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Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998 345 LESÕES SLAP NO OMBRO Lesões SLAP no ombro* GLAYDSON GOMES GODINHO1, JOSÉ MÁRCIO ALVES FREITAS2, LUIZ MARCELO B. LEITE3, EDUARDO R.M. PINA4 * Trab. realiz. nos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo Horizonte, em Belo Ho- rizonte, MG. 1. Cirurg.-chefe do Grupo de Cir. do Ombro dos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo Horizonte – Belo Horizonte, MG. 2. Cirurg. do Grupo de Cir. do Ombro dos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo Horizonte. 3. Residente R4 em Cirurgia do Ombro. 4. Estagiário do Grupo de Cirurgia do Ombro. RESUMO No período compreendido entre março de 1991 e mar- ço de 1998, 662 ombros, correspondendo a 657 pacientes, foram submetidos ao tratamento cirúrgico de desarran- jos da articulação do ombro, por via artroscópica, nos Hospitais Ortopédico-AMR e Belo Horizonte. Foram iden- tificadas 44 lesões SLAP (44 pacientes), isoladas ou asso- ciadas a outras patologias, correspondendo a um percen- tual de 6,6%. A associação mais freqüente foi com a ins- tabilidade anterior (50%). Comparativamente, Stetson et al. identificaram 140 dessas patologias em uma revisão de 2.375 pacientes submetidos à artroscopia, portanto, com percentual de 5,9%. Os autores discutem a dificuldade do diagnóstico clínico, devido à forma de apresentação mui- to vaga dos sintomas, sugerindo, às vezes, a síndrome do pinçamento subacromial e, às vezes, um quadro de om- bro doloroso por instabilidade oculta. O diagnóstico por imagens também é impreciso e tem variação muito gran- de no índice de acertos e de preferências entre os vários autores. A certeza diagnóstica só pode ser obtida com a artroscopia do ombro, através da qual os autores realiza- ram a reparação das lesões, utilizando apenas o desbrida- mento da lesão em 22 pacientes (55%), sutura translabral transglenóide em 1 (2,5%), miniparafusos e sutura labral em 9 (22,5%), ressecção da alça labral em 6 (15%) e ne- nhum procedimento em 2 (5%). Os resultados do trata- mento, avaliados em 27 pacientes, de acordo com os cri- térios da UCLA, foram de 66,7% de excelentes e 33,3% de bons e o tempo médio de retorno ao esporte foi de 3,5 meses. SUMMARY SLAP lesions in the shoulder During the period between March 1991 and March 1998, 662 shoulders, corresponding to 657 patients, were submit- ted to a surgical treatment for shoulder articulation disor- ders through arthroscopy at the Hospital Ortopédico-AMR and Hospital Belo Horizonte. Forty-four SLAP lesions (44 patients) were identified, which were isolated or associated to other pathologies, corresponding to a percentage of 6.6%. The most frequent association was made with the anterior instability (50%). Comparably, Stetson et al. have identified 140 of these pathologies in a review of 2,375 patients sub- mitted to arthroscopy, a percentage of 5.9%. The authors dis- cuss the difficulty of clinical diagnosis due to the vague form of presentation of the symptoms, sometimes suggesting sub- acromial impingement syndrome or diagnosis of painful shoulder by occult instability. The image diagnosis is also imprecise and has great variation of accuracy rate and pref- erence among many authors. The diagnostic certainty can only be obtained with the shoulder arthroscopy, through which the authors repaired lesions using lesion debridement in 22 patients (55%), trans-labrum trans-glenoid in 1 (2.5%), fix- ation labrum using mini-screw and labral suture in 9 (22.5%), labrum bucket-handle resection in 6 (15%), and absence of any other procedure in 2 (5%). The treatment results of 27 patients, according to the UCLA score rate, were 66.7% ex- cellent and 33.3% good, and there was an average time of 3.5 months to resume sports activities. INTRODUÇÃO A investigação das lesões labrais esteve sempre presente nas observações de todos os estudiosos que tentaram com- preender, especialmente, os aspectos anatômicos e fisiopa- tológicos da instabilidade