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fundamentos sociologicos e antropologicos da educaçao

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FUNDAMENTOS 
SOCIOLÓGICOS E 
ANTROPOLÓGICOS 
DA EDUCAÇÃO
Professor Me. Gilson Aguiar
GrAduAção
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Comercial, de Expansão e 
Novos Negócios
Marcos Gois
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Coordenação de Sistemas
Fabrício ricardo Lazilha
Coordenação de Polos
reginaldo Carneiro
Coordenação de Pós-Graduação, Extensão 
e Produção de Materiais
renato dutra
Coordenação de Graduação
Kátia Coelho
Coordenação Administrativa/Serviços 
Compartilhados
Evandro Bolsoni
Gerência de Inteligência de Mercado/Digital
Bruno Jorge
Gerência de Marketing
Harrisson Brait
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nalva Aparecida da rosa Moura
Supervisão de Materiais
Nádila de Almeida Toledo 
Design Educacional
rossana Costa Giani 
Fernando Henrique Mendes
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Editoração
daniel Fuverki Hey 
Revisão Textual
Jaquelina Kutsunugi
Keren Pardini
Maria Fernanda Canova Vasconcelos
Nayara Valenciano
rhaysa ricci Correa
Susana Inácio
Ilustração
Thayla daiany Guimarães Cripaldi
 CENTro uNIVErSITÁrIo dE MArINGÁ. Núcleo de Educação a 
distância:
C397 
 Fundamentos sociológicos e antropológicos da educação / 
Gilson Aguiar
 reimpressão revista e atualizada, Maringá - Pr, 2014.
187 p.
 
 “Graduação - Ead”.
 
 1. Educação 2. Fundamentos sociológicos. 3. Antropológicos. 
4.Ead. I. Título.
ISBN 978-85-8084-567-9
Cdd - 22 ed. 370
CIP - NBr 12899 - AACr/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CrB-8 - 6828
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos fará grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro universitário Cesumar – 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
diante disso, o Centro universitário Cesumar al-
meja ser reconhecida como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. de que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo. 
o Centro universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo 
competências e habilidades, e aplicando conceitos 
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser 
apenas geográfica. utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro universitário Cesumar lhe possi-
bilita. ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente 
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de 
professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Professor Me. Gilson Aguiar
Graduado em História, na universidade Estadual de Maringá e Mestre em 
História e Sociedade pela universidade Estadual Paulista (unesp).
A
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TO
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SEjA bEM-VINDO!
Prezado(a) acadêmico(a), apresento a você o resultado de um trabalho que nunca esta-
rá completo, mas intenta atender a necessidade de dar aos nossos alunos uma análise 
crítica da sociedade que estamos vivendo. uma sociedade em que o educador tem um 
papel primordial. Ele está no centro da discussão do papel que a ciência exerce na so-
ciedade atual e o quanto ela foi fundamental para construirmos a civilização que temos. 
Como professor da disciplina de Teoria das Ciências Sociais, no curso de direito do Ce-
sumar, há mais de 20 anos, minha preocupação foi entender as mudanças da sociedade 
atual e o quanto elas atingem nossas vidas. Nunca fui um defensor das teses e análises 
que se distanciam do homem comum, de cada um de nós. A educação está no centro 
desta discussão.
Tive a oportunidade de trabalhar durante três anos com alunos do curso presencial de 
Pedagogia e desde 2011 ministro esta disciplina para os alunos do EAd do Cesumar. A 
educação e o educador são necessários, nunca duvide da importância das instituições 
de ensino na vida social. Mas o que nós não podemos menosprezar é o papel que a 
ciência exerce e a condição do que ela permite. A sociedade que gerou a eficiência do 
conhecimento precisa ser conhecida cientificamente e sofrer intervenções lógicas para 
sua melhora.
A sociedade necessita ser conhecida para ser transformada, e a ciência é o nosso maior 
instrumento para que isso ocorra. o educador é o propagador da ciência, é ele quem 
instrumentaliza o ser humano para uma ação consciente e eficaz na vida social. Mas para 
que isso ocorra e gere resultado é necessário entender em que sociedade os educadores 
estão inseridos. 
Vivemos o tempo do dia a dia, em que as preocupações com o imediato dominam nos-
sos interesses. Isto me parece pequeno para quem tem uma função de construir um ser 
humano para uma vida toda. A sociedade que vivemos é uma construção que iniciou 
sua jornada há mais de 500 anos. Somos o resultado de inúmeras transformações que 
nos permitiu a construção de uma rede econômica complexa. Elaestá a nossa volta, por 
todos os lugares, temos que compreendê-la. Este é o objetivo deste trabalho.
Para isso dedico uma primeira parte para a análise da formação da sociedade atual, 
como chegamos até aqui, o porquê nesta jornada a sociedade enfrentou contradições e 
como as suas crises foram interpretadas pelos seus principais teóricos, o que chamo de 
Clássicos. Inclusive, a eles, dedico duas unidades (II e III). Considero fundamental enten-
der os métodos que orientam ainda hoje o olhar dos cientistas sociais e devem orientar 
o olhar dos educadores. Considero que a formação do educador é acompanhada de 
um posicionamento diante da sociedade, temos uma busca e ela deve ser consciente, 
independente da postura metodológica que se tome.
Vamos tratar ao longo deste trabalho das teses positivistas, do estruturalismo, do mate-
rialismo histórico e do funcionalismo histórico cultural. Vamos passar pela a análise dos 
comportamentos sociais que preocupam a sociedade contemporânea. o elevado grau 
ApresentAção
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E 
ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
8 - 9
de violência propagado, mas também o imediatismo que se tornou uma expressão no 
mundo do consumo.
outro elemento que nos preocupa que procuramos dar enfoque é sobre a liberdade vul-
garizada da sociedade atual. Nenhuma outra geração esteve diante da liberdade como a 
atual. Mas o que tem sido feito com a possibilidade de escolha? A responsabilidade que 
nos parece do indivíduo está cada vez mais transferida. Estamos vivendo a isenção do 
ser humano as suas práticas. Em sala de aula é cada vez mais comum perceber que não 
se quer o peso da educação, mas apenas os benefícios que ela gera. Todos querem ter o 
diploma, mas poucos estão dispostos a enfrentar a jornada que leva até ele. 
A reflexão sobre este homem contemporâneo é o centro de nosso trabalho, o fator que 
nos fez dedicar a ele a maior parte das páginas que você terá como fonte de consul-
ta. Convido você, caro(a) aluno(a), a questionar e debater estes temas, a refletir sobre a 
nossa vida social. Penso que este material não pode ficar isolado e relacionado exclu-
sivamente a uma disciplina de sua formação acadêmica, tentei traçar conteúdos que 
permitam uma reflexão sobre o seu dia a dia. Temos que nos identificar e compreender o 
que somos para aprendermos. Nunca acreditei na memorização como forma de adquirir 
conhecimento nas ciências humanas. Acredito na crítica, mas principalmente na autocrí-
tica, o que poucos têm coragem de fazer. Espero que você seja um deles.
dentro do ambiente educacional há discussões que merecem um olhar mais atento. 
Temos que nos lembrar de que a vida em sociedade nos traz dilemas de difícil com-
preensão. os debates acerca destes dilemas necessitam de um conteúdo aprofundado 
para que os educadores se posicionem. Este é o espírito da disciplina de Fundamentos 
Sociológicos e Antropológicos da Educação. Queremos trazer elementos para que você 
cumpra o papel de profissional do ensino, ter essência na formação humana.
um dos temas que irá encontrar expresso neste material é sobre as cotas raciais. Este é 
um exemplo da polêmica que tem tomado conta do debate acadêmico. As universida-
des públicas, principalmente as federais, já estão assumindo as cotas como forma de 
seleção para o ingresso em seus cursos. Elas são justas? Tentaremos contribuir para este 
debate. 
outro debate que consideramos importante é sobre a violência, dentro e fora da escola. 
Nos países onde a violência é narrada pelos meios de comunicação como aquela que 
vivenciamos nas grandes cidades brasileiras. A violência está por todos os lados. Está na 
depredação da escola exatamente por aqueles que deveriam ser os beneficiados pela 
estrutura de ensino. Logo, podemos considerar que estamos vivendo a autodestruição? 
Esta é uma questão que necessita de resposta, procuramos contribuir com este trabalho 
a ela.
dessa forma, eu agradeço a oportunidade de ter produzido este material para você. Que 
ele traga uma contribuição para sua formação e que lhe desperte o interesse pelos te-
mas relacionados neste livro. Ele é feito para ser a porta de entrada na análise da vida 
social e não uma resposta definitiva. 
obrigado pela oportunidade e boa leitura!
