. No entanto, em determinadas situações a lei admite que se torne temporária (ad tempus). Em regra, isso ocorre quando o próprio título de aquisição subordinado a ocorrência de uma condição resolutiva ou de um termo final. Ou seja, no próprio título de sua constituição já há a previsão de sua extinção. Portanto, há um proprietário atual e um proprietário diferido (futuro), com direito eventual à propriedade da coisa. Situações: a) Ocorrência de fato previsto no contrato (art. 1.359, CC). O próprio título constitutivo (contrato) prevê a causa da extinção do direito de propriedade: o implemento de condição resolutiva, ou a expiração de prazo (termo final). Exemplo: fideicomisso. O testador A (fideicomitente) deixa ao legatário B (fiduciário) uma casa até abril de 2040, quando então a propriedade será C (fideicomissário), filho de B e não concebido ao tempo da morte de A (arts. 1.951 a 1.953, CC). Outro exemplo: retrovenda (art. 505, CC). As partes, em um contrato de compra e venda, podem pactuar cláusula no sentido de ficar assegurado ao vendedor o direito de recomprar a coisa imóvel vendida, no prazo máximo decadencial de 3 (três) anos. Assim, o comprador (atual proprietário) já sabe que por força do contrato, o seu direito de propriedade será extinto caso o vendedor (antigo proprietário e possível futuro proprietário) exerça o direito de recomprar o imóvel. O atual proprietário, durante o prazo de 3 (três) anos, tem apenas a propriedade resolúvel do imóvel. Se o vendedor não exercer o direito de recompra, o direito de propriedade do comprador (atual proprietário) deixa de ser resolúvel e se torna perpétuo. Nessas hipóteses, a decisão que decreta a extinção do direito de propriedade produz efeitos ex tunc (retroage; produz efeitos desde a data da ocorrência do fato causador da extinção da propriedade resolúvel). B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 19 b) Ocorrência de fato superveniente não previsto no contrato (art. 1.360, CC). Nesse caso a extinção do direito de propriedade se dá por fato alheio ao título constitutivo, ou seja, de fato não previsto no contrato. É o que corre, por exemplo, no caso de desfazimento da venda feita por condômino sem dar preferência aos demais condôminos (art. 504, CC) ou na revogação de doação por ingratidão (art. 555, CC). Aqui a decisão que decreta a perda da propriedade produz efeitos ex nunc (não retroage; não produz efeitos no passado). DA PROPRIEDADE IMÓVEL Aquisição: incorporação dos direitos de dono ao titular. Classifica-se em: 1. Originária: não há transmissão de uma pessoa para outra: acessão e usucapião. 2. Derivada: o domínio transmite-se do anterior titular para o atual. Causa mortis: sucessão legítima ou testamentária. Inter vivos: contratos em geral (compra e venda de uma casa, seguido de registro). ACESSÃO (art. 1.248, CC) Direito que o proprietário tem de acrescer aos seus bens tudo o que se unir ou incorporar a eles, natural ou artificialmente. Acessão é o aumento do volume ou do valor da coisa principal em virtude de um elemento externo. Rege-se por dois princípios: a) o acessório segue o principal; b) proibição de enriquecimento sem causa. Espécies de Acessão: 1. Ilhas formadas por força natural (art. 1.249, CC) – Acúmulo paulatino de areia, cascalho e materiais levados pela correnteza, ou de rebaixamento de águas, deixando a descoberto e a seco uma parte do fundo. Interessam ao direito civil somente as formadas em rios não-navegáveis, por pertencerem ao domínio particular. Isso porque as ilhas formadas em rios navegáveis são consideradas ilhas públicas, pertencendo ao Estado. Regra: traça-se uma linha mediana e imaginária no leito do rio dividindo-o em duas partes. A que se forma entre a linha e uma das margens considera-se acréscimo ao terreno fronteiro desse mesmo lado. 2. Aluvião (art. 1.250, CC) – Acréscimo de terras às margens do rio, mediante lentos e imperceptíveis depósitos naturais ou desvios das águas (aluvião própria). As partes descobertas pelo afastamento parcial das águas dormentes, como lagos e tanques, são chamadas de aluvião imprópria. Não há indenização aos eventualmente prejudicados. Não se consideram aluvião os acréscimos feitos por ação humana. Neste caso, havendo prejuízo, haverá indenização. 