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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE HORAS. RENATO AURINO ESPINDOLA Biguaçu, junho de 2008 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE HORAS. RENATO AURINO ESPINDOLA Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Prof.ª. MSc. Patrícia Santos Biguaçu, junho de 2008 AGRADECIMENTO À Rafaella, Manuella e Maria Luiza, que iluminam nossas vidas desde que nasceram e que me mostram a cada dia, o quanto a vida é bela. Aos meus irmãos, Cristiane Espindola e Roberto Espindola, que apesar, da não convivência diária, os amo muito. Aos meus irmãos de coração César e Flávio, que tornaram os seis anos de faculdade, bem mais agradáveis de serem trilhados, sempre um apoiando o outro. A minha professora e orientadora, Patrícia Santos, pela dedicação e responsabilidade na orientação desta monografia. iii DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha mãe Nilta Santana Espindola, que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis de minha vida. Sempre sendo meu abrigo na tempestade, meu porto seguro ao meio de um mar revolto. iv TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. [Biguaçu, maio de 2008 Renato Aurino Espindola Graduando v PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Renato Aurino Espindola, sob o título FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE HORAS foi submetida em 20/06/08 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Patrícia Santos (presidente), Roberta Schneider Westphal (membro), Luiz César Silva Ferreira (membro). Biguaçu, junho de 2008 Prof.ª MSc. Patrícia Santos Orientador e Presidente da Banca Prof.ª MSc. Helena N. Paschoal Pítsica Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica vi GLOSSÁRIO Abúlico – adj. Sem vontade. Antifisiológico – Em desacordo com a fisiologia. Contrário às leis ou às regras fisiológicas. Fisiologia – Ciência que trata das funções orgânicas pelas quais a vida se manifesta. Carta Magna – Constituição da república federativa do Brasil. Convenção coletiva – Art. 611 CLT - são fontes por corresponder a um contrato normativo (natureza jurídica). Suas cláusulas têm a mesma força da lei. Ex: sindicato dos trabalhadores bancários x sindicato dos empregadores bancários. Nesta, teremos uma norma coletiva elaborada dentro do âmbito sindical. Do ponto de vista subjetivo, trata-se de uma norma que é estabelecida entre o sindicato dos trabalhadores e sindicato dos empregadores. Do ponto de vista do seu alcance, ela será aplicável no âmbito da categoria. Acordo coletivo – Art. 611, §1 CLT – são fontes por corresponder a um contrato normativo (natureza jurídica). Suas cláusulas têm a mesma força da lei. Ex: sindicato dos trabalhadores bancários x Banco do Brasil. Uma ou mais empresas, mas individualizadas. O empregador não está representado pelo sindicato. A norma passa a ser mais limitada. O alcance será aplicável apenas no âmbito da(s) empresa(s) que estejam negociando. Flexibilização – Ato ou efeito de flexibilizar. Flexibilizar – Tornar flexível. Globalização – Esta expressão designa um movimento complexo de abertura de fronteiras econômicas e de desregulamentação, que permite às atividades econômicas capitalistas estenderem seu campo de ação ao conjunto do planeta. Informática – É a ciência que ajuda a gerenciar as informações de determinado local ou usuário através de software e hardware. Intervalos compulsórios – Intervalos obrigatórios dentro da jornada de trabalho. A CLT impõe estes intervalos. São eles: - Interjornada: art.66 CLT Término do trabalho do dia até o início do trabalho do dia seguinte = 11 horas consecutivas. - Intrajornada: art.71 CLT É o repouso dentro da jornada de trabalho. Ex: repouso e alimentação. Intervalo de 15 min. quando a jornada for inferior a 6 horas e quando ultrapassar 4 horas. vii Quando de 6 a 8 horas de trabalho diário, terá o intervalo mínimo de 1 hora e não superior a 2 horas, salvo quando houver acordo coletivo. Interesse social – Interesse de toda uma coletividade. Irrenunciabilidade de direitos – Direitos que não podem ser renunciados; direitos cogentes. Amparados por princípios e normas. Mecanografia – Utilização de maquina de escrever, de calcular, duplicadores de assemelhados, para a execução de trabalhos de escritórios. Mensuração – Ato de medir ou mensurar. Determinar a medida; medir. Organização Internacional do Trabalho – A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência multilateral ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), especializada nas questões do trabalho. Tem representação paritária de governos dos 180 Estados-Membros e de organizações de empregadores e de trabalhadores. Com sede em Genebra, Suiça desde a data da fundação, a OIT tem uma rede de escritórios em todos os continentes. Organização Mundial do Comércio – A Organização Mundial do Comércio (OMC) é a Organização Internacional que supervisiona um grande número de acordos sobre as "regras do comércio" entre os seus Estados-membros. Foi criada em 1994, entrando em vigor no dia 1˚de janeiro de 1995, sob a forma de um secretariado para administrar o Acordo Geral de Tarifas e Comércio - (GATT) - Sigla em Inglês. Pressupostos lógicos e jurídicos – (...), visando a encontrar um procedimento racional de fundamentação que permita tanto especificar as condutas necessárias à realização dos valores por eles prestigiados, quanto justificar e controlar sua aplicação. Autor: ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios – da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 64. Rerum Novarum – Sobre a condição dos operários (em Latim Rerum Novarum significa "Das Coisas Novas") é uma encíclica escrita pelo Papa Leão XIII a 15 de maio de 1981. Era uma carta aberta a todos os Bispos, debatendo com as condições das classes trabalhadoras. Robotização – A robotização nas fábricas começou nas ultimas décadas do século XX, tendo o uso de computadores e robôs para a fabricação de vários produtos. O trabalho humano vem sendo substituído pelas maquinas cada vez mais bem desenvolvidas. Sobreaviso – Conforme a doutrina é aquele em que o trabalhador não deve se distanciar demasiadamente do local de trabalho, para que possa atender rapidamente as chamadas necessárias. Telemática – Conjunto de tecnologias da informação e da comunicação resultante da junção entre os recursos das telecomunicações (telefonia, satélite, cabo, fibras óticas etc.) e da informática (computadores, periféricos, softwares e sistemas de redes), que possibilitou o processamento, a compressão, o viii armazenamento e a comunicação de grandes quantidades de dados (nos formatos texto, imagem e som), em curto prazo de tempo, entre usuários localizados em qualquer ponto do Planeta. Tempo in itinere – (art.58, §2 CLT): é o tempoem que o empregado leva se deslocando, indo ou voltando ao local de trabalho no transporte do empregador se o local for de difícil acesso E não servido por serviço regular de transporte. Trade-unions – significa união de sindicatos do inglês para o português. Sindicato é a instituição utilizada para a organização dos trabalhadores na luta por seus direitos. O termo "sindicato" deriva do Latim syndicus, que é proveniente do Grego sundikós, com o significado do que assiste em juízo ou justiça comunitária. Na Lei Le Chapellier, de julho de 1791, o nome síndico era utilizado com o objetivo de se referir a pessoas que participavam de organizações até então consideradas clandestinas. ix ROL DE ABREVIATURAS OU DE SIGLAS DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil TST – Tribunal Superior do Trabalho TRT – Tribunal Regional do Trabalho OJ – Orientação Jurisprudencial DJ – Diário da Justiça SDI – Seção Especializada em Dissídios Individuais OIT – Organização Internacional do Trabalho OMC – Organização Mundial do Comércio MT – Ministério do Trabalho RO – Recurso Ordinário JCJ – Junta de Conciliação e Julgamento RR – Recurso de Revista MP – Ministério Público DOU – Diário Oficial da União CCB – Código Civil Brasileiro R - recurso ABC paulista – Santo André, São Bernardo do campo e São Caetano. FGTS – Fundo de Garantia por tempo de serviço Arts. – artigos ed. – edição x Inc. – inciso Incs. – incisos BEMAT – Banco do Estado do Mato Grosso (atualmente liquidado) DOESP – Diário Oficial do Estado de São Paulo ANAMATRA – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho CONAMAT – Congresso Nacional dos Magistrados do Trabalho n. – número p. – página Rel. – relator v. – volume SUMÁRIO RESUMO........................................................................................... IX ABSTRACT ........................................................................................ X INTRODUÇÃO ................................................................................. 