Professor Gilson Aguiar
ApresentAção
sumário
8 - 9
uNIdAdE I
A COMPLEXA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
13 Introdução
14 o Homem ocidental e sua trajetória 
27 Uma Breve História das origens da “era planetária” 
30 o Capitalismo, o Cristianismo e a razão 
43 Considerações Finais 
uNIdAdE II
AS NOVAS SOCIEDADES E SEUS DILEMAS
49 Introdução
50 A sociedade Urbana e a Crise de sua origem 
56 A Internacionalização da produção e do trabalho 
71 A educação e seus Dilemas na trajetória ocidental 
74 Considerações Finais 
uNIdAdE III
PENSADORES CLÁSSICOS I
83 Introdução 
84 A sociedade, um “objeto estranho” 
88 Augusto Comte 
sumário
10 - At
96 A Herança positiva no estruturalismo de Émilie Durkheim 
108 Considerações Finais 
uNIdAdE IV
PENSADORES CLÁSSICOS II
117 Introdução
118 Karl Marx, o Materialismo Histórico Dialético 
127 Weber e a racionalidade Impura 
142 Considerações Finais 
uNIdAdE V
OS DILEMAS DA ATUALIDADE
151 Introdução
152 Um Mundo em Crise 
156 A sociedade de Consumo 
181 Considerações Finais 
187 Conclusão
189 Referências
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Professor Me. Gilson Aguiar
A CoMpLeXA soCIeDADe 
ConteMporÂneA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer o processo de formação da sociedade atual e as condições 
nas quais ela se desenvolveu.
 ■ Estabelecer a relação entre a crise de identificação do homem com a 
sociedade na atualidade e sua rede de produção mundial.
 ■ Compreender a importância da ciência e da tecnologia no 
desenvolvimento da civilização ocidental.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ os problemas da atualidade
 ■ A formação da civilização ocidental
 ■ o desenvolvimento da ciência e da tecnologia
 ■ A cultura da ocidentalização
12 - 13
INTRODUÇÃO
O que pretendemos nesta unidade é apresentar o homem contemporâneo por 
meio do resgate de suas origens. Em um primeiro momento vamos analisar 
algumas das condições que percebemos na atualidade. Um ponto de partida 
apresentando alguns dos conflitos e dilemas do nosso dia a dia. 
Esses dilemas estão na forma como nos relacionamos com a sociedade de 
consumo, o mundo do mercado. A vida é construída dentro de um ambiente 
social com características próprias, que nos ligam uns aos outros. Não percebe-
mos estas ligações ou não as analisamos com o cuidado que devemos. Por isso, 
buscamos aqui posicionar o leitor diante da vida em sociedade.
Em um segundo momento, analisamos as origens da sociedade ocidental, 
como ela se constituiu e pode chegar até nossos dias. Como ela se organiza e o 
histórico do que levou a esta organização. Uma verdadeira recapitulação da his-
tória de formação da conquista planetária ocidental, como retratamos. 
Partimos das grandes navegações e avançamos sobre a forma de estabele-
cimento da economia mundial antes e depois da Revolução Industrial (1750). 
Detivemo-nos sobre a análise da rede de produção econômica que foi gerada 
no mundo a partir da Europa ocidental. Seu crescimento e aprimoramento, o 
que chamamos de divisão internacional do trabalho e, depois, de nova divisão 
internacional do trabalho. 
Atemos-nos aqui a importância que a ciência e a tecnologia representaram 
para o domínio do ocidente sobre o planeta. A construção de um império eco-
nômico que dominou diversas partes do mundo e ainda hoje demonstra sua 
influência. É impossível descartar a capacidade de renovação do processo de 
dominação ocidental. A renovação do controle e das condições de dominação 
do ocidente.A ciência e a tecnologia têm um papel central neste processo.
Valorizamos o entendimento da dominação da civilização ocidental sobre 
os demais povos. Como o controle de regiões distantes foi efetuada por tropas, 
a submissão militar, mas também a imposição cultural. O eurocentrismo con-
tou como peça-chave na lógica de mundo implantada pelo ocidente.
Toda esta jornada de análise vai culminar com a formação da sociedade capi-
talista atual, o que já é objeto de análise de nossa segunda unidade. Nela a busca 
pelo entendimento do homem ocidental se aprofunda. 
Introdução
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A COMPLEXA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
14 - 15I
O HOMEM OCIDENTAL E SUA TRAjETÓRIA
Nenhuma outra sociedade é tão complexa em sua organização quanto a nossa. 
Organizada em uma ampla rede de relações de trabalho que geram em cadeia 
mundial a nossa sobrevivência diária. Objetos simples a nossa volta, aos quais 
damos pouca atenção, são formados em condições que vão muito além de nos-
sas fronteiras imediatas, muitos são frutos de uma produção internacional que 
envolve pessoas que não conhecemos. 
Do mais vulgar dos alimentos ao mais complexo e requintado dos auto-
móveis, esses objetos estão ligados a uma relação de produção da qual fazemos 
parte, mas não sabemos qual desta parte nos diz diretamente respeito. Se refletir 
por alguns instantes no computador que estou utilizando neste momento para 
produzir este livro, a sua construção é fruto de tecnologia, insumos (matéria
-prima), e mão de obra dos mais diferentes lugares. Cada um dos estágios que 
produziu este computador pode estar afastado a milhares de quilômetros um do 
outro. Contudo, enquanto um bem acabado está aqui e estou me relacionando 
com ele a cada palavra que digito. Uma em tantas línguas que o computador 
traz como escolha.
Se parto da lógica de que tudo com o qual me relaciono sou um elemento 
ligado a sua existência, há uma condição que me une às pessoas que produzem 
tudo o que necessito para viver, então estaria envolvido também a todas as outras 
coisas que direta ou indiretamente me afetam. A violência, por exemplo, seria 
uma destas produções a qual estou ligado. Posso não praticá-la, mas ela está 
ligada diretamente à sociedade onde estou inserido e, de alguma forma, pode-
rei ser vítima dela, presenciá-la ou praticá-la. Ao pensar que existe um número 
imenso de práticas de violência, haverá uma dessas práticas próximas a mim e 
o Homem ocidental e sua Trajetória
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14 - 15
da qual não poderei evitá-la.
Só para entendermos melhor o que é viver nesta sociedade que pertence-
mos, podemos usar como exemplo o bullying, uma violência que toma conta do 
ambiente escolar. A agressão física e moral que afeta a vida de todas as pessoas 
que estão ligadas à educação. Não podemos negar que os fatores que levam este 
fenômeno a existir são complexos, envolvem um número imenso de elementos 
que estão muito além de estatísticas simplificadas que tenta relacionar a prá-
tica de violência a toda a criança que já foi agredida ou a um mero controle do 
ambiente escolar.
Por mais que a violência dentro da escola sempre existiu, o que preocupa 
é a peculiaridade que ela ganha na atualidade. Os elementos que a envolvem, 
o planejamento da agressão e os elementos usados nela. O exibicionismo que 
ela permite com uma parafernália imensa de meios de divulgar os insultos, o 
espancamento, a depredação. A violência na escola estaria inspirada nos inú-
meros shows de agressão e depredação que assistimos nas salas de cinema, em 
frente aos televisores, nos jogos de videogame, nos computadores ligados à inter-
net, nas histórias que recheiam as páginas dos jornais e revistas. Não podemos 
negar que uma das formas de construir a fama é postar no “youtube” um vídeo 
de milhões de acessos, os de agressão estão entre os mais vistos. Assim, e muito 
mais que isto, o ambiente é propício para exaltar a violência e gerar uma propa-
gação de “socos” e “pontapés” no qual deveria reinar a boa educação.
Podemos fazer o mesmo exercício das relações que produzem fatos como 
a violência para entendermos os produtos, seja ele associado ao bem ou o mal. 
Um breve resgate do açúcar, o produto que adoça as nossas vidas, mas está na 
lista dos que mais provocam o aumento de peso. Um dos vilões da obesidade 
contemporânea foi o motivo pela ocupação e integração do território que viria 
a ser o Brasil a uma economia mundial. A produção de açúcar foi fator decisivo 
para a fundação do processo colonial português na América a mais de 500 anos. 
Mas de onde vem o açúcar? O açúcar no Brasil é derivado da cana-de-açúcar, 
mas pode ser extraído de outros produtos. Por exemplo, os ingleses o extraíam da 
beterraba. Mas voltando a cana-de-açúcar, ela é uma planta originária da China1 
1 Isto porque, se pensarmos qual o papel que os chineses desempenham em nossas vidas hoje, concluiría-
mos que eles são o nosso principal parceiro econômico. Compram commodities e fornecem produtos 
industrializados. A China mudou, nós mudamos, o mundo mudou. Estamos mais perto dos chineses do 
A COMPLEXA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
16 - 17I
e para se transformar em açúcar foi necessário o desenvolvimento de técnicas 
iniciadas pelos árabes, italianos, até chegar aos engenhos portugueses. Foram 
esses engenhos que Portugal instalou em pontos do litoral brasileiro, em especial 
no Nordeste, e fundou a empresa colonizadora que deu origem ao Brasil. Logo, 
podemos concluir que o nosso país foi fundado por uma grande rede comer-
cial que integrou produtos, produção e homens vindos de diversas partes2. O 
Brasil é fruto da expansão ocidental capitalista que iniciou uma poderosa “Era 
Planetária” e a continua executando. Cada vez mais a dependência entre as diver-
sas partes do Mundo se intensifica.