3. Avulsão (art. 1.251, CC) – Repentino deslocamento de uma porção de terra avulsa por força natural violenta, desprendendo de um prédio e juntando-se a outro. O dono do imóvel desfalcado perde a parte deslocada, mas pode exigir indenização dentro do prazo decadencial de um ano. Se o B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 20 dono do imóvel acrescido não pagar a indenização, deve permitir a remoção da parte acrescida. 4. Abandono de álveo (leito do rio – art. 1.252, CC) – Rio seca ou desvia seu curso de forma natural e permanente. Mesma solução da formação de ilhas: traça-se uma linha mediana imaginária, o álveo abandonado pertencerá aos proprietários ribeirinhos das duas margens até o seu meio, sem que os proprietários dos terrenos por onde o rio abriu novo curso tenham direito a indenização. 5. Acessões Artificiais (física ou industrial) – Deriva de um comportamento ativo do homem (ex.: plantações, construções), possuindo caráter oneroso. Submete-se à regra de que tudo aquilo que se incorpora ao bem em razão de uma ação, cai sob o domínio de seu proprietário. Aquele que semeia, planta ou edifica: a) em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes. Fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. b) em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções. Se agiu com boa-fé, tem direito a indenização. USUCAPIÃO (arts. 1.238 a 1.244,CC) Usucapião (do latim: capio = tomar; usu = pelo uso; tomar pelo uso) é uma situação de domínio pela posse prolongada no tempo, independente da vontade do titular anterior. Alguém detém a posse de algo com ânimo de dono, por certo tempo, sem interrupção e sem oposição e requer ao juiz (por advogado) que lhe reconheça a propriedade ou outros direitos reais (ex.: servidão predial). Sem posse não há usucapião. A sentença vale como título e deve ser registrada no registro de imóveis. Garante a estabilidade e segurança da propriedade, fixando um prazo, além do qual não se podem mais levantar dúvidas a respeito de ausência ou de eventuais vícios no título de posse, solidificando as aquisições e facilitando a prova do domínio. Também é chamada de prescrição aquisitiva. Requisitos essenciais (comuns a todas as modalidades de usucapião) Posse contínua, mansa e pacífica sobre o bem, exercida ininterruptamente (sem intervalos) e sem oposição. Decurso de determinado prazo. Animus domini: a pessoa deve possuir o imóvel como se realmente fosse seu, com a intenção de tê-lo para si. A usucapião também é chamada de prescrição aquisitiva. Não pode ser requerida a usucapião se a situação se enquadrar nas hipóteses dos arts. 197 a 202, CC por força do art. 1.244, CC (ex.: entre cônjuges na constância da sociedade conjugal, entre ascendentes e ascendentes durante o poder familiar, contra absolutamente incapazes, etc.). B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 21 Não podem ser usucapidas: coisas fora do comércio, imóveis com cláusula de inalienabilidade, etc. Os bens públicos também não podem ser objeto de usucapião (arts. 183, §3° e 191, parágrafo único, CF/88), qualquer que seja a sua natureza. Modalidades 1. Extraordinária (art. 1.238, CC) • Posse exercida de forma mansa e pacífica (ou seja, sem oposição, sem contestação de quem tenha legítimo interesse), contínua (sem interrupções) e com animus domini (intenção de dono). Se o proprietário ingressar com alguma medida judicial, quebra-se a continuidade da posse (lembrando que providências extrajudiciais não significam “oposição”). • Prazo: 15 anos. Reduz-se para 10 anos se o possuidor estabelecer no imóvel sua moradia habitual ou realizar obras ou serviços de caráter produtivo. • Não é necessário provar boa-fé ou justo título. Se adquirida por meio de atos violentos ou clandestinos, não induzirá posse, enquanto não cessar a violência ou a clandestinidade; se adquirida a título precário, jamais se convalescerá. • Sentença judicial. 2. Ordinária (art. 1.242, CC) • Posse mansa, pacífica, contínua e com animus domini. • Prazo: 10 anos. Reduz-se para 05 anos se o imóvel foi adquirido onerosamente, desde que o possuidor nele estabeleça sua moradia ou faça investimentos de interesse social e econômico (produtividade). • Justo título – Ato jurídico que habilita uma pessoa a adquirir o domínio da coisa, mas que não produziu efeitos porque: a) o transmitente não era o dono da coisa, embora acreditasse sê-lo; b) o transmitente não tinha o direito de dispor da coisa ou a transferiu por ato nulo; c) houve erro no modo de aquisição (foi adquirido por instrumento particular, quando se exige escritura pública). • Boa-fé – Ignorância de vícios que impediriam a aquisição do domínio. • Sentença judicial. 