11 CAPÍTULO 1 NOÇÕES DE JORNADA DE TRABALHO ....................................... 16 1.1 SÍNTESE HISTÓRICA MUNDIAL...................................................................16 1.2 SÍNTESE HISTÓRICA BRASILEIRA..............................................................18 1.3 FUNDAMENTOS DA LIMITAÇÃO DE TEMPO DE TRABALHO...................24 1.4 CONCEITO DE JORNADA DE TRABALHO..................................................25 1.5 DISTINÇÕES RELEVANTES ENTRE DURAÇÃO, JORNADA E HORÁRIO DE TRABALHO ....................................................................................................32 1.6 HORÁRIOS DE TRABALHO E INTERVALOS COMPULSÓRIOS ................34 1.7 DIFERENTES MODALIDADES DE JORNADAS DE TRABALHO................38 1.8 CLASSIFICAÇÃO (TIPOS) DE JORNADA DE TRABALHO .........................40 CAPÍTULO 2 A FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO ..................... 53 2.1 A FLEXIBILIZAZAÇÃO E A DESREGULAMENTAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS ..................................................................................................53 2.2 A FLEXIBILIZAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO FRENTE ÀS GARANTIAS MÍNIMAS DO TRABALHADOR E AS NECESSIDADES DAS EMPRESAS NOS TEMPOS ATUAIS...................................................................56 2.3 NOÇOES DE INDISPONIBILIDADE DE DIREITOS DO EMPREGADO........62 2.4 NATUREZA JURÍDICA DAS NORMAS RELATIVAS À JORNADA DE TRABALHO..........................................................................................................66 2.5 FLEXIBILIZAÇÃO E COMPENSAÇÃO: POSSIBILIDADES E LIMITES.......68 xii CAPÍTULO 3 BANCO DE HORAS......................................................................... 76 3.1 CONCEITO DE BANCO DE HORAS .............................................................76 3.2 PRESSUPOSTOS LÓGICOS E JURÍDICOS .................................................77 3.3 PREVISÃO LEGAL DO BANCO DE HORAS ...............................................79 3.4 DINÂMICA DO BANCO DE HORAS..............................................................81 3.5 OPORTUNIDADES PARA COMPENSAÇÃO................................................82 3.6 LIMITAÇÕES À APLICABILIDADE DO BANCO DE HORAS .......................85 3.7 REQUISITOS Á APLICABILIDADE DO BANCO DE HORAS .......................89 3.8 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO BANCO DE HORAS .......................95 3.9 A INCONSTITUCIONALIDADE DO BANCO DE HORAS..............................99 3.10 BANCO DE HORAS: ASPECTOS SOCIAIS..............................................102 CONCLUSÃO................................................................................. 106 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................ 111 ANEXOS......................................................................................... 120 ix RESUMO Na presente monografia, elegeu-se como tema, o estudo do instituto banco de horas. Trata-se de uma forma de compensação da jornada de trabalho, previsto na CRFB/88, em seu artigo 7º, XIII, e também, no artigo 59, parágrafo 2º da CLT, regulamentado pela Lei nº 9601 de 21 de janeiro de 1998, e posteriormente, modificada através da Medida Provisória nº 1709, publicada em 07 de agosto de 1998, e subsequentemente por inúmeras outras Medidas Provisórias. Baseando- se em pesquisas bibliográficas, procurou-se expor em três capítulos, a flexibilização da jornada de trabalho, com enfoque especial no banco de horas. No primeiro capitulo, objetivou-se a exposição histórica referente ao tema. No segundo capitulo, abordou-se de forma detalhada, a flexibilização da jornada de trabalho. Finalmente, no terceiro capitulo, buscou-se demonstrar minuciosamente, o instituto banco de horas, sua aplicabilidade, previsão legal, vantagens e desvantagens, os aspectos sociais, os reflexos na vida do trabalhador e a sua constitucionalidade. Palavras-chave: flexibilização; jornada de trabalho; banco de horas. x ABSTRACT In this research, it was elected as the theme, the study of the bank of hour’s institute. This is a form of compensation from the day's work, set out in CRFB/88, in its Article 7, XIII, and also, in Article 59, paragraph 2 of CLT, regulated by Law No. 9601 of January 21, 1998, and subsequently modified by the Provisional Measure No 1709, published on 07 August 1998, and subsequently by many other Provisional Measures. Based on research literature, sought to expose in three chapters, the relaxation from the day's work, with special focus on the bank of hours. At the first chapter, aimed at the exhibition for the historical theme. At the second chapter, its addressed in detail, the relaxation of the day's work. Finally, the third chapter, tryed to show detail, the bank of hour’s institute, its applicability, legal forecast, advantages and disadvantages, the social aspects, the reflections on the life of the worker and its constitutionality. Keywords: flexibility; day of work; bank of hours. INTRODUÇÃO Com a inserção do trabalho assalariado, pela Revolução Industrial no fim do século XVIII, estabelece-se a “jornada de trabalho”. Esta passa a ser objeto de discussão, por meio de vários ramos da ciência como, a sociologiae a economia (entre outros), envolvendo classes patronais e trabalhadoras. Com o escopo de frear a selvageria de mercado e impedir a excessiva exploração do trabalhador, o Estado passa a intervir elaborando leis, estas reguladoras das relações de trabalho. A polêmica inicia-se com a duração diária do trabalho, sendo, esta, em excesso, implicaria na diminuição da qualidade de vida do trabalhador, influindo diretamente na sua saúde, consequentemente na sua capacidade de produção, fato este que não seria vantajoso tanto para o empregado quanto para o empregador. Com a conseqüente exploração excessiva, mundial, da duração da jornada de trabalho, aconteceu a primeira Conferência da OIT, realizada em Washington de 29 de outubro de 1919 a 27 de janeiro de 1920, com o objetivo dirimir a questão da exploração do excesso laboral. A partir daí acentuaram-se, grandes revoluções, em âmbito mundial a cerca do tema, inclusive no Brasil. No Brasil, a primeira grande greve pela redução da jornada ocorreu em 1907, e atingiu trabalhadores de São Paulo, Campinas, Santos, Ribeirão Preto e Rio de Janeiro. Uma grande conquista foi atingida, as jornadas que até então estendiam-se até 15 horas por dia, foram reduzidas para dez, e em algumas conquistas foram reduzidas para oito horas. Um grande marco histórico foi plantado. Muitas transformações ocorreram desde então, entre outras, o surgimento do Ministério do Trabalho, da CLT e dos sindicatos. Até que em 1988, foi promulgada a atual Constituição do Brasil, então a jornada legal foi reduzida para 44 horas semanais. As horas extras continuam sendo permitidas e consequentemente a supressão de novos postos de trabalho. 12 Porém, um grande evento mundial, pesponta a partir da década de 80, que veio por, ocasionar, grandes revoluções no Direito do Trabalho. Observa-se que o mundo passa por um processo de evolução, em conseqüência do grande avanço tecnológico nos meios de produção como a informática, telemática e a robotização, somado a globalização que vem deixando suas conseqüências na sociedade. Diante de tal transformação, surge a necessidade de adaptação das normas trabalhistas, reportando a flexibilização do Direito do Trabalho. Instala-se uma crise mundial gerando a desestabilidade no mercado de trabalho e consequentemente desemprego mundial. Muitas nações primaram por investimentos tecnológicos para incrementar a qualidade e a quantidade de sua produção industrial, outras desprovidas de recursos financeiros passaram por explorar desordenadamente a força laboral. Nas duas situações supracitadas, ocorreram desempregos em massa. A produção passou a oscilar. Períodos de baixa de produção ocorriam durante o ano. Diante deste quadro mundial, surge a necessidade de novos rumos a serem tomados, estes precursores de transformação constantes no Direito do Trabalho, que até nos dias atuais não cessaram e jamais cessarão. Na tentativa de solucionar a questão da associação do capital e do trabalho, urge a necessidade da flexibilização das normas trabalhistas, sem extinguir as regras mínimas à tutela do empregado que tanto foi objeto de luta na história das conquistas sociais. Este é o escopo principal da flexibilização das normas trabalhistas, ao mesmo tempo em que visa resolver o problema do capital e trabalho, preocupa-se a assegurar um conjunto de regras mínimas ao trabalhador, concatenado com a sobrevivência da empresa nos períodos de oscilação econômica. 