Até aqui, o que procurei instigar em você, caro(a) aluno(a), é a necessidade 
de entender o mundo por este olhar de busca pela origem dos elementos que nos 
cercam. Entender o que está por trás de todo este mar de objetos que usamos 
ou nos relacionamos cotidianamente. Esta procura pode nos dar a dimensão de 
como estamos sujeitos a uma rede cada vez maior de meios de produção e pes-
soas que integram a geração da nossa existência em larga escala. Mas não é só a 
geladeira, o automóvel, o computador, a roupa, os bens materiais de uma forma 
geral, é também o produto cultural. O filme, a música, os eventos esportivos, 
os livros, as revistas, os jornais, os sites, as páginas sociais na internet e os brin-
quedos e as brincadeiras oferecidas nas lojas especializadas são fruto, em grande 
parte, de uma rede mundial de produção.
Para “apimentar” um pouco mais nossas indagações sobre os bens que nos 
cercam e entender o que nos faz existir, podemos estabelecer a relação de sim-
bologia dos objetos, um dos temas que iremos tratar na terceira unidade com 
mais intensidade. Quase todos os produtos que consumimos tem uma marca 
que lhe dá significado, um símbolo que o coloca em uma escala de importância 
que estávamos há 500 anos quando eles eram a “terra natal” da cana-de-açúcar. Podemos considerar que o 
nosso contato com os chineses é mais intenso em nossos dias, mas também mais complexo. Nossa relação 
de dependência econômica nos gera possibilidades e cria uma complexarede de relações econômicas que 
não se apresentam claramente em nossas vidas. Vale lembrar que os produtos desejados da Apple, como 
os tablets, são fabricados por uma empresa chinesa, a Foxcom. O lançamento dos produtos da empresa 
que continua com sua marca ligada aos Estados Unidos, foi mundial. O prazer de se ter um produto como 
este é a busca de muitos, mas não se tem a ideia de que a produção de vários de seus componentes se dá 
em condição análoga à escravidão.
2 Uma das curiosidades da integração do mundo comercial que levou a formação do Brasil está, também, 
na composição da nossa sociedade. Além da chegada dos europeus e seu encontro com os nativos, os 
negros africanos também vieram como mão de obra escrava para servirem à produção de açúcar estabe-
lecida pelos portugueses. Se a economia mundial integrou produtos, também pessoas. Plasmou culturas 
e recriou novas formas de interpretação do homem. Tudo isto será revisto com mais detalhes na última 
parte deste trabalho, na quinta unidade deste livro.
o Homem ocidental e sua Trajetória
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nos valores estabelecidos para os homens e para as coisas.
Um exemplo, para que se possa entender a dimensão do valor dos símbo-
los, seria perguntar: qual o significado de ter nos pés um tênis Nike ou Adidas? 
Para alguns jovens a resposta viria com a associação do produto a dignidade e 
respeito. Uma valorização pessoal que muitos atos humanos de respeito não tra-
riam na mesma proporção. Para quem é um educador, a pergunta que poderia 
comprovar o significado social do objeto seria comparar a satisfação diante de 
seus pares entre a compra de um objeto de marca desejada ou o desempenho 
escolar de qualidade. Uma nota acima da média não destaca um ser humano 
socialmente como um tênis nos pés. O mais ignorante dos seres sabe onde está 
o valor da existência, na marca do calçado e não em quem está calçando.
O que estamos colocando aqui, para iniciar nossa discussão sobre o estudo 
das sociedades humanas, é uma forma de alertar para a complexidade das rela-
ções sociais na atualidade. Não é tarefa simples compreender as condições em 
que o homem atual tem produzido sua vida e seus principais problemas. A 
necessidade de ciências como a Sociologia e a Antropologia é anterior ao que 
estamos vivendo. Contudo, mais do que nunca, estas ciências são necessárias 
para termos uma visão mais consciente dos problemas que afetam a nossa exis-
tência na atualidade.
Na atualidade, o dia a dia tem sido carregado de simplificações perigosas 
sobre as condições sociais e econômicas que nos cercam. As mensagens publicitá-
rias, os noticiários, os produtos da chamada industrial cultural3 tem generalizado 
por demais a lógica dos fatores que determinam a existência dos seres humanos. 
Nos discursos que se encontram nas propagandas e noticiários a vida se resume 
3 Quando falamos em indústria cultural estamos nos referindo à produção em série de obras como a músi-
ca, os filmes e símbolos. Também estamos falando dos personagens que passaram a dominar o cotidiano 
de nossas vidas, heróis de histórias em quadrinhos, filmes de aventura, romances, os grandes cantores e 
compositores, a mulher que é o símbolo sexual. Não escapou desta indústria de valores o esporte e seus 
heróis. Hoje os grandes eventos esportivos, os grandes espetáculos teatrais, o lançamento dos filmes, as 
premiações dos artistas, atletas. Boa parte desta gama de elementos de valor cultural que são produzidos 
em larga escala chega a nossas casas mediante às campanhas publicitárias que recheiam os filmes, telejor-
nais, séries e shows. Tudo é produzido para atingir um público em uma quantidade internacional. Com 
o advento da internet estes elementos se multiplicaram, agora estão nas mãos de cada um de nós ligado 
pessoalmente a uma rede mundial de computadores que nos permite acessar democraticamente uma 
gama infinita de produtos massificados. Fazemos, também, este exercício nas prateleiras dos mercados. 
Nunca antes, na história do consumo, os produtos dialogaram tanto com o consumidor. Caixas de leite, 
sabão em pó, detergente, fraldas, roupas, sapatos, blusas, perfumes e tudo o que está à venda, conversa 
sobre os temas mais diversos por meio da mídia. Hoje, no Twitter ou no Facebook podemos acompanhar 
o que pensa a Coca-Cola, o McDonald’s, a Ford e a Microsoft. A indústria cultural nunca vendeu tanto, 
como agora, objetos e ideias juntas, em forma de produtos.
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em boas e más intenções, ou na aquisição de objetos mágicos que podem resol-
ver nossas vidas de um dia para o outro. Na maioria das campanhas publicitárias 
todos são merecedores de tudo e a igualdade entre nós se dá pela condição de 
consumir tudo o que se quer. 
Perigosamente se difunde a ideia de que “não há o porquê entender a origem 
do que nos cerca”. As mensagens simplificadas geram a falsa ideia de que o que 
orienta nossas vidas são decisões particulares, de cada um, diante dos problemas 
que envolvem todos. Na “indústria cultural” que falamos anteriormente, existe 
uma relação entre o problema coletivo e a nossa particularidade. Tudo estimula 
para que estejamos ligados à sociedade por uma vontade controlada a partir de 
nossos interesses pessoais. Mudar é uma decisão que cabe a cada um e não há a 
necessidade dos outros para que algo se realize. Se levarmos em consideração a 
quantidade de livros de autoajuda que dominam os espaços nas livrarias, quase 
sempre os de maior vendagem, nós estamos à procura de uma receita de felici-
dade fundada na particularidade, o que é racionalmente impossível.
As campanhas publicitárias dos cartões de crédito talvez seja as que mais 
denunciam nossa simplificação da vida. Elas expressam o quanto o valor do que 
adquirimos ou podemos adquirir orienta para o sentido da vida. Também reve-
lam o quanto viver é um dia atrás do outro. Frases de efeito ganharam destaque 
e se descolaram de seu verdadeiro significado. Uma das que mais se deturpou na 
atualidade é a afirmação do imediatismo na expressão: “viva hoje como se fosse 
o último dia de sua vida”. Na sequência da negação do futuro vem a propaganda 
do cartão de crédito e reafirma: “porque a vida é agora”. O que se expressa aqui 
é: dane-se o antes e o depois, tudo se encerra em mim.
Este imediatismo na análise da vida social se constitui em uma ameaça a uma 
sociedade que necessita superar seus problemas com racionalidade. A simplifi-
cação da vida social coloca o homem diante de opiniões limitadas e calcadas em 
simplismo embalado em papel de presente do brilhantismo. Se voltarmos a falar 
da violência esta afirmação fica mais clara. Nas mensagens sobre os crimes que 
se propagam, principalmente os homicídios, como uma ameaça a todos nós, os 
números sobre estes atos de violência poderiam ser reveladores. 