do ombro. Se, por um lado, impor- tantes relatos de lesões localizadas na porção ântero-inferior labral puderam ser feitas e correlacionadas com a clínica, graças a estudos anatômicos e achados cirúrgicos, o mesmo G.G. GODINHO, J.M.A. FREITAS, L.M.B. LEITE & E.R.M. PINA 346 Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998 não aconteceu com a metade superior do labrum e a inserção do tendão longo do músculo bíceps devido à dificuldade de abordar aquela região através dos acessos cirúrgicos clássi- cos. Também a dificuldade na obtenção de imagens bem de- finidas, mesmo com métodos modernos, como a ressonância nuclear magnética, fez com que se reservasse à artroscopia do ombro o grande mérito de estender o campo visual do cirurgião até espaços ainda pouco conhecidos, permitindo- lhe diagnosticar, estudar estática e dinamicamente e corrigir lesões que se apresentaram como “novas” dentro do conhe- cimento ortopédico. Dentro desse grupo de patologias, destacam-se as lesões que estão localizadas na parte ântero-superior, superior e pós- tero-superior do labrum, tomando-se como referência cen- tral a zona de inserção do tendão longo do bíceps que, exata- mente devido a essa correlação anatômica, assume grande importância, por sua função estabilizadora dinâmica e, con- seqüentemente, as lesões aí localizadas constituem fontes de sintomas e incapacidades para o paciente, especialmente o atleta jovem. Snyder et al. classificaram tais lesões em quatro tipos dis- tintos e denominaram-nas SLAP lesions (superior labrum an- terior and posterior)(22). Na clínica de artroscopia e cirurgia do ombro dos Hospi- tais Ortopédico e Belo Horizonte, temos desenvolvido uma linha de pesquisa médico-cirúrgica voltada para o estudo das lesões labrais superiores(11). O objetivo deste trabalho é mostrar a incidência das le- sões SLAP, os métodos de diagnóstico, com ênfase para a artroscopia, as possibilidades cirúrgicas e a importante cor- relação com o trauma no ombro do esportista jovem. MATERIAL E MÉTODOS No período compreendido entre março de 1991 e março de 1998, 662 ombros, correspondendo a 657 pacientes, fo- ram submetidos a cirurgia por via artroscópica, no Hospital Ortopédico-AMR e Hospital Belo Horizonte, para tratamen- to de desarranjos de sua articulação. Foram identificadas 44 lesões SLAP, presentes em 44 pacientes, isoladamente ou associadas a outras patologias, o que corresponde a um per- centual de 6,6% dos ombros operados. Do total, excluímos os pacientes com menos de 6 meses de seguimento pós-ci- rúrgico, o que nos permitiu o estudo em um universo de 40 ombros em 40 pacientes. Vinte e sete pacientes foram submetidos a exame físico e exame radiográfico nas incidências em ântero-posterior em rotações neutra, externa e interna, perfil de Bernageau(5) e outlet view. Utilizamos a artrotomografia computadorizada (artro-CT) em 4 pacientes e a artrorressonância nuclear mag- nética (artro-RMN) em 6 outros. Não lançamos mão da ar- trografia simples ou da ecografia como métodos auxiliares para o diagnóstico. Esse mesmo grupo de 27 pacientes foi avaliado segundo os critérios clínicos da UCLA e serviram como base para a análise dos resultados cirúrgicos. Os demais pacientes foram entrevistados por telefone e acrescidos os dados contidos em seus prontuários e em fitas de vídeo contendo o documentá- rio cirúrgico deles. Esse grupo, adicionado aos 27 anterio- res, constitui nossa base do estudo epidemiológico. O seguimento mínimo foi de 6 meses e o máximo de 84, com média de 42,9 meses. A faixa etária variou de 18 a 46 anos, média de 30,6 anos. A incidência no sexo masculino foi de 33 ombros (82,5%) e, no feminino, de 7 ombros (17,5%). O lado dominante foi acometido 27 vezes (67,5%) e o não- dominante, 13 vezes (32,5%). Trinta e oito pacientes (95%) eram destros e 2 sinistros (5%). Vinte e seis pacientes eram desportistas (65%) (gráfico 1), 3 deles profissionais (7,5%), sendo 2 nadadores e 1 atleta de vôlei. Osrestantes eram atle- tas de lazer ou ocasionais. Quatorze