13 Diante desse quadro critico, considera-se que, o bem maior da relação empregado empregador, passa a ser, a manutenção do emprego, daí a necessidade da flexibilização das normas trabalhistas, em tela, a jornada de trabalho. Os sindicatos passam a atuar na proporção da flexibilização, como fiscais. O Brasil teve que se adequar às referidas transformações. A Constituição de 1988 primou pela autonomia privada coletiva (sindicatos), para atuar como “Maestros” na maleabilidade das normas trabalhistas. A fim de solucionar a questão referente à flexibilização da jornada de trabalho, surge, então, a Lei n. 9.601/98, regulamentada pelo Decreto nº 2.490/98, instituindo o então, polêmico banco de horas. Trata-se de um mecanismo recente, introduzido na legislação trabalhista, porém, o mesmo, divide a opinião da doutrina, em razão da dúvida de ser a compensação das horas extraordinárias com as horas de descanso ser vantajoso tanto para o empregador quanto para o empregado. O descanso do trabalhador é fundamental, não só para o seu bom desempenho profissional, mas também para sua vida social no convívio com sua família na harmonia de seu lar. De que adianta um documento em que o empregado renuncia seu descanso merecido ou suas horas extras em troca de uma liberalidade patronal que o dispensou, após uma longa jornada de trabalho, no dia seguinte? De tal situação surgem vários questionamentos, tais como: a quem interessa o banco de horas; qual sua verdadeira fundamentação jurídica; quais são suas conseqüências na vida social do trabalhador; quais as vantagens que o trabalhador terá com a adoção de tal mecanismo, visto que ele não se beneficiara com os respectivos adicionais legais pelas horas extraordinárias trabalhadas; e as controvérsias incitadas pela doutrina e jurisprudência: banco de horas, acordo individual ou coletivo? Uma outra questão que surge referente ao tema, é se a compensação de jornada por meio do banco de horas seja realmente a solução para o desemprego, ou se do contrario faz aumentar este. Diante dessa discussão, esta monografia tem como objeto a análise dos aspectos legais e sociais que embasam o banco de horas. 14 O seu objetivo é expor o conceito do banco de horas, as limitações de sua aplicabilidade, sua previsão legal, sua dinâmica e o aspecto social de sua adoção. A justificativa está ligada à proteção do trabalhador, o qual encontra amparo no art. 7º da CRFB/88. Daí por que será nulo o ato que obstar os direitos cogentes do trabalhador. Assim sendo, há de ser analisado nesta monografia, a constitucionalidade do banco de horas. A lei supracitada, por meio do banco de horas, regula a compensação de jornadas, no aumento da mesma, até o limite de dez horas por dia, em determinados dias da semana para redução ou supressão da mesma em outro, ou outros dias, num período máximo de um ano. O banco de horas é o objeto principal desta monografia, assim sendo, o transcorrer da mesma se fará da seguinte forma: No primeiro capítulo será abordada a jornada de trabalho, sua origem no contexto mundial e nacional, os fundamentos de limitação, conceito, tipos, modalidades e classificação. No segundo capítulo será exposto a flexibilização do direito do trabalho, dando ênfase a obrigação de se manter as garantias mínimas do trabalhador. Também será abordado a necessidade das empresas, principalmente nos tempos atuais, pela flexibilização das normas trabalhistas, primordialmente, no que se refere, a jornada de trabalho, bem como o instituto de compensação da mesma. E finalizando, o terceiro capítulo se aterá, minuciosamente, no instituto banco de horas, neste procurar-se á responder a temática levantada neste presente estudo, evidenciando seus pressupostos, conceito, natureza, limitações, requisitos, previsão legal, sua dinâmica e por fim as vantagens e desvantagens de sua aplicação num contexto social. A pesquisa encerra-se com as considerações finais, nestas, serão expostos aspectos conclusivos, deixando em aberto o fato da continuação das transformações no Direito do Trabalho, por meio da flexibilização das normas trabalhistas, tendo como referente o banco de horas. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação, foi utilizado o MétodoDedutivo. Os resultados expostos nesta monografia são compostos na base lógica Dedutiva. 15 Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. 16 CAPÍTULO 1 NOCÕES DE JORNADA DO TRABALHO Será abordada, neste primeiro capítulo, a jornada de trabalho, sua origem no contexto mundial e nacional, os fundamentos de limitação, conceito, tipos, modalidades e classificação das jornadas de trabalho. SÍNTESE HISTÓRICA MUNDIAL Na Europa, até meados de 1800, a jornada de trabalho era estabelecida entre 12 e 16 horas, inclusive a jornada destinada às mulheres e crianças. Diante deste quadro abusivo, então considerado pelos trabalhadores da época, era comum surgirem movimentos operários reivindicatórios visando à diminuição da jornada de trabalho. 1 Os trabalhadores, sem a intervenção do estado nas questões relacionadas aos problemas do trabalho, eram submetidos a uma jornada de trabalho excessiva. No auge da Revolução Industrial, existia uma oferta, em excesso, de mão de obra por parte das pessoas que deixavam os campos e se dirigiam aos grandes centros em busca de trabalho. Situação esta, que acentuou a revoltante e desumana exploração dos trabalhadores (homens, mulheres e crianças), daí o surgimento, crescente, de insatisfeitos. 2 Foi em meados do século XIX, diante da evidente exploração do trabalho humano, os trabalhadores perceberam a necessidade de criarem uniões e sindicatos para defesa de seus próprios interesses.3 Em 1830, na Inglaterra, as então chamadas trade-unions4, partem para luta, organizando movimentos operários, em prol da fixação do dia 1 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. ver. e atual. São Paulo: Dialética, 2005. p. 190. 2 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. atual. e rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2007. p.130. 3 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. 21. ed. atual. São Paulo: LTr, 2003. p. 795. 17 de trabalho em oito horas. Somente em 1847 o Parlamento Inglês aprovou a primeira Lei impondo o limite máximo de dez horas de jornada de trabalho. 5 Cabe mencionar um breve histórico, referente ao dia internacional da mulher (8 de março), por se tratar de material indispensável à referente pesquisa: Nesse dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como Dia Internacional da Mulher.6 Outro fato importantíssimo para nossa pesquisa, refere-se ao surgimento do dia mundial comemorativo ao trabalho (1º de maio). Senão vejamos: A origem da comemoração do Dia do Trabalhador em 1º de maio: manifestações, nos Estados Unidos, em 1886, que pleiteavam a redução da jornada de 16 para 8 horas terminaram com seis trabalhadores mortos, oito presos e cinco deles condenados posteriormente à forca. Quatro anos depois, o Congresso Norte Americano determinou a redução da jornada para 8 horas diárias.7 4 Os trade unions eram associações de trabalhadores, surgidas no início do século XIX. Essas associações organizavam greves e movimentos, reivindicando as propostas trabalhistas. Em 1821, o governo inglês reconheceu estas associações como entidade útil de auxílio aos trabalhadores. Somente no final do século XIX, foram reconhecidas como órgãos representativos de classe, surgindo logo após o Partido Trabalhista. Autor: BRAICK, Patrícia. Socialismo e os movimentos sociais do século XIX. Disponível em: http://www.casadehistoria.com.br/cont_17-01.htm . Acesso em: 23 de abril de 2008. 5 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. 21. ed. atual. São Paulo: LTr, 2003. p. 795. 6 TAVARES, Amílcar. Porque dia 8 de março Dia internacional da mulher. Vozdipovo- online.com 2006. Disponível em: http://www.vozdipovo-online.com/conteudos . Acesso em: 25 de abril de 2008. 7 Redução da Jornada de Trabalho: Um pouco da história. CUT. Ceará: 2004. Disponível em: http://www.cutceara.org.br . Acesso em: 25 de abril de 2008. 18 O Vaticano, também referindo-se à exploração do trabalho humano, manifestou-se na pessoa do então Papa Leão XIII, que, publicou em 1891 a Encíclica “Rerum Novarum”8 a qual influenciou, significativamente, não apenas os trabalhadores, mas, governantes e legisladores. 9 Foi somente após a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), que nações passaram a adotar a jornada diária de oito horas. A OIT (Organização Internacional do Trabalho), em sua primeira reunião, realizada em Washington de 29 de outubro de 1919 a 27 de janeiro de 1920, consagrou a jornada de trabalho em oito horas diárias, com algumas exceções. 