Hoje, 80% dos crimes de homicídio estão ligados direta ou indiretamente 
ao tráfico de drogas. Pessoas morrem ou matam por acertos de conta, overdose, 
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crimes passionais envolvendo dependentes químicos. A maioria dos consumi-
dores de drogas são os filhos das classes de melhor potencial de consumo. Logo, 
a violência é alimentada pela renda. Pessoas com maior poder aquisitivo ten-
dem a ter acesso mais fácil aos produtos, entre eles as drogas. Contudo, não são 
os abastados que morrem pela violência promovidapelo tráfico, são os miserá-
veis. Há hoje uma quantidade imensa de pessoas disponíveis a servirem de mão 
de obra ao comércio de narcóticos.
Se considerarmos os discursos da falta de mão de obra qualificada, o que é 
uma realidade em países como o Brasil, onde constantemente ouvimos falar na 
busca de trabalhadores com qualificação pelas empresas, os que estão aptos ao 
trabalho são em um número menor do que os que estão disponíveis para traba-
lhar. Há um mar de desqualificados. Em 2012, há 20% dos jovens entre 19 e 25 
anos sem qualquer atividade profissional ou educacional no Brasil. Eles estão 
excluídos de qualquer possibilidade futura (escola) ou presente (trabalho). São 
chamados de geração “nem-nem”, nem trabalho e nem educação. Para o que ser-
viriam estes seres humanos?
Esses seres sem perspectiva estão nas regiões mais pobres do país, o que 
agrava ainda mais o problema. Não podemos deixar de considerar que o número 
de filhos por mulher tem decaído nas regiões mais ricas e é, ainda, elevado nas 
regiões mais pobres. Este dado nos faz compreender que a igualdade não virá tão 
facilmente e nem nos próximos anos. Temos que compreender que o tráfico de 
drogas cresce exatamente por encontrar um grande número de desiguais vivendo 
em regiões relativamente próximas e passíveis de serem explorados dentro de 
uma contradição, os que estão disponíveis para serem os produtores, “soldados” 
e mercadores das drogas produtores e os que estão na condição de consumido-
res privilegiados do sonho imediato de ficar dopado.
Poderíamos considerar nesta mesma lógica a variedade de produtos que o 
tráfico tem oferecido e o preço das drogas que caíram mais de 60% nos últimos 
60 anos. Maconha, cocaína, LSD e heroína dividem o mercado com crack, ecs-
tasy e, agora, o oxi. Efeitos cada vez mais devastadores elas são a busca para uma 
sensação de existência de satisfação que as relações sociais não são mais capa-
zes de oferecer. Como os celulares e refrigerantes, as drogas seguem a lógica de 
cercar seus consumidores nos lugares que eles menos esperam. Encontraram-se 
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produtos em locais onde eles jamais estariam a 15 anos atrás, agora eles são ofe-
recidos sem culpa. A bebida alcoólica frequenta os postos de combustível, assim 
como, a cocaína pode se encontrada na escola.
A iniciação ao consumo de bebidas alcoólicas se dá ainda na infância ou pré-
-adolescência dentro do ambiente familiar4. As drogas, também, são oferecidas 
por pessoas do nosso círculo de amizade. Os mais próximos se tornaram os mais 
perigosos. Os que deveriam nos proteger se traduzem hoje no canal de ligação 
entre nós e nossos problemas. Este é outro tema que iremos desenvolver durante 
este livro, a relação entre a individualidade exaltada como lógica e as condições 
que estamos organizando a coletividade de forma real. A família, por exemplo, 
é uma instituição em mudança, um reflexo das novas relações econômicas, 
principalmente da mulher no mercado de trabalho. Outra questão 
que podemos refletir está ligada à sexualidade, presente e intensa 
em diversos cantos da vida social, perigosamente exaltada pela 
lógica instintiva do que civilizadora5. 
A contradição maior, que queremos revelar com nossa expo-
sição até este momento, é que ao mesmo tempo em que o homem 
se percebe senhor de seu próprio destino pelas mensagens que 
recebe em todos os cantos, principalmente nas mensagens publi-
citárias de consumo, ele depende de uma rede cada vez mais 
ampla e, em determinados momentos, mundial de produção da 
sua vida. Somos o fruto de uma coletividade integrada pelo traba-
lho e nos percebemos como uma unidade autônoma que se liga 
aos demais por iniciativa própria, o que é uma fantasia perigosa, 
4 O que muitas vezes não fazemos, e deveríamos como educadores, é procurar dados que possam elucidar 
temas que são tão complexos e tratados de forma simplificada por alguns meios de comunicação. O 
Ministério da Saúde, assim como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) tem apresentado 
dados importantes para o entendimento do consumo de drogas lícitas e ilícitas. Temos que desmistificar a 
ideia de que a ameaça as nossas vidas vem de um elemento externo. Este perigo pode existir, mas dentro 
do nosso ambiente doméstico há ameaças que tem de ser consideradas. Nosso círculo de amizade está, 
assim como nós, dentro de uma relação social cada vez mais voltada ao desejo imediato de realizações 
pessoais. Considerou-se em nossas relações que o caminho mais curto é o certo para se chegar onde se 
quer, mesmo que contrariando a lógica de respeito e integridade, estamos transformando em regra a 
violência generalizada. 
5 Temas como família, sexualidade, violência e preconceito serão tratados ao longo deste trabalho, princi-
palmente em sua quarta unidade. Hoje, na preocupação expressa nos fatos que preocupam a vida social 
eles ganham destaque. Por isso, quando organizamos este trabalho procuramos selecionar questões que 
possam nos dar um olhar mais atento e qualitativo como educadores. A sociologia e a antropologia como 
ciências que auxiliam a função da escola podem nos dar uma análise mais adequada a temas que estão 
dentro do cotidiano educacional. Muitos destes temas são simplificados, alguns deturpados, o que leva a 
condutas incorretas pelas autoridades e profissionais ligados à educação.
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mas tida como uma verdade absoluta. Não estaríamos pagando um preço ele-
vado por esta contradição?
Considero que se faz necessário retomarmos a origem da sociedade capitalista 
ocidental que determinou esta integração que estamos vivendo. Uma integra-
ção planetária de produção de bens, de comercialização de objetos mundiais. 
Também, de uma propagação da cultura industrializada associada ao consumo. 
Em toda a história nunca consumimos tanto em tão pouco tempo tantos produ-
tos. A maioria destes bens tem uma validade curta. Nossa vida tem se resumido a 
ver objetos que adquirimos passarem pela nossa frente em uma quantidade cada 
vez maior. Nossos lixos se acumulam como uma comprovação dos nossos exces-
sos como consumidores. Não é por acaso que a finalidade dos resíduos é um dos 
grandes desafios da sociedade humana de nosso tempo em relação ao futuro. 
Ao buscar a origem desta sociedade industrial não estamos afirmando que 
ela é uma continuidade. Não queremos considerar que a história da civilização 
ocidental nada mais é do que uma sequência de fatos que se desdobraram até 
chegar a nós. Como uma relação causa-efeito contínua em que é possível enten-
der as consequências pela intenção dos agentes sociais. Fazendo desta lógica uma 
verdade, afirmaríamos um determinismo, o que não pretendemos aqui.
Nossa intenção é compreender que as condições em que as relações sociais 
se estabeleceram na Europa levaram à formação da economia de mercado que 
gerou o capitalismo e sua posterior mundialização. Esta condição de internaciona-
lização é que permitiu os desdobramentos destas relações mundiais de produção 
até nossos dias. Ou seja, nossa sociedade é um desdobramento da expansão que 
a economia europeia viveu, em especial com a expansão marítima (Séculos XV 
a XVI) e, posteriormente, com a Revolução Industrial (Séculos XVIII e XIX).
O que passaremos agora a tentar resgatar é exatamente esta condição pla-
netária. A construção de uma civilização que após 500 anos de sua aventura 
planetária continua a se impor como civilização dominante. Não podemos 
negar que a Civilização Ocidental foi bem-sucedida em suadisputa pela lide-
rança mundial. 
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A LONGA jORNADA DA CIVILIzAÇÃO OCIDENTAL
Nós somos uma civilização planetária mais que em qualquer outra época da 
história humana. Estamos ligados a toda à humanidade por uma condição de 
produção que gera nossas vidas em uma complexa rede de divisão de produção 
em escala mundial. Estamos ligados por uma rede produtiva racional fundada em 
uma lógica científica e técnica voltada à concentração de riqueza. Os empreen-
dimentos mundiais têm sua organização centrada em investimentos gerenciados 
por centros financeiros que aplicam recursos em setores produtivos. O mundo 
parece ter se transformado em um cálculo voltado determinantemente ao lucro. 
A vida vale na capacidade que tem de produzir riqueza ou consumir bens. 