pacientes (35%) não pra- ticavam esportes. As lesões foram classificadas segundo os critérios de Sny- der(22), em tipo I quando existia apenas a fragmentação labral (fig. 1); tipo II, quando existia a desinserção labrum-glenoi- dal (figs. 2, 3 e 4); tipo III, caracterizada pela alça de balde Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes segundo os tipos da lesão (I, II, III e IV), com destaque para a participação dos desportistas Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998 347 LESÕES SLAP NO OMBRO RESULTADOS Em 9 pacientes (22,5%), a suspeita diagnóstica foi feita em bases clínicas, em 6 (15%) foi realizado estudo por res- sonância nuclear magnética e destes, apenas 2 (33,3%) evi- denciavam a imagem da lesão (fig. 2). Em apenas 1 paciente o diagnóstico foi feito através de artrotomografia computadorizada, enquanto em outros 3 o exame foi negativo. O tipo I foi identificado em 6 pacientes (15%), tipo II em 23 (57,5%), tipo III em 9 (22,5%) e tipo IV em 2 (5%) (grá- fico 2). A lesão SLAP apresentou-se isoladamente em 7 pacientes e em associação com outras patologias nos 33 restantes. En- tre as patologias associadas, a tendinite calcária esteve pre- sente em 5 ombros (12,5%), luxação recidivante anterior em 20 (50,0%), subluxação recidivante em 1 (2,5%), síndrome labral (figs. 7 e 8); e tipo IV, com alça de balde estendendo- se ao tendão bicipital (fig. 9). A técnica cirúrgica empregada constou de inspeção arti- cular e tratamento das lesões articulares associadas, desbri- damento e regularização labrum-glenoidal apenas, sem fixa- ção, em 22 pacientes (55%), sutura translabral-transglenóide em 1 (2,5%), sutura com uso de miniparafusos de 2,7mm em 9 (22,5%) (figs. 4, 5 e 6), ressecção da alça labral em 6 (15%) (figs. 7, 8 e 9) e, nada foi feito em 2 (5%), tratando-se apenas a lesão associada. Recentemente, tivemos a oportunidade de realizar a sutura da alça, em vez de sua ressecção simples, em 2 pacientes com lesão do tipo IV, ambos não fazendo parte desta série por terem menos de 6 meses pós-cirúrgicos. Fig. 4 Diagnóstico artroscópico de uma lesão do tipo II. Setas indicando a zona de desinserção e fragmentação labral. G – glenóide, L – labrum, B – tendão longo do bíceps. Fig. 3 – Desenho esquemático do tipo II de lesão SLAP. Observar a desinserção labral superior. Fig. 2 – RMN com diagnóstico do tipo II de lesão SLAP. Setas indicando a zona labral superior lesada. Fig. 1 – Desenho esquemático da lesão SLAP do tipo I G.G. GODINHO, J.M.A. FREITAS, L.M.B. LEITE & E.R.M. PINA 348 Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998 do impacto na fase II em 6 (15%) e ruptura do manguito rotador em 1 (2,5%). Em 28 pacientes (70%) houve associação com história de trauma, 20 dos quais com luxação glenumeral anterior e 1 subluxação. A distribuição dos tipos da lesão dentro do grupo de porta- dores de instabilidade glenumeral anterior traumática (luxa- ção e subluxação) mostrou a seguinte freqüência: tipo I com 1 paciente (4,8%), tipo II com 11 (52,4%), tipo III com 8 (38,0%) e tipo IV com 1 (4,8%) (gráfico 3). Os resultados, segundo os critérios da UCLA, utilizados na avaliação de 27 pacientes, foram 18 (66,7%) excelentes e 9 (33,3%) bons. Um paciente apresentou recidiva pós-cirúr- gica da luxação, mas a artroscopia evidenciou completa ci- catrização labrum-glenoidal. Nos ombros que apresentaram lesão SLAP isoladamente, o tempo médio decorrido entre o início dos sintomas e a ci- rurgia foi de 16,3 meses, com mínimo de 6 e máximo de 36 meses. O tempo médio de retorno ao esporte foi de 3,5 meses, mínimo de 1 mês e máximo de 10 meses. DISCUSSÃO A discussão quanto ao grau de participação das lesões la- brais nas patologias do ombro, especialmente no que concer- Fig. 5 – Imagem artroscópica do labrum superior reinserido com sutura anterior e posterior à inserção do tendão bicipital. G – glenóide, U – cabeça do úmero, BL – tendão longo do bíceps. Fig. 6 – Controle radiológico pós-cirúrgico da fixação labral observada nas figs. 2, 4 e 5. Setas indicando os miniparafusos inseridos no pólo superior da glenóide. Fig. 7 – Desenho esquemático de uma lesão do tipo III Fig. 8 – Imagem artroscópica de uma lesão do tipo III. Setas indicando a separação da alça labral. L – labrum. Fig. 9 – Imagem artroscópica de uma lesão do tipo IV à esquerda e desenho esquemático (N. Walch), no alto à direita. U – cabeça do úmero, B – tendão longo do bíceps, G – glenóide. Setas indicando a separação da alça. Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998 349 LESÕES SLAP NO OMBRO Gráfico 2 – Freqüência dos diferentes tipos da lesão Gráfico 3 – Relação percentual entre portadores de instabilidade anterior do ombro (luxação e subluxação) e tipos da lesão ne à importância do labrum para a estabilidade do ombro, faz parte das inquietações daqueles que ao longo do tempo vêm-se ocupando do estudo desta articulação(1,3,8,9,13,20). Com o advento da artroscopia, novos horizontes foram abertos e o conhecimento de novas patologias e suas correlações com sintomas e perdas funcionais do ombro passou a ser um novo desafio. Andrews & Carson(1) relataram a ocorrência de lesões la- brais ântero-superiores, mas sem a extensão ao labrum pos- terior e com incidência de 9,7% de rupturas parciais do bí- ceps. Os autores acreditavam que tal lesão fosse causada por tração repetitiva no bíceps, como conseqüência de movimen- tos de arremesso. Reeves(18) e Perry(16) demonstraram que em jovens com me- nos de 25 anos a fixação do labrum ao osso é mais frágil do que aquela da cápsula e tendão subescapular. Concluem, as- sim, que luxações nessa faixa etária tendem a romper a liga- ção labrum-glenoidal, raciocínio que podemos estender às lesões labrais superiores. Burkhead(6) estudou a vascularização labral e demonstrou que o aporte vascular ao labrum é muito rico, exceto no la- brum superior, o que pode explicar a evolução da lesão SLAP pela dificuldade de cicatrização após um trauma maior ou pela repetição de microtraumas locais. Rodosky et al.(19), Hunter et al.(12) e Snyder et al.(22) de- monstraram que o mecanismo de desaceleração realizado pelo bíceps do atleta arremessador causa tração excessiva no la- brum superior. Demonstrou-se, em laboratório de biomecâ- nica, a importância da ação normal do bíceps, agindo princi- palmente durante a abdução e rotação externa como protetor do mecanismo labrum-ligamentar glenumeral inferior, me- canismo este que entra em falência progressiva quando se estabelece a lesão na inserção do tendão bicipital no labrum superior (lesão SLAP), como demonstrado experimentalmen- te(19). As lesões que acometem as porções ântero-súpero-poste- riores do labrum glenoidal, SLAP lesions, como descritas por Snyder et al.(22) e Stetson et al.(23), constituem um grupo de lesões de origem traumática, freqüentemente associadas com outras patologias intra e extra-articulares, traumáticas ou não, com incidência na população mais jovem e ativa. São de diagnóstico extremamente difícil, pois apenas a dor, sem pre- cisão topográfica, é um achado constante, enquanto sua pre- sença localizada no tendão longo do músculo bíceps é in- freqüente. Infreqüentes também são os estalidos intra-arti- culares que, quando associados à dor, história de trauma com apoio no membro superior com extensão do cotovelo, e om- bro em flexão de 70 graus e abdução de 30 graus(22), ou em atletas arremessadores(19,22), assumem importância na pesqui- sa clínica. Lembrar, contudo, que estalidos articulares são muito freqüentes em ombros normais. O teste clínico realizado com o cotovelo estendido, ante- braço pronado e em adução passando da linha média do tó- rax (cross chest adduction test) tem sido advogado por al- G.G. GODINHO,J.M.A. FREITAS, L.M.B. LEITE & E.R.M. PINA 350 Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998 guns autores(4). Nesse teste, há manifestação de dor profun- da, localizada no sulco intertubercular, a qual desaparece com o antebraço supinado. Esse sinal é de utilidade também para o diagnóstico diferencial com patologias acromioclavicula- res. O