10 Com o encerrando da Segunda Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes11 adotou a jornada trabalho de oito horas e quarenta e oito semanais, proclamando não ser o trabalho humano mercadoria ou artigo de comércio.12 1.2 SÍNTESE HISTÓRICA BRASILEIRA Desde o descobrimento do Brasil, os navegadores que aqui aportaram, impuseram aos índios que aqui viviam, o regime da 8 Encíclica “Rerum Novarum”: “Não é justo nem humano o exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo. A atividade do homem é limitada como a sua natureza. O exercício e o uso aperfeiçoam-na, mas é preciso que de quando em vez se suspenda para dar lugar ao repouso... Não deve, portanto, o trabalho prolongar-se por mais tempo de que as forças o permitem”. 9 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 804. 10 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.130. 11 O Tratado de Versalhes – Constituição da OIT – 1919 – Já no inicio de 1919, terminada a guerra foi nomeada a 25 de janeiro a Conferência preliminar da paz, composta de quinze membros, entre os quais se encontravam defensores do acesso dos trabalhadores à mesa de negociações. (...). Depois de 35 sessões, a comissão deu por acabado o seu projeto de paz em 11 e 27 de abril, com pequenas modificações, inserindo-o nos diversos tratados que encerraram a guerra (...). Assim, pelo Tratado de Versalhes, o mais importante de todos, de 28 de junho de 1919, constituiu-se a OIT. Autores: MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 9. ed. . São Paulo: LTr, 2003. p.220. 12 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim - Curso de Direito Constitucional do Trabalho. vol. 1 . São Paulo: Ltr, 1991. 19 escravidão, que posteriormente, não suficiente tal força laboral, passaram a escravizar os negros que eram trazidos da áfrica. Perdurou durante séculos essa situação, que desde seus primórdios jamais deixou de ser combatidas por seus descontentes. Emboraa abolição da escravatura ter acontecido há mais de cem anos, é impossível ainda hoje, encontrarmos situações de escravidão em nosso pais13. No sistema de trabalho escravo a jornada de trabalho era estabelecida pela resistência de força do escravo. Trabalhava-se o que o corpo permitia. Mais adiante, nos primórdios do processo de industrialização no Brasil (final do século XIX e início do século XX) com a instalação das primeiras fábricas, as jornadas de trabalho se estenderam, permitindo que fossem comuns situações em que atingissem 12 a 15 horas diárias. Estas jornadas, abusivas, podiam ser fixadas, reduzidas ou ampliadas de acordo com a necessidade ditada pelo empregador. 14 “O homem é um lobo para o homem”15, observou TOMÁS HOBBES, ao reconhecer que a natureza humana sempre procura explorar ou devorar, numa linguagem figurada, o próximo, para designar a opressão que os mais fortes exercem sobre os mais fracos. Em 1907, ocorre a primeira grande greve geral, tendo como principal reivindicação a redução da jornada para 8 horas por dia. Essa greve colocou o movimento sindical brasileiro próximo às reivindicações dos trabalhadores dos países desenvolvidos da Europa e Estados Unidos.16 A paralisação, iniciada em São Paulo, irradiou-se por algumas grandes cidades do interior paulista, como Santos, Ribeirão Preto e 13 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1991. p. 29. 14 Conjuntura – Boletim DIEESE – agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 9 de janeiro de 2008. 15 Homo homini lupus (O homem é um lobo para o homem). — Thomas Hobbes, referindo-se à ferocidade manifestada de um indivíduo para outro, disse que — "o homem é o lobo do próprio homem”. Embora o pensamento tenha provido de um filósofo inglês, no século XVII (Plauto - Asinaria, II, 4, 88), é tragicamente verdadeiro o que disse. Atualizadíssimo para os nossos dias. Disponível em: http://www.ieja.org . Acesso em: 25 de abril de 2008. 16 Conjuntura. Boletim DIEESE. Agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 8 de janeiro de 2008. 20 Campinas, atingindo também o Rio de Janeiro. Houve adesão das principais categorias profissionais da época: chapeleiros, pedreiros, metalúrgicos, gráficos, carvoeiros, sapateiros, carpinteiros, costureiros, marceneiros, empregados no serviço de limpeza pública e trabalhadores nas indústrias têxteis e de alimentação.17 A greve foi parcialmente bem-sucedida, obtendo maior sucesso nas pequenas empresas, onde os trabalhadores conquistaram a redução de jornada de trabalho diária para cerca de 10 horas, sendo que, em algumas delas, foram conquistadas a redução para 8 horas. 18 Gomes e Gottschalk19 melhor descrevem essa situação: A história do movimento operário é uma lição de sociologia que nos fornece a precisa idéia de um grupo social oprimido. O envilecimento20 da taxa salarial, e o prolongamento da jornada de trabalho, o livre jogo da oferta e da procura, o trabalho do menor de seis, oito e dez anos, em longas jornadas, e o da mulher em idênticas condições criaram aquele estado de détresse sociale de que nos fala Duran, no qual as condições de vida social uniformizaram no mais ínfimo nível. Referindo-se ao tema assim manifestou-se Dal Rosso21: A corrente rompeu por um elo mais fraco, uma vez que o movimento sindical operário era muito mais forte nas regiões mais industrializadas do país, como São Paulo e Rio de Janeiro. Com a vitória da Revolução de 1930, o então presidente Getúlio Vargas22 em 1932 assinou os Decretos ns. 21.186 e 21.364, que 17 Conjuntura. Boletim DIEESE. Agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 8 de janeiro de 2008. 18 Conjuntura. Boletim DIEESE. Agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 8 de janeiro de 2008. 19 GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Élson. Curso de Direito do Trabalho. 4. ed.. Rio de Janeiro: Forense. p. 120. 20 Envilecimento: s. m. estado de uma pessoa, de uma coisa envilecida; aviltamento, vileza, degradação. Workpédia: Dicionário Online da Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.workpedia.com.br/90433/envilecimento.html. Acesso em 9 de janeiro de 2008. 21 DAL ROSSO, Sadi - A jornada de trabalho na sociedade: o castigo de Prometeu. São Paulo: LTr, 1996. p.125. 21 dispuseram sobre a duração do trabalho no comércio e na indústria, bem como, no mesmo ano, assinou outro Decreto (n. 22.033) o qual melhorou o regime referente aos comerciários. 23 Antes de 1930 o Decreto n. 313, de 17.1.1891, limitava a jornada de trabalho diária em nove horas de menor masculino e sete horas menor feminino, tal Lei restringia sua aplicação somente no Distrito Federal. 24 O governo de Getúlio Vargas Adotou, portanto, a jornada de oito horas diárias, com possibilidade de ser estendida para dez horas diárias, mediante acordo entre empregados e empregadores, com respectivo pagamento das referidas horas-extras, com um adicional sobre o salário-hora. No entanto nas atividades insalubres e trabalhos subterrâneos, a jornada limitava-se a oito horas diárias sem a possibilidade de se estender a dez horas. Com tudo, durante a jornada, era obrigatório intervalo para refeição e repouso.25 Com isso, Getúlio Vargas, ao tomar o poder em 1930, uma das suas primeiras providências foi criar, em 26 de novembro de 1.930, o Ministério do Trabalho, da Indústria e Comércio, chamado de “Ministério da Revolução”26, com a finalidade de regulamentar as relações entre o capital e o trabalho, surgindo, a partir daí, a regulamentação do Direito do Trabalho.27 22 Getúlio Dornelles Vargas (19/4/1882 - 24/8/1954) foi o presidente que mais tempo governou o Brasil, durante dois mandatos. De origem gaúcha (nasceu na cidade de São Borja), Vargas foi presidente do Brasil entre os anos de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Entre 1937 e 1945 instalou a fase de ditadura, o chamado Estado Novo. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/vargas . Acesso em: 25 de abril de 2008. 23 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. Juíza Dayse Vasques. 1998. Disponível em: http://doe.trt24.gov.br. acesso em 25 de abril de 2008. 24 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 798. 25 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. Juíza Dayse Vasques. 1998. Disponível em: http://doe.trt24.gov.br. acesso em 25 de abril de 2008. 26 O "ministério da revolução" que tinha a missão de organizar o mercado de trabalho para a expansão da indústria e comércio e ao mesmo tempo reprimir, controlar e cooptar o movimento sindical. Autor: Marco Antonio de Oliveira – Antigo Secretário-adjunto de Relações do Trabalho. Disponível em: http://www.trabalho.gov.br . Acesso em 9 de janeiro de 2008. 27 PETELINKAR, Lino Faria. A limitação da jornada do trabalho. Disponível em: http://www.revistapersona.com.ar/lino.htm. Acesso em 9 de janeiro de 2008. 22 Após, a referida Revolução de 1930, o perfil das classes dominantes foi profundamente alterado. O Estado toma o controle, passando a regulamentar, por meio de vários decretos, a jornada de trabalho, estabelecendo para algumas categorias jornadas de 8 horas diárias e 48 horas semanais. Para outras, as jornadas fixadas foram inferiores, caso dos bancários e dos trabalhadores nos serviços de telegrafia, paraos quais se estabeleceu uma jornada de 6 horas diárias e 36 horas semanais. 