Seria uma generalização tola colocar nesta condição toda a humanidade, 
mas a maioria dela com certeza. Pois, se há grupos humanos isolados, vivendo 
distantes das condições que a economia mundial determina, são poucos, é exce-
ção e não regra. Esses grupos humanos isolados se encontram em uma condição 
remota de existência, em uma lacuna que a economia mundial tende a preencher 
ou desprezar pelo pouco interesse de integração financeira. Se não há retorno 
destes elementos a opção de abandono é mais uma condenação do que um res-
peito à sobrevivência6.
Em sua maioria a sociedade mundial se integra, sente os efeitos desta integra-
ção das mais diferentes formas. As diversidades originárias deste encontro entre 
o homem ocidental e as culturas nativas ainda está se processando. Mudanças 
estão correndo nos conceitos que civilizações milenares construíram de sua pró-
pria origem. Algumas destas culturas nativas, ao se encontrarem com os modelos 
ocidentais de racionalidade economia e, mesmo, de valor cultural, se reconsti-
tuem ou ganham um novo significado para o mundo. 
Um exemplo destas mudanças culturais que marcam civilizações tradicionais, 
6 Os elementos indígenas, por exemplo, que habitam as matas tropicais da América do Sul vivem em um 
estágio de sobrevivência próximo às condições em que estavam quando os europeus chegaram. Se ainda 
preservam sua cultura é por lutas constantes pela demarcação de terras e por meios de sobrevivência 
que os afastam da convivência com o homem ocidental. Quanto tempo poderá permanecer assim? Esta 
pergunta não é difícil de ser respondida, não por muito tempo. Eles poderão manter sua identidade tribal 
e preservá-la por um período mais longo. Possivelmente manterão sua relação com a natureza, em alguns 
aspectos, como seus ancestrais, mas sua sobrevivência será mais um souvenir do ocidente do que uma sól-
ida forma de organização social. Considero que, no primeiro encontro que se estabelece entre as culturas 
nativas e o homem ocidental o efeito é devastador. Há uma mudança no conceito de existência de “si” ao 
saber da existência do “outro”. Quando as relações se mantêm, este efeito é ainda pior. 
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algumas milenares, é o que ocorre com o Japão e a Índia. Duas culturas que se 
posicionam como um contraponto ao mundo ocidental. Os personagens desta 
cultura, nipônica e indiana, são hoje propagados em embalagens de produtos 
a venda no mercado mundial. O exótico se descobre atraente. Mas o persona-
gem indiano que chega até nós está desprendido de sua originalidade. Não seria 
reconhecido pelo nativo que nós queremos indicar com a imagem massificada 
da identidade cultura milenar. O indiano retratado na novela, no filme, ou na 
música, raramente lembra ao nativo sua própria cultura. O habitante tradicional 
da índia não se identificaria no personagem expresso mundialmente como um 
“cartão postal” de seu país. Construímos assim uma visão distorcida das civili-
zações não ocidentais, assim como, dos produtos que consumimos. 
Temos que considerar que a expansão promovida pelo ocidente, a mais de 
500 anos, foi devastadora para muitas culturas, alterou a própria cultura oci-
dental. A Europa ocidental colocou os povos dominados na condição de escala 
de valor e os julgou inferiores, seja pelo primitivismo perigoso da selvageria ou 
pela infantilidade de suas condutas diante de um europeu que se autointitulava 
“racional” e “maduro”. Este encontro classificador e de imposição é relatado pelo 
antropólogo francês Edgar Morin em sua obra “Terra Pátria”:
A mundialização se opera também no domínio das idéias. As religiões 
universais, e seu princípio mesmo, já se abririam a todos os homens da 
Terra. Desde os começos da era planetária os temas do “bom selva-
gem” e do “homem natural” foram antídotos, muito fracos, é verdade, 
à arrogância e ao desprezo dos bárbaros civilizados. No século XVIII, 
o humanismo das Luzes atribui a todo ser humano um espírito apto á 
razão e lhe confere uma igualdade de direito. As idéias da Revolução 
Francesa, ao se generalizarem, internacionalizam os princípios dos di-
reitos do homem e do direito dos povos. [...] 
Se o direito dos povos é reconhecido, certas nações se julgam superiores 
e se dão por missão guiar ou dominar toda a humanidade. Se todos os 
humanos conhecem as mesmas necessidades e paixões primárias, os 
teóricos das singularidades culturais vão insistir em suas diferenças ir-
redutíveis. Se o homem é em toda parte potencialmente Homo sapiens, 
o ocidental-centrismo nega o estatuto de homem plenamente adulto 
e racional ao “atrasado”, e a antropologia européia vê nos arcaicos não 
“bons selvagens”, mas “primitivos” infantis (MORIN, 2002, p.26).
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Na colocação de Edgar Morin está a forma como a antropologia foi concebida 
como ciência, um instrumento de classificação dos povos dominados. A ciên-
cia vai servir ao homem ocidental, por inúmeras vezes, como meio de condenar 
a uma condição de inferioridade todos aqueles que estavam e estão sob o julgo 
da civilização ocidental. Não foi diferente para a geografia, literatura, ou para 
arqueologia, ingressar no rol das áreas de conhecimento se prestando ao serviço 
de inferiorizar culturais não ocidentais.
Durante a expansão promovida pelo ocidente, muitos campos de conheci-
mento surgirão na busca de entender e submeter outras civilizações. A conquista 
ocidental bem-sucedida é marcada pelo encontro e desencontro de interesses, 
encontro na ciência e nas técnicas que dela derivaram meios fundamentais para 
estabelecer a dominação. Das armas de fogo, a medicina, botânica, máquinas 
agrícolas, engenharia de construção e produção, enfim, uma gama de meios 
racionais para garantir a permanência e produtividade da ordem capitalista inte-
gradora. Mesmo os povos que resistiram a esta dominação, o fizeram usando os 
meios que o ocidente gerou7. 
Muitos dos que tentaram a resistência pelas suas próprias armas foram exter-
minados. Foi o caso dos Astecas e Incas, também dos chineses nas Guerras do 
Ópio (1839 a 1842/1856 a 1860). As armas utilizadas pelo homem ocidental foram 
as mais variadas possíveis. Desde as armas de fogo, o cavalo e a armadura que 
encantaram e estimularam as crenças astecas e incas, à gripe que dizimou indíge-
nas na América do Sul8. Esta prática de uso do saber em forma de instrumento 
7 Nos filmes de cowboy, nos anos de 1940 a 1970, a expressão mais viva da aculturação do ocidente entre os 
povos nativos da América do Norte está no uso do cavalo e das armas como meio de conter o chamado 
“homem branco”. A produção cultural dos ocidentais propagou aosquatro cantos do mundo os heróis 
do extermínio dos indígenas como “selvagens” que necessitavam ser eliminados em nome da “civilização 
moderna”. Nos últimos 20 anos resolvemos mudar o curso e abraçar a causa do homem que preserva 
o “bom selvagem”. Retomamos as teses de Rousseau e do naturalismo em evidência. Agora temos que 
aprender com os povos que destruímos, como se o Ocidente pedisse desculpas a todos os povos que ex-
terminou sem entendê-los em sua “rica cultural”. Vivemos um período em que o “bom ocidental” é aquele 
que preserva e impede o extermínio, é aquele que mantém a cultura do “outro”. Na história mais recente 
deste gênero cinematográfico, dois filmes merecem destaque: “Dança com Lobos”, dirigido por Kevin 
Costner e estrelado por ele mesmo, resgata a mudança de comportamento de um soldado norte-ameri-
cano, durante a Guerra Civil, nos Estados Unidos, onde ao conviver com a cultura dos índios Sioux ele 
sofre uma aculturação as avessas, acaba indo conviver com os indígenas e se torna um de seus líderes; 
“O Último Samurai” é também uma história de aculturação as avessas, onde o ocidental que se acultura 
se torna o melhor entre os povos que antes combatia. O Filme é estrelado por Tom Cruise, dirigido por 
Edward Zwick, conta a história da resistência dos samurais no Japão a perda dos valores nipônicos diante 
da presença de forças ocidentais no país. Cruise, que faz o papel um militar norte-americano, é capturado 
e, posteriormente, é aceito pelos guerreiros samurais, se tornando um dos mais destacados defensores da 
tradição japonesa.
8 Um dos episódios de destruição mais conhecidos na história brasileira foi a guerra travada entre os 
quilombolas de Palmares, reduto de escravos fugidos e indígenas, em Alagoas, e os bandeirantes liderados 
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de dominação se dá nos pequenos conflitos, mas também, nas grandes guerras 
de dominação. São inúmeros os exemplos de como o conhecimento pode fazer 
valer o interesse do ocidente diante dos povos que habitavam os territórios que 
interessaram a expansão da economia ocidental. 
O saber aqui não é o acadêmico, este que estamos agora exercitando den-
tro do conteúdo de um livro. Não é aquele que se aprende para construir uma 
profissão que venha a se desenvolver dentro de um ambiente de trabalho pré-es-
tabelecido pela vida no interior da sociedade ocidental. A ciência que estamos 
relatando aqui é aquela que vai mais além, que são herdeira e geradora desta 
que estamos praticando aqui, mas que construir em seu exercício prático o que 
nossa civilização usufrui hoje. Esta construção de um conhecimento por vezes 
contraditório entre o que desejaríamos ser e o que executamos para existir da 
forma que somos.