3. Especial A Constituição Federal, reforçada pelo atual Código Civil, criou outras espécies de usucapião, não exigindo, em qualquer delas, justo título ou boa-fé. a) Rural (pro labore) – Arts. 191, CF/88 e 1.239, CC. • Área não superior a 50 hectares. • Posse por 05 anos ininterruptos e sem oposição. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 • Destinado à sua moradia ou de sua família. • Não ser proprietário de outro imóvel (rural ou urbano). • Tornar a propriedade produtiva por força de seu trabalho ou do de sua família. b) Urbana (pro moradia ou pro misero). Arts. 183, CF/88 e 1.240, CC. • Área não superior a 250 m². • Posse por 05 anos ininterruptos e sem oposição. • Destinada à sua moradia ou de sua família. • Não ser proprietário de outro imóvel (rural ou urbano). • Não pode ser reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. Observações 01) A Lei n° 12.424/11 inseriu o art. 1.240-A no Código Civil, dispondo: “Aquele que exercer, por 02 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”. A doutrina está chamando isso de “usucapião especial urbana familiar”. 02) Segundo entendimento jurisprudencial a prova de quitação de débitos tributários (ex.: IPTU) não é considerado como requisito essencial para a concessão da usucapião. A obrigação tributária, até a efetiva transferência da propriedade permanece com o antigo proprietário. O novo somente deve ser responsabilizado pelos impostos devidos após a transferência da propriedade para o seu nome. Portanto, ainda que a pessoa não esteja pagando os ônus fiscais poderá requerer usucapião do imóvel. Usucapião coletiva e desapropriação A Lei n° 10.257/01 (Estatuto da Cidade) a admite quando áreas urbanas com mais de 250 m², ocupadas por população da baixa renda para sua moradia, por 05 anos, ininterruptamente, sem oposição e com animus domini, onde não for possível identificar os terrenos ocupados de cada possuidor e desde que não sejam proprietários de outro imóvel, urbano ou rural. Na sentença, o juiz atribui igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão daquele que cada um ocupe. Um proprietário pode ser privado do imóvel que está reivindicando quando este consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas que nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados de interesse pessoal e econômico relevante. Assim, mantém-se no bem aquele que lhe deu uma função social. Trata-se da desapropriação judicial por posse- trabalho (art. 1.228, §4°, CC). B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 23 Em ambas as situações há uma busca pelo sentido social da propriedade. Diferença: na primeira hipótese a iniciativa é dos habitantes da área que ingressam com a ação pedindo o domínio (não há pagamento de qualquer indenização). Na segunda ocorre algo parecido com uma desapropriação, pois pelo art. 1.228, 5°, CC o juiz fixa uma indenização ao proprietário que perde o domínio para a coletividade. ����IMPORTANTE ���� O exercício da posse durante o período aquisitivo é um fato jurídico. Consumado o prazo, há a aquisição da propriedade, que é relação jurídica. Assim deve o novo proprietário exercer em juízo a pretensão de usucapião, para que seja declarada a existência dessa relação jurídica (art.1.241, CC). Sendo o pedido considerado procedente a sentença deve ser levada a registro imobiliário como forma originária de aquisição da propriedade, sem que incida imposto de transmissão (que é exigível apenas nas aquisições derivadas, quando há transmissão da propriedade). A sentença proferida possui carga declaratória, porque apenas declara a relação jurídica preexistente. No entanto somente com registro é que a pessoa poderá dizer-se proprietária do bem para todos os fins de direito. O STJ vem decidindo a matéria da seguinte forma (REsp 118.360/SP, Rel. Ministro Vasco Della Giustina): “1. A usucapião é modo originário de aquisição da propriedade; ou seja, não há transferência de domínio ou vinculação entre o proprietário anterior e o usucapiente. 2. A sentença proferida no processo de usucapião (art. 941, CPC) possui natureza meramente declaratória (e não constitutiva), pois apenas reconhece, com oponibilidade erga omnes, um direito já existente com a posse ad usucapionem, exalando, por isso mesmo, efeitos ex tunc. O efeito retroativo da sentença se dá desde a consumação da prescrição aquisitiva. 