28 No período que compreendeu a vigência da Constituição de 1934 promulgou-se apenas, a Lei n. 264, de 5.10.36, que dispunha sobre a duração do trabalho dos servidores públicos, ao passo que também neste período, o Executivo, expediu o Decreto n. 279, de 7.8.35, o qual regulava a jornada de trabalho no serviço ferroviário. 29 No entanto, na Constituição de 1937, por meio do Decreto-Lei n. 910, de 30.11.38, fixou-se a jornada de cinco horas diárias para a classe dos jornalistas. Também nesse período, cuidou-se da classe dos professores, que por meio do Decreto n.2.028, de 22.02.40, fixou-se o limite de seis aulas por dia a jornada do profissional do magistério num mesmo estabelecimento.30 Diante do número, desordenado e esparso, de leis trabalhistas específicas, uma para cada determinado seguimento, promulgou- se o Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943 que aprovava a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). 31 Trata-se de uma Consolidação que não só reuniu, sistematicamente, as leis trabalhistas da época que até então se encontravam de forma esparsas, contudo fazendo alterações em alguns pontos. Tal feito fez- se possível, pois na época vigia a Constituição de 1937, (mantendo o mesmo 28 Conjuntura. Boletim DIEESE. Agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 8 de janeiro de 2008. 29 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 798. 30 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 798. 31 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.17. 23 seguimento da Constituição de 1934), esta autorizava o poder Executivo a expedir Decretos-Leis, enquanto não se instalava o Congresso Nacional.32 Com o advento da Carta Magna de 1988, fixou-se o limite de oito horas para uma jornada de trabalho normal, perfazendo quarenta e quatro a jornada semanal, não fazendo distinção entre o trabalhador rural ou urbano, todavia, exclui os empregados domésticos, facultando a compensação de jornada ou a redução pela via da convenção ou acordo coletivo. Da mesma forma fixou-se o limite de seis horas para a jornada de trabalho, referentes a turnos ininterruptos de revezamento, porém deixou oportunidade para negociações coletivas.33 Assim dispõe o artigo 7º, XIII da CRFB/88: Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada mediante acordo ou convença coletiva de trabalho.34 Sobre o tema, esclarece Süssekind35: Obviamente, esses limites poderão ser reduzidos por lei (para atividades profissionais que justifiquem), convenção ou acordos coletivos, regulamento de empresa ou contrato de trabalho. Mas também poderá ter flexibilidade sua aplicação em determinadas hipóteses, pelos instrumentos da negociação coletiva. Na eventual contradição ou incompatibilidade entre norma sou clausulas, prevalecera a mais favorável ao trabalhador.Vale lembrar, que além dos domésticos, os gerentes também são excluídos da jornada a que dispõe a praxe (oito horas diárias e quarenta e quatro semanais), pois, estes devem ser entendidos como aqueles que exercem cargo de confiança, por conseguinte percebem remuneração superior 32 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.17. 33 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. ver. e atual.. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 455-456. 34 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.. Art. 7, inciso XIII. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de abril de 2008. 35 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 456. 24 a 40% sobre seus subordinados. Excluem-se, inclusive os trabalhadores externos. 36 Dispõe o inciso XIV, também, do artigo 7º da CRFB/88: Jornada de seis horas para trabalhos realizados em turnos ininterruptos e de revezamento, salvo negociação coletiva.37 Com relação à profissão também é distinta a jornada de trabalho; por exemplo, o bancário tem jornada de seis horas.38 1.3 FUNDAMENTOS DA LIMITAÇÃO DE TEMPO DE TRABALHO A duração do trabalho possui limites que são observados por fatores de ordem fisiológica, social e econômica. Assim fulcrado nesses limites o Estado passa a intervir na questão trabalhista, a fim de legitimar a limitação do tempo de trabalho efetuado a cada dia, pelo trabalhador. 39 A fisiologia demonstra que o organismo humano quando em atividade, consome energias, sendo necessário, portanto, a reposição de tais energias para que ele não seja acometido de fadiga e posteriormente adoeça.40 A limitação do tempo de trabalho visa proporcionar, inclusive, condições de vida digna, também pelo direito ao lazer, ao descanso e repouso, que são direitos sociais fundamentais. Embora o trabalho seja o organizador da vida social, contudo a vida não se reduz apenas ao trabalho.41 O fator social justifica a limitação da jornada de trabalho, pela necessidade, que tem o trabalhador, de dispor de tempo para cuidar de 36 ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito e processo do trabalho. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 81. 37 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 7, inciso XIV. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de abril de 2008. 38 ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito e processo do trabalho. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 81. 39 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.130. 40 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.130. 41 MÃNHAS, Christian Marcello. O direito social ao lazer. Paraná 2008. Disponível em: http://www.machadoadvogados.com.br. Acesso em: 26 de abril de 2008. 25 seus direitos e deveres perante sua família e da sociedade como um todo. O trabalhador tem o direito de cuidar da sua formação cultural para que vislumbre-se estilo digno de vida, daí a necessidade da limitação condizente, da jornada de trabalho.42 O fator econômico justifica-se por dois aspectos, de um lado a empresa que se beneficia da maior capacidade de produção daquele empregado que teve a oportunidade de repousar o suficiente para recompor suas forças; o outro aspecto, é o aumento da oferta de novos postos de trabalhos dispostos no mercado, oriundos da limitação da jornada de trabalho.43 Cabe aqui, transcrever os ensinamentos de Robortella44: O homem fatigado, destruído pelo trabalho excessivo, é um ser abúlico, destituído de vontade, incapaz para o exercício concreto da cidadania O trabalhador não deve ser submetido a longas jornadas de trabalho, a ponto de lhe prejudicar a saúde. Tal resultado, em nada é útil às empresas, pois com a sucessão de horas, a produtividade do trabalhador em muito é reduzida.45 1.4 CONCEITO DE JORNADA DE TRABALHO A origem da expressão jornada de trabalho, bem lembra Martins46: “o vocábulo giornata, em italiano significa dia. Em francês usa-se a expressão jour, dia; journee quer dizer jornada. Jornada significa o que é diário”. 42 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.130. 43 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 795. 44 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim - Curso de Direito Constitucionaldo Trabalho, vol. 1 / Coordenação Arion Sayão Romita – São Paulo : Ltr, 1991. p. 181-197. 45 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.132. 46 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 343. 26 Godinho47 conceitua jornada de trabalho da seguinte forma: Jornada de trabalho é o lapso temporal diário em que o empregado se coloca à disposição do empregador em virtude do respectivo contrato. E é desse modo, a medida principal do tempo diário de disponibilidade do obreiro em face de seu empregador como resultado do cumprimento do contrato de trabalho que os vincula. Por sua vez, Nascimento48 chama a atenção para a existência de três teorias que conceituam jornada diária de trabalho, senão vejamos: Teoria da jornada diária de trabalho (tempo efetivamente trabalhado); Teoria da jornada diária (tempo à disposição do empregador no centro de trabalho); Teoria da jornada (tempo á disposição do empregador no centro do trabalho ou fora dele). Martins49, também, defende a necessidade dos três prismas supracitados para a possibilidade de conceituar jornada de trabalho, referindo-se a teoria do tempo efetivamente trabalhado como sendo o tempo em que o empregado efetivamente presta serviço ao empregador; quanto à teoria em que o empregado encontra-se a disposição do trabalhador refere-se ao tempo em que o empregado chega à empresa até o momento em que dela se retira; e por último a teoria em que o empregado encontra-se a disposição do empregador no centro do trabalho ou fora dele (tempo “in itinere”), esta que considera como jornada de trabalho desde o momento que o empregado sai de sua residência, em direção ao trabalho, até o tempo em que ela leva para chegar a mesma. 