Um exemplo típico de como somos contraditórios em nossa idealização e as 
condições que fomos construídos, é a forma como abordamos o processo de con-
quista da América pelos europeus. Sempre consideramos a violência praticada 
nas guerras de dominação dos territórios nativos como uma prática abominá-
vel. As guerras que os europeus travaram para a conquista e colonização dos 
povos americanos, o número de seres humanos que foram exterminados, são 
demonstrações de uma violência condenável. Professores de história, geografia 
e literatura são os que mais exercitam a condenação do extermínio dos indíge-
nas. Mas não foi exatamente este extermínio que gerou o que somos? Não foram 
estas práticas abomináveis que viabilizaram a construção de uma civilização que 
hoje se faz planetária? Se há a condenação ela não deve estar com os olhos volta-
dos para o passado, mas sim para as possibilidades de uma sociedade que rompa 
com este extermínio no presente e no futuro.
Se hoje percorremos os corredores dos mercados e suas prateleiras rechea-
das de produtos, se nos deliciamos com sabores que demonstram o encontro de 
inúmeros lugares, se nos encantamos com as curiosidades culinárias que falam 
sobre alimentos originários de diversas partes do Planeta, esta possibilidade está 
diretamente ligada à ocidentalização. Foi ela, a economia capitalista fundada na 
por Domingos Jorge Velho (1694). O uso de roupas e homens contaminados com gripe serviu para o 
extermínio dos afroindígenas. 
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Europa e propagada pelo Mundo que fez circular e reorganizar a produção dos 
alimentos. O mercado mundial fez, também, surgir e aprimorar a produção de 
bens que atendem as necessidades básicas para parte considerável da espécie 
humana, como também os nossos desejos mais fúteis9. 
Quando iniciada, a mais de quinhentos anos, a conquista planetária iniciou 
a circulação de produtos e seres humanos. Aquilo que era comum e típico de 
determinados lugares se transformou íntimo de muitas pessoas em diversas par-
tes do Mundo. Ao mesmo tempo em que os produtos circulavam por diversas 
partes, levavam consigo conceitos, formas de serem incorporados, se associa-
vam a outros produtos e promoviam identificações diversas. 
Se considerar que os engenhos de açúcar no Brasil, durante o Período Colonial 
(1530-1808) foi uma empresa voltada ao mercado externo, uma unidade produ-
tiva para atender o mercado mundial, promoveram dentro do Brasil encontros 
e reinterpretações de produtos e pessoas. Os escravos, em sua maioria africana, 
reelaboraram seus hábitos alimentares, colaboraram para a construção de uma 
cultura que se não sua exclusivamente, só pode ser feita no encontro com outros 
elementos, no caso do Brasil com o português e o indígena. Podemos considerar 
que as unidades de produção do açúcar geraram a possibilidade do surgimento 
de uma nova identidade enquanto nação, o brasileiro. Em quantos lugares esta 
possibilidade não se deu? Talvez não com a mesma intensidade e com os mes-
mos elementos. Contudo, foi uma condição que a expansão ocidental gerou.
Quando falamos do açúcar, anteriormente, poderíamos também falar das 
especiarias, dos artigos vindos da Ásia, da África, das Américas e da Oceania. 
Todos os cantos puderam ser reinventados na proporção em que o comércio 
mundial centrado na Europa avançou sobre as mais remotas regiões do Planeta. 
Também, quando a condição de produção desta gama de produtos voltados ao 
comércio mundial foi alterada e intensificada em sua originalidade. A produção 
de seda na China e de tecidos de algodão na Índia.
9 A comunicação talvez seja o meio que sofreu a maior revolução dentro das que o mundo integrado pelo 
capitalismo promoveu. A relação do ser humano com espaço e tempo foi intensamente modificado. O que 
antes era longe ficou perto. Com uma telefonia móvel que muda a geração de aparelhos celulares em uma 
velocidade assustadora, nos comunicamos por fala, texto imagem, editamos páginas na internet, construí-
mos conceitos, multiplicamos conteúdos banais e significantes. Misturamos o necessário com o fútil. A 
tecnologia de ponta se disponibiliza para salvar seres humanos em condições de risco, mas também pode 
servir para planejar sua morte. Com um computador ligado a rede mundial eu posso me informar sobre o 
tempo, fazer investimentos, complementar estudos para uma carreira profissional, agendar meu trabalho. 
Contudo, também, planejar a morte de indivíduos, usurpar sexualmente de crianças, promover a discór-
dia, destruir imagens, propagar banalidades.
uma Breve História das origens da “Era Planetária”
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UMA bREVE HISTÓRIA DAS ORIGENS DA “ERA 
PLANETÁRIA”
A história da economia mundial capitalista começou a ser desenhado na Europa 
ocidental, especificamente no eixo comercial entre a Itália, o mundo germânico 
e os países do norte da Europa, em especial a Holanda. A mercadoria passou a 
ganhar significado em uma sociedade agrária de subsistência em crise, o feuda-
lismo. Fundado na subsistência, a economia feudal não pode ser mantida com 
a movimentação de pessoas e mercadorias para fugir e atender as limitações de 
uma economia agrária limitada em diversas regiões da Europa.
O nascimento do comércio na Europa, que por um lado promoveu a desinte-
gração da economia agrária feudal e das relações que com ela conviviam, também 
será o elemento de reintegração do continente sobre novas formas de expressão 
cultural e de poder. O mundo religioso europeu sofreu rupturas com o desen-
volvimento das religiosidades “protestantes” e a própria reorganização da Igreja 
Católica. O Renascimento Cultural, por sua vez, estará ligado às novas formas 
de organização da vida urbana com o mundo do comércio e com o papel que 
a racionalidade vai exercer no continente. A ciência e a inovação tecnológica 
encontraram um campo fértil no mundo da mercadoria. O acúmulo de riqueza 
passou pela ampliação de produção e produtos, mas também da reorganização 
do homem e da forma que compreende e se relaciona com a natureza a sua volta.
Se analisarmos o Renascimento Cultural que se desenvolveu na Europa entre 
os séculos XIV a XVI será mais fácil de você entender a trama que se desenro-
lou com o advento do comércio. Para isso, é preciso lembrar o papel que a Itália 
(uma península apenas e não um país neste período)10 desempenhou na vida 
comercial europeia. As cidades italianas mantiveram-se vivas comercialmente, 
mesmo em plena Idade Média e no apogeu do feudalismo.
Ao mesmo tempo em que a Itália foi o berço da cultura romana e muito do 
legado da antiguidade clássica ainda era preservado em suas cidades, tanto as 
10 A Itália que conhecemos hoje como um país unificado, um Estado Nacional, surgiu em 1870. Antes 
disso, o território passou por inúmeras invasões estrangeiras e foi centro de controle da Igreja Católica. 
Dividida em principados e cidades-estado, a Itália foi o centro do comércio na Europa antes da expansão 
marítima promovida pelos países ibéricos (Portugal e Espanha), a partir do Século XV. Com a expansão 
marítima o eixo comercial ao qual a Europa dependia para o fornecimento e comercialização de produtos 
se transferiu do Mediterrâneo para o Atlântico.
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obras arquitetônicas com literárias, o território italiano tinha contato, por meio do 
Mediterrâneo, com povos do Oriente Médio, bizantinos e muçulmanos, os quais 
preservaram e promoveram a cultura grega. Com o desenvolvimento do comér-
cio no interior da Europa a dinâmica cultural italiana também se intensificou. 
A produção literária retomou o legado grego e romano como princípio para 
repensar o ser humano em transformação na Europa. A liberdade de pensamento 
é exaltada pela circulação de bens, serviços e pessoas. As ideias costumam seguir 
o destino das trocas. Onde o desenvolvimento do mercado, troca de produtos, o 
movimento de pessoas e ideias floresce. É difícil conter o pensamento quando a 
liberdade acompanha a circulação dos produtos. Contudo, esta liberdade não era 
para todos, não atingia a maioria da população. A cultura e a reflexão, assim como 
a mercadoria, tinham um limitador que era a capacidade de aquisição. Por isso, 
os mestres, artistas e intelectuais da renascença foram sustentados por mecenas11, 
que de uma forma geral transformaram a arte em mercadoria e o conhecimento 
em algo restrito aos que podiam adquiri-lo ou saboreá-lo pelo consumo.
Assim, se com a arte o valor monetário lhe permitia o acesso, nos demais 
produtos disponíveis no mercado europeu a regra de aquisição se fazia valer mais 
intensamente. Conforme o fruto do trabalho se mercantilizava, a necessidade 
de expandir a produção com o crescimento do consumo levaria a expansão dos 
domínios europeus para outras regiões do Mundo. A Europa que dependia de 
uma rota limitada pelo controle italiano e centrada no Mar Mediterrâneo supe-
rou esta condição com as navegações de Portugal e Espanha.