3. O registro da sentença de usucapião no cartório extrajudicial não é essencial para a consolidação da propriedade imobiliária, porquanto, ao contrário do que ocorre com as aquisições derivadas de imóveis, o ato registral, em tais casos, não possui caráter constitutivo. Assim, a sentença oriunda do processo de usucapião é tão somente título para registro e não título constitutivo do direito do usucapiente, buscando este, com a demanda, atribuir segurança jurídica e efeitos de coisa julgada com a declaração formal de sua condição”. Registro – Transcrição (art. 1.227, CC) Quando se realiza um contrato constitutivo de direitos reais sobre imóveis (compra e venda de uma casa), inicialmente deve-se fazer uma escritura pública. Mas a transmissão da propriedade do imóvel somente ocorre com o registro da transferência no registro de imóveis (transcrição). Uma vez realizado o registro, enquanto não for declarado judicialmente como inválido e cancelado, permanece o adquirente como dono do imóvel. Vale a partir da data da prenotação, ou seja, quando o título é apresentado ao oficial do Registro. Enquanto não houver o registro, o alienante continua como dono do imóvel (quem não registra não é dono). Por isso, logo que se compra um imóvel deve-se registrá-lo em seu nome impedindo que o vendedor o aliene, maliciosamente, uma segunda vez. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 24 A matrícula é o primeiro registro do título, individualizando o imóvel com um número que sempre o acompanhará. As alienações posteriores são registradas na mesma matrícula. O registro é o ato que efetivamente acarreta a transferência da propriedade. Já a averbação é a anotação feita à margem do registro, indicando as alterações ocorridas no imóvel. O efeito principal do registro do título é o constitutivo, pois sem ele o direito de propriedade não nasce. Os demais efeitos: obrigatoriedade, legalidade, publicidade, força probante e continuidade. O registro não é imutável. Caso não represente a verdade, poderá ser retificado ou até mesmo anulado a pedido do interessado. Como se admite prova em contrário, o registro do título aquisitivo possui apenas uma presunção relativa (juris tantum) de que aquele que tem o seu nome registrado como titular da propriedade é realmente seu proprietário. DIREITO HEREDITÁRIO Forma de transmissão derivada da propriedade que se dá causa mortis, em que o herdeiro (legítimo ou testamentário) ocupa o lugar do de cujus em todos os seus direitos e obrigações. Com a abertura da sucessão (morte do proprietário), a herança se transmite, de imediato, aos herdeiros. Estes são considerados, num primeiro momento, condôminos dos bens herdados. Realizado o inventário e a partilha é expedido o formal de partilha, a ser transcrito no registro de imóveis. Após isso cada herdeiro adquire a propriedade individual dos imóveis da herança. PERDA (enumeração exemplificativa – art. 1.275, CC) 1. Alienação – Transmissão voluntária do direito sobre a coisa para outra pessoa. Pode ser onerosa (compra e venda, troca ou permuta) ou gratuita (doação). É indispensável o registro do título. 2. Renúncia – Ato unilateral pelo qual o proprietário declara expressamente o intuito de abrir mão de seu direito sobre a coisa. Também necessita do registro (ex.: renúncia da herança). 3. Abandono – Ato unilateral em que o proprietário deixa a coisa com a intenção de não tê-la mais para si (res derelictae). Não precisa ser expresso. Abandonada, qualquer pessoa pode ocupá-la, adquirindo a propriedade por usucapião. 4. Perecimento – Perda do objeto. Extinto o objeto ocorre a extinção da propriedade (não há direito sem objeto). Pode se dar de forma natural (avanço irreversível do mar, terremoto) ou por força humana (incêndio provocado, destruição intencional). 5. Confisco – Cultura ilegal de plantas psicotrópicas (art. 243, CF: proprietário não será indenizado). 6. Usucapião – Se alguém ganha o direito de propriedade pela usucapião, outrem a perde. O simples não-uso não determina a perda da propriedade. 