47 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. São Paulo: LTr, 2006. p.830. 48 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed.. São Paulo: Ltr, 2006. p. 167. 49 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. p. 191-192. 27 Ainda segundo Martins,50 a legislação brasileira atualmente admite um sistema híbrido das teorias supracitadas, para identificar a jornada de trabalho. O sistema híbrido, do qual menciona Martins51, refere-se à adoção das duas teorias das quais sejam: o tempo in itinere, que leva em conta, para a contagem da jornada, o tempo gasto no deslocamento do empregado até o local do serviço. Contudo, convém mencionar que: não pode ser adotada em todos os casos, mas, somente nas circunstâncias de não haver transporte público regular para o local de trabalho ou se o mesmo estiver em local de difícil acesso, desde que o empregador forneça a condução. E a teoria do tempo à disposição do empregador, a qual, computa o tempo desde a chegada do trabalhador à empresa até o momento em que dela sai, incluindo as paralisações para descanso, almoço etc. Nesse sentido assim estabelece o artigo 4º da CLT, que diz: Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada.52 Para melhor entender o significado exato do termo “in itinere”, Nascimento53, conceitua o termo como sendo o tempo que o empregado gasta no trajeto de casa para o serviço ou vice-versa. 50 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. p. 192. 51 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 14ª edição; São Paulo: Atlas, 2001. p. 439. 52 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 4º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 22 de abril de 2008. 53 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed. p. 168. 28 Persiste a polêmica no Direito do Trabalho, a cerca da inclusão do tempo “in itinere”, na inclusão no tempo remuneratório, com tudo, a Súmula n. 9054, do TST, assim já definiu: I – O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de difícil acesso ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de trabalho. II – A incompatibilidade entre os horários de inicio e termino da jornada do empregado e o do transporte público regular é circunstância que também gera o direito ás horas in itinere. III – A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento das horas in itinere. IV – Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas in itinere remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público. V – Considerando que as horas in itinere são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo. O artigo 58 da CLT, em seu parágrafo 2º, com o advento da Lei 10.243/200155, sofreu modificação, confirmando o entendimento da Súmula n. 90/TST, que assim passou a dizer: O tempo despendido pelo empregado até seu local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por transporte publico, o empregador fornecer a condução.56 54 Disponível no site: http://www.trt02.gov.br/geral/tribunal2/tst/Sumulas.htm. Acesso no dia: 04/02/2008. 55TRT – Súmulas. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/LEIS_2001/L10243.htm. Acesso em: 20 de abril de 2008. 56 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 58, parágrafo 2º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 19 de abril de 2008. 29 Süssekind57 menciona uma outra modalidade que caracteriza a jornada de trabalho: o “sobreaviso”, que assim conceitua: Empregado de sobreaviso é aquele que permanece em local ajustado com o seu empregador para eventuais convocações, visando à execução de determinados serviços. (...) o sobreaviso se configurara se em virtude de ajuste com o empregador, obrigar-se o empregado a permanecer em determinado local, a fim de atender rapidamente a eventual convocação para o trabalho. O regime de sobreaviso foi previsto pela CLT apenas para os ferroviários (parágrafo 2º do art. 24458). Porém, o tempo de sobreaviso, foi estendido, por analogia, á categorias que vivenciam circunstâncias laborais semelhantes. 59 É o que decorre do texto da Súmula 229, do TST: Por aplicação analógica do art. 244, parágrafo 2º, da CLT, as horas de sobreaviso dos eletricitários são remuneradas à base de 1/3 sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial. 60 Contudo, hodiernamente, a jurisprudência consagrou a aplicação do regime do sobreaviso, por analogia em outras atividades, não só as citadas alhures, mas que justifiquem a sua aplicação61. Ou seja, situações em que o empregado seja efetivo e que o mesmo permaneça em sua própria casa , aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço.62 57 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 809. 58 Art. 244, parágrafo 2º da CLT – Considera-se de “sobreaviso” o empregado efetivo, que permanecer em sua própria casa, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço. 59 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.843 -844. 60 Disponível em: http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0211a0240.htm.Acesso em: 1 de fevereiro de 2008. 61 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 809. 62 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p. 330. 30 Referente ao tema, cita-se o entendimento de Souza63: O regime de remuneração de horas do sobreaviso previsto para os ferroviários na CLT (art. 244, § 2º) só pode ser estendido a outras categorias, por analogia, se o empregado 'permanecer em sua própria casa, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço', como exigido na norma especifica. Ainda, nos esclarece Oliveira64 O sobreaviso caracteriza-se pela permanência do empregado em casa, aguardando o chamamento para o serviço. O estado de sobreaviso tolhe a liberdade de locomoção do empregado, que deverá manter-se dentro de determinado raio de ação que lhe permita atender a chamadas urgentes do empregador. Permanece em estado de expectativa constante. Nesse sentido pacificou-se o entendimento jurisprudencial a cerca do tema: O regime de sobreaviso dos ferroviários pode ser aplicado, por analogia, a outras profissões. (Ac do TST, Pleno, nos E-RR- 4.170/79, Rel. Min. Orlando Teixeira da Costa). Porém, em todos os casos é imprescindível que o empregado seja cientificado de que estará de sobreaviso.65 Diante do avanço tecnológico, situações novas passam a figurar nesse contexto analógico, que é o caso dos BIPs e telefones celulares, mecanismos estes que possibilitam que o trabalhador encontre-se sobre o regime do sobreaviso, onde quer que se encontre, porém ainda não é pacífico o enquadramento jurídico dessas duas situações fáticas novas,66 no entanto já existem decisões favoráveis. 63 SOUZA. Mauro César Martins de. Adicionais na remuneração acessória do trabalhador e suas implicações de ordem prática e teórica no direito do trabalho brasileiro. Publicada no Juris Síntese nº 32 - NOV/DEZ de 2001. 64 OLIVEIRA, Francisco Antônio de. Comentários aos Enunciados do TST: 2ª edição, ver. e atual. . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 566. 65 AGUIAR, Márcio José de Souza. O regime de sobreaviso. Disponível no site: http://jusvi.com/artigos/277. Acesso no dia: 01/02/2008. 66 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.844. 31 Para Camino,67 o “bip” e o telefone móvel, permitem ao empregado uma maior disponibilidade de seu tempo. Acrescenta que: Não há mais necessidade, por exemplo, de permanecer em sua residência, aguardando eventual chamado. Basta portar um telefone celular e permanecer num raio que permita ao empregador alcançá-lo com possibilidade de locomoção até à empresa em tempo razoável. Nem por isso, poderá usufruir plenamente dos períodos de não-trabalho, diante das limitações impostas pela escala de sobreaviso. Neste norte já decidiram os tribunais68: Recurso de Revista - HORAS DE SOBREAVISO. USO DE APARELHO CELULAR. O uso de aparelho celular e a comprovação da restrição da liberdade de locomoção do empregado e da fruição de seu período de descanso configuram o sobreaviso. (...), não podendo, assim, ser aplicado analogicamente o entendimento da Orientação Jurisprudencial nº 49 da SBDI-1 do TST69. Também no mesmo sentido: 24008661 - HORAS DE SOBREAVISO – 1/3 DO VALOR DA REMUNERAÇÃO - UTILIZAÇÃO DE “BIP” - CABIMENTO - O uso do chamado “bip” limita não só a atividade do portador quando deve estar pronto para atender ao chamado, como também restringe seu deslocamento no espaço, não podendo afastar-se do raio de alcance do instrumento. É inequívoco que o conceito de jornada de trabalho é distinto do horário de trabalho. Este é o período no qual o trabalhador inicia e finaliza sua prestação de serviços. Enquanto aquela, efetivamente, é o período no qual o empregado fica à disposição do empregador aguardando ou executando ordens. De outra parte, incumbindo ao Órgão Julgador a aplicação da lei objetivando atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum, 67 CAMINO, Carmem, Direito Individual do Trabalho. 