O pioneirismo ibérico foi fruto de uma condição inovadora na Europa, a 
formação do Estado nacional absolutista. A centralização do poder nas mãos do 
monarca seria uma tendência nos países da Europa ocidental. Um processo que 
durou cerca de trezentos anos e só foi possível com a inversão de forças políti-
cas a favor do monarca e da demarcação do território nacional. A unidade do 
território por meio da administração do monarca que usa de sua capacidade de 
11 O financiamento da arte durante o período da renascença foi o primórdio do que conhecemos como a 
condição em que a expressão cultura e intelectual está determinada ainda hoje. Por mais que procuramos 
propagar a arte e o conhecimento como algo de todos e para todos, mesmo com o poder público investin-
do na cultura para as classes populares, na multiplicação de escolas públicas, o saber fazer e o produto 
do que se faz se restringe na dimensão de sua importância a quem tem a condição de adquiri-lo. O que 
pretendo discutir com isso é o discurso da educação para todos. Podemos ensinar o conhecimento funda-
mental para uma grande maioria dos indivíduos, mas o que resultará deste conhecimento ao se aprimorar 
vai depender das condições que encontrará para o aperfeiçoamento do seu saber, a qual está diretamente a 
sua capacidade de gerar riqueza. 
uma Breve História das origens da “Era Planetária”
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governar para direcionar recursos e pessoas para a expansão comercial. O fato 
de ser uma nação periférica no comércio europeu permitiu a Portugal ter no 
monarca um agente pioneiro como força coordenadora da dinâmica econômica 
comercial sem a resistência de forças feudais. O que em alguns países centrais 
da Europa só foi possível após longos períodos de guerras internas, parte consi-
derável delas religiosas e dinásticas.
As mudanças que fizeram surgir os Estados nacionais europeus estão intima-
mente ligadas à rentabilidade das empresas mercantis. São os lucros do comércio 
monitorado e protegido pelas forças nacional a serviço do Estado monárquico 
que permite um projeto de expansão da economia comercial. Enquanto a econo-
mia mercantil se direcionar para a concentração de riqueza dentro do território 
onde a arrecadação alfandegária é imposta, o erário tende a se expandir e permi-
tir ao monarca recurso para garantir a sua autoridade, cada vez mais computada 
no preço das mercadorias12.
A civilização ocidental que se desenvolveu na Europa Moderna (Séculos XV 
a XVIII) foi uma organização das forças que a antecederam, mas também dos 
elementos que surgiram e reinventaram as instituições europeias. A expansão 
marítima, a conquista planetária efetuada pelos europeus ocidentais, foi resultado 
destes elementos: o capitalismo, a cultura cristã e o desenvolvimento científico e 
tecnológico. Agrega-se a eles o papel que o Estado nacional desempenhou como 
elemento de convergência destas forças direcionadas a dominação planetária.
12 O que se desvenda no início da economia mercantil na Europa Moderna é o papel que o estado exerce 
no crescimento da economia de mercado. Se hoje se questiona o peso do Estado na vida da economia por 
meio de sua carga tributária, na formação do capitalismo comercial, e depois com o advento da indústria, 
seu papelé inquestionável como agente de crescimento e organizador dos meios pelo qual o capitalismo 
se desenvolveu. Contudo, é sempre bom lembrar, o Estado é o resultado das forças que a sociedade lhe 
empenha. A economia capitalista não se relaciona com o poder estatal da mesma forma ao longo da 
expansão ocidental. 
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O CAPITALISMO, O CRISTIANISMO E A RAzÃO 
Se nos perguntassem qual a função do dinheiro, sempre teríamos uma resposta 
que dependeria da intenção de quem o tem ou o porquê deseja tê-lo. O dinheiro 
é um meio de aquisição da riqueza ou da necessidade. A moeda é a condição 
que nos permite intercambiar necessidades e produtos. Podemos suprir a fome 
e adquirir o alimento, podemos trocar o valor de uma maçã por uma caneta, já 
que os dois objetos podem ser medidos pelo valor. Trocamos o valor de nosso 
trabalho pelos bens necessários a nossa sobrevivência diariamente. Recebemos 
mensalmente, uma quantia pelo nosso trabalho, o qual tem sua participação em 
uma condição de produção de um bem determinado para vida social. E quando 
este bem é vendido no mercado, nele se computa o custo de nosso trabalho13.
Se a economia capitalista tem na mercadoria seu germe de existência, ela 
tomou muitas formas ao longo da história, mas também sua existência depen-
deu de condições de produção que se transformaram ao longo dela. Se voltarmos 
a produção do açúcar no Brasil Colônia, quando o trabalho escravo predomi-
nou na confecção dos produtos que eram voltados ao mercado europeu, a vida 
de cada trabalhador compulsório era calculada e se fazia presente nas cargas de 
cacau, açúcar, algodão e tabaco que cruzaram o Atlântico. 
Assim, a mercadoria e o trabalho humano se encontram no valor do pro-
duto, assim as vidas das pessoas passam a ser computadas nos bens que circulam 
no mercado local e mundial. A racionalidade da produção passa a ter um papel 
fundamental na busca de ampliar o capital e o número de consumidores de 
mercadoria. Transformar toda a necessidade humana em um bem de compra e 
venda é fundamental. 
O aprimoramento dos meios produtivos, das rotas comerciais, as descober-
tas de novos produtos para o mercado, toda a logística que permitisse reduzir 
custos e ampliar lucros disponibilizar para a compra um número cada vez maior 
de produtos foram necessidades constantes para a manutenção da economia 
13 Na história da análise do capitalismo não há dois autores que souberam de forma magistral marcar 
o estudo das relações capitalistas como Adam Smith e Karl Marx. Duas visões distintas da produção 
da mercadoria, mas que se complementam no desmembramento da lógica do capital. Enquanto Smith 
busca na lei de mercado entender o desenvolvimento da produção industrial, o que relaciona a divisão de 
trabalho e maquinofatura, Marx faz da mercadoria a porta de entrada para as entranhas do capitalismo e 
desvenda o sentido da quantificação da vida material e intelectual.
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capitalista. Esta ampliação e desenvolvimento foi resultado que a ciência e os 
meios técnicos permitiram. Após a Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX) 
esta necessidade ficou evidente, em nossa sociedade é inegável.
A ciência e a tecnologia são condutores fundamentais da economia, mas 
também da vida em sociedade. Nossa organização coletiva foi sendo orientada 
pelo conhecimento científico e pelos meios técnicos que temos acesso, seja por 
meio da particularidade de um telefone celular ou micro-ondas, ou pelo trans-
porte coletivo, pela comunicação nas mídias eletrônicas e nos serviços de saúde 
pública que hoje existem nas cidades modernas.
A ciência se fez presente na formação do capitalismo por meio da política 
econômica dos Estados monárquicos e seus ministros que tentavam orientar a 
economia mercantil em desenvolvimento. Jean-Batiste Colbert14 na França foi 
um destes exemplos ao orientar a agricultura e a manufatura para o mercado 
externo. Exigiu tributos e monopolizou a produção e o comércio a empresários 
ligados ao estado francês. Em uma tentativa de desenvolver a economia portu-
guesa, o Marquês de Pombal (1750-1777) praticou o despotismo esclarecido e 
valorizou os produtos nacionais portugueses. Desejando a industrialização nas 
terras portuguesas, o Estado passou a fortalecer setores manufatureiros e impe-
liu parte das importações inglesas. O sonho de fazer de Portugal uma grande 
potência, o que não se realizou, partiu de uma política econômica racional e 
orientada pelo Estado.
A própria Revolução Industrial inglesa, ocorrida em meados do século XVIII, 
não foi diferente. A transformação da Inglaterra em uma potência econômica que 
predominou no século XVII como a principal força naval e mercantil do mundo 
gerou as possibilidades de concentração de riqueza em território britânico para 
o desenvolvimento da maquinofatura. Foi a política econômica adotada pelo 
Estado monárquico que criou o ambiente de deslocamento dos investimentos 
14 O colbertismo foi a política do ministro Colbert na França monárquica de Luís XIV. O estado francês 
detinha a maior extensão de terras cultiváveis da Europa. A saída para enfrentar o desenvolvimento 
mercantil dos estados rivais e permitir a participação no comércio internacional era vender produtos 
manufaturados e agrícolas para as nações vizinhas. A Espanha foi a maior cliente francesa. Incentivando 
as exportações de produtos manufaturados de luxo, o governo francês tabelou o preço dos produtos e os 
empresários que poderiam produzir e vender. As taxas para o comércio interno foram elevadas e para 
o mercado externo reduzidas como forma de incentivo as exportações. A população francesa viveu a 
miséria e a exploração ao mesmo tempo. O trabalho foi tabelado e reduzido as mínimas condições de 
sobrevivência. Os produtos para a população ficaram caros (inflação quinhentista), propagando a fome. 