7. Requisição – Permite à autoridade competente o uso da propriedade particular até onde o interesse público o exigir, em caso de perigo iminente B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 25 (ex.: guerra). Será definitiva se recair sobre objeto de consumo (ex.: alimentos) e temporária quando se limitar a utilização e posterior restituição da coisa ao proprietário (veículos ou imóveis). Garante-se ao proprietário direito à indenização posterior, se houver dano. 8. Desapropriação – Procedimento pelo qual o Poder Público, por ato unilateral, despoja alguém de um bem, por necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, adquirindo-o mediante indenização prévia e justa, pagável em dinheiro ou, se o sujeito passivo concordar, em títulos da dívida pública (art. 5°, XXIV, CF/88). Ressalva-se à União o direito de desapropriar imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, para fins de reforma agrária. Com a desapropriação o bem perde a categoria de bem particular, passando ao domínio público, sujeitando-se, portanto, ao regime jurídico de direito público. • Necessidade pública: tem por principal característica uma situação de urgência, cuja melhor solução será a transferência de bens particulares para o domínio do Poder Público. • Utilidade pública: se traduz na transferência conveniente da propriedade privada para a Administração. Não há o caráter imprescindível nessa transferência, pois é apenas oportuna e vantajosa para o interesse coletivo. • Interesse social: é uma hipótese de transferência da propriedade que visa melhorar a vida em sociedade, na busca da redução das desigualdades (função social da propriedade). DA PROPRIEDADE MÓVEL Aquisição e perda Quando alguém adquire a propriedade mobiliária, outrem a perde. Assim, analisa-se a aquisição e a perda em um só momento. 1. Originário a) Ocupação (art. 1.263, CC) – Assenhoramento de coisa móvel (abrange os semoventes), ainda não apropriada (res nullius) ou abandonada (res derelictae). Espécies: • Ocupação propriamente dita tem por objeto seres vivos (caça ou pesca, obedecendoa legislação específica) ou coisas inanimadas. • Descoberta – Quem encontra coisa móvel perdida, não se torna proprietário. Deve restituí-la ao dono ou possuidor. Não o conhecendo deve entregá-la à autoridade competente. Apresentando-se o dono e comprovada a propriedade, o descobridor tem direito a recompensa, chamada achádego (não pode ser inferior a 5% do valor da coisa), acrescida das despesas com a conservação e transporte. O proprietário, ao invés de pagar a importância, pode abandonar a coisa e o descobridor pode adquirir a sua propriedade. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 26 • Tesouro – Depósito antigo de moedas ou outras coisas valiosas, enterrado ou oculto, de cujo dono não haja memória. Regras: - Pessoa encontra tesouro em imóvel de sua propriedade: o bem pertence somente a ela. - Pessoa acha tesouro em terreno alheio, onde intencionalmente o procurava sem permissão do proprietário: o bem pertence somente ao dono do terreno. - Pessoa acha tesouro casualmente em terreno alheio: divide-se o tesouro em partes iguais - metade para o dono do prédio e metade para quem o achou. b) Usucapião – O fundamento é o mesmo dos bens imóveis, exceto quanto aos prazos: • Extraordinária (art. 1.261, CC): basta a posse mansa, pacífica e contínua por 05 anos, mesmo que sem justo título ou boa-fé. • Ordinária (art. 1.260, CC): alguém possui a coisa como sua coisa com base na boa-fé e justo título durante 03 anos, de forma ininterrupta e sem oposição. 2. Derivada a) Tradição (art. 1.267, CC) – Entrega da coisa ao adquirente, com a intenção de lhe transferir o domínio. Espécies: • Real: entrega efetiva e material da coisa. • Simbólica: representada por atos que indicam a transmissão da posse (entrega das chaves do carro). • Consensual: - Traditio longa manu: a coisa é posta à disposição do adquirente, por ser impossível a entrega manual (máquinas de grande porte ou grande área de terra posta à disposição do comprador). - Traditio brevi manu: o adquirente já era o possuidor da coisa e se torna proprietário (locatário que compra o bem). ����Observação. As duas faces da moeda: a) na traditio brevi manu ocorre quando aquele que possuía em nome alheio passa a possuir em nome próprio; b) no constituto possessório (cláusula constituti) aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome alheio. b) Especificação (art. 1.269, CC) – Transformação de uma coisa móvel em espécie nova, pelo trabalho ou indústria do especificador, desde que não seja possível reduzi-la à sua forma primitiva (esculturas, lapidação de pedras preciosas). c) Confusão, comistão e adjunção (arts. 1.272 a 1.274, CC) – Coisas pertencentes a pessoas diversas se mesclam ou se misturam de forma a impossibilitar a separação. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 27 • Confusão: mistura entre coisas líquidas (água e vinho; álcool e gasolina). • Comistão: mistura de coisas sólidas ou secas (areia, cal e cimento; trigo e glúten). • Adjunção: justaposição de uma coisa a outra (tinta em relação à parede). Se a mistura não foi autorizada e for possível a separação sem deterioração, cada coisa continua a pertencer ao seu dono. Se a mistura foi involuntária e for impossível a separação (ou se exigir dispêndio excessivo), a coisa permanece indivisa, ocorrendo um condomínio necessário. Neste caso cada um dos donos terá quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura. Se uma das coisas puder ser considerada principal em relação às outras, o domínio da espécie nova será atribuído ao dono da principal, tendo este a obrigação de indenizar os demais. Se a mistura for promovida de má-fé a outra parte poderá optar por adquirir o todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida, ou então renunciar ao que lhe pertence, sendo indenizado. d) Sucessão hereditária – herança ou legado. PROPRIEDADE EM CONDOMÍNIO Em regra um bem pertence a uma pessoa. Mas o mesmo bem pode pertencer a mais de uma pessoa. Quando isso ocorre trata-se do condomínio. Genericamente podemos defini-lo como sendo a sujeição de uma coisa (divisível ou indivisível) à propriedade simultânea e concorrente de mais de uma pessoa (condôminos). A cada uma será atribuída uma parcela ou quota ideal da parte que lhe couber sobre o objeto comum. Sinônimos: copropriedade, compropriedade, indivisão, comunhão, etc. CLASSIFICAÇÃO 1. Quanto à origem a) Convencional (voluntário): resulta de acordo de vontades do concôminos. Duas pessoas adquirem um bem em conjunto, abrem uma conta bancária em conjunto, etc. b) Incidental (eventual): resulta de causas alheias à vontade dos condôminos. Pessoa doa ou faz testamento deixando um imóvel a dois irmãos. c) Necessário (forçado): deriva de imposição da lei. Meação de paredes, cercas, muros, etc. 2. Quanto ao objeto a) Universal: compreende a totalidade do bem, inclusive frutos e rendimentos. b) Particular: incide sobre uma coisa determinada. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 28 CONDOMÍNIO CONVENCIONAL (arts. 1.314 a 1.326, CC) 1. Regras gerais a) Cada condômino exerce o direito de propriedade sobre a coisa toda, delimitado por igual direito dos demais condôminos, na medida de suas quotas, pertencendo a todos a utilidade econômica da coisa. b) O direito de cada condômino ante terceiros abrange a totalidade dos poderes da propriedade. Um condômino pode mover ação de despejo contra o inquilino, mesmo na omissão ou declarada oposição dos demais. 2. Direitos dos condôminos a) Usar livremente a coisa conforme sua destinação e exercer os direitos compatíveis com a indivisão. b) Reivindicar a posse e defendê-la de terceiros. c) Vender a respectiva parte indivisa, respeitando o direito de preferência dos demais condôminos. A venda feita a um estranho com preterição da regra só será definitiva após o decurso do prazo decadencial de 180 dias (contado a partir do momento em que cada condômino teve conhecimento da venda). d) Hipotecar a parte indivisa. Não pode gravar o bem em sua totalidade sem a anuência dos demais comproprietários, mas pode dar em garantia real a parte de que dispõe. e) Requerer a divisão da coisa a qualquer tempo. 3. Deveres dos condôminos a) Concorrer, na proporção de sua quota, para as despesas de conservação ou divisão da coisa. b) Responder perante os outros condôminos pelos frutos percebidos e por dano que tenha causado. c) Suportar, proporcionalmente à sua quota, os ônus a que a coisa está sujeita. d) Não alterar a coisa sem o consentimento dos demais. 4. Administração Os condôminos podem usar a coisa comum pessoalmente. Se assim não desejaram, resolvem, pela maioria dos votos se ela será administrada ou alugada, escolhendo o administrador (que pode ser um estranho ao condomínio). Para que ocorra a venda basta a vontade de apenas um condômino. 5. Extinção – Divisão Há casos em que o condomínio perdura indefinidamente (condomínio forçado:
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