teste de compressão-rotação, realizado em posição su- pina, com o membro superior em 90 graus de abdução, 90 graus de flexão do cotovelo, fazendo-se compressão articu- lar com movimentos de rotação, objetiva capturar a alça la- bral, provocando um ressalto articular. A realização do teste de tensão do bíceps (palm up test) é de utilidade e evidencia o grau de participação desse múscu- lo na patologia. Wright & Hawkins(25) descreveram o teste do deslizamen- to anterior (AST) realizado com as mãos posicionadas nos quadris, polegar para trás e o examinador estabilizando a es- cápula com uma das mãos, enquanto a outra é colocada no cotovelo, resistindo à força de impulsão realizada para cima e para trás pelo paciente. A suspeita diagnóstica é baseada na presença da dor ou clique durante o esforço. O teste mos- trou sensibilidade de 78,4% e especificidade de 91,5%, mas não confirma o diagnóstico. A presença como patologia associada deve ser sempre lem- brada nos portadores de instabilidade anterior traumática. En- fim, o quadro clínico, muito impreciso, assume aspectos que confundem, ora com o diagnóstico de tendinite do supra- espinhoso, ora com o ombro instável doloroso “oculto”, como atestam Cordasco et al.(8) e até mesmo com as patologias acromioclaviculares(4). Como métodos auxiliares de diagnóstico por imagem, a radiografia simples ou contrastada não é eficaz. A ecografia também não tem valor(14). Para LaBan et al.(14), a artroscopia do ombro, tomografia computadorizada, artrografia e RMN têm sensibilidade e especificidade relativamente iguais na visibilização da lesão labral. Para alguns autores(5,12,15), a ar- trotomografia computadorizada é freqüentemente a técnica mais indicada devido à definição e secção fina que podem ser obtidas. Utilizamos a artrotomografia computadorizada em 4 pa- cientes, com apenas uma confirmação diagnóstica. Bernageau(5) assegura que a artro-RMN é mais eficaz e deve constituir a técnica do futuro, afirmando ainda que a demonstração e interpretação da lesão SLAP é difícil, parti- cularmente nos tipos I e II, e que a análise do labrum glenoi- dal é limitada. Cartland et al.(7), baseados em estudo realiza- do em 10 pacientes nos quais a RMN não permitiu o diag- nóstico em nenhum deles, concluem que esse é um exame sem especificidade e sensibilidade. Smith et al.(21) realiza- ram estudo por RMN em 6 pacientes que também foram sub- metidos a artroscopia do ombro. Encontraram 4 lesões SLAP, mas somente 1 apresentou suspeita baseada em dados clíni- cos pré-operatórios. Field & Savoie(10) detectaram a lesão por intermédio da RMN em 4 de 13 pacientes examinados. Para Snyder et al.(22), a RMN e a artrotomografia ajudam no diag- nóstico, mas não têm definição acurada. Utilizamos a artro-RMN para pesquisa diagnóstica em 6 pacientes, com confirmação em 2 (33,3%). A definição diagnóstica foi feita sempre através da artros- copia, como recomendado por vários autores(7,22,25). Stetson et al.(23) identificaram 140 lesões SLAP em uma revisão de 2.375 pacientes submetidos a artroscopia do om- bro (5,9%). Curiosamente, nossos índices se aproximam muito disso, já que identificamos 44 lesões SLAP em 662 ombros, ou seja, 6,6%. A proporção semelhante pode ser um indicador de que a capacidade de diagnóstico do grupo de trabalho condiz com um nível de experiência bastante satis- fatório. O diagnóstico não é fácil e pode passar despercebi- do, ou confundir-se com aspectos que são variáveis da ana- tomia normal, como a inserção regular, porém frouxa, do labrum, a forma labral meniscóide, ou a fragmentação labral comumente vista em pacientes na faixa etária acima de 50 anos de idade e que constitui lesão degenerativa e não lesão SLAP. Por esses motivos, os tipos I e II são os de diagnóstico diferencial mais difícil, especialmente nas faixas etárias mais altas, como ocorre no ombro doloroso do atleta sênior. Em nossa revisão, lesões SLAP apresentaram-se isolada- mente em 7 pacientes e em associação com outras patologias nos 33 restantes, o que demonstra a importância do reconhe- cimento e abordagem concomitante dessa lesão. As patologias associadas são de etiologias as mais varia- das: traumáticas, inflamatórias e degenerativas. Contudo, é freqüente a correlação com a instabilidade anterior de ori- gem traumática (21 ombros, ou 52,5%) (gráfico 3). Warner et al.(24) encontraram 9 lesões SLAP em 585 artroscopias (1,5%) e dessas, 7 (77,8%) estavam associadas com lesão de Bankart e luxação recidivante. Muita ênfase tem sido dada à importância do tratamento da lesão SLAP concomitante com o tratamento artroscópico da instabilidade anterior do ombro, como um dos fatores que têm levado a redução nos índices de recidivas pós-cirúrgi- cas(23). Quando analisamos a freqüência dos tipos da lesão asso- ciados com luxação e subluxação, observamos que o tipo II foi o mais freqüente (52,4%) (gráfico 3). Contudo, em análi- Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998 351 LESÕES SLAP NO OMBRO se individualizada dos tipos, observamos que, dos 9 casos do tipo III, 8 (88,9%) apresentaram essa correlação e 1 dos 2 portadores do tipo IV, também (50%). Quanto ao tratamento, Snyder et al.(22) e Stetson et al.(23) recomendam a realização apenas do desbridamento do teci- do degenerado no tipo I, desbridamento e sutura com fixa- ção labrum-glenoidal no tipo II, desbridamento com fixação labral na glenóide e sutura da alça de balde no tipo III, alter- nativamente podendo apenas ressecar-se a alça (figs. 7, 8 e 9). Procedimento semelhante é realizado para o tipo IV. Para a fixação e sutura, esses autores utilizam miniparafusos de 2,7mm fixados em fios inabsorvíveis nº 2. O tratamento da lesão de Bankart, quando presente, é feito da mesma manei- ra, fixando-se o labrum ântero-inferior com 3 ou 4 minipara- fusos e sutura. Temos realizado os mesmos procedimentos recomenda- dos por Snyder(22) (figs. 4, 5, 6, 7, 8 e 9), inclusive com sutu- ra da alça nos tipos III e IV. Não temos experiência com o uso de âncoras absorvíveis, usadas por alguns autores(2). Stetson et al.(23) encontraram 77% de bons ou excelentes resultados, 19% de razoáveis e 4% de pobres, enquanto os nossos situaram-se apenas nas faixas de excelentes e bons (66,7 e 33,3%, respectivamente), mas com um contingente muito menor de pacientes avaliados. O tempo médio de retorno ao esporte foi de 3,5 meses, mas, dos 3 atletas profissionais (2 nadadores e 1 atleta de vôlei), apenas 1 (nadador) voltou ao nível anterior. Um dos atletas de vôlei abandonou o esporte, devido a uma lesão ligamentar no joelho e não ao resultado cirúrgico do ombro, que está assintomático. CONCLUSÃO As lesões SLAP têm origem traumática, são causadas por mecanismo de queda com apoio do membro superior em ab- dução do ombro de 30 graus e flexão de 70 graus, podem ser conseqüência de tração exercida pelo tendão bicipital no la- brum no esforço do arremesso, ou podem ser conseqüência de outros mecanismos de trauma ainda não conhecidos ou reproduzidos em laboratórios. Caracteristicamente, ocorrem na população de faixa etá- ria mais jovem e desportista e têm importante correlação com a instabilidade anterior do ombro, devendo ser sempre iden- tificadas e tratadas simultaneamente com a correção da ins- tabilidade. O diagnóstico clínico é extremamente difícil e as queixas de dor e incapacidade progressiva são muito vagas. A tendi- nite do tendão longo do bíceps, associada a ressaltos articu- lares, pode sugerir o diagnóstico. Muito embora a artroto- mografia computadorizadaseja advogada por alguns auto- res, a artrorressonância nuclear magnética deve vir a ser o método de diagnóstico por imagens com maior índice de acer- to. O único método seguro de confirmação diagnóstica é pela artroscopia, através da qual pode-se também realizar a regu- larização labral e/ou sutura com fixação labrum-glenoidal, com a qual se obtém alto índice de excelentes e bons resulta- dos quanto ao alívio da dor e para a completa recuperação funcional para os esportes. 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