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do comércio para a indústria. As Leis de Cercamento e a Lei dos Miseráveis15 de 
Elizabeth I, em 1603, foram fundamentais para que isto ocorresse e fizesse da 
Inglaterra o primeiro parque industrial da história.
A produção industrial se multiplicaria e se desenvolveria como uma cadeia de 
fornecimento de matéria-prima e ampliação de mercados de consumo. Inaugurar-
se-ia por meio do modelo industrial uma nova forma de organização da produção 
em escala planetária, o que se convencionou chamar de divisão internacional 
do trabalho. Cada vez mais racionalizada, a produção da vida em escala mun-
dial e a vida em particular.
Mas se até aqui a economia e a ciência mostraram sua afinidade para que 
possamos entender o desenvolvimento do capitalismo e a expansão da civiliza-
ção ocidental, tendo o Estado como agente de integração entre as duas forças. 
A cultura ocidental também teve um papel importante na submissão das civi-
lizações em todo o mundo. A identificação da cultura cristã como elemento de 
unidade e direcionamento da dominação também deve ser considerada. O olhar 
que se estabelece sobre o mundo e qual nosso papel diante dele pode parecer 
uma retórica existencialista, mas em determinado momento se faz fundamen-
tal para entender o comportamento de uma civilização.
15 A Lei de Cercamento e Lei dos Miseráveis conjugaram dois interesses na economia britânica. A vitória 
da empresa comercial e financeira sobre a permanência dos privilégios feudais dentro do território inglês 
e atransformação do Estado em uma extensão da política burguesa disposta a ampliar a participação 
da sociedade nas relações capitalistas. As decisões que a monarquia inglesa tomou desapropriando os 
senhores feudais dos privilégios em relação às propriedades rurais, transformando-as em bem imóveis 
passíveis de compra, venda e desapropriação por dívidas, forçou a transformação da terra em uma 
propriedade capitalista, voltada a produção de bens para o mercado. Estas mudanças levaram a Lei dos 
Miseráveis, visto a quantidade de trabalhadores rurais que foram expulsos da propriedade agrícola, 
da condição de servidão para se transformarem em trabalhadores assalariados nas fábricas e minas de 
carvão, sejam nas cidades ou nas áreas rurais, alimentando de trabalhadores assalariados as empresas em 
desenvolvimento. A industrialização inglesa afetou não só as terras britânicas e suas colônias, mas todo 
o mundo. De uma forma direta ou indireta, de imediato ou ao longo do desenvolvimento da economia 
mundial. A sociedade industrial que foi inaugurada em terras britânicas está espalhada por diversos can-
tos do mundo, com suas diferenças regionais, mas interligada por uma economia mundial.
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As conduções dos empreendimentos de um único homem, como também de 
uma civilização, não podem ser entendidas por uma conduta fundada em lógica 
exclusivamente racional. Por mais que nossa civilização seja marcada pela busca 
de um sentido racional para as ações e as buscas que ela deve estar relacionada, 
o ocidente tem inúmeros valores que orientaram a sua condução além da busca 
da lucratividade e da eficiência científica. Consideramos que aqui é importante 
compreender a cultura como fator que orienta a ação. Os elementos que colo-
cam em escala os valores que serão os condutores da ação.
O que desejamos considerar aqui, e estas afirmações ficaram mais claras 
quando falarmos das teses de Max Weber em nosso segundo módulo, é que há 
uma construção de sentidos na prática de uma ação pessoal ou coletiva. Todos 
os indivíduos quando se encontram em uma relação social determinada busca 
dar a si uma orientação, um posicionamento dentro da vida em sociedade. 
Ao tentarmos entender o que fez os ocidentais promoverem uma navegação 
que levou a conquista planetária, temos que considerar que o ímpeto de domi-
nar e estabelecer a cultura cristã sobre as demais civilizações foi fundamental. 
Esta busca de se impor, de considerar que se está com a verdade universal e que 
os opositores devem se submeter é construído em lógica cultural que valoriza o 
direito universal a conquista. Aqui, a religiosidade cristã foi fundamental.
O cristianismo ocidental europeu se transformou em um elemento de uni-
dade durante a decadência romana e se consolidou no Período Medieval. O 
feudalismo (Séculos V a XVIII) estabeleceu na Europa a consolidação do poder 
da Igreja Católica associada à vida cotidiana. O poder dos senhores feudais, o 
sentido da existência dos fenômenos naturais, a construção de uma identificação 
com o passado e o sentido da vida futura, entre outros tantos elementos, passa-
ram a ser encharcados pelo sentido religioso. 
Não podemos esquecer que o cristianismo tem como princípio a onipotên-
cia e onipresença divina, a criação universal, o determinismo da existência do 
homem, o compromisso em defender a “verdade” religiosa. Os cristãos trans-
formam qualquer lugar em que estejam como uma extensão da “Terra Santa”, 
uma conquista territorial não era o resultado dos investimentos econômicos e 
resultado do conhecimento científico e da capacidade técnica, era a propagação 
da religiosidade que deveria ser propagada e converter ou eliminar o descrente, 
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o pagão, o herege, ou o infiel16. 
Os inúmeros territórios conquistados pelas nações ocidentais acabaram por 
receber a designação nominal da religiosidade. Se pegarmos como exemplo a 
orla atlântica brasileira, as cidades fundadas pelos portugueses tiveram nomes 
de santos ou dadas religiosas (São Vicente, Salvador, São Sebastião, São Mateus 
etc.). Mesmo a chegada dos portugueses em Porto Seguro, Bahia, foi celebrada 
com uma missa e nome dado ao território foi Ilha de Vera Cruz. A cruz estam-
pada nas velas das caravelas também servem para entender a importância da 
religiosidade cristã como elemento de identificação e simbologia da “cruzada” 
que o europeu estava realizando no “além-mar”.
O Estado monárquico nacional era justificado pelo poder divino, obedecer 
ao rei era obedecer a Deus. Por isso, quando falamos da importância do modelo 
religioso que o cristianismo implantou na Europa não estamos nos referindo 
exclusivamente ao entendimento do sentido da vida de cada um, mas da própria 
existência do Estado. A obediência ao poder que determina uma função além da 
vida racional em sociedade, mas do princípio moral a ser obedecido e seguido. 
Para retomarmos uma das discussões mais comuns ao falarmos da forma-
ção do Brasil, sua ocupação e colonização, o papel dos jesuítas podem nos servir 
como referência da importância da religiosidade como fator de conquista. Os 
padres da Companhia de Jesus se deslocaram para o interior do território colo-
nial e se dispuseram a converter nos nativos à religiosidade cristã estabelecendo 
uma lógica de conversão e educação. Seria impossível entender o empenho que o 
jesuíta dava a sua empresa se não considerarmos a dimensão de sua fé. A empresa 
racional jesuíta e toda a capacidade que ela demonstrou de dominação foi pos-
sível dentro de um sentido religioso da obra de colonização17.
16 O cristianismo foi um desdobramento do judaísmo. O monoteísmo cristão tem as bases na divindade 
judaica e rompe com ela na figura de Cristo, o “filho de Deus”, o “Salvador”, que os judeus consideram não 
ter vindo. Outro elemento importante e fundamental para entender a justificativa de imposição cristã, 
está na universalização dos homens, todos os povos são os filhos de Deus. Para os judeus, eles são o povo 
escolhido. Por mais que os demais povos reconheçam a existência Divina, são os hebreus que detêm a 
preferência do elemento determinante. Por isso, a “Terra Santa” para o hebreu é a Palestina, para o cristão 
é todo o território onde ele leva a “palavra” de Deus. Os Ocidentais europeus se colocam na condição de 
propagadores da fé, da verdade religiosa. Os discursos religiosos passam a expressar o interesse do homem 
europeu. Uma unidade fundamental entre a busca da riqueza, os aparatos técnicos e conhecimento 
científico e a cultura cristão justificando a ação do homem europeu. O que vale relembrar é o papel do 
Estado como ordenador desta unidade. 
17 Se formos considerar o quanto a conversão foi um exercício de confronto e risco para os padres jesuítas, 
podemos entender a dificuldade do empreendimento de propagação da religiosidade. O padre José de 
Anchieta que foi um dos primeiros jesuítas no território colonial brasileiro se deixou capturar pelos 
tupinambás para poder convertê-los. Muitos jesuítas não tiveram sucesso com Anchieta e foram mortos 
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O conceito de homem e o sentido que se dava a suas práticas, seja na condi-
ção da riqueza e sua finalidade, como o papel que a escravidão exercia e quem 
poderia ser escravizado ou não. O ideário cristão é fundamental

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