2ª ed.. São Paulo: Síntese, 1999. p. 217 e 218. 68 TRT 4ª Região, RR 994/2003-069-09-00. Rel. Lélio Bentes Corrêa. Brasília 16/11/2006. DJ – 07/12/2006. 69 HORAS EXTRAS. USO DO BIP. NÃO CARACTERIZADO O "SOBREAVISO". Orientação Jurisprudencial nº 49 da SBDI-1 do TST Inserida em 01.02.95 (inserido dispositivo, DJ 20.04.2005). O uso do aparelho BIP pelo empregado, por si só, não carateriza o regime de sobreaviso, uma vez que o empregado não permanece em sua residência aguardando, a qualquer momento, convocação para o serviço. Disponível em: http://www.trtrio.gov.br . Acesso em: 3 de fevereiro de 2008. 32 por expressa disposição legal - art. 5°, LICC - perfeitamente aplicável, por analogia, a regra inserta no parágrafo 2° do art. 244, da CLT, devendo essas horas serem pagas no equivalente a 1/3 sobre o valor da remuneração. (TRT 15ª R. - Proc. 14446/00 - (41896/00) – 2ª T. - Rel. Juiz Luís Carlos Cândido Martins Sotero da Silva - DOESP 06.11.2000 - p.29).70 Diante do exposto: jornada de trabalho é a quantidade de labor diário do empregado. Em sentido mais amplo, seria o lapso de tempo durante o qual o empregado deve prestar serviços ou permanecer à disposição, com habitualidade, excluídas as horas extraordinárias. Ou seja, neste sentido amplo, há uma jornada normal diária e semanal. Pelo limite imposto pela CF, a diária é de oito horas, jornada esta limitada pela semanal, que é de 44 horas.71 1.5 DISTINÇÕES RELEVANTES ENTRE DURAÇÃO, JORNADA E HORÁRIO DE TRABALHO. Nascimento72 salienta que, jornada, horário e duração do trabalho, diferem-se entre si do seguinte modo: Jornada de trabalho não é exatamente o mesmo que duração do trabalho e horário de trabalho, uma vez que a sua idéia é a dos parâmetros máximos autorizados pela lei para que o trabalhador fique a disposição do empregador; enquanto duração do trabalho são os quantitativos de tempo somados e destinados pelo trabalhador ao sistema produtivo; e horário de trabalho é a pontuação do momento em que o trabalhador vai iniciar e terminar a sua atividade em cada dia, ou seja, a hora em que a atividade vai começar e a hora em que vai terminar. Conforme nos ensina Delgado73, três expressões apresentam-se correlatas ao fenômeno do tempo em que o empregado 70 AGUIAR, Márcio José de Souza. O regime de sobreaviso. Disponível em: http://jusvi.com/artigos/277. Acesso em: 1 de fevereiro de 2008. 71 SANTOS, Cilon. Direito social e do trabalho. Disponível em: http://www.cilonsantos.com.br . Acesso em 5 de maio de 2008. 72 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed. p. 165. 73 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.835 33 encontra-se à disponibilidade contratual que são respectivamente: duração do trabalho, jornada de trabalho e horário de trabalho. A duração do trabalho consiste no instituto mais amplo correlacionado com os demais, pois a mesma abrange o lapso temporal de disponibilidade contratual do empregado perante seu empregador considerando distintas as mensurações: dia, semana, mês e ano.74 Refere-se à duração, programação, execução de tarefas, das quais dependerá a produção e também maior exposição aos riscos profissionais, diz respeito ao funcionamento humano no qual observa-se a rapidez de produção, bem como o desgaste profissional ou o envelhecimento biológico.75 Ao passo que, jornada de trabalho possui um sentido mais estrito que a supracitada, pois, compreende o tempo diário em que o empregado tem dese colocar em disponibilidade perante seu empregador em virtude do contrato em um dia delimitado (parágrafo 2º do art. 59 da CLT); já o horário de trabalho, trata-se exclusivamente do espaço de tempo compreendido entre o começo e o término de certa jornada laborativa ( art. 74 da CLT).76 Maralhão77 atribui um conceito, simples e direto, à expressão, horário de trabalho: A expressão, horário de trabalho traduz, rigorosamente, o lapso temporal entre o inicio e o fim de certa jornada laborativa. 74 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.835. 75 QUÉINNEC, Yvon. O Dicionário Horário. Disponível em: http://laboreal.up.pt/revista/artigo. Acesso em: 24 de maio de 2008. 76 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.835. 77 MARANHAO, Délio. Direito do Trabalho. 14. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas. 987.p. 84. 34 Nascimento78 salienta ainda, que: Predomina como título do tema, jornada de trabalho, incluindo, no entanto, o estudo dos intervalos de descanso uma vez que alguns intervalos não integram e outros integram a jornada de trabalho. Assim o estudo da jornada diária de trabalho compreende não só a duração do trabalho, mas horários, intervalo e outros aspectos significativos para o direito. Segundo Süssekind79 é importante destacar que, a duração normal de trabalho é caracteriza pelo lapso temporal, compreendido em um determinado período (dia ou semana) para a execução dos encargos advindos da relação de emprego, excluindo-se as prestações extraordinárias (horas suplementares); ao passo que, duração máxima de trabalho equivale à soma das horas da jornada normal mais as horas suplementares as quais em certas situações, a lei permite. 1.6 HORÁRIOS DE TRABALHO E INTERVALOS COMPULSÓRIOS Os intervalos compulsórios compreendem os intervalos obrigatórios expressos pela pelo ordenamento jurídico trabalhista. São eles, os intervalos interjornadas (art. 66 da CLT)80; intrajornada (art. 71 da CLT)81; 78 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed p. 165 – 166. 79 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 804 - 805. 80 Art. 66. Entre 2 (duas) jornadas de trabalho haverá um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, caput. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 81 Art. 71. Em qualquer trabalho contínuo cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será no mínimo, de uma hora e, salvo acordo ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de duas horas. § 1º Não excedendo de seis horas o trabalho, será, entretanto, obrigatório um intervalo de quinze minutos quando a duração ultrapassar quatro horas. § 2º Os intervalos de descanso não serão computados na duração do trabalho. § 3º O limite mínimo de uma hora para repouso e refeição poderá ser reduzido por ato do Ministério do Trabalho, quando, ouvido o Departamento Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho, se verificar que o estabelecimento atende integralmente às exigências concernentes à organização dos refeitórios e quando os respectivos empregados não estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas suplementares. 35 O período compreendido entre o início e o fim da jornada de normal trabalho, incluindo intervalo de descanso e ou refeição, constitui o horário de trabalho. Este tanto pode ser noturno ou diurno (art. 73, parágrafos 2º e 4º, da CLT).82 Além do intervalo obrigatório de onze horas consecutivas entre duas jornadas de trabalho (art. 66, da CLT), a legislação brasileira estabelece, compulsoriamente, intervalo de repouso ou alimentação do trabalhador. Nos casos em que a jornada de trabalho exceder seis horas os referidos intervalos serão de uma a duas horas, podendo ser dilatado mediante acordo ou convenção coletiva (art. 71 da CLT), de outra forma será de quinze minutos se a jornada não exceder a seis horas, mas se for superior a quatro horas (parágrafo 1º do art. 71, da CLT)83. Importante lembrar que o TST, tem decidido que o intervalo mínimo, não pode ser reduzido mediante acordo ou convenção coletiva. 84 Nesse sentido têm-se os seguintes julgados: A impossibilidade de flexibilização abrange os direitos voltados à garantia da integridade, saúde e segurança dos trabalhadores (...). Afastada a validade da cláusula da convenção coletiva que reduzia o intervalo para o repouso ou alimentação dos frentistas paraibanos. Com o mesmo entendimento: “A manutenção do intervalo mínimo intrajornada encontra respaldo no fato de que o trabalho desenvolvido longamente pode levar à fadiga física e psíquica, o que conduz à § 4º Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.( Acrescentado pela L-008.923-1994). BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, caput. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 82 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 461 - 462. 83 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 461 - 462. 84 Boletim do TRT da 15ª Região, Campinas, abril de 2003, p.19. Disponível em: http://www.trt15.gov.br/boletim/boletim200304. Acesso em: 9 de janeiro de 2008. 36 insegurança do trabalhador e, considerada a natureza de certas atividades, à insegurança de terceiros e do patrimônio das empresas e do Estado, sendo certo que a redução de acidentes do trabalho está relacionada à capacidade de atenção do trabalhador no serviço”, afirmou o Ministro Relator Rider de Brito. Ainda, no mesmo norte: INTERVALO INTRAJORNADA. REDUÇÃO ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO. NULIDADE. A redução do intervalo mínimo intrajornada não pode ser pactuada mediante norma coletiva sem a autorização do Ministério do Trabalho, conforme exige o art. 71, § 3º, da CLT, matéria que já se encontra pacificada pela Orientação Jurisprudencial nº 342 da SDI-I do TST. (Acórdão / - Juiz Edson Mendes De Oliveira - Publicado no TRTSC/DOE em 07-01-2008.)85 Quanto à relação, dos intervalos supracitados, com a duração da jornada de trabalho, nos ensina Süssekind86: O tempo dos intervalos (...) não é computável na duração da jornada de trabalho (2º do art. 71), o que não se verifica, por exceção com o repouso de dez minutos, que, em face do disposto no art. 72, deve corresponder a cada período de noventa minutos de trabalho contínuos em serviços permanentes de mecanografia, datilografia, escrituração ou cálculos executados por processos mecânicos, operações em computadores ou outros similares (...). Referente ao tema, por meio da Súmula 346, já decidiu o TST: Os digitadores, por aplicação analógica do art. 72 da CLT, equiparam-se aos trabalhadores nos serviços de mecanografia (datilografia, escrituração ou calculo), razão pela qual têm direito a intervalos de descanso de 10 (dez) minutos a cada 90 (noventa) de trabalho consecutivo.87 85 TRT 12ª Região, Disponívelem: www.trt12.gov.br. Acesso em: 09/02/2008. 86 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 461 - 462. 87 Disponível em: http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0331a0360.htm . Acesso em: 1 de fevereiro de 2008. 37 Os intervalos não compulsórios concedidos pelo empregador, são considerados serviços extraordinários, neste sentido estabelece a Súmula 118 do TST, que assim preceitua: Os intervalos concedidos pelo empregador na jornada de trabalho, não previstos em lei, representam tempo à disposição da empresa, remunerados como serviço extraordinário, se acrescido ao final da jornada. – (1981). 88 Contudo, a CLT em seu art. 71, parágrafo 4º,89 preceitua: Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho. (Acrescentado pela L-008.923-1994) No mesmo sentido, temos o seguinte julgado: INTERVALO INTRAJORNADA. NÃO CONCESSÃO. ART. 71, § 4º, DA CLT. REFLEXOS. A supressão do intervalo intrajornada implica ao pagamento total do período correspondente, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho e reflexos, na forma do art. 71, § 4º, da CLT, que confere verdadeira natureza salarial a essas horas extras fictícias. E-RR nº639726 ano: 2000. Publicado no DJ - 10/02/2006. TST, Brasília, 05 de dezembro de 2005. Ministro Relator: João Batista Brito Pereira.90 Logo, a não concessão dos intervalos compulsórios bem como os intervalos não compulsórios concedidos pelo empregador, ambos deverão ser considerados como horas extraordinárias e remunerados como tal, ou seja, os intervalos compulsórios não concedidos serão remunerados baseados no tempo suprimido, ao passo que os intervalos não compulsórios 88 Disponível em: http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0091a0120.htm . Acesso em: 2 de fevereiro de 2008. 89 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 71, parágrafo 4º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de fevereiro de 2008. 90 Disponível em: www.tst.gov.br . Acesso em: 25 de maio de 2008. 38 concedidos, serão remunerados por representarem tempo a disposição da empresa.91 1.7 DIFERENTES MODALIDADES DE JORNADAS DE TRABALHO Referente ao controle efetivo fiscalizatório da jornada de trabalho92, existem três modalidades: jornadas controladas, jornadas não controladas e a jornada não legalmente tipificada. 93 Delgado94 faz distinção entre as três referidas modalidades de jornadas supracitadas, mencionado que nas jornadas controladas a prestação do trabalho é submetida ao efetivo controle e fiscalização do empregador, nessas condições pode-se demonstrar, se for o caso, a prestação de horas extraordinárias. Nas jornadas não controladas, não existe um real controle e fiscalização por parte do empregador, impossibilitando o cálculo das horas extraordinárias e sequer a duração efetiva do trabalho. Por último a jornada não legalmente tipificada, nessa, também, torna-se quase impossível a verificação da incidência das horas extras, é o caso da categoria dos empregados domésticos. Dois tipos de empregados são indicados pela CLT que se incluem na modalidade de jornada não controlada que são eles: os trabalhadores que exercem atividades externas incompatível com a fixação de horário de trabalho; e os gerentes (art. 62, I e II e parágrafo único, CLT). Porém trata-se aqui, de apenas uma presunção feita pela CLT e não discriminação de 91 LÔBO, Carlos Augusto Gomes. Juiz do Tribunal Regional do Trabalho DA 14ª Região. Disponível em: http://pesquisasdiritodotrabalho.blogspot.com . Acesso em 25 de maio de 2008. 92 (...) trabalho não fiscalizado nem minimamente controlado é insuscetível de propiciar a aferição da real jornada laborada pelo obreiro – por essa razão é insuscetível de propiciar a aferição da prestação (ou não) de horas extraordinárias pelo trabalhador. Autor: DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho, São Paulo, LTr, 2002, p. 852/853. 93 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.872. 94 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.872. 39 categorias, pois, havendo prova firme que havia efetiva fiscalização da prestação laboral, incidirá as regras concernentes a duração do trabalho.95 No entanto, existe a possibilidade da fiscalização e controle do labor externo, conforme preceitua o parágrafo 3º do art. 74 da CLT, que assim diz: Se o trabalho for executado fora do estabelecimento, o horário dos empregados constará, explicitamente, de ficha ou papeleta em seu poder, sem prejuízo do que dispõe o parágrafo 1º deste artigo.96 O seguinte julgado97 viabiliza a comprovação do efetivo controle e fiscalização da jornada de trabalho, no caso dos gerentes, advinda do fato de não estarem, no seu local de trabalho, subordinados a nenhum outro com poderes para uma mínima fiscalização da sua jornada laboral. BANCÁRIO. GERENTE. HORAS EXTRAS. Comprovada a subordinação do empregado ao gerente-geral da agência bem como o controle de jornada por parte da reclamada, afasta-se a incidência da exceção prevista no artigo 62, II da CLT, remunerando-se, como extras, as horas laboradas além da oitava diária, nos termos do artigo 224, § 2º, do código laboral. (...) fundamental para o deslinde da presente controvérsia é a existência de controle da jornada de trabalho da reclamante, o que restou comprovado nos autos, tanto pela prova documental como pela testemunhal. Afere-se das fichas financeiras juntadas pela própria reclamada que esta, por vezes, remunerou o labor extraordinário prestado pela reclamante, cuja aferição, de certo, se deu por meio de algum controle de jornada. (RO-00573.2002.005.23.00-0 - 5ª Vara do Trab. De Cuiabá – Rel.: Juiz José Simioni - DJ/MT nº 6587 - 14/02/2003 - Pág. 50). Destarte, segundo o que nos ensina o Delgado98, somente o fato de o trabalho ser realizado fora do estabelecimento não elimina 95 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.875. 96 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 74, parágrafo 3º. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 97 Disponível em: http://www.trt23.gov.br . Acesso em: 2 de fevereiro de 2008. 98 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.874. 40 a viabilidade do controle e fiscalização sobre a efetiva prestação laboral, por conseguinte a viabilidade da mensuração da jornada, inclusive a existência das horas extraordinárias, se houverem. 1.8 CLASSIFICAÇÃO (TIPOS) DE JORNADA DE TRABALHO São vários os tipos de jornada diária de trabalho, mencionadas por Nascimento99, são elas: a) em função da duração: jornada normal, extraordinária, limitada, ilimitada, intermitente ou a tempo parcial; b) quanto ao período: jornada diurna, noturna ou mista; c) em função do dia em que é prestada; d) em função da condição pessoal do trabalhador: será jornada de homens, mulheres ou de menores; e) em função da profissão: referente a todos os empregados ou empregados especiais; f) em função da remuneração: com ou sem acréscimo salarial; g) em função da fonte formal em que é fixada, da rigidez ou não do horário: jornadas flexíveis ou inflexíveis; i) em